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Anderson Pereira CLAS SIFI CADO RES Copyright © 2023 by Anderson Corrêa Pereira EDITORAÇÃO E CAPA: Anderson Corrêa Pereira. DESENHOS: Anderson Corrêa Pereira, com recursos Freepik. FONTE LIBRAS: Anderson Corrêa Pereira REVISÃO DO PORTUGUÊS: Jefferson Pinheiro Editora InSight Rua Nossa Senhora de Fátima, 30c – Rio Preto Pinheiro-MA CEP 65.200-000 ensino.insight@gmail.com SUMÁRIO PAG 1 CONCEITO DE CLASSIFICADOR ................................................................. 4 2 QUAL CONFIGURAÇÃO USAR? .................................................................. 7 3 TIPOS DE CLASSIFICADORES .................................................................... 11 3.1 Classificadores descritivos .............................................................................. 12 3.2 Classificadores especificadores ...................................................................... 12 3.3 Classificadores de plural ................................................................................. 14 3.4 Classificadores instrumentais .......................................................................... 15 3.5 Classificadores de corpo ................................................................................. 15 4 CLASSIFICADORES E GÊNEROS TEXTUAIS ............................................. 17 4.1 Tradução de texto em Português 1: O leão e o rato (Esopo) .......................... 18 4.2 Tradução de texto em Português 2: O trabalho do meu pai (Anderson Pereira) ............................................................................................................ 19 4.3 Tradução de texto em Português 3: textos autênticos .................................... 20 4.4 Tradução de texto em Libras 1: Eu X rato (Rodrigo Custódio) ........................ 21 4.5 Tradução de texto em Libras 2: Morto de fome (Anderson Pereira) ............... 22 4.6 Tradução de texto em Libras 3: textos autênticos ........................................... 23 5 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 24 Curso de Classificadores em Libras 4 1 CONCEITO DE CLASSIFICADOR Tanya Felipe é uma pesquisadora brasileira que se dedica ao estudo da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ela desenvolveu um conceito de classificadores em Libras que se concentra em sua função como marcadores de concordância. Segundo Felipe, os classificadores são configurações de mão que estão relacionadas a objetos, pessoas, animais ou veículos e que servem para concordar com o referente em questão. A autora entende que os classificadores são usados para expressar uma ampla gama de elementos visuais e espaciais em um contexto específico. Eles ajudam a descrever a localização, tamanho, forma, movimento e outras características dos elementos descritos. Além disso, os classificadores também são usados para indicar a relação entre diferentes elementos em uma frase. Os classificadores em Libras são frequentemente usados em conjunto com outros sinais para criar descrições mais precisas e detalhadas. Por exemplo, para descrever uma pessoa caminhando, pode-se usar um classificador (uma configuração de mão) que representa o corpo humano em movimento. Entretanto, antes de sinalizar o classificador, é importante, sempre que possível, determinar o que é o elemento que será caracterizado pelo classificador. No exemplo da “pessoa andando”, convém sinalizar o sinal “pessoa” antes do classificador, assim, o interlocutor compreenderá qual a função daquele classificador na sinalização. Na sinalização do classificador, as expressões não manuais, como expressão facial, posição do corpo, etc, completam e enriquecem a fala e são elementos importantes para tornar o entendimento possível. O conceito de classificadores da professora Tanya Felipe destaca a importância dos classificadores como marcadores de concordância em Libras. Neste sentido, podemos considerar o classificador como um tipo de verbo, visto sua íntima relação com os demais elementos da oração. Felipe diz que esses verbos “possuem concordância com gênero”, ou seja, se relacionam com o sujeito ou objeto da oração. Vejamos um exemplo: “Ela caiu na rua pela manhã.” MANHÃ EL@ RUA MOVERpessoa CAIR Para a sinalização desta frase com uso de classificador, pode-se usar configuração de mão em “V”, apontando para baixo, e deslocando a mão com oscilação dos dedos imitando o andar humano. Em seguida, a mesma mão em “V” pode se mudar com a palma para baixo, de modo a expressar que a pessoa que caminhava, caiu de costas para o chão. Veja que a posição da mão vai determinar para qual lado a pessoa caiu (se para frente, se para um dos lados ou para trás). Alguns verbos em Libras se encaixam na classificação de verbos classificadores, como “cair”, “andar”, “pegar”, “abrir”, “cortar”, “bater”, “comer” e muitos outros. Para identificar esse tipo de verbo uma dica é perguntar ao próprio verbo o “que está fazendo”, Curso de Classificadores em Libras 5 por exemplo, para o verbo “cair”, pode-se perguntar “o que está caindo?”, então se na resposta for possível diversos tipos de objetos, bem provavelmente é um verbo classificador. CAIR O que está caindo? PESSOA MOTO CARRO PAPEL AbrIR O que está sendo aberto? POTE LATA PANELA PORTA Curso de Classificadores em Libras 6 As configurações apresentadas no esquema anterior são apenas sugestões e não significa que só poderá se usar essa configuração para sinalizar cada um dos objetos apresentados. É importante sempre lembrar que a natureza do objeto vai determinar a configuração a ser usada, bem como o objetivo de fala. Vejamos um exemplo: Ao se pensar em uma sinalização que possui uma abertura e porta, a configuração que apresentamos no esquema anterior foi a configuração “B1” (ver tabela na página 00), mas essa configuração não se aplica quando se quer expressar que a porta foi aberta pegando na maçaneta da porta. Sendo assim, há a necessidade de saber como a porta foi aberta, se é através da maçaneta, do puxador, se é porta automática (igual de shopping), se é de empurrar ou qualquer outro tipo de porta, e possibilidade de abertura, que você imaginar. PORTA DE SHOPPING – Neste caso, as mãos funcionam como se fosse as próprias abas da porta que se movimentam para os lados opostos retilineamente. PORTA COM PUXADOR – Nesta sinalização, a configuração de mão em “S” vai se posicionar na mesma posição de quando se segura o puxador de uma porta. O movimento para próximo ou longe do corpo vai imitar a ação real de se abrir uma porta com puxador. PORTEIRA SEM MAÇANETA – Neste estilo de porta/porteira não há maçaneta e geralmente sua abertura é feita empurrando uma ou as duas abas. Para essa sinalização, pode-se usar a mão aberta, fazendo um movimento retilíneo para frente, como se estivesse sinalizando o sinal “parar”, que aqui vai funcionar como se estivesse de fato empurrando uma das abas da porta. Curso de Classificadores em Libras 7 2 QUAL CONFIGURAÇÃO USAR? As configurações de mãos usadas para sinalizar os classificadores em Libras são escolhidas com base na semelhança com a coisa, pessoa, animal ou veículo a que se faz referência. Isso ocorre porque as configurações de mãos em Libras são usadas para representar as características físicas dos elementos descritos, como tamanho, forma e movimento. Por exemplo, para representar uma pessoa caminhando, pode-se usar uma configuração de mão que imita o movimento das pernas durante a caminhada. Vejaque a configuração de mãos em “V”, posicionada com os dedos apontando para baixo lembra as pernas humanas. Se fizer o movimento dos dedos alternados, para frente e para trás, teremos o movimento semelhante ao caminhar. Para representar um animal com dois pés ou quatro patas, pode-se usar uma configuração de mão que imita a aparência das patas ou dos pés. Por exemplo, para sinalizar uma galinha andando, pode-se usar as mãos configuradas com os dedos médio, indicador e polegar distendidos. Para este exemplo, precisaremos ainda imitar uma galinha em movimento, no qual algumas expressões corporais serão necessárias, como ajustar os braços próximo ao corpo e movimentar a cabeça para frente e para trás como fazem algumas galinhas. Essas e outras expressões dependerão do que você tem como objetivo de fala no momento da sinalização, ou seja, se não houver necessidade de expressar todos esses detalhes, apenas a movimentação das mãos imitando o andar da galinha é suficiente. Note que as configurações de mãos podem representar uma parte do objeto/pessoa/animal/veículo de referência ou pode-se representar uma característica marcante. O que vai determinar uma ou outra escolha é o tipo de classificador que vais usar Curso de Classificadores em Libras 8 bem como o objetivo de fala no momento da sinalização. Vejamos um exemplo em que o mesmo referente pode ser representado por várias configurações de mãos a depender do tipo de classificador escolhido na sinalização. Para exemplificar, iremos considerar o verbo ANDAR, na seguinte frase: “A raposa anda devagar”. Neste caso, teremos duas opções de sinalização do verbo classificador ANDAR: OPÇÃO 1 – Usando a configuração da mão dominante em “5”. Neste caso, a configuração escolhida vai representar o corpo todo do animal e, através do movimento da mão, será apresentado a forma como o animal (raposa) se movimenta (devagar). Este é um exemplo de classificador descritivo. OPÇÃO 2 – Usando a configuração de mão em “A” nas duas mãos. Neste caso, as duas mãos, com palma para baixo, farão o movimento lento (devagar) imitando o andar do animal (raposa). Neste caso, o classificador usado é o de corpo, em que há uma “incorporação” do referente (a raposa), ou seja, o corpo do sinalizante imita os movimentos do animal andando. A escolha da configuração de mão apropriada para um classificador em Libras é importante para garantir que a mensagem seja clara e compreensível para o interlocutor surdo. Por isso, podemos afirmar que qualquer configuração de mão pode ser usada como classificador, visto que a escolha vai depender do objetivo de fala e das características do referente (objeto/pessoa/animal/veículo). De acordo com os estudos da professora Tanya Felipe, os classificadores em Libras são usados como marcadores de concordância verbal. O sistema de concordância verbal de classificadores é constituído de dois grupos: para seres animados e inanimados. Curso de Classificadores em Libras 9 ANIMADO Pessoa (configurações: G; V) Pessoa (plural) (configurações: V, 3, 4, 5a) Animal (configurações: B1; 3a; 5a; 5b) INANIMADO Coisas (configurações: G; B1; B2; B3; C; O; L; L1; L2; 5; 5a; 5b) Veículos (configurações: 3a; 5; B; X) Para seres animados, como pessoas e animais, os classificadores geralmente usam uma configuração de mão específica que se relaciona com a característica física ou a ação do referente. Por exemplo, para indicar uma pessoa passando a nossa frente, pode-se usar uma configuração que representa as características gerais do corpo humano (comprido e fino), que pode ser expresso com a mão configurada em “UM”, fazendo um movimento semicircular para lembrar o deslocamento de uma pessoa. Já para seres inanimados, como objetos e lugares, os classificadores geralmente usam uma configuração de mão que se relaciona com a forma ou o tamanho do referente. Por exemplo, para indicar objetos cilíndricos, como um copo, garrafas, etc, que serão colocadas em cima de uma mesa, pode-se usar a configuração de mão em “C” para os objetos cilíndricos e a mão aberta com dedos unidos para a mesa. Curso de Classificadores em Libras 10 Veja outros exemplos de uso de configurações para expressar classificadores: Curso de Classificadores em Libras 11 3 TIPOS DE CLASSIFICADORES Como já vimos, o classificador é uma configuração de mão que funciona como marcador de gênero. Porém, alguns tipos de classificadores podem não precisar de configurações para expressar ideias. Isso é o que veremos a seguir, ao estudarmos os tipos de classificadores em Libras. Para este estudo, usaremos o texto base da disciplina Libras do curso Letras Libras da UFSC, de autoria de Ronice Quadros, Aline Pizzo, Ana Regina Campello e Patrícia Rezende. Para acompanhar a análise dos classificadores, segue abaixo a tabela das Configurações de Mãos - CM (quadro de CM da LSB Vídeo). Curso de Classificadores em Libras 12 Tipos de classificadores encontrados nas línguas de sinais: 1) Classificadores descritivos As descrições visuais podem ser captadas de acordo com as imagens dos objetos animados ou inanimados. Observam-se aspectos tais como: som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, “olhar”, sentimentos ou formas visuais, bem como a localização e a ação incorporada ao classificador. Por exemplo, ao descrever uma mochila que está no expositor de uma loja, pode-se usar as mãos para descrever o tamanho, a textura, a forma desse objeto. Para esta sinalização poderíamos usar inúmeras configurações, como a 19 (para as alças), 30 (formato arredondado da parte superior, bolsos laterais), 38 (a parte frontal lisa), 44 (a “cabeça” do zíper), 56 (a base da mochila e partes lisas), entre outras. Há também o classificador descritivo locativo que envolve uma ação que determina o objeto em relação ao outro objeto, seja animado ou inanimado. São usados com uma ou duas configurações de mãos. Tomemos como exemplo uma pessoa surfando sobre uma prancha. Aqui teremos pelo menos suas configurações para representar a cena e a ação: 52 (para sinalizar a prancha) e 49 (para marcar a pessoa sobre a prancha). Por se tratar de uma ação verbal (surfar), o movimento das mãos irá definir como ocorrerá essa ação. Outro classificador descritivo envolve uma ação ou posição de várias partes do corpo humano, objetos animados e inanimados. No caso do elefante que jorra água sobre o próprio corpo, poderia usa a configuração 29 para descrever a tromba do animal e em seguida usar a configuração 26, abrindo-se em 61, para especificar a água sendo lançada a partir da tromba. 2) Classificadores especificadores A sua função é descrever visualmente a forma, o tamanho, a textura, o paladar, o cheiro, os sentimentos, o “olhar”, os “sons” do material, do corpo da pessoa e dos animais. Aos se descrever, por exemplo, a forma do corpo humano, várias configurações podem ser usadas. Ao observar a imagem ao lado, poderíamos definir inicialmente as seguintes configurações: 30, para marcar os braços fortes e também a região volumosa do peito, que também pode se usar a configuração 60 para dar volume. A configuração 56 Curso de Classificadores em Libras 13 poderia se usar para definir a silhueta do corpo, bem como a configuração 14 para apresentar as veias evidente dos braços. O que é importante destacar é que não há uma forma religiosamente correta de descrever as coisas. Há, claro, configurações mais ou menos adequadas para cada situação. Por exemplo, não há razão para usar a configuração 25 para descrever as veias do corpo do modelo, visto que a forma da mão não vai deixar claro na sinalização as características da veia ao ficar evidentes no corpo humano. Há também os classificadoresque especificam elementos gasosos. Neste caso, as configurações de mãos devem apresentar características muito peculiares desses elementos gasosos. Por exemplo: a fumaça que sai de um cigarro é diferente da fumaça oriunda de uma churrasqueira que por sua vez difere da fumaça emitida por uma chaminé industrial e assim por diante. O volume, a forma como é dissipada no ar e outras características são relevantes e devem ficar expressas na sinalização. Outro classificador especificador é a descrição dos símbolos e nomes das logomarcas. Para descrever a logo da famosa marca de hamburguers, pode-se usar a configuração 18 para descrever as formas em amarelo que lembram a letra “M”. A configuração 14 sode ser usada para descrever a forma geométrica logo abaixo da letra “M”. No exemplo da logo da marca de carro Mercedes, a mesma configuração 18 pode ser utilizada, mas no momento da descrição das formas internas do círculo, há a necessidade de afinar essa forma, de modo que a mão passa a ser configurada de 18 para 17. Também há o classificador especificador que descreve os números relacionados ao objeto animado e inanimado. Tomemos como exemplo o número dez da camisa de alguns jogadores de futebol. Observe nas imagens a seguir que, embora todas as camisas tenham estampado o número 10, cada tipografia possui suas particularidades. No caso de uso de classificadores para esta descrição, é preciso considerar que cada configuração expressa Curso de Classificadores em Libras 14 uma característica desse número; se tem linhas grossas ou finas, se tem formas mais arredondadas ou cantos angulares, se possui continuidade na linha ou cortes, entre outras características. 3) Classificadores de plural O classificador de plural é um tipo de classificador utilizado em Libras para indicar pluralidade de um objeto ou grupo de objetos. Ele é utilizado para sinalizar a quantidade ou a quantidade aproximada de algo que está sendo mencionado, seja para indicar que há mais de uma unidade ou para enfatizar a quantidade. A configuração de mão substitui o objeto em si sendo repetido várias vezes. Um exemplo claro é a presença de vários livros numa estante de uma biblioteca. Neste caso, poderíamos usar a configuração 28 para marcar a presença de um livro e na sequencia repete-se a mesma configuração em movimento retilíneo para a direita (ou esquerda) de modo a expressar a presença de outros objetos idênticos na linearidade da prateleira. A configuração 57 também poderia ser usada neste exemplo. Esta é a mesma configuração para o sinal LIVRO e portanto, através da repetição, na vertical, se expressaria a posição e organização dos livro na prateleira da estante. Outro exemplo que ajuda no entendimento do classificador para plural, é a presença de muita gente num determinado espaço. Suponhamos uma multidão em romaria pelas ruas da cidade. Aqui poderia se usar a configuração 61 para expressão as pessoas se deslocando em grande número. Note que, embora comumente se use as configurações 14 e 50 para classificar pessoas, neste exemplo temos uma pluralidade que ultrapassa a capacidade de se expressar com essas configurações. Curso de Classificadores em Libras 15 4) Classificadores instrumentais O classificador instrumental é um tipo de classificador utilizado em Libras para representar um objeto ou ferramenta e a ação que está sendo realizada com ele. Ele é usado para indicar de forma mais específica como uma ação é executada e para fornecer mais informações sobre a ação ou a ferramenta utilizada. Em suma, é a incorporação do instrumento descrevendo a ação executada por ele. Por exemplo, ao sinalizar uma pessoa que usa o serrote para cortar madeira, a configuração da mão em "S" pode sinalizar a ação da pessoa segurando o cabo do serrote, enquanto a mão em "B" pode expressar a lâmina do serrote cortando a madeira. A movimentação da mão para frente e para trás e alternando entre a mão em “S” e a mão em “B” vai explicitar a ação realizada com o serrote. Dessa forma, a pessoa que sinaliza pode descrever a ação de corte de forma mais precisa e detalhada, utilizando os classificadores instrumentais. O uso dos classificadores instrumentais também pode ser visto em outros contextos, como na descrição de atividades manuais, como por exemplo a ação de escrever. Note que ao sinalizarmos o verbo ESCREVER, usamos a configuração da mão dominante como se estivéssemos de fato segurando um lápis ou uma caneta para escrever. O mesmo acontece quando falamos em escrever usando um teclado de computador (digitação). Para este caso, pode-se usar a configuração 60 para expressar a ideia de uma digitação usando teclado. 5) Classificadores de corpo O classificador de corpo é um tipo de classificador utilizado em Libras para representar ações ou características do corpo humano ou de animais. Ele é usado para indicar ações específicas, tais como andar, correr, pular, dançar, entre outras, e também para expressar características, tais como tamanho, forma e postura. Ao expressarmos em Libras como anda um animal como o cachorro, usaremos, além de configurações de mãos, uma movimentação do corpo para expressar esse andar característico desse animal. Assim, poder-se-ia usar as mãos na configuração em 7 para sinalizar as patas do cachorro, a movimentação dessas mãos imitando o andar do bicho e a movimentação do corpo também imitando o andar no animal completariam o sentido da ideia inicial que era expressar o andar de um cachorro. Num possível contexto de sinalização, muitos outros elementos poderiam ser incorporados, como a língua para fora, o balançar da cabeça movimentando as orelhas, o movimento indicando o latido, etc. Para este tipo de classificador há também as situações em que apenas as expressões faciais serão utilizadas para expressar ideias de sentimentos e sensações. Tomemos aqui como exemplo uma vaca que se assusta com outro animal próximo e realiza Curso de Classificadores em Libras 16 um leve giro no pescoço movimentando a cara para outro lado e na cena olha o bicho que o assusta pelo “canto do olho” (tome como referência a imagem ao lado). Nesta situação, o sinalizante pode apenas reproduzir a cena da vaca se assustando com as expressões faciais que correspondam a ação realizada, na vida real, pela vaca. ANOTAÇÕES ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Curso de Classificadores em Libras 17 4 CLASSIFICADORES E GÊNEROS TEXTUAIS Na língua de sinais, os gêneros textuais são expressos de forma ligeiramente diferente do que em línguas orais, porque a sinalização pode ser mais rica em detalhes por ser uma língua visual e os aspectos da visão, apresentando o que acontece e a ordem dos fatos, apresentam uma lógica de articulação que permite mais detalhamento. Através dos classificadores, é possível substituir a apresentação de informações exclusivamente através de sinais e, assim, transmitir informações de maneira mais clara e eficaz. Um exemplo de gênero textual em que os classificadores podem ser utilizados é em uma receita. No lugar de usar sinais para descrever cada etapa da receita, os classificadores podem ser usados para representar os utensílios e ingredientes utilizados, bem como os movimentos e ações envolvidas em cada etapa do processo de preparo, a final de contas, classificadores são ações. Por exemplo, em vez de sinalizar "corte a cebola em cubos" (CEBOLA CORTAR QUADRADO), pode-se usar classificadores que representam a faca cortando a cebola e as mãos moldando os cubos. Ou, em vez de sinalizar "misture os ingredientes" (COISAS MISTURAR), pode-se usar um classificador que representa as mãos mexendo uma tigela. O uso dos classificadores em gêneros textuais como receitas pode tornar a compreensão do texto mais fácil e rápida para pessoas surdas, já que as informações são transmitidas visualmente com maior riqueza de detalhes. Outro exemplo de gênero textual em que se explora o uso de classificadores é em narrativas ou histórias em Libras. Neste caso, os classificadores podem ser usados para representar personagens, objetos, ações e cenários, tornando a história mais visual e fácil de compreender para pessoas surdas. Por exemplo, em uma história em que um personagem está caminhando pela rua, em vez de sinalizar "ela caminhou pela rua" (PASSADO EL@ ANDAR RUA), pode-se usar um classificador de corpo que representa como a personagem estava andando e, como forma de expressar o verbo “andar”, pode-se usar a mão dominante em “5” com movimentos no pulso para cima e para baixo. Da mesma forma, em uma história em que um personagem está cozinhando, os classificadores podem ser usados para representar os utensílios de cozinha, ingredientes e as ações envolvidas no processo de preparo. O uso dos classificadores em narrativas em Libras permite que a história seja contada de forma mais rica e expressiva, além de facilitar a compreensão dos detalhes para pessoas surdas. Isso também permite que as histórias sejam transmitidas de forma mais culturalmente autêntica, já que os classificadores são uma parte importante da gramática e do vocabulário da língua de sinais. Curso de Classificadores em Libras 18 Tradução de texto em Português 1 O LEÃO E O RATO Esopo Um leão estava dormindo e um rato passeava sobre seu corpo. Acordando e tendo apanhado o rato, ia comê-lo. Como o rato suplicasse que o largasse, dizendo que, se fosse salvo, lhe pagaria o favor, o leão sorriu e deixou-o ir. Não muito depois, o leão foi salvo, graças ao reconhecimento do rato. Com efeito, preso por caçadores e amarrado a uma corda, logo que o ouviu gemendo, o rato se aproximou, roeu a corda e o libertou, dizendo: "Recentemente riste, não acreditando em uma retribuição da minha parte, mas agora vês que também entre os ratos existe reconhecimento". Esopo: fábulas completas. Traduzido por Neide Smolka. São Paulo, Moderna, 1995. p. 118. In: FERREIRA, Givan. Trabalhando com a linguagem, 8º ano 1. ed. atual. São Paulo: Quinteto Editorial, 2009. p. 154 (Coleção trabalhando a linguagem) ANOTAÇÕES ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Curso de Classificadores em Libras 19 Tradução de texto em Português 2 O TRABALHO DO MEU PAI Anderson Pereira Meu pai é eletricista e que trabalha indo na casa das pessoas. Ele anota os dias e horários na agenda para não esquecer. Ele acorda bem cedo e arruma as ferramentas na sua maleta. Nessa maleta tem muita coisa legal. Tem alicate, que ele corta o arame. Tem uma trena para medir tudo. Há uma serra para serrar a madeira. Tem um par de luvas para evitar pegar choque. Tem também um capacete, para não bater a cabeça. Meu pai sobe na escada para trocar a lâmpada e as vezes sobe no telhado para arrumar a antena da TV. Meu pai é um grande trabalhador. ANOTAÇÕES ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 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________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Curso de Classificadores em Libras 21 Tradução de texto em Libras 1: Eu X rato (Rodrigo Custódio) ANOTAÇÕES ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 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CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. et al. Dicionário da Língua de Sinais do Brasil: a Libras em suas mãos. São Paulo: Edusp, 2017. Volumes I, II e III. 1024 p. FELIPE, Tanya A. Sistema de flexão verbal na Libras: os classificadores enquanto marcadores de flexão de gênero. Anais do Congresso Nacional do INES de 2002. FELIPE, Tanya A; MONTEIRO, Myrna Salerno. Libras em Contexto: curso básico, livro do professor e do estudante cursista. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2006. 6ª. Edição. 448 p. HONORA, Marcia; FRIZANCO, M. L. E. Livro ilustrado de Língua Brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. Volumes I, II e III. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009 PEREIRA, Anderson Corrêa. Como estruturar frases em Libras. Pinheiro, MA: InSight, 2022. 1. ed. ISBN 978-65-998389-1-0 PEREIRA, Anderson Corrêa. Guia básico de conversação em Libras. Pinheiro, MA: InSight, 2022. 1. ed. ISBN 978-65-998389-2-7 QUADROS, Ronice de; KARNOPP, Lodenir B. Língua Brasileira de Sinais: Estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. QUADROS, Ronice Muller de; CAMPELLO, Ana Regina e Souza; PIZZIO, Aline Lemos; et al. Língua Brasileira de Sinais III. Florianópolis: UFSC, 2009. QUADROS, Ronice Muller de; PIZZIO, Aline Lemos; REZENDE, Patrícia Luiza Ferreira. Língua Brasileira de Sinais I. Florianópolis: UFSC, 2009.
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