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Artigo - A ideologia não pode ser maior que nossa história de lutas



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A ideologia não pode ser maior que nossa história de lutas 
Por Graciela Nienov e Viviane Barbosa 
 
Nossa reflexão passa pela história de luta vivida pelas mulheres para que foram 
alcançadas as vitórias que usufruímos atualmente. E isso só pode ser feito 
reconhecendo a participação de todas as mulheres seja de qual campo e 
ideologia a que estavam vinculadas. Assim, nosso objetivo neste artigo é o de 
aprofundar e relembrar as lutas de todas as mulheres brasileiras. 
Em 1879, as mulheres conquistam o direito ao acesso às faculdades; em 1932, 
uma mulher conquistou o direito ao voto. O sufrágio feminino, garantido pelo 
primeiro Código Eleitoral brasileiro. 
E 1933, foi eleita a primeira mulher deputada federal brasileira, Carlota Pereira 
de Queirós; em 1962, foi permitido que mulheres casadas não precisassem 
mais da autorização do marido para trabalhar. A partir de então, elas também 
passariam a ter direito à herança e a chance de pedir a guarda dos filhos em 
casos de separação. 
E 1974 foi aprovada a “Lei de Igualdade de Oportunidade de Crédito”, para que 
clientes não fossem mais discriminados baseados no gênero ou estado civil; 
em 1977, o divórcio tornou-se uma opção legal no Brasil e em 1979 as mulheres 
ganharam o direito à prática do futebol, acabando com um decreto da Era 
Vargas que estabelecia que as mulheres não podiam praticar esportes 
determinados como incompatíveis com as “condições de sua natureza”. 
Em 1985 foi criada a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à 
Mulher (DEAM) em São Paulo e, logo depois, em outras unidades da 
Federação, mas foi na Constituição de 1988 que as mulheres passaram a ser 
vistas pela legislação brasileira como iguais aos homens. 
Em 2006 foi criada a Lei 11.340/06, que recebeu o nome de “Lei Maria da 
Penha”, em homenagem a uma farmacêutica que ficou sem os movimentos das 
pernas após ser vítima de violência doméstica. 
Essa lei foi pioneira no trato à violência doméstica no país, o que acabou por 
culminar, em 2015, na incorporação à Constituição Federal (Lei nº 13.104) do 
crime de feminicídio como um crime de homicídio. 
Em 2018, a importunação sexual feminina passou a ser considerada crime e 
em 2021 é criada lei para prevenir, reprimir e combater a violência política 
contra a mulher. A Lei 14.192/21 estabelece normas para prevenir, reprimir e 
combater a violência política contra a mulher ao longo das eleições e durante 
o exercício de funções públicas. É violência política contra as mulheres toda 
ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou 
restringir os direitos políticos. Lembramos de todos esses atos, pois é 
importante buscar na história, as justificativas para esclarecer que nossa luta 
está acima da guerra de ideologias. 
Conseguimos muitos avanços durante longos anos, mas sabemos que na 
realidade ainda não há isonomia de tratamento e direitos quando se é 
mulher. Dentro de nossas próprias casas ainda se mantém um resquício do 
patriarcalismo. Na “sociedade do trabalho e emprego”, as mulheres 
conquistaram o direito de trabalhar, mas não de ganhar salários iguais aos 
homens.Tarefas domésticas, salvo exceções, ainda são um afazer feminino. 
Vislumbrando as eleições de 2024, precisamos enaltecer o grande avanço dos 
30%, tanto nas vagas nas legendas, como no fundo partidário, por muito vistos 
como absurdo, mas que na prática, como luz a projetar uma saída, precisamos 
entender que isso foi uma grande vitória. O que hoje é obrigatório fará o 
caminho para que as gerações futuras não precisem mais dessa “cota de 
igualdade”. 
Por meio desse direito, mesmo que muitas vezes os partidos sendo obrigados 
a completar a cota, com dificuldades de fechar suas legendas, avançaremos 
passo a passo para grande vitória da real igualdade política entre homens e 
mulheres. 
Dá para imaginar quão difícil será chegar a propalada igualdade entre homens 
e mulheres sem as pequenas (grandes) conquistas do passado e que se 
consolida no presente? 
Sabia que em 144 economias do mundo ainda impedem que mulheres atuem 
em determinadas atividades simplesmente por serem mulheres; que 159 
países não possuem leis contra o assédio sexual no ambiente de trabalho; que 
39 países impedem que mulheres herdem bens de seus pais; que em 36 
nações as viúvas não têm direito a imóveis ou quaisquer propriedades que 
pertenciam à família; que 18 países permitem que os maridos proíbam as 
mulheres de trabalhar e em três países as mulheres ainda precisam de 
autorização do marido para abrir conta em banco? No mundo, somos 2,7 
bilhões de mulheres que enfrentam algum tipo de restrição legal por sermos 
mulheres. 
Dá para acreditar? 
É mister trazermos esses dados para que possamos nos conscientizar que a 
ideologia que separa um lado de outro não pode, em momento algum, interferir 
na causa principal que é a causa da mulher. O que queremos é deixar um 
caminho menos tortuoso para as próximas gerações. 
Na Política então, precisamos avançar muito. Muitas vezes ficamos “atrás da 
porta” nas pautas importantes que vão mudar nossas vidas e de nossa família. 
Precisamos ser protagonistas das nossas próprias histórias, sejam elas nas 
comunidades que convivemos, dentro da nossa família, no mercado laboral e 
no cenário mais decisivo que o campo político. Não buscamos ser mais nem 
menos que os homens, mas sim iguais em garantia na constituição brasileira, 
mas que seja de fato e não de discursos retóricos. 
A Constituição precisa ser aceita, entendida e exercida no nosso dia a dia. 
Lembremos que lidamos com uma geração que não está habituada com essas 
discussões mais amplas; que ainda ouvimos dentro de nossas casas nossas 
mães dizendo que homem não pode lavar a louça etc... São coisas simples, 
mas que mudam a conscientização das próximas gerações. 
O fato é que podemos sim, temos inteligência sim, capacidade sim e espaços 
para discutirmos um novo momento de atuação das mulheres, pensando nas 
que virão e que herdarão os frutos de nossas lutas como herdamos das que 
nos precederam. 
Somos mulheres com retenção com o movimento de Direita pelas pautas que 
defendemos, mas isso não afeta o respeito que temos pela história de todas as 
mulheres que lutaram e continuam lutando pelas causas comuns: por igualdade 
de direitos conquistados e pelas garantias de posicionamento de todas as 
mulheres de nosso país. 
Falar de política feminina é algo sério e precisamos respeitar. 
Que nas eleições de 2024, as nossas vozes se multipliquem no Legislativo e 
no Executivo. 
Que toleramos ser respeitadas pelas ideias e projetos que construímos e não 
pelo sexo que nascemos. 
Que tenhamos cada vez mais espaço político para mudar, nos municípios, 
estados e nação, a vida de milhões de mulheres com leveza, sabedoria e 
competência. 
Publicado no jornal O Centro - www.jornalocentro.com.br