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FICHAMENTO CLARETIANO HISTÓRIA DA IGREJA MEDIEVAL

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO 
História da Igreja Antiga e Medieval 
 
Atividade de portfólio da disciplina História 
da Igreja Antiga e Medieval, disciplina 
aplicada pelo Professora e Tutora: Elza Silva 
Cardoso Soffiatti, Fichamento desenvolvido 
sobre Caderno de Referência de Conteúdo das 
unidades 01-02-03 
 
 
 
 
Vitor Hugo Soares da Silva Cruz 
R.A. 8094152 
SÂO PAULO – SP – 2019 
 
2 
Descrição da atividade 
Após a leitura dos textos sugeridos, faça um fichamento das Unidades 1, 2 e 3 do 
Caderno de Referência de Conteúdo de MAZULA, R. História da Igreja Antiga e 
Medieval.Batatais: Claretiano, 2013. 
 
FICHAMENTO DO CADERNO DE REFERENCIA DE CONTEÚDO 
DA HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL 
História da igreja antiga: temas introdutórios e Comunidade primitiva. Unidade 1: 
(páginas 25-76) 
MAZULA, R. HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL. Batatais: 
Claretiano, 2013. 
 
Depois de acurada leitura do caderno de referência de conteúdo e com a abrangência de 
conteúdos lidos e estudados ao longo do tempo, é mister fazer este fichamento do 
aprendizado ora absorvido do conteúdo. Mazula introduz os estudos falando um pouco 
sobre uma breve introdução a comunidade primitiva. Logo de início o autor convida a 
responder aos questionamentos sobre o nascimento, características fundamentais, 
vivência e expansão da igreja, o que o autor procura fazer ao longo de seu material. 
UNIDADE 1 
HISTORICIDADE DA IGREJA 
 O autor começa a estabelecer a compreensão dos alunos pelo seguinte questionamento: 
qual a base de sustentação em que se processa o desenvolvimento histórico da Igreja? 
Partindo deste pressuposto, revela que a base é Jesus Cristo com o transcurso de Sua 
vida, Sua presença e de Seus ensinamentos ao mundo. Assim, revela o autor, observa-
se o início da história do cristianismo e a de seus discípulos que não só desejam, mas 
transformam vidas através da pregação do evangelho, seguidores esses que se 
organizam e introduzem a igreja cristã no mundo. Cita também que a igreja, como 
instituição divina com o fim de salvação, pertence a dois mundos simultaneamente, a 
 
3 
saber, ao terrestre e visível mundo onde todos nós vivemos, porque é composta de seres 
humanos que por intermédio do Espírito Santo atuam no contexto da história. O outro 
mundo é o sobrenatural ou espiritual que está ao nosso redor e não vemos por causa do 
pecado que habita em nós, a esse mundo a igreja pertence porque, como menciona 
Mazula, a Igreja é também obra de Deus, efeito de uma causa transcendente, situada 
além da história. Dessa forma, podemos falar de uma Igreja santa e pecadora; divina e 
humana; espiritual e temporal etc. Mazula nos mostra que enquanto disciplina, tem 
diversas definições e estas variam de autor para autor, essas definições convergem 
quando mostram que ela é a ciência que estuda o desenvolvimento dentro e fora da 
comunidade fundada por Jesus Cristo, ou seja, essa é uma generalista a qual 
acrescenta-se a história dos seguidores de Cristo atuando em todo o mundo, 
direcionados pelo Espírito Santo, testemunhando sobre sua propiciação para o mundo. 
Adota também o método de divisão da história da igreja formulado por Gómez (1987), 
segundo a qual a história é segmentada em três grandes períodos como segue: Antigo, 
Médio ou Medieval e Moderno. 
 
Antiguidade Cristã 
 Aqui o autor aponta o cristianismo como uma religião desenvolvida entre civilizações 
maduras, a saber, romanos, gregos e judeus, os quais eram altamente evoluídos e 
cresceram assim antes mesmo do próprio cristianismo. Houve estranhamento entre 
cristão e judeus, esse estranhamento foi tal que levou Roma e mesmo os judeus a 
perseguir os cristãos. Como consequência dessas perseguições o Cristianismo teve que 
se organizar internamente e enfrentar as diferenças e perseguições externas. 
O Cristianismo foi “libertado” por meio do imperador Constantino que era pagão e 
“converteu-se” ao mesmo, segundo a lenda ele tinha duas esposas, uma cristã e outra 
pagã. Após tornar o Cristianismo em religião oficial de Estado - o que se concretizou 
através do imperador Teodósio - Roma percebeu que através dessa manobra poderia 
acabar com a divisão do império. Já a Igreja tornou-se absoluta conquistando as massas 
que logo aderiram à Igreja. O Cristianismo assumiu a postura de união com o Estado e 
a Igreja contraiu estreitas relações com o mesmo e com a civilização, transformando-se 
 
4 
em importante instituição no mundo. Disputas espirituais agora, deram lugar a debates 
sobre questões cristológicas, trinitárias, soteriológicas e para tanto foram organizados 
concílios ecumênicos. A Antiguidade Cristã é, portanto, a época do surgimento da 
Igreja; da união desta com o Estado, sua forte cultura, e perseguições a “heresias” e, 
depois, o lançamento da base fundamental da consciência dogmática. 
AMBIENTE DO NASCIMENTO DA IGREJA 
Plenitude dos tempos 
Para entendermos a complexidade o nascimento da Igreja primitiva temos que 
remontar aos textos bíblicos, o autor essa destaca os textos de Paulo, Falando da 
chegada da plenitude dos tempos, na qual Deus enviou o seu Filho Gálatas capítulo 4 
verso 4. Jesus Cristo veio ao mundo no momento certo quando a humanidade já estava 
pronta para recebê-lo. Essas circunstâncias são ambientais, ou seja, na política já havia 
um governo maturado, na cultura foi enraizada a ideia do messias, religião os costumes 
que apontavam para a vinda do messias eram celebrados, a sociedade já estava carente 
por alguém que olhasse para suas necessidades mais básicas. Tudo isso resultou no 
tempo certo preparado por Deus para o nascimento do Cristianismo. 
 
Império Romano e o nascimento de Cristo na Palestina 
 
O império de Otaviano Augusto (30 a.C. – 14 d.C.) se expandiu, abrangendo os países 
do Mediterrâneo, a Gália e parte da Britânia, até os rios Reno e Danúbio. Jesus nasceu, 
e o império passava pela 'pax romana' com a vitória do imperador que pôs fim a vários 
anos de guerras civis dentro da República e isso trouxe relativa tranquilidade para toda 
a bacia mediterrânea, criou facilidades de comunicação e ótimas condições para a 
circulação de mercadorias e principalmente de ideias. A Palestina assim como Israel, 
nessa época, subjugava-se ao Império Romano. Quando Pompeu tomou Jerusalém no 
ano 63 a.C., não existiu mais um Estado judaico independente. Depois da morte do 
idumeu Herodes (37–4 a.C.), Augusto César deixou o seu território aos filhos. No 
grande Império Romano a terra dos judeus era só uma parte insignificante. O 
imperador, por sua vez, possuía um poder ilimitado; o governo era moderado, e as 
 
5 
províncias tinham autonomia. O nascimento de Jesus embora importante para os 
judeus, e, por conseguinte, para o mundo todo, passou despercebido pelo império o que 
já era propósito de Deus. O seu ministério e a agitação que causava considerada mais 
um movimento sem poder, assim pensavam. Sua morte foi considerada mais uma 
morte de um criminoso ( se eles soubessem o que sabemos claro que pensariam 
diferente). 
Os primeiros cristãos viveram e deram continuidade ao ministério de Jesus Cristo nesse 
grande império, estabeleceu-se a igreja e foi organizada a expansão foi rápida e delas 
surgiram comunidades cristãs. Portanto, tão importante quanto conhecer um pouco da 
vida romana para compreender o desenvolvimento do Cristianismo, é, paradoxalmente, 
reconhecer que o império foi o ponto de apoio para esse desenvolvimento, ao mesmo 
tempo em que trazia muitas dificuldades para a sua existência e expansão. 
Algumas informações sobre este império tem que ficar claras na mente. Segundo 
Pierini (1998) Roma era o centro, capital e imagem de todo o império. Cidade, fundada 
no ano 753 a.C., por Remo e Rômulo, reunia os aspectos mais diversos do império, que 
vivia o seu apogeu político e expansionista. O seu culto espiritual não era unitário; 
Roma tinhauma estrutura pagã e havia templos para dezenas de deuses locais e 
estrangeiros. Existiam palácios luxuosíssimos e refinados, que então começaram, em 
medida crescente, a servir à vida de prazer. A imoralidade penetrava mais 
profundamente em todas as classes. O luxo excessivo e a vida pomposa eram 
acompanhados de um espantoso desprezo pela vida humana, especialmente os 
miseráveis e os escravos. As alianças políticas com povos estrangeiros foram, aos 
poucos, enfraquecendo as forças locais e com o tempo o exército e outros segmentos 
estavam ocupados em enfrentar povos bárbaros, como os eslavos, que buscavam 
riquezas e espaço na vida e cultura romanas. O império agrupava uma multidão de 
povos que conservavam os seus costumes, suas línguas e suas culturas. No entanto, no 
conjunto do império impunham-se duas línguas: o grego "koiné", "comum", e o latim. 
 
A Dinâmica Religiosa de Roma 
Os romanos eram tolerantes em matéria religiosa, mas possuíam variadas religiões e 
deuses em seu seio, o maior de todos e que cidadãos e escravos deveriam prestar culto 
 
6 
era o imperador, o que tornou a vida dos cristãos num grande problema, pois só 
prestavam culto a Deus e não acreditavam no politeísmo como forma de adoração. 
Esses deuses oriundos das religiões e cultos do império podiam opor-se à mensagem 
evangélica. Não podiam ser também "escalas progressivas" para a revelação cristã. 
 
 
JESUS CRISTO 
Jesus Cristo é a base da origem da História da Primitiva. Assim Ele mesmo declarou 
sendo a pedra sobre a qual Ele fundaria sua igreja. Alguns perguntam: Cristo existiu 
realmente? Para respondermos, precisamos das "fontes históricas" da vida de Jesus, que 
o autor divide em três categorias: fontes cristãs como por exemplo a bíblia, fontes não 
cristãs e fontes pagãs. 
 
Cronologia de Jesus Cristo 
Considerar a figura de Jesus Cristo como personagem histórico e não como criação 
mítica implica considerar os eventos que compõem essa história em sua cronologia 
básica, conforme o que se expõe a seguir. 
 
Nascimento 
No ano 526, o monge Dionísio, o Exíguo, fez cálculos para fixar a data de nascimento 
de Jesus, e assinalou o ano 753 da fundação de Roma. Mas, segundo a cronologia 
moderna, Dionísio equivocou-se em 4 anos. Dessa forma, o nascimento de Cristo 
situar-se-ia no ano 749, o que configura um atraso de 4 anos no calendário ocidental 
vigente. 
 
Vida pública 
Alguns autores modernos como Van Beber, Belser, entre outros, fundamentando-se no 
testemunho de determinados Padres da Igreja, restringem a vida pública de Jesus a um 
ano de duração. No entanto, a maioria dos autores inclina-se para dois anos e meio. 
 
 
7 
Morte 
Como Cristo começou sua atividade pública aos trinta anos (Lc 3, 23), sua morte teria 
ocorrido nos anos 32-33, ou, 14 Nisan (1º mês do ano judaico) de 783 de Roma, isto é, 
7 de abril do ano 30. 
 
Atividade de Cristo 
Jesus nasceu, milagrosamente, de acordo com textos neotestamentários, de Maria 
Virgem em Belém. Até a idade de 30 anos levou uma vida oculta na pequena vila de 
Nazaré com seus pais. Depois disso, começou sua atividade de Mestre, ensinando uma 
mensagem de paz, amor e respeito; curando muitas pessoas de vários males e fazendo 
muitos milagres. Cristo não se apresentou como um reformador da religião judaica, e 
sim como o instaurador de um novo modo de viver a relação com Deus e com o 
próximo. 
 
COMUNIDADE DE JERUSALÉM E EXPANSÃO INICIAL 
Como era a vida da comunidade primitiva de Jerusalém? Esse é o questionamento que 
necessária a essa unidade. Lucas em atos descreve a comunidade primitiva da seguinte 
maneira: "tinham todos um só coração e uma só alma" (At 4, 32). Os discípulos 
continuavam participando na vida coletiva dos israelitas, mas, ao mesmo tempo, 
tinham consciência de que sua missão era formar uma "comunidade" particular, uma 
"ecclesia" ou seja um povo chamado, uma "assembleia oficial" do povo de Deus, o que 
constitui o ideal que forma essa primeira comunidade. A organização da referida 
comunidade é bem clara desde o princípio; os membros estão divididos em dois grupos 
bem distintos: os 12 e os demais. Os 12 têm Pedro como chefe, o que se pode perceber 
em vários momentos: na eleição de Matias 
O cotidiano da vida religiosa e moral da primeira comunidade primitiva foi marcada 
por idas ao Templo de Jerusalém e fidelidade à Lei mosaica. A despeito disso, aos 
poucos, os seguidores de Cristo, chamados de o caminho desenvolvem um culto 
variante entre i e ids ao templo e demonstração de fé na nova aliança com o rito do 
Batismo, na oração e na refeições diárias (At 2, 42), na comunhão de bens, visão 
 
8 
escalotológica e na espera do retorno eminente de Cristo, no entusiasmo movido pela 
ação e presença do Espírito Santo e pelas primeiras conversões e milagres. 
Considerando todo este processo de expansão e a riqueza de grupos que vão se 
formando no seio do Cristianismo, estudaremos, no próximo tópico desse material, 
como ocorreu sua expansão e como se deu a dinâmica de sua presença fora do contexto 
geográfico da Palestina. 
 
EXPANSÃO DO CRISTIANISMO FORA DA PALESTINA 
 
A expansão do cristianismo fora do contexto geográfico palestinense se deu em 
Antioquia. Observemos os contornos fundamentais da Comunidade Cristã fundada 
nesta região. 
 
Comunidade cristã de Antioquia 
 
Como se disse na abertura desta unidade, foi na cidade de Antioquia que se instituiu o 
primeiro centro de expansão cristã fora da Palestina. O livro Atos dos Apóstolos 
menciona duas comunidades cristãs importantes criadas nessa região: Damasco, por 
obra Ananias (At 9, 10) e Antioquia, fundada por cristãos helenistas de Jerusalém (At 
11, 19), onde a evangelização dirigiu-se aos judeus, bem como aos pagãos gregos (At 
11, 20). Em meados do ano 42, a comunidade cristã, nessa região, já era numerosa e os 
apóstolos enviaram Barnabé para organizar aquela Igreja, e este chamou Paulo (Atos 
11, 21-26) para colaborar na evangelização e nos trabalhos locais. 
 
Paulo, apóstolo dos gentios 
 
 Paulo, principal figura do Cristianismo primitivo, no passar da história do 
Cristianismo, se deu pela da morte de Estevão, cena em que Paulo é tido como um 
oponente dos cristãos. Considerando sua família, Paulo é de origem israelita, mais da 
 
9 
tribo de Benjamim, mas, também é considerado cidadão de Roma por ter nascido em 
Tarso da Cilícia, hoje região da Turquia, dominada pelos romanos em seu tempo. Sua 
formação religiosa, foi aos pés de Gamaliel, fiel às tradições judaicas, fariseu e 
perseguidor do Cristianismo, considerando-o uma "seita herética" do judaísmo (At 9, 1) 
conhecia a língua e cultura aramaica, e também cultura helenista, o que lhe deu acesso 
tanto às comunidades da diáspora, como às de outros 
povos, chamados pelos judeus de gentios ou pagãos. Seu trabalho missionário foi 
imenso, tendo feito várias viagens, passando por dezenas de cidades e fundando novas 
comunidades ou animando e reforçando a fé dos cristãos. 
 
Pedro e a fundação da Igreja de Roma 
A atividade apostólica de Pedro, até a sua libertação milagrosa do cárcere no ano 43, 
está amplamente descrita em Atos 1, 12. Desta data em diante, não se sabe nada a 
respeito de suas ações até sua participação ativa e principal no Concílio dos Apóstolos, 
no ano 50. Conhecemos sua presença em Antioquia pela carta de Paulo aos Gálatas (Gl 
2: 11-21). A estada de Pedro em Corinto, por sua vez, está testemunhada por São 
Paulo, que faz alusão à presença de um grupo de partidários de Pedro naquela cidade, o 
que se evidencia na seguinte fala: "Eu sou de Apolo, eu sou de Pedro" (1Cor 1, 12). 
Dionísio de Corinto (ano 170), por sua vez, diz que a sua Igreja foi fundada pelos 
apóstolos Pedro e Paulo, de acordo com o que relata Cesareia (2002, p. 49). 
 
Origem da Igreja de Roma - Estadia de São Pedro em Roma 
A fundação da Igreja romana remonta ao período logo após a morte doSenhor. Com 
efeito, nos tempos do imperador Cláudio (41- 54) já havia judeu-cristãos em Roma. Em 
meados do ano 47 ou 49 Cláudio teria desterrado os judeus de Roma por conta dos 
tumultos que organizavam impulsore Chresto (por causa de um "tal" Cresto). A 
contribuição dada por São Pedro no advento da Igreja de Roma, por sua vez, é 
testemunhada por São Jerônimo (século 4º), que afirma que São Pedro: "pontificou em 
Roma pelo espaço de 25 anos", não sendo necessário entender estes 25 anos como uma 
permanência contínua. 
 
10 
 
Entende-se por testemunhos literários os documentos escritos que sustentam as 
pesquisas e estudos históricos. E em se tratando do tema desenvolvido neste tópico, 
destaca-se a primeira Carta de Pedro. Nesse documento, em que profere a expressão: 
"vos saúda a Igreja da Babilônia" (5, 13), Pedro evidencia a concreta instituição da 
Igreja em Roma, tendo em vista que o termo "Babilônia" 
se trata, na verdade, de expressão figurativa utilizada para se referir ao nome real da 
cidade, no caso, "Roma", o que ocorre inclusive em passagens da Bíblia, como no caso 
do Apocalipse, capítulo 17, versículo 5 e capítulo 18, versículo 2. Outro testemunho 
literário importante, a propósito do que se apresenta neste tópico, é o de Clemente 
Romano (95), que escreve à Igreja de Corinto, dizendo que Pedro e Paulo "foram entre 
nós um belo exemplo", referindo-se ao martírio desses personagens. 
 
Testemunhos arqueológicos 
Os testemunhos arqueológicos são, por sua vez, as fontes materiais por intermédio das 
quais se processa a pesquisa histórica. No que diz respeito às fontes materiais que 
evidenciam a atuação de Pedro em Roma, destacam-se as "Catacumbas de São 
Sebastião e Basílica de São Pedro no Vaticano". Considerando-se o que já se pôde 
descobrir, a propósito dos testemunhos arqueológicos disponíveis, o mais provável a 
respeito da presença de Pedro em Roma é que teria chegado a Roma no período entre 
os anos 43-44, permanecendo na cidade até a expulsão dos judeus por ordem do 
Imperador Cláudio, motivada pelas disputas frequentes e tumultuadas que a pregação 
do Cristianismo causava entre os judeus (47-49). Quando Nero permitiu o regresso dos 
judeus a Roma (56), Pedro regressou à cidade, tendo ali permanecido até sua morte em 
29 de junho do ano 67, no desfecho da perseguição que sofreu da parte daquele 
imperador. 
 
Atividade dos demais apóstolos 
Uma tradição antiga e bastante fundada afirma que os apóstolos permaneceram em 
Jerusalém 12 anos antes de espalharem-se pelo mundo. A respeito da vida e obra 
 
11 
desses apóstolos 
 
 
UNIDADE 2 
 
ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA DA IGREJA 
 
Quando iniciou seu movimento na Palestina, Jesus reuniu apóstolos e discípulos, 
formou uma comunidade e, paulatinamente, foram estruturadas regras de convivência 
específicas às quais o grupo formado, assim como o que normalmente acontece com 
qualquer grupamento social, deveria se submeter. 
Ao longo da caminhada da Igreja e de sua consequente expansão para além dos limites 
da Palestina, sobretudo durante os primeiros séculos e considerando-se as dificuldades 
e possibilidades que se apresentaram nessa trajetória, os referidos pilares que 
sustentaram a ação apostólica se consolidaram, configurando uma verdadeira 
"sociedade organizada", o que implica reconhecer a instituição de uma estrutura social 
com hierarquia e dinâmica bem definidas. 
 
HIERARQUIA DA IGREJA 
 
Nas primeiras décadas em que se desenvolveu o Cristianismo, toda a autoridade 
eclesial foi centralizada na pessoa de Pedro (por mandato do próprio Cristo) e dos 
apóstolos. A expansão cristã, expressa na fundação de centenas de comunidades, no 
entanto, fomentou a necessidade de descentralizar a direção das comunidades, que já 
não tinham condições para se submeter à direção somente dos apóstolos e seus 
auxiliares mais diretos, muitos deles dotados de dons carismáticos (doutores, profetas e 
evangelistas). 
Nesse contexto, foram criados novos cargos e ofícios eclesiásticos que, por sua vez, 
alcançaram posição de destaque na configuração hierárquica da Igreja, inicialmente 
constituída por epíscopos, presbíteros e diáconos. Esses ofícios eram atribuídos 
 
12 
mediante cerimonial específico e sobreviveram ao longo do processo de propagação do 
Cristianismo na medida em que sua posição se consolidou na dinâmica hierárquica 
da Igreja. 
 
Bispos, presbíteros e epíscopos 
 
Nos escritos do Novo Testamento, os ofícios de "presbítero" e "bispo", cujos primeiros 
representantes teriam sido eleitos pelos apóstolos, são apresentados como sinônimos. 
Com efeito, bispos e presbíteros desempenham mais ou menos o mesmo ofício: pre88 
gação, celebração da eucaristia e governo da comunidade cristã local, competindo, 
especificamente ao bispo, a admissão do catecúmeno e a expulsão dos indignos 
(excomunhão). A diferenciação conceitual entre os ofícios mencionados anteriormente 
e o ofício de epíscopo também é bastante difusa, tendo em vista que, na origem, os 
termos parecem indicar atribuições coincidentes. 
 
Sacerdotes 
 
O ofício de sacerdote, por sua vez, também se submetia ao de bispo. Sob essa 
perspectiva, os sacerdotes não podiam exercer nenhum ministério sem sua aprovação e 
somente por encargo ou delegação do bispo poderiam presidir a eucaristia e a 
administração dos sacramentos. 
 
Outros Ofícios (ordens menores) 
 
Além dos ofícios mencionados nesses últimos itens, merecem destaque também, a 
despeito de seu status "menor" na hierarquia da Igreja, os de subdiácono, acólito, leitor, 
exorcista e ostiário ou porteiro, assim como aqueles que especificamente se referiam 
aos serviços femininos como os de diaconisa (que prestava auxílio no batismo e na 
assistência aos doentes e pobres) e de viúva (que se dedicada à oração). 
 
Importa destacar que não era permitido aos neófitos (pagãos recém-convertidos ao 
 
13 
Cristianismo ou pessoas que vão receber o batismo ou foram recentemente batizadas); 
os penitentes públicos; os clínicos (que receberam o chamado batismo clínico, ou seja, 
que foram batizados na iminência da morte por conta do acometimento de enfermidade 
grave) e os casados pela segunda vez, ocupar esses ofícios e, consequentemente, não 
podiam ocupar também os ofícios procedentes do sacramento da ordem. 
A propósito dos impedimentos listados no parágrafo anterior, convém destacar que o 
casamento não configurava, em si, naquele momento histórico, um impedimento à 
ocupação dos referidos ofícios, mas sim um segundo casamento. Mesmo porque o 
celibato eclesiástico nem sempre integrou a dinâmica da Igreja, tendo sido instituído na 
Igreja latina paulatinamente. Com efeito, o celibato eclesiástico ainda hoje subsiste na 
Igreja Católica Romana, enquanto é facultativo nas igrejas ortodoxas. 
 
DIOCESES, PROVÍNCIAS ECLESIÁSTICAS, PATRIARCADOS 
E PRIMADO DE ROMA 
No contexto da dinâmica hierárquica característica da Igreja, conforme o que se 
apresentou no item anterior, os membros das diversas igrejas que integravam a 
instituição como um todo, a despeito de suas especificidades locais, tinham consciência 
de que representavam parte de um todo hierarquicamente superior: o Corpo Místico de 
Cristo, o que conferia à Igreja certa homogeneidade estrutural. A intensificação do 
processo de expansão do Cristianismo, no entanto, tanto dentro dos limites do Império 
Romano quanto fora deles, materializou-se na fundação de inúmeras comunidades com 
elementos locais e regionais muito mais contundentes. 
 
SÍNODOS E CONCÍLIOS 
 
A instituição conciliar não era desconhecida na Igreja primitiva, mas adquiriu 
importância após a conversão de Constantino. A proliferação dos sínodos, por sua vez, 
ocorreu a propósito do advento das heresias e também da consideração de que estes 
constituíam uma instituição necessária para o exercício harmonioso e regular do 
governo da Igreja. 
 
14 
 
CULTO E SACRAMENTOSPara compreender a dinâmica do culto cristão, bem como o lugar que os sacramentos 
ocupam nessa dinâmica, é fundamental reconhecer que a identidade litúrgica e cultural 
cristã levou séculos para se organizar e consolidar. Além disso, como já afirmamos, 
Jesus e seus primeiros seguidores eram judeus. Essa assertiva implica reconhecer que o 
culto cristão sofreu uma grande influência do culto judaico. Essa filiação judaica, no 
entanto, não é irrestrita, tendo em vista que a tradição cristã reivindica uma 
originalidade estrutural. 
 
Considerada essa originalidade reivindicada, o culto e os sacramentos cristãos 
articularam-se sobre alguns elementos fundamentais expressos no livro dos Atos dos 
Apóstolos em seus primeiros capítulos (o ensinamento dos apóstolos, a comunhão 
fraterna, a fração do pão e as orações em comum: At 1,4). Com base nesses 
fundamentos é que, paulatinamente, se desenvolveu o "modo cristão" de viver e 
celebrar a fé e a vida em comunidade. 
 
Batismo 
O batismo, administrado pelos apóstolos aos convertidos no momento imediatamente 
posterior em que estes realizavam a profissão de fé em Cristo, configura a admissão à 
Igreja. Até o século 2º, ao que tudo indica, o batismo era administrado somente aos 
adultos, muito embora o ato de se batizar as crianças configure, para Irineu (180) e para 
Orígenes (254), uma tradição apostólica. O batismo podia ser administrado por 
qualquer cristão, mas, geralmente, era conduzido pelo bispo. Ocorria, inicialmente, 
somente por ocasião da vigília pascal, situação que se modificou posteriormente, 
admitindo-se a realização da cerimônia em outros momentos do ano litúrgico. 
 
Catecumenato 
O catecumenato é definido como o tempo destinado à preparação que antecede o 
batismo do neófito, que por sua vez pode ser definido da seguinte maneira: "pagão 
 
15 
recém-convertido ao cristianismo; cristão-novo [...] pessoa que vai receber o batismo 
ou recentemente batizada" (HOUAISS, 2009). Na verdade, não podemos falar de uma 
catequese propriamente dita nas primeiras décadas de existência do Cristianismo, já 
que os primeiros convertidos eram judeus que eventualmente tiveram acesso à 
pregação apostólica e se integraram à comunidade cristã primitiva em Jerusalém ou em 
comunidades oriundas da Diáspora. 
A despeito disso, a preparação para a profissão do Cristianismo, de início, centrava-se 
nos ensinamentos de Jesus e na sua ressurreição. Posteriormente, com o advento de 
obras escritas, como os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, bem como outros 
escritos e cartas neotestamentárias, enfatizava-se não somente os ensinamentos de 
Jesus, mas também relatos sobre a vida de Jesus e das comunidades primitivas, tendo a 
catequese se colocado a serviço da instrução dos novos membros da comunidade cristã 
(judeus ou pagãos). A expansão da conversão dos pagãos ou gentios ao Cristianismo 
estimulou a necessidade de uma preparação mais elaborada. 
 
Eucaristia 
 
A eucaristia ou "fração do pão", no tempo dos apóstolos, era celebrada pela tarde, 
constituindo-se como uma "comida de frater nidade" ou ágape, termo que designa uma 
"festa dos primitivos cristãos que consistia em uma refeição comum com a qual era 
celebrado o rito eucarístico" (HOUAISS, 2009) em recordação à última Ceia do Senhor 
e que desapareceu definitivamente no século 4º. Por ocasião da proibição das "eterias" 
por obra do imperador Trajano (98-117), os cristãos passaram a celebrar a Eucaristia 
pela manhã, afastando a cerimônia do conceito de "comida da fraternidade", que, por 
sua vez, acabou por se converter, paulatinamente, em mero evento beneficente em 
proveito aos pobres. 
 
 
 
 
 
 
16 
Unção dos enfermos 
Jesus Cristo desenvolveu uma atenção muito especial pelos doentes e os escritos 
neotestamentários reforçam esta dimensão eclesial. Assim, no Cristianismo antigo, 
quem cuidava mais dos doentes eram os diáconos e diaconisas, juntamente com outras 
obras de misericórdia, como a atenção aos órfãos, viúvas, escravos, prisioneiros etc. 
Sobre este sacramento, Gómez (1995, p. 80. Tradução de Ronaldo Mazula) afirma que: 
"o "Sacramentário gregoriano" contém prescrições especiais para a administração deste 
sacramento e para a consagração dos óleos. " 
 
Ordem 
Os candidatos ao sacerdócio, inicialmente, eram escolhidos pelos apóstolos e se exigia 
deles qualidades morais e intelectuais. Podiam ser recrutados também entre homens 
casados, mas, com o passar do tempo, foi se exigindo o celibato dos candidatos. Com a 
expansão do Cristianismo, os bispos foram assumindo esta função e cuidavam da 
preparação destes. A ordenação, ministrada unicamente pelo bispo, essencialmente, 
acontecia mediante a imposição das mãos e oração consecratória. Posteriormente à 
administração do sacramento da ordem, foram acrescentadas algumas cerimônias 
simbólicas (entrega do cálice e patena, prostração, unção com óleo etc.). 
 
Matrimônio 
A santidade do matrimônio é defendida pelos Santos Padres desde o século 2º. A 
despeito disso, foi somente no século 4º que se estabeleceu e clarificou as posições da 
Igreja em relação a esse sacramento, bem como em relação à virgindade. Paralelamente 
a esse processo, a legislação civil, que regulava o matrimônio, conformou-se à 
legislação eclesiástica durante os séculos 4º e 5º. Muitas peculiaridades marcavam a 
dinâmica do matrimônio no contexto desse momento da História da Igreja. Entre essas 
peculiaridades merece destaque, em primeiro lugar, o fato de que, no Ocidente, a 
bênção nupcial era celebrada durante o transcurso das missas, enquanto no Oriente 
admitia-se a celebração em eventos desvinculados das missas e até em ambientes 
privados. Em segundo lugar, destaque-se a proibição da contração de vínculo 
matrimonial com hereges e infiéis. 
 
17 
 
Penitência 
A propósito das conversões do século 4º, pessoas com pouco espírito de fervor 
ingressaram na dinâmica da Igreja. Essa situação promoveu a multiplicação de 
escândalos, cuja marca era a inobservância evidente da doutrina e dos mandamentos 
defendidos pela Igreja (pecado), escândalos esses que estimularam a Igreja a 
desenvolver e exercitar o seu "direito penal". A pena mais grave, nesse contexto, era a 
"excomunhão", por meio da qual o fiel ficava excluído da Igreja. A aplicação desta 
pena se dava a propósito da incidência dos três pecados canônicos: apostasia, adultério 
e homicídio. Os clérigos, por sua vez, eram castigados mediante a "suspensão" e 
"deposição" do cargo. Na Espanha, os bispos eram castigados mediante a privação da 
"comunhão fraterna" e do direito de assistir aos sínodos. 
 
FESTAS CRISTÃS E MEIOS DE SANTIFICAÇÃO 
Considerados os cultos e sacramentos cristãos, importa abordar um outro viés do culto 
cristão, o das suas principais festividades, bem como os meios pelos quais se pode 
alcançar a santificação. 
 
ASCETAS, VIRGENS E ORIGEM DA VIDA MONÁSTICA 
Os cristãos não se distinguiam dos demais cidadãos em seu gênero de vida exterior. 
Geralmente, desempenhavam os mesmos ofícios que realizavam antes da conversão, 
não se apercebendo da possibilidade de incorrerem na idolatria e de imoralidade, muito 
embora, por conta da especial aversão aos teatros, os atores convertidos ao 
Cristianismo tinham que abandonar seu ofício, situação que também se aplicava aos 
gladiadores. Dentre a massa comum dos cristãos, no entanto, sobressaía, em cada 
comunidade, um grupo de homens e de mulheres que aspiravam à perfeição da vida 
cristã: os ascetas e as virgens. 
A importância dos mosteiros no contexto em questão também se reflete na medida em 
que são considerados o refúgio da ciência e cultura durante os séculos de ignorância e 
barbárie da alta Idade Média. Além disso, considerando as dimensões econômica, 
social e cultural, a fundação de um mosteiro, quase sempre em regiões inóspitas, seguia 
 
18 
o estabelecimento das bases da civilização e da agriculturaem lugares abandonados em 
que a terra nunca fora cultivada. Muitas cidades europeias e povos, inclusive, tiveram 
sua origem e organização iniciais ligadas à fundação de um mosteiro. 
 
CISMAS E HERESIAS DOS PRIMEIROS SÉCULOS 
As heresias e cismas estabeleceram-se já no contexto em que se deu o advento da 
Igreja, momento em que os mais relevantes princípios da doutrina cristã eram o 
monoteísmo e a doutrina da Trindade (Mt 28, 19). O próprio Cristo já previra a 
chegada de falsos mestres e doutores (Mc 13, 6). Inicialmente, as heresias ocorriam no 
mundo judaico, considerando- se o ambiente em que se desenvolviam. Com a expansão 
cristã, entretanto, expandiram seu universo de ocorrência para outros contextos 
religiosos e culturais, de modo especial no contexto greco-romano. 
A análise das referidas propostas por meio das quais se busca conceituar a heresia, bem 
como situá-la no contexto do desenvolvimento da Igreja, revela uma relação paradoxal 
entre seus conteúdos. De fato, se por um lado as heresias são vistas como "danosas" ao 
desenvolvimento da Igreja, por outro se colocam como útil ferramenta a esse mesmo 
progresso. 
 
Heresias judaizantes 
As heresias judaizantes são definidas, de modo geral, como a incidência, da parte dos 
chamados "judeus-cristãos" (século 1º), que não aceitaram a universalidade do 
Cristianismo e defenderam a vigência da Lei Mosaica, em erro caracterizado como a 
inobservância à doutrina e regras vigentes. As correntes ligadas a essa modalidade 
herética dividem-se em duas categorias principais: a dos que se limitavam a 
permanecer 
fiéis à Lei de Moisés e os que ousaram impor a observância dessa lei, sobretudo a 
circuncisão, aos cristãos provenientes do paganismo. Essas duas correntes principais 
abrigavam, em seu interior, várias tendências judaizantes, cada uma com suas 
características específicas e entre as quais se destacam as seguintes 
 
 
 
19 
 
 
Gnosticismo 
O termo "gnosticismo" refere-se a um movimento anterior ao Cristianismo, cuja 
origem etimológica nos remete ao sentido do termo gnosis (ciência). As primeiras 
influências desse movimento na dinâmica do Cristianismo deram-se nas chamadas 
comunidades paulinas, a despeito de que Paulo, nesse contexto, previne seus fiéis da 
"falsa gnose" (Cl 2, 2). A gnose, com efeito, é considerada, de acordo com Ribeiro 
(1989, p. 24): "[...] a heresia mais complexa, que compreende elementos filosófico-
religiosos orientais e cristãos", afirmação que define o termo e, ao mesmo tempo, 
determina sua importância no contexto do desenvolvimento do Cristianismo. Dessa 
forma, o movimento ligado à prática da gnose caracterizava-se pela ação de filósofos 
convertidos ao Cristianismo que 
pretendiam introduzir as verdades da fé no âmbito das especulações filosófico-
religiosas, na intenção de "elevar" o Cristianismo do "plano inferior" da fé ao "plano 
superior" da gnose. Com efeito, esse movimento gnóstico pré-cristãos prometia, 
portanto, um conhecimento mais profundo da divindade; um caminho seguro para 
libertar-se do pecado; a solução do problema do mal; o dualismo e o problema da 
criação, o demiurgo. 
 
Montanismo ou milenarismo 
O Milenarismo representou a esperança e crença em um eventual e próximo retorno de 
Cristo ao mundo para fundar um "reino milenar" com seus eleitos. Ao final do 
transcurso de mil anos da fundação desse reino, ocorreria a ressurreição geral e o juízo 
universal. Seu advento está ligado à ação de Montano, sacerdote pagão da deusa 
Cibeles que, convertido ao Cristianismo, se desviou logo da fé ortodoxa, elaborando e 
introduzindo suas ideias heréticas na Frígia, região da Ásia Menor, em torno do ano 
150. O sacerdote Montano considerava a si mesmo como instrumento do Espírito Santo 
para conduzir a Igreja à perfeição. Sua doutrina destacava o iminente retorno de Cristo, 
que, por sua vez, o teria enviado por meio do Espírito Santo para estabelecer o reino 
milenário na Terra. Essa doutrina baseava-se no rigorismo moral (inicialmente, os 
 
20 
montanistas pregavam a renúncia ao matrimônio, o jejum rigoroso três dias por semana 
e proibiam que se fugisse diante de eventual possibilidade de submissão ao martírio) e 
no rigorismo penitencial (admitiam o poder da Igreja para perdoar os pecados, mas 
recomendavam 
que não se fizesse uso desse poder, pois entendiam que os fiéis, contando com a 
alternativa de receber o perdão da Igreja, poderiam incorrer em negligência deliberada 
em relação à observância das regras da Igreja às quais se submetiam). 
 
Heresias antitrinitárias 
Foi em meados do ano 180 d.C. que o escritor cristão Teófilo de Antioquia utilizou 
pela primeira vez a palavra 'tríade' ou 'trindade' para explicar a fé num só Deus em três 
pessoas que configura o dogma da Santíssima Trindade. Com efeito, segundo esse 
dogma, a Trindade Sagrada representa um só Deus (em outras palavras, o Pai é Deus, o 
Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus). A oposição a esse dogma é o que define 
mencionada heresia antitrinitária, cujas primeiras ocorrências caracterizaram-se pela 
negação da divindade de Cristo a propósito da dificuldade encontrada pelos indivíduos 
que incorreram na prática dessas heresias em conciliá-la com o monoteísmo. 
 
Controvérsias penitenciais (Cismas) 
A Igreja primitiva (séculos 2º ao 4º), entendida e organizada como "comunidade dos 
santos", exigia de seus fiéis um alto rigor moral. O ideal era conservar a inocência 
batismal até a "vinda do Senhor". Consequência disso foi uma práxis penitencial 
rigorista e uma disciplina muito exigente para a vida cotidiana dos cristãos. A despeito 
disso, a falta de uma práxis penitencial uniforme deu origem a muitos abusos como no 
caso de bispos que isentavam, perpetuamente, os réus da penitência de pecados capitais 
(mortais), sobretudo a idolatria, o homicídio e o adultério. Sob essa perspectiva, houve 
até quem negasse à Igreja o poder de perdoar os pecados. Foi neste contexto que se deu 
o advento das chamadas controvérsias penitenciais, algumas das quais tendo provocado 
grandes cismas, como, por exemplo, os mencionados a seguir: 
 
 
 
21 
HERESIAS, CISMAS E CONCÍLIOS DOS SÉCULOS 4º AO 7º 
As lutas dogmáticas estiveram presentes na dinâmica da Igreja durante o período entre 
os séculos 4º e 7º, situação essa que se explica pelo fato de que muito embora o 
Cristianismo tenha se expandido por todas as esferas do Império Romano, os novos 
cristãos não deixaram seus costumes pagãos nem abandonaram 
seu modo de pensar anterior à conversão. Nesse item do material, conduziremos a 
discussão acerca do advento e desenvolvimento dos cismas e concílios ocorridos entre 
os séculos 4º e 7º, além de revisitarmos a abordagem das heresias, tais como as heresias 
monarquicas dos séculos 2º e 4º, que deram origem a várias heresias trinitárias e a 
questões que colocaram em xeque a identidade da Igreja, bem como as heresias 
soteriológicas, originárias do contexto marcado pela tensão entre esses conceitos tão 
caros à dinâmica da igreja: os da liberdade e os da disciplina. 
 
Controvérsias trinitárias: o arianismo 
Para compreender a essência das chamadas controvérsias trinitárias, em especial o 
arianismo, é fundamental conhecer a figura de Ário, personagem importante no 
contexto do desenrolar dessas controvérsias. Ário nasceu na Líbia, em 256. Foi 
presbítero em Alexandria. Tinha influência sobre o clero e sobre as virgens por conta 
de seu ascetismo e oratória. Influenciado pela heresia subordinacionista (segundo a 
qual o Filho é inferior ao Pai), negava a eternidade do Verbo, a consubstancialidade do 
Filho com o Pai e a divindade do Filho. Afirmava que o Filho é uma criatura do Pai e 
que o Filho é o instrumento de que se serviu o Pai para a criação do mundo, heresia 
esta que atacava o núcleo da doutrina cristã, pois ao afirmar que Jesus, o Verbo, não 
era Deus, comprometia a obra da redenção realizada por JesusCristo. 
O Concílio Ecumênico de Constantinopla (381) confirmou a fé nicena (símbolo 
niceno-constantinopolitano) e a divindade do Espírito Santo, além de condenar várias 
heresias como as relacionadas à ação dos arianos, macedonianos, fotinianos, 
apolinaristas, sabelianos etc. Apesar das condenações, os arianos ainda continuaram 
atuando por vários séculos, inclusive mediante as heresias cristológicas, tema que 
abordamos no próximo item. 
 
 
22 
Controvérsias cristológicas: controvérsias a respeito de Cristo 
No Concílio de Niceia, foi combatido, conforme o que se disse anteriormente, o 
chamado "erro ariano", que questionava a divindade do Filho de Deus. Essa heresia, no 
entanto, não detinha a exclusividade do questionamento da figura do Cristo, na medida 
em que outras heresias foram criadas para abordar, por exemplo, e em especial, a 
questão da natureza humana e divina de Jesus Cristo. Entre essas heresias que se 
desenvolveram no Oriente cristão. 
 
Controvérsias soteriológicas 
Enquanto no Oriente desenvolviam-se as lutas trinitárias e cristológicas, no Ocidente 
ventilavam-se questões prático-religiosas que tinham por objeto a Igreja como 
instituição salvífica (donatismo), a condição originária do homem e as relações entre a 
graça e a liberdade humana (pelagianismo e semipelagianismo). Essas discussões 
remetem a reflexão ao conceito da Soteriologia, bem como às doutrinas que, no 
contexto mencionado, se filiaram a esse conceito. Com efeito, a Soteriologia, segundo 
o Dicionário Houaiss (2009), refere-se à "parte da teologia que trata da salvação do 
homem" ou à "doutrina da salvação da humanidade por Jesus Cristo". E entre as 
doutrinas criadas sob esse fundamento, destacam-se o Donatismo e o Pelagianismo, 
cuja natureza é detalhada nos itens seguintes. 
 
 
Donatismo 
O Donatismo expressou-se em doutrinas rigoristas, rebatização dos hereges e 
novacionismo, que faziam depender a eficácia dos Sacramentos não somente da fé 
ortodoxa, mas também da moralidade da autoridade que os ministra (dispensa). Os 
adeptos dessas doutrinas erravam também no que diz respeito à organização da Igreja, 
a qual não admite pecadores em seu seio. O cisma donatista foi solucionado 
definitivamente a propósito de sua condenação por ocasião do Sínodo de Cartago 
(411). 
 
 
 
23 
Pelagianismo 
Pelagianismo refere-se à doutrina elaborada contra os cristãos que se desculpavam pela 
vida pouco fervorosa na debilidade da natureza humana; deve sua denominação à obra 
de Pelágio (354-437), monge inglês que viveu em Roma. Pelágio foi um asceta com 
vida austera, que, ao perceber o estilo de vida mundana e imoral de muitos cristãos, 
propôs uma doutrina segundo a qual o homem, com esforço próprio, pode praticar as 
virtudes e fugir de todo pecado, prescindindo da ajuda divina. Dessa forma, pregava 
uma doutrina extremista, pela qual se nega a existência do pecado original e se 
reconhece somente a existência dos pecados pessoais. 
 
PADRES APOSTÓLICOS E ESCRITORES ECLESIÁSTICOS 
(SÉCULOS 1º AO 3º) 
 
O conteúdo desse item consiste, como o seu próprio título sugere, na abordagem das 
linhas gerais que configuram a obra dos chamados Padres Apostólicos, bem como de 
outros escritos produzidos no período em questão. 
 
Padres apostólicos 
Os chamados Padres Apostólicos foram discípulos dos apóstolos que atuaram como 
escritores, tendo sido os seus escritos produzidos e divulgados após o advento do Novo 
Testamento, em especial no período que se estende do final do século 1º até a primeira 
metade do século 2º. A obra inclui importantes escritos de tipo pastoral para edificação 
e instrução (Koiné, em grego vulgar), importância essa que é reconhecida por 
Bihlmeyer e Tuechle (1962, p. 172), segundo os quais essa obra constitui: 
 
 
Apologistas 
Os cristãos, durante os três primeiros séculos, foram objeto de ódio da parte do Estado, 
dos intelectuais e do povo. As apologias, produzidas ao longo do período entre os 
séculos 2º e 4º, após a morte de Juliano, o Apóstata, em 363, não configuraram obras 
sistemáticas ou tratados de religião, mas obras polêmicas produzidas para refutar as 
 
24 
objeções de seus adversários e, por isso, dirigiam-se contra e hereges oponentes do 
Cristianismo. 
 
Apócrifos (séculos 2º ao 4º) 
O termo "apócrifos" ("escondidos" ou "falsos") refere-se aos escritos, heréticos ou 
ortodoxos (alguns dos quais suprem as lacunas da Bíblia sobre temas como a infância 
de Jesus e a morte de Maria Santíssima), que se apresentam, falsamente, como sendo 
de origem bíblica ou canônica. A maioria desses escritos, na verdade, é de origem 
gnóstica. 
 
Outros escritos dos séculos 2º e 3º 
Outros autores, além dos listados anteriormente, merecem destaque no contexto em 
questão, quais sejam: 
• Gregos: Panteno, Clemente Alexandrino, Orígenes, Dionísio de Alexandria, Gregório 
Taumaturgo, Hipólito e Irineu. 
• Latinos: Tertuliano, Minúcio, Arnóbio, Lactâncio e Cipriano. Foi nesse mesmo 
contexto em que se deu a produção escritaabordada até aqui, a qual desenvolveu a 
organização e a definição dos contornos do chamado Novo Testamento, temática essa 
que é abordada no próximo item. 
 
A formação do Novo Testamento 
A propósito do processo de construção do Novo Testamento, Drane (1985, p. 86-87) 
propõe um esquema cronológico (com datas aproximadas) que detalha a evolução 
desse processo, bem como do uso que se faz dos escritos bíblicos do Novo Testamento, 
esquema esse que é apresentado a seguir: 1) Ano 100 d.C. - Diversas partes do Novo 
Testamento foram escritas neste tempo, mas não estavam ainda reunidas, nem eram 
definidas como "Escritura". Autores cristãos primitivos, como Policarpo e Inácio, 
fazem citações dos evangelhos e das Cartas de Paulo do mesmo modo que o fazem em 
relação a outros escritos e fontes orais. As Cartas de Paulo foram reunidas 
definitivamente no final do século 1º. Os escritos de Marcos e Lucas, por sua vez, 
foram reunidos em meados do ano 150 d.C. 2) Ano 200 d.C. - Nesse momento, o Novo 
 
25 
Testamento, usado na igreja de Roma (o "Cânon de Muratori"), com preende os 
seguintes escritos: os quatro evangelhos; os Atos; as Cartas de Paulo (Romanos; 
Coríntios, I e II; Gálatas; Efésios; Colossenses, I e II; Tessalonicenses, I e II; Timóteo, 
Tito e Filêmon); Tiago, I e II; João; Judas; o Apocalipse de João; o Apocalipse de 
Pedro; a Sabedoria de Salomão e O Pastor de Hermas (para ser usado no culto 
particular, mas não no culto público). 3) Ano 250 d.C. - Nesse contexto, o Novo 
Testamento, utilizado por Orígenes, compreende as seguintes obras: os quatro 
evangelhos; Atos; Cartas de Paulo (Romanos, I e II; Coríntios; Gálatas; Efésios; 
Colossenses, I e II; Tessalonicenses, I e II; Timóteo; Tito e Filêmon); Pedro I; João I; 
Apocalipse de João. Outras obras que configuraram alvo de discussão no período e 
também merecem ser destacadas são as seguintes: Hebreus, Tiago, Pedro II, João II e 
III, Judas, O Pastor de Hermas, Carta de Barnabé, Doutrina dos Doze Apóstolos 
(Didaqué) e Evangelho dos Hebreus. 4) Ano 300 d.C. - O Novo Testamento, usado por 
Eusébio nesse período, era composto das seguintes obras: os quatro evangelhos; Atos; 
Cartas de Paulo (Romanos, I e II; Coríntios; Gálatas; Efésios; Colossenses, I e II; 
Tessalonicenses, I e II; Timóteo; Tito e Filêmon); Pedro I; João I; Apocalipse de João 
(de autoria duvidosa). As obras Tiago, Pedro II, João II e III e Judas são discutidas, 
mas bem conhecidas. O Pastor de Hermas, a Carta de Barnabé, o 
Evangelho dos Hebreus, o Apocalipse de Pedro, os Atos de Pedro e a Didaqué, por sua 
vez, devem ser excluídos. 5) Ano 400 d.C. – O Novo Testamento, recomendado para 
o Ocidente pelo Concílio de Cartago, era composto pelos quatro evangelhos; Atos; 
Cartas de Paulo (Romanos, I e II; Coríntios; Gálatas; Efésios; Colossenses, I e II; 
Tessalonicenses, I e II; Timóteo; Tito e Filêmon); Hebreus; Tiago; PedroI e II; João I, 
II e III; Judas e Apocalipse. 
 
 
PADRES DA IGREJA E ESCRITORES ECLESIÁSTICOS 
DOS SÉCULOS 4º AO 7º 
Os Padres da Igreja ou Santos Padres de maior destaque no período foram os seguintes: 
 
• Escritores gregos ou orientais (intensamente especulativos) - Eusébio de Cesareia 
 
26 
(265-340), considerado o pai da História Eclesiástica; Santo Atanásio (295-373), 
considerado, por sua vez, o pai da ciência teológica; São Cirilo de Jerusalém (313-
387); São Basílio, o Grande (331-379); São Gregório Nazianzeno (330-390); São 
Gregório de Nissa (334-394); Dídimo, o Cego (+395); Teodoro de Mopsuéstia (+428); 
São João Crisóstomo (+407); São Cirilo de Alexandria (+444) e Sofrônio de Jerusalém 
(+638). 
• Escritores latinos ou ocidentais (menos especulativos que os orientais; eram mais 
voltados para as questões práticas e disciplinares) - Santo Hilário de Poitiers (315-366), 
o 
grande exegeta "Atanásio do Ocidente"; Santo Ambrósio (339-397); Prudêncio (348-
405), maior poeta cristão latino; São Paulino de Nola (353-431); São Jerônimo (347- 
420), que estudou a Bíblia Vulgata; Santo Agostinho (354-430), um dos maiores gênios 
de todos os tempos, cuja produção inclui obras importantes como Confissões, A Cidade 
de Deus, Enchiridion ad Laurentium (exposição sistemática do dogma cristão) e De 
Doctrina christiana e De Trinitate; Cassiano (+435), cujas obras, entre as quais se 
destacam Collationes Patrum (conferências dos padres do deserto) e Sobre as 
instituições dos cenóbios, que aboram a vida monástica, o credenciam como autor 
clássico; São Leão, o Grande (+461), um dos papas mais ilustres da Antiguidade 
Cristã; São Gregório Magno (540-604) e Santo Isidoro de Sevilha (+636). 
Considerados os tópicos abordados nesta unidade, impõe--se a necessidade de avaliar a 
assimilação dos conceitos discutidos, bem como o desenvolvimento das competências 
fundamentais para o prosseguimento dos estudos, o que se faz mediante os 
instrumentos de autoavaliação propostos no item a seguir. 
 
UNIDADE 3 
 
PERSEGUIÇÕES DO IMPÉRIO ROMANO AOS CRISTÃOS 
 
O Cristianismo, desde suas origens, precisou fortalecer sua identidade e conquistar seu 
espaço religioso e social num ambiente marcado pela forte presença da cultura judaica 
onde nasceu e, também, pela influência política, social e religiosa das culturas romana 
 
27 
e grega. 
 
Hostilidades judaicas 
Desde as primeiras décadas do Cristianismo, os judeus hostilizaram os cristãos (morte 
de Jesus, de Estevão, prisão de Pedro e dos apóstolos etc.), e muitos escritores cristãos 
falam que as sinagogas judaicas eram "mananciais das perseguições". Assim, o 
primeiro desafio do Cristianismo foi libertar-se das influências judaicas, pois tanto 
Jesus como seus discípulos eram todos judeus. Tanto que, inicialmente, os cristãos 
conviviam harmonicamente com os costumes sociais e religiosos judaicos, e só com o 
decorrer de algumas décadas, é que foram se separando da tradição judaica. 
 
A cisão aumentou a conversão de judeus ao Cristianismo e, principalmente, de pagãos 
ou gentios. Também, com a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C, e com a 
consequente dispersão judaica a separação entre Judaismo e Cristianismo teve seu 
golpe final. 
É claro que essa ruptura foi no plano mais disciplinar e institucional, pois a liturgia, os 
escritos e os hábitos judaicos permaneceram presentes na vida dos cristãos. Após 
escrever a expansão da comunidade cristã jerosomilitana e o início de um grande ciúme 
por parte dos judeus, González assim descreve a primeira perseguição sofrida pelos 
primeiros cristãos, quando fala do ocaso da Igreja judaica: 
 
Império Romano e Cristianismo 
Os romanos, que dominavam a Palestina no tempo de Jesus, evitavam se intrometer nas 
questões religiosas dos povos por eles conquistados e eram tolerantes em matéria 
religiosa. Inicialmente, os romanos consideravam os cristãos um grupo judaico com 
suas características próprias como tantos outros grupos da Palestina e eles preferiam 
que os judeus resolvessem internamente suas questões religiosas. Eles só interviam em 
questões delicadas, e isto se percebe quando o Imperador Cláudio decide expulsar os 
judeus de Roma. Como afirma González: 
Na relação com o Império Romano, a dificuldade em relação aos cristãos surgiu 
quando estes propuseram um estilo de vida distinto do dos romanos e quando evitaram 
 
28 
adorar os deuses do império, pois, no contexto daquele tempo, adorar os deuses do 
império era um gesto de fidelidade política ao imperador, que, em alguns momentos, 
também era visto como divindade. Assim, ao não adorar os deuses do império, os 
cristãos atraiam a ira destes que mandavam muitas desgraças para o povo. 
 
Hostilidades dos pagãos 
As chamadas "hostilidades pagãs" eram despertadas pelo modo de viver dos cristãos 
(as acusações iam desde as calúnias mais grosseiras até as objeções mais intelectuais) e 
também pela fé monoteísta. Estas calúnias provocaram o surgimento das apologias 
cristãs, escritos que visavam justificar e explicar o Cristianismo. Entre os Apolo. 
 
Calúnias populares 
O povo das várias cidades onde os cristãos fundavam suas comunidades não tinha 
acesso ao culto cristão e isso deixava várias interrogantes ou dívidas sobre o que era e 
como se desenvolviam os ritos cristãos. Por outro lado, os cristãos não participavam 
dos cultos públicos. Assim, os cristãos foram acusados de ateísmo (negavam-se a 
participar dos cultos tradicionais, do culto imperial e das religiões orientais) – o povo 
supunha que os cristãos não tinham religião. Para a mentalidade antiga, isso era uma 
aberração que ameaçava o equilíbrio social, com ofensas aos deuses que, por isso, 
enviavam calamidades (inundações, terremotos, epidemias, povos bárbaros) ao 
império, atingindo toda a população. Muitos romanos acreditavam que os cristãos 
tinham um culto abominável, o culto ao asno crucificado ou a um bandido condenado à 
cruz. Deturpando a celebração da ceia eucarística, o povo acusava os cristãos de prática 
do incesto, já que se amavam com os irmãos e isto levava a crer que o culto tinha 
muitas orgias; também afirmavam que a eucaristia tinha como momento mais 
importante um "banquete infanticida", em que se comia o corpo de Cristo e se bebia o 
seu sangue (isso podia ocorrer com o sacrifício de uma criança). 
 
Calúnias dos intelectuais 
Celso, no século 2º, e Porfírio, no século 3º, foram filósofos pagãos que estudaram o 
Cristianismo para melhor orientar suas acusações contra esta nova religião que crescia. 
 
29 
As acusações eram feitas em três direções: 
1) Os cristãos são pobres homens ignorantes e pretensiosos: ambos afirmavam que os 
cristãos saíam entre as classes sociais inferiores, entre os escravos e trabalhadores 
braçais explorados e excluídos do sistema. Dirigiam- se às mulheres, às crianças e aos 
escravos, aproveitando-se de sua credulidade e minavam as tradições patriarcais e a 
família. Para eles, o Cristianismo, com sua doutrina fechada e ambiciosa, contradizia os 
valores da civilização romana. 
 
 
Cronologia das perseguições movidas pelos imperadores romanos 
As perseguições contra o Cristianismo foram muitas, porém as da época antiga 
ocorreram nos três primeiros séculos e levaram o nome dos imperadores romanos da 
época. Houve imperadores que não perseguiram os cristãos, e alguns até simpatizaram 
com o Cristianismo. Outros promoveram perseguições que levam seus nomes e nem 
sempre as perseguições duravam todo o período de reinado dos imperadores, pois havia 
tempos de paz, seguidos de tempos de perseguição. Nero (54-68): foi o primeiro 
imperador a perseguir os cristãos, provavelmente por instigação de judeus que tinham 
acesso à corte imperial. A perseguição ocorreu nos anos 54-55 e foi gerada em torno de 
um incêndio que durou sete dias e teria sido provocado pelo próprio Nero, que desejava 
reformar uns bairros antigos e pobresdo centro de Roma. Diante da insatisfação do 
povo que se revoltou contra Nero, ele acusou os cristãos e muitos foram cruelmente 
torturados e martirizados, entre eles, Pedro e Paulo. 
 
Domiciano (81-96): após a morte Galba, houve um tempo de paz para os cristãos nos 
reinados de Vespasiano e Tito, entre os anos 65 a 94. Nessa época, no ano 70 a cidade 
de Jerusalém foi destruída pelo general romano Tito e a cisão entre cristãos e judeus foi 
definitiva. Por outro lado, muitos romanos ainda identificavam os cristãos como 
nacionalistas judeus. As perseguições cessaram com o Edito de Tolerância, dos 
Imperadores Constantino, Galério e Licínio, no ano de 311. Neste edito, os 
imperadores recriminam os cristãos pela desobediência diante das lideranças romanas; 
permitem a prática da religião e pedem as orações cristãs para os imperadores e 
 
30 
prosperidade imperial. Nem todos os imperadores perseguiram os cristãos, havia 
relativa paz nas comunidades cristãs. Segundo alguns cálculos, somados os anos de 
perseguições aos cristãos, chega-se a um total de 129 anos. 
O lado positivo: os mártires são considerados uma riqueza eclesial; as perseguições 
fizeram com que aumentasse o fervor e a piedade cristã; o martírio tornou-se ideal de 
santidade para os cristãos; os mártires eram admirados pelos pagãos, gerando muitas 
conversões para a Igreja. 
 
 
IGREJA NO IMPÉRIO ROMANO CRISTÃO 
 
O século 4º provocou grandes reviravoltas no Cristianismo: de religião perseguida até o 
ano 311, passou a ser religião livre no ano 313 e, já no final do século, com vários 
éditos imperiais de Teodósio, entre 390 e 395, ano de sua morte, tornou-se a religião 
oficial do Império Romano. A atitude favorável do Imperador Constantino para os 
cristãos trouxe como consequência uma mudança profunda no curso dos 
acontecimentos 
da Igreja. O "Édito de Milão" do ano 313 admitia a liberdade dos cidadãos adorarem ao 
Deus em quem acreditavam: inúmeros historiadores admitem que a mudança 
introduzida por Constantino nas relações entre a Igreja e o Império Romano foi um 
acontecimento de consequências incalculáveis na relação entre Estado e Religião. A 
situação criada com a conversão de Constantino favoreceu muito a expansão do 
Cristianismo, que penetrou nas classes superiores do império e chegou até as regiões 
mais distantes e isoladas. Mas também deu lugar a conversões menos sinceras e por 
motivos menos nobres. Podemos afirmar que houve luzes e sombras, pontos positivos e 
negativos para ambos. 
Enquanto, no início do século 4º, apenas a décima parte do Império Romano era cristã, 
um século depois pode-se dizer que quase todo o império fora batizado; mérito não 
pequeno da Igreja desse tempo é a sistematização teológica da mensagem evangélica 
por obra dos grandes padres e doutores da Igreja, como Atanásio, Basílio, Gregório, 
Agostinho e Jerônimo. Existem também espessas trevas na Igreja 
 
31 
 
Império Romano cristão: expansão do Cristianismo durante os 
três primeiros séculos 
Os primeiros cristãos exerceram grande atividade missionária (Mt 24, 10): as viagens 
dos apóstolos e de São Paulo por diversas regiões do Império Romano, a fundação de 
comunidades cristãs nas principais cidades do império, embora houvesse pouca 
penetração cristã nas regiões rurais. Estudiosos apontam vários motivos que 
favoreceram a expansão cristã e elencamos aqui alguns deles: o desejo da verdade 
explícita nos Evangelhos; respostas para vários temas (desejo da libertação da 
fatalidade e do pecado, imortalidade da alma, escopo da vida terrena, justiça 
distributiva etc.); desejo da santidade interior; milagres e carismas; curas e expulsão de 
demônios; amor fraterno e ação caritativa; firmeza dos mártires e fervor dos cristãos. 
Temos, também, os motivos que impediam a conversão ao Cristianismo: preconceitos 
contra os cristãos; renúncia ao passado (família, sociedade, profissões pagãs, religião 
dos grandes); monoteísmo cristão em face ao politeísmo romano e ateísmo cristão; 
adesão a dogmas misteriosos; culto esotérico e misterioso; rigorismo moral; rejeição 
dos cristãos ao serviço militar e à guerra; perigo constante de morte na época das 
perseguições. 
 
Conversão e política religiosa de Constantino 
 
O tema da conversão de Constantino foi e continua sendo discutido por muitos 
estudiosos, pois há os que afirmam que Constantino se converteu ao Cristianismo por 
interesses políticos e há os que dizem que foi em razão de um processo gradativo de 
simpatia pela doutrina e pelo testemunho dos cristãos que o levou a privilegiar o 
Cristianismo e a se batizar antes de sua morte, no ano 337. Desse modo, este período 
foi marcado pela organização das atividades missionárias, pelo surgimento do 
monacato e o trabalho missionário ingente de centenas de monges em várias partes do 
império; pelas invasões bárbaras, pela queda do Império Romano do Ocidente no ano 
476 e a consequente ascensão do Cristianismo como liderança da Europa continental. 
Outro acontecimento marcante deste período foi o surgimento do Islamismo, com 
 
32 
Maomé, em 622, o que provocou grande instabilidade na parte oriental do Império em 
áreas que eram predominantemente dominadas pelo Cristianismo. 
 
Os povos bárbaros 
A partir do Edito de Milão, os cristãos tiveram mais liberdade de ação. É claro que, 
mesmo no primeiro século, os cristãos já chegavam a várias regiões que não eram 
dominadas pelos romanos. O Império Romano era o grande fascínio dos povos 
germânicos e eslavos, conhecidos como bárbaros, por serem rudes e não terem 
alcançado o progresso dos romanos. Por isso, vários povos do norte e leste europeu 
ameaçam as fronteiras do império, que vai se debilitando, até a queda em 476. 
 
 
Um destaque especial ao povo franco, que se converteu diretamente do paganismo ao 
Cristianismo, quando o rei Clóvis foi batizado em 496. Na Idade Média, foi este povo 
que dominou todos os outros povos e, pelo fato de ser cristão, levou e, em alguns 
momentos, impôs a religião cristã aos povos submetidos militar e politicamente ao 
Império Franco. Esse povo se tornou uma potência e a aliança entre eles e a Igreja fez 
com que nascesse o Sagrado Império Romano-Germânico, no ano 800, quando Carlos 
Magno foi coroado pelo Papa Leão III . 
 
O Papado fortalecido 
Quando os povos bárbaros começaram a invadir as fronteiras do Império Romano, este 
começou a entrar em crise, a qual teve seu ponto alto na deposição do Imperador 
Rômulo Augústulo, no ano de 476. A queda do Império Romano não se deu só por 
causa dessas invasões, outros motivos contribuíram para isso: a depravação dos 
costumes, as imoralidades, a falta de seriedade e espírito de sacrifício e de trabalho dos 
cidadãos do império, as lutas pelo poder que geravam muitas mortes, golpes militares e 
desestabilização política, a crise econômica, a manutenção de um grande exército etc. 
Era, pois, inevitável a queda. Estejamos atentos, porque esta queda do Império Romano 
só se deu na parte Ocidental do império. A parte Oriental só caiu no ano de 1453, 
quando os turcos otomanos dominaram Constantinopla. 
 
33 
 
O MONACATO CRISTÃO 
No primeiro século, já existiam no seio da Igreja primitiva os ascetas, ermitães ou 
anacoretas (homens que deixam tudo eretiravam-se à solidão dos desertos, das florestas 
e dos lugares mais distantes para se dedicar à vida espiritual) e as virgens (mulheres 
que, embora vivendo com suas famílias, consagravam-se totalmente a Deus e viviam 
em oração e prestando serviços caritativos em suas comunidades). Esses homens e 
mulheres viviam sozinhos e com poucos vínculos com a comunidade eclesial e não 
muito preocupados em organizar mosteiros ou casas de vida comum. Muitos deles 
ajudavam os iniciantes na introdução da vida anacorética e ascética como Santo 
Hilarião, Santo Antão etc. Com as perseguições, muitos fugiam e retiravam-se para o 
deserto, consagrando-see a Deus.A partir do século 4º, foi se desenvolvendo o 
cenobitismo, ou seja, a vida comum. Era muito difícil, para os que queriam se retirar 
para servir a Cristo, viver nos desertos e florestas sem uma estrutura capaz de dar 
estabilidade. São Pacômio deu os primeiros passos para essa organização da vida em 
comum seguido por vários outros grandes expoentes e incentivadores como São asílio, 
Santo Agostinho, São Bento (o pai do monacato ocidental) etc. O monacato gerou 
grande número de santos e santas, missionários, teólogos, filósofos e bispos. Em torno 
dos mosteiros, surgiram cidades, bibliotecas, escolas e técnicas agrícolas. Foi um 
período fecundo em que a Igreja se desenvolveu em todos os setores e adquiriu uma 
consistência inquestionável, dando-lhe forças para cumprir com dignidade, apesar dos 
seus erros históricos, a missão evangelizadora, que lhe fora confiada por Cristo. 
 
 
Bibliografia 
 
MAZULA, R. HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL. Batatais: Claretiano, 
2013. 
 
 
 
 
 
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