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1 ATIVIDADE DE PORTFÓLIO História da Igreja Antiga e Medieval Atividade de portfólio da disciplina História da Igreja Antiga e Medieval, disciplina aplicada pelo Professora e Tutora: Elza Silva Cardoso Soffiatti, Fichamento desenvolvido sobre Caderno de Referência de Conteúdo das unidades 01-02-03 Vitor Hugo Soares da Silva Cruz R.A. 8094152 SÂO PAULO – SP – 2019 2 Descrição da atividade Após a leitura dos textos sugeridos, faça um fichamento das Unidades 1, 2 e 3 do Caderno de Referência de Conteúdo de MAZULA, R. História da Igreja Antiga e Medieval.Batatais: Claretiano, 2013. FICHAMENTO DO CADERNO DE REFERENCIA DE CONTEÚDO DA HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL História da igreja antiga: temas introdutórios e Comunidade primitiva. Unidade 1: (páginas 25-76) MAZULA, R. HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL. Batatais: Claretiano, 2013. Depois de acurada leitura do caderno de referência de conteúdo e com a abrangência de conteúdos lidos e estudados ao longo do tempo, é mister fazer este fichamento do aprendizado ora absorvido do conteúdo. Mazula introduz os estudos falando um pouco sobre uma breve introdução a comunidade primitiva. Logo de início o autor convida a responder aos questionamentos sobre o nascimento, características fundamentais, vivência e expansão da igreja, o que o autor procura fazer ao longo de seu material. UNIDADE 1 HISTORICIDADE DA IGREJA O autor começa a estabelecer a compreensão dos alunos pelo seguinte questionamento: qual a base de sustentação em que se processa o desenvolvimento histórico da Igreja? Partindo deste pressuposto, revela que a base é Jesus Cristo com o transcurso de Sua vida, Sua presença e de Seus ensinamentos ao mundo. Assim, revela o autor, observa- se o início da história do cristianismo e a de seus discípulos que não só desejam, mas transformam vidas através da pregação do evangelho, seguidores esses que se organizam e introduzem a igreja cristã no mundo. Cita também que a igreja, como instituição divina com o fim de salvação, pertence a dois mundos simultaneamente, a 3 saber, ao terrestre e visível mundo onde todos nós vivemos, porque é composta de seres humanos que por intermédio do Espírito Santo atuam no contexto da história. O outro mundo é o sobrenatural ou espiritual que está ao nosso redor e não vemos por causa do pecado que habita em nós, a esse mundo a igreja pertence porque, como menciona Mazula, a Igreja é também obra de Deus, efeito de uma causa transcendente, situada além da história. Dessa forma, podemos falar de uma Igreja santa e pecadora; divina e humana; espiritual e temporal etc. Mazula nos mostra que enquanto disciplina, tem diversas definições e estas variam de autor para autor, essas definições convergem quando mostram que ela é a ciência que estuda o desenvolvimento dentro e fora da comunidade fundada por Jesus Cristo, ou seja, essa é uma generalista a qual acrescenta-se a história dos seguidores de Cristo atuando em todo o mundo, direcionados pelo Espírito Santo, testemunhando sobre sua propiciação para o mundo. Adota também o método de divisão da história da igreja formulado por Gómez (1987), segundo a qual a história é segmentada em três grandes períodos como segue: Antigo, Médio ou Medieval e Moderno. Antiguidade Cristã Aqui o autor aponta o cristianismo como uma religião desenvolvida entre civilizações maduras, a saber, romanos, gregos e judeus, os quais eram altamente evoluídos e cresceram assim antes mesmo do próprio cristianismo. Houve estranhamento entre cristão e judeus, esse estranhamento foi tal que levou Roma e mesmo os judeus a perseguir os cristãos. Como consequência dessas perseguições o Cristianismo teve que se organizar internamente e enfrentar as diferenças e perseguições externas. O Cristianismo foi “libertado” por meio do imperador Constantino que era pagão e “converteu-se” ao mesmo, segundo a lenda ele tinha duas esposas, uma cristã e outra pagã. Após tornar o Cristianismo em religião oficial de Estado - o que se concretizou através do imperador Teodósio - Roma percebeu que através dessa manobra poderia acabar com a divisão do império. Já a Igreja tornou-se absoluta conquistando as massas que logo aderiram à Igreja. O Cristianismo assumiu a postura de união com o Estado e a Igreja contraiu estreitas relações com o mesmo e com a civilização, transformando-se 4 em importante instituição no mundo. Disputas espirituais agora, deram lugar a debates sobre questões cristológicas, trinitárias, soteriológicas e para tanto foram organizados concílios ecumênicos. A Antiguidade Cristã é, portanto, a época do surgimento da Igreja; da união desta com o Estado, sua forte cultura, e perseguições a “heresias” e, depois, o lançamento da base fundamental da consciência dogmática. AMBIENTE DO NASCIMENTO DA IGREJA Plenitude dos tempos Para entendermos a complexidade o nascimento da Igreja primitiva temos que remontar aos textos bíblicos, o autor essa destaca os textos de Paulo, Falando da chegada da plenitude dos tempos, na qual Deus enviou o seu Filho Gálatas capítulo 4 verso 4. Jesus Cristo veio ao mundo no momento certo quando a humanidade já estava pronta para recebê-lo. Essas circunstâncias são ambientais, ou seja, na política já havia um governo maturado, na cultura foi enraizada a ideia do messias, religião os costumes que apontavam para a vinda do messias eram celebrados, a sociedade já estava carente por alguém que olhasse para suas necessidades mais básicas. Tudo isso resultou no tempo certo preparado por Deus para o nascimento do Cristianismo. Império Romano e o nascimento de Cristo na Palestina O império de Otaviano Augusto (30 a.C. – 14 d.C.) se expandiu, abrangendo os países do Mediterrâneo, a Gália e parte da Britânia, até os rios Reno e Danúbio. Jesus nasceu, e o império passava pela 'pax romana' com a vitória do imperador que pôs fim a vários anos de guerras civis dentro da República e isso trouxe relativa tranquilidade para toda a bacia mediterrânea, criou facilidades de comunicação e ótimas condições para a circulação de mercadorias e principalmente de ideias. A Palestina assim como Israel, nessa época, subjugava-se ao Império Romano. Quando Pompeu tomou Jerusalém no ano 63 a.C., não existiu mais um Estado judaico independente. Depois da morte do idumeu Herodes (37–4 a.C.), Augusto César deixou o seu território aos filhos. No grande Império Romano a terra dos judeus era só uma parte insignificante. O imperador, por sua vez, possuía um poder ilimitado; o governo era moderado, e as 5 províncias tinham autonomia. O nascimento de Jesus embora importante para os judeus, e, por conseguinte, para o mundo todo, passou despercebido pelo império o que já era propósito de Deus. O seu ministério e a agitação que causava considerada mais um movimento sem poder, assim pensavam. Sua morte foi considerada mais uma morte de um criminoso ( se eles soubessem o que sabemos claro que pensariam diferente). Os primeiros cristãos viveram e deram continuidade ao ministério de Jesus Cristo nesse grande império, estabeleceu-se a igreja e foi organizada a expansão foi rápida e delas surgiram comunidades cristãs. Portanto, tão importante quanto conhecer um pouco da vida romana para compreender o desenvolvimento do Cristianismo, é, paradoxalmente, reconhecer que o império foi o ponto de apoio para esse desenvolvimento, ao mesmo tempo em que trazia muitas dificuldades para a sua existência e expansão. Algumas informações sobre este império tem que ficar claras na mente. Segundo Pierini (1998) Roma era o centro, capital e imagem de todo o império. Cidade, fundada no ano 753 a.C., por Remo e Rômulo, reunia os aspectos mais diversos do império, que vivia o seu apogeu político e expansionista. O seu culto espiritual não era unitário; Roma tinhauma estrutura pagã e havia templos para dezenas de deuses locais e estrangeiros. Existiam palácios luxuosíssimos e refinados, que então começaram, em medida crescente, a servir à vida de prazer. A imoralidade penetrava mais profundamente em todas as classes. O luxo excessivo e a vida pomposa eram acompanhados de um espantoso desprezo pela vida humana, especialmente os miseráveis e os escravos. As alianças políticas com povos estrangeiros foram, aos poucos, enfraquecendo as forças locais e com o tempo o exército e outros segmentos estavam ocupados em enfrentar povos bárbaros, como os eslavos, que buscavam riquezas e espaço na vida e cultura romanas. O império agrupava uma multidão de povos que conservavam os seus costumes, suas línguas e suas culturas. No entanto, no conjunto do império impunham-se duas línguas: o grego "koiné", "comum", e o latim. A Dinâmica Religiosa de Roma Os romanos eram tolerantes em matéria religiosa, mas possuíam variadas religiões e deuses em seu seio, o maior de todos e que cidadãos e escravos deveriam prestar culto 6 era o imperador, o que tornou a vida dos cristãos num grande problema, pois só prestavam culto a Deus e não acreditavam no politeísmo como forma de adoração. Esses deuses oriundos das religiões e cultos do império podiam opor-se à mensagem evangélica. Não podiam ser também "escalas progressivas" para a revelação cristã. JESUS CRISTO Jesus Cristo é a base da origem da História da Primitiva. Assim Ele mesmo declarou sendo a pedra sobre a qual Ele fundaria sua igreja. Alguns perguntam: Cristo existiu realmente? Para respondermos, precisamos das "fontes históricas" da vida de Jesus, que o autor divide em três categorias: fontes cristãs como por exemplo a bíblia, fontes não cristãs e fontes pagãs. Cronologia de Jesus Cristo Considerar a figura de Jesus Cristo como personagem histórico e não como criação mítica implica considerar os eventos que compõem essa história em sua cronologia básica, conforme o que se expõe a seguir. Nascimento No ano 526, o monge Dionísio, o Exíguo, fez cálculos para fixar a data de nascimento de Jesus, e assinalou o ano 753 da fundação de Roma. Mas, segundo a cronologia moderna, Dionísio equivocou-se em 4 anos. Dessa forma, o nascimento de Cristo situar-se-ia no ano 749, o que configura um atraso de 4 anos no calendário ocidental vigente. Vida pública Alguns autores modernos como Van Beber, Belser, entre outros, fundamentando-se no testemunho de determinados Padres da Igreja, restringem a vida pública de Jesus a um ano de duração. No entanto, a maioria dos autores inclina-se para dois anos e meio. 7 Morte Como Cristo começou sua atividade pública aos trinta anos (Lc 3, 23), sua morte teria ocorrido nos anos 32-33, ou, 14 Nisan (1º mês do ano judaico) de 783 de Roma, isto é, 7 de abril do ano 30. Atividade de Cristo Jesus nasceu, milagrosamente, de acordo com textos neotestamentários, de Maria Virgem em Belém. Até a idade de 30 anos levou uma vida oculta na pequena vila de Nazaré com seus pais. Depois disso, começou sua atividade de Mestre, ensinando uma mensagem de paz, amor e respeito; curando muitas pessoas de vários males e fazendo muitos milagres. Cristo não se apresentou como um reformador da religião judaica, e sim como o instaurador de um novo modo de viver a relação com Deus e com o próximo. COMUNIDADE DE JERUSALÉM E EXPANSÃO INICIAL Como era a vida da comunidade primitiva de Jerusalém? Esse é o questionamento que necessária a essa unidade. Lucas em atos descreve a comunidade primitiva da seguinte maneira: "tinham todos um só coração e uma só alma" (At 4, 32). Os discípulos continuavam participando na vida coletiva dos israelitas, mas, ao mesmo tempo, tinham consciência de que sua missão era formar uma "comunidade" particular, uma "ecclesia" ou seja um povo chamado, uma "assembleia oficial" do povo de Deus, o que constitui o ideal que forma essa primeira comunidade. A organização da referida comunidade é bem clara desde o princípio; os membros estão divididos em dois grupos bem distintos: os 12 e os demais. Os 12 têm Pedro como chefe, o que se pode perceber em vários momentos: na eleição de Matias O cotidiano da vida religiosa e moral da primeira comunidade primitiva foi marcada por idas ao Templo de Jerusalém e fidelidade à Lei mosaica. A despeito disso, aos poucos, os seguidores de Cristo, chamados de o caminho desenvolvem um culto variante entre i e ids ao templo e demonstração de fé na nova aliança com o rito do Batismo, na oração e na refeições diárias (At 2, 42), na comunhão de bens, visão 8 escalotológica e na espera do retorno eminente de Cristo, no entusiasmo movido pela ação e presença do Espírito Santo e pelas primeiras conversões e milagres. Considerando todo este processo de expansão e a riqueza de grupos que vão se formando no seio do Cristianismo, estudaremos, no próximo tópico desse material, como ocorreu sua expansão e como se deu a dinâmica de sua presença fora do contexto geográfico da Palestina. EXPANSÃO DO CRISTIANISMO FORA DA PALESTINA A expansão do cristianismo fora do contexto geográfico palestinense se deu em Antioquia. Observemos os contornos fundamentais da Comunidade Cristã fundada nesta região. Comunidade cristã de Antioquia Como se disse na abertura desta unidade, foi na cidade de Antioquia que se instituiu o primeiro centro de expansão cristã fora da Palestina. O livro Atos dos Apóstolos menciona duas comunidades cristãs importantes criadas nessa região: Damasco, por obra Ananias (At 9, 10) e Antioquia, fundada por cristãos helenistas de Jerusalém (At 11, 19), onde a evangelização dirigiu-se aos judeus, bem como aos pagãos gregos (At 11, 20). Em meados do ano 42, a comunidade cristã, nessa região, já era numerosa e os apóstolos enviaram Barnabé para organizar aquela Igreja, e este chamou Paulo (Atos 11, 21-26) para colaborar na evangelização e nos trabalhos locais. Paulo, apóstolo dos gentios Paulo, principal figura do Cristianismo primitivo, no passar da história do Cristianismo, se deu pela da morte de Estevão, cena em que Paulo é tido como um oponente dos cristãos. Considerando sua família, Paulo é de origem israelita, mais da 9 tribo de Benjamim, mas, também é considerado cidadão de Roma por ter nascido em Tarso da Cilícia, hoje região da Turquia, dominada pelos romanos em seu tempo. Sua formação religiosa, foi aos pés de Gamaliel, fiel às tradições judaicas, fariseu e perseguidor do Cristianismo, considerando-o uma "seita herética" do judaísmo (At 9, 1) conhecia a língua e cultura aramaica, e também cultura helenista, o que lhe deu acesso tanto às comunidades da diáspora, como às de outros povos, chamados pelos judeus de gentios ou pagãos. Seu trabalho missionário foi imenso, tendo feito várias viagens, passando por dezenas de cidades e fundando novas comunidades ou animando e reforçando a fé dos cristãos. Pedro e a fundação da Igreja de Roma A atividade apostólica de Pedro, até a sua libertação milagrosa do cárcere no ano 43, está amplamente descrita em Atos 1, 12. Desta data em diante, não se sabe nada a respeito de suas ações até sua participação ativa e principal no Concílio dos Apóstolos, no ano 50. Conhecemos sua presença em Antioquia pela carta de Paulo aos Gálatas (Gl 2: 11-21). A estada de Pedro em Corinto, por sua vez, está testemunhada por São Paulo, que faz alusão à presença de um grupo de partidários de Pedro naquela cidade, o que se evidencia na seguinte fala: "Eu sou de Apolo, eu sou de Pedro" (1Cor 1, 12). Dionísio de Corinto (ano 170), por sua vez, diz que a sua Igreja foi fundada pelos apóstolos Pedro e Paulo, de acordo com o que relata Cesareia (2002, p. 49). Origem da Igreja de Roma - Estadia de São Pedro em Roma A fundação da Igreja romana remonta ao período logo após a morte doSenhor. Com efeito, nos tempos do imperador Cláudio (41- 54) já havia judeu-cristãos em Roma. Em meados do ano 47 ou 49 Cláudio teria desterrado os judeus de Roma por conta dos tumultos que organizavam impulsore Chresto (por causa de um "tal" Cresto). A contribuição dada por São Pedro no advento da Igreja de Roma, por sua vez, é testemunhada por São Jerônimo (século 4º), que afirma que São Pedro: "pontificou em Roma pelo espaço de 25 anos", não sendo necessário entender estes 25 anos como uma permanência contínua. 10 Entende-se por testemunhos literários os documentos escritos que sustentam as pesquisas e estudos históricos. E em se tratando do tema desenvolvido neste tópico, destaca-se a primeira Carta de Pedro. Nesse documento, em que profere a expressão: "vos saúda a Igreja da Babilônia" (5, 13), Pedro evidencia a concreta instituição da Igreja em Roma, tendo em vista que o termo "Babilônia" se trata, na verdade, de expressão figurativa utilizada para se referir ao nome real da cidade, no caso, "Roma", o que ocorre inclusive em passagens da Bíblia, como no caso do Apocalipse, capítulo 17, versículo 5 e capítulo 18, versículo 2. Outro testemunho literário importante, a propósito do que se apresenta neste tópico, é o de Clemente Romano (95), que escreve à Igreja de Corinto, dizendo que Pedro e Paulo "foram entre nós um belo exemplo", referindo-se ao martírio desses personagens. Testemunhos arqueológicos Os testemunhos arqueológicos são, por sua vez, as fontes materiais por intermédio das quais se processa a pesquisa histórica. No que diz respeito às fontes materiais que evidenciam a atuação de Pedro em Roma, destacam-se as "Catacumbas de São Sebastião e Basílica de São Pedro no Vaticano". Considerando-se o que já se pôde descobrir, a propósito dos testemunhos arqueológicos disponíveis, o mais provável a respeito da presença de Pedro em Roma é que teria chegado a Roma no período entre os anos 43-44, permanecendo na cidade até a expulsão dos judeus por ordem do Imperador Cláudio, motivada pelas disputas frequentes e tumultuadas que a pregação do Cristianismo causava entre os judeus (47-49). Quando Nero permitiu o regresso dos judeus a Roma (56), Pedro regressou à cidade, tendo ali permanecido até sua morte em 29 de junho do ano 67, no desfecho da perseguição que sofreu da parte daquele imperador. Atividade dos demais apóstolos Uma tradição antiga e bastante fundada afirma que os apóstolos permaneceram em Jerusalém 12 anos antes de espalharem-se pelo mundo. A respeito da vida e obra 11 desses apóstolos UNIDADE 2 ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA DA IGREJA Quando iniciou seu movimento na Palestina, Jesus reuniu apóstolos e discípulos, formou uma comunidade e, paulatinamente, foram estruturadas regras de convivência específicas às quais o grupo formado, assim como o que normalmente acontece com qualquer grupamento social, deveria se submeter. Ao longo da caminhada da Igreja e de sua consequente expansão para além dos limites da Palestina, sobretudo durante os primeiros séculos e considerando-se as dificuldades e possibilidades que se apresentaram nessa trajetória, os referidos pilares que sustentaram a ação apostólica se consolidaram, configurando uma verdadeira "sociedade organizada", o que implica reconhecer a instituição de uma estrutura social com hierarquia e dinâmica bem definidas. HIERARQUIA DA IGREJA Nas primeiras décadas em que se desenvolveu o Cristianismo, toda a autoridade eclesial foi centralizada na pessoa de Pedro (por mandato do próprio Cristo) e dos apóstolos. A expansão cristã, expressa na fundação de centenas de comunidades, no entanto, fomentou a necessidade de descentralizar a direção das comunidades, que já não tinham condições para se submeter à direção somente dos apóstolos e seus auxiliares mais diretos, muitos deles dotados de dons carismáticos (doutores, profetas e evangelistas). Nesse contexto, foram criados novos cargos e ofícios eclesiásticos que, por sua vez, alcançaram posição de destaque na configuração hierárquica da Igreja, inicialmente constituída por epíscopos, presbíteros e diáconos. Esses ofícios eram atribuídos 12 mediante cerimonial específico e sobreviveram ao longo do processo de propagação do Cristianismo na medida em que sua posição se consolidou na dinâmica hierárquica da Igreja. Bispos, presbíteros e epíscopos Nos escritos do Novo Testamento, os ofícios de "presbítero" e "bispo", cujos primeiros representantes teriam sido eleitos pelos apóstolos, são apresentados como sinônimos. Com efeito, bispos e presbíteros desempenham mais ou menos o mesmo ofício: pre88 gação, celebração da eucaristia e governo da comunidade cristã local, competindo, especificamente ao bispo, a admissão do catecúmeno e a expulsão dos indignos (excomunhão). A diferenciação conceitual entre os ofícios mencionados anteriormente e o ofício de epíscopo também é bastante difusa, tendo em vista que, na origem, os termos parecem indicar atribuições coincidentes. Sacerdotes O ofício de sacerdote, por sua vez, também se submetia ao de bispo. Sob essa perspectiva, os sacerdotes não podiam exercer nenhum ministério sem sua aprovação e somente por encargo ou delegação do bispo poderiam presidir a eucaristia e a administração dos sacramentos. Outros Ofícios (ordens menores) Além dos ofícios mencionados nesses últimos itens, merecem destaque também, a despeito de seu status "menor" na hierarquia da Igreja, os de subdiácono, acólito, leitor, exorcista e ostiário ou porteiro, assim como aqueles que especificamente se referiam aos serviços femininos como os de diaconisa (que prestava auxílio no batismo e na assistência aos doentes e pobres) e de viúva (que se dedicada à oração). Importa destacar que não era permitido aos neófitos (pagãos recém-convertidos ao 13 Cristianismo ou pessoas que vão receber o batismo ou foram recentemente batizadas); os penitentes públicos; os clínicos (que receberam o chamado batismo clínico, ou seja, que foram batizados na iminência da morte por conta do acometimento de enfermidade grave) e os casados pela segunda vez, ocupar esses ofícios e, consequentemente, não podiam ocupar também os ofícios procedentes do sacramento da ordem. A propósito dos impedimentos listados no parágrafo anterior, convém destacar que o casamento não configurava, em si, naquele momento histórico, um impedimento à ocupação dos referidos ofícios, mas sim um segundo casamento. Mesmo porque o celibato eclesiástico nem sempre integrou a dinâmica da Igreja, tendo sido instituído na Igreja latina paulatinamente. Com efeito, o celibato eclesiástico ainda hoje subsiste na Igreja Católica Romana, enquanto é facultativo nas igrejas ortodoxas. DIOCESES, PROVÍNCIAS ECLESIÁSTICAS, PATRIARCADOS E PRIMADO DE ROMA No contexto da dinâmica hierárquica característica da Igreja, conforme o que se apresentou no item anterior, os membros das diversas igrejas que integravam a instituição como um todo, a despeito de suas especificidades locais, tinham consciência de que representavam parte de um todo hierarquicamente superior: o Corpo Místico de Cristo, o que conferia à Igreja certa homogeneidade estrutural. A intensificação do processo de expansão do Cristianismo, no entanto, tanto dentro dos limites do Império Romano quanto fora deles, materializou-se na fundação de inúmeras comunidades com elementos locais e regionais muito mais contundentes. SÍNODOS E CONCÍLIOS A instituição conciliar não era desconhecida na Igreja primitiva, mas adquiriu importância após a conversão de Constantino. A proliferação dos sínodos, por sua vez, ocorreu a propósito do advento das heresias e também da consideração de que estes constituíam uma instituição necessária para o exercício harmonioso e regular do governo da Igreja. 14 CULTO E SACRAMENTOSPara compreender a dinâmica do culto cristão, bem como o lugar que os sacramentos ocupam nessa dinâmica, é fundamental reconhecer que a identidade litúrgica e cultural cristã levou séculos para se organizar e consolidar. Além disso, como já afirmamos, Jesus e seus primeiros seguidores eram judeus. Essa assertiva implica reconhecer que o culto cristão sofreu uma grande influência do culto judaico. Essa filiação judaica, no entanto, não é irrestrita, tendo em vista que a tradição cristã reivindica uma originalidade estrutural. Considerada essa originalidade reivindicada, o culto e os sacramentos cristãos articularam-se sobre alguns elementos fundamentais expressos no livro dos Atos dos Apóstolos em seus primeiros capítulos (o ensinamento dos apóstolos, a comunhão fraterna, a fração do pão e as orações em comum: At 1,4). Com base nesses fundamentos é que, paulatinamente, se desenvolveu o "modo cristão" de viver e celebrar a fé e a vida em comunidade. Batismo O batismo, administrado pelos apóstolos aos convertidos no momento imediatamente posterior em que estes realizavam a profissão de fé em Cristo, configura a admissão à Igreja. Até o século 2º, ao que tudo indica, o batismo era administrado somente aos adultos, muito embora o ato de se batizar as crianças configure, para Irineu (180) e para Orígenes (254), uma tradição apostólica. O batismo podia ser administrado por qualquer cristão, mas, geralmente, era conduzido pelo bispo. Ocorria, inicialmente, somente por ocasião da vigília pascal, situação que se modificou posteriormente, admitindo-se a realização da cerimônia em outros momentos do ano litúrgico. Catecumenato O catecumenato é definido como o tempo destinado à preparação que antecede o batismo do neófito, que por sua vez pode ser definido da seguinte maneira: "pagão 15 recém-convertido ao cristianismo; cristão-novo [...] pessoa que vai receber o batismo ou recentemente batizada" (HOUAISS, 2009). Na verdade, não podemos falar de uma catequese propriamente dita nas primeiras décadas de existência do Cristianismo, já que os primeiros convertidos eram judeus que eventualmente tiveram acesso à pregação apostólica e se integraram à comunidade cristã primitiva em Jerusalém ou em comunidades oriundas da Diáspora. A despeito disso, a preparação para a profissão do Cristianismo, de início, centrava-se nos ensinamentos de Jesus e na sua ressurreição. Posteriormente, com o advento de obras escritas, como os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, bem como outros escritos e cartas neotestamentárias, enfatizava-se não somente os ensinamentos de Jesus, mas também relatos sobre a vida de Jesus e das comunidades primitivas, tendo a catequese se colocado a serviço da instrução dos novos membros da comunidade cristã (judeus ou pagãos). A expansão da conversão dos pagãos ou gentios ao Cristianismo estimulou a necessidade de uma preparação mais elaborada. Eucaristia A eucaristia ou "fração do pão", no tempo dos apóstolos, era celebrada pela tarde, constituindo-se como uma "comida de frater nidade" ou ágape, termo que designa uma "festa dos primitivos cristãos que consistia em uma refeição comum com a qual era celebrado o rito eucarístico" (HOUAISS, 2009) em recordação à última Ceia do Senhor e que desapareceu definitivamente no século 4º. Por ocasião da proibição das "eterias" por obra do imperador Trajano (98-117), os cristãos passaram a celebrar a Eucaristia pela manhã, afastando a cerimônia do conceito de "comida da fraternidade", que, por sua vez, acabou por se converter, paulatinamente, em mero evento beneficente em proveito aos pobres. 16 Unção dos enfermos Jesus Cristo desenvolveu uma atenção muito especial pelos doentes e os escritos neotestamentários reforçam esta dimensão eclesial. Assim, no Cristianismo antigo, quem cuidava mais dos doentes eram os diáconos e diaconisas, juntamente com outras obras de misericórdia, como a atenção aos órfãos, viúvas, escravos, prisioneiros etc. Sobre este sacramento, Gómez (1995, p. 80. Tradução de Ronaldo Mazula) afirma que: "o "Sacramentário gregoriano" contém prescrições especiais para a administração deste sacramento e para a consagração dos óleos. " Ordem Os candidatos ao sacerdócio, inicialmente, eram escolhidos pelos apóstolos e se exigia deles qualidades morais e intelectuais. Podiam ser recrutados também entre homens casados, mas, com o passar do tempo, foi se exigindo o celibato dos candidatos. Com a expansão do Cristianismo, os bispos foram assumindo esta função e cuidavam da preparação destes. A ordenação, ministrada unicamente pelo bispo, essencialmente, acontecia mediante a imposição das mãos e oração consecratória. Posteriormente à administração do sacramento da ordem, foram acrescentadas algumas cerimônias simbólicas (entrega do cálice e patena, prostração, unção com óleo etc.). Matrimônio A santidade do matrimônio é defendida pelos Santos Padres desde o século 2º. A despeito disso, foi somente no século 4º que se estabeleceu e clarificou as posições da Igreja em relação a esse sacramento, bem como em relação à virgindade. Paralelamente a esse processo, a legislação civil, que regulava o matrimônio, conformou-se à legislação eclesiástica durante os séculos 4º e 5º. Muitas peculiaridades marcavam a dinâmica do matrimônio no contexto desse momento da História da Igreja. Entre essas peculiaridades merece destaque, em primeiro lugar, o fato de que, no Ocidente, a bênção nupcial era celebrada durante o transcurso das missas, enquanto no Oriente admitia-se a celebração em eventos desvinculados das missas e até em ambientes privados. Em segundo lugar, destaque-se a proibição da contração de vínculo matrimonial com hereges e infiéis. 17 Penitência A propósito das conversões do século 4º, pessoas com pouco espírito de fervor ingressaram na dinâmica da Igreja. Essa situação promoveu a multiplicação de escândalos, cuja marca era a inobservância evidente da doutrina e dos mandamentos defendidos pela Igreja (pecado), escândalos esses que estimularam a Igreja a desenvolver e exercitar o seu "direito penal". A pena mais grave, nesse contexto, era a "excomunhão", por meio da qual o fiel ficava excluído da Igreja. A aplicação desta pena se dava a propósito da incidência dos três pecados canônicos: apostasia, adultério e homicídio. Os clérigos, por sua vez, eram castigados mediante a "suspensão" e "deposição" do cargo. Na Espanha, os bispos eram castigados mediante a privação da "comunhão fraterna" e do direito de assistir aos sínodos. FESTAS CRISTÃS E MEIOS DE SANTIFICAÇÃO Considerados os cultos e sacramentos cristãos, importa abordar um outro viés do culto cristão, o das suas principais festividades, bem como os meios pelos quais se pode alcançar a santificação. ASCETAS, VIRGENS E ORIGEM DA VIDA MONÁSTICA Os cristãos não se distinguiam dos demais cidadãos em seu gênero de vida exterior. Geralmente, desempenhavam os mesmos ofícios que realizavam antes da conversão, não se apercebendo da possibilidade de incorrerem na idolatria e de imoralidade, muito embora, por conta da especial aversão aos teatros, os atores convertidos ao Cristianismo tinham que abandonar seu ofício, situação que também se aplicava aos gladiadores. Dentre a massa comum dos cristãos, no entanto, sobressaía, em cada comunidade, um grupo de homens e de mulheres que aspiravam à perfeição da vida cristã: os ascetas e as virgens. A importância dos mosteiros no contexto em questão também se reflete na medida em que são considerados o refúgio da ciência e cultura durante os séculos de ignorância e barbárie da alta Idade Média. Além disso, considerando as dimensões econômica, social e cultural, a fundação de um mosteiro, quase sempre em regiões inóspitas, seguia 18 o estabelecimento das bases da civilização e da agriculturaem lugares abandonados em que a terra nunca fora cultivada. Muitas cidades europeias e povos, inclusive, tiveram sua origem e organização iniciais ligadas à fundação de um mosteiro. CISMAS E HERESIAS DOS PRIMEIROS SÉCULOS As heresias e cismas estabeleceram-se já no contexto em que se deu o advento da Igreja, momento em que os mais relevantes princípios da doutrina cristã eram o monoteísmo e a doutrina da Trindade (Mt 28, 19). O próprio Cristo já previra a chegada de falsos mestres e doutores (Mc 13, 6). Inicialmente, as heresias ocorriam no mundo judaico, considerando- se o ambiente em que se desenvolviam. Com a expansão cristã, entretanto, expandiram seu universo de ocorrência para outros contextos religiosos e culturais, de modo especial no contexto greco-romano. A análise das referidas propostas por meio das quais se busca conceituar a heresia, bem como situá-la no contexto do desenvolvimento da Igreja, revela uma relação paradoxal entre seus conteúdos. De fato, se por um lado as heresias são vistas como "danosas" ao desenvolvimento da Igreja, por outro se colocam como útil ferramenta a esse mesmo progresso. Heresias judaizantes As heresias judaizantes são definidas, de modo geral, como a incidência, da parte dos chamados "judeus-cristãos" (século 1º), que não aceitaram a universalidade do Cristianismo e defenderam a vigência da Lei Mosaica, em erro caracterizado como a inobservância à doutrina e regras vigentes. As correntes ligadas a essa modalidade herética dividem-se em duas categorias principais: a dos que se limitavam a permanecer fiéis à Lei de Moisés e os que ousaram impor a observância dessa lei, sobretudo a circuncisão, aos cristãos provenientes do paganismo. Essas duas correntes principais abrigavam, em seu interior, várias tendências judaizantes, cada uma com suas características específicas e entre as quais se destacam as seguintes 19 Gnosticismo O termo "gnosticismo" refere-se a um movimento anterior ao Cristianismo, cuja origem etimológica nos remete ao sentido do termo gnosis (ciência). As primeiras influências desse movimento na dinâmica do Cristianismo deram-se nas chamadas comunidades paulinas, a despeito de que Paulo, nesse contexto, previne seus fiéis da "falsa gnose" (Cl 2, 2). A gnose, com efeito, é considerada, de acordo com Ribeiro (1989, p. 24): "[...] a heresia mais complexa, que compreende elementos filosófico- religiosos orientais e cristãos", afirmação que define o termo e, ao mesmo tempo, determina sua importância no contexto do desenvolvimento do Cristianismo. Dessa forma, o movimento ligado à prática da gnose caracterizava-se pela ação de filósofos convertidos ao Cristianismo que pretendiam introduzir as verdades da fé no âmbito das especulações filosófico- religiosas, na intenção de "elevar" o Cristianismo do "plano inferior" da fé ao "plano superior" da gnose. Com efeito, esse movimento gnóstico pré-cristãos prometia, portanto, um conhecimento mais profundo da divindade; um caminho seguro para libertar-se do pecado; a solução do problema do mal; o dualismo e o problema da criação, o demiurgo. Montanismo ou milenarismo O Milenarismo representou a esperança e crença em um eventual e próximo retorno de Cristo ao mundo para fundar um "reino milenar" com seus eleitos. Ao final do transcurso de mil anos da fundação desse reino, ocorreria a ressurreição geral e o juízo universal. Seu advento está ligado à ação de Montano, sacerdote pagão da deusa Cibeles que, convertido ao Cristianismo, se desviou logo da fé ortodoxa, elaborando e introduzindo suas ideias heréticas na Frígia, região da Ásia Menor, em torno do ano 150. O sacerdote Montano considerava a si mesmo como instrumento do Espírito Santo para conduzir a Igreja à perfeição. Sua doutrina destacava o iminente retorno de Cristo, que, por sua vez, o teria enviado por meio do Espírito Santo para estabelecer o reino milenário na Terra. Essa doutrina baseava-se no rigorismo moral (inicialmente, os 20 montanistas pregavam a renúncia ao matrimônio, o jejum rigoroso três dias por semana e proibiam que se fugisse diante de eventual possibilidade de submissão ao martírio) e no rigorismo penitencial (admitiam o poder da Igreja para perdoar os pecados, mas recomendavam que não se fizesse uso desse poder, pois entendiam que os fiéis, contando com a alternativa de receber o perdão da Igreja, poderiam incorrer em negligência deliberada em relação à observância das regras da Igreja às quais se submetiam). Heresias antitrinitárias Foi em meados do ano 180 d.C. que o escritor cristão Teófilo de Antioquia utilizou pela primeira vez a palavra 'tríade' ou 'trindade' para explicar a fé num só Deus em três pessoas que configura o dogma da Santíssima Trindade. Com efeito, segundo esse dogma, a Trindade Sagrada representa um só Deus (em outras palavras, o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus). A oposição a esse dogma é o que define mencionada heresia antitrinitária, cujas primeiras ocorrências caracterizaram-se pela negação da divindade de Cristo a propósito da dificuldade encontrada pelos indivíduos que incorreram na prática dessas heresias em conciliá-la com o monoteísmo. Controvérsias penitenciais (Cismas) A Igreja primitiva (séculos 2º ao 4º), entendida e organizada como "comunidade dos santos", exigia de seus fiéis um alto rigor moral. O ideal era conservar a inocência batismal até a "vinda do Senhor". Consequência disso foi uma práxis penitencial rigorista e uma disciplina muito exigente para a vida cotidiana dos cristãos. A despeito disso, a falta de uma práxis penitencial uniforme deu origem a muitos abusos como no caso de bispos que isentavam, perpetuamente, os réus da penitência de pecados capitais (mortais), sobretudo a idolatria, o homicídio e o adultério. Sob essa perspectiva, houve até quem negasse à Igreja o poder de perdoar os pecados. Foi neste contexto que se deu o advento das chamadas controvérsias penitenciais, algumas das quais tendo provocado grandes cismas, como, por exemplo, os mencionados a seguir: 21 HERESIAS, CISMAS E CONCÍLIOS DOS SÉCULOS 4º AO 7º As lutas dogmáticas estiveram presentes na dinâmica da Igreja durante o período entre os séculos 4º e 7º, situação essa que se explica pelo fato de que muito embora o Cristianismo tenha se expandido por todas as esferas do Império Romano, os novos cristãos não deixaram seus costumes pagãos nem abandonaram seu modo de pensar anterior à conversão. Nesse item do material, conduziremos a discussão acerca do advento e desenvolvimento dos cismas e concílios ocorridos entre os séculos 4º e 7º, além de revisitarmos a abordagem das heresias, tais como as heresias monarquicas dos séculos 2º e 4º, que deram origem a várias heresias trinitárias e a questões que colocaram em xeque a identidade da Igreja, bem como as heresias soteriológicas, originárias do contexto marcado pela tensão entre esses conceitos tão caros à dinâmica da igreja: os da liberdade e os da disciplina. Controvérsias trinitárias: o arianismo Para compreender a essência das chamadas controvérsias trinitárias, em especial o arianismo, é fundamental conhecer a figura de Ário, personagem importante no contexto do desenrolar dessas controvérsias. Ário nasceu na Líbia, em 256. Foi presbítero em Alexandria. Tinha influência sobre o clero e sobre as virgens por conta de seu ascetismo e oratória. Influenciado pela heresia subordinacionista (segundo a qual o Filho é inferior ao Pai), negava a eternidade do Verbo, a consubstancialidade do Filho com o Pai e a divindade do Filho. Afirmava que o Filho é uma criatura do Pai e que o Filho é o instrumento de que se serviu o Pai para a criação do mundo, heresia esta que atacava o núcleo da doutrina cristã, pois ao afirmar que Jesus, o Verbo, não era Deus, comprometia a obra da redenção realizada por JesusCristo. O Concílio Ecumênico de Constantinopla (381) confirmou a fé nicena (símbolo niceno-constantinopolitano) e a divindade do Espírito Santo, além de condenar várias heresias como as relacionadas à ação dos arianos, macedonianos, fotinianos, apolinaristas, sabelianos etc. Apesar das condenações, os arianos ainda continuaram atuando por vários séculos, inclusive mediante as heresias cristológicas, tema que abordamos no próximo item. 22 Controvérsias cristológicas: controvérsias a respeito de Cristo No Concílio de Niceia, foi combatido, conforme o que se disse anteriormente, o chamado "erro ariano", que questionava a divindade do Filho de Deus. Essa heresia, no entanto, não detinha a exclusividade do questionamento da figura do Cristo, na medida em que outras heresias foram criadas para abordar, por exemplo, e em especial, a questão da natureza humana e divina de Jesus Cristo. Entre essas heresias que se desenvolveram no Oriente cristão. Controvérsias soteriológicas Enquanto no Oriente desenvolviam-se as lutas trinitárias e cristológicas, no Ocidente ventilavam-se questões prático-religiosas que tinham por objeto a Igreja como instituição salvífica (donatismo), a condição originária do homem e as relações entre a graça e a liberdade humana (pelagianismo e semipelagianismo). Essas discussões remetem a reflexão ao conceito da Soteriologia, bem como às doutrinas que, no contexto mencionado, se filiaram a esse conceito. Com efeito, a Soteriologia, segundo o Dicionário Houaiss (2009), refere-se à "parte da teologia que trata da salvação do homem" ou à "doutrina da salvação da humanidade por Jesus Cristo". E entre as doutrinas criadas sob esse fundamento, destacam-se o Donatismo e o Pelagianismo, cuja natureza é detalhada nos itens seguintes. Donatismo O Donatismo expressou-se em doutrinas rigoristas, rebatização dos hereges e novacionismo, que faziam depender a eficácia dos Sacramentos não somente da fé ortodoxa, mas também da moralidade da autoridade que os ministra (dispensa). Os adeptos dessas doutrinas erravam também no que diz respeito à organização da Igreja, a qual não admite pecadores em seu seio. O cisma donatista foi solucionado definitivamente a propósito de sua condenação por ocasião do Sínodo de Cartago (411). 23 Pelagianismo Pelagianismo refere-se à doutrina elaborada contra os cristãos que se desculpavam pela vida pouco fervorosa na debilidade da natureza humana; deve sua denominação à obra de Pelágio (354-437), monge inglês que viveu em Roma. Pelágio foi um asceta com vida austera, que, ao perceber o estilo de vida mundana e imoral de muitos cristãos, propôs uma doutrina segundo a qual o homem, com esforço próprio, pode praticar as virtudes e fugir de todo pecado, prescindindo da ajuda divina. Dessa forma, pregava uma doutrina extremista, pela qual se nega a existência do pecado original e se reconhece somente a existência dos pecados pessoais. PADRES APOSTÓLICOS E ESCRITORES ECLESIÁSTICOS (SÉCULOS 1º AO 3º) O conteúdo desse item consiste, como o seu próprio título sugere, na abordagem das linhas gerais que configuram a obra dos chamados Padres Apostólicos, bem como de outros escritos produzidos no período em questão. Padres apostólicos Os chamados Padres Apostólicos foram discípulos dos apóstolos que atuaram como escritores, tendo sido os seus escritos produzidos e divulgados após o advento do Novo Testamento, em especial no período que se estende do final do século 1º até a primeira metade do século 2º. A obra inclui importantes escritos de tipo pastoral para edificação e instrução (Koiné, em grego vulgar), importância essa que é reconhecida por Bihlmeyer e Tuechle (1962, p. 172), segundo os quais essa obra constitui: Apologistas Os cristãos, durante os três primeiros séculos, foram objeto de ódio da parte do Estado, dos intelectuais e do povo. As apologias, produzidas ao longo do período entre os séculos 2º e 4º, após a morte de Juliano, o Apóstata, em 363, não configuraram obras sistemáticas ou tratados de religião, mas obras polêmicas produzidas para refutar as 24 objeções de seus adversários e, por isso, dirigiam-se contra e hereges oponentes do Cristianismo. Apócrifos (séculos 2º ao 4º) O termo "apócrifos" ("escondidos" ou "falsos") refere-se aos escritos, heréticos ou ortodoxos (alguns dos quais suprem as lacunas da Bíblia sobre temas como a infância de Jesus e a morte de Maria Santíssima), que se apresentam, falsamente, como sendo de origem bíblica ou canônica. A maioria desses escritos, na verdade, é de origem gnóstica. Outros escritos dos séculos 2º e 3º Outros autores, além dos listados anteriormente, merecem destaque no contexto em questão, quais sejam: • Gregos: Panteno, Clemente Alexandrino, Orígenes, Dionísio de Alexandria, Gregório Taumaturgo, Hipólito e Irineu. • Latinos: Tertuliano, Minúcio, Arnóbio, Lactâncio e Cipriano. Foi nesse mesmo contexto em que se deu a produção escritaabordada até aqui, a qual desenvolveu a organização e a definição dos contornos do chamado Novo Testamento, temática essa que é abordada no próximo item. A formação do Novo Testamento A propósito do processo de construção do Novo Testamento, Drane (1985, p. 86-87) propõe um esquema cronológico (com datas aproximadas) que detalha a evolução desse processo, bem como do uso que se faz dos escritos bíblicos do Novo Testamento, esquema esse que é apresentado a seguir: 1) Ano 100 d.C. - Diversas partes do Novo Testamento foram escritas neste tempo, mas não estavam ainda reunidas, nem eram definidas como "Escritura". Autores cristãos primitivos, como Policarpo e Inácio, fazem citações dos evangelhos e das Cartas de Paulo do mesmo modo que o fazem em relação a outros escritos e fontes orais. As Cartas de Paulo foram reunidas definitivamente no final do século 1º. Os escritos de Marcos e Lucas, por sua vez, foram reunidos em meados do ano 150 d.C. 2) Ano 200 d.C. - Nesse momento, o Novo 25 Testamento, usado na igreja de Roma (o "Cânon de Muratori"), com preende os seguintes escritos: os quatro evangelhos; os Atos; as Cartas de Paulo (Romanos; Coríntios, I e II; Gálatas; Efésios; Colossenses, I e II; Tessalonicenses, I e II; Timóteo, Tito e Filêmon); Tiago, I e II; João; Judas; o Apocalipse de João; o Apocalipse de Pedro; a Sabedoria de Salomão e O Pastor de Hermas (para ser usado no culto particular, mas não no culto público). 3) Ano 250 d.C. - Nesse contexto, o Novo Testamento, utilizado por Orígenes, compreende as seguintes obras: os quatro evangelhos; Atos; Cartas de Paulo (Romanos, I e II; Coríntios; Gálatas; Efésios; Colossenses, I e II; Tessalonicenses, I e II; Timóteo; Tito e Filêmon); Pedro I; João I; Apocalipse de João. Outras obras que configuraram alvo de discussão no período e também merecem ser destacadas são as seguintes: Hebreus, Tiago, Pedro II, João II e III, Judas, O Pastor de Hermas, Carta de Barnabé, Doutrina dos Doze Apóstolos (Didaqué) e Evangelho dos Hebreus. 4) Ano 300 d.C. - O Novo Testamento, usado por Eusébio nesse período, era composto das seguintes obras: os quatro evangelhos; Atos; Cartas de Paulo (Romanos, I e II; Coríntios; Gálatas; Efésios; Colossenses, I e II; Tessalonicenses, I e II; Timóteo; Tito e Filêmon); Pedro I; João I; Apocalipse de João (de autoria duvidosa). As obras Tiago, Pedro II, João II e III e Judas são discutidas, mas bem conhecidas. O Pastor de Hermas, a Carta de Barnabé, o Evangelho dos Hebreus, o Apocalipse de Pedro, os Atos de Pedro e a Didaqué, por sua vez, devem ser excluídos. 5) Ano 400 d.C. – O Novo Testamento, recomendado para o Ocidente pelo Concílio de Cartago, era composto pelos quatro evangelhos; Atos; Cartas de Paulo (Romanos, I e II; Coríntios; Gálatas; Efésios; Colossenses, I e II; Tessalonicenses, I e II; Timóteo; Tito e Filêmon); Hebreus; Tiago; PedroI e II; João I, II e III; Judas e Apocalipse. PADRES DA IGREJA E ESCRITORES ECLESIÁSTICOS DOS SÉCULOS 4º AO 7º Os Padres da Igreja ou Santos Padres de maior destaque no período foram os seguintes: • Escritores gregos ou orientais (intensamente especulativos) - Eusébio de Cesareia 26 (265-340), considerado o pai da História Eclesiástica; Santo Atanásio (295-373), considerado, por sua vez, o pai da ciência teológica; São Cirilo de Jerusalém (313- 387); São Basílio, o Grande (331-379); São Gregório Nazianzeno (330-390); São Gregório de Nissa (334-394); Dídimo, o Cego (+395); Teodoro de Mopsuéstia (+428); São João Crisóstomo (+407); São Cirilo de Alexandria (+444) e Sofrônio de Jerusalém (+638). • Escritores latinos ou ocidentais (menos especulativos que os orientais; eram mais voltados para as questões práticas e disciplinares) - Santo Hilário de Poitiers (315-366), o grande exegeta "Atanásio do Ocidente"; Santo Ambrósio (339-397); Prudêncio (348- 405), maior poeta cristão latino; São Paulino de Nola (353-431); São Jerônimo (347- 420), que estudou a Bíblia Vulgata; Santo Agostinho (354-430), um dos maiores gênios de todos os tempos, cuja produção inclui obras importantes como Confissões, A Cidade de Deus, Enchiridion ad Laurentium (exposição sistemática do dogma cristão) e De Doctrina christiana e De Trinitate; Cassiano (+435), cujas obras, entre as quais se destacam Collationes Patrum (conferências dos padres do deserto) e Sobre as instituições dos cenóbios, que aboram a vida monástica, o credenciam como autor clássico; São Leão, o Grande (+461), um dos papas mais ilustres da Antiguidade Cristã; São Gregório Magno (540-604) e Santo Isidoro de Sevilha (+636). Considerados os tópicos abordados nesta unidade, impõe--se a necessidade de avaliar a assimilação dos conceitos discutidos, bem como o desenvolvimento das competências fundamentais para o prosseguimento dos estudos, o que se faz mediante os instrumentos de autoavaliação propostos no item a seguir. UNIDADE 3 PERSEGUIÇÕES DO IMPÉRIO ROMANO AOS CRISTÃOS O Cristianismo, desde suas origens, precisou fortalecer sua identidade e conquistar seu espaço religioso e social num ambiente marcado pela forte presença da cultura judaica onde nasceu e, também, pela influência política, social e religiosa das culturas romana 27 e grega. Hostilidades judaicas Desde as primeiras décadas do Cristianismo, os judeus hostilizaram os cristãos (morte de Jesus, de Estevão, prisão de Pedro e dos apóstolos etc.), e muitos escritores cristãos falam que as sinagogas judaicas eram "mananciais das perseguições". Assim, o primeiro desafio do Cristianismo foi libertar-se das influências judaicas, pois tanto Jesus como seus discípulos eram todos judeus. Tanto que, inicialmente, os cristãos conviviam harmonicamente com os costumes sociais e religiosos judaicos, e só com o decorrer de algumas décadas, é que foram se separando da tradição judaica. A cisão aumentou a conversão de judeus ao Cristianismo e, principalmente, de pagãos ou gentios. Também, com a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C, e com a consequente dispersão judaica a separação entre Judaismo e Cristianismo teve seu golpe final. É claro que essa ruptura foi no plano mais disciplinar e institucional, pois a liturgia, os escritos e os hábitos judaicos permaneceram presentes na vida dos cristãos. Após escrever a expansão da comunidade cristã jerosomilitana e o início de um grande ciúme por parte dos judeus, González assim descreve a primeira perseguição sofrida pelos primeiros cristãos, quando fala do ocaso da Igreja judaica: Império Romano e Cristianismo Os romanos, que dominavam a Palestina no tempo de Jesus, evitavam se intrometer nas questões religiosas dos povos por eles conquistados e eram tolerantes em matéria religiosa. Inicialmente, os romanos consideravam os cristãos um grupo judaico com suas características próprias como tantos outros grupos da Palestina e eles preferiam que os judeus resolvessem internamente suas questões religiosas. Eles só interviam em questões delicadas, e isto se percebe quando o Imperador Cláudio decide expulsar os judeus de Roma. Como afirma González: Na relação com o Império Romano, a dificuldade em relação aos cristãos surgiu quando estes propuseram um estilo de vida distinto do dos romanos e quando evitaram 28 adorar os deuses do império, pois, no contexto daquele tempo, adorar os deuses do império era um gesto de fidelidade política ao imperador, que, em alguns momentos, também era visto como divindade. Assim, ao não adorar os deuses do império, os cristãos atraiam a ira destes que mandavam muitas desgraças para o povo. Hostilidades dos pagãos As chamadas "hostilidades pagãs" eram despertadas pelo modo de viver dos cristãos (as acusações iam desde as calúnias mais grosseiras até as objeções mais intelectuais) e também pela fé monoteísta. Estas calúnias provocaram o surgimento das apologias cristãs, escritos que visavam justificar e explicar o Cristianismo. Entre os Apolo. Calúnias populares O povo das várias cidades onde os cristãos fundavam suas comunidades não tinha acesso ao culto cristão e isso deixava várias interrogantes ou dívidas sobre o que era e como se desenvolviam os ritos cristãos. Por outro lado, os cristãos não participavam dos cultos públicos. Assim, os cristãos foram acusados de ateísmo (negavam-se a participar dos cultos tradicionais, do culto imperial e das religiões orientais) – o povo supunha que os cristãos não tinham religião. Para a mentalidade antiga, isso era uma aberração que ameaçava o equilíbrio social, com ofensas aos deuses que, por isso, enviavam calamidades (inundações, terremotos, epidemias, povos bárbaros) ao império, atingindo toda a população. Muitos romanos acreditavam que os cristãos tinham um culto abominável, o culto ao asno crucificado ou a um bandido condenado à cruz. Deturpando a celebração da ceia eucarística, o povo acusava os cristãos de prática do incesto, já que se amavam com os irmãos e isto levava a crer que o culto tinha muitas orgias; também afirmavam que a eucaristia tinha como momento mais importante um "banquete infanticida", em que se comia o corpo de Cristo e se bebia o seu sangue (isso podia ocorrer com o sacrifício de uma criança). Calúnias dos intelectuais Celso, no século 2º, e Porfírio, no século 3º, foram filósofos pagãos que estudaram o Cristianismo para melhor orientar suas acusações contra esta nova religião que crescia. 29 As acusações eram feitas em três direções: 1) Os cristãos são pobres homens ignorantes e pretensiosos: ambos afirmavam que os cristãos saíam entre as classes sociais inferiores, entre os escravos e trabalhadores braçais explorados e excluídos do sistema. Dirigiam- se às mulheres, às crianças e aos escravos, aproveitando-se de sua credulidade e minavam as tradições patriarcais e a família. Para eles, o Cristianismo, com sua doutrina fechada e ambiciosa, contradizia os valores da civilização romana. Cronologia das perseguições movidas pelos imperadores romanos As perseguições contra o Cristianismo foram muitas, porém as da época antiga ocorreram nos três primeiros séculos e levaram o nome dos imperadores romanos da época. Houve imperadores que não perseguiram os cristãos, e alguns até simpatizaram com o Cristianismo. Outros promoveram perseguições que levam seus nomes e nem sempre as perseguições duravam todo o período de reinado dos imperadores, pois havia tempos de paz, seguidos de tempos de perseguição. Nero (54-68): foi o primeiro imperador a perseguir os cristãos, provavelmente por instigação de judeus que tinham acesso à corte imperial. A perseguição ocorreu nos anos 54-55 e foi gerada em torno de um incêndio que durou sete dias e teria sido provocado pelo próprio Nero, que desejava reformar uns bairros antigos e pobresdo centro de Roma. Diante da insatisfação do povo que se revoltou contra Nero, ele acusou os cristãos e muitos foram cruelmente torturados e martirizados, entre eles, Pedro e Paulo. Domiciano (81-96): após a morte Galba, houve um tempo de paz para os cristãos nos reinados de Vespasiano e Tito, entre os anos 65 a 94. Nessa época, no ano 70 a cidade de Jerusalém foi destruída pelo general romano Tito e a cisão entre cristãos e judeus foi definitiva. Por outro lado, muitos romanos ainda identificavam os cristãos como nacionalistas judeus. As perseguições cessaram com o Edito de Tolerância, dos Imperadores Constantino, Galério e Licínio, no ano de 311. Neste edito, os imperadores recriminam os cristãos pela desobediência diante das lideranças romanas; permitem a prática da religião e pedem as orações cristãs para os imperadores e 30 prosperidade imperial. Nem todos os imperadores perseguiram os cristãos, havia relativa paz nas comunidades cristãs. Segundo alguns cálculos, somados os anos de perseguições aos cristãos, chega-se a um total de 129 anos. O lado positivo: os mártires são considerados uma riqueza eclesial; as perseguições fizeram com que aumentasse o fervor e a piedade cristã; o martírio tornou-se ideal de santidade para os cristãos; os mártires eram admirados pelos pagãos, gerando muitas conversões para a Igreja. IGREJA NO IMPÉRIO ROMANO CRISTÃO O século 4º provocou grandes reviravoltas no Cristianismo: de religião perseguida até o ano 311, passou a ser religião livre no ano 313 e, já no final do século, com vários éditos imperiais de Teodósio, entre 390 e 395, ano de sua morte, tornou-se a religião oficial do Império Romano. A atitude favorável do Imperador Constantino para os cristãos trouxe como consequência uma mudança profunda no curso dos acontecimentos da Igreja. O "Édito de Milão" do ano 313 admitia a liberdade dos cidadãos adorarem ao Deus em quem acreditavam: inúmeros historiadores admitem que a mudança introduzida por Constantino nas relações entre a Igreja e o Império Romano foi um acontecimento de consequências incalculáveis na relação entre Estado e Religião. A situação criada com a conversão de Constantino favoreceu muito a expansão do Cristianismo, que penetrou nas classes superiores do império e chegou até as regiões mais distantes e isoladas. Mas também deu lugar a conversões menos sinceras e por motivos menos nobres. Podemos afirmar que houve luzes e sombras, pontos positivos e negativos para ambos. Enquanto, no início do século 4º, apenas a décima parte do Império Romano era cristã, um século depois pode-se dizer que quase todo o império fora batizado; mérito não pequeno da Igreja desse tempo é a sistematização teológica da mensagem evangélica por obra dos grandes padres e doutores da Igreja, como Atanásio, Basílio, Gregório, Agostinho e Jerônimo. Existem também espessas trevas na Igreja 31 Império Romano cristão: expansão do Cristianismo durante os três primeiros séculos Os primeiros cristãos exerceram grande atividade missionária (Mt 24, 10): as viagens dos apóstolos e de São Paulo por diversas regiões do Império Romano, a fundação de comunidades cristãs nas principais cidades do império, embora houvesse pouca penetração cristã nas regiões rurais. Estudiosos apontam vários motivos que favoreceram a expansão cristã e elencamos aqui alguns deles: o desejo da verdade explícita nos Evangelhos; respostas para vários temas (desejo da libertação da fatalidade e do pecado, imortalidade da alma, escopo da vida terrena, justiça distributiva etc.); desejo da santidade interior; milagres e carismas; curas e expulsão de demônios; amor fraterno e ação caritativa; firmeza dos mártires e fervor dos cristãos. Temos, também, os motivos que impediam a conversão ao Cristianismo: preconceitos contra os cristãos; renúncia ao passado (família, sociedade, profissões pagãs, religião dos grandes); monoteísmo cristão em face ao politeísmo romano e ateísmo cristão; adesão a dogmas misteriosos; culto esotérico e misterioso; rigorismo moral; rejeição dos cristãos ao serviço militar e à guerra; perigo constante de morte na época das perseguições. Conversão e política religiosa de Constantino O tema da conversão de Constantino foi e continua sendo discutido por muitos estudiosos, pois há os que afirmam que Constantino se converteu ao Cristianismo por interesses políticos e há os que dizem que foi em razão de um processo gradativo de simpatia pela doutrina e pelo testemunho dos cristãos que o levou a privilegiar o Cristianismo e a se batizar antes de sua morte, no ano 337. Desse modo, este período foi marcado pela organização das atividades missionárias, pelo surgimento do monacato e o trabalho missionário ingente de centenas de monges em várias partes do império; pelas invasões bárbaras, pela queda do Império Romano do Ocidente no ano 476 e a consequente ascensão do Cristianismo como liderança da Europa continental. Outro acontecimento marcante deste período foi o surgimento do Islamismo, com 32 Maomé, em 622, o que provocou grande instabilidade na parte oriental do Império em áreas que eram predominantemente dominadas pelo Cristianismo. Os povos bárbaros A partir do Edito de Milão, os cristãos tiveram mais liberdade de ação. É claro que, mesmo no primeiro século, os cristãos já chegavam a várias regiões que não eram dominadas pelos romanos. O Império Romano era o grande fascínio dos povos germânicos e eslavos, conhecidos como bárbaros, por serem rudes e não terem alcançado o progresso dos romanos. Por isso, vários povos do norte e leste europeu ameaçam as fronteiras do império, que vai se debilitando, até a queda em 476. Um destaque especial ao povo franco, que se converteu diretamente do paganismo ao Cristianismo, quando o rei Clóvis foi batizado em 496. Na Idade Média, foi este povo que dominou todos os outros povos e, pelo fato de ser cristão, levou e, em alguns momentos, impôs a religião cristã aos povos submetidos militar e politicamente ao Império Franco. Esse povo se tornou uma potência e a aliança entre eles e a Igreja fez com que nascesse o Sagrado Império Romano-Germânico, no ano 800, quando Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III . O Papado fortalecido Quando os povos bárbaros começaram a invadir as fronteiras do Império Romano, este começou a entrar em crise, a qual teve seu ponto alto na deposição do Imperador Rômulo Augústulo, no ano de 476. A queda do Império Romano não se deu só por causa dessas invasões, outros motivos contribuíram para isso: a depravação dos costumes, as imoralidades, a falta de seriedade e espírito de sacrifício e de trabalho dos cidadãos do império, as lutas pelo poder que geravam muitas mortes, golpes militares e desestabilização política, a crise econômica, a manutenção de um grande exército etc. Era, pois, inevitável a queda. Estejamos atentos, porque esta queda do Império Romano só se deu na parte Ocidental do império. A parte Oriental só caiu no ano de 1453, quando os turcos otomanos dominaram Constantinopla. 33 O MONACATO CRISTÃO No primeiro século, já existiam no seio da Igreja primitiva os ascetas, ermitães ou anacoretas (homens que deixam tudo eretiravam-se à solidão dos desertos, das florestas e dos lugares mais distantes para se dedicar à vida espiritual) e as virgens (mulheres que, embora vivendo com suas famílias, consagravam-se totalmente a Deus e viviam em oração e prestando serviços caritativos em suas comunidades). Esses homens e mulheres viviam sozinhos e com poucos vínculos com a comunidade eclesial e não muito preocupados em organizar mosteiros ou casas de vida comum. Muitos deles ajudavam os iniciantes na introdução da vida anacorética e ascética como Santo Hilarião, Santo Antão etc. Com as perseguições, muitos fugiam e retiravam-se para o deserto, consagrando-see a Deus.A partir do século 4º, foi se desenvolvendo o cenobitismo, ou seja, a vida comum. Era muito difícil, para os que queriam se retirar para servir a Cristo, viver nos desertos e florestas sem uma estrutura capaz de dar estabilidade. São Pacômio deu os primeiros passos para essa organização da vida em comum seguido por vários outros grandes expoentes e incentivadores como São asílio, Santo Agostinho, São Bento (o pai do monacato ocidental) etc. O monacato gerou grande número de santos e santas, missionários, teólogos, filósofos e bispos. Em torno dos mosteiros, surgiram cidades, bibliotecas, escolas e técnicas agrícolas. Foi um período fecundo em que a Igreja se desenvolveu em todos os setores e adquiriu uma consistência inquestionável, dando-lhe forças para cumprir com dignidade, apesar dos seus erros históricos, a missão evangelizadora, que lhe fora confiada por Cristo. Bibliografia MAZULA, R. HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL. Batatais: Claretiano, 2013. 34
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