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Sociologia e Antropologia_

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Sociologia e
Antropologia
Karen Michelly Moraes e Sasaki
Luana da Cruz Portella Oliveira
Presidente Prudente
Unoeste - Universidade do Oeste Paulista
2016
Sasaki, Karen Michelly Moraes e.
 Sociologia e Antropologia. / Karen Michelly Moraes 
e Sasaki, Luana da Cruz Portella Oliveira. – Presidente 
Prudente: Unoeste - Universidade do Oeste Paulista, 
2016.
 144 p.: il.
 Bibliografia.
 ISBN: 978-85-88755-21-5
 1. Sociologia. 2. Antropologia I. Oliveira, Luana da 
Cruz Portella. II. Título.
CDD\22ª. ed.
© Copyright 2016 Unoeste - Todos os direitos reservados
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou 
por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer 
outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Universidade do Oeste Paulista.
Sociologia e Antropologia
Karen Michelly Moraes e Sasaki
Luana da Cruz Portela Oliveira
Reitora: Ana Cristina de Oliveira Lima
Vice-Reitor: Brunno de Oliveira Lima Aneas
Pró-Reitor Acadêmico: José Eduardo Creste
Pró-Reitor Administrativo: Guilherme de Oliveira Lima Carapeba
Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão: Adilson Eduardo Guelfi
Diretor Geral: Augusto Cesar de Oliveira Lima
Núcleo de Educação a Distância: Dayene Miralha de Carvalho Sano, Marcelo Vinícius Creres 
Rosa, Maria Eliza Nigro Jorge, Mário Augusto Pazoti e Sonia Sanae Sato
Coordenação Tecnológica e de Produção: Mário Augusto Pazoti
Projeto Gráfico: Luciana da Mata Crema
Diagramação: Aline Miyamura Takehana e Luciana da Mata Crema
Ilustração e Arte: Antônio Sérgio Alves de Oliveira, Fernanda Sutkus de Oliveira Mello e Luciana 
da Mata Crema
Revisão: Renata Rodrigues dos Santos
Colaboração: Vanessa Nogueira Bocal
Direitos exclusivos cedidos à Associação Prudentina de Educação e Cultura (APEC), 
mantenerora da Universidade do Oeste Paulista
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CEP: 19050-920 - Presidente Prudente - SP
(18) 3229-1000 | www.unoeste.br/ead
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S252s
Catalogação na fonte: Rede de Bibliotecas Unoeste
Karen Michelly Moraes e Sasaki
Doutora em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Universidade Salvador (UNIFACS). 
Mestre em Análise Regional (UNIFACS). Graduada em Ciências Sociais pela mesma Uni-
versidade. Docente de cursos de graduação e pós-graduação lato e stricto sensu. Possui 
experiência na gestão acadêmica de cursos presenciais e a distância. Autora de conteú-
dos didáticos de nível superior para cursos ofertados na modalidade a distância.
Luana da Cruz Portella Oliveira
Mestranda em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social pela Fundação Vis-
conde de Cairu (FVC). Graduada em Pedagogia pelo Instituto Superior de Educação 
Ocidemnte (ISEO). Docente do 5º ano do Ensino Fundamental I e docente da disciplina 
Iniciação à Consciência do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental II. Coordena o Núcleo 
de Conscienciologia de uma escola privada da cidade de Salvador. Autora de conteúdos 
didáticos de nível superior para cursos ofertados na modalidade a distância.
Sobre as autoras
Carta ao aluno
O ensino passa por diversas e constantes transformações. São mudanças 
importantes e necessárias frente aos avanços da sociedade na qual está inserido. A 
Educação a Distância (EAD) é uma das alternativas de estudo, que ganha cada vez mais 
espaço, por comprovadamente garantir bons referenciais de qualidade na formação pro-
fissional. Nesse processo, o aluno também é agente, pois organiza o seu tempo confor-
me suas atividades e disponibilidade. 
Maior universidade do oeste paulista, a Unoeste forma milhares de profissio-
nais todos os anos, nas várias áreas do conhecimento. São 40 anos de história, sendo 
responsável pelo amadurecimento e crescimento de diferentes gerações. É com esse 
mesmo compromisso e seriedade que a instituição iniciou seus trabalhos na EAD em 
2000, primeiramente com a oferta de cursos de extensão. Hoje, a estrutura do Nead 
(Núcleo de Educação a Distância) disponibiliza totais condições para você obter os co-
nhecimentos na sua área de interesse. Toda a infraestrutura, corpo docente titulado e 
materiais disponibilizados nessa modalidade favorecem a formação em plenitude. E o 
mercado precisa e busca sempre profissionais capacitados e que estejam antenados às 
novas tecnologias.
Agradecemos a confiança e escolha pela Unoeste e estamos certos de que 
suas expectativas serão atendidas, pois você está em uma universidade reconhecida 
pelo MEC, que oportuniza o desenvolvimento constante de Ensino, Pesquisa e Extensão. 
Aqui, além de graduação, existe pós-graduação lato e stricto sensu, com mestrados e 
doutorado recomendados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de 
Nível Superior), prêmios conquistados em âmbito nacional por suas ações extensivas e 
pesquisas que colaboram com o desenvolvimento da cidade, região, estado e país; en-
fim, são inúmeros os referenciais de qualidade.
Com o fortalecimento da EAD, a Unoeste reforça ainda mais a sua missão 
que é “desenvolver a educação num ambiente inovador e crítico-reflexivo, pelo exercício 
das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão nas diversas áreas do conhecimento cien-
tífico, humanístico e tecnológico, contribuindo para a formação de profissionais cidadãos 
comprometidos com a responsabilidade social e ambiental”.
Seja bem-vindo e tenha bons estudos!
Reitoria
Sumário
Capítulo 1
Processo sócio-Histórico de Formação da sociologia
Sociologia Pré-Científica e a Busca da Razão ..................................................................12
Modernidade ...............................................................................................................16
Repensando a Modernidade ......................................................................................27
Sociologia como Ciência ...............................................................................................34
Revolução Industrial ................................................................................................36
Revolução Francesa .................................................................................................39
Capítulo 2
teóricos da sociologia clássica
A Sociologia e o seu Campo de Atuação .........................................................................44
As Primeiras Formas do Pensamento Social ....................................................................46
O Positivismo ...........................................................................................................46
O Darwinismo Social ................................................................................................47
Grandes Pensadores da Sociologia .................................................................................49
Auguste Comte ........................................................................................................49
Émile Durkheim .......................................................................................................53
Karl Marx ................................................................................................................57
Max Weber ..............................................................................................................62
Capítulo 3
o indivíduo e o mundo do trabalHo
O Indivíduo e o Trabalho ..............................................................................................68
A História do Trabalho ..............................................................................................68
Surgimento das Fábricas ..........................................................................................71
O Trabalho e o Tempo ..................................................................................................74
O Taylorismo – Mais Trabalho em Menos Tempo .........................................................75
O Fordismo –A Aplicação do Taylorismo ....................................................................79
A Flexibilização do Trabalho ..........................................................................................81
O Ser Humano e a Máquina ..........................................................................................86
Capítulo 4
bases teóricas da antroPologia cultural
Antropologia – A Observação Humana sobre o Ser Humano ............................................92
Os Pioneiros da Antropologia ........................................................................................96
A Etnografia de Boas, Malinowski e Radcliffe-Brown ...................................................99
O Estruturalismo ........................................................................................................ 103
A Cultura ................................................................................................................... 104
Etnocentrismo ....................................................................................................... 111
Relativismo Cultural ............................................................................................... 112
Reflexões Finais ..................................................................................................... 113
Capítulo 5
análise social da contemPoraneidade
Uma Visão Histórica da Desigualdade Social ................................................................. 118
Desigualdade e Pobreza.............................................................................................. 122
Desigualdade e Violência ........................................................................................ 126
Desigualdade de Gênero – A Luta da Mulher ............................................................ 127
A Sociologia e a Contemporaneidade ........................................................................... 129
Referências................................................................................................................ 134
Estudos Complementares ........................................................................................... 141
9
Apresentação
As relações humanas e sociais são permeadas por processos sociais dinâmicos 
por meio dos quais a conduta do indivíduo se lapida, se desenvolve e se relaciona com a 
sociedade. O convívio em sociedade requer a incorporação de algumas atitudes e compor-
tamentos estabelecidos que começam a ser aprendidos desde a infância. Ao chegar à idade 
adulta, o indivíduo já tem percepção que os grupos sociais que participa possuem suas re-
gras próprias, as quais foram estabelecidas previamente, e que precisam ser seguidas para 
que ele seja inserido.
Assim, o estudo sobre a Sociologia e Antropologia convida o leitor à reflexão 
sobre os processos sociais e culturais das sociedades, destacando o referencial teórico que 
se propõe aprofundar a discussão. Afinal, a preocupação com a cultura é um fato perma-
nente da humanidade. Todos querem entender os caminhos que levaram as civilizações a 
se constituírem, bem como entender as perspectivas futuras de relacionamento entre elas.
O livro “Sociologia e Antropologia” propõe-se a levantar essa discussão perpas-
sando, inclusive, por discussões contemporâneas que permeiam a realidade brasileira. Para 
responder essa demanda, o livro estrutura-se em cinco capítulos, iniciando com a apresen-
tação do contexto histórico da sociologia pré-científica e a busca pela análise dos fatos com 
base no uso da razão.
O segundo capítulo possui um caráter teórico com a contextualização dos prin-
cipais pensadores que embasaram a constituição da sociologia, explicitando seu objeto de 
estudo e campo de atuação. Uma discussão mais pragmática sobre processo de racionaliza-
ção do trabalho, com base científica, é realizada no terceiro capítulo.
O processo de observação humana sobre o próprio ser humano é apresentado 
no quarto capítulo, o qual se dedica aos conceitos e teóricos da antropologia. A discussão 
cultural é central nesse capítulo. Por fim, as questões urbanas e sociais são problematizadas 
no quinto capítulo. É fundamental que o leitor tenha a possibilidade de ampliar sua visão so-
bre a questão social, as discussões sobre igualdade de gênero e a sociologia contemporânea.
Enfim, espera-se que este livro atenda a estudantes de graduação que estão em 
busca de novas lentes de observação para a dinâmica social contemporânea, sem esquece-
rem o processo histórico de constituição social que já foi profundamente analisado.
Boa leitura!
11
Processo sócio-Histórico de Formação da sociologia
Capítulo 1
12
As explicações sobre os fenômenos naturais sempre estiveram pautadas no 
conhecimento científico? De que maneira o ser humano enxergava o mundo antes da 
legitimação da ciência? A leitura deste capítulo nos permite mergulhar na consciência 
mítica que predominou no pensamento humano por muito tempo e acompanhar sinte-
ticamente os acontecimentos que contribuíram para a ascensão da razão como única 
conselheira das decisões humanas e exclusiva base das teorias valorizadas no mundo do 
conhecimento.
Para tanto, visitaremos a Grécia antiga, nascente da filosofia, as transforma-
ções da modernidade, a dualidade entre a fé e a ciência e as consequências desta dua-
lidade para a contemporaneidade. Renascimento, Iluminismo e marcos históricos, como 
a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, também farão parte deste capítulo. Tudo 
isso com o intuito de compreendermos as características da sociologia pré-científica, 
assim como o cenário social que fez emergir a sociologia como uma ciência.
Introdução
Sociologia Pré-Científica e a Busca da Razão
Na sociedade do século XXI, as explicações e compreensões sobre a reali-
dade circundante valem-se do conhecimento científico. Por mais que a nossa percepção 
possa indicar, por exemplo, que o Sol se mova enquanto a Terra permanece estática, sa-
bemos que é o nosso planeta que gira em torno de si mesmo e do Sol. Não costumamos 
contestar esse conhecimento, porquanto ele é embasado em comprovações científicas.
Agora vamos imaginar:
Como os fenômenos eram interpretados quando a ciência ainda não tinha 
alcançado tamanha legitimidade?
Com o fim de encontrar essa resposta, investiguemos o período da nossa 
história conhecido por pré-história.
As sociedades tribais pré-históricas eram:
predominantemente míticas e de tradição oral. Para esses povos a natu-
reza está ‘carregada de deuses’, e o sobrenatural penetra em todas as de-
pendências da realidade vivida e não apenas no campo religioso, isto é, na 
ligação entre o indivíduo e o divino. O sagrado se manifesta na explicação 
da origem divina da técnica, da agricultura, dos males, na natureza mágica 
dos instrumentos, das danças e dos desenhos (ARANHA, 2006, p. 34).
13
Pré-história é uma terminologia utilizada para um período em que os povos ainda 
não registravam os acontecimentos por meio da escrita. Os instrumentos utilizados 
para a sobrevivência humana se transformavam muito lentamente, a terra pertencia 
a todos, o trabalho e seus produtos eram coletivos, definindo um regime de proprie-
dade coletiva dos meios de produção e refletindo uma sociedade homogênea.
Carl Jung define arquétipos como sendo as estruturas de pensamento e de experi-
ências incorporadas na estrutura da psique, ou, então, como referentes à experiência 
herdada e se apresentam como um modelo a partir do qual a nossa compreensão do 
mundo é organizada. Destes arquétipos depende o modo pelo qual nós “tomamos 
conhecimento de nós mesmos” nos nossos encontros com o mundo exterior e são 
cruciais para compreender as ligações entre os aspectos conscientes e inconscientes 
da psique (MORGAN, 1995).
A consciência mítica esteve presente na mentalidade dos indivíduos por mui-
to tempo e em diversas civilizações. Alguns autores dedicam aos gregos o mérito por 
trazerem à tona o pensamento racional efilosófico que, aos poucos, passou a ter maior 
prestígio na sociedade. Vejamos como isso ocorreu.
Há 25 séculos, o mundo helênico produziu um extraordinário florescimento 
cultural que marcou a aurora da Civilização Ocidental. Eles, os gregos, tendiam a diver-
sificar a interpretação do mundo em princípios arquetípicos.
Em sua base, havia uma visão de mundo do Cosmo como expressão ordenada 
de determinadas concepções primordiais ou primeiros princípios transcendentais, diversa-
mente concebidos como ideias, universos, absolutos imutáveis, divindades imortais.
FIGURA 1 – O Parthenon, na Acrópole de Atenas, um dos monumentos mais emblemáticos do 
auge do período conhecido como “Grécia Antiga”.
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
14
Filósofos expoentes como Sócrates, Platão, Aristóteles, Homero, Hesíodo e 
Sófocles expressaram uma espécie de visão comum, que refletia a propensão tipicamen-
te grega de encontrar decodificadores universais para o caos da vida. 
Nas palavras de Tarnas (2001, p. 18):
O universo grego era ordenado por uma pluralidade de conceitos atem-
porais que sustentavam a realidade concreta, proporcionando-lhe for-
ma e significado. Entre esses princípios arquetípicos estavam as formas 
matemáticas da geometria e da aritmética; opostos cósmicos, como a 
luz e a escuridão, homem e mulher, amor e ódio, unidade e multiplicida-
de; as formas do homem e outras criaturas vivas; as ideias do bem, do 
belo, do justo e de outros valores absolutos, morais e estéticos.
A civilização grega, destacando-se dos povos antigos, criou as diversas disci-
plinas e a filosofia. Disciplinas como geometria, aritmética e astronomia representaram 
uma ruptura significativa com o mundo mítico, no qual as explicações jamais poderiam 
ser alcançadas por intermédio dos conhecimentos específicos, mas sim pela intervenção 
dos deuses ou das forças sobrenaturais.
A filosofia, ‘o amor pelo conhecimento’, surgia como a sistematização das informa-
ções adquiridas pelas diversas disciplinas organizadas de modo a explicar o mundo 
e a sua relação com o homem. Assim, surgia uma nova maneira de pensar ‘o porquê’ 
e o ‘para que’ das coisas. Surgiu um saber mais desligado das atividades religiosas, ao 
qual se dedicavam homens não necessariamente responsáveis pelos cultos religio-
sos. Surgiram os sábios, homens cuja atividade era desvendar os segredos do mundo 
e do universo (COSTA, 1997, p. 6).
O desenvolvimento intelectual da civilização grega atingiu seu ápice na cida-
de de Atenas, que unificou as diversas correntes da arte e do pensamento grego durante 
todo o século V a.C. e influenciou, com sua criatividade intelectual e seu prestígio polí-
tico, toda a Grécia. Posteriormente, Atenas viria a se transformar na primeira metrópole 
grega e no símbolo da expansão marítima, com ambições imperialistas, fazendo com 
que as atividades desenvolvidas na cidade proporcionassem aos cidadãos atenienses um 
contato cada vez maior com outras culturas.
FIGURA 2 – Escola de Atenas.
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
A tela de Jacques-Louis David representa o triun-
fo da razão como expressão da sabedoria.
15
A cultura helênica demonstrou ter alcançado um equilíbrio entre o pensa-
mento mitológico e a racionalidade, à medida que, durante o século V, apresentou a 
construção de templos que deveriam refletir a grandiosidade olímpica dos deuses. O 
principal objetivo consistia em estabelecer uma relação de aliança entre a racionalidade 
humana e a ordem mítica.
Segundo Costa (1997, p. 6), deu-se o nome de milagre grego ao:
salto do conhecimento humano sobre si e a natureza, em que se aban-
donou a explicação mítica e o princípio da interferência das forças so-
brenaturais nos destinos do homem, para dirigir-se à obtenção do sa-
ber por meio da abstração dirigida pela razão.
Os principais elementos da concepção grega da realidade, especialmente 
aqueles que influenciaram o pensamento ocidental desde a Antiguidade, podem ser des-
critos por dois conjuntos de pressupostos ou princípios que o Ocidente herdou dos gre-
gos. É possível sintetizarmos a ideia de cada um desses conjuntos da seguinte maneira:
QUADRO 1 - Síntese dos pressupostos gregos que influenciaram o Ocidente.
Pressupostos herdados dos gregos para o Ocidente
Pensamento religioso/racional Pensamento científico
O Cosmo expressa uma inteligência que per-
meia e dá à Natureza seu propósito e desíg-
nio, inteligência essa diretamente acessível à 
consciência humana, mas, somente, se esta 
estiver desenvolvida num alto grau.
O legítimo conhecimento humano é relativo, 
exigindo ser constantemente revisado à luz 
de novas evidências e análises empíricas, por 
meio da razão humana.
A análise intelectual, por sua vez, em sua 
maior intensidade, revela uma ordem atem-
poral como se o mundo visível tivesse dentro 
de si um significado mais profundo, com um 
caráter, ao mesmo tempo, racional e mítico, 
refletido na ordem empírica e emanado de 
uma dimensão eterna, que é, ao mesmo tem-
po, a origem e a meta de toda a existência.
O conhecimento deve estar embasado sobre 
os alicerces da verdade, devendo ser procu-
rado no mundo da experiência humana e não 
na realidade abstrata de outro mundo.
Por meio do conhecimento do significado e da 
estrutura subjacente deste mundo, o exercício 
de uma pluralidade de faculdades cognitivas 
humanas (racionais, empíricas, intuitivas e 
morais) é movimentado, fazendo com que a 
apreensão direta da realidade mais profunda 
do mundo não sacie apenas a mente, mas 
também, agora, a alma.
A única verdade humanamente acessível 
e útil é imanente e não transcendental. As 
causas dos fenômenos naturais são impesso-
ais e físicas, e devem ser buscadas no reino 
da natureza observável, excluindo-se todos 
os elementos mitológicos e sobrenaturais das 
explicações causais.
Fonte: Elaboração própria (2012).
O pensamento dos grandes filósofos gregos foi a culminância intelectual de 
todas as mais importantes expressões culturais da era helênica, adotando uma perspec-
tiva metafísica global, concentrada no conjunto da realidade e nos múltiplos aspectos da 
sensibilidade humana. Eles buscavam, acima de tudo, o saber.
Os gregos destacaram-se por uma postura indagativa diante da vida. Mo-
tivados pela compreensão das incertezas dos fenômenos, buscavam a verdade mais 
16
profunda naquilo com o qual se relacionavam. A cultura ocidental é fruto da tradição 
grega caracterizada pelo pensamento crítico. Esta tradição foi a responsável pelo primei-
ro passo rumo ao culto à razão.
Texto Complementar
Sobre a sociologia pré-científica
A sociologia, como modo de explicação científica do comportamento social 
e das condições sociais de existência dos seres vivos, representa um produto recente do 
pensamento moderno. Alguns especialistas procuram traçar as suas origens a partir da 
filosofia clássica da Grécia, da China ou da Índia. Isso faz tanto sentido quanto ligá-las às 
formas pré-filosóficas do pensamento. 
Na verdade, toda cultura dispõe de técnicas de explicação do mundo, cujas 
aplicações são muito variadas. Entre as aplicações que elas podem receber estão as que 
dizem respeito ao próprio homem, às suas relações com a natureza, com os animais ou 
com outros seres humanos, às instituições sociais, ao sagrado e ao destino humano. 
O mito, a religião e a filosofia constituem as principais formas pré-científi-
cas de consciência e de explicação das condições de existência social. Tais modalidades 
de representação da vida social nada têm em comum com a sociologia. Elas surpreen-
dem, às vezes com espírito sistemático e com profundidade crítica, facetas complexas 
da vida social. Também desempenharam ou desempenham, em seus contextos culturais, 
funções intelectuais similares às que cabem à sociologia na civilização industrial moderna; 
pois todas servem aos mesmos propósitos e às mesmas necessidades de explicação da po-
sição do homem no cosmo. 
Entretanto, nenhum desses pontos de contato oferece base à suposição de 
que essas formaspré-científicas de consciência ou da explicação da vida social tenham 
contribuído para a formação e o desenvolvimento da sociologia. Em particular, elas en-
volvem tipos de raciocínio fundamentalmente distintos e opostos ao raciocínio científico.
Mesmo as filosofias greco-romanas e medievais, que deram relevo espe-
cial à reflexão sistemática sobre a natureza humana e a organização das sociedades, 
contrastam singularmente com a explicação sociológica. É que, como notou Durkheim, 
“elas tinham, com efeito, por objeto não explicar as sociedades tais ou quais elas são ou 
tais ou quais elas foram, mas indagar o que as sociedades devem ser, como elas devem 
organizar-se, para serem tão perfeitas quanto possível”.
Fonte: Fernandes (1986, p. 30-31).
Modernidade
Sob a ótica da modernidade, a ciência levou o pensamento ocidental à matu-
ridade independente. Do Renascimento em diante, a cultura moderna evoluiu e deixou 
para trás as visões de mundo antiga e medieval, que passaram a serem consideradas 
primitivas, supersticiosas, infantis, nada científicas e opressoras.
17
Assim, a cultura ocidental conquistou uma nova maneira de adquirir conheci-
mento e uma nova cosmologia, por meio do uso de métodos precisos e da exatidão das 
deduções lógicas, ou seja, o uso da razão.
Segundo Costa, o Renascimento foi um movimento filosófico e artístico do século 
XV que promoveu uma ruptura entre o mundo medieval, caracterizado por uma so-
ciedade agrária e teocrática, e o mundo moderno urbano, burguês e comercial. Esse 
período marcou a história da humanidade por fomentar uma nova postura do ser 
humano perante o conhecimento, sua natureza e formas de investigação. “O conhe-
cimento deixa de ser revelado como resultado de uma atividade de contemplação e 
fé, para voltar a ser o que era antes entre gregos e romanos: o resultado de uma bem 
conduzida atividade mental.” (COSTA, 1997, p. 19).
Didaticamente, podemos associar o Renascimento ao divisor de águas loca-
lizado entre o mundo medieval ou a Idade das Trevas e o período que, posteriormente, 
será denominado Século das Luzes. Embora esta transformação não tenha ocorrido de 
maneira pontual, é possível destacar quando o pensamento científico ganhou prioridade 
na interpretação humana sobre a realidade revelada e experimentada. Observe:
QUADRO 2 – Período de predominância do pensamento religioso e do pensamento científico na 
sociedade.
Religião, fé e tradição Abordagem científica
Predominam até meados do século XV.
Utilizam elementos não científicos.
A partir do século XVI, com o Renascimento, 
e do século XVIII, com o Iluminismo.
Baseada na observação da realidade.
Fonte: Paixão (2010, p. 23).
Dica
Um exemplo da perspectiva renascentista sobre a sociedade está na obra de 
Nicolau Maquiavel (1469-1527), intitulada O príncipe, em que procura inves-
tigar a realidade de forma realista, mais especificamente as relações de poder. 
A obra de Maquiavel (1973) afirma que “para o governante conquistar e man-
ter o poder precisa ter uma conduta racional tendo em vista o fim que preten-
de, mesmo que para isso tenha que usar métodos não aceitos pela Igreja [...]” 
(PAIXÃO, 2010, p. 21).
18
FIGURA 3 – Maquiavel
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
A reforma no pensamento humano, proporcionada por acontecimentos his-
tóricos como o Renascimento, foi base para a construção dos alicerces do que, posterior-
mente, ficou conhecido por modernidade. Para Touraine (1998, p. 9):
A ideia de modernidade, na sua forma mais ambiciosa, foi a afirmação 
de que o homem é o que ele faz, e que, portanto, deve existir uma 
correspondência cada vez mais estreita entre a produção, tornada mais 
eficaz pela ciência, a tecnologia ou a administração, a organização da 
sociedade, regulada pela lei e a vida pessoal, animada pelo interesse, 
mas também pela vontade de se liberar de todas as opressões. Sobre 
o que repousa essa correspondência de uma cultura científica, de uma 
sociedade ordenada e de indivíduos livres, senão sobre o triunfo da 
razão? Somente ela estabelece uma correspondência entre a ação hu-
mana e a ordem do mundo, o que já buscavam pensadores religiosos, 
mas que foram paralisados pelo finalismo próprio às religiões monote-
ístas baseadas numa revelação. É a razão que anima a ciência e suas 
aplicações; é ela também que comanda a adaptação da vida social às 
necessidades individuais ou coletivas; é ela, finalmente, que substitui 
a arbitrariedade e a violência pelo Estado de direito e pelo mercado. A 
humanidade, agindo segundo suas leis, avança simultaneamente em 
direção à abundância, à liberdade e à felicidade.
Assim, o ser humano, por meio do poder físico e intelectual, foi o principal 
responsável pela expansão do mundo e da emergência de teorias científicas passíveis de 
comprovação e reprodução em qualquer contexto mundial. Entretanto, a mais espantosa 
de todas as mudanças globais foi a conclusão, alcançada por Galileu, a qual descrevia 
que a Terra se movimentava. As ideias teológicas sobre o universo estavam sendo supe-
radas pelo raciocínio crítico, cálculos matemáticos e, fundamentalmente, pela observa-
ção tecnicamente aperfeiçoada.
19
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
Com o telescópio de Galileu, a teoria heliocêntrica já não poderia ser 
considerada um conjunto de cálculos simples. Agora, estava provida 
de materialização física visível. Além do mais, o telescópio revelava os 
céus em sua materialidade grosseira – não os transcendentais pontos 
de luz celestial, mas substâncias concretas, apropriadas para a investi-
gação empírica, exatamente como os fenômenos naturais da Terra. A 
prática acadêmica consagrada pela observação e pela argumentação 
exclusivamente a partir dos limites do pensamento aristotélico come-
çou a dar lugar a um novo exame crítico dos fenômenos empíricos. 
Muitos indivíduos anteriormente não envolvidos em estudos científicos 
agora tomavam o telescópio e constatavam por si mesmos a natureza 
do novo Universo copernicano. Em virtude do telescópio e dos convin-
centes textos de Galileu, a Astronomia passou a interessar não apenas 
os especialistas. Sucessivas gerações de europeus do final do Renasci-
mento e pós-renascentistas, cada vez mais ansiosos para pôr em dúvi-
da a autoridade absoluta de doutrinas antigas e eclesiásticas, achavam 
a teoria copernicana muito plausível e, sobretudo, libertadora. Um novo 
mundo celestial se abria para a cultura ocidental, assim como um novo 
mundo terrestre se abria para os exploradores do Globo. Embora as 
consequências culturais das descobertas de Kepler e Galileu fossem 
graduais e cumulativas, o Universo medieval recebera seu golpe mortal. 
O triunfo épico da revolução copernicana sobre o pensamento ocidental 
havia começado (TARNAS, 2001, p. 281).
FIGURA 4 – Galileu Galilei
Desse modo, não apenas a Terra, mas 
o próprio Homem se movimentava como nunca: ele 
saía do universo aristotélico, finito e estático, e en-
trava em novos e desconhecidos territórios altamen-
te velozes e mutáveis. A natureza da realidade fora 
alterada de maneira fundamental para o Homem do 
Ocidente, que agora percebia e habitava um cosmo 
de proporções, estrutura e significado existencial in-
teiramente novos.
Com os dogmas da Igreja postos em xe-
que, estava aberto o caminho para a visualização e 
o estabelecimento de uma nova sociedade baseada em princípios claros de racionalidade 
e liberdade individuais. Enfim, a ciência mostrou que suas estratégias e princípios pode-
riam ser úteis tanto para ela mesma, quanto para a sociedade.
20
Dica
O Nome da Rosa. Direção: Jean Jacques Annaud. Itália/Alemanha/França, 1986. 130 min. 
A história se desenvolve tendo como cenário um mosteiro da Idade Média, nos tempos da 
inquisição. Um monge franciscano hospeda-se no mosteiro europeu para investigar uma 
série de mortes misteriosas. Esta obra torna possível a percepção do momento em que as 
explicações baseadas na fé e na religião cedem lugar às explicações científicas e racionais.
A contestação do conhecimentoaté então transmitido pela Igreja e a sua 
substituição pelos resultados das investigações racionais acerca do universo possibilita-
ram mudanças nas estruturas sociais. Assim, o poder monárquico e absolutista, o privi-
légio de uma classe social em detrimento de outras e atitudes de opressão e imposição 
eram alvos fáceis da criticidade do novo ser social que se construía. Este ser, possivel-
mente, não se contentaria com a utilização da figura divina ou da tradição da herança 
para justificar a centralização do poder, assim como lutaria por novas formas de governo, 
que respeitam os direitos individuais, acordados por meio de contratos sociais.
Deus agora havia sido afastado para grande distância do universo físi-
co, como criador e arquiteto, e já não era tanto um Deus de amor, mila-
gre, redenção ou intervenção histórica, mas uma suprema inteligência 
e causa primeira, que estabelecera o Universo e suas leis imutáveis e 
depois abandonara a atuação direta. [...] Embora o cosmo medieval 
sempre estivesse na dependência de Deus, o moderno sustentava-se 
mais por si mesmo, com sua própria realidade ontológica maior e uma 
redução de qualquer realidade divina, fosse esta transcendental ou 
imanente (TARNAS, 2001, p. 308).
Mais tarde, pelo uso da razão, a realidade divina ora evidenciada foi gradu-
almente desaparecendo, pois começou a perder o apoio da investigação científica do 
mundo visível. A ordem encontrada no mundo natural, inicialmente atribuída e garantida 
pela vontade de Deus, foi depois entendida como resultante de regularidades mecânicas 
inatas geradas pela Natureza, sem nenhum objetivo superior ou sublime. As Leis Natu-
rais que regem o universo começaram a ser investigadas pelo uso da razão e da expe-
riência científica, haja vista os estudos dos grandes físicos desta época como Newton, 
Copérnico, Kepler e outros. Foi por este período que a lei de ação e reação, por exemplo, 
foi explicitada para toda a humanidade como um código imutável que não poderia ser 
contestado. Ou melhor, se na visão de mundo cristã da Idade Média a mente humana 
talvez não compreendesse a ordem do Universo sem a ajuda de instâncias superiores, 
como a revelação divina, que era, em última análise, sobrenatural; na visão moderna de 
mundo, passaria a entender a ordem do Universo pelas suas próprias faculdades racio-
nais e a consideraria inteiramente natural.
21
Dessa forma, a ciência substituía a religião como autoridade intelectual proe-
minente, sendo agora definidora, juíza e guardiã da visão cultural e, além de tudo, cientí-
fica do mundo, ou seja, a razão e a observação empírica substituíam a doutrina teológica 
e a Revelação da Escritura como principal meio para a compreensão do Universo. Estava 
implantado o dualismo.
FIGURA 5 – Representação da diferenciação das esferas de valores.
Fonte: Elaboração própria (2012).
Sob a ótica da modernidade, esta diferenciação entre fé e ciência foi de subs-
tancial importância para o aprofundamento dos estudos científicos, à medida que, agora, 
a ciência estaria livre para especular e investigar tudo o que quisesse, desde os eventos 
da natureza ao corpo humano: esta é a parte que chamamos de dignidade.
A dualista ênfase cristã na supremacia do espiritual e transcendental 
sobre o material e concreto agora se invertia; o mundo físico se tornara 
o foco predominante da atividade humana. A aceitação entusiástica 
desse mundo e dessa vida como palco de todo o drama humano subs-
tituía então a tradicional renúncia religiosa à existência mundana como 
infeliz provação temporária de preparação para a vida eterna. Agora a 
aspiração humana estava cada vez mais centrada na realização secular. 
O dualismo cristão entre espírito e matéria, Deus e o mundo, gradu-
almente transformava-se no moderno dualismo de espírito e matéria, 
Homem e Cosmo: uma consciência pessoal e subjetiva em oposição a 
um mundo material impessoal e objetivo (TARNAS, 2001, p. 309).
22
Aprofunde seus estudos com a Leitura Complementar 1 – “Relançado tratado que 
inaugurou anatomia moderna”, de Adriana Melo. O conteúdo está disponível na Bi-
blioteca da Disciplina. 
Todavia, em contrapartida, foi essa mesma liberdade que escravizou o homem. 
Como veremos mais detalhadamente adiante, foi a diferenciação das esferas de conheci-
mento (ciência, filosofia e religião) que acarretou parte do que denominamos desastre da 
modernidade: a radical dissociação entre ambas, promovendo o distanciamento e a nega-
ção de uma para com a outra. Agora, cada uma seguiu um caminho diferente no percurso 
da vida, sendo que esses caminhos, até hoje, na contemporaneidade, não foram cruzados 
nem ao menos tem-se a pretensão de um encontro. Em outras palavras, era como se os 
domínios da religião e da metafísica estivessem compartimentalizados.
[...] A Fé e a Razão estavam agora definitivamente cindidas. 
Concepções que envolviam uma realidade transcendental eram cada 
vez mais consideradas além da competência do conhecimento humano; 
eram paliativos úteis para a natureza emocional do Homem; criações 
inventivas esteticamente satisfatórias; pressupostos heurísticos poten-
cialmente valiosos; baluartes necessários para a coesão moral ou so-
cial; propaganda político-econômica; projeções psicologicamente moti-
vadas; eram ilusões que empobreciam a vida, superstições... coisas 
sem importância, desprovidas de significado. [...] Os corpos celestes 
movimentavam-se agora pelas mesmas forças naturais e mecânicas 
e se compunham das mesmas substâncias materiais encontradas na 
Terra. Com o fim do cosmo geocêntrico e a ascensão do paradigma me-
canicista, a Astronomia foi, enfim, separada da Astrologia. Ao contrário 
das visões de mundo da Antiguidade e da Idade Média, os corpos celes-
tiais do Universo moderno não possuíam nenhum significado numinoso 
ou simbólico; eles não existiam para iluminar o caminho do Homem ou 
para dar significado à sua vida. Eram claramente entidades materiais, 
cujo caráter e movimentos eram produtos de simples princípios me-
cânicos, sem nenhuma relação especial com a existência humana em 
si ou com qualquer realidade divina. [...] Admita-se agora que todas 
as características especificamente humanas ou pessoais anteriormente 
atribuídas ao mundo físico exterior eram ingênuas projeções antro-
pomórficas, a serem eliminadas da percepção científica objetiva; e 
que todos os atributos divinos eram igualmente influência de supersti-
ções primitivas e da racionalização de desejos, também eliminadas do 
discurso científico sério (TARNAS, 2001, p. 310-12, grifo nosso).
Agora, ao contrário da explicação religiosa ou metafísica, as duas bases da 
epistemologia moderna, o racionalismo e o empirismo, acabaram produzindo suas apa-
rentes decorrências metafísicas: enquanto o moderno racionalismo indicava, depois afir-
mava e se baseava na concepção do Homem como a suprema ou maior inteligência, o 
Biblioteca da Disciplina
23
moderno empirismo fazia o mesmo com a concepção do mundo material, como realidade 
essencial ou única, ou seja, humanismo secular e materialismo científico, respectivamente.
A diferenciação das esferas de valores começou, de fato, nos séculos XVI 
e XVII. Lá pelo final do século XVIII e início do XIX, a diferenciação já estava transfor-
mando-se em dissociação patológica. Nesse momento, a ciência, a filosofia e a religião, 
passaram, pouco a pouco, a não mais dialogar. Isso montou o cenário para um forte 
domínio da ciência empírica – razão instrumental – sobre as outras esferas, esta que 
dominaria completamente o discurso cognitivo no mundo ocidental. A ciência passava a 
ser monológica, ou seja, uma ciência que não dialoga com as outras esferas de valores 
(filosofia e religião ou arte e moral) em razão da convicção de que não existia realidade, 
a não ser aquela revelada pelos instrumentos empíricos que contribuíam para a descri-
ção (monólogo) de comportamentos objetivos observáveis.
Segundo Rouanet (1999, p. 15, grifo nosso), Adorno e Foucault criticavam a 
razãomonológica como dominadora e invasora do início da modernidade:
[...] essa razão monológica é a do sujeito que observa, esquadrinha e 
normaliza, na linguagem de Foucault; é a do sujeito que calcula, classi-
fica e subjuga, na linguagem de Adorno. É uma razão parcial e usurpa-
dora, que precisa efetivamente ser criticada, mas só pode ser criticada, 
se quisermos evitar o paradoxo e o irracionalismo, por outra razão, 
mais rica, incrustada nas estruturas da intersubjetividade comunicativa. 
[...] a verdadeira razão é consciente dos seus limites, percebe o espaço 
irracional em que se move e pode, portanto, libertar-se do irracional.
Touraine (1998, p. 12) ainda nos diz que:
A modernidade rompeu o mundo sagrado que era ao mesmo tempo 
natural e divino, transparente à razão e criado. Ela não o substituiu pelo 
mundo da razão e da secularização devolvendo os fins últimos para um 
mundo que o homem não pudesse mais atingir; ela impôs a separação 
de um Sujeito descido do céu à terra, humanizado, do mundo dos obje-
tos, manipulados pelas técnicas. Ela substituiu, a unidade de um mun-
do criado pela vontade divina, a Razão ou a História, pela dualidade da 
racionalização e da subjetivação.
A ciência monológica dividiu o pensamento e o mundo em instâncias que 
estabeleceram entre si uma relação de oposição: corpo/espírito; pensamento/sentimen-
to; ciência/religião; objetividade/subjetividade. Tal dualidade resultou no desequilíbrio 
cultural que vivemos até os dias atuais, principalmente porque o ser humano dissociou 
o seu comportamento da sociedade, tornando-se competitivo e inobservando o compor-
tamento cooperativo.
O cientificismo se apresentou como o pano de fundo da fragmentação con-
temporânea cuja separatividade entre raças, credos, nações e classes sociais denuncia. 
Assistimos à conduta egóica de indivíduos preocupados unicamente com a satisfação de 
seus desejos e pouco sensibilizados quanto às consequências disso para as pessoas que 
24
as cercam. Sujeitos que se comportam como se fossem os únicos viventes do planeta, o 
que compromete a qualidade de vida dos demais seres.
Por outro lado, não podemos negar que, no mundo contemporâneo, a ciên-
cia e a tecnologia vêm trazendo alguns benefícios para a humanidade, mas, ao mesmo 
tempo, separadas da filosofia, da ética, da arte e da espiritualidade, vêm acentuando, 
ainda mais, a visão dualista da realidade e do ser humano, uma vez que perderam o 
referencial do significado da sua existência: o bem-estar da humanidade.
Dica
O livro “Ciência com Consciência”, do autor Edgar Morin (Editora: Bertrand Brasil, ano: 
1997), aponta problemas éticos e morais da ciência contemporânea, à medida que ques-
tiona a necessidade epistemológica de um novo paradigma científico que rompa os limites 
do determinismo e da simplificação, incorporando o acaso, a probabilidade e a incerteza 
como parâmetros necessários para a compreensão da realidade. Vale a pena conferir!
Assim, constatou-se que o universo moderno possui uma ordem própria, 
embora não seja emanada de uma inteligência superior, metafísica e transcendental, na 
qual o espírito humano participa diretamente. Agora, esta ordem é empiricamente deri-
vada dos padrões de investigação da Natureza “realisticamente”, por meio dos próprios 
recursos da mente humana subjacente ao domínio intelectual e ao aperfeiçoamento 
material, não sendo, simultânea e inerentemente compartilhada pela Natureza e pelo 
espírito humano, como pensavam os gregos.
A ordem moderna não era uma ordem unitária, transcendental e difusa que 
informasse tanto ao espírito quanto ao mundo exterior, na qual o reconhecimento de 
uma, necessariamente, significasse o conhecimento da outra. Como já dissemos, esses 
dois reinos, espírito subjetivo e mundo objetivo, estavam, agora, fundamentalmente 
separados e funcionavam segundo diferentes princípios.
Saiba Mais
Atual Tentativa de Unir Ciência e Espiritualidade
Professor de física na Universidade do Oregon “Institute of The Oretical Science”, por mais 
de 30 anos, Dr. Goswami é um revolucionário no campo da ciência e, nos últimos anos, 
aventurou-se no domínio do espiritual em uma tentativa tanto para interpretar os resulta-
dos aparentemente inexplicáveis de suas experiências, quanto para validar as suas intui-
ções sobre a existência de uma dimensão espiritual da vida. 
25
Famoso por sua participação no documentário “Quem somos nós”?, defende a conciliação 
entre Ciência e Espiritualidade, alegando inclusive que Deus ainda será objeto de estudo 
da ciência, não mais da religião. Entre seus livros já traduzidos para o português estão:
- Deus Não Está Morto – Evidências científicas da existência divina (Editora Aleph).
- O Universo Autoconsciente – Como a consciência cria o mundo material (Editora Aleph).
- A Física da Alma – A explicação científica para a reencarnação, a imortalidade e experi-
ências de quase morte (Editora Aleph).
- Criatividade Quântica (Editora Aleph).
- O Médico Quântico (Editora Cultrix).
- A Janela Visionária (Editora Cultrix).
- Evolução Criativa das Espécies (Editora Aleph).
Fonte: Disponível em: <www.amitgoswami.org/>. Acesso em: 01 fev. 2011.
O Universo Moderno passava a ser um fenômeno inteiramente secular. Além 
do mais, era um fenômeno secular ainda em mutação e criando a si mesmo; não um ob-
jetivo divinamente construído com uma estrutura estática eterna, mas um processo que 
se desdobrava sem nenhum objetivo absoluto e sem nenhuma base absoluta, a não ser 
a matéria e suas permutações. A Natureza passava a ser a única origem da orientação 
evolucionária e o Homem o único ser racional consciente na Natureza, seu futuro estava 
enfaticamente em suas próprias mãos.
Segundo Touraine (1998), o Ocidente substituiu, aos poucos, a visão racio-
nalista do Universo e da ação humana por uma concepção mais modesta, puramente 
instrumental da racionalidade, colocando-a, cada vez mais, ao serviço de demandas, 
à medida que nos aprofundamos numa sociedade de consumo de massa, sob as re-
gras opressoras de um racionalismo que só corresponde a uma sociedade de produção 
centrada mais sobre a acumulação do que sobre o consumo da maioria. Na realidade, 
esta sociedade está dominada pelo consumo e mais recentemente pela comunicação de 
massa/mídia.
Dica
Acesse o site do Instituto Alana (www.institutoalana.org.br) e confira todos os detalhes 
do documentário Criança, a alma do negócio. O Instituto Alana investe em projetos que 
atendem às demandas da sociedade atual e faz um trabalho de muita relevância no que 
tange à relação das crianças com o consumo. No documentário em questão, destaca-se 
a influência da mídia na formação dos consumistas mirins, que reproduzem o contexto 
social em que vivem. Acompanhe o trabalho do Instituto acessando o site.
26
Finalmente, ao contrário da visão de mundo grega e cristã medieval, a inde-
pendência intelectual, psicológica e espiritual do homem moderno estava radicalmente 
afirmada. Havia uma depreciação crescente de qualquer fé ou estrutura institucional 
religiosa que inibisse o direito natural e potencial do homem à autonomia existencial e 
à expressão individual.
Recuavam, agora, a impressão cristã do pecado, a queda e a culpa coletiva 
em benefício de uma afirmação otimista da autorrealização humana e de um eventual 
triunfo da Razão e da Ciência sobre os males sociais, a ignorância e o sofrimento hu-
mano. O homem moderno pôs-se a caminho por conta própria, decidido a encontrar os 
princípios do funcionamento do novo Universo, a explorar e a ampliar suas novas dimen-
sões e a cumprir seu destino secular.
Texto Complementar
Ciência e Religião: a grande separação
Na lógica formal, uma contradição é sinal de fracasso; entretanto, na evolu-
ção do verdadeiro conhecimento, a contradição assinala o primeiro passo no progresso 
em direção à vitória. 
Alfred North Whitehead
O espírito e a ciência são as duas grandes abordagens pelas quais a huma-
nidade busca a verdade. Ambas estão procurando a verdade sobre nós e nossouniver-
so; ambas estão buscando respostas para as grandes perguntas. Elas são dois lados da 
mesma moeda.
[...] 
René Descartes, filósofo e matemático francês do século XVII, ampliou o 
fosso entre ciência e espírito: “Nada que se inclua no conceito de corpo pertence à men-
te e nada no conceito de mente pertence ao corpo”, afirmou.
E assim foi batido o martelo. A moeda (a realidade) foi dividida ao meio. Se 
o espírito e a ciência estavam em litígio, Descartes foi o advogado que tornou palatável 
essa separação.
Embora acreditasse que a mente e a matéria eram criação de Deus, Descar-
tes as considerava completamente distintas e isoladas. A mente humana era um centro 
de inteligência e razão, projetada para analisar e compreender. O domínio da ciência era 
o universo material – a natureza – que ele via como uma máquina cujo funcionamento 
obedecia a leis que podiam ser formuladas matematicamente. 
[...] 
Ao considerar que o mundo fora de nossas mentes nada mais é que matéria 
sem vida funcionando de acordo com leis previsíveis e mecânicas e desprovida de qual-
quer qualidade espiritual, essa regra nos distanciou da natureza viva que nos sustenta. 
27
E forneceu à humanidade a desculpa perfeita para explorar todos os “recursos naturais” 
com a finalidade de atender aos próprios objetivos imediatos e egoístas, sem qualquer 
preocupação com outros seres vivos ou o futuro do planeta.
Fonte: Arntz; Chasse; Vicente (2007, p. 12, 15, 19).
Repensando a Modernidade
O mundo moderno que se apresenta como o triunfo do racionalismo apare-
ce, ao contrário, como o lugar do seu declínio, culminando no irracionalismo. Contudo, 
são nas origens, no pensamento grego e no pensamento cristão, alimentados por Aris-
tóteles, que triunfou a ideia da razão objetiva/instrumental, tão discutida pelos represen-
tantes da teoria crítica da Escola de Frankfurt, tendo Horkheimer, Adorno, Habermas e 
Marcuse como seus expoentes. Nas palavras de Freitag (1988, p. 35) vemos que:
A razão que hoje se manifesta na ciência e na técnica é uma razão ins-
trumental, repressiva. Enquanto o mito original se transformava em Ilu-
minismo, a natureza se convertia em cega objetividade. Horkheimer 
denuncia o caráter alienado da ciência e técnica positivista, cujo subs-
trato comum é a razão instrumental. Inicialmente esta razão tinha 
sido parte integrante da razão iluminista, mas no decorrer do tempo 
ela se autonomizou, voltando-se inclusive contra as suas tendências 
emancipatórias.
Saiba Mais
A Escola de Frankfurt
Fundada em 1923, sob o nome de Instituto para a Pesquisa Social, a Escola de Frankfurt tem 
uma filosofia também conhecida como Teoria Crítica. “Os frankfurtianos sabem que não 
se adere à razão inocentemente. Concluem que a razão não ilumina, não revela a natureza 
que se emancipa do mito por meio da ciência. Afastam-se do cientificismo materialista, da 
crença na ciência e na técnica como condições de emancipação social, pois o progresso se 
paga com o desaparecimento do sujeito autônomo [...]” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 62).
Assim, do período helênico para a atualidade, passamos por dois fortes pa-
radigmas: o grego e o newtoniano-cartesiano. Com a sua máxima “Cogito ergo sum” 
(Penso, logo existo), Descartes, desde então, concebeu o sujeito racional, pensante e 
consciente situado no centro do conhecimento.
Descartes é considerado o fundador da modernidade, por sua ruptura com 
o universo medieval que concebia o homem dependente de Deus e subalterno a Ele. 
Descartes subverteu o sistema de perfeição da Idade Média, colocando como ponto de 
partida o pensamento, única experiência capaz de resistir às ilusões dos sentidos, aos 
28
erros da ciência, ao delírio e à alucinação. Para ele, nossa mente é uma folha em branco 
que vai sendo preenchida com borrões desordenados e, na idade adulta, não sabemos 
mais discernir entre o verdadeiro e o falso. Não se pode confiar nos sentidos. Segundo 
Descartes, nos sentidos há instabilidade e volatilidade, ou seja, eles estão em constante 
metamorfose.
Por outro lado, a emergência dessa nova concepção foi reforçada por movi-
mentos ocorridos na cultura ocidental, a saber: a Reforma e o Protestantismo (aproxima-
ram o ser humano e Deus, à medida que questionaram o intermédio da Igreja nessa re-
lação); o Humanismo Renascentista (reposicionou o ser humano, considerando-o como 
o centro do universo); as Revoluções Científicas (desenvolveram no ser humano o senso 
investigativo para o domínio da Natureza); e o Iluminismo (valorizou a imagem do ser 
humano, baseado na razão e no senso científico, libertando do dogma inquestionável).
Antes de prosseguirmos, vale fazer uma pequena diferenciação conceitual. 
Para alguns autores, como Touraine (1998) e Rouanet (1999), os termos Iluminismo e 
Ilustração são diferentes entre si. Por Ilustração entende-se, exclusivamente, o período 
que abarcou o século XVIII, que teve a participação dos Enciclopedistas. Por Iluminismo, 
o período não é limitado a uma data específica, mas que em qualquer período combate 
o mito e o poder embasado na razão. Nesse sentido, Rouanet (1999, p. 28) nos diz que:
O Iluminismo é uma tendência transepocal, que cruza transversalmente 
a história e que se atualizou na Ilustração, mas não começou com ela, 
nem se extinguiu no século XVIII. A Ilustração aparece assim como 
uma importantíssima realização histórica do Iluminismo, certamente a 
mais prestigiosa, mas não a primeira, nem a última. Antes da Ilus-
tração, houve autores iluministas, como Luciano, Lucrécio e Erasmo; 
depois dela, autores igualmente iluministas, com Marx, Freud e Adorno.
Prosseguindo com as palavras de Rouanet (1999) fica claro que o Iluminis-
mo foi, por sua vez, um movimento cultural europeu que marcou a modernidade por se 
constituir de forma plena no século XVIII com os enciclopedistas franceses Voltaire, Di-
derot, Rousseau e outros. Na Inglaterra e na Alemanha, Locke e Kant, respectivamente, 
foram os representantes mais expressivos deste movimento.
29
Texto Complementar
Homem, Moral e Desigualdade
Mesmo desconhecendo o que seja o bem, o homem age moralmente quan-
do, movido pelos princípios da moral natural – O amor de si e a piedade –, faz o bem 
para toda a espécie.
Dentre as obras deixadas por Jean-Jacques Rousseau, encontra-se o Dis-
curso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Nela, pro-
curamos situar o ser humano em termos de moralidade. Mas, não se trata de pensá-lo 
conforme o conhecemos hoje, no mundo da civilização. Rousseau, com este Discurso, 
quis responder à seguinte pergunta: “Qual é a origem da desigualdade entre homens, e 
é ela autorizada pela lei natural?”. 
Esta pergunta foi apresentada por uma Academia Francesa, conhecida 
como Academia de Dijon, que lançara um concurso de ensaio, em 1753, tendo como 
tema a desigualdade. E, Rousseau, ao responder a questão, tomou como referência o 
ser humano em sua origem. Assim, buscando comparar o que se sabe hoje do homem 
em sociedade com o que foi em um estado de natureza, ele pôde refletir sobre um ser 
humano desvestido de todos os preconceitos e vícios, próprios do homem contemporâ-
neo, que vive em meio à corrupção humana que conhecemos.
[...] Trata-se aqui de pensar no que ocorreu com este ser humano ao sair de 
um estado de natureza, em que vivia isento de toda e qualquer maldade, mesmo desco-
nhecendo a bondade ou a virtude, para um estado civil, onde está mergulhado nas mais 
diferentes formas de corrupção. Esse mergulho nas corrupções colocou o ser humano 
muito distante daquilo que ele foi em sua origem, tornando-se assim quase impossível 
reconhecê-lo conforme a natureza [...]
Fonte: Dionísio Neto (2010, p. 64,73).
A partir da valorização da “luz natural” ou “razão”, nasceu a Ilustração. A 
razão da ilustração prometeu conhecimento da natureza por meio da ciência, do aper-
feiçoamento moral e da emancipação política. A consciência coletiva daquela época re-
conhecia a metáfora da luz, pois para eles nada podia ficarobscuro, como ocorreu na 
Idade das Trevas (Idade Média), nada deveria ficar velado ou coberto. Por isso, o conhe-
cimento da natureza se emancipou do mito e o conhecimento da sociedade fundou-se 
com a razão. Agora, a razão esclarecida é uma razão emancipada e como seres humanos 
dotados de razão devemos nos valer de nosso próprio entendimento, sem a tutela de 
outro.
Todavia, a razão também demonstrou a sua fragilidade: a confiança cega na 
ciência. A promessa de libertar a humanidade da dominação caiu por terra a partir do 
momento em que a racionalidade estimulou a destrutividade e criou maneiras diversas 
30
de domínio. A razão, o instrumento com que a Ilustração queria combater as trevas da 
superstição e do obscurantismo, foi denunciada como o principal agente de dominação, 
ensejando o advento do sujeito egoísta/individualista preocupado somente com o ga-
nho e, sobretudo, com a acumulação. Além disso, a razão fez desse mesmo sujeito um 
ente solitário, desprovido de crenças em valores humanos universais e perdido entre os 
arranha-céus do mundo contemporâneo.
Enfim, segundo Rouanet (1999), diante desses aspectos apresentados, a 
razão do novo Iluminismo, na contemporaneidade, não pode mais ser a do século XVIII, 
que desconhecia os limites internos e externos da racionalidade e não sabia distinguir 
entre razão e ideologia. Caberia a ela assumir características atribuídas à razão sábia, 
ou seja, ser capaz de autocriticar-se, analisando suas limitações e ultrapassando-as.
Observe a definição de Marilena Chaui para ideologia:
A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e 
valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros 
da sociedade o que devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o 
que devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer [...] a função da ideologia é 
a de apagar as diferenças, como as de classes, e de fornecer aos membros da socieda-
de o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores 
de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, 
a Nação, ou o Estado (apud ARANHA; MARTINS, 2003, p. 62).
É preciso, pois, descrever que esta concepção da modernidade e da moder-
nização é criação de uma sociedade em constante metamorfose, buscando, essencial-
mente, a racionalização. É sob a luz dessas mudanças que podemos inferir que a moder-
nidade não é mais pura mudança ou sucessão de acontecimentos, mas sim o resultado 
dos produtos da atividade racional, científica e tecnológica. Por isso, ela implicou, além 
da crescente diferenciação dos diversos setores da vida social: arte, moral e ciência, a 
completa dissociação e negação de uma para com as outras, ou seja, a imposição da 
racionalidade instrumental (ciência) coloca em detrimento as outras esferas de valores 
(arte e moral).
Assim, além da modernidade substituir Deus no centro da sociedade pela ci-
ência, deixando as crenças religiosas e superstições para a vida privada, ela lançou-se a 
querer proteger as pessoas contra o nepotismo, o clientelismo e a corrupção, pois acre-
ditava que as administrações públicas e privadas não eram os instrumentos de um poder 
pessoal. A vida pública e a vida privada devem ficar separadas, bem como as fortunas 
privadas do orçamento do Estado ou das empresas. Touraine (1998, p. 20) nos diz que:
[...] a ideologia ocidental da modernidade, que podemos chamar de mo-
dernismo, substituiu a ideia de Sujeito e a de Deus à qual ela se prendia, 
da mesma forma que as meditações sobre a alma foram substituídas 
pela dissecação dos cadáveres ou o estudo das sinapses do cérebro.
31
Égide: o que protege, ampara.
Por isso mesmo, nem a sociedade, nem a história, nem a vida individual, 
dizem os modernistas, estão submetidas à vontade de um Ser Supremo, a qual devem 
se submeter ou sobre a qual se pode agir pela magia. O indivíduo só está submetido às 
leis naturais. Enfim, a ideia de modernidade está, portanto, estreitamente associada à da 
racionalização, pois a singularidade desta associação está no fato de que a razão ultra-
passa o seu papel essencial e alcança a ideia de uma sociedade racional, na qual a razão 
domina, além da tecnologia, a administração dos indivíduos e de tudo que os cerca. Nas 
palavras de Touraine (1998, p. 18) vemos que:
Às vezes, ela [a modernidade] imaginou a sociedade como uma ordem, 
uma arquitetura baseada sobre o cálculo; às vezes ela fez da razão um 
instrumento ao serviço dos interesses e do prazer dos indivíduos; e às 
vezes, finalmente, ela a utilizou como uma arma crítica contra todos os 
poderes, para libertar uma ‘natureza humana’ que havia esmagado a 
autoridade religiosa.
Em todas essas situações citadas por Touraine (1998), a modernidade fez 
da racionalização o seu único princípio de organização da vida pessoal e coletiva. Assim, 
além da razão se tornar um indispensável mecanismo necessário para a modernização, 
ela não se limita a um campo circunscrito da vida pessoal, mas abrange a totalidade da 
dinâmica social.
O espírito do Iluminismo, que vivificava a era moderna, assim como a Re-
volução Francesa, quis destruir o despotismo, fazendo com que a sociedade fosse tão 
transparente quanto o pensamento científico. Esta ideia ficou muito presente nos ideais 
franceses de república e na convicção de que as “luzes da razão” deveriam ser, antes 
de tudo, portadoras dos ideais universalistas: a liberdade, a igualdade e a fraternidade. 
Todavia, este “novo ideal” conduziria os revolucionários a criar uma sociedade nova e 
um homem novo, aos quais imporiam, em nome da razão, obrigações maiores que as 
das monarquias absolutas.
Entretanto, sob a égide da filosofia iluminista, no século XVIII, além de um 
homem novo, seria preciso substituir a arbitrariedade da moral religiosa pelo conheci-
mento das leis da natureza; e para que o homem não tivesse que renunciar a si mesmo, 
ao viver de acordo com a natureza, não bastaria, somente, apelar para a sua razão. Seria 
necessário, portanto, mostrar que a sujeição à ordem natural das coisas era inconteste e, 
sobretudo, dentro dela tudo seria bem, mas fora dela nada seria definitivo ou seguro. O 
grande sonho do século seria o de uma humanidade reconciliada consigo mesma e com 
o mundo e que se harmonizaria, espontaneamente, com a ordem universal.
Vale ressalvar que a concepção de natureza, na época do Iluminismo, tinha 
um sentido mais amplo do que hoje. Touraine, pelas palavras de Cassirer (1994, p. 325), 
a define como sendo:
32
[...] não apenas o domínio da existência ‘física’, a realidade (material) 
da qual se teria de distinguir a ‘intelectual’ ou a ‘espiritual’. O termo 
não se refere ao ser das coisas, mas à origem e ao fundamento das 
verdades. Pertencem à natureza, sem prejuízo do seu conteúdo, todas 
as verdades que são susceptíveis de um fundamento puramente ima-
nente, não exigindo qualquer revelação transcendente, que são em si 
mesmas certas e evidentes. Tais são as verdades que buscamos, não 
apenas no mundo físico, mas também no intelectual e moral. Porque 
são essas as verdades que fazem do nosso mundo um único ‘mundo’, 
um cosmos assentado sobre si mesmo, possuindo em si mesmo seu 
próprio centro de gravidade.
Esclarecido por esse conceito de natureza, o ser humano está apto para in-
tegrar-se ao mundo, pensando e agindo sobre essa natureza, por meio do conhecimento 
e do respeito a suas leis, de forma autônoma, sem a interferência dos ensinamentos da 
Igreja. As leis da natureza estariam à disposição e acessíveis para quaisquer pessoas que 
quisessem ter acesso.
Contudo, a grande decepção dos modernistas, que até podemos considerar 
como ingênua, foi confiar no próprio ser humano. A ideia de levar “luz às trevas”, confiar 
na bondade e na vontade inata do homem, com uma capacidade de criar instituições 
racionais e, sobretudo, para seu interesse, distante da autofagia e da autodestruição 
humana, sendo tolerante e tendo respeitoà liberdade de cada um, sem que o poder o 
cegasse, foi uma ilusão!
Dica
O documentário “Uma verdade inconveniente” (EUA, 2006. Duração: 100 min.) nos faz en-
veredar em uma profunda reflexão sobre a atual relação entre ser humano e natureza, pau-
tada, cada dia mais, no poder e na dominação de um sobre o outro, respectivamente. A obra 
retrata a citada decepção da modernidade. O ser humano que outrora aprendeu a desvendar 
a natureza para aproximar-se da realidade, sem interferências míticas, não é o mesmo que 
hoje devasta o meio em que vive, com o intuito de satisfazer o desejo do poder.
Esta tentativa de concepção de uma sociedade racionalizada não deu certo, 
porque a Ilustração esqueceu-se, por ingenuidade ou não, de que a intolerância, os 
fanatismos religiosos, etc. não se originam da manipulação consciente do clero e dos 
déspotas tiranos, como julgavam, mas sim da ação de mecanismos sociais e psíquicos 
de cada ser humano, em particular, muito mais profundo do que podemos imaginar. Foi 
como se o próprio remédio ofertado para curar as mazelas da humanidade a tivesse 
asfixiado.
33
Pare e Reflita
O surgimento da ciência foi considerado um avanço para a sociedade moderna. O 
abandono da concepção mítica para o uso da razão na busca pelo conhecimento do 
mundo foi determinado como um progresso. De repente, nos vimos em uma situação 
em que este mesmo avanço culmina em caos, separatividade e sofrimento. O que hou-
ve com o ser humano no percurso da história da humanidade? Qual a gênese dos maio-
res problemas sociais da modernidade?
Por isso, embora a Ilustração erguesse a bandeira da transparência, eles se 
fechavam sobre si mesmos, como uma redoma, protegidos de tudo que pudesse per-
turbá-los e, por consequência, da razão universal que proclamavam e a ordem natural 
das coisas. Eles, por si próprios, foram à ruína. Nas palavras de Touraine (1998, p. 39):
a ideia de uma administração racional das coisas que substituiria o go-
verno dos homens é dramaticamente falsa e porque a vida social que 
se imaginava transparente e governada por escolhas racionais revelou-
se repleta de poderes e de conflitos, enquanto que a modernização 
aparecia cada vez menos endógena, cada vez mais estimulada por uma 
vontade nacional ou por revoluções sociais. A sociedade civil separou-
se do Estado: mas se o nascimento da sociedade industrial marcou o 
triunfo da primeira, foi o Estado que, no século XIX, revelou-se o cava-
leiro armado da modernização nacional. A distância que dessa forma 
foi cavada entre modernidade e modernização, entre capitalismo e na-
cionalismo, levou o sonho de uma sociedade moderna à ruína, definida 
pelo triunfo da razão. Ela preparou a invasão da ordem clássica da mo-
dernidade pela violência do poder e pela diversidade das necessidades.
Embora o modernismo tenha seu lado bom, trazendo a ideia de que o ho-
mem é apenas um cidadão; que a caridade torna-se solidariedade; que a consciência 
passa a ser o respeito às leis naturais; que os juristas e os administradores substituem 
os profetas, hoje, resta-nos uma ideologia modernista, uma crítica da modernidade, um 
desencantamento do mundo como nos diria Weber.
Olhemos ao nosso redor. Não foram corrigidas as imensas desigualdades so-
ciais de alcance planetário, tampouco foram reparadas as injustiças históricas. Na reali-
dade, observamos como o “fosso”, que separa os países, foi aumentando a dependência 
e a subordinação dos países do terceiro mundo aos do primeiro.
As ideias tradicionais conservadoras foram consolidadas: o individualismo 
institucionalizado foi considerado como uma liberdade individual, esquecendo que a li-
berdade de cada um não conhece outro limite, que é a liberdade dos demais. Não é o 
indivíduo que deve ser orientado ou dirigido, é a sociedade que deve ser civilizada; a 
desregulamentação comercial, a privatização, a omissão do Estado ao impor sua função 
social, a comercialização do ensino, etc., nos faz desanimar.
34
Pare e Reflita
O quadro ora apresentado faz parte da realidade em que vivemos, o desastre da moderni-
dade. No entanto, por ser uma realidade deve ser aceita comodamente? Desejamos este 
mundo quando idealizamos a vida de nossos filhos, netos, bisnetos e todas as outras gera-
ções que virão? O que podemos fazer enquanto parte integrante desta teia social?
Sociologia como Ciência
De forma reducionista, pode-se conceituar a sociologia como a ciência da so-
ciedade. No entanto, essa definição não esclarece a dimensão e a complexidade de uma 
ciência que se propõe a analisar os processos mais íntimos da dinâmica social. Afinal, 
entende-se como ciência um “conjunto de atitudes e de atividades racionais dirigidas ao 
sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação.” 
(LAKATOS, 1996, p.19).
Segundo Trujillo Ferrari (apud LAKATOS, 1996, p. 15), a lógica da ciência 
desenvolve-se por meio de procedimentos que:
• possibilitam a observação racional e controlam os fatos;
• permitem a interpretação e a explicação adequada dos fenômenos;
• contribuem para a verificação dos fenômenos, positivados pela expe-
rimentação ou pela observação;
• fundamentam os princípios da generalização ou o estabelecimento 
dos princípios e das leis.
Dessa forma, a evolução da ciência relaciona-se diretamente à necessidade 
humana de controlar, mensurar e compreender a dinâmica da natureza, uma vez que o 
conhecimento científico caracteriza-se por especificidades listadas a seguir: 
1) é racional, pois é constituído por conceitos, juízos e raciocínios, ao con-
trário do senso comum;
2) não é valorativo, pois permite que as ideias que o compõe possam combi-
nar-se segundo um conjunto de regras lógicas, que organizadas e sistematizadas cons-
tituem as teorias; 
3) é objetivo, isto é, ele procura concordar com seu objeto, busca alcançar a 
verdade factual, adequando as suas hipóteses por meio da observação, da investigação 
e da experimentação; 
35
4) é transcendente aos fatos, ou seja, este conhecimento não se prende às 
aparências observáveis, ele tenta conhecer a realidade dos fatos além das aparências, 
fazendo correlações com outros níveis da realidade e explicando-os por meio de hipóteses;
5) é analítico, pois tende a decompor o todo dos fatos e desvendar as suas 
interligações, ou melhor, analisa até chegar às conclusões ou síntese; 
6) é claro e preciso, pois o cientista esforça-se para ser exato e para que 
não haja ambiguidades em suas conclusões. Por isso, ele trabalha com conceitos e, se 
houver necessidade, cria uma linguagem própria, embora com significado; 
7) é verificável, ou seja, para ser aceito como válido deve passar pela prova 
da experiência.
FIGURA 6 – Características do conhecimento científico.
Fonte: Elaboração própria (2012).
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Saiba Mais
Conheça um pouco sobre Karl Popper, um influente filósofo da 
modernidade, que teorizou sobre o conceito de ciência.
Karl Popper (2000) afirma que o que prova uma teoria como científica é o fato dela ser falí-
vel e aceitar ser refutada; porquanto o conhecimento científico é: dependente de investiga-
ção metódica, ou seja, o cientista não age por acaso, ele planeja seu trabalho, baseia-se em 
conhecimento anterior e obedece a um método pré-estabelecido; é acumulativo à medida 
que seu desenvolvimento atual é produto de um acúmulo de conhecimentos anteriores, 
mesmo que os novos possam substituir os antigos; é explicativo em virtude de tentar res-
ponder todos os “porquês” que afligem a condição humana, ele explica os fatos em termos 
de leis e as leis em princípios gerais; por fim, é aberto, ou seja, não conhece barreiras que 
o limite, não é um sistema dogmático, é flexível às novas descobertas, e está ligado às cir-
cunstâncias de sua época.
Na tentativa de compreensão dos turbulentos fenômenos sociais do século 
XVIII, especialmente marcados pela transição do sistema feudal para um sistema ba-
seado no capital, no qual a Revolução Industrial assumiu a grande responsabilidade, os 
pensadoresdebruçaram-se sobre a possibilidade de adequação de métodos e procedi-
mentos das ciências da natureza aos estudos das questões humanas e sociais. Assim, os 
fenômenos sociais poderiam ser classificados e medidos.
Atenção
Acreditava-se que se as ciências naturais tinham um método científico, as ciências so-
ciais, como um elemento da natureza, também poderiam ter. 
Evidentemente, as leis sociais científicas não puderam ser implantadas, haja 
vista a dinâmica de mudanças constantes dos seres humanos e da sociedade. Martins 
(1998, p. 7) sustenta que: “A sociologia constitui um projeto intelectual tenso e contradi-
tório. Para alguns ela representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominan-
tes, para outros ela é a expressão teórica dos movimentos revolucionários”.
Por isso, é importante conhecer os dois marcos históricos do surgimento da 
sociologia: Revolução Industrial e Revolução Francesa.
Revolução Industrial
O século XVIII teve fundamental importância para o surgimento da sociologia 
e a construção da história do pensamento ocidental. No ocidente europeu, a sociedade 
experimentava transformações econômicas, políticas e culturais que se intensificavam, 
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trazendo problemáticas até então inéditas para o cenário social. Este século testemu-
nhou uma dupla revolução que direcionou os acontecimentos para um único rumo: a 
instalação do capitalismo.
Capitalismo: Estatuto jurídico e regime econômico de uma sociedade humana ca-
racterizada pelo grande desenvolvimento dos meios de produção e sua operação por 
trabalhadores que não são proprietários dos mesmos: capitalismo de Estado, capita-
lismo privado. Sistema de produção cujos fundamentos são a empresa privada e a 
liberdade do mercado.
Fonte: Dicionário on-line de português (2011).
A Inglaterra foi o palco de uma grande explosão representada pela Revo-
lução Industrial. As transformações acarretadas a partir deste fato histórico não foram 
somente de ordem econômica, relacionadas às inovações tecnológicas, mas também de 
ordem social, interferindo na maneira como se organizava o trabalho e no modo de vida 
das pessoas em geral. O artesão sofreu grandes modificações no seu ritmo de vida e de 
trabalho, conforme apresenta o quadro abaixo.
QUADRO 3 - As modificações no ritmo de trabalho e de vida dos artesãos com o surgimento da 
Revolução Industrial.
Antes da Revolução Industrial Após a Revolução Industrial
Produziam no lar, com ferramentas próprias. Trabalhavam nas fábricas, sob as ordens do empresário capitalista.
Tinham o controle do tempo de trabalho e da 
produção.
Estavam submetidos à imposição de longas 
jornadas de trabalho e à organização da pro-
dução por um patrão.
Eram responsáveis pela fabricação do produto 
todo.
Eram responsáveis apenas por uma parte da 
elaboração do produto.
Eram mestres em seu ofício. Transformaram-se em funcionários que ape-nas operavam máquinas.
Fonte: Elaboração própria (2012).
O empresário capitalista foi, em ritmo acelerado, concentrando máquinas, 
terras e ferramentas sob seu controle e transformando os trabalhadores em simples des-
possuídos. Ao passo que a consolidação da sociedade capitalista avançava, a sociedade 
via a desintegração de costumes e instituições que não condiziam com os fundamentos 
da nova ordem que organizaria a vida social.
A Inglaterra passou de país de pequenas cidades à nação de nascentes in-
dustriais que exportavam produtos mundialmente. Aos poucos, características da antiga 
sociedade feudal ocultavam-se para dar espaço ao ritmo acelerado do capitalismo. A 
sociedade rural se reordenava, a servidão se destruía e uma maciça emigração do campo 
para a cidade ocorria.
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Foi nesse contexto que mulheres e crianças se engajaram em jornadas de 
trabalho absurdas, sem benefícios como férias e feriados, ganhando um salário de sub-
sistência, o que era vantagem para a indústria inglesa.
Dica
O filme “Tempos modernos” (EUA, 1936, do cineasta Charles Chaplin. Duração: 87 min.) 
apresenta o famoso personagem “O vagabundo” (The Tramp) tentando sobreviver em 
meio ao mundo moderno e industrializado. O filme retrata o processo de substituição dos 
homens pelas máquinas, as facilidades que levaram à criminalidade, à escravidão, às péssi-
mas condições de trabalho nas fábricas, dentre outros temas. Vale a pena conferir!
As cidades que se formavam não tinham uma estrutura de moradias, de 
serviços sanitários e de saúde para suportar o grande número de pes-
soas que emigravam do campo. Imagine inúmeras pessoas chegando 
a uma cidade onde não existem casas para morar, nem médicos, nem 
escolas suficientes; e, apesar das indústrias, não existia emprego para 
todo mundo. Novos problemas apareceram, como o aumento da prosti-
tuição, do alcoolismo, do suicídio e da criminalidade, e surgiram surtos 
epidêmicos de tifo e cólera (PAIXÃO, 2010, p. 29).
Industrialização, crescimento das cidades, êxodo rural e demais transforma-
ções assistidas pela sociedade inglesa foram ingredientes importantes para o surgimento 
de uma nova classe social: o proletariado. A inexistência de leis que protegessem os 
trabalhadores e assegurassem seus direitos, dava vazão para que vivessem em precárias 
condições de trabalho. A resposta do proletariado a esta situação deu-se por meio de 
manifestações descontroladas, com a destruição de máquinas, sabotagem no trabalho, 
roubos e iniciativas como o movimento cartista e a trade unions.
Movimento cartista – movimento organizado pela Associação dos Operários da 
Inglaterra, entre os anos de 1837 e 1848, que exigia melhores condições de traba-
lho, tais como: limitação da jornada de trabalho e do trabalho feminino, extinção 
do trabalho infantil, salário mínimo. Recebeu essa denominação porque suas rei-
vindicações eram feitas em forma de cartas às autoridades (PAIXÃO, 2010, p. 31).
Trade unions – organizações dos operários das fábricas inglesas durante a segun-
da metade do século XIX, que mais tarde evoluíram para os sindicatos (PAIXÃO, 
2010, p. 31).
39
Saiba Mais
O principal motivo pelo qual a população não contestava a autoridade do rei consistia 
na expressão “direito divino”. Segundo essa expressão, os reis eram os representantes de 
Deus na terra, tendo, assim, o direito de governar como quisessem. Utilizando da “palavra 
sagrada”, o rei não encontrava nenhum empecilho para exercer sua autoridade.
A burguesia, diante do absolutismo, deparava-se com inúmeras limitações 
impostas, por meio de taxas, restrições e proibições, em contraste com os inúmeros 
privilégios dedicados à nobreza. A Revolução Francesa significou um basta a esses privi-
légios, a destruição do Antigo Regime e a ascensão da burguesia ao poder. Valendo-se 
do lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, a revolução afetou o clero, à medida 
que confiscou suas terras e transferiu para o Estado algumas de suas funções como a 
educação e a cultura.
QUADRO 4 – Desdobramento das “duas grandes revoluções”.
Revolução Francesa (1789) Revolução Industrial (final do século 
XVIII)
• Fim do feudalismo e do Antigo Regime.
• Ascensão da burguesia ao poder.
• Fim dos privilégios da nobreza.
• Abalo no poder da Igreja.
• Novas tecnologias e mudanças nas formas de 
organizar o trabalho.
• Industrialização.
• Êxodo rural e urbanização.
• Surgimento do proletariado.
• Condições precárias de vida dos trabalhadores.
Fonte: Paixão (2010, p. 23).
Dica
O vídeo “Danton, o processo da revolução” (França, 1982. Direção de Andrej Wajda. 
Duração: 136 min.) retrata a segunda fase da Revolução Francesa, o período do terror; 
marca o debate entre os jacobinos Danton e Robespierre, fortemente comprometido 
com as razões do Estado.
Revolução Francesa
Em 1789, a França testemunhou a ascensão de uma nova classe ao poder: 
a burguesia. O cenário francês se resumia a uma sociedade feudal que privilegiava a 
nobreza e o clero (cerca de 500 mil pessoas) em detrimento do chamado terceiro Estado 
(cerca de 23 milhões de pessoas), que pagava os impostos e os tributos feudais usados 
para manter

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