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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL HELENA KIRA RELATÓRIO DE ATIVIDADE Rio de Janeiro – RJ Dezembro/2016 1. IDENTIFICAÇÃO Estagiário: Helena Kira Ano Letivo/Semestre: 2016.2 Instituição Campo de Estágio: Hospital Municipal Miguem Couto (HMMC) Supervisor de Campo: Monica Dias do Araújo Supervisor Acadêmico: Gláucia Lelis Período de referência deste relatório: OTP II (início: 31/08/2016) 2. ATIVIDADE RELATADA A atividade escolhida para relato e análise foi um atendimento realizado na enfermaria da ortopedia do Hospital Municipal Miguel Couto, após o parecer da equipe médica para o setor do Serviço Social, a uma paciente idosa, vítima da queda da própria altura dentro de seu apartamento. Acredito que este atendimento possa ser enquadrado como “caso social”, por perpassar diversas demandas que necessitam de atenção e articulação entre os serviços públicos e a rede de apoio da paciente, e é por isso que elegi por desenvolver sobre esse caso. O nome da paciente é Irene, 86 anos, pensionista, a qual deu entrada na unidade em 27/08/2016 por queda da própria altura com fratura de olecrano esquerdo (segundo prontuário médico) e foi trazida pela ambulância do Corpo de Bombeiros, após ter ficado 24 horas até ser acionado o socorro, uma vez que se encontrava sozinha em sua residência. Realizou sua cirurgia em 31/08/2016 com alta em 01/09/2016 e indicação de retorno à residência, necessitando de acompanhante/cuidador. Ao contarmos familiares para o acompanhamento da idosa no momento da alta hospitalar, seus dois sobrinhos, Francisco* e André*, mostraram vídeos e fotos do apartamento da paciente, expondo condições insalubres devido a demência que teve início em novembro de 2014 e, com isso, a ela vem acumulando lixo e fezes em sua casa, não realizando higiene pessoal e proibindo amigos e parentes de visitá-la, além de, exalada um forte odor de podridão e grande quantidade insetos, como baratas e mosquitos, que se acumulavam em frente a porta de entrada, prejudicando os demais condôminos. Devido denúncias de vizinhos, o apartamento foi interditado, por causa das péssimas condições de limpeza. Desse modo, os sobrinhos solicitaram a interdição de sua tia para o Ministério Público, pois expõem que esta não tem mais condições de residir sozinha e nem de gerenciar suas finanças. Entretanto, Dona Irene, em decorrência de sua demência, diz que os dois querem matá-la para ficar com a herança, por isso não aceita morar com nenhum deles e nem receber visitas. Próximo a sua residência em Copacabana há uma loja de souvenir que frequenta desde 1978 e as donas, Luciana* e Diana*, se tornaram grandes amigas de Dona Irene, na qual diz confiar muito e que gostaria do apoio delas para o que necessitar. Então, a própria paciente solicitou para elas visitarem alguns abrigos privados para que ela possa ser encaminhada na saída do hospital. Luciana, junto com Francisco, encontrou um abrigo localizado na Tijuca que agradou ambos, porém, ao passar a informação à Irene, esta se recusou a ir, por conta do sobrinho trabalhar próximo e não quer morar perto de onde ele possa visitá-la. Em busca de outra opção, a amiga Diana foi a um abrigo em Botafogo, onde uma mãe de sua amiga é abrigada e diz ser muito bom, além de ser próximo a casa das duas irmãs (Luciana e Diana), que poderiam dar o suporte necessário à idosa, e de seus serviços preferidos, como banco e cabelereiro, porém Frederico disse que ficaria muito longe para ele, pois reside em Niterói, assim, ficou o dilema de levá-la para o abrigo da Tijuca ou no de Botafogo. Desse modo, a equipe de Serviço Social da ortopedia realizou uma reunião entre as duas amigas e os sobrinhos para discutir sobre qual abrigo iriámos encaminhá-la e ficou decidido que a vontade da idosa seria atendida, sendo assim, o abrigo de Botafogo. Diante isso, primeiramente foi pedido uma análise da equipe de psiquiatria do hospital para verificar o estado mental da paciente, porém foi negado e a equipe apenas realizou um encaminhamento para a clínica da família. Solicitamos novamente e, após a análise, disseram que ela está lúcida e orientada, então a sua interdição foi negada, indeferindo a necessidade de um procurador para realizar sua gestão financeira. Em seguida, enviamos o relatório social para a 9ª Vara da Família e tentamos entrar em contato com a Arquidiose (instituição religiosa na qual a paciente relata ter citado em seu testamento) para verificar a informação fornecida e se possuem algum abrigo, porém os contatos estão desatualizados e não obtivemos resposta. Diante todo esse trâmite e diversas reuniões com os sobrinhos e as amigas, decidimos reunir toda a rede de apoio da paciente para definir qual abrigo ela será levada e como será administrada a questão financeira da idosa, principalmente sobre o pagamento do condomínio do prédio e do abrigo. *Nomes fictícios 3. CONSIDERAÇÕES E SUGESTÕES SOBRE O ACOMPNHAMENTO DA ATIVIDADE As demandas apresentadas nesse caso trouxeram diversas questões nas quais não imaginaria que poderia acontecer com uma paciente que possui rede de apoio (disposta a atendê-la no que for necessário), renda e moradia, ou seja, uma realidade socioeconômica privilegiada, quando comparada aos demais pacientes do hospital. Entretanto, acredito que os encaminhamentos realizados pela equipe de Serviço Social tenham sido os mais cabíveis possíveis, onde se realizou entrevistas, relatório social, contato com a 9ª Vara da Família e com a equipe multidisciplinar da instituição, de modo que as demandas da paciente fossem encaminhadas e a alta hospitalar realizada. Todavia, cabe a análise teórico-crítica a respeito do cuidado ao idoso e a obrigação da família em respeitar o desejo e assegurar seus direitos sociais, como o Estatuto do Idoso apresenta no artigo 3º e no artigo 37º, respectivamente: “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária; e “O idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou privada.” Além da necessidade de preparação da família (ou rede familiar) para lidar com o envelhecimento. Isso porque, por diversos casos observados no campo de estágio, muitos pacientes idosos sofreram quedas ou acidentes em casa e estavam desacompanhados, ou o responsável não sabia como agir diante uma situação dessas. Portanto, é necessário um conhecimento e um reconhecimento do idoso, família ou rede de apoio a cerca das restrições de mobilidade e cuidados especiais à essa pessoa que atingiu a terceira idade. REFERÊNCIAS - Prontuário médico do Hospital Municipal Miguel Couto da paciente - Relatório Social da paciente - Estatuto do Idoso http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm