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História da Igreja Antiga à Contemporânea

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Prévia do material em texto

Indaial – 2021
Igreja antIga à 
Prof. ª Priscilla da Silva Góes
2a Edição
HIstórIa da
Contemporânea
Elaboração:
Prof. ª Priscilla da Silva Góes
Copyright © UNIASSELVI 2021
 Revisão, Diagramação e Produção: 
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
G598h
 Góes, Priscilla da Silva
 
 História da igreja antiga à contemporânea. / Priscilla da Silva 
Góes – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 
 207 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-674-0
 ISBN Digital 978-65-5663-669-6 
 
 1. História da igreja. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
da Vinci.
CDD 270
Prezado acadêmico,
Estamos iniciando a disciplina História da Igreja, que tem como objetivo fazer 
um apanhado dos principais momentos de mudança no cristianismo, desde a morte de 
Jesus Cristo até o século atual. Como você deve ter percebido, trataremos aqui de muitos 
temas, que incluirão diversos personagens, filosofias, artes, tragédias, superação. Enfim, 
assim como conhecer a história política e social é fundamental para nossa formação, 
conhecer a história do cristianismo é fundamental para entendermos seu papel na 
formação do mundo atual.
Nossa disciplina envolve um tempo histórico extenso, mais de dois mil anos, e 
com várias mudanças. Por esse motivo, nosso material não tem como abordar todos os 
acontecimentos com profundidade. Então, desafiamos você, caro acadêmico, a usar 
esse material como uma bússola que vai lhe orientar nos principais fatos, conceitos e 
personagens, para que você possa se aprofundar, posteriormente, a partir de outras 
leituras acadêmicas.
Ao ler a história do cristianismo, devemos também ter em vista que cada religião 
é um produto humano, ou seja, seu desenvolvimento, formas de pensar, filosofias, dentre 
outros aspectos, fazem parte de um contexto social, político e econômico. Neste livro, 
trataremos da vivência religiosa não como algo sobrenatural, mas, ao contrário, como 
um fenômeno humano. Portanto, a fé e as discursões sobre transcendência ou sobre 
Deus não farão parte desse material. O que você encontrará aqui serão as discussões 
acadêmicas feitas por historiadores sobre as diversas fases da história da Igreja cristã.
Vejamos, então, o que estudaremos nessa disciplina:
Na Unidade 1, abordaremos as duas primeiras fases históricas, ou seja, o 
cristianismo na Idade Antiga e na Idade Média. Essa unidade busca compreender os 
primeiros passos do cristianismo após a morte de Jesus, como ele se espalhou e se 
consolidou até chegar ao patamar de religião oficial de Roma. A partir daí, abordaremos 
questões referentes aos grupos considerados heréticos, que foram perseguidos 
dentro do cristianismo. Conheceremos, também, como se deu o desenvolvimento do 
cristianismo no período Medieval, que teve como resultado a cristianização da Europa. 
Veremos sobre a influência cristã na arte e, também, o funcionamento da Inquisição. 
Conheceremos, ainda, os grupos considerados hereges desse período.
APRESENTAÇÃO
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos as mudanças ocorridas no cristianismo 
devido às ideias renascentistas, que culminaram na Reforma Protestante. No contexto 
da Reforma, conheceremos os principais grupos reformistas e suas disputas perante 
as igrejas oficiais. Conheceremos, ainda, como se deu a luta do catolicismo perante 
o avanço protestante. Veremos também como ocorreu a influência do pensamento 
iluminista nas questões referentes ao cristianismo.
Por fim, na Unidade 3, aprenderemos como a Revolução Francesa modificou 
as relações entre Igreja e Estado, além do avanço de diversos grupos protestantes 
tanto na Europa quanto na América. Estudaremos as relações entre a escravidão e as 
igrejas cristãs, além das mudanças ocorridas na sociedade e seu reflexo nas questões 
religiosas. Com relação ao catolicismo, veremos o despertar de mudanças significativas 
nos ritos e nas relações da igreja católica com os demais grupos cristãos, após o Concilio 
do Vaticano II.
Bons estudos!
Prof.ª Priscilla da Silva Góes
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e 
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
GIO
QR CODE
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL ................................................... 1
TÓPICO 1 - OS PRIMÓRDIOS DO CRISTIANISMO ..................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 O INÍCIO DO CRISTIANISMO ...............................................................................................4
3 INFLUÊNCIAS SOFRIDAS PELO CRISTIANISMO E A SEPARAÇÃO DO JUDAÍSMO ......... 7
4 HERESIAS: A LUTA INTERNA DO CRISTIANISMO.............................................................9
4.1 O GNOSTICISMO .................................................................................................................................... 9
4.2 O MONTANISMO .................................................................................................................................. 13
4.3 O ARIANISMO ....................................................................................................................................... 14
4.4 O DONATISMO ...................................................................................................................................... 14
4.5 O PELAGIANISMO ............................................................................................................................... 14
5 A FORMAÇÃO DO CÂNON SAGRADO ............................................................................... 15
6 A FORMAÇÃO DA HIERARQUIA ECLESIÁSTICA CATÓLICA............................................ 17
7 O CRISTIANISMO E O PODER TEMPORAL EM ROMA ...................................................... 20
8 OS PRINCIPAIS PENSADORES CRISTÃOS DA ANTIGUIDADE ....................................... 22
RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................27
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 28
TÓPICO 2 - O CRISTIANISMO NO PERÍODO MEDIEVAL ..................................................... 31
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 31
2 O PODER PAPAL .............................................................................................................. 32
3 A QUESTÃO ICONOCLASTA ............................................................................................. 34
4 O CISMA DO ORIENTE ...................................................................................................... 36
5 OS MONASTÉRIOS: A FUGA DO MUNDO ......................................................................... 38
6 A REFORMA MONÁSTICA E A REFORMA GREGORIANA ................................................ 40
7 A MÚSICA NA IGREJA ...................................................................................................... 42
8 AS CRUZADAS ................................................................................................................. 44
9 O GRANDE CISMA PAPAL ................................................................................................ 46
10 OS PRINCIPAIS PENSADORES CRISTÃOS MEDIEVAIS ............................................... 48
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 50
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 51
TÓPICO 3 - AS HERESIAS MEDIEVAIS E A INQUISIÇÃO ................................................... 53
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 53
2 AS HERESIAS MEDIEVAIS ............................................................................................... 53
2.1 OS ALBIGENSES OU CÁTAROS .........................................................................................................54
2.2 OS VALDENSES ...................................................................................................................................56
2.3 JOHN WYCLIFFE ................................................................................................................................. 57
2.4 JOHN HUSS ........................................................................................................................................58
2.5 OS BEGUINOS .....................................................................................................................................59
3 A INQUISIÇÃO MEDIEVAL ................................................................................................ 60
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 64
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 69
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................70
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................73
UNIDADE 2 — O CRISTIANISMO NA IDADE MODERNA ....................................................... 77
TÓPICO 1 — AS MUDANÇAS RELIGIOSAS NA IDADE MODERNA .......................................79
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................79
2 O RENASCIMENTO CULTURAL E CIENTÍFICO: REAÇÕES DA IGREJA .......................... 80
3 A INQUISIÇÃO MODERNA ................................................................................................ 86
3.1 ESTATUTOS DE PUREZA DE SANGUE ............................................................................................ 91
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 92
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 93
TÓPICO 2 - PERÍODO DE REFORMAS ..................................................................................95
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................95
2 A REFORMA PROTESTANTE .............................................................................................95
2.1 O LUTERANISMO ..................................................................................................................................96
2.2 HULDRYCH ZWINGLI .........................................................................................................................101
2.3 O CALVINISMO ...................................................................................................................................103
2.4 OS ANABATISTAS..............................................................................................................................105
2.5 JACÓ ARMÍNIO ..................................................................................................................................108
2.6 O ANGLICANISMO ..............................................................................................................................110
2.7 O PURITANISMO .................................................................................................................................113
2.8 JOHN KNOX E A REFORMA NA ESCÓCIA ....................................................................................114
2.9 OS QUACRES ......................................................................................................................................115
2.10 OS RANTERS .....................................................................................................................................118
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................120
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 121
TÓPICO 3 - AS MUDANÇAS NA RELIGIÃO EUROPEIA APÓS A REFORMA ......................123
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1232 A CONTRARREFORMA CATÓLICA ..................................................................................123
3 O JANSENISMO ...............................................................................................................126
4 O ILUMINISMO E A QUESTÃO RELIGIOSA ...................................................................... 127
5 AS MISSÕES DA ÁSIA......................................................................................................129
6 O PIETISMO ..................................................................................................................... 131
7 O METODISMO .................................................................................................................132
8 O GRANDE AVIVAMENTO NA AMÉRICA DO NORTE .......................................................134
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................138
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................145
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 147
UNIDADE 3 — A IGREJA NA IDADE CONTEMPORÂNEA ................................................... 151
TÓPICO 1 — A REVOLUÇÃO FRANCESA: O INÍCIO DO ESTADO LAICO 
E AS MUDANÇAS RELIGIOSAS ..........................................................................................153
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................153
2 A REVOLUÇÃO FRANCESA E A IGREJA ........................................................................154
3 O MOVIMENTO EVANGÉLICO .......................................................................................... 157
3.1 A COMUNIDADE DE CLAPHAM ...................................................................................................... 157
4 O MOVIMENTO DE OXFORD ............................................................................................159
5 A INFLUÊNCIA DE WILLIAM CAREY NAS MISSÕES PROTESTANTES ..........................160
6 O CRISTIANISMO NA AMÉRICA DO NORTE NO SÉCULO XIX: 
O AVIVAMENTO E A QUESTÃO ESCRAVISTA .................................................................... 161
7 AS MISSÕES CRISTÃS NA ÁFRICA NO SÉCULO XIX ......................................................164
8 A TEOLOGIA LIBERAL PROTESTANTE ...........................................................................166
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................169
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................170
TÓPICO 2 - O CRISTIANISMO NO MUNDO INDUSTRIALIZADO ....................................... 173
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 173
2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E OS MOVIMENTOS CRISTÃOS ....................................... 174
3 O EVANGELHO SOCIAL NA AMÉRICA ............................................................................ 176
4 A INFALIBILIDADE PAPAL E O CONCÍLIO DO VATICANO I ........................................... 177
5 O MOVIMENTO FUNDAMENTALISTA PROTESTANTE.................................................... 179
6 O MOVIMENTO DA NEO-ORTODOXIA ............................................................................. 179
7 O PENTECOSTALISMO ...................................................................................................180
8 O NEOPENTECOSTALISMO ............................................................................................182
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................184
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................185
TÓPICO 3 - A IGREJA CATÓLICA NO SÉCULO XX ............................................................187
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................187
2 O CONCÍLIO DO VATICANO II ..........................................................................................187
3 A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA ...................................................................................189
4 O MOVIMENTO CARISMÁTICO ........................................................................................ 191
5 A IGREJA ORTODOXA NO SÉCULO XX ...........................................................................192
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................195
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 202
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 203
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 205
1
UNIDADE 1 - 
HISTÓRIA DA IGREJA 
ANTIGA E MEDIEVAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer a formação das principais doutrinas cristãs;
•	 entender	os	conflitos	entre	judeus	e	cristãos	e,	posteriormente	cristãos	e	Império	Romano;
•	 examinar	o	processo	para	que	o	cristianismo	se	tornasse	oficial	no	Império	Romano;
•	 estudar	as	principais	ideias	consideradas	heréticas	pela	ortodoxia	cristã;
•	 identificar	os	principais	teólogos	cristãos	dos	primeiros	séculos.
Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos.	No	decorrer	dela,	você	encontrará	
autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	OS	PRIMÓRDIOS	DO	CRISTIANISMO	APÓS	A	MORTE	DE	JESUS
TÓPICO	2	–	O	CRISTIANISMO	NO	PERÍODO	MEDIEVAL
TÓPICO	3	–	AS	HERESIAS	MEDIEVAIS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
OS PRIMÓRDIOS DO CRISTIANISMO
1 INTRODUÇÃO
Então,	 Jesus	 aproximou-se	 deles	 e	 disse:	 ‘Foi-me	 dada	 toda	 a	
autoridade	no	 céu	 e	 na	 terra.	 Portanto,	vão	 e	 façam	discípulos	 de	
todas	as	nações,	batizando-os	em	nome	do	Pai	e	do	Filho	e	do	Espírito	
Santo,	ensinando-os	a	obedecer	a	tudo	o	que	eu	lhes	ordenei.	E	eu	
estarei	sempre	com	vocês,	até	o	fim	dos	tempos	(Mateus	28:18-20).
Estimado	 acadêmico,	 provavelmente	você	 já	 deve	 conhecer	 o	 texto	 anterior.	
Tais	palavras,	segundo	a	tradição	cristã,	foram	ditas	por	Jesus	aos	seus	discípulos	antes	
de	sua	partida	da	terra.	Esse	texto	ainda	hoje	tem	sido	pregado	como	uma	verdadeira	
ordenança	 aos	 cristãos.	 Imaginemos,	 então,	 o	 impacto	 dessas	 palavras	 na	 vida	 dos	
discípulos,	futuros	apóstolos,	logo	após	a	separação	deles	do	seu	Mestre.
Imaginemos,	 ainda,	 o	 impacto	 dessa	 pregação	 dentro	 do	 contexto	 judaico,	
cuja	comunidade	encontrava-se	dividida	entre	os	que	seguiam	Jesus,	como	Messias,	
e	os	que	rechaçavam	os	ensinamentos	de	Jesus.	Com	o	Mestre	morto,	as	autoridades	
judaicas	 que	 não	 concordavam	 com	 sua	 doutrina	 passaram	 a	 atacar	 ainda	 mais	
os	cristãos.	Nessa	época,	surgiram	os	primeiros	mártires,	mas,	também,	o	 início	da	
expansão	do	cristianismo.
E	 a	 expansão	 foi	 intensa.	Os	discípulos,	 animados	pela	 ideia	da	parúsia,	 que	
seria	 o	 retorno	 de	 Cristo,	 faziam	 com	 que	 a	mensagem	 cristã	 se	 difundisse	 não	 só	
entre	 os	 judeus,	 mas	 também	 por	 províncias	 romanas	 que	 tinhauma	 religiosidade	
completamente	diferente	tanto	do	judaísmo	quanto	do	cristianismo.	Essa	religiosidade	
diversa	do	império	romano	foi	chamada	pelos	cristãos	de	paganismo.
Portanto,	 caro	 acadêmico,	 iniciaremos	 nossos	 estudos	 da	 história	 da	 igreja	
procurando	entender	os	primeiros	passos	do	movimento	que	convencionou-se	chamar	
de	Cristianismo.	Abordaremos,	neste	tópico,	os	principais	conflitos	com	o	judaísmo	e	a	
religiosidade	romana,	assim	como	os	conflitos	internos	do	cristianismo	e	sua	luta	para	
consolidar	uma	doutrina	ortodoxa.	Veremos,	também,	como	o	cristianismo	passou	de	
uma	religião	perseguida	à	religião	estatal.	Por	fim,	conheceremos	os	principais	nomes	
dos	teólogos	que	ajudaram	a	igreja	no	fortalecimento	de	sua	doutrina.
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
4
2 O INÍCIO DO CRISTIANISMO
No	século	I,	os	judeus	tinham	seu	território	ocupado	pelos	romanos.	O	Império	
Romano	 estabeleceu	 seu	 domínio	 por	 várias	 regiões	 como	 Grécia,	 Egito,	 Palestina,	
dentre	outras.	A	dominação	romana	obrigava	que	seus	súditos	pagassem	impostos	e	
proibia	 que	fizessem	 revoltas,	 pois	 o	 exército	 estava	pronto	 para	 combater	 qualquer	
tentativa	de	rebelião.
Com	a	morte	de	Jesus,	seus	seguidores,	cuja	maioria,	até	então,	era	composta	
de	judeus,	liderados	pelos	discípulos,	passaram	a	disseminar	seus	ensinamentos.	Tais	
ideias	geraram	divergências	entre	os	grupos	judaicos	que	acreditaram	que,	com	a	morte	
do	líder,	seus	ensinos	sucumbiriam	mais	facilmente.	A	aceitação	ao	cristianismo,	porém,	
ocorreu	rapidamente	por	outras	regiões	do	império	romano,	para	judeus	e	não-judeus.	
A	partir	disso,	surgiu	um	problema	interno	relacionado	à	aceitação	do	cristianismo	por	
pessoas	que	não	tinham	a	cultura	e	a	religião	judaica.	Ritos	judaicos	comuns	aos	primeiros	
seguidores	 passaram	 a	 ser	 vistos,	 pelos	 devotos	 não	 judeus,	 como	 desnecessários.	
Assim,	ocorreu	o	processo	de	separação	entre	o	cristianismo	e	o	judaísmo.	
Inicialmente,	o	cristianismo	era	uma	das	faces	do	judaísmo.	Os	cristãos	iam	
as	sinagogas	e	ao	Templo.	No	entanto,	pouco	a	pouco,	foi	crescendo	a	 relutância	
judaica	contra	a	disseminação	do	cristianismo	.	Vejamos	o	que	diz	o	historiador	das	
religiões	Eliade:
Por	 outro	 lado,	 cumpre	 ter	 em	 conta	 que	 os	 primeiros	 cristãos,	
judeus	de	Jerusalém,	constituíam	uma	seita	apocalíptica	dentro	do	
judaísmo	palestino.	Estavam	na	espera	 iminente	da	segunda	vinda	
de	Cristo,	a	parúsia;	o	que	os	preocupava	era	o	fim	da	história,	e	não	a	
historiografia	da	espera	escatológica.	Além	disso,	como	era	de	prever,	
em	torno	da	figura	do	mestre	ressuscitado	cristalizou-se	bem	cedo	
toda	uma	mitologia	que	lembra	a	mitologia	dos	deuses	salvadores	e	
do	homem	divinamente	inspirado	(theîos	ántropôs).	Essa	mitologia,	
[...]	 é	 particularmente	 importante:	 Ajuda-nos	 a	 compreender	 a	
dimensão	religiosa	específica	ao	cristianismo	e	também	sua	história	
posterior.	Os	mitos	que	projetaram	Jesus	de	Nazaré	num	universo	
de	arquétipos	e	figuras	transcendentais	são	tão	‘verdadeiros’	quanto	
seus	 gestos	 e	 palavras:	 esses	mitos	 confirmam,	 de	 fato,	 a	 força	 e	
a	 criatividade	 de	 sua	 mensagem	 original.	 É	 aliás,	 graças	 a	 essa	
mitologia	 e	 simbologias	 universais	 que	 a	 linguagem	 religiosa	 do	
cristianismo	torna-se	ecumênica	e	acessível	para	além	do	seu	foco	
de	origem	(ELIADE,	2011a,	p.	296).
Percebemos	então	que,	para	os	discípulos	que	recentemente	haviam	perdido	
a	convivência	com	Jesus,	a	expectativa	do	retorno	deste	era	esperada	para	ao	quanto	
antes,	colocando	o	foco	na	 ideia	apocalíptica.	A	pregação	sobre	os	feitos	de	Jesus	e	
o	seu	retorno	passa	a	ser	a	ênfase	na	pregação	dos	primeiros	cristãos.	Esse	discurso	
encontrou	eco	nas	comunidades	não	judaicas	com	muita	força.	Enquanto	o	cristianismo	
era	rechaçado	pelos	judeus,	passou	a	ter	adesão	dos	não	judeus,	como	explica	Eliade	
(2011a,	p.	301):	
5
É	 na	 diáspora	 que	 se	 desenvolve	 a	 cristologia.	 O	 título	 ‘filho	 do	
homem’	–	que	em	grego	já	não	tem	sentido	–	é	substituído	por	‘filho	
de	Deus’	 ou	 ‘Senhor’	 (Kúrios);	 o	 termo	 “messias”	 é	 traduzido	para	
o	 grego	 (Khristós)	 e	 acaba	 por	 transformar-se	 em	 nome	 próprio:	
Jesus	Cristo.
Portanto,	 com	 a	 ampliação	 do	 cristianismo	 para	 os	 domínios	 pagãos,	 houve	
uma	nova	forma	de	vivenciar	o	cristianismo.	A	partir	disso,	novos	conflitos	surgiram.	O	
apóstolo	Paulo	é	considerado	o	principal	agente	propagador	do	cristianismo,	inclusive	
entre	populações	não	judaicas.	Ele	implantou	igrejas	em	várias	regiões,	dentre	elas:	Ásia	
Menor,	Grécia	e	Macedônia.	Porém,	foi	em	Antioquia,	na	Síria,	que	se	estabeleceram	as	
primeiras	comunidades	cristãs	de	origem	pagã,	sendo	nela	utilizada	pela	primeira	vez	a	
expressão	“cristãos”,	para	designarem	os	seguidores	de	Jesus	(ELIADE,	2011a).
Após	 a	 adesão	 de	 vários	 gentios	 ao	 cristianismo,	 os	 judeus-cristãos	 se	
desentenderam	com	os	novos	convertidos,	principalmente	devido	à	não	observância	
da	 circuncisão.	 Assim,	 foi	 convocado	 o	 primeiro	 concílio,	 realizado	 em	 Jerusalém	
(Atos	15),	no	qual	foi	decidido	que	os	pagãos	que	se	convertessem	não	precisariam	
seguir	todos	os	 ritos	 judaicos,	somente	 “abster-se	das	carnes	sacrificadas	a	 ídolos,	
bem	como	do	sangue,	da	carne	de	animais	sufocados	e	das	relações	sexuais	ilícitas”	
(ELIADE,	2011a,	p.	304).
Na	década	de	60	d.C.,	teve	início	a	ruptura	da	relação	entre	judeus	e	cristãos.	
Com	a	destruição	do	Templo	em	Jerusalém	e	a	expulsão	dos	judeus	do	império	romano,	
o	 cristianismo	 continuou	 ganhando	 adeptos	 entre	 os	 gentios.	 No	 segundo	 século,	
porém,	os	cristãos	foram	perseguidos	dentro	dos	domínios	romanos,	tendo	em	vista,	
principalmente,	a	não	aceitação	pela	adoração	aos	imperadores	romanos	(ELIADE,	2011a).	
Havia	 rejeição	aos	cristãos	não	somente	por	parte	da	cúpula	 romana,	mas,	também,	
pela	sociedade	em	geral.	De	acordo	com	Shelley	 (2004),	alguns	fatores	contribuíram	
para	essa	hostilidade	aos	cristãos	por	parte	dos	romanos.	A	acusação	de	ateísmo	é	um	
desses	 fatores.	Como	o	cristianismo	não	 fazia	uso	de	 imagens	para	 representar	 seu	
Deus,	eles	eram	tidos	pelos	romanos	como	ateus.
Outro	fator	 importante	era	que	os	 judeus	receberam	do	 império	romano	uma	
espécie	 de	 imunidade	 nas	 questões	 de	 seu	 culto.	 Assim,	 enquanto	 o	 cristianismo	
estava	sob	a	tutela	do	judaísmo,	ele	não	era	perseguido	pelos	romanos,	pois	os	judeus	
eram	vistos	mais	como	um	grupo	fechado,	no	qual	não	havia	a	ênfase	no	proselitismo.	
Quando,	gradualmente,	o	cristianismo	foi	se	separando	do	judaísmo	e,	assim,	adotando	
uma	abordagem	mais	proselitista,	o	governo	romano	passou	a	ver	o	cristianismo	como	
uma	possível	ameaça	à	ordem	pública.	Também,	como	dito,	os	cristãos	se	opuseram	
ferrenhamente	 aos	 deuses	 adorados	 pelos	 romanos	 e	 gregos.	 Tal	 rejeição	 ocorria	
em	festas	ou	demais	ambientes	sociais,	nos	quais	os	cristãos	se	recusavam	a	comer	
alimentos	que	haviam	sido	consagrados	aos	deuses	pagãos.	
6
Além	disso,	outros	traços	culturais	foram	rechaçados	pelos	cristãos,	como,	por	
exemplo,	as	batalhas	de	gladiadores.	Outra	razão	para	os	romanos	não	se	agradarem	do	
cristianismo	eram	as	recorrentes	denúncias	de	que,	nos	cultos	cristãos,	havia	orgias	e	
prática	de	canibalismo.	Quanto	ao	canibalismo,	Shelley	(2004)	explica	que	pode	ter	sido	
devido	a	uma	má	interpretação	do	rito	eucarístico,	em	que	o	pão	e	o	vinho	são	chamados	
de	o	sangue	e	o	corpo	de	Cristo.	Ele	ressalta,	também,	que,	aos	cristãos,	eram	imputados	
os	motivos	para	quaisquer	desgraças	que	ocorressem	em	Roma.	Eram	verdadeiramente	
os	“bodes-expiatórios”	(SHELLEY,	2004).	Seguiu-se,	então,	uma	hostilidade	para	com	
os	 cristãos,	 que	 saiu	 da	 esfera	 social	 e	 passou	 a	 ser	 parte	 da	 política	 de	Estado	de	
muitos	imperadores	romanos	(SHELLEY,	2004).
Segundo	Eliade	(2011a),	o	cristianismo	era	clandestino	em	Roma	e,	os	imperadores	
passaram	a	publicar	 alguns	decretos	anticristãos.	O	 imperador	 romano	Nero	 (54-68)	
fomentou	 uma	 perseguição	 acirrada	 em	 que	 “[...]muitos	 cristãos	 chegaram	 a	 ser	
crucificados.	Alguns	eram	costurados	na	pele	de	animais	selvagens	e	depois	cachorros	
enormes	 eram	 atiçados	 contra	 eles,	 que	 então	 eram	 despedaçados.	 Mulheres	 eram	
amarradas	a	touros	furiosos	e	arrastadas	até	a	morte”	(SHELLEY,	2004,	p.	47).	
Em	 202,	 o	 imperador	 Septímo	 Severo	 proibiu	 que	 os	 cristãos	 fizessem	
proselitismo.	 Já	 Décio,	 em	 250,	 deu	 ordens	 para	 que	 todos	 os	 cidadãos	 romanos	
fizessem	oferendas	aos	deuses	pagãos.	Alguns	cristãos,	com	medo	das	perseguições,	
aderiram	ao	edito,	mas	muitos	se	opuseram.	O	clima	de	perseguição	foi	intenso	até	258,	
em	que	os	cristãos	gozaram	de	um	breve	período	de	paz.	Foi	então	que,	no	governo	
do	 imperador	 Diocleciano	 (244-311),	 ocorreu	 a	 perseguição	 mais	 longa	 e	 sangrenta	
(ELIADE,	2011a).	
Nem	 sempre	 o	 estado	 romano	 combateu	 o	 cristianismo.	 Houve	 épocas	 de	
calmaria	e	outras	de	perseguição	mais	intensas.	Em	tais	períodos,	surgiram	pensadores	
cristãos que tentar mostrar que as ideias do cristianismo não iam de encontro aos ideais 
sociais	dos	romanos.	Tais	homens	foram	chamados	de	apologistas.	Esta	foi	a	tentativa	
de	 fazer	 com	 que	 o	 cristianismo	 pudesse	 viver	 pacificamente	 em	 Roma.	 Todavia,	
segundo	Eliade	(2011a),	os	apologistas	não	tiveram	sucesso	nessa	fase	e,	aos	cristãos,	
era	imputado	tudo	de	ruim	que	acontecesse	em	Roma.		
O termo pagão foi dado pelos cristãos para categorizar os adeptos da 
religiosidade greco-romana. Tanah é o termo em hebraico que diz respeito a 
totalidade da Bíblia hebraica.
NOTA
7
3 INFLUÊNCIAS SOFRIDAS PELO CRISTIANISMO E A 
SEPARAÇÃO DO JUDAÍSMO
Caro	 acadêmico,	 devemos	 ter	 em	vista	 que	 toda	 religião	 surge	 em	um	contexto	
histórico,	político	e	social.	É	importante	entendermos	esses	aspectos	ao	tratarmos	de	qualquer	
fenômeno	religioso.	Assim	sendo,	veremos	agora	algumas	das	influências	que	o	cristianismo	
teve	nos	seus	primórdios.	Vejamos	o	que	o	professor	Theissen	(2009,	p.	97,	98)	explica:
Sob	 a	 ótica	 histórica,	 o	 etos	 cristão	 primitivo	 está	 situado	 entre	
o	 judaísmo	e	 o	 paganismo.	 É	 o	 etos	 de	 um	grupo	que	provém	do	
judaísmo,	 mas	 que	 encontrou	 a	 maioria	 de	 seus	 seguidores	 no	
paganismo.	 Ele	 se	 diferencia	 do	 etos	 judaico	 apenas	 de	 forma	
gradual.	 Ele	 intensifica	 e	 radicaliza	 os	 princípios	 ali	 existentes,	
certamente	com	uma	tendência	a	superá-los	mediante	uma	‘justiça	
melhor’	 (Mt	 5,20).	 Essa	 ‘tendência	 de	 superação’	 é	 levada	 adiante	
no	ambiente	pagão.	Os	primeiros	cristãos	querem	corresponder,	de	
maneira	exemplar,	a	muitas	normas	do	mundo	pagão	circundante.	
[...]	O	 cristianismo	primitivo	 introduz	no	mundo	pagão	dois	valores	
oriundos	 da	 tradição	 judaica,	 os	 quais,	 dessa	 forma,	 são	 novos:	
O	amor	ao	próximo	e	humildade	 (ou	a	 renúncia	ao	status).	Ao	 lado	
de	uma	acomodação	dos	valores	e	normas	do	mundo	pagão	 (com	
pretensão	de	superioridade),	surge,	por	conseguinte,	a	consciência	
de	uma	antinomia	em	relação	a	ele.	Paralelamente	à	pretensão	de	
cumprir	melhor	do	que	todos	os	demais	as	normas	comuns	do	mundo	
ambiente,	 surge	 uma	 consciência	 contracultural	 de	 que	 a	 religião	
cristã	primitiva	mostra-se	quase	como	uma	‘religião-de-excêntricos’.
Portanto,	 para	 entender	 o	 cristianismo	 em	 suas	 origens,	 é	 fundamental	 ter	
em	 vista	 as	 características	 principais	 da	 religiosidade	 judaica	 na	 época	 de	 Cristo,	
assim	como	aspectos	da	religiosidade	romana.	E,	da	mesma	forma	que	o	cristianismo	
incorporou	traços	do	paganismo,	também	contribuiu	para	mudanças	na	estrutura	desta	
última	 tradição,	 assim	 como	 valores	 judaicos	 foram	 assimilados	 pelo	 cristianismo	 e	
transportados	para	a	sociedade	pagã.
Uma	das	alterações	empreendidas	pelo	cristianismo,	em	relação	ao	judaísmo,	
foi	o	rompimento	com	um	importante	rito	praticado	pelos	judeus:	o	sacrifício	no	Templo	
de	Jerusalém.	Com	a	destruição	do	Templo,	os	judeus	pararam	de	realizar	os	rituais	de	
sacrifícios	e	dedicaram-se	nas	sinagogas	aos	estudos	da	Torá,	do	Midrash	e	do	Tamuld.	
Porém,	até	hoje,	boa	parte	da	comunidade	religiosa	 judaica	espera	poder	 retomar	os	
sacrifícios	quando	o	Templo	for	reerguido.	
O	cristianismo,	entretanto,	reelaborou	a	ideia	do	sacrifício	por	meio	de	Jesus.	A	
morte	de	Cristo	é	considerada	o	ápice	de	todos	os	rituais	realizados	no	Templo.	Foi	o	ato	
mais	importante	para	a	humanidade,	pois,	por	meio	dele,	não	há	mais	necessidade	da	
utilização	de	animais	para	o	sacrifício.	Desse	modo,	a	mensagem	da	morte	e	ressurreição	
de	Jesus	 tornou-se	 o	 ponto	 principal	 do	 cristianismo	 e	 sua	 principal	 ruptura	 com	o	
judaísmo,	 então,	 a	 simbologia	 ritualística	 adotada	 pelo	 cristianismo	 foi	 modificada	
(THEISSEN,	2009,	p.171).	A	mudança	do	ritual	foi	uma	quebra	no	paradigma	do	mundo	
religioso	antigo,	tendo	em	vista	que	tanto	a	religião	romana	quanto	as	outras	religiões	do	
mundo	antigo	usavam	o	sacrifício	de	animais	como	o	principal	rito	realizado.	
8
Nessa	 fase,	 o	 cristianismo	 inaugurou	 uma	 nova	 forma	 de	 expressão	 ritual,	
muito	 mais	 simbólica,	 a	 eucaristia.	 O	 momento	 eucarístico	 consiste	 em	 um	 ato	 de	
transubstanciação,	em	que	duas	substâncias	terrenas,	o	pão	e	o	vinho,	são	transformadas,	
respectivamente,	 no	 corpo	 e	 no	 sangue	 de	 Cristo.	 Esse	 ato	 substituiu	 a	 imolação	 de	
animais.	Além	da	 ceia	 eucarística,	 o	 batismo	é	 outro	principal	 rito	 simbólico	praticado	
por	essa	nova	comunidade	religiosa.	O	batismo	representa	a	introdução	à	nova	jornada	
religiosa	e	a	eucaristia	é	a	promoção	da	contínua	comunhão	entre	os	fiéis,	ao	reviverem	o	
sacrifício	sagrado	feito	por	Jesus	Cristo	(THEISSEN,	2009).
Outra	alteração	que	a	inclusão	de	não-judeus	ao	cristianismo	trouxe	diz	respeito	
aos	espaços	de	culto.	Os	espaços	de	cultos	 judaicos	não	poderiam	ser	frequentados	
por	quem	não	fosse	 judeu.	A	partir	disso,	surgiu	a	necessidade	de	reuniões	somente	
entre	cristãos,	o	que	gerou	o	afastamento	mais	intenso	entre	cristianismo	e	judaísmo.	
Ademais,	os	cristãos	trouxeram	uma	nova	visão	sobre	espaço	de	culto,	em	que	o	templo	
passa	a	ser	a	pessoa,	não	o	local.	Com	isso:
A	 ideia	de	que	a	comunidade	–	 isto	é	a	congregação	e	pessoas	–	
é	 o	 templo	 de	 Deus,	 favoreceu	 também	 o	 surgimento	 das	 igrejas	
domésticas.	 As	 casas	 particulares	 constituíram-se	 no	 lugar	 de	
reunião	 e	 de	 culto	 das	 comunidades	 cristãs	 durante	 séculos	 [...]	
até	 que	 a	 própria	 expansão	 missionária	 tornou	 necessário	 buscar	
espaços	mais	amplos	para	as	reuniões	(ESTRADA,	2005,	p.	159).	
Foi,	então,	no	final	do	século	I	e	início	do	II	que	o	cristianismo	começou	a	traçar	
sua	organização	de	forma	mais	estruturada,	buscando,	em	especial,	a	divulgação	de	
suas	ideias	(ESTRADA,	2005).	Assim	sendo,	o	caráter	universalista	do	cristianismo	foi	
criando	forma.	Tal	fato	levou	um	tempo	para	acontecer	pois,	inicialmente,	a	mensagem	
vinha	diretamente	do	único	líder:	Jesus.	
Após	a	morte	de	Jesus	e	principalmente	depois	de	Pentecostes,	o	cristianismo	
passou	a	ter	vários	líderes,	e	em	vários	lugares	pois	o	cristianismo	se	expandiu	(JOHNSON,	
2001).	O	encontro	com	contextos	culturais	e	religiosos	diversos	e	o	afastamento	temporal	
com	os	primeiros	discípulos	que	haviam	ouvido,	de	perto,	a	mensagem	de	Jesus	geraram	
diversas	interpretações	das	ideias	cristãs,	surgindo,	então,	a	luta	entre	a	ortodoxia	e	o	que	
ficou	caracterizado	como	heresia.
Para conhecer mais dos conflitos entre cristãos, judeus e pagãos, vejam 
o filme Alexandria (Ágora), dirigido por Alejandro Amenábar, maiores 
informações em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-134194/.
DICA
9
4 HERESIAS: A LUTA INTERNA DO CRISTIANISMO
Caro	 discente,	 devemos	 ter	 em	 vista	 que,	 com	 a	 destruição	 do	 Templo,	 a	
separação	 entre	 cristianismo	 e	 o	 judaísmo	 ocorreu	 com	maior	 veemência,	 como	 já	
discutimos.	O	cristianismo	foi	se	ampliando	nos	domínios	romanos	e,	com	isso,	ficava	
cada	vez	mais	difícil	manter	um	cristianismo	centrado	em	umaúnica	forma	de	pensar.	
Foi	 assim	 que	 interpretações	 diversas	 começaram	 a	 ocorrer,	 fazendo	 com	 que	 um	
grupo	tomasse	para	si	o	direito	de	se	definir	como	ortodoxia,	ou	seja,	os	que	receberam	
os	ensinos	dos	primeiros	apóstolos	e	repassaram	de	forma	“correta”.	
As	ideias	que	surgiram	e	que	não	estavam	de	acordo	com	tal	ortodoxia	passaram	
a	ser	tratadas	como	heresias	e	rechaçadas	pelo	grupo	dominante.	Dentre	as	principais	
questões	 levantadas,	 estavam	 as	 seguintes:	 se	 realmente	 houve	 a	 ressurreição	 de	
Cristo;	se	Jesus	veio	em	carne	ou	somente	em	espírito;	se	haverá	ressurreição	e	juízo	
final;	se	as	mulheres	poderiam	fazer	parte	da	liderança,	entre	outros	pontos.
De	acordo	com	Johnson	(2001),	a	igreja	cristã	não	conseguiu	se	expandir	com	
ideias	uniformes	devido,	principalmente,	à	tradição	oral,	tendo	em	vista	que	o	cânon	
considerado	sagrado	levou	um	tempo	para	ser	compilado	e,	mesmo	depois	de	pronto,	
não	era	disponível	para	todos,	sendo	assim:	“cada	igreja	tinha	sua	própria	‘história	de	
Jesus’,	e	todas	haviam	sido	fundadas	por	um	membro	do	bando	original,	que	passara	a	
tocha	adiante	para	um	sucessor	designado,	e	assim	por	diante”	(JOHNSON,	2001,	p.	59).	
Tendo	em	vista	tal	realidade,	veremos,	a	seguir,	alguns	desses	movimentos	considerados	
heréticos	e	seus	impactos	na	cristandade	dos	primeiros	séculos.
 
4.1 O GNOSTICISMO 
A	luta	contra	o	gnosticismo	perdurou	durante	anos	no	cristianismo,	se	estendendo	
até	o	período	do	Medievo.	Um	dos	principais	aspectos	defendidos	por	esse	movimento	era	a	
crença	não	só	na	ideia	do	bem	e	do	mal,	mas	também	na	existência	de	um	código	secreto	na	
religião	que	só	seria	revelado	a	alguns.	Ao	aceitar	tais	ideias,	o	indivíduo,	que	antes	“dormia”,	
“acordava”	por	meio	da	gnose,	passando	a	conhecer	a	verdade	(JOHNSON,	2001).	Vejamos	
a	explicação	de	Johnson:	
O	gnosticismo	é	uma	religião	do	‘conhecimento’	–	é	esse	o	significado	
da	palavra	–	que	afirma	deter	uma	explicação	interna	para	a	vida.	Daí	
ele	ter	sido,	e,	na	verdade,	ser	ainda,	um	parasita	espiritual,	valendo-
se	de	outras	religiões	como	‘portadoras’.	O	cristianismo	prestava-se	
muito	bem	a	esse	papel.	Tinha	um	fundador	misterioso,	Jesus,	que	
misteriosamente	desaparecera,	deixando	para	trás	um	conjunto	de	
ditos	 e	 seguidores	 para	 transmiti-los;	 e	 claro	 que	 além	 dos	 ditos	
públicos	 haviam	 os	 ‘secretos’,	 transmitidos	 geração	 a	 geração	 por	
membros	da	seita.	Assim,	certos	grupos	gnósticos	aproveitaram-se	
de	pedaços	do	cristianismo,	mas	tendiam	a	isolá-los	de	suas	origens	
históricas	(JOHNSON,	2001,	p.	60).
10
A	partir	do	excerto,	vemos	que	o	gnosticismo	não	surgiu	no	cristianismo.	As	
suas	ideias	já	se	encontravam	em	outras	religiões	antigas	e,	uma	vez	que	o	cristianismo	
foi	 se	 expandindo	 a	 diferentes	 povos,	 tais	 ideias	 passaram	 a	 ser	 internalizadas	 no	
cristianismo,	afastando-o,	inclusive,	de	seu	contexto	judaico.	Tal	questão	foi	importante	
para	a	adesão	das	ideias	gnósticas	cristãs	por	gregos,	principalmente.	No	contexto	do	
Novo	Testamento,	vemos	que	o	próprio	 apóstolo	Paulo	 combateu	veementemente	o	
gnosticismo	(JOHNSON,	2001).
O	gnosticismo	cristão	teve	vertentes	diferentes,	porém,	algumas	ideias	foram	
comuns.	A	 teologia	 cristã	 foi	 desenvolvida	visando	 combater	 o	 que	 era	 considerado	
heresia.	 Sendo	 assim,	 o	 gnosticismo	 foi,	 sem	 dúvida,	 o	 seu	 principal	 rival	 na	 Idade	
Antiga.	Vejamos	como	Shelley	explica	alguns	dos	pensamentos	gnósticos:
O	 relacionamento	 da	 série	 de	 emanações	 variava	 nas	 diferentes	
escolas	 gnósticas.	 Mas	 elas	 concordavam	 em	 que,	 de	 alguma	
forma,	a	luz	pura	do	paraíso	na	alma	do	homem	acabou	envolvida	
pela	desagradável	questão	da	matéria	e	tinha	de	ser	redimida.	Os	
gnósticos	gostavam	da	ideia	de	o	bom	Deus	ter	enviado	Cristo,	e,	
por	 isso,	pensavam	que	a	última	divindade	enviara	ao	mundo	um	
de	 seus	 ‘poderes’	 subordinados,	 chamado	 ‘Cristo’,	 para	 libertar	 o	
homem	das	correntes	da	matéria.	Mas	Cristo	não	poderia	ter	contato	
real	com	a	matéria.	Portanto,	no	batismo	de	Jesus	de	Nazaré,	ou	
nessa	época,	Cristo	desceu	para	dele;	na	prisão	de	Jesus,	ou	nessa	
ocasião,	ele	se	retirou.	Quem	foi	açoitado	e	assassinado	não	foi	o	
Cristo	(SHELLEY,	2004,	p.	59).
Por	meio	 de	 tais	 percepções,	 vemos	 que	 o	 campo	 do	 pensamento	 gnóstico	
afastava	a	ideia	de	Jesus	Cristo	fazer	parte	da	Trindade,	tendo	os	mesmos	atributos	de	
Deus.	Além	disso,	a	encarnação	de	Cristo	era	colocada	como	errônea,	ou,	em	alguns	
casos,	como	tendo	sido	substituída	em	determinadas	horas,	como	o	excerto	exposto.
Um	dos	exemplos	de	grupos	cristãos	com	ideias	gnósticas	foi	conduzido	por	
Marcião	(85-160).	Ele	era	um	grego	que	fora	para	Roma	por	volta	de	120,	convertido	ao	
cristianismo,	dizia	ser	da	escola	de	Paulo	e	procurava	divulgar	o	cristianismo.	Ele	ficou	
conhecido	como	um	exímio	heresiarca	em	seu	período,	fundando	 ideias	que	ficaram	
conhecidas	como	marcionismo.	
Marcião	concordava	que	os	ensinos	do	apóstolo	Paulo	eram	os	mais	próximos	
do	que	Jesus	havia	pregado,	porém,	sobre	os	escritos	sagrados,	ele	renunciou	todo	o	
Antigo	Testamento	e,	do	Novo	testamento,	aceitou	apenas	parte	do	evangelho	de	Lucas	
e	Atos	e	os	escritos	paulinos.	
Com	 isso,	 ele	 rompia	 radicalmente	 com	 o	 fio	 de	 ligação	 entre	 judaísmo	 e	
cristianismo	(JOHNSON,	2001;	ELIADE,	2011a).	Para	ele,	o	Deus	do	Antigo	Testamento	era:	
“monstruoso,	cruel,	sangrento,	patrono	de	rufiões	como	Davi”	(JOHNSON,	2001,	p.	61).
11
Marcião	foi	denunciado	como	herege,	excomungado	e	nenhum	dos	seus	livros	
chegou	aos	nossos	dias.	Suas	principais	ideias,	assim	como	as	de	outros	considerados	
hereges,	 chegaram	 até	 nós	 por	 meio	 dos	 escritos	 que	 o	 acusavam	 (JOHNSON,	
2001).	 Assim,	 é	 importante	 entendermos	 que,	 muitas	 vezes,	 essas	 acusações	 não	
correspondiam	à	verdade	do	pensamento	do	acusado.	
Apesar	de	toda	rejeição,	Marcião	fundou	uma	igreja	e	conseguiu	com	que	parte	
da	 comunidade	 cristã	 da	 Bacia	 do	 Mediterrâneo	 aderisse	 suas	 ideias.	 A	 sua	 igreja,	
inclusive,	 conseguiu	angariar	 uma	boa	quantia	financeira.	Porém,	 ela	não	passou	do	
século	III	(ELIADE,	2011a).	Vejamos	uma	síntese	do	seu	pensamento:
Marcião	 compartilha	 o	 essencial	 do	 dualismo	 gnóstico,	 sem,	
entretanto,	incluir	as	implicações	apocalípticas.	Seu	sistema	dualista	
contrapõe	a	 lei	 e	 a	 justiça,	 instituídas	pelo	Deus	criador	do	Antigo	
Testamento,	 ao	 amor	 e	 ao	 Evangelho	 revelados	 pelo	 Deus	 bom.	
Este	último	envia	seu	filho,	Jesus	Cristo,	para	libertar	os	homens	da	
escravidão	da	lei.	Jesus	reveste	um	corpo	capaz	de	sentir	e	sofrer,	
embora	não	seja	material.	Em	sua	pregação,	Jesus	exalta	o	Deus	bom,	
mas	evita	esclarecer	que	não	se	trata	do	Deus	do	Antigo	Testamento.	
Por	outro	lado,	é	pela	pregação	de	Jesus	que	Javé	é	informado	da	
existência	de	um	Deus	transcendente.	Vinga-se	entregando	Jesus	
a	 seus	 perseguidores.	 Mas	 a	 morte	 na	 cruz	 traz	 a	 salvação,	 pois,	
com	seu	sacrifício,	Jesus	resgata	a	humanidade	do	Deus	criador.	No	
entanto,	o	mundo	continua	sobre	o	domínio	de	Javé,	e	os	fiéis	serão	
perseguidos	até	o	fim	dos	tempos.	Só	então	é	que	o	Deus	bom	se	
dará	a	conhecer:	 receberá	os	fiéis	em	seu	Reino,	enquanto	o	 resto	
dos	homens,	bem	como	a	matéria	e	o	Criador,	serão	definitivamente	
destruídos	(ELIADE,	2011a,	p.	327).
Na	explicação	de	Eliade,	conseguimos	perceber	os	elementos	do	gnosticismo	
no	 pensamento	 de	Marcião.	 O	 dualismo	muito	 presente,	 principalmente	 na	 ideia	 do	
Deus	bom	versus	Deus	mau.	O	dualismo	está	presente,	também,	na	ideia	de	que	Cristo	
não	veio	em	carne,	mas	em	um	corpo	diferenciado,	como	um	espírito.	
Um	dos	grandes	críticos	de	Marcião	foi	Tertuliano	(160-220).	Enquanto	o	primeiro	
enfatizava	Deus	como	o	princípio	do	amor,	sendo	este	suficiente,	ao	segundo	importava	
fazer	uso	do	temor	a	Deus,	pois	somente	se	obedece	e	se	respeita	a	quem	se	teme,	vejamos:
A	controvérsia	de	Marcião	e	Tertuliano	nos	proporciona	um	vislumbre,	
talvez	 pela	 primeira	 vez,	 de	 doistipos	 básicos	 de	 cristianismo:	 o	
otimista	racional,	que	crê	que	o	princípio	do	amor	seja	suficiente,	com	
o	homem	tendo	um	desejo	essencial	de	praticar	o	bem,	e	o	pessimista,	
convencido	 da	 corruptibilidade	 básica	 das	 criaturas	 humanas	 e	 da	
necessidade	do	mecanismo	de	danação	(JOHNSON,	2001,	p.	62).
Outro	ponto	crucial	nos	ensinos	de	Marcião,	que	muitos	gnósticos	aceitavam	
também,	 era	 a	 oposição	 ao	 casamento.	 Ele	 defendia	 que	 o	 casamento	 fora	 um	 ato	
criado	pelo	Deus	do	Antigo	Testamento	que	visava	à	procriação,	portanto,	não	deveria	
ser	realizado.	Porém,	outras	vertentes	gnósticas	não	se	opuseram	ao	casamento	e,	em	
alguns	casos,	praticavam	também	orgias.
12
Outro	grupo	que	difundiu	as	ideias	gnósticas	dentro	do	cristianismo	foram	os	
Valentinianos,	liderados	por	Valentino	(100-160).	Eles	acreditavam	que	o	verdadeiro	ser	
do	indivíduo	é	o	espiritual,	em	contraponto	ao	carnal.	O	espiritual	estaria	adormecido,	
preso	 nesse	mundo,	 porém,	 a	 partir	 da	 gnose,	 haveria	 a	 salvação	 quando	 esse	 ser	
estivesse	livre	da	prisão	carnal.	
Nessa	concepção,	as	 ideias	contrastantes/dualistas	estão	sempre	presentes:	
“espírito/matéria,	divino	(transcendente)/antidivino;	o	mito	da	queda	da	alma	(alma	=	
espírito,	parcela	divina),	ou	seja,	a	encarnação	em	um	corpo	(assimilado	a	uma	prisão);	
e	a	certeza	da	libertação	(a	‘salvação’)	obtida	graças	à	gnose”	(ELIADE,	2011a,	p.	324).	
A	gnose	cristã	seria	o	ensinamento	que	Jesus	deixou	para	alguns	escolhidos	e	estes	
foram	divulgando	a	outros.	Os	gnósticos,	portanto,	fariam	parte	de	uma	casta	separada	
que	seria	salva,	os	santos	(ELIADE,	2011a).
Valentino	foi	um	dos	grandes	pensadores	e	divulgadores	do	gnosticismo	cristão	
do	século	 II	 (MATIAS,	2011).	Ele	chegou,	 inclusive,	a	se	candidatar	ao	cargo	de	bispo	
em	Roma,	mas	não	chegou	a	ser	escolhido.	Segundo	Matias	(2011,	p.	2482),	“Valentino	
afirmava	que	aprendeu	 seus	ensinamentos	 secretos	com	Teúdas,	 um	dos	discípulos	
de	Paulo,	 os	 seguidores	de	Valentino	afirmavam	que	somente	os	 seus	evangelhos	e	
revelações	continham	tais	ensinamentos”.	Temos,	aqui,	uma	das	principais	filosofias	do	
gnosticismo,	que	consistia	em	 ideias	escondidas,	 reveladas	somente	a	um	grupo	de	
seguidores.	Um	fator	curioso	da	história	de	Valentino	era	que	ele	e	seus	seguidores	não	
queriam	o	afastamento	da	igreja,	tendo	lutado	por	muito	tempo	contra	a	expulsão	deles	
do	meio	considerado	ortodoxo	(MATIAS,	2011).
Outro	fator	relevante	dos	movimentos	tidos	como	seitas	gnósticas	era	de	que	se	
diferenciavam	do	cristianismo	mais	geral	quanto	à	universalidade	do	ensino,	tendo	em	
vista	que	eles	preconizavam	um	conhecimento	secreto,	revelado	aos	seus.	Além	disso,	
suas	reuniões	poderiam	ser	feitas	em	qualquer	espaço,	não	havendo	uma	complexidade	
em	 seu	 culto	 (MATIAS,	 2011).	 Também,	 os	 grupos	 gnósticos	 eram	 constantemente	
acusados	de	estarem	na	igreja	somente	para	atrair	outros	cristãos	as	reuniões,	em	que	
as	ideias	gnósticas	eram	ensinadas.	
Para	 o	 grupo	 dos	 Valentinianos,	 a	 humanidade	 estaria	 dividida	 em	 três	
categorias:	os	choics,	que	seriam	as	pessoas	que	só	se	preocupavam	com	as	coisas	
terrenas,	cotidianas;	os	psíquicos,	que	englobavam	os	religiosos	em	geral	e,	os	pneumos	
que	 seriam	 os	 gnósticos	 (MATIAS,	 2011).	 Portanto,	 a	 função	 do	 terceiro	 grupo	 seria	
desvelar	a	verdade	para	que	outros	pudessem	“acordar”	e	obter	a	salvação,	juntando-se	
ao	terceiro	grupo.
Outro	 movimento	 importante	 ficou	 conhecido	 como	 docetismo.	 Tal	 grupo	
também	defendia	 que	Cristo	não	veio	 à	 terra	 em	carne,	 pois	 seria	 uma	humilhação,	
assim	como	seria	uma	humilhação	morrer	na	cruz.	Segundo	eles,	Cristo	apenas	teve	
uma	aparência	de	homem.	Segundo	o	docetismo,	a	crucificação	teria	sido	feita	por	outra	
pessoa	(ELIADE,	2011a).
13
4.2 O MONTANISMO
Segundo	Estrada	(2005),	o	movimento	montanista	surgiu	no	século	II,	fundado	
por	Montano	da	Frígia,	que	era	auxiliado	por	Priscila	e	Maximila.	Além	de	ter	produzido	
escritos,	eles	tinham	uma	concepção	de	cristianismo	voltada	à	escatologia	e	aos	carismas.	
Uma	das	suas	principais	divergências	com	relação	aos	outros	grupos	cristãos	
era	de	que	os	carismas	tinham	sido	esquecidos	por	eles,	vejamos:	“O	movimento	era	
composto	por	carismáticos,	que	eram	arrebatados	pelo	Espírito	e	enriquecidos	com	uma	
infinidade	de	êxtases,	oráculos,	visões	e	profecias”	(ESTRADA,	2005,	p.	271).	Além	disso,	
o	montanismo	aceitava	a	participação	feminina	de	modo	ativo,	pregava	a	importância	
do	 celibato	 e,	 assim,	 não	 encorajava	 o	 casamento,	 pois	 a	 necessidade	maior	 era	 se	
preparar	para	o	fim	dos	tempos.
Tais	 posturas	 foram	 severamente	 criticadas	 por	 muitos	 grupos	 de	 cristãos,	
apesar	de	 sua	vasta	difusão	em	diversas	 igrejas	do	Ocidente.	Os	montanistas	 foram	
duramente	perseguidos	por	bispos,	e,	por	isso,	estes	eram	chamados	de	“assassinos	de	
profetas”	(ESTRADA,	2005,	p.	272).	
Ao	final	do	século,	com	o	movimento	consolidado,	várias	de	suas	igrejas	faziam	
concorrência	com	a	igreja	considerada	oficial,	ao	passo	que	esta	não	mediu	esforços	na	
realização	de	concílios	e	excomunhão	de	quem	seguia	os	ensinamentos	do	montanismo.
Um	dos	seus	mais	conhecidos	seguidores	foi	o	teólogo	Tertuliano,	e,	 segundo	
ele,	tais	concepções	não	eram	novas,	pois	estavam	seguindo	os	ensinamentos	de	Cristo	
e	o	que	acontecera	com	a	descida	do	Espírito	Santo.	Todavia,	era	uma	forma	de	vida	que	
procurava	ser	mais	perfeita,	devido	à	severidade	de	suas	práticas	 (ESTRADA,	2005,	p.	
273).	O	movimento	durou	até	o	século	IV.	Sobre	Tertuliano,	Paul	Johnson	(2001)	comenta:	
O	 caso	 de	 Tertuliano	 oferece	 um	 vislumbre	 precioso,	 sob	 alguns	
aspectos	 único,	 do	 funcionamento	 da	 Igreja	 primitiva.	Aqui	 estava	
um	 grande	 estadista	 da	 igreja,	 homem	 de	 impecável	 retidão	 e	
fé	 ardorosa,	 abraçando	 a	 heresia.	 Sua	 aderência,	 assim,	 solapa	
por	 completo	 os	 ataques	 ortodoxos	 a	moral	 e	 ao	 comportamento	
público	dos	montanistas,	proporciona,	de	qualquer	modo,	um	selo	de	
aprovação	ética	para	o	movimento	(JOHNSON,	2001,	p.	66).
Portanto,	vemos	que	as	heresias	não	chamavam	a	atenção	somente	de	pessoas	
iletradas,	mas	 também	de	 intelectuais	 da	 igreja.	 Nesse	 caso,	 o	 fervor	 religioso	 dado	
por	meio	dos	êxtases,	a	busca	por	uma	vida	santa,	acabou	trazendo	para	o	meio	do	
montanismo	um	teólogo	tão	apreciado	pela	ortodoxia	cristã	como	Tertuliano.
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4.3 O ARIANISMO
No	 século	 IV,	 outro	grupo	 tentou	abalar	 os	 alicerces	do	que	ficou	conhecido	
como	ortodoxia	cristã.	Um	sacerdote	de	Alexandria,	Ário,	passou	a	questionar	a	 ideia	
da	Trindade.	Ele	negou	“[...]	a	consubstancialidade	das	três	pessoas	divinas.	Para	ele,	
Deus	é	único	e	 incriado;	o	filho	e	o	Espírito	Santo	foram	criados	mais	tarde	pelo	pai,	
e,	 portanto,	 lhe	 são	 inferiores”	 (ELIADE,	2011a,	p.	 355).	 	Claro	que	essas	declarações	
foram	rejeitadas	pela	igreja,	tendo	repercutido	negativamente	e	sendo	considerada	tão	
errônea	essa	ideia,	que	foi	convocado	o	concílio	de	Niceia	para	dar	conta	do	assunto.
4.4 O DONATISMO
As	ideias	donatistas	tiveram	início	em	Cartago,	por	volta	do	ano	332,	com	o	bispo	
Donato	 e	 foram	consideradas	heréticas.	 Eles	 também	foram	considerados	 como	um	dos	
primeiros	movimentos	cismáticos,	ou	seja,	que	quiseram	se	separar	da	Igreja.	
Um	dos	primeiros	desentendimentos	ocorreu	em	virtude	do	acolhimento	que	
a	Igreja	deu	a	algumas	pessoas	que	haviam	sido	consideradas	traidoras,	pois,	em	um	
momento	de	perseguição,	essas	se	apartaram	do	cristianismo.	Um	desses	“traidores”	
foi	colocado	como	presbítero-supervisor	da	região	de	Cartago,	no	Norte	da	África.	Tal	
decisão	não	foi	aceita	pela	 igreja	no	norte	da	África	e	eles	escolheram	outra	pessoa	
como	presbítero-supervisor.	Essa	atitude	gerou	um	clima	de	cisão.	
Segundo	 Johnson	 (2001,	 p.	 104)	 “era	 um	 movimento	 de	 homens	 pobres	
liderados	por	um	clero	puritano”	e,	ainda:	“Para	Agostinho,	[...]	eles	eram	agentes	da	
anarquia	e	do	horror	social,	‘hordas	ensandecidasde	homens	abandonados’.	Segundo	
ele,	 celebravam	 seus	 mártires	 promovendo	 distúrbios,	 em	 meio	 a	 bebedeiras”.	
Agostinho	de	Hipona	foi	um	duro	crítico	deste	movimento.	Estando	do	lado	católico,	
considerava	os	donatistas	como	hereges.
Outro	ponto	defendido	pelos	donatistas	é	que	eles	esperavam	que	cada	igreja	
local	 tivesse	autonomia	e	que	não	precisassem	seguir	 as	ordens	da	 igreja	de	Roma.	
Além	disso,	eles	prezavam	pela	separação	entre	igreja	e	Estado	(SANTOS,	2016).	Porém,	
como	 o	 cristianismo	 conseguiu	 a	 adesão	 do	 Império	 Romano	 por	meio	 do	 Edito	 de	
Milão,	era	mais	fácil	manter	a	igreja	sendo	governada	a	partir	de	Roma	do	que	mantê-la	
independente,	ou	seja,	cada	cidade	com	seus	líderes.	
4.5 O PELAGIANISMO
Atribui-se	a	Pelágio	ser	o	criador	das	ideias	pelagianas.	Este	teria	nascido	por	
volta	do	ano	350	e	falecido	em	428.	Não	se	sabe	ao	certo	onde	nasceu,	e	foi	morar	
em	 Roma	 no	 ano	 405.	 Praticante	 do	 ascetismo,	 Pelágio	 considerava	 que	 o	 pecado	
15
ocorria	pela	vontade	do	homem,	assim,	o	salvar-se	dependia	somente	do	homem,	não	
concordando,	então,	que	a	Graça	de	Deus	é	que	salva	(SILVA,	2014).	Vejamos	um	dos	
seus	argumentos:
Pelágio	afirmava	categoricamente	que	o	dogma	do	livre	arbítrio	era	
um	absurdo.	As	passagens	bíblicas	do	Gênesis	 deviam	ser	 relidas,	
pois	não	era	possível	que	o	pecado	de	um	ser	humano,	atavicamente,	
atravessasse	toda	a	história.	Cada	indivíduo,	necessariamente	munido	
das	orientações	da	 Igreja	e	praticando	os	exercícios	espirituais,	de	
per	si,	era	capaz	de	‘combater’	o	pecado	(SILVA,	2014,	p.	51).
Assim,	é	possível	perceber	que	o	que	propunha	Pelágio	ia	de	encontro	a	um	dos	
principais	dogmas	do	cristianismo,	ou	seja,	a	Graça	de	Deus	é	que	salva	e	que	todo	o	
homem	é	pecador.	Para	o	cristianismo,	foi	o	sacrifício	de	Cristo	que	concedeu	a	salvação	
ao	homem.	Ele	também	atacava	a	questão	do	pecado	original,	não	acreditando	que	as	
crianças	tivessem	pecados,	por	isso,	não	concordavam	com	o	batismo	de	crianças.	A	
forma	de	pensar	de	Pelágio	se	espalhou	e	ele	conseguiu	vários	adeptos	e,	no	Sínodo	de	
Cartago	(397)	que	suas	doutrinas	foram	condenadas	como	heréticas.
5 A FORMAÇÃO DO CÂNON SAGRADO
A	expressão	 “Cânon	sagrado”,	que	hoje	faz	 referência	aos	escritos	bíblicos,	é	
derivada	da	palavra	grega	kanon	 (reta).	Ela	foi	usada	para	os	textos	sagrados	com	o	
intuito	 de	 simbolizar	 a	 régua,	 ou	 o	 padrão	 que	 os	 cristãos	 deveriam	 seguir	 (BRUCE,	
2011).	Após	a	morte	de	Jesus,	seus	discípulos,	que	mais	tarde	ficaram	conhecidos	como	
apóstolos,	 passaram	 a	 divulgar	 os	 feitos	 de	 Jesus	 em	 diversas	 localidades,	 muitas	
vezes	por	meio	de	cartas	que	eram	lidas	por	diferentes	 igrejas,	servindo	para	 instruir	
os	cristãos.	Depois	da	morte	dos	apóstolos	que	haviam	vivido	com	Jesus,	a	tornou-se	
muito	necessária	a	leitura	de	seus	testemunhos,	para	que	a	mensagem	de	Jesus	não	
se	perdesse	ou	fosse	deturpada.	
Caro	acadêmico,	estudamos,	no	subtópico	anterior,	os	conflitos	internos	que	o	
cristianismo	estava	vivendo	com	relação	às	heresias,	principalmente	ao	gnosticismo.	Tais	
conflitos	foram	a	mola	propulsora	da	escrita	apologética	dos	pais	da	igreja,	como	ficaram	
conhecidos	os	primeiros	teólogos	cristãos,	e,	também,	foi	colocada	a	importância	de	se	
decidir	quais	livros	entrariam	ou	não	no	compêndio	final	do	que	veio	a	ser	a	Bíblia	cristã.	
Várias	discussões	a	esse	respeito	ocorreram.	Veremos,	a	partir	de	agora,	os	principais	
fatores	que	levaram	a	igreja	cristã	a	aceitar	alguns	livros	como	inspirados	e	dignos	de	
entrar	no	cânon	sagrado	e	outros	não.
O	termo	“bíblia”	fazia	referência	ao	conjunto	de	livros,	passando	a	representar	
o	 livro	 sagrado	 (SHELLEY,	 2004).	Como	Jesus	nasceu	e	pregou	no	meio	 judaico,	 os	
Escritos	que	eram	sagrados	para	o	 judaísmo	entraram	no	cânon	cristão.	Mesmo	com	
a	discordância	de	alguns	grupos,	principalmente	dos	gnósticos,	como	 já	pontuamos,	
16
aceitar	 os	 escritos	 do	 Antigo	 testamento	 fazia	 sentido,	 pois	 eles	 ratificavam	 a	
importância	do	Messias	para	o	mundo,	 que	os	 cristãos	 afirmavam	ser	Jesus.	Sem	o	
Antigo	Testamento,	o	peso	da	vinda	do	Messias	não	seria	tão	enfático.	
O	próprio	Jesus,	a	todo	instante,	retomava	as	passagens	do	Tanah,	mostrando	
que	as	profecias	 se	cumpriam	de	acordo	com	a	caminhada	dele.	Portanto,	 o	Antigo	
Testamento	 passou	 a	 ter	 um	 novo	 significado	 para	 a	 cristandade,	 pois	 ele	 foi	
completado	 pelos	 escritos	 dos	 seguidores	 de	 Jesus,	 que	 se	 convencionou	 chamar	
de	Novo	Testamento.	Porém,	vale	lembrar	que,	para	os	judeus,	o	termo	“Antigo/Velho”	
testamento	não	é	bem-visto,	pois,	para	eles,	nada	ficou	velho,	pois	é	esse	escrito	que	
para	eles	é	sagrado.	Sobre	a	aceitação	do	Tanah,	vejamos	o	que	diz	Shelley:
Quando	os	cristãos	reivindicaram	o	uso	do	Antigo	Testamento,	não	
definiram	quais	os	livros	que	essa	reivindicação	incluía.	Naquele	
tempo,	 os	 cristãos	divergiam	sobre	 a	 inclusão	ou	exclusão	dos	
chamados	 apócrifos	 na	 lista	 de	 livros	 do	Antigo	 testamento.	 O	
termo	 aplica-se	 a	 dose	 ou	 quinze	 livros,	 dependendo	de	 como	
são	 agrupados,	 os	 quais	 são	 aceitos	 pelos	 católicos	 romanos	
como	 canônicos	 e	 rejeitados	 pela	 maioria	 dos	 protestantes	
(SHELLEY,	2004,	p.	68).
Sobre	a	aceitação	dos	livros	que	não	estavam	no	cânon	judaico,	Agostinho	de	
Hipona	foi	a	favor,	e,	assim,	eles	passaram	a	fazer	parte	do	cânon	católico.	Na	época	
da	 Reforma	 Protestante,	 essa	 questão	 foi	 revista	 e,	 com	 isso,	 alguns	 reformadores	
preferiram	deixar	somente	os	livros	que	constavam	no	cânon	judaico	(SHELLEY,	2004).	
Vejamos,	também	a	explicação	de	Johnson:
Em	geral,	a	figura	determinante	na	evolução	do	cânon	foi	Eusébio,	
cujo	 objetivo	 era	 associar	 o	mais	 intimamente	 possível	 a	 doutrina	
e	 estrutura	 de	 facto	 da	 igreja	 a	 suas	 credenciais	 documentais;	
após	 sua	 morte,	 documentos	 úteis	 que	 ele	 considera	 duvidoso,	
foram	 aceitos	 como	 canônicos,	 o	 processo,	 estando	 praticamente	
concluído	 em	367,	 quando	Atanásio	 apresentou	 uma	 lista	 de	 suas	
Cartas	Pascais.	Nessa	época,	o	Novo	Testamento,	aproximadamente	
como	 conhecemos	 hoje,	 havia	 sobrepujado,	 em	 grande	 parte,	 as	
antigas	escrituras	hebraicas	como	o	principal	instrumento	doutrinário	
da	 igreja.	 Era	uma	ferramenta	que	 fora	moldada	na	 Igreja	 e	não	o	
contrário	(JOHNSON,	2001,	p.	72).
Percebemos,	 na	 fala	 de	Johnson	 (2001),	 que	 a	 compilação	do	 cânon	bíblico	
foi	feita	de	acordo	com	as	premissas	do	setor	da	 Igreja	que	tomava	para	si	a	função	
de	 guardiã	 da	 ortodoxia.	 A	 controvérsia	 maior	 aconteceu	 na	 compilação	 do	 Novo	
Testamento.	Um	dos	critérios	adotados	foi	perceber	se	era	um	escrito	já	lido	nas	igrejas	
cristãs	de	diferentes	localidades	(SHELLEY,	2004).	Outro	fator	importante	apontado	por	
Shelley	 (2004)	é	se	o	 livro	foi	ou	não	escrito	por	algum	apóstolo	ou	por	alguém	que	
convivera	com	um	apóstolo.	A	autoridade	dos	apóstolos	era	evidenciada,	pois	foram	
eles	que	conviveram	com	Jesus	e,	portanto,	tinham	a	essência	do	cristianismo	exposta	
em	seus	escritos.	
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6 A FORMAÇÃO DA HIERARQUIA ECLESIÁSTICA CATÓLICA
Caros	alunos,	como	já	expusemos,	após	a	morte	dos	apóstolos,	outros	seguidores	
passaram	 a	 assumir	 a	 liderança	 nas	 diversas	 cidades	 onde	 o	 cristianismo	 conseguiu	
chegar.	Com	o	passar	do	tempo,	tais	lideranças,	que	foram	chamadas	de	bispos,	passaram	
a	responder	pelo	cristianismo,	como	líderes	que	descendiam	da	tradição	dos	apóstolos.	
Com	a	expansão	do	cristianismo	no	Império	Romano,	o	bispo	de	Roma	passou	a	ter	um	
papel	de	destaque	dentro	do	cristianismo.	Essa	força	foi	ampliada	ainda	mais	quando	
houve	a	necessidade	de	combater	o	que	era	considerado	heresia.
Além	 das	 heresias,	 a	 igreja	 cristã	 não	 tolerava	 comportamentos	 que	 não	
correspondessem	 a	 uma	moralidade	 rígida,	 como	 nos	 lembra	 Shelley	 (2004,	 p.	 81):	
“[...]	essas	comunidades	cristãs	tentaram	regular	sua	vida	em	comum	pelos	princípios	
da	mais	 estrita	moralidade,	 nãotolerando	membros	 pecaminosos	no	meio	 delas.	Os	
pecadores	obscenos	eram	expulsos	do	meio	da	 igreja”.	Lembremos	que,	no	contexto	
social	 greco-romano,	 a	 moralidade	 era	 totalmente	 diferente	 do	 que	 preconizava	 o	
cristianismo.
As	questões	relacionadas	à	admissão	ou	não	de	alguém	que	houvesse	cometido	
algo	considerado	como	um	pecado	grave	dentro	da	igreja	passavam	pelo	bispo	local.	
Havia	muita	discussão	entre	os	bispos	e	teólogos	sobre	quais	tipos	de	erros	poderiam	ser	
perdoados:	“Calixto	(217-222)	readmitiu	os	membros	arrependidos	que	tinham	cometido	
adultério.	Para	ele,	a	igreja	era	como	a	arca	de	Noé.	Nela,	podiam	ser	encontrados	tanto	
os	 animais	 puros	 como	 os	 impuros”	 (SHELLEY,	 2004,	 p.	 81).	 Calixto	 ainda	 atribuiu	 à	
igreja,	pela	primeira	vez,	a	função	das	chaves	dadas	a	Pedro	por	Cristo	(SHELLEY,	2004).	
Com	 o	 cânon	 bíblico	 formado,	 era	 necessária	 também	 sua	 explicação.	 Caro	
acadêmico,	 analise,	 então:	 se	 a	 igreja	 já	 procurava	 combater	 o	 que	 era	 considerado	
heresia,	 agora	 com	 o	 Novo	 Testamento	 já	 compilado,	 quem	 você	 acha	 que	 teria	 a	
responsabilidade	de	explicar/decodificar	o	que	dizia	o	livro	sagrado?	
Claro	 que	 a	 igreja	 tomou	 para	 si	 essa	 responsabilidade.	 Tal	 questão	 foi	
consolidada,	posteriormente,	na	ideia	de	que	a	Igreja	Católica	tem	sua	base	na	Bíblia	
e	na	Tradição,	pois	é	ela	que	autentica	a	forma	de	 interpretar	a	Bíblia.	A	questão	da	
interpretação	 da	 Bíblia	 foi	 crucial	 para	 que	 houvesse	 um	 clero	 unificado	 dentro	 do	
cristianismo	(JOHNSON,	2001).
[...]	a	autoridade	do	bispo	foi,	então,	escorada	na	compilação	de	listas	
episcopais	 remontando	às	origens	apostólicas.	Todas	essas	 Igrejas	
produziram	 seus	 levantamentos	 e	 nenhuma	 delas,	 isoladamente,	
tinham	 que	 arcar	 com	 o	 ônus	 de	 provar	 que	 sua	 doutrina	 era	 a	
pregada	a	princípio.	Assim,	as	Igrejas	instituíram	a	intercomunhão	e	a	
defesa	mútua	contra	a	heresia,	com	base	no	episcopado	monárquico	
e	sua	genealogia	apostólica	(JOHNSON,	2001,	73).	
18
Outra	mudança	importante	ressaltada	por	Johnson	(2001)	foi	que	somente	um	
bispo	poderia	consagrar	outro.	Com	a	escolha	de	um	cânon	único,	o	fortalecimento	dos	
bispos,	principalmente	o	de	Roma,	as	heresias	sendo	combatidas	e	o	cristianismo	se	
expandindo,	a	igreja	foi	conseguindo	se	consolidar	no	Império	Romano.	Além	disso,	com	
o	aumento	da	intelectualidade	se	convertendo	ao	cristianismo,	o	credo	e	a	teologia	se	
solidificaram	e	conquistaram,	posteriormente,	outras	regiões.
O	controle	do	clero	nos	assuntos	religiosos	ficava	cada	vez	mais	latente.	Temia-
se	que	mais	heresias	nascessem,	se	espalhassem	e,	com	isso,	dividissem	a	comunidade	
cristã.	Os	cultos,	que	durante	muito	tempo	eram	celebrados	em	casas	ou	em	catacumbas,	
precisavam	de	espaços	maiores,	pois	o	número	de	fiéis	era	cada	vez	mais	crescente.	
Assim,	 com	 reuniões	 em	 locais	 mais	 amplos,	 dirigidas	 pelo	 bispo,	 manter	 a	
doutrina	mais	coesa	seria	mais	fácil.	Além	disso,	como	o	batismo	e	a	eucaristia	passaram	
a	ser	os	principais	ritos,	eles	deveriam	ser	celebrados	pelo	bispo.	Estada	(2005),	explica	
que	o	culto	sofreu	influências	judaicas,	mas	aos	poucos	foi	tomando	uma	forma	própria.	
Os	 sacerdotes	 aumentavam	 seu	 poder,	 enquanto	 o	 papel	 dos	 leigos	 foi	 diminuindo.	
Somente	no	 século	 IV	 é	 que	 a	 liturgia	 começou	 a	 ser	 oficializada.	Antes	disso,	 cada	
região	cultuava	de	acordo	com	sua	cultura	(ESTRADA,	2005,	p.	372).	
O	papel	do	bispo	também	foi	mudando,	como	explica	Estrada	(2005,	p.	376):	“O	
incremento	do	número	de	membros	da	Igreja	contribuiu	para	a	burocratização	do	bispo,	
para	seu	distanciamento	do	culto	e	para	a	dissolução	do	estreito	vínculo	existente	entre	o	
bispo	e	seu	presbitério”.	O	autor	também	ressalta	que	o	formato	de	bispo	atualmente,	que	
está	distanciado	do	povo,	lotado	em	uma	cúria,	com	tarefas	mais	burocráticas,	foi	algo	
implementado	no	período	medieval,	e	esse	modelo	suscita,	constantemente,	desagrado	
entre	alguns	teólogos	católicos	(ESTRADA,	2005).	Vejamos,	a	seguir,	a	importância	que	os	
bispos passaram a ter para o cristianismo:
Os	 bispos	 pregavam,	 instruíam	 a	 congregação,	 batizavam	 os	
catecúmenos,	 impunham	penitências	aos	pecadores,	 sustentavam	
os	princípios	ortodoxos	contra	os	heréticos,	ordenavam	presbíteros	
e	diáconos	e	participavam	dos	concílios.	Aos	poucos,	vão	adquirindo	
também	capacidade	jurídica	sobre	os	membros	do	seu	clero	e	os	leigos	
da	 sua	 congregação,	 um	privilégio	 que,	mais	 tarde,	 será	 ratificado	
e	 expandido	 pela	 legislação	 imperial.	 No	 IV	 século,	 à	 medida	 que	
avança	o	processo	de	cristianização	nos	meios	urbanos,	a	autoridade	
episcopal	 passa	 a	 ser	 exercida	 também	 em	 assuntos	 que	 dizem	
respeito	 ao	 funcionamento	 do	 corpo	 cívico,	 como,	 por	 exemplo,	 a	
administração	da	justiça,	a	organização	do	abastecimento	de	víveres	
em	tempos	de	escassez,	a	defesa	da	cidade	contra	as	investidas	dos	
bárbaros	e	a	representação	do	povo	junto	à	corte.	A	partir	de	então,	
as	 tarefas	 do	 bispo	 se	 deslocam	do	 âmbito	 da	 ecclesia	 para	 o	 da	
civitas,	o	que	lhe	confere	a	capacidade	de,	em	muitas	circunstâncias,	
interpelar	o	próprio	imperador	sobre	a	sua	conduta	pública	e	privada.	
Os	bispos	se	tornam,	desse	modo,	agentes	políticos	extremamente	
influentes,	 cuja	 posição	 é	 reforçada	 pelo	 apoio	 que	 amiúde	 lhes	
tributa	a	população	urbana,	sempre	pronta	a	tomar	a	defesa	do	seu	
líder	espiritual	(SILVA,	2010,	p.	115).	
19
A	partir	da	citação	anterior,	observamos	como,	aos	poucos,	a	cúpula	religiosa	
passou	a	influenciar	também	a	organização	estatal.	Além	do	bispo,	outro	cargo	relevante	
dentro	da	Igreja	cristã	foi	o	de	diácono,	que	respondia	aos	bispos	e	presbíteros.	Com	o	
passar	do	tempo,	sua	função	passou	a	ser	de	auxiliar	do	bispo	(ESTRADA,	2005).	Quanto	
mais	aumentava	o	número	de	adeptos	ao	cristianismo,	mais	aumentava	também	o	clero.	
Em	Roma,	ele	passou	a	ser	dividido	da	seguinte	maneira:
Os	diáconos	e	subdiáconos	encarregavam-se	da	atenção	aos	pobres.	
[...].	 A	 ‘diocese’	 era	 uma	 unidade	 administrativa	 política.	 Diocleciano	
dividiu	o	império	em	12	dioceses,	que	abrangiam	várias	províncias,	e	que	
equivaliam,	em	termos	eclesiásticos,	aos	patriarcados.	Por	outro	lado,	o	
território	do	bispo,	inicialmente,	era	a	‘paróquia’,	e	somente	a	partir	do	
século	XIII	se	impôs	o	termo	‘diocese’	(ESTRADA,	2005,	p.	406).
Caro	acadêmico,	deu	para	notar	que,	com	o	crescimento	do	cristianismo,	 foi	
se	tornando	necessário	organizar	não	só	a	doutrina,	tendo	em	vista	as	heresias,	mas	
também	a	funcionalidade	de	cada	cargo	na	 igreja.	Para	tal	formação,	foi	 incorporado	
muito	das	características	administrativa	de	Roma.	A	estrutura	foi	sendo	ampliada	na	
Idade	Média	e	Moderna,	até	termos	a	forma	atual.	Veremos,	agora,	como	foi	estruturado	
o	cargo	mais	elevado	da	igreja,	o	de	pontífice.
É	sabido	que	o	cargo	de	pontífice	é,	para	a	Igreja	Católica,	equivale	à	sucessão	do	
apóstolo	Pedro,	tendo	em	vista	a	passagem	dos	evangelhos	em	que	Jesus	teria	deixado	
a	chave	da	igreja	para	Pedro	(Mateus	16:16-19).	Porém,	a	formalidade	do	papado	e	sua	
sucessão	ocorreu	posteriormente.	O	aspecto	da	preponderância	do	papa	em	relação	
aos	bispos	e	demais	cargos	eclesiásticos	não	foi	aceito	unanimemente.	Foram	feitas	
várias	discussões	internas	para	que	o	cargo	e	suas	funções	fossem	plenamente	aceitos.	
Porém,	como	 já	vimos,	a	 Igreja	em	Roma	passou	a	usufruir	de	um	status	 importante	
perante	a	comunidade	cristã.	Ela	acreditava	ser	o	polo	em	que	a	ortodoxia	cristã	foi	
preservada,	além	de	ser	a	capital	do	império	romano	e,	poderiam	contar	com	um	poderio	
econômico	também.	
Estrada	comenta:	“Roma	começa	a	tornar-se	uma	instância	por	meio	da	qual	se	
recorre	quando	há	conflitos	nas	igrejas	do	Ocidente.	No	século	III,	há	intervenções	que	
denotam	sua	autoridade	na	igreja	latina,	embora	só	intervenha	em	casos	excepcionais,	
tendo	 necessidade	 de	 aceitar	 a	 independência	 de	 bispos”	 (ESTRADA,	 2005,	 p.	 452).Inicialmente,	a	igreja	em	Roma	procurava	não	intervir	em	outras	igrejas,	a	não	ser	se	visse	
que	era	necessário.	A	igreja	do	norte	da	África	procurava	andar	livre	da	igreja	de	Roma,	
porém,	com	as	mudanças	históricas	ocorridas	nessa	 região,	decorrentes	das	 invasões	
bárbaras,	que	praticamente	acabaram	com	o	cristianismo	na	região,	o	papado	ganhou	
mais	força	em	Roma	(ESTRADA,	2005).	Sobre	a	função	do	papa,	o	autor	ainda	expõe:
Não	 se	 pode	 esquecer	 que	 o	 bispo	 de	 Roma	 possui	 três	 âmbitos	
distintos	de	autoridade:	enquanto	bispo	de	uma	igreja	local,	a	romana,	
enquanto	 patriarca	 do	 Ocidente	 (onde	 ele	 exerce	 uma	 autoridade	
semelhante	 à	 dos	 bispos	 de	 Alexandria	 e	 de	 Antioquia	 em	 seus	
patriarcados)	 enquanto	 primaz	 da	 Igreja	 universal.	 Sua	 autoridade	
20
em	Roma	é	 indiscutível,	 uma	vez	que	 se	 impôs	a	 ideia	 segundo	a	
qual	cada	 Igreja	deve	ter	somente	um	bispo,	contra	as	pretensões	
dos	 antipapas.	 Sua	 primazia	 no	 Ocidente	 também	 se	 desenvolve	
progressivamente,	mais	na	prática	do	que	na	teoria,	sendo	cada	vez	
mais	frequente	o	recurso	a	ela	quando	há	enfrentamentos	entre	as	
Igrejas	ou	conflitos	episcopais	(ESTRADA,	2005,	p.	452).
Ainda	de	acordo	com	Estrada	(2005),	foi	no	Concílio	de	Niceia	(325),	realizado	no	
governo	de	Constantino,	que	ficou	decidido	que	as	[...]	“Igrejas	de	Alexandria,	Antioquia	
e	Roma	 eram	as	 principais	 e	 exerciam	um	controle	 sobre	 as	 demais	 Igrejas	 em	 seu	
âmbito	territorial”	(ESTRADA,	2005,	p.	453).	Com	isso,	a	igreja	de	Jerusalém	perdeu	de	
vez	sua	importância	oficial	perante	as	outras.	Nessa	fase,	o	cristianismo	com	o	modelo	
romano	começava	 a	 ganhar	 um	peso	de	universalidade.	Nessa	 época,	 o	 papa	 ainda	
não	possuía	o	poder	e	prestígio	que	conhecemos.	Estudaremos	essa	questão	no	tópico	
sobre	o	cristianismo	na	Idade	Média.
Vemos,	 então,	 que	Roma	possuía	vários	 atributos	 para	 que	 o	 cristianismo	 lá	
se	consolidasse,	e	ela	passou	a	ser	 referência	para	outras	 regiões.	Com	a	subida	de	
Constantino	ao	poder,	a	igreja	deixou	de	sofrer	com	as	perseguições	imperiais	e,	o	clero	
teve	acesso,	pela	primeira	vez	na	história	cristã,	ao	 imperador	 romano.	Abordaremos	
essa	questão	no	próximo	subtópico.
7 O CRISTIANISMO E O PODER TEMPORAL EM ROMA
Caro	acadêmico,	já	comentamos	a	respeito	da	perseguição	do	Império	Romano	
aos	 cristãos	 nos	 primeiros	 séculos.	 É	 comum	 dizer	 que,	 nessa	 época,	 quanto	 mais	
perseguido,	mais	o	cristianismo	crescia.	E	não	só	crescia,	mas	também	se	estruturava,	
hierarquizava	e	consolidava	sua	base	teológica	e	os	livros	canônicos.	Pois	bem,	foi	no	
século	 IV	que	ocorreu	uma	mudança	radical	na	estrutura	 romana,	que	foi	o	Edito	de	
Milão,	decretado	pelo	imperador	Constantino.	Vejamos	a	explicação	do	professor	Carlan:
Reunidos	em	Milão,	 em	313,	Constantino	e	Licínio	assinam	o	Edito	
de	Milão.	Em	resumo,	o	documento	declarava	que	o	Império	Romano	
seria	 neutro	 em	 relação	 ao	 credo	 religioso,	 acabando	 oficialmente	
com	 toda	 perseguição	 sancionada	 oficialmente,	 especialmente	 ao	
Cristianismo.	A	aplicação	do	Edito	fez	devolver	os	lugares	de	culto	e	
as	propriedades	que	tinham	sido	confiscadas	dos	cristãos	e	vendidas	
em	praça	pública.	O	Edito	deu	ao	Cristianismo	(e	a	todas	as	outras	
religiões)	o	estatuto	de	 legitimidade,	comparável	com	o	paganismo	
e,	com	efeito,	desestabeleceu	o	paganismo	como	a	religião	oficial	do	
Império	Romano	e	dos	seus	exércitos	(CARLAN,	2011,	p.	28).
Foi	com	esse	edito	que	o	cristianismo	gozou	de	paz	no	império,	mas	esse	não	
foi	o	único	feito	de	Constantino	para	o	cristianismo.	Naquele	momento,	o	cristianismo	
estava	de	mãos	dadas	com	o	Estado	romano.	Sobre	as	mudanças	implementadas	por	
Constantino,	Shelley	(2004)	ressalta:	
21
A	partir	de	312,	ele	favoreceu	abertamente	os	cristãos.	Permitiu	que	
os	ministros	 cristãos	 usufruíssem	da	mesma	 isenção	 de	 impostos	
que	os	sacerdotes	pagãos;	aboliu	as	execuções	realizadas	por	meio	
de	crucificação;	pôs	fim	às	batalhas	dos	gladiadores	como	punição	
para	crimes;	e,	em	321,	tornou	feriado	o	dia	de	domingo.	Graças	a	sua	
generosidade,	surgiram	prédios	suntuosos	de	igrejas	como	prova	de	
seu	apoio	ao	cristianismo	(SHELLEY,	2004,	p.	105).
A	conversão	de	Constantino	ao	cristianismo	não	foi	aceita	por	todos.	Há	quem	
ressalte	que	 foi	 a	 penas	uma	cartada	política.	Constantino	passou	a	usar	 seu	poder	
como	imperador	para	interferir	nos	assuntos	cristãos,	inclusive	convocando	o	Concilio	
de	Niceia,	considerado	de	extrema	importância	para	a	cristandade.
O	Concílio	de	Niceia	ocorreu,	dentre	outros	fatores,	em	virtude	das	 ideias	do	
arianismo,	 que	 já	 estudamos	 no	 Subtópico	 4.3.	 Foi	 nesse	 concílio	 que	 o	 arianismo	
foi	combatido	como	heresia,	e	a	questão	da	Trindade	foi	firmada	na	doutrina	cristã.	O	
imperador	Constantino	se	fez	presente	no	concílio	e	“[...]	no	seu	discurso,	Constantino	
expressava	o	desejo	da	união	da	Igreja,	deixando	de	lado	as	diferenças	que	por	ora	se	
manifestava	na	separação	entre	arianos	e	antiarianos”	(SILVA,	2017,	p.	31).
Caro	acadêmico,	a	esta	altura	você	pode	estar	se	perguntando:	O	que	mudara?	
Por	que	a	partir	de	então	o	império	romano	se	voltou	com	benevolência	ao	cristianismo?	
Pois	bem,	Johnson	(2001)	faz	uma	explanação	 interessante	a	 respeito	da	adesão	do	
estado	romano	ao	cristianismo.	Segundo	ele,	o	cristianismo	da	época	de	Constantino	
(século	IV)	já	possuía	uma	elite	intelectual	responsável	por	sua	doutrina,	além	de	uma	
sólida	estrutura	hierárquica,	como	 já	estudamos,	e	um	alto	poder	proselitista,	que	 já	
havia	se	disseminado	por	todo	 império.	Portanto,	“era	católico,	ecumênico,	ordenado,	
internacional,	multirracial	 e	 cada	 vez	mais	 legalista.	 “ao	 atacá-lo	 e	 enfraquecê-lo,	 o	
império	estava	se	debilitando”	(JOHNSON,	2001,	p.	93).	A	situação	do	cristianismo	em	
Roma	chegou	a	um	patamar	que	se	tornava	insustentável	continuar	a	perseguição.	
Outro	imperador	que	conseguiu	um	feito	talvez	ainda	maior	do	que	Constantino,	
com	relação	às	 leis	no	 Império	Romano	e	o	cristianismo,	foi	o	 imperador	Teodósio,	o	
Grande	(379-395).	Indo	além	do	Edito	de	Milão,	ele	implementou	o	Edito	de	Tessalônica,	
pelo	qual	o	cristianismo	passava	ser	a	religião	oficial	do	Império	Romano.	
Perceba,	acadêmico,	como	o	cristianismo	saiu	da	marginalidade	em	Roma	e,	
em	pouco	mais	de	 trezentos	 anos,	 conseguiu	 subir	 ao	patamar	de	 religião	oficial	 do	
Império.	O	poder	da	igreja	foi,	a	partir	de	então,	ligado	à	política	estatal,	e	essa	ligação	
se	efetivou	não	somente	em	Roma,	como	também	nos	demais	estados	que	formaram	a	
Europa	Medieval	e	Moderna.	Nesse	sentido,	Eliade	(2011a)	nos	lembra:	“[...]	o	cristianismo	
converte-se	 em	 religião	 de	 Estado	 e	 o	 paganismo	 é	 definitivamente	 proibido;	 os	
perseguidos	transformaram-se	em	perseguidores”	(ELIADE,	2011a,	p.	356)”.
22
Com	 a	 ascensão	 do	 cristianismo	 ao	 posto	 de	 religião	 oficial,	 muitos	 grupos	
cristãos	acabaram	achando	que	era	seu	direito	pôr	fim	às	religiosidades	diferentes	que	
ainda	existiam	no	Império.	Eliade	(2011a)	relata	que	surgiu,	ainda	no	século	IV,	um	grupo,	
dentre	 outros,	 que	 foi	 responsável	 por	 alguns	 levantes	 contra	populações	 religiosas,	
a	saber,	os	monges.	Os	monges	cristãos	surgiram	em	meio	ao	desejo	de	se	abster	ao	
máximo	da	vida	considerada	mundana,	e	se	separar	dessa	para	servir	a	Deus.	Os	lugares	
escolhidos	para	isso	eram	afastados	das	cidades,	geralmente	nos	desertos	ou	grutas.	
Vejamos	o	relato	de	Eliade	(2011)	sobre	a	influência	que	esses	monges	começaram	a	ter	
na	sociedade	cristã,	ainda	na	Idade	Antiga:
Cerca	 do	 final	 do	 século	 IV,	 desde	 a	 Mesopotâmia	 até	 o	 norte	 da	
África,	assiste-se	a	uma	onda	de	violência	perpetrada	pelos	monges:	
em	388,	incendeiam	uma	sinagoga	em	Calinico,	perto	do	Eufrates,	e	
aterrorizam	as	aldeias	sírias	onde	haviam	templos	pagãos;	em	391,	o	
patriarca	de	Alexandria,	Teófilo,	convoca-os	para	‘purificar’	a	cidade	
do	 Serapeum	 (Serapeu),	 o	 grande	 templo	 de	 Serápis.	 Na	 mesma	
época,	penetraram

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