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TÓPICOS ESPECIAIS EM INSPEÇÃO ESCOLAR Belo Horizonte Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................ 03 1 INÍCIO DE CONVERSA ............................................................................... 05 2 EVOLUÇÃO DA INSPEÇÃO ESCOLAR DA FISCALIZAÇÃO À DEMOCRATIZAÇÃO ................................................................................... 07 2.1 Definindo a Inspeção Escolar .................................................................... 12 3 O PROCESSO DA AVALIAÇÃO ................................................................. 18 3.1 A avaliação institucional ............................................................................. 19 3.2 As funções da avaliação educacional ................................................... .... 23 4 O INSPETOR ESCOLAR NO NOVO MILÊNIO ........................................... 32 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ........................................ 39 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 INTRODUÇÃO Sejam bem-vindos ao módulo que apresentará alguns tópicos especiais que envolvem a atuação do Inspetor Escolar, pertencente ao curso de Especialização em GESTÃO ESCOLAR INTEGRADORA - COM HABILITAÇÃO EM INSPEÇÃOORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR oferecido pelo Instituto Pedagógico de Minas Gerais – IPEMIG. Nos esforçamos para oferecer um material condizente com a graduação daqueles que se candidataram a esta especialização, procurando referências atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e provado pelos pesquisadores. Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos Colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos nossos/ seus alunos. Orientar a escola para a conquista de sua cidadania; assegurar o Funcionamento regular da escola interpretando e aplicando as normas do ensino; orientar a escola pública na captação e aplicação de recursos financeiros e, orientar o processo de organização do atendimento escolar, em nível regional e local são, em linhas gerais, as atribuições do Inspetor Escolar. Esperamos que ao final desse módulo sejam capazes de entender que esse profissional precisa desenvolver competências administrativas, técnicas e políticas para o exercício das funções de acompanhamento, apoio, supervisão, controle e avaliação das instituições escolares, principalmente na implementação Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 das políticas estabelecidas pelas Diretrizes da Educação Nacional e Estadual de Educação. Para assegurar a efetiva organização e o funcionamento da escola, assegurando ao professor condições de realizar um bom trabalho e ao aluno acesso, permanência e uma educação de qualidade se faz necessário que o Inspetor Escolar conheça os modelos de avaliação da aprendizagem e avaliação institucional, não esquecendo que cabe também a este profissional, a partir dos novos paradigmas de educação, reforçar e legitimar a gestão democrática, autônoma e participativa. Ressaltamos que se trata de uma reunião do pensamento de vários fatores que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de Redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar os conhecimentos. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 1 INÍCIO DE CONVERSA As funções do inspetor escolar têm sido alteradas ao longo do tempo, passando de função fiscalizadora e burocrática como veremos numa breve retrospectiva histórica desde a criação deste cargo, para um fazer mais democrático e dialógico, intermediando, assim, as atividades escolares em consonância com as políticas do sistema brasileiro de educação. Não há dúvidas que como em qualquer contexto de mudança, estas vão acontecendo entre tensões e conflitos, e no caso desse especialista, tendo em vistas as especificidades e a complexidade do próprio cargo, acontece uma dificuldade em conciliar as atividades administrativas e pedagógicas. Além disso, as inúmeras reformas educacionais que foram implantadas no Brasil e, em especial, em Minas Gerais, forçaram o grupo de inspetores a uma atualização constante (SANTOS, 2010). Cabe a este profissional conhecer os instrumentos legais que regem a Educação brasileira, instrumentos estes que ele utiliza no seu cotidiano, mesmo que de forma indireta, colaborando com os demais atores que estão in loco na escola. Estes instrumentos legais são: Lei nº 9.394/96 - Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Resoluções do Ministério da Educação e Normas dos Conselhos (Nacional, Estadual e Municipal); Regimentos Escolares; Projeto Político e Pedagógico - PPP; Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI Órgãos Colegiados; Avaliação Escolar e Institucional. Segundo Finto e Caria (2011), é preciso lembrar que as escolas da atualidade não seguem um padrão uma vez que não são mais homogêneas, e por isso, as decisões que eram repassadas pelo poder central, cede lugar a participar e à possibilidade de incorporação de demandas específicas da comunidade. Passar desse modelo centralizador, autoritário e burocrático e menos controlador, é o desafio dos dirigentes escolares e dos Inspetores Escolares. Este profissional pode assumir uma função relevante e significativa, ao exercer com competência e responsabilidade as funções de acompanhamento, apoio, supervisão, controle e avaliação das instituições escolares na implementação das políticas estabelecidas. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Sob essa ótica, o serviço de Inspeção Escolar que é o elo entre a escola e a Superintendência Regional de Ensino – S.R.E. deve funcionar de forma que ajude a escola no esforço de assegurar ao aluno o acesso, a permanência e uma educação de qualidade. A Inspeção Escolar, a partir dos novos paradigmas, passa a ser fortalecida pela integração dos profissionais na contribuição efetiva à organização e funcionamento das escolas, exercendo competências técnicas e políticas a serviço dos amplos objetivos da escola dentro uma sociedade democrática. Ressaltamos que no caso do Estado de Minas Gerais, a permanência desse profissional no sistema de ensino, se comparado com outros estados brasileiros que aboliram a especialidade, deveu-se, entre outros, à organizaçãoe às diversas lutas empreendidas pelos inspetores mineiros, demonstrando que, apesar do sentido pejorativo associado à palavra, o tempo encarregou-se de dar a essa função outros significados que permitiram modernizá-la e torná-la importante para escola e aos seus atores (SANTOS, 2010). 2 EVOLUÇÃO DA INSPEÇÃO ESCOLAR - DA FISCALIZAÇÃO À DEMOCRATIZAÇÃO Segundo Ferreira e Fortunato (2007) a gestão da educação passou a ser, nas últimas décadas tema de pauta da agenda educacional brasileira e mundial, pela importância reconhecida de sua responsabilidade na qualidade da educação e de sua imprescindibilidade, enquanto compromisso de garantia de efetividade desta qualidade. Tema central nas políticas educacionais atuais, a gestão da educação no Brasil e no mundo, necessita ser, sempre, reexaminado como ferramenta” fundamental na educação formal, a partir de suas origens, analisando as contribuições que estas análises podem fornecer para a contemporaneidade. Daí a importância desta investigação histórica, no sentido de resgatar (do latim, res gatae) as determinações históricas e os contornos que a definiu, fundamentalmente como controle, em suas mais diversas formas de expressão: inspeção, supervisão e administração. Tais origens constituem-se elementos fundantes da educação na contemporaneidade. Se o reconhecimento de sua importância e consequente interesse pela gestão no campo educacional vem crescendo pelo reconhecimento Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 de seu compromisso enquanto “tomada de decisões, organização, direção (...) atividade de impulsionar uma organização a atingir seus objetivos”, desvelar as compreensões que a constituíram historicamente, possibilitará reconstruí-la conceitualmente e coletivamente no trabalho educacional (FERREIRA, 2006). Sabe-se que é a gestão da educação que garante o desenvolvimento, ou não, do exarado nas políticas educacionais, assim como se constitui em importante fonte de subsídios para as novas políticas públicas. Tal constatação vem se refletindo na grande quantidade de pesquisas e publicações a respeito que, concomitantemente, vem contemplando as importantes questões que constituem seu conteúdo, como a qualidade do ensino e a do trabalho pedagógico da escola, a garantia do cumprimento da política educacional comprometida com a formação para a cidadania (FERREIRA; FORTUNATO, 2007). Na instância do “fazer acontecer”, encontramos a Inspeção Escolar Fazendo parte da administração da educação. Ela pertence aos componentes do “staff”, conforme ditam todas as teorias de administração de empresas e as decorrentes transposições para a educação. A Inspeção, como uma forma específica de controle, surge no cenário Brasileiro já no Ratio Studiorum, conforme o Plano Geral dos jesuítas após a morte de Nóbrega em 1570 e que passou a vigorar em todos os Colégios da Companhia de Jesus a partir de 1599. Este Plano composto de regras relativas à responsabilidade de todos os agentes diretamente ligados ao ensino, salienta a figura do “prefeito de estudos” como assistente da autoridade m xima – o Reitor – para auxilia-lo na “boa ordenação dos estudos” (SAVIANI, 2006, p. 21). O conjunto das regras do Ratio Studiorum no Plano Geral dos jesuítas configura a ideia de supervisão e de inspeção, inspeção esta, que controla as regras fornecidas pelas autoridades educacionais. O controle da qualidade da educação, como garantia de efetivação de uma forma de cidadania tem sido “ferramenta” imprescindível para a concretização da educação, de uma determinada educação, há longas décadas. Já no Estado Novo e, mesmo antes, este controle era exercido, não sob a forma de gestão democrática como vem sendo exercitado e cultivado nas últimas décadas, na formação de profissionais da educação e nas práticas educacionais, mas como controle vertical e pontual exercido pela inspeção que controlava, literalmente, questões pontuais nas escolas, questões estas que garantiam a formação de um tipo determinado de cidadania, considerada a necessária para a época, através de visitas de profissionais que exerciam este cargo com estas responsabilidades (FERREIRA; FORTUNATO, 2007). Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Sabemos que já houve um tempo em que as políticas eram expressão de governos autoritários que possuíam modelos de educação e de formação apriorísticos a ser implantados e controlados da forma mais rígida e exclusiva, mas isso vem mudando. A inspeção escolar foi e, ainda é hoje, uma forma de expressão política que se confunde com o conceito de supervisão e, ambas, constituem-se em elementos da gestão da educação. Assim, a inspeção escolar no Estado Novo se apresenta como uma reconfiguração da supervisão educacional em perspectiva histórica, onde segundo Saviani (2006), assume, com a divisão técnica do trabalho, seu caráter de permanência e identificação, tendo como estatuto epistemológico o positivismo, que define seus contornos e dá suporte aos empreendimentos tomados. Afirma-se, assim, que a gestão da educação como “tomada de decisões” acontece e se desenvolve em todos os âmbitos da escola, inclusive e fundamentalmente, na sala de aula, onde se objetiva o projeto político-pedagógico não só como desenvolvimento do planejado, mas como fonte privilegiada de novos subsídios para novas tomadas de decisões para o estabelecimento de novas políticas (FERREIRA, 2006, p. 309). Como cultura e prática escolar, a inspeção assegurou historicamente uma determinada formação para a cidadania, a qual atendia ao intuito autoritário do nacionalismo e formava cidadãos subservientes, desenvolvendo um acentuado valor aos símbolos nacionais em detrimento de todo e qualquer outro conteúdo de ensino. Estes símbolos nacionais eram cultuados e “cobrados” pelo Inspetor quando realizava suas visitas às instituições escolares. As pesquisas, de forma geral, em História da Educação, têm desenvolvido sobre o projeto de nacionalização estado novista, seu planejamento e efetivação, bem como seu objetivo claro, o de instaurar uma identidade nacional através da ação institucionalizada das escolas (FERREIRA; FORTUNATO, 2007). Neste contexto, no período entre 1937 e 1945, a educação escolar sofreu intervenções do governo através da “inspeção escolar” da época, com a finalidade de eliminar qualquer foco de resistência à ideologia getulista. Assim, o projeto nacionalista nascia no “berro” da imposição, principalmente nas regiões de concentração de imigrantes italianos e alemães que se instalaram no sul do Brasil. As instituições construídas pelas comunidades locais, na concepção governista, eram uma ameaça à forma de controle exercida na época (FERREIRA; FORTUNATO, 2007). Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Entretanto, estudos sobre as questões de imigração abrem para o debate do nacionalismo no Estado Novo a partir da etnicidade. Desde o início do século XIX, a temática sobre a formação da população brasileira implicou em discussões e aparato legal para tratar do acesso e permanência dos imigrantes no país. De acordo com Seyferth (1999), a partir de 1937 foram tomadas medidas coercitivas com a finalidade de atingir as organizações comunitárias étnicas produzidas pela imigração. Ocorreram mudanças em nome da tradição de assimilação e mestiçagem demarcadoras da nacionalidade pela ação direta do Exército junto aos grupos considerados “quistos raciais”, atingindo uma parcela considerável da população, sobretudo no Sul e em São Paulo. Durante o período do Estado Novo, medidas nacionalistas foram adotadas, e as primeiras medidas legais de natureza nacionalizadoraforam tomadas durante a I Guerra Mundial Tais medidas atingiram diretamente as escolas primárias particulares em ensino alemão. Assim, foram reorganizados, através de decretos estaduais, os currículos para incluir disciplinas de língua portuguesa, geografia, educação cívica e história do Brasil. Faz-se importante lembrar que neste período aconteceu a obrigatoriedade da adoção de livros didáticos de autores brasileiros (SEYFERTH, 1999, p. 220). Considerando a trajetória histórica, pode-se afirmar que a reforma na educação foi o ponto de partida para a campanha de nacionalização de 1937. Nesta reforma a exigência foi a utilização da língua vernácula, bem como, ocorreu a modificação curricular com obrigatoriedade do ensino de Geografia e História do Brasil com ênfase na Educação Moral e Cívica, e mais ainda, o ensino de Educação Física no viés militarista e higienista foram destaques prioritários nos contextos das escolas. Nesta perspectiva, o relacionamento com as comunidades escolares foi marcado pela aceitação e incorporação de conteúdos patrióticos nacionalistas. E como pontos de destaque na legislação federal, foi exigido o uso de símbolos nacionais e comemorações das datas nacionais já mencionados. Conforme a mudança na legislação da época, em determinados casos, somente brasileiros natos e graduados em escolas brasileiras, eram indicados para exercer o cargo na docência e na direção. Esta determinação inviabilizava as escolas étnicas, implicando no fechamento das mesmas (FERREIRA; FORTUNATO, 2007). A inspeção passou a ser, neste contexto, a forma de controle da “qualidade” então pretendida na formação que se esperava. A inspeção, portanto, foi e é, ainda hoje, uma forma de expressão política que se constitui elemento da gestão da educação que abrange todas as “funções”, mas que exerce o seu compromisso com uma determinada qualidade da educação. Logo, no Estado Novo, a gestão da Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 educação que sequer era assim chamada, só poderia exercer o controle do que era determinado ao sabor da ditadura varguista. Assim, a “supervisão, embora já presente nas comunidades primitivas” em que a educação se dava de forma difusa e indiferenciada‟ como uma vigilância discreta‟ e, mais adiante, a partir da Idade m dia, assumindo a forma de controle, de conformação, de fiscalização e até de „ coerção expressa‟ – como afirma Saviani (2006) em seu texto “A supervisão educacional em perspectiva histórica: da função profissão pela mediação da ideia”, no Estado Novo nada mais se apresenta do que como uma reconfiguração desta forma de controle (FERREIRA; FORTUNATO, 2007). A inspeção como forma de exercício da gestão da educação no controle da prática escolar de acordo com os ditames da política do Estado Novo, assegurou historicamente uma determinada formação para a cidadania que atendia ao espírito autoritário do nacionalismo. A educação, no contexto do projeto nacionalizador, assumiu uma dimensão social fundamental, configurando as instituições escolares como um local de aprendizado e de gestação de ideias, hábitos e valores de exaltação patriótica. Nesse sentido, as escolas étnicas foram vistas como ambientes de desintegração que não atendiam à implementação de políticas e práticas pedagógicas, que precisavam estar em sintonia com o projeto getulista. Por isto foi implementada uma inspeção rigorosa, como forma de controle do Estado Novo, a fim de que se cumprisse o que era determinado para a chamada “identidade nacional”, cultivando- se os símbolos nacionais com a retificação necessária à política determinada (FERREIRA; FORTUNATO, 2007). Nessa época, prioritário era o trabalho escolar diário em torno de temas que reafirmassem o patriotismo idealizado, como homenagens cívicas com presenças da comunidade, passeatas, pelotões, pequenas paradas, de teor pedagógico militarista, desvelando o caráter nacionalista e uma política autoritária. Nesses termos, a formação para a cidadania configurava um modelo de subalternização, obediência e culto a símbolos, regras e princípios nacionalistas em detrimento dos valores legitimamente humanos que emancipam e formam o verdadeiro cidadão, capaz de dirigir e controlar seus dirigentes. A “formação” para a cidadania sob os ditames do projeto nacionalizador, subordinou mentes e corações à obediência e à alienação com formas de pensar, sentir e agir nos moldes hierárquicos, desagregando culturas já existentes e impedindo os sujeitos da Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 verdadeira emancipação humana que se “conquista na solidariedade e na participação da aquisição do conhecimento e dos valores humanos, como processo de criação de sujeitos capazes de reciprocidade” (FERREIRA, 2006, p. 252). Essa discussão aprofundada das atribuições dadas à Inspeção Escolar no período do Estado Novo quer mostrar o quanto ela foi voltada para enaltecer os feitos dessa época em detrimento da qualidade do ensino. 2.1 Definindo a Inspeção Escolar No livro Princípios e Métodos de Inspeção Escolar, autoria de JGC Meneses, encontramos as seguintes pontuações para Inspeção Escolar: Observa, orienta, examina e estimula, levando em conta as atividades-fim do sistema escolar. Como um dos elementos do processo da administração escolar, tem sempre presente os objetivos da escola. O próprio adjetivo escolar atribui maior sentido à função de inspeção. Isto traz um matiz especial ao exercício da inspeção no ambiente escolar. Todos os autores dão maior realce à atividade pedagógica enfatizando mais o adjetivo (escolar) do que o substantivo (administração, inspeção) (MENESES, 1977, p. 25). Após décadas de educação formal autoritária, as palavras inspeção e controle soam, hoje, de maneira desagradável aos ouvidos, porém, não se deve ignorar o fato de que esses instrumentos continuam sendo utilizados no ensino, que é sistematizado e exige organização. Vale a pena questionar se a prática é tradicional ou ocorre nos moldes democráticos. Mesmo se tomarmos o sentido etimológico do termo inspeção, descrito por Meneses (1977, p. 21) como: “vem do latim inspecto, onis, que quer dizer ação de olhar, exame, inspeção, verificação”, podemos trata-la como instrumento para a contribuição de uma escola pública de qualidade, basta encontrar a ação de olhar de maneira a examinar todos os documentos que se toma às mãos, estabelecendo-se uma aproximação entre a direção e a visão do Inspetor Escolar. Verificação e avaliação são duas práticas cotidianas em qualquer tempo e situação. Sempre estamos avaliando aos outros, a nós mesmos ou a uma situação e os olhos acostumam-se, de tal forma, ao comando da inspeção que, ao adentrar a escolas, tudo o que se olha, de fato, constitui-se objeto de inspeção. Examinam-se as condições do prédio, a qualidade do atendimento oferecido, o sabor dos alimentos servidos na merenda, os aspectos legais da documentação, enfim, o olhar está sempre verificando. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Essa verificação, como parte do trabalho do Inspetor Ensino, embora necessária, não pode ser resumida em simples detecção, pois é a partir do que foi constatado que se inicia o processo de análise, para eventuais correções de rumo e daí a importância da articulação com o pedagógico, que exige coerência com a atividade-fim da educação, para, a partir deste objetivo, encaminhar as ações da Supervisão. Como lembra Meneses (1977, p. 99) a função policiadora, aplicadora de sanções, foi substituída pela função de controle de funcionamento, da qual os aspectos de comparação entre o planejado e o executado implicam medidas saneadoras ligadas ao desenvolvimentode um programa de relações públicas e humanas. Meneses (1977) lista quarenta e dois termos, que representam os principais sentidos da inspeção, ou seja: ação de observar; ação de olhar; ação de examinar; ato de olhar; cargo de inspetor; cargo de chefia; compreensão; controle; critério; cuidado; direção; emprego de inspetor; encargo de vigiar; exame; exame atento; exame feito por um ou mais inspetores; guarda; inspecionar; junta encarregada de inspecionar; junta encarregada de fiscalizar; junta encarregada de dar parecer; laudo de inspeção; levantamento; observar; observar com cuidado; opinião; parecer; reexame; revista; revistar; repartição pública encarregada de inspecionar; repartição pública encarregada de fiscalizar; repartição pública encarregada de dar parecer; superintendência; supervisão; tribunal encarregado de inspecionar; tribunal encarregado de fiscalizar; tribunal encarregado de dar parecer; ver; verificação; vigiar; e vistoria. Ao atentar para os termos elencados, encontram-se, em sua maioria, as atividades desenvolvidas no cotidiano do Supervisor de Ensino na atualidade, ao “visitar” as Unidades Administrativas sob sua responsabilidade. Na verdade, não são os termos que indicam o tradicional ou o novo, mas para que servem, ou seja, para estabelecer fins ou para subsidiar mudanças? A inspeção continua presente no dia-a-dia do Supervisor, sendo parte e, muitas vezes, a maior parte de seu trabalho. Então, como a ação supervisora pode, enquanto como gestora, contribuir para a construção de uma escola pública onde a qualidade do ensino seja o principal enfoque? Masur (2001) defende que tudo depende do jeito que “a gente vê”. Assim, por exemplo, uma observação cuidadosa e que contribui para a reflexão do processo do ensino aprendizagem, é o resultado bimestral do Conselho de Classe e Série, já que por meio do resultado deste se consegue saber não só o desenvolvimento ocorrido no bimestre como também o número de alunos faltosos, evadidos, criando- se nova possibilidade de estudos e reflexão para mudança dos parâmetros Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 estabelecidos, os quais não estão contribuindo para o sucesso dos alunos e sua permanência na escola. Também, ao inspecionar a qualidade dos alimentos servidos aos alunos na merenda escolar, participa-se para que todos os envolvidos compreendam a importância desse trabalho ao selecionar produtos e preparar um cardápio de qualidade que, na maioria das vezes, será a única refeição para muitas crianças que frequentam a escola pública. Os critérios utilizados pelos Inspetores, no início do ano letivo quando do processo de atribuição de aulas, é decisivo para o desenvolvimento das atividades das escolas durante o ano. A interpretação da legislação sempre em favor dos objetivos da educação, voltada para uma educação da melhor qualidade, envolve o papel da inspeção, mas... “tudo depende do modo que a gente vê”, conforme manifesta Masur (2001), ou seja, pode-se usar a inspeção para classificar, ou, ainda, tratá-la como instrumento para reflexão quanto ao próximo passo em favor de uma educação pública de qualidade, isto é, uma escola que ofereça oportunidade de aprender, fazer, ser e conviver. Convém interpretar a inspeção como um dos elementos do processo da administração que envolve os objetivos maiores da escola, ou seja, uma educação de melhor qualidade para todos os alunos que dela participam. Meneses (1977) observa que o controle como elemento relevante das atividades administrativas é composto de princípios e métodos. Os princípios determinam os padrões do exame e os métodos, atividades caracteristicamente técnicas, determinam a maneira de proceder ao exame. Segundo Ribeiro (s.d apud Meneses, 1977), a função primordial do controle é facilitar a realização das atividades planejadas e organizadas, e a inspeção, como elemento do controle é, desta maneira, utilizada como elemento facilitador do processo e não como ocorre no senso comum, ou seja, vista como elemento que não facilita o desenvolvimento das atividades do sistema. Trazendo, ainda, esclarecimento sobre o sistema de controle, Meneses (1977, p. 29) argumenta que a natureza da administração educacional é, geralmente, determinada por dois fatores: a teoria do Estado e a teoria educacional prevalecente. O Estado totalitário (e o autoritário) tende a ser centralizado e o Estado democrático, a ser descentralizado. No primeiro, todos os aspectos do processo educacional são prescritos e controlados; no segundo, apenas são oferecidas diretrizes gerais e as autoridades locais e o magistério são incentivados a tomarem as principais iniciativas no processo educativo. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O sistema de controle dos sistemas educacionais em um regime totalitário e em um regime democrático varia. No regime totalitário, faz-se o controle da educação por meio de normas, regulamentos e inspeções em que a máquina administrativa adquire maior importância do que o desenvolvimento da iniciativa e inteligência daqueles a quem, realmente, incumbe dirigir uma escola ou os trabalhos da sala de aula. No regime democrático o controle se concentra nas mãos de um corpo administrativo que determina e faz cumprir as diretrizes da política nacional da forma que melhor se adapte às condições locais. Desta maneira, considera-se a inspeção um procedimento necessário, porém, há que se perguntar: a serviço de quem é realizado o trabalho de inspeção? Será a serviço de um fazer administrativo voltado para o pleno desenvolvimento do trabalho pedagógico ou será para um fazer administrativo que controla as atividades desenvolvidas na escola? A inspeção, como elemento de controle, pode e deve fazer cumprir uma política educacional que favoreça o pleno desenvolvimento do processo educativo. Meneses (1977) também aponta o termo “princípios” como o conjunto de proposições, diretrizes, características, ao qual se deve subordinar todo o desenvolvimento ulterior e “princípio”, neste sentido, d ideia daquilo que é primeiro em importância – fundamental –, e este esclarecimento é necessário para que se compreendam os “princípios de Inspeção Escolar” como conjunto de atividades para facilitar a compreensão das características de um empreendimento, no caso da Inspeção Escolar, um conjunto de regras práticas que não somente facilita a compreensão, mas, também, auxilia na definição de soluções para os problemas encontrados. Em alguns estados como São Paulo, onde o cargo de Inspetor Escolar foi eliminado, cabe ao Supervisor de Ensino arcar com as responsabilidades da inspeção e também da supervisão pedagógica, como bem demonstra o Art. 78, do Decreto Estadual nº. 7.510, que continua em vigor, integrando o conjunto de normas a serem observadas pelos grupos de Supervisão de Ensino (SÃO PAULO, 1976). Porém, com essa sobrecarga de trabalho, muitas vezes os supervisores tendem a se perder no desenvolvimento das funções, sem dar conta de atender o pedagógico, tampouco o administrativo, tornando-se apenas um cumpridor das tarefas burocráticas inacabadas do sistema. Tais questões revelam a necessidade da construção de um novo perfil profissional para os supervisores que atuam na rede de ensino paulista. Compreender a escola como um sistema que engloba os eixos pedagógico e administrativo, requer planejamento de trabalho, reflexão conjunta e conhecimento Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 das políticas públicas da educação. Portanto, a formação de Equipes de Inspetores ou especialistas da educação que realizem seus trabalhos tendo como foco a real aprendizagem dos alunos, embasados nos eixos administrativo e pedagógico, éurgente e necessária para a construção de uma nova identidade do Inspetor Escolar. 3 O PROCESSO DA AVALIAÇÃO Que a avaliação implica no fracasso ou sucesso da aprendizagem não há dúvidas, bem como ela deve ser um instrumento de emancipação, tanto por isso, entre as atribuições do Inspetor Escolar cabe-lhe promover e participar dos processos de avaliação que acontecem na escola e avaliação da escola. Fernandes e Belloni (2001, p. 20) diferenciam assim as avaliações educacional e institucional: a primeira refere-se à avaliação da aprendizagem ou do desempenho de alunos (ou de profissionais) e à avaliação de currículos, concentrando-se no processo de ensino-aprendizagem e nos fatores que interferem em seu desenvolvimento. Já a avaliação institucional, por sua vez, destina-se à avaliação de instituições (como a escola e o sistema educacional), políticas e projetos, tendo atenção centralizada em processos, relações, decisões e resultados das ações de uma instituição ou do sistema educacional como um todo. Avaliar vem do latim valere e significa reconhecer a valia, atribuir valor ou significado é, portanto, um juízo de valor sobre a realidade. Se formos avaliar um determinado imóvel, a avaliação terminará quando for apresentado o seu valor (VASCONCELOS, 1998). Na perspectiva pedagógica assumida, avaliar irá mais além. Representa uma prática intencional e transformadora, porque pressupõe a determinação de acompanhar o processo de construção do conhecimento do aluno, apreendendo o seu desenvolvimento real e as suas dificuldades diante a situação avaliada e se comprometendo em contribuir para superá-las, ampliando o seu potencial de aprendizagem e desenvolvimento (OLIVEIRA; APARECIDA; SOUZA, 2008). Para isso, não interessa cobrar um produto final do que é ensinado, mas ter uma atitude de confronto, isto é, do que foi produzido pelo aluno com o que se esperava dele e estimular cada vez mais a sua confiança. Como diz Luckesi (2000, p. 69) “avaliação como um juízo de qualidade sobre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão”. As primeiras ideias referentes à avaliação representavam medida e sua presença na história da humanidade se reporta para o ano 2202 a.C. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 (DESPRESBITERIS, 1989). A avaliação é uma atividade política por isso as suas funções devem ser compreendidas segundo o contexto educacional, econômico e político mais amplo. Afonso (2000) diz que a literatura se reporta mais às funções de melhoria dos processos de aprendizagem; seleção, certificação e responsabilização; promoção da motivação dos sujeitos; desenvolve uma consciência mais precisa sobre os processos sociais e educacionais e condiz com o exercício da autoridade. Para Perrenoud (1999) a avaliação é usada para acompanhar o andamento da aula, a progressão do programa, a manutenção da ordem, às vezes a individualização das aprendizagens ou para reverter alguma situação, para o professor decidir o que faz com a sua turma ou certos alunos, para tomada de decisão dos alunos ou mesmo para o controle do ensino e do trabalho docente. A prática avaliativa para cada realidade mundial possui as suas características. Sabemos que a sociedade estadunidense tem obsessão pela avaliação, o que pode ser comprovado com a própria história da avaliação com Tyler, Bloom e outros. Contrariamente, a Inglaterra, por exemplo, busca as implicações sociológicas da avaliação (OLIVEIRA; APARECIDA; SOUZA, 2008). 3.1 A avaliação institucional Desde 1990, o Ministério da Educação (MEC), por intermédio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), vem desenvolvendo, no Brasil, a avaliação das escolas – de caráter externo e em larga escala –, com a implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que busca informações indicadas como necessárias à gestão dos sistemas de ensino e das políticas educacionais. É certo que instituições de ensino superior, antes daquele ano, já haviam participado de programas de avaliação – concebidos e implementados pelo governo federal, afora experiências isoladas e internas, pouco divulgadas – mas, em relação à instituição básica de ensino, não se tem notícias de iniciativas precedentes à década passada (MORAES; SILVA, 2009). De acordo com as definições feitas inicialmente, para ser completa, a avaliação institucional contempla e incorpora os resultados da avaliação educacional. Neste ponto, é oportuno lembrar que as avaliações em larga escala (aplicadas, em geral, por órgãos governamentais), ainda que sejam comumente Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 tomadas enquanto sinônimo de avaliação institucional, são realizadas tão simplesmente mediante a mensuração do desempenho escolar do aluno, com vistas a determinar o mérito da instituição: tratam-se, portanto, de um elemento compositor da avaliação institucional. Esta, por sua vez, também apresenta várias subcategorias. Müller (2001, p. 20) analisa produções sobre o tema e constrói um quadro analítico em que classifica a avaliação institucional de acordo com: Sua finalidade e função, em formativa ou somativa; Por sua extensão, em global ou parcial; Por seus agentes avaliadores, em interna ou externa; Por seu momento de aplicação, em inicial, processual ou final. Quanto à opção política pode ser: Burocrática – quando o avaliador presta um serviço incondicional à autoridade educativa que possui o controle sobre a distribuição dos recursos educacionais; Autocrática – um serviço condicional às autoridades governamentais que oferece uma validação externa à sua política em troca da aceitação das recomendações do avaliador e, Democrática – quando é um serviço de informações à comunidade e trata sobre as características do programa educativo. Há avaliações que visam à identificação do mérito de uma instituição, geralmente através de testes aplicados a seus alunos, estabelecendo rankings como forma de estimular a competição entre instituições e assim se alcançar a pretensa qualidade. Ainda que de maneira menos conhecida, também existem aquelas que consistem num processo democrático que visa ao aperfeiçoamento da instituição, a partir da identificação, formulação e acompanhamento de objetivos, sob a ótica de seus agentes. Fernandes e Belloni (2004, p. 21) chamam-nas, respectivamente, de avaliação meritocrática ou para controle e avaliação para transformação e aperfeiçoamento. Na avaliação meritocrática, ao se avaliar os estabelecimentos de ensino em larga escala e ao se considerar os desempenhos descontextualizados dos alunos para aferição da qualidade de ensino, o Estado avaliador – preocupado com a Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 imposição de um currículo nacional comum e com o controle dos resultados, sobretudo acadêmicos – difunde a ideia de que a escola é tão simplesmente a única responsável pela construção do sucesso do estudante. Nessa posição, o papel do Estado, é, pois, extremamente confortável: verifica a “produtividade” – e cobra resultados! – através de sua avaliação. Não é por demais lembrar que essas políticas, entretanto, não são privilégio do Brasil: iniciaram-se em países como Estados Unidos e Inglaterra, especialmente nas últimas décadas. Afonso (2005) afirma que, sobretudo nos países anglo-saxônicos, as funções mais importantes que estão a ser imputadas aos sistemas de avaliação são essencialmente as que remetem para a seleção dos indivíduos e para a gestão produtivista do sistema educativo. O mesmo autor (2005, p. 19) argumenta ainda, que em tais países, “onde se tem procurado criar um mercado educacional, a avaliaçãotem um papel fundamental porque ela permite uma informação sobre o sistema educativo que é percepcionada como um instrumento importante para fundamentar as escolhas dos consumidores da educação”. Em relação ao Brasil, constata-se que tanto o governo federal quanto os estaduais têm implementado tais políticas públicas: o desempenho dos alunos – aferido através desse tipo de avaliação – tem ganhado status de indicador de eficiência da própria escola e, consequentemente, do próprio sistema de ensino. Tal prática, naturalmente, apresenta pontos desfavoráveis. Lafond (1998, p. 14), por exemplo, julga que esse tipo de avaliação não contribui satisfatoriamente para a melhoria da instituição escolar: “uma avaliação exclusiva de resultados escolares, dado ao seu cunho impessoal, não considera os problemas que a escola enfrenta diariamente: [...] tem um valor estatístico; é, sem dúvida, útil aos decisores nacionais, mas não dá de volta à escola qualquer tipo de ajuda”. Não há dúvidas que a avaliação externa tem sua importância e relevância a partir do momento em que possibilita o levantamento de dados que podem se constituir comparativos ou complementares a uma avaliação de âmbito interno. Entretanto, há que se questionar os modos e os fins como são aplicadas essas avaliações em larga escala, pelo fato de julgar que a transformação da escola não se faz de fora para dentro (e, algumas vezes, nem no sentido inverso), mas Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 numa conjunção tensa e negociada de elementos constitutivos de ambas as direções. Valoriza, assim, a avaliação institucional interna de aperfeiçoamento, numa perspectiva democrática e reflexiva: a competição e classificação devem ficar longe do processo, uma vez que visam a comparativos de diferentes realidades e desconsideram quesitos importantes, como o capital cultural do aluno. De todo mundo esse tipo de avaliação se constitui um instrumento de emancipação – tomando-se aqui o termo no sentido adotado por Saul (2001) – e não de regulação e controle, que é a vertente mais conhecida e divulgada, sendo que os princípios que norteiam esse tipo de avaliação alinham-se aos referencias expressos por Fernandes (2002, p. 43), os quais, numa perspectiva transformadora e de aperfeiçoamento, podem ser, concisamente, assim enumerados: a) Adesão voluntária: o projeto deve ser desejado por toda a comunidade, estimulada a participar de reuniões democráticas; b) Avaliação total e coletiva: a escola deve ser avaliada por todos (pais, alunos, funcionários, gestores, professores e comunidade). c) Respeito à identidade: as especificidades da escola deverão ser consideradas na avaliação interna, que pode ser complementada por uma avaliação externa. d) Unidade de “linguagem”: o entendimento comum dos conceitos, princípios e finalidades do projeto deve ser buscado. e) Competência técnico-metodológica: deve-se ter uma base científica que direciona o projeto e legitima os dados coletados. É válido ressaltar, entretanto e desde já, que a avaliação institucional não se constitui a panaceia para todos os males educacionais, ainda que, certamente, consista num importante passo para a melhoria do estabelecimento e da educação. Leite (2005, p. 120), ao reconhecer os principais limites de sua proposta de Avaliação Participativa (AP) nas universidades, elenca-os na seguinte conformidade: Dependência de autovigilância e de auto interesse da comunidade; Dificuldade em alcançar a análise do todo institucional; Carência de tempo para desenvolvimento do processo e mudança de cultura; Presença de participantes que preferem uma avaliação pronta a pensar; Jogo de poder presente nas relações sociais e nas formas de avaliar; Precedência de uma avaliação externa, entre outros. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 3.2. As funções da avaliação educacional Avaliação pode ser entendida como a junção do ato de avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelo indivíduo. É um instrumento valioso e indispensável no sistema escolar, podendo descrever os conhecimentos, atitudes ou aptidões que os alunos apropriaram. Sendo assim a avaliação revela os objetivos de ensino já atingidos num determinado ponto de percurso e também as dificuldades no processo de ensino aprendizagem (KRAEMER, 2006). Percebe-se que o ato de avaliar é amplo e não se restringe ao único objetivo, vai além da medida, posicionando-se favorável ou desfavorável à ação avaliada, propiciando uma tomada de decisão. Sob a ótica de Sant‟Anna (1998, p. 29) avaliação um processo pelo qual se procura identificar, aferir, investigar e analisar as modificações do comportamento e rendimento do aluno, do educador, do sistema, confirmando se a construção do conhecimento se processou, seja este teórico (mental) ou prático. Partindo desse pressuposto, avaliação não consiste em só avaliar o aluno, mas o contexto escolar na sua totalidade, permitindo fazer um diagnóstico para sanar as dificuldades do processo de aprendizagem, no sentido teórico e prático. A avaliação na concepção de Both (2007) vem atrelada ao processo, onde se direciona a qualidade do desempenho sobre a quantidade de atividades propostas, tanto para o aluno quanto para o professor, ficando em um processo comparativo. Porém na visão do mesmo autor, o foco principal é a qualidade do ensino, ultrapassando os limites da verificação. Segundo Demo (1999) refletir é também avaliar, e avaliar é também planejar, estabelecer objetivos, etc. Daí os critérios de avaliação, que condicionam seus resultados estejam sempre subordinados a finalidades e objetivos previamente estabelecidos para qualquer prática, seja ela educativa, social, política ou outra. Observou-se por meio dessa afirmação, que avaliar demanda refletir, planejar e atingir objetivos, tendo como propósito o entendimento que o ato avaliativo articula-se ao processo educativo, social e político. Na leitura de Libâneo (1994) avaliação é vista como uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Através dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias. A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Os dados coletados no decurso do processo de ensino, quantitativos ou qualitativos, são interpretados em relação a um padrão de desempenho e expressos em juízos de valor (muito bom, bom, satisfatório, etc.) acerca do aproveitamento escolar. A avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de controle em relação as quais se recorrem a instrumentos de verificação do rendimento escolar (LIBÂNEO, 1994, p. 195). Avaliação é um instrumento permanente do trabalho docente, tendo como propósito observar se o aluno aprendeu ou não, podendo assim refletir sobre o nível de qualidade do trabalho escolar, tanto do aluno quanto do professor, gerando mudanças significativas. Para Vasconcellos (1995) “a avaliação, na prática, um entulho contra o qual se esboroam muitos esforços para pôr um pouco de dignidade no processo escolar”. Diante dessa colocação, é significativa a percepção de uma avaliação pautada numa perspectivatransformadora, tendo como pano de fundo resgatar seu papel no contexto escolar. A avaliação nos diferentes espaços de produção do conhecimento tem sido tradicionalmente considerada como um fator que ocorre no final do processo de produção do conhecimento. Sob esta ótica, é fundamental perceber que a avaliação ocorre no decorrer de todo processo ensino aprendizagem. Dessa forma, pode-se falar em três modalidades de avaliação: diagnóstica, formativa e somativa. Para Kraemer (2006) a avaliação diagnóstica é baseada em averiguar a aprendizagem dos conteúdos propostos e os conteúdos anteriores que servem como base para criar um diagnóstico das dificuldades futuras, permitindo então resolver situações presentes. Nesse olhar, percebe-se que o papel da avaliação diagnóstica, objetiva investigar os conhecimentos anteriormente adquiridos pelo educando, propiciando assim, assimilar conteúdos presentes que são partilhados no processo ensino aprendizagem. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Blaya (2007) ao reportar-se a avaliação diagnóstica destaca que avaliação diagnóstica tem dois objetivos básicos: identificar as competências do aluno e adequar o aluno num grupo ou nível de aprendizagem. No entanto, os dados fornecidos pela avaliação diagnóstica não devem ser tomados como um rótulo que se cola sempre ao aluno, mas sim como um conjunto de indicações a partir do qual o aluno possa conseguir um processo de aprendizagem. Ao refletir sobre a função da avaliação diagnóstica, a ênfase dada é identificar os conteúdos e competências, objetivando saber qual nível encontra-se o aluno, bem como destacar que o seu principal foco não é voltado à nota, mais em um diagnóstico para compreender o processo da produção do conhecimento. Ao referir-se sobre a avaliação diagnóstica, Gil (2006, p. 247) revela que: “constitui-se num levantamento das capacidades dos estudantes em relação aos conteúdos a serem abordados, com essa avaliação, busca-se identificar as aptidões iniciais, necessidades e interesses dos estudantes com vistas a determinar os conteúdos e as estratégias de ensino mais adequadas”. Nesse repensar, evidenciou-se que a avaliação vem modificando-se ao longo dos tempos, com implicações incorporadas cada vez mais de procedimentos avaliativos que propiciam um resultado mais eficaz. No que tange a avaliação formativa, esta visa mostrar ao professor e ao aluno o seu desempenho na aprendizagem bem como no decorrer das atividades escolares, oportunizando localizar as dificuldades encontradas no processo de assimilação e produção do conhecimento, possibilitando ao professor correção e recuperação. Na visão de Blaya (2007) a avaliação formativa é a forma de avaliação em que a preocupação central reside em coletar dados para reorientação do processo de ensino-aprendizagem. Trata-se de uma bússola orientadora do processo de ensino-aprendizagem. A avaliação formativa não deve assim exprimir-se através de uma nota, mas sim por meio de comentários. Nesta perspectiva a autora mostra a importância da avaliação formativa, sendo um instrumento de coleta de dados, podendo assim reorganizar o processo de ensino e aprendizagem. A avaliação formativa consiste na prática da avaliação contínua realizada durante o processo de ensino e aprendizagem, com a finalidade de melhorar as aprendizagens em curso, por meio de um processo de regulação permanente. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Professores e alunos estão empenhados em verificar o que se sabe, como se aprende o que não se sabe para indicar os passos a seguir, o que favorece o desenvolvimento pelo aluno da prática de aprender a aprender. A avaliação formativa é um procedimento de regulação permanente da aprendizagem realizado por aquele que aprende (BONIOL E VIAL apud WACHOWICZ E ROMANOWSKI, 2003, p. 126). Partindo dessa afirmação, a avaliação formativa é destacada como um processo contínuo, onde o ponto de partida é o critério de transformar a avaliação em um instrumento que evolui e pode ser melhorado com o tempo a saber aprender a aprender. Outro enfoque a ser referendado: A avaliação formativa tem a finalidade de proporcionar informações acerca do desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, para que o professor possa ajustá-lo às características dos estudantes a que se dirige. Suas funções são as de orientar, apoiar, reforçar e corrigir (GIL, 2006, p. 247, 248). Estas colocações, ampliam as perspectivas de entendimento da avaliação formativa, contribuindo para o entendimento de uma avaliação sem finalidade seletiva, agregada ao processo de formação, visando aos docentes e discentes redefinir prioridades e ajuste de estratégias. Para Kraemer (2006) a avaliação somativa detecta o nível de rendimento realizando um balanço geral, no final de um período de aprendizagem, podendo classificar de acordo com o nível de aprendizagem. Por outro lado, Wachowicz e Romanowski (2003, p. 124) destacam que a avaliação somativa manifesta-se nas propostas de abordagem tradicional, em que a condução do ensino está centrada no professor, baseia-se na verificação do desempenho dos alunos perante os objetivos de ensino estabelecidos no planejamento. Para examinar os resultados obtidos, são utilizados teste e provas, verificando quais objetivos foram atingidos considerando-se o padrão de aprendizagem desejável e, principalmente, fazendo o registro quantitativo do percentual deles. As autoras afirmam com propriedade que a avaliação somativa atrela-se diretamente a função classificatória, tendo como propósito verificar se os objetivos elencados no planejamento foram alcançados. Uma avaliação pontual, que geralmente ocorre no final do curso, de uma disciplina, ou de uma unidade de ensino, visando determinar o alcance dos objetivos previamente estabelecidos. Visa elaborar um balanço somatório de uma ou várias Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 sequências de um trabalho de formação e pode ser realizada num processo cumulativo, quando esse balanço final leva em consideração vários balanços parciais (GIL, 2006, p. 248). Neste sentido, percebe-se que o propósito fundamental da avaliação somativa na visão do autor, é classificar ou entregar um certificado. Considerando a importância da avaliação nos diferentes ambientes educacionais, percebeu-se que no decorrer de sua historicidade agregou-se as tendências educacionais que representam um dos aspectos fundamentais do processo educacional. Partindo desse pressuposto, vamos apresentar a avaliação como conservadora e crítica. Na conservadora destaca-se a abordagem tradicional, escola nova e a tecnicista. Segundo Behrens (2005) a avaliação na prática educacional tradicional contempla: respostas prontas, e quando as perguntas são propostas que objetivam respostas pré-determinadas, não possibilitam a formulação de novas perguntas. Este fator impede os alunos de serem criativos, reflexivos e questionadores. A avaliação, de maneira geral, única e bimestral, contempla questões que envolvem a reprodução dos conteúdos propostos, enfatizando e valorizando a memorização, a repetição e a exatidão, perguntas que envolvem reprodução buscam respostas prontas, ela é única e bimestral impedindo aos alunos ao questionamento, valorizando a memorização. Nesse repensar, observou-se que o paradigma tradicional prioriza a memorização e a repetição, ao aluno destaca-se a passividade, apenas receptor de conteúdos, sem questionamentos ou interferências no processo de ensino aprendizagem, sendo o professor autoritário, dono do saber. Sob a ótica de Pimenta (2000) a avaliação no tradicional concebe: o homemcom aptidões naturais, nascidas com ele, o homem só pode desenvolver-se por meio de uma disciplina rígida que possibilite o afloramento de suas aptidões com o decorrer do crescimento físico. Nesse sentido é preciso apenas colocá-los no caminho correto para que se completem, o que significa para essa pedagogia o processo de libertação. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 A colocação de Pimenta (2000) assemelha-se as ideias de Behrens (2005), no sentido em que a pedagogia tradicional é baseada no autoritarismo e na rígida disciplina, para o pleno desenvolvimento humano. Já na visão de Mizukami (1986) a avaliação visa a exatidão da reprodução do conteúdo comunicado em sala, tendo como finalidade medir a quantidade e a exatidão de informações que é reproduzida. Para Shudo (2007), a pedagogia conservadora tradicional tem como propósito priorizar a avaliação de conteúdos livrescos, tendo como pano de fundo destacar a importância das medidas de dimensões ou aspectos quantificáveis, considerando a importância da periodicidade do processo de avaliação e do registro de seus resultados. O caminho proposto pela autora, revela que a função é classificar, referenciando modelos aceitáveis, com base nos padrões historicamente consagrados. Por outro lado, na escola nova, Behrens (2005), destaca como um processo avaliativo contemplando a auto avaliação e tem como pressuposto a busca de metas pessoais onde o aluno se responsabiliza pelo seu aprendizado, ocasionando um sujeito ativo, para aprender e participar da ação educativa. Acrescenta ainda, que o professor se apropria de instrumentos avaliativos que facilitarão a aprendizagem, auxiliando no desenvolvimento espontâneo do aluno. Segundo Pimenta (2000) a pedagogia da escola nova visa à vontade do sujeito, destaca-se um espontaneísmo natural, difere-se da visão tradicional, onde o caminho já era traçado e pré-determinado pelo professor. Para Shudo (2007) a avaliação na concepção escolanovista, objetiva priorizar as relações afetivas. Ao referendar-se ao tecnicismo, Behrens (2005, p. 51) diz que “o elemento principal não é o professor, nem o aluno, mas a organização racional dos meios. O planejamento e o controle asseguram a produtividade do processo”. Observa-se nessa perspectiva, que a educação é voltada para ser eficaz e produtiva coletivamente, sendo um treinamento e quem não produz é excluído (BEHRENS, 2005). Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Segundo Shudo (2007) a concepção tecnicista tem como pressuposto avaliativo priorizar os meios técnicos, a ênfase se dá no fazer. Um olhar sobre esses aspectos conduz a uma reflexão que o papel da avaliação na tendência conservadora tradicional, escolanovista e tecnicista engajam- se em períodos históricos diferenciados, porém com o propósito avaliativo classificatório. No que se refere, ao papel da avaliação na concepção crítica, Behrens contempla em sistêmica, progressista e ensino com pesquisa. Ao reportar-se ao paradigma sistêmico, Behrens (2005) destaca a avaliação como a modalidade que visa o processo, o crescimento gradativo e o respeito ao aluno como pessoa, contemplando suas inteligências múltiplas com seus limites e qualidades. O processo avaliativo está a serviço da construção do conhecimento, da harmonia, conciliação, da aceitação dos diferentes, tendo como premissa uma melhor qualidade de vida. Dessa forma, visualiza-se a evolução da aplicação da avaliação no meio escolar, nas diferentes concepções pedagógicas, propiciando nesta visão sistêmica observar uma tendência mais humanizadora, voltado ao aluno e o seu aprendizado significativo. Na abordagem progressista a avaliação é contínua, processual e transformadora. Contempla momentos de autoavaliação e avaliação grupal, tendo troca de experiências e diálogos entre os professores e alunos (BEHRENS, 2005). Na visão de Shudo (2007), a avaliação crítica objetiva a compreensão da realidade, priorizando a educação como instrumento de transformação e formação para a cidadania do sujeito. Sob a ótica de Mizukami (1986, p. 102) a avaliação crítica é vista como a verdadeira avaliação do processo e consiste na auto avaliação ou avaliação mútua e permanente da prática educativa por professor e alunos, qualquer processo formal de notas e exames, deixa de ter sentido em tal concepção. No processo de avaliação proposto, tanto os alunos como os professores saberão quais suas dificuldades, quase seus progressos. Diante das perspectivas apontadas pelas autoras, evidencia-se que o papel da avaliação crítica pauta-se nos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, observando-se que a mesma tem finalidade diagnóstica, engajada num processo contínuo e processual de ensino-aprendizagem, oportunizando a auto avaliação. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Para Behrens (2005) a avaliação no ensino com pesquisa apresenta-se contínua, processual e participativa. O acompanhamento dos alunos em projetos e pesquisas tem como norteador a proposição de critérios discutidos e construídos com os alunos antes de começar o processo. O aluno é avaliado pelo desempenho geral e globalizado, com acompanhamento do seu ritmo participativo e produtivo, todo dia e não por momentos de grande esforço de memorização e cópia no final do bimestre. Estas colocações apontadas revelam que a avaliação é voltada para o aprendizado, participação e para o progresso do aluno no decorrer da caminhada educativa. Como vimos até o momento, as questões didático-pedagógicas são, na atualidade, uma grande pauta para discussão dos pontos que envolvem, de uma forma geral, o modelo educacional na sociedade contemporânea. Dentre essas, a avaliação provoca, no prelúdio de sua discussão, uma série de questionamentos. A avaliação compreende-se como fator de expoência consideravelmente significativo do processo de aprendizagem. Porém, o modelo comumente empregado para a avaliação da aprendizagem não passa de uma forma classificatória de enunciar o que cada aluno deveria, efetivamente, ter assimilado do conteúdo exposto pelo professor em um dado período letivo, a fim de concluir uma unidade do plano de ensino. É uma questão a ser pensada e repensada com criticidade, com ponderação e muito reflexivamente. 4 O INSPETOR ESCOLAR NO NOVO MILÊNIO Segundo Bento (2008) a compreensão do papel do inspetor de Educação exige a análise de suas origens, transposições, relações e contradições, no processo histórico do contexto brasileiro, social, político e econômico. Algumas destas análises, pertinentes ao curso foram feitas ao longo da apostila. A Inspeção Escolar está ligada a vários fatores que contribuem com o processo democrático da comunidade escolar. Evidentemente, nem sempre foi assim como vimos na evolução da profissão. A própria expressão linguística nos remete à história, desde o Brasil colonial, de que o ato de inspecionar nos lembra o ato de fiscalizar, observar, examinar, verificar, olhar, vistoriar, controlar, vigiar… Porém, atualmente, a figura deste profissional nas Instituições Escolares proporciona uma estreita ligação entre os outros órgãos do Sistema Educacional, quer sejam Secretarias Regionais ou Unidades Escolares, para garantir a aplicação Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 legal do regime democrático. Por isso, o Inspetor tem uma grande concentração nos aspectos Administrativos, Financeiros e Pedagógicos das Unidades Escolares, trabalhando inclusive, como agente sociopolítico. Neste sentido, o Inspetor Escolar trabalha estreitamente com a gestão de pessoal. Está sempre preocupado com a veracidade eatualização da escrituração e organização escolar para proporcionar segurança no processo de arquivos e no futuro, próximo e até cem anos, esteja resguardada para servir de acervo de pesquisas históricas ou ainda, comprovar a situação funcional dos servidores que almejam a aposentadoria. Isto acontece, inclusive, com os documentos informativos da vida escolar dos alunos. Em qualquer tempo, as pessoas poderão procurar a sua instituição escolar de origem para requerer um novo documento, Histórico Escolar, por exemplo. O Inspetor Escolar está sempre imaginando as possibilidades do futuro, pois não se sabe quando alguém que conhece e trabalha na instituição Escolar ainda estará ou nem se lembrará das situações, casos ou momentos ocorridos; ou seja, as equipes de trabalhos estão sempre se renovando e acaba necessitando de uma Escrituração dos fatos, ato na Organização escolar muito bem definida para resguardar a integridade de todo arquivo (Atas, Diários de Classe, Fichas individuais e entre outros). Inclusive, como o Inspetor Escolar está sempre em contato com as comunidades escolares e tem um papel importante na comunicação entre os órgãos da administração superior do sistema e os estabelecimentos de ensino que o integram, “volta-se para: organização e funcionamento da escola e do ensino, a regularidade funcional dos corpos docente e discente, a existência de satisfatórios registros e documenta ão escolar…” (RESOLUÇÃO 305/83). Por isso, este profissional, como prática educativa, se torna um importante agente político e de caráter pedagógico do sistema, pois poderá sugerir mudanças de estratégias nas decisões dos órgãos do sistema para promover uma implementação organizacional mais ampla e democrática para garantir acesso de toda sociedade nas Instituições Escolares, ao conhecimento e à cultura. Pensando nisso, os estudos e aplicação das normas do Sistema observadas pelo Inspetor Escolar, o faz posicionar diante de uma pragmática de educação, sociedade, modelos de organização e funcionamento, prática pedagógica e valores das práticas de conscientização e discussões. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 As ações do Inspetor não se limitam, evidentemente, apenas nas aplicações de normas, mas, também, nas ações de revisão ou mudanças na legislação, numa perspectiva crítica adequada à realidade social a que se destina, dando conhecimento à administração do sistema das consequências da aplicação dessas mesmas normas. Sob o ponto de vista Ideológico, o Inspetor Escolar quando age criticamente nos aspectos educacionais no momento da aplicação da legalidade pode contribuir nas reformulações das leis, fazendo o legislador legislar sob o ponto de vista do ato de educar. Ou melhor, o Inspetor converte o conteúdo ideológico da legislação do ensino em diretrizes capazes de orientar a ação dos agentes do Sistema. Por isso, é um agente Político (BIASE, 2009). Portanto, o papel do Inspetor Escolar no processo democrático é de fundamental importância social sob o ponto de vista educacional, pois se torna os “olhos”, a presença ou a representação, a ação do Estado ou do órgão executivo e Legislativo “in loco”, nas Instituições de Ensino. Inclusive, por causa da aplicação das normas que podem ser verificada a sua adequação na práxis operativas do Sistema Educacional. Por fim, o processo democrático, na função do Inspetor, é captar os efeitos da aplicação da norma com o objetivo de promover a desejada adequação do “formal” ao “real” e vice-versa com uma função Comunicadora, Coordenadora e Reinterpretadora das orientações e informações das bases do sistema (BIASE, 2009). Além das atribuições constantes da Lei n.º 7.109/77 (art. 13, inciso IV), da Resolução CEE/MG no 305/83 e da Resolução SEE n 7.149/93; compete igualmente ao Inspetor Escolar: 1 - Homologar o Regimento e o Calendário Escolar, inclusive o Calendário Escolar Especial (Resolução SEE n. 7.762/95 - art. 2º, § 2º, artigo 6º e Orientação SEE n. 02/95). 2 - Visar comprovantes de conclusão da 4ª série do ensino fundamental de candidatos maiores de 14 (quatorze) anos, segundo o disposto na Instrução SDE n. 01/95. 3 - Orientar e acompanhar o cumprimento das disposições da Portaria SDE n. 004/95, bem como o disposto nos artigos 58 e 59 da Resolução SEE n. 7.762/95. 4 - Assinar juntamente com o Secretário e o Diretor da Escola a relação Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 nominal dos concluintes dos cursos de ensino médio, candidatos a obtenção de diplomas ou certificados de habilitações profissionais, conforme o disposto no art. 6º da Portaria SAE n. 639/95. 5 - Visar processo de autorização para lecionar, secretariar e dirigir estabelecimento de ensino fundamental e médio. 6 - Convocar a atenção de diretores de estabelecimentos de ensino, sob sua orientação, para o disposto no art. 60 das Medidas Provisórias, mensalmente reeditadas, a saber: "Art. 6º - São proibidas a suspensão de provas escolares, a retenção de documentos escolares, inclusive os de transferência, ou a aplicação de quaisquer outras penalidades pedagógicas, por motivo de inadimplemento”. 7 - E ainda: verificar, permanentemente, no que se refere à legislação do ensino, a situação legal e funcional do pessoal administrativo, técnico e docente, encaminhando relatório específico ao Órgão Regional de Ensino (SRE), de acordo com o disposto no artigo 19, § 4º, da Resolução CEE/MG n.º 397/94. São de competência do Inspetor Escolar : Análise e parecer técnico em processos de credenciamento, autorização e reconhecimento dos cursos de educação básica e educação profissional. Análise e Parecer técnico em processo de Equivalência de estudos ofertados por instituições situadas no Brasil e fora do Brasil. Análise e chancela de Históricos Escolares/Certificados de Educação Básica e Educação Profissional. Orientação às Unidades escolares de Educação Básica das redes públicas estadual, municipais e a particular de ensino quanto ao comprimento da legislação educacional vigente. Encaminhamento para exames supletivos nos casos previstos na legislação vigente (SEE/AL, 2005). São deveres do Inspetor Escolar: Avaliar o desempenho da Escola, vista como um todo, de forma a caracterizar suas reais possibilidades e necessidades, seus níveis de desempenho no Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 processo de desenvolvimento de currículo e oportunizar tomada de decisões, embasadas na realidade, a nível de escola ou outros níveis do Sistema Estadual de Ensino; Participar do planejamento dos mecanismos e instrumentos de controle especialmente nos de avaliação - com referência a programas educacionais em desenvolvimento a serem propostos; Participar do processo de planejamento curricular, com vistas à melhoria qualitativa do ensino, através de caracterização da realidade escolar, necessidades a serem atendidas e possibilidades a serem aproveitadas; Colaborar no traçado das diretrizes científicas e enfocadoras do Processo de Controle - unidade de avaliação que levem à consecução da filosofia e da política educacional do Estado; Assessorar os superiores hierárquicos em assuntos da Área da Inspeção Escolar; Manter-se constantemente atualizado de forma a evidenciar desempenhos que expressem conhecimento do objeto a ser avaliado, conhecimento da metodologia da avaliação, domínio de técnicas de trabalho e instrumentalização própria, tendo em vista a abrangência e profundidade de sua atuação no Sistema Estadual de Ensino (SEE/RS, 1978). São atribuições do Inspetor Escolar: Aplicar instrumentos de avaliação; Tabular os resultados da aplicação de instrumentos de avaliação; Elaborar relatórios de avaliação que configurem a realidade do foco; Elaborar ou utilizar mecanismos e instrumentos de validação de propostas ou fonogramas; Apresentar subsídios para tomada de decisões a partir dos resultados das avaliações; Fornecer informações relativas à dinâmica de desenvolvimento de currículo nos estabelecimentos de ensino; Detalhar as programações da área de avaliação; Realizar sua ação cooperativante no âmbito do órgão que integra; Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Atender às solicitações do superior referentes à sua ação avaliadora desenvolvida no âmbito regional ou de macro sistema. A legislação do estado do Rio de Janeiro diz o seguinte: Art. 1.º - Ao Inspetor Escolar, em exercício nos diversos órgãos regionais da Secretaria de Estado de Educação, cabe planejar a dinâmica de sua atuação em consonância com as diretrizes estabelecidas pela Coordenadoria de Inspeção Escolar da Subsecretaria Adjunta de Desenvolvimento do Ensino, observadas as normas do Conselho Estadual de Educação - RJ. Parágrafo Único - A ação do Inspetor Escolar dar-se-á, prioritariamente, de modo preventivo e sob a forma de orientação, visando evitar desvios que possam comprometer a regularidade dos estudos dos alunos e a eficácia do processo educacional. Art. 2.º - É função precípua do Inspetor Escolar zelar pelo bom funcionamento das instituições vinculadas ao sistema estadual de ensino - público e particular - avaliando-as, permanentemente, sob o ponto de vista educacional e institucional e verificando: a) a formação e a habilitação exigidas do pessoal técnico- administrativo pedagógico, em atuação na unidade escolar. b) a organização da escrituração e do arquivo escolar, de forma que fiquem asseguradas a autenticidade e a regularidade dos estudos e da vida escolar dos alunos. c) o fiel cumprimento das normas regimentais fixadas pelo estabelecimento de ensino, desde que estejam em consonância com a legislação em vigor. d) a observância dos princípios estabelecidos na proposta pedagógica da instituição, os quais devem atender à legislação vigente. e) o cumprimento das normas legais da educação nacional e das emanadas do Conselho Estadual de Educação - RJ. Art. 3.º - São ainda atribuições específicas do Inspetor Escolar, além do acompanhamento contínuo às unidades de ensino: a) integrar comissões de autorização de funcionamento de instituições de ensino e/ou de cursos; de verificação de eventuais irregularidades, ocorridas em unidades escolares; de recolhimento de arquivo de escola com Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 atividades encerradas, ou comissões especiais determinadas pela Coordenadoria de Inspeção Escolar. b) manter fluxo horizontal e vertical de informações, possibilitando a realimentação do Sistema Estadual de Educação, bem como sua avaliação pela Secretaria de Estado de Educação. c) declarar a autenticidade, ou não, de documentos escolares de alunos sempre que solicitado por órgãos e/ou instituições diversas. d) divulgar matéria de interesse relativo à área educacional. Art. 4.º - Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação, revogada a Portaria COSE-E n.º 02, de 07 de dezembro de 1989 (D.O. de 02.02.90). (DORJ, 2001). Em qualquer estado brasileiro, mesmo com denominação diferente, ou quando o cargo foi extinto, existe uma convergência do seu trabalho em prol da boa organização dos trabalhos na escola. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação educacional: regulação e emancipação: para uma sociologia das políticas avaliativas contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2000. AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação educacional: regulação e emancipação. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. ALMEIDA, Fernando José. Educação e informática. Os Computadores na Escola. São Paulo: Cortez, 1988. ALMEIDA, Fernando José. Projetos e Ambientes Inovadores. Brasília: Parma, 2000. ALMEIDA, Maria Elizabeth. Informática e Educação. 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