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MÉTODOS NUMÉRICOS EM EQUAÇÕES DIFERENCIAIS AULA 4 Profª Marina Vargas Reis de Paula Gonçalves 2 CONVERSA INICIAL Nas aplicações reais, é recorrente que um problema, regido por uma equação diferencial, não forneça o conhecimento de todas as condições iniciais na variável e nas suas derivadas até uma ordem abaixo da própria EDO. Essa, na verdade, é uma exigência muito específica em diversos contextos físicos. No geral, é razoável conhecer, através do contexto físico do problema, os valores em certos graus diferenciais. Por exemplo, para um problema de propagação de calor em uma barra, é razoável conhecer a temperatura em suas extremidades no instante inicial, o que corresponderia a uma condição inicial. No entanto, frequentemente não se conhece a distribuição de temperatura, sendo essa a solução a ser obtida, e assim não se conhecem as taxas de variação instantâneas iniciais, de modo que o PVI fica incompleto, enquanto buscamos desvendar mais informações sobre a própria função. Por analogia, é como se um projétil fosse lançado através de um lançamento oblíquo: sabendo de onde ele parte e aonde ele chega, desejamos prever a trajetória, mas não sabemos a angulação do lançamento. Nesse caso, o conhecimento sobre o início e o fim da trajetória se referem ao contorno do problema. Assim, tratamos esse caso como Problema Valor de Contorno, ou PVC. Assim, vamos abordar temas que visam formalizar o entendimento do PVC, permitindo seu estudo e uma aproximação numérica. Em seguida, vamos apresentar abordagens para o tratamento e a solução numérica. Os métodos descritos podem ser encontrados em Burden e Faires (2008), Franco (2006), Butcher e Goodwin (2008) e Chapra (2012). Esses materiais são indicados para um maior aprofundamento do conteúdo. A teoria que embasa formalmente o estudo de problemas de valor de contorno sob o enforque analítico foge do escopo desse material, e sendo objeto de estudo na área de Equações Diferenciais, sob a ótica de teoria da medida, teoria de aproximação e análise funcional, como estudado em Brezis (2010). 3 TEMA 1 – TEORIA ELEMENTAR DO PROBLEMA DE CONTORNO 1.1 Formalização matemática Um PVC consiste em uma associação de uma EDO de ordem 𝒏 com um conjunto de restrições na forma de novas EDOs de ordem até 𝒏 − 𝟏 aplicadas pontualmente em um conjunto chamado contorno do problema. Em geral, a região de contorno do PVC coincide com o contorno físico do problema, consagrando o nome do problema, mas não é uma condição primária para a formulação. De fato, podemos resumir o PVC como um operador diferencial 𝑳 que dá origem à EDO, aplicado à função 𝒖 e associado ao atendimento de um operador diferencial 𝑮 aplicado a 𝒖 especificamente no contorno do problema. Ou seja: 𝑳(𝒖) = 𝒇(𝒙) para 𝒙 ∈ 𝛀 (no domínio) e 𝑮(𝒖) = 𝒈(𝒙) para 𝒙 ∈ 𝚪 (no contorno). O operador 𝑮(𝒖) pode conter derivadas de 𝒖 até uma ordem inferior às derivadas presentes em 𝑳(𝒖), sendo razoável separar o operador 𝑮(𝒖) em dois operadores, conforme a ordem das derivadas que carregam. Para a primeira metade de ordem inferior das derivadas, incluindo a de ordem zero, temos 𝑮𝑫(𝒖), que são chamadas condições essenciais do problema, ou Dirichlet. Para as derivadas de ordem superior, até 𝒏 − 𝟏, temos 𝑮𝑵(𝒖), que são chamadas de condições naturais do problema, ou Neumann. Essa é uma separação que por vezes facilita a compreensão do PVC e o estudo da existência, unicidade e regularidade de soluções. Dentro do escopo deste material, é suficiente uma compreensão preliminar dessa definição, como a apresentada, que se associa à compreensão de que um PVC de ordem 𝒏 exige pelo menos 𝒏 condições de contorno para ser considerado um problema bem- posto. TEMA 2 – MÉTODO DO DISPARO O método do disparo consiste em uma estratégia simples e bastante intuitiva. Buscamos repensar o problema de valor de contorno com um problema de valor inicial, e assim, através de um procedimento corretor, ajustaremos as 4 condições iniciais de um ou mais problemas acoplados ao sistema, de forma a atender iterativamente às condições de contorno. 2.1 Procedimento de tentativa e erro Consideremos um problema de valor de contorno de segunda ordem do tipo: 𝒅𝟐𝒖 𝒅𝒙𝟐 = 𝒇(𝒙, 𝒖) sujeito a condições de contorno 𝒖(𝟎) = 𝒖𝟎 e 𝒖(𝒍) = 𝒖𝒍. Dessa forma, podemos reescrever o problema de segunda ordem em dois problemas de primeira ordem acoplados como: 𝒅𝒘 𝒅𝒙 = 𝒇(𝒙, 𝒖) 𝒅𝒖 𝒅𝒙 = 𝒘 Aqui, conhecemos apenas 𝒖(𝟎), referente à segunda EDO, configurando- a como um PVI de condição inicial 𝒖𝟎. Se conhecêssemos uma condição inicial, digamos 𝒘𝟎, para a primeira EDO, resolveríamos o problema de forma simples através de técnicas para integração de sistema de EDOs estudadas anteriormente. Nesse ponto, o método do disparo nos indica que devemos escolher arbitrariamente um valor para 𝒘𝟎, como palpite. Por exemplo, adotamos 𝒘𝟎 = 𝒘𝟎 𝟏 como primeira estimativa. Dessa forma, resolvemos o sistema de equações diferenciais de primeira ordem como um PVI em 𝒖𝟎 e 𝒘𝟎 𝟏. Com esse cálculo, conseguimos determinar um valor ao final do intervalo, em 𝒙 = 𝒍, �̅�𝟏(𝒍) = 𝒖𝒍 𝟏, que provavelmente difere de 𝒖(𝒍) = 𝒖𝒍, levando à conclusão que o palpite 𝒘𝟎 𝟏 foi errôneo. Se 𝒖𝒍 𝟏 > 𝒖𝒍, devemos reduzir 𝒘𝟎 𝟏, escolhendo um segundo palpite 𝒘𝟎 𝟐 menor. Se 𝒖𝒍 𝟏 < 𝒖𝒍, devemos aumentar 𝒘𝟎 𝟏, escolhendo um segundo palpite 𝒘𝟎 𝟐 maior. Assim, iterativamente, o método prossegue até a escolha 𝒘𝟎 𝒋 resultar em um erro |𝒖𝒍 𝒋 − 𝒖𝒍| satisfatório. 5 2.2 Sistematização do procedimento iterativo O procedimento explanado, embora correto, pode demorar a convergir. Com isso, podemos adotar estratégias mais eficientes para a atualização da inclinação 𝒘𝟎 𝒋 . Uma estratégia possível é assumir uma interpolação linear entre dois palpites errôneos e a condição de contorno almejada, para a construção de um palpite mais acurado (𝒘𝟎 𝒆). Ou seja, 𝒘𝟎 𝒆 = 𝒘𝟎 𝟏 + 𝒘𝟎 𝟐 −𝒘𝟎 𝟏 𝒖𝒍 𝟐 − 𝒖𝒍 𝟏 (𝒖𝒍 − 𝒖𝒍 𝟏) Naturalmente o procedimento pode ser estendido para um grau mais elevado do que segunda ordem, bastando para tanto repetir o procedimento iterativo, mais as diversas EDOs do sistema de equações diferenciais pertinente. Este é um método para obter a solução de problemas de valor de contorno (PVC) (ou de fronteira, PVF). Considere o problema de valor de contorno. Desejamos encontrar a solução numérica no intervalo [a, b]: { 𝒚´´ = 𝒑(𝒙)𝒚´ + 𝒒(𝒙)𝒚 + 𝒓(𝒙), 𝒙 ∈ [𝒂, 𝒃] 𝒚(𝒂) = 𝜶 𝒚(𝒃) = 𝜷 Se as funções 𝑝(𝑥), 𝑞(𝑥)𝑒 𝑟(𝑥) são contínuas no intervalo [𝑎, 𝑏], com 𝑞(𝑥) > 0 , ∀𝑥 ∈ [𝑎, 𝑏], então o PVC tem uma única solução. Seja o PVC dado pela equação: { 𝒚´´ = 𝒑(𝒙)𝒚´ + 𝒒(𝒙)𝒚 + 𝒓(𝒙), 𝒙 ∈ [𝒂, 𝒃] 𝒚(𝒂) = 𝜶 𝒚(𝒃) = 𝜷 O método do disparo linear consiste em transformar o PVC em dois PVI: PVI-1: { 𝒚´´ = 𝒑(𝒙)𝒚´ + 𝒒(𝒙)𝒚 + 𝒓(𝒙), 𝒙 ∈ [𝒂, 𝒃] 𝒚(𝒂) = 𝜶 𝒚´(𝒂) = 𝟎 PVI-2:{ 𝒚´´ = 𝒑(𝒙)𝒚´ + 𝒒(𝒙)𝒚 + 𝒓(𝒙), 𝒙 ∈ [𝒂, 𝒃] 𝒚(𝒂) = 𝟎 𝒚´(𝒂) = 𝟏 A solução é dada por 𝒚(𝒙) = 𝒚𝟏(𝒙) + 𝜷−𝒚𝟏(𝒃) 𝒚𝟐(𝒃) 𝒚𝟐(𝒙). Temos que: 𝑦1(𝑥) é a aproximação para o PVI-1 𝑦2(𝑥) é a aproximação para o PVI-2 𝑦1(𝑏) é a aproximação para o PVI-1 6 𝑦2(𝑏) é a aproximação para o PVI-2 TEMA 3 – MÉTODO DE DIFERENÇAS FINITAS Uma forma clássica de se aproximar numericamente equações diferenciais é substituir os operadores diferenciais contínuos, derivadas, por aproximações discretas. Em geral, podemos enxergar esse procedimento como tomar a derivada pela definição 𝒇′(𝒙) = 𝐥𝐢𝐦 𝒉→𝟎 𝒇(𝒙 + 𝒉) − 𝒇(𝒙) 𝒉 A sua aproximação discreta consistiria em assumir o limite válido para o caso em que 𝒉é finito. Ou seja, 𝒇′(𝒙) ≈ 𝒇(𝒙 + 𝒉) − 𝒇(𝒙) 𝒉 Essa expressão possibilita calcular 𝒇′(𝒙) com base em um valor a jusante na malha (𝒙 + 𝒉). Outra possibilidade é usar o ponto a montante (𝒙 − 𝒉), resultando em: 𝒇′(𝒙) ≈ 𝒇(𝒙) − 𝒇(𝒙 − 𝒉) 𝒉 Combinando as duas expressões, podemos escrever ainda: 𝒇′(𝒙) ≈ 𝒇(𝒙 + 𝒉) − 𝒇(𝒙 − 𝒉) 𝟐𝒉 Aqui, sua vez, há um erro menor em função do cancelamento dos termos de ordem ímpar da expansão de Taylor. Assim, as diversas expressões de aproximação em Diferenças Finitas para as derivadas sucessivas podem ser obtidas de combinações de expansões em series de Taylor em torno de pontos da malha. Essa abordagem permite mensurar o erro cometido ao se truncar a série e realizar a aproximação. Para os exemplos acima, as duas primeiras aproximações apresentam erro na ordem de 𝒉𝟏, ou 𝑶(𝒉), enquanto a última expressão apresenta erro na ordem de 𝒉𝟐, ou 𝑶(𝒉𝟐) – sendo, portanto, mais acurada. 3.1 Aproximação de domínio As expressões de diferenças finitas se distinguem não só pela sua ordem de erro, mas também pela quantidade de pontos necessária para o cálculo. Essa 7 quantidade de pontos associados passa a ser restritiva à medida em que há a necessidade de escrever o equacionamento perto do contorno do problema. Dessa forma, domínio e contorno são tratados separadamente para a formulação, e então acoplados no mesmo sistema numérico. Para pontos interiores ao domínio, aplica-se a expressão diferenças finitas condizente com a EDO e com a ordem de aproximação escolhida. Com isso, aplicando para todos os pontos do domínio, escrevemos um sistema linear de equações algébricas em que as incógnitas são os valores da resposta desejada do domínio. Por enquanto, o sistema não admite solução única, pois falta impor as condições de contorno, que são tratadas separadamente. 3.2 Tratamento do contorno As expressões de diferenças finitas precisam ser escritas com cuidado no contorno, para que envolvam apenas valores possíveis, que estejam no contorno ou no domínio do problema. Assim, é comum optar por opções a jusante ou a montante nesses casos, apesar de haver uma ordem de aproximação inferior ao domínio. Ao escrever separadamente as expressões de contorno, fica mais fácil impor condições de contorno na EDO, quando são conhecidos os valores para o PVC. Por fim, agregam-se essas novas equações ao sistema de domínio, ampliando-se o sistema de equações algébricas, que agora passa a admitir solução. 3.3 Solução pelo método de diferenças finitas Por fim, após montar o sistema de equações algébricas que agrega a aplicação das expressões em diferenças finitas em cada nó da malha, deve-se resolvê-lo. A solução do sistema de equações apresenta o valor da variável de interesse em cada nó da malha. Caso seja necessário obter o valor das respectivas derivadas ponto a ponto, é possível aplicar o mesmo procedimento de diferenças finitas para calcular as derivadas aproximadas com base nos valores vizinhos da malha. Da equação, para o método das diferenças finitas: 8 (𝟏 + 𝒉 𝟐 𝒑(𝒙𝒊))𝒚𝒊+𝟏 + (−𝟐 + 𝒉 𝟐𝒒(𝒙𝒊)) 𝒚𝒊 + (𝟏 − 𝒉 𝟐 𝒑(𝒙𝒊))𝒚𝒊−𝟏 = 𝒉 𝟐𝒇(𝒙𝒊) Resulta no sistema 𝐴𝑤 = 𝑏, em que: ( 𝟐 + 𝒉𝟐(𝒒(𝒙𝟏) −𝟏 + 𝒉 𝟐 𝒑(𝒙𝟏 ) 𝟎 −𝟏 + 𝒉 𝟐 𝒑(𝒙𝟐 ) 𝟐 + 𝒉 𝟐(𝒒(𝒙𝟐) −𝟏 + 𝒉 𝟐 𝒑(𝒙𝟐 ) 𝟎 ⋱ ⋱ ⋮ ⋱ ⋱ 𝟎 𝟎 𝟎 … 𝟎 ⋱ ⋮ ⋱ 𝟎 ⋱ −𝟏 + 𝒉 𝟐 𝒑(𝒙𝒏−𝟏 ) −𝟏 + 𝒉 𝟐 𝒑(𝒙𝒏 ) 𝟐 + 𝒉 𝟐(𝒒(𝒙𝒏) ) 𝒘 = ( 𝒘𝟏 𝒘𝟐 𝒘𝟑 ⋮ 𝒘𝒏−𝟏 𝒘𝒏 ) e 𝒃 = ( −𝒉𝟐𝒓(𝒙𝟏) + (𝟏 + 𝒉 𝟐 𝒑(𝒙𝟏 )𝒘𝟎 −𝒉𝟐𝒓(𝒙𝟐) ⋮ −𝒉𝟐𝒓(𝒙𝒏−𝟏 −𝒉𝟐𝒓(𝒙𝒏) + (𝟏 + 𝒉 𝟐 𝒑(𝒙𝒏 )𝒘𝒏+𝟏) Temos que resolver o sistema linear de n equações, tridiagonal. TEMA 4 – MÉTODO DOS RESÍDUOS PONDERADOS A aproximação numérica �̅� de uma solução 𝒖 real para um determinado PVC apresenta certo erro intrínseco, pelo fato de que não estamos atendendo perfeitamente ao operador de domínio e/ou o operador de contorno que rege o PVC. Podemos compreender esse erro como o resíduo deixado em: 𝑳(𝒖) = 𝒇(𝒙) → 𝑳(𝒖) − 𝒇(𝒙) = 𝟎 𝑮(𝒖) = 𝒈(𝒙) → 𝑮(𝒖) − 𝒈(𝒙) = 𝟎 ao se aproximar 𝒖 por �̅�, resultando em: 𝑳(�̅�) − 𝒇(𝒙) = 𝑹𝛀 𝑮(�̅�) − 𝒈(𝒙) = 𝑹𝚪 Naturalmente, os resíduos 𝑹𝛀 e 𝑹𝚪 tendem a diminuir à medida em que a aproximação numérica converge. 4.1 Ponderação dos resíduos Com o intuito de avaliar a natureza dos resíduos, que inicialmente são desconhecidos, podemos ponderá-los com funções conhecidas 𝚽𝛀(𝒙) e 𝚽𝚪(𝒙). Essa ponderação permite medir a projeção dos resíduos em relação às funções de ponderação, o que nos dá uma noção indireta do tamanho dos resíduos. 9 Com isso, podemos minimizar os resíduos através da anulação das suas projeções em relação às funções de ponderação escolhidas. Esse problema resulta na seguinte formulação: ∫ 𝚽𝛀(𝒙)𝑹𝛀 𝛀 𝒅𝛀 +∫ 𝚽𝚪(𝒙)𝑹𝚪 𝚪 𝒅𝚪 = 𝟎 4.2 Aproximação da solução Da mesma forma que escolhemos funções de ponderação para acessar indiretamente a natureza do resíduo, podemos escolher funções que representam aproximadamente uma possível solução para o PVC. Por exemplo, podemos escrever �̅�(𝒙) = 𝝓(𝒙) e representar essa aproximação na expressão de resíduos ponderados da seguinte forma ∫ 𝚽𝛀(𝒙)𝑹𝛀 𝛀 𝒅𝛀 +∫ 𝚽𝚪(𝒙)𝑹𝚪 𝚪 𝒅𝚪 = 𝟎 ∫ 𝚽𝛀(𝒙)(𝑳(𝝓𝛀(𝒙)) − 𝒇(𝒙)) 𝛀 𝒅𝛀 +∫ 𝚽𝚪(𝒙)(𝑮(𝝓𝚪(𝒙)) − 𝒈(𝒙))𝒅𝚪 𝚪 = 𝟎 Essa estratégia permite que apliquemos integrações por partes nas integrais envolvidas, de forma a transferir parte das derivadas presentes em 𝑳 e 𝑮 para as funções de ponderação, reduzindo as exigências de regularidade sobre as funções 𝝓, e facilitando a aproximação do problema. Nesse procedimento de integração por partes, surgem termos que envolvem o conhecimento sobre as condições de Dirichlet, à medida que transferimos metade das derivadas. Esse procedimento de transferência do operador diferencial para as funções de ponderação, junto com a escolha apropriada de funções de ponderação de aproximação de 𝒖, dá origem a uma família de método baseados em Resíduos Ponderados, como Método da Colocação, Método dos Subdomínios, Método dos Mínimos Quadrados e Método de Galerkin e de Rayleigh-Ritz, que será apresentado a seguir. TEMA 5 – MÉTODO DE RAYLEIGH-RITZ Enquanto os métodos de tiro e de diferenças finitas abordam o problema diretamente na ordem do operador diferencial, exigindo que as respostas aproximadas atendam às mesmas características de regularidade que a solução 10 real do problema, o método de Rayleigh-Ritz reduz essa exigência, facilitando a modelagem numérica. Em outras palavras, os métodos de tiro e diferenças finitas resolvem a chamada forma forte do problema, em que o operador a ser atendido tem ordem 𝒏 = 𝟐𝒎, por exemplo, enquanto que o método de Rayleigh-Ritz, através da técnica de Resíduos Ponderados, resolve a chamada forma fraca, em que o operador resultante tem ordem 𝒎, exigindo-se menos da regularidade da solução. 5.1 Escolha das funções de ponderação e de teste Primeiramente, é importante notar que o método de resíduos ponderados dá liberdade para a escolha de 𝚽 e de 𝝓, e que isso tem impacto direto na análise. Por exemplo, podemos escolher 𝚽 e 𝝓 de forma atender às condições de contorno do problema, zerando assim a integral de contorno ∫ 𝚽𝚪(𝒙)(𝑮(𝝓𝚪(𝒙)) − 𝒈(𝒙))𝒅𝚪𝚪 , restando apenas a integral de domínio. Adicionalmente, podemos escolher as funções da mesma forma, tanto para ponderação como para aproximação. Ou seja, 𝚽 para ambas, de forma que ambas pertençam ao mesmo espaço de funções. Utilizando funções em espaços apropriados, podemos escrever 𝚽 como uma combinação linear, com elementos de base para esse espaço. Por exemplo, se adotarmos um formato polinomial de segundo grau para𝚽(𝐱), podemos escrever qualquer 𝚽(𝐱) como uma combinação linear da base canônica, como 𝚽(𝐱) = 𝛂𝟎𝒙 𝟎 + 𝛂𝟏𝒙 𝟏 + 𝛂𝟐𝒙 𝟐. 5.2 Aproximação e solução Utilizando funções 𝚽(𝐱) como descrito, podemos escrever a expressão de resíduos ponderados no domínio como: ∫ 𝚽(𝐱) (𝑳(𝚽(𝐱)) − 𝒇(𝒙)) 𝛀 𝒅𝛀 = 𝟎 Reorganizando, temos: ∫ 𝚽(𝐱)𝑳(𝚽(𝐱)) 𝛀 𝒅𝛀 = ∫ 𝚽(𝐱)𝒇(𝒙) 𝛀 𝒅𝛀 Escrevendo 𝚽(𝐱) com uma combinação linear de funções de base, temos: 11 𝚽(𝐱) = ∑𝜶𝒊𝚽𝒊 𝒏−𝟏 𝒊=𝟎 Integrando por partes sucessivamente, temos uma nova equação, considerando um operador diferencial de forma fraca 𝑫𝒎 e condições de contorno atendidas pela função 𝚽(𝐱), como: ∑∑∫ 𝜶𝒋𝑫𝒎(𝚽𝒊)𝑫𝒎(𝚽𝒊) 𝛀 𝒅𝛀 𝒏−𝟏 𝒊=𝟎 𝒏−𝟏 𝒋=𝟎 = ∑∫ 𝚽𝒊(𝒙)𝒇(𝒙) 𝛀 𝒅𝛀 𝒏−𝟏 𝒊=𝟎 Esse equacionamento dá origem a um sistema de ordem 𝒏 de equações algébricas cujas incógnitas são os coeficientes da combinação linear que escreve 𝚽(𝐱). Resolver esse sistema implica encontrar a melhor solução aproximada possível para o PVC no espaço de funções escolhido para escrever 𝚽(𝐱). 5.3 Escolhas das funções e aproximações locais Uma possibilidade para reduzir o número de integrações a serem realizadas no procedimento é escolher uma base de funções com existência local, dentro de um intervalo, e limitar o número de intersecções quando as funções da base são não nulas. Por exemplo, podemos escrever uma função de base que seja não nula apenas no intervalo de 𝒙 − 𝒉 a 𝒙 + 𝒉, crescendo linearmente a partir do zero da primeira metade do intervalo até um valor unitário em 𝒙, e depois decrescendo para zero em 𝒙 + 𝒉. Fora do intervalo [𝒙 − 𝒉, 𝒙 + 𝒉] a função é nula. Esse tipo de função é linear por partes e tem formato de “chapéu” centrado em 𝒙. Ao escrever 𝚽(𝐱) como uma combinação linear dessas funções, cobrindo todo o domínio, observa-se que a integral de domínio é nula para todo caso de funções 𝚽𝒊 e 𝚽𝒋 que não tenham sobreposição. Essa observação permite evitar o cálculo de todas as combinações disjuntas de 𝚽𝒊 e 𝚽𝒋, e ainda possibilita a garantia de uma aproximação de ordem linear por partes em cada um dos intervalos [𝒙 − 𝒉, 𝒙 + 𝒉]. 12 NA PRÁTICA Considere o problema físico de uma barra metálica aquecida por uma fonte de calor uniforme. Nesse caso, o problema pode ser modelado através da equação de Poisson, como: 𝒅𝟐𝑻 𝒅𝒙𝟐 = −𝒇(𝒙) Dada uma fonte de calor 𝒇(𝒙) = 𝟐𝟎 e condições de contorno 𝑻(𝟎) = 𝟓𝟎 e 𝑻(𝟏𝟎) = 𝟏𝟖𝟎, resolva o PVC utilizando: O método do disparo utilizando Runge-Kutta de Quarta Ordem para resolver o PVI e 𝒉 = 𝟏, 𝟎; O método de diferenças finitas com uma aproximação de segunda ordem e 𝒉 = 𝟏, 𝟎; O método de Rayleigh-Ritz utilizando funções chapéu e 𝒉 = 𝟏, 𝟎. Compare os resultados obtidos para a distribuição de temperaturas e discuta qual dos métodos você escolheria para modelar esse tipo de problema de valor de contorno. FINALIZANDO Nesta aula abordamos temas relacionados ao Problema de Valor de Contorno, que permitem seu estudo e uma aproximação numérica. Apresentamos três métodos com abordagens distintas para a solução numérica de um PVC. Primeiramente, tratamos do método do disparo, que estabelece um procedimento para resolver o PVC através do acoplamento de um PVI, com um esquema iterativo para atender às condições de contorno. Em um segundo momento, apresentamos o método de diferenças finitas, como uma alternativa simples e intuitiva para a discretização do operador diferencial. Por fim, trabalhamos o método de Rayleigh-Ritz, com um breve embasamento sobre a estratégia variacional de Resíduos Ponderados. 13 REFERÊNCIAS BREZIS, H. Functional analysis, Sobolev spaces and partial differential equations. USA: Springer Science & Business Media, 2010. BURDEN, R. L.; FAIRES, J. D. Análise numérica. São Paulo: Cengage Learning, 2008. BUTCHER, J. C.; GOODWIN, N. Numerical methods for ordinary differential equations. New York: Wiley, 2008. CHAPRA, S. C. Applied numerical methods. Columbus: McGraw-Hill, 2012. FRANCO, N. B. Cálculo numérico. São Paulo: Pearson, 2006.