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UNIDADE 2ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO TÓPICO 2A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO 1 INTRODUÇÃO A ideia de Estado sem religião oficial se estruturou e legitimou a partir as revoluções liberais ocorridas ao longo do século XVIII. Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que quando o fato de o Estado ser laico significa que Igreja não compõe mais o governo, outras esferas e instâncias da sociedade como a educação, permaneceram sob o controle e tutela da Igreja, o que mudou a partir da época moderna é que a Igreja não possuía mais o monopólio hegemônico sobre a educação. O que passa acontecer também é que as instituições religiosas precisavam se adaptar às exigências e normas do governo, que prescreviam os conteúdos mínimos que deveriam ser ministrados. Isso implicava que as escolas mesmo sendo confessionais deveriam ministrar os conteúdos de caráter científico, ou seja, escolas religiosas ensinar sobre a Teoria da Evolução das Espécies proposta por Charles Darwin. O século XVIII foi um dos principais períodos em que a sociedade humana viveu transformações profundas, verdadeiramente revolucionárias: o Iluminismo, uma revolução no campo das ideias; a Revolução Industrial, uma verdadeira transformação no campo da economia; a Revolução Francesa, uma transformação no campo da política; e a Revolução Americana, que simbolizou uma alteração na relação entre os países do mundo. A sociedade estamental e o antigo sistema colonial eram os dois principais pilares da dominação econômica e social. Por sua vez, a ideia de um direito divino dos reis em comandar a plebe, e os resquícios de dominação feudal, com a maioria da população vivendo nos campos, explicam quão revolucionários foram os eventos que estudaremos. Pois teremos, com a Revolução Francesa, o fim da Sociedade Estamental, com a Revolução Americana o fim do Antigo Sistema Colonial e, com o Iluminismo, o fim da legitimação divina do poder real. 2 A SUPERAÇÃO DO ANTIGO REGIME E DO SISTEMA COLONIAL E AS IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO Uma primeira importante revolução existiu no campo das ideias e a conhecemos por Iluminismo. Este influenciou a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos da América. Uma das principais revoluções sociais ocorreu quando os Estados Unidos da América se tornaram uma nação independente da Inglaterra. Tal revolução é explicada pelo fim do Antigo Sistema Colonial. Isto é, as colônias americanas deveriam ser submissas às metrópoles, sendo elas fornecedoras de lucros aos europeus. Com o exemplo norte-americano, as antigas colônias espanholas e portuguesas também se tornaram independentes das suas metrópoles, o que ocasionou uma grande consequência para a história da educação. Pois, estes Estados Nacionais que surgiram na América Latina tiveram de implantar um sistema nacional de educação. Pela primeira vez, as elites políticas ibero-americanas tiveram de se responsabilizar pela instrução de sua população. A Revolução Francesa teve incomensurável importância para compreendermos as transformações educacionais. A mesma se iniciou em 1789, quando da Queda da Bastilha, um símbolo do Antigo Regime Monárquico e termina quando Napoleão Bonaparte assume o poder francês e expande algumas das ideias revolucionárias para os demais países europeus. FILME Um filme interessante sobre a Revolução Francesa é Darton – o processor da revolução. Estrelado pelo principal ator francês de sua geração, Gerard Depardieu, trata-se de uma visão sobre a revolução tendo como protagonistas seus principais e opostos líderes: Darton e Robespierre. Uma das principais questões da Revolução Francesa que alterou a forma de organização social foi o fim do sistema estamental do Antigo Regime, no qual a sociedade era dividida em três estados. O primeiro, composto pelo clero, o segundo, pela nobreza e o terceiro, pelos demais membros da sociedade, independente da renda que possuíam. Mesmo que alguém fosse rico, teria menos direitos políticos e sociais que os membros dos estamentos superiores. A Revolução Francesa aboliu com este sistema de organização social, estabelecendo um processo de igualdade de todos os indivíduos perante a lei, o que ficou explicitado no Código Civil Napoleônico. O fato de todos os seres humanos serem considerados iguais foi uma revolução político-social de grande tamanho, com óbvios reflexos no campo educacional, pois todos teriam direito de ter acesso à educação formal, não apenas os que possuíssem dinheiro ou fossem membros da nobreza e clero. Deste modo, após a Revolução Francesa se observa a construção de uma sociedade na qual o acesso às carreiras de Estado, como o magistério, a justiça, as forças armadas e a diplomacia, é tido através de méritos educacionais, simbolizados nos concursos públicos. A Revolução observou grande importância à educação. Liderados por Condorcet, os revolucionários estabeleceram comitês de educação pública. Após a Revolução, se observou o aumento da oferta de educação para todos os cidadãos, tanto na França quanto nos demais países do mundo. Uma das revoluções já citadas foi a Revolução Industrial. Iniciada na Inglaterra do século XVIII e originalmente ligada à indústria têxtil, a mesma se expandiu ao longo dos séculos XIX e XX aos demais países do mundo, açambarcando outras áreas da produção de objetos e máquinas, como a indústria metalúrgica, avançando no presente momento a áreas tecnológicas de extrema complexidade, como a informática e a nanotecnologia. A Revolução Industrial também possuiu fortes implicações educacionais. Isto porque ela acabou por alterar a vida cotidiana da maior parcela da população ocidental, pois, anteriormente, a mesma vivia majoritariamente no campo, tendo um contato direto com a natureza. Nestes tipos de comunidades rurais, a aprendizagem para o trabalho era mimética, ocorrendo em contato com os pais e demais parentes que ensinavam às crianças as lides rurais. As escolas, em geral ligadas às paróquias das igrejas, tinham como principal função ensinar a ler e escrever, além de instruir as quatro operações matemáticas básicas. A Revolução Industrial modificou a estrutura educacional do ocidente, desde a pré-escola até o ensino de pós-graduação. Isto porque, antes da Revolução Industrial, a educação da elite era realizada por preceptores (professores particulares) em seu nível elementar, e nas universidades, ao longo do ensino superior. Porém, a educação das elites foi profundamente alterada, com a popularização de escolas elementares e colégios secundaristas. Ao mesmo tempo, a educação das massas também foi alterada, com a criação de institutos de ensino técnico, que visava à formação de mão de obra para as indústrias. A Revolução Industrial também criou empregos de classes médias ligados diretamente às fábricas, como técnicos industriais e engenheiros mecânicos. Como podemos observar, as denominadas revoluções atlânticas foram as principais propulsoras da alteração da relação do Estado Nacional com a educação, pois, tiveram o impacto de forçar aos países ofertar educação para todos os cidadãos, independente do credo religioso, posição social ou situação econômica. 3 OS PRINCIPAIS INTELECTUAIS E O PENSAMENTO DOS EDUCADORES LEIGOS Com a implantação do Estado moderno se instaurou todo um contexto de políticas de fomento à popularização da arte e da cultura, que estas fossem de fácil assimilação, circulação e consumo, bem como democratizar os espaços de arte e cultura, museus, galerias, exposições, no sentido de aproximar o público dos artistas, os produtores dos consumidores, ou oportunizar que a arte e a cultura fossem de acesso ao maior número possível de indivíduos. Durante o século XVII, coleções de curiosidade, difundidas por toda a Europa, receberam espaços em museus, gabinetes ou câmaras de curiosidades. Nesses locais, que não pertenciam mais somente à nobreza, encontravam-se quadros, esculturas,livros, instrumentos científicos, objetos vindos de terras que estavam sendo exploradas, peças do mundo natural, curiosidades em geral. Um dos principais sinais do processo de laicidade da formação dos sistemas educacionais das diferentes nacionalidades foi a exclusão de intelectuais ligados diretamente a igrejas cristãs. Como afirmamos, temos a presença de intelectuais leigos, isto é, não sacerdotes, porém, muitos dos pensadores da educação nos séculos XIX e XX eram pessoas que tinham fé cristã. O fato de não serem sacerdotes possibilitou a eles uma maior liberdade, por poderem inovar em matéria educacional sem o perigo de sofrerem punições pelas hierarquias eclesiásticas das igrejas que professavam suas crenças. O princípio de uma divisão entre a Igreja e o Estado foi uma ampla tendência no século XIX, pois a religião, que no Antigo Regime deveria ser expressa publicamente pelos indivíduos, em rituais nos quais o poder político era legitimado pelos clérigos, deixou de ser uma obrigação social. Por sua vez, a educação, que era algo reservado à esfera privada e que não era considerada uma obrigação, passou a ser uma das preocupações dos dirigentes sociais. O amplo desenvolvimento das distintas ciências durante os novecentos possibilitou uma nova forma de pensar o ser humano e suas relações sociais. O evolucionismo, o socialismo, além do desenvolvimento da sociologia e da psicologia enquanto ciências, possibilitaram aos homens uma nova forma de pensar a realidade, uma nova sensibilidade em relação à infância e a possibilidade do desenvolvimento de uma ciência voltada ao progresso educacional dos indivíduos, materializada em escolas que seguiam novos conceitos educacionais. Podemos compreender o surgimento de intelectuais que trabalharam com temas educacionais como um indício da emergência histórica do laicismo, de uma separação radical entre as questões da fé e as questões da política. Os intelectuais a seguir citados não são gênios isolados, mas professores que souberam adequar a tarefa educacional aos desafios de suas épocas. Ao longo dos séculos XIX e XX, muitos intelectuais refletiram sobre as transformações que a sociedade estava passando. Alguns destes pensadores refletiram, sobre a importância da educação se adequar à nova sociedade que estava sendo formada após as grandes transformações simbolizadas pela Revolução Industrial e Francesa. Dentre os vários pensadores, neste momento, iremos destacar três que tiveram maior relevância nos últimos duzentos anos: Froebel, Pestalozzi e John Dewey (GADOTTI, s.d.). Froebel foi um dos importantes teóricos da educação moderna. As suas ideias tiveram reflexos até o presente no que se concebe sobre as políticas educacionais do ocidente. Froebel partiu do princípio que todo o ser humano nos primeiros anos de vida é uma semente, que deve ser regada e fortificada para poder crescer e ser um bom indivíduo. Por isso, ele foi o criador dos jardins de infância, as unidades de educação infantil no qual as crianças têm a possibilidade de serem socializadas protegidas pelos adultos, sem interferências do mundo externo, que poderiam ser a elas uma má influência. Assim, o jardim de infância é uma das principais ferramentas para a construção de um futuro melhor para toda a sociedade, ao proteger as crianças das influências maléficas e possibilitar a formação de pessoas com melhor saúde, caráter e inteligência. Outro importante intelectual da educação do século XIX foi Pestalozzi, educador suíço de grande destaque entre os intelectuais da educação. Uma importância da revolução que Pestalozzi produziu na história da pedagogia foi sua insistência em afirmar que mais importante que a acumulação de conhecimentos, a educação deve ser capaz de formar indivíduos de forte caráter. (ARANHA; 1996) O que hoje é um dado comum, porém, isto significou uma verdadeira revolução em sua época. FIGURA 22 - FROEBEL; PESTALOZZI; JOHN DEWEY No Século XX, tivemos vários intelectuais de destaque que pensaram as questões educacionais. O destaque maior cabe ao estadunidense John Dewey. Este intelectual foi o formulador do denominado escolanovismo. Este movimento educacional tinha como uma das principais bandeiras o ensino integral. Isto é, em um momento da história humana na qual os pais e as mães faziam parte do mercado de trabalho, as crianças poderiam ficar o dia inteiro em escolas nas quais, além da educação formal, receberiam atenção de educadores que forneceriam alimentação, práticas esportivas e o contato com a tecnologia desenvolvida pelos homens. O escolanovismo teve uma preocupação justa com a qualidade da educação e sua popularização, mas também em utilizar dos inventos do século XX nas escolas, como o gramofone, o cinema e as projeções eletrônicas de imagens, como os slides. Isto é, ao invés de se ter a tecnologia como uma inimiga das tarefas pedagógicas cotidianas, os escolanovistas tiveram a percepção que estes inventos poderiam ser utilizados como aliados no ato de ensinar às novas gerações o conhecimento. John Dewey também se destacou como importante filósofo, ao propor uma nova forma de pensar a realidade, o denominado pragmatismo. Para os filósofos que seguem tal perspectiva de análise, as ideias deveriam ter sua relevância medida por sua possível utilização prática. Na atualidade, Richard Rorty é o principal seguidor no campo da filosofia das teorias pragmáticas. 4 O EXEMPLO DE HEGEL Georg W. Friedrich Hegel (1770-1831), filósofo alemão, foi influenciado pelas obras de Heráclito (353 a.C - 475 a.C), Espinoza (1632-1677), Kant (1724-1804) e Rousseau (1712-1778), assim como pela Revolução Francesa e Napoleão Bonaparte. Dedicou-se aos estudos do Idealismo Absoluto, procurou investigar a relação entre mente e natureza, sujeito e objeto do conhecimento. Para tanto, empreendeu estudos em história, arte, religião e filosofia. Com a obra “Fenomenologia do espírito”, pretendeu mostrar que a ideia não é seguir o acumular do desenvolvimento histórico da humanidade na dimensão do tempo, mas de colher os momentos estratégicos, de vicissitudes e ideais que são responsáveis por conferir desenvolvimento ao espírito. Para Hegel, o desenvolvimento da realidade passa por três momentos fundamentais: o da ideia, o da natureza e o do espírito. O espírito é o absoluto, o complemento de todas as coisas, o ponto extremo de síntese para a qual tende toda filosofia, ciência, religião e cultura. O espírito não é transcendente em relação ao mundo, mas constitui seu complemento interno e sua essência que é a liberdade. Para Hegel, o espírito subjetivo e o espírito objetivo são a via pela qual se vai elaborando o espírito absoluto, cujas formas são a arte, a religião e a filosofia. Hegel apresenta também a unidade dos opostos, como princípio fundador de uma nova lógica, no sentido de que esta é imanente, de modo que aquilo que é real deve ser caracterizado pela unidade dos opostos. Para Hegel, o homem se apresenta como um animal que não tem uma natureza determinada, mas que se forma incessantemente. Seguindo este raciocínio, a história do passado não é capaz de ensinar alguma coisa de útil ao momento presente, o que coloca Hegel distante da doutrina “Historia magistra vitae”, que foi proposta desde os historiadores da época antiga, como Heródoto, Tucídides e Cícero. A história apresenta uma racionalidade própria, mas não deve apresentar uma tendência na direção de um telos (fim, alvo) específico. Para Hegel, os ‘meios’ são mais importantes que os ‘fins’; ou seja, o navio, o automóvel e o trem são mais importantes do que alcançar e chegar do outro lado do oceano, na cidade, e qualquer destino traçado. Uma vez que se conta com tais recursos, pode-se trilhar novos caminhos, percorrer outras distâncias, chegar a diferentes lugares. A grande tese de Hegel reside na defesa de que o finalismo “ad usum hominis” (para uso humano) não existe na natureza e, que quando existe na história, não é por virtudeda Divina Providência, mas unicamente pelos feitos das ações humanas. E o fato de propor a relação de prioridade dos meios diante dos fins distanciava-se do pensamento que havia sido proposto desde Maquiavel (1469-1527), Voltaire (1694-1778) até Herder (1744-1803). Para Hegel, a racionalidade está por trás de tudo no mundo e a filosofia tem o poder de compreender a racionalidade da história. O pensamento capta a racionalidade, mas substitui a noção de progresso linear por uma filosofia da contradição, da dialética. O percurso dialético que resulta disso pressupõe uma visão unitária e uma síntese do espírito por meio de suas múltiplas concretizações. 5 O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DE DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS E DISCIPLINAS AUXILIARES A partir da época moderna, a ciência alcançou uma autonomia e emancipação nunca observadas em outros tempos históricos. As revelações, verdades e metáforas religiosas, ou de senso comum ou mitologias e folclores que desfrutavam de prestígio e autoridade no interior das sociedades, passam a ser abordadas a partir do princípio da dúvida, do questionamento e das hipóteses formuladas no campo da ciência e da racionalidade. O percurso metodológico foi instaurado como o único procedimento básico para alcançar a verdade, ou seja, o caminho do laboratório, da observação, da análise, da descrição, da dedução, da comparação, da interpretação, da síntese, da antítese e da tese seria o garantidor da veracidade dos novos conhecimentos que estavam sendo produzidos. Os testes, os experimentos, tratamentos e medicamentos preventivos, simulações, supervisionamentos, monitoramento, o isolamento e o controle em laboratório, as cirurgias, as amputações, as incisões, as transfusões, as combinações, os enxertos, os hibridismos, a criação de ambientes artificiais, as induções, o uso de paliativos, isto tudo foi possível a partir da ciência moderna e possibilitou a verificação específica, profunda e restrita tanto de objetos, fatos e fenômenos. Como resultado deste cenário, obtiveram-se as descobertas e as invenções do termômetro clínico, lentes de A. Fresnel (1788-1827), a anestesia, a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin (1808-1882), teoria microbiana de L. Pasteur (1822-1895) e P. V. Gautier (1846-1908), teoria atômica de J. Dalton (1766- 1844), e a teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939). As interpretações estatísticas e demográficas foram responsáveis por servir de base de dados e desencadear ações e práticas aos estados em termos de saneamento básico, como oferecer água encanada, canalização de esgotos, controle de epidemias e doenças, construção de hospitais, laboratórios, escolas, orfanatos, asilos, cemitérios, entre outros. O desenvolvimento de ciências auxiliares para a educação foi um dos sinais que ganhou importância e prestígio social, em especial no final do século XIX e na primeira metade do século XX. Duas delas são de importância incalculável para o desenvolvimento de melhores formas de educar os jovens: a sociologia e a psicologia da educação. O termo “ciências auxiliares”, por vezes, é criticado, pois alguns autores observam que existe uma multiplicidade de temas educacionais e que somente uma abordagem interdisciplinar poderia realmente ser capaz de vencer os diferentes desafios da educação na contemporaneidade. Todavia, o que se pretende ao ainda utilizarmos o conceito “ciências auxiliares”, é observar a importância da educação como forma de estudo para diferentes áreas das ciências humanas e sociais. 5.1 SOCIOLOGIA: A CIÊNCIA DA SOCIEDADE O surgimento da sociologia enquanto ciência ocorreu no século XIX. Augusto Comte, formulador da filosofia positivista, foi o autor da ideia de uma nova ciência de estudar a sociedade, o “sócio-logos”, que em sua origem etimológica define sua função, pois logos, no grego, quer dizer justamente conhecimento, estudo ou ciência sobre algum tema. Todavia, os estudiosos reconhecem três grandes fundadores da sua especialidade: Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim. Augusto Comte (1798-1857) foi politécnico organizador, bem como hostil ao pensamento socialista/marxista e de quem fosse inimigo da propriedade privada. Possuía como objetivo fundar uma ciência social, que deveria ser chamada de física social ou sociologia. No pensamento de Comte, somente com a síntese das ciências e com a criação de uma política positiva se daria conta de analisar conflitos e as contradições sociais e propor reformas e soluções. O principal ponto de partida residia no próprio século XIX, que almejava superar a tradição teológica e favorecer a transição a uma sociedade científica e industrial. Os principais temas que interessaram a Comte foram a filosofia da História, a classificação das ciências e física social ou sociológica. Para tanto, escreveu as obras Curso de filosofia positiva – seis volumes (1830-1842), Discurso preliminar sobre o espírito positivo (1844) e Sistema de política positiva – quatro volumes (1851-1854). Comte defendeu a lei dos três estados os quais o espírito humano percorre em seus estágios de desenvolvimento: estado teológico ou fictício (fenômenos sobrenaturais); estado metafísico ou abstrato (fenômenos da natureza); e o estado científico ou positivo (fatos e leis que determinavam a realidade): maneira de pensar positiva. Vamos analisar com mais detalhes como funcionava a filosofia histórica das ‘leis dos três estados’ que Comte formulou e procurou explicar. O conhecimento positivo se caracterizou pela previsibilidade; o “ver para prever” que funcionou como lema da ciência positiva. A previsibilidade científica permitiria o desenvolvimento da técnica e, assim, o Estado corresponderia ao pleno desenvolvimento industrial, no sentido de exploração da matéria-prima (recursos naturais) e do trabalho do homem. Neste estado, Comte determinou que o poder do conhecimento passaria para os sábios e cientistas e o poder material para as indústrias e os industriais, configurando assim o desenvolvimento científico e tecnológico. No pensamento positivista de Comte, a civilização material só poderia se desenvolver se cada geração produzisse mais do que o necessário para sua sobrevivência, transmitindo assim à geração seguinte um estoque de riqueza maior do que o recebido da geração anterior. Comte foi um organizador que desejava manter a propriedade privada e transformar seu sentido, para que, embora exercida por alguns indivíduos, tivesse também uma função social (catolicismo social). Para Comte, as ciências libertavam o espírito humano da tutela exercida sobre ele pela teologia e pela metafísica, e que a partir de então tendia a se prolongar indefinidamente. Consideradas no presente, elas deveriam servir, seja pelos seus métodos, seja por seus resultados gerais, para determinar a reorganização das teorias sociais. Consideradas no futuro, constituiriam a base espiritual permanente da ordem social, enquanto durar a atividade da nossa espécie no planeta. Karl Marx (1818-1883) foi um dos mais influentes pensadores surgidos no século XIX, a ponto de surgir um Estado nacional, a União Soviética, que foi desenvolvida em torno de suas ideias. A principal obra de Marx foi o livro "O capital", no qual demonstrou o desenvolvimento da economia capitalista. Outro livro importante foi o "Manifesto do Partido Comunista", no qual revelou seu ideal de sociedade, no qual as diferenças entre as classes sociais não mais iriam existir. O marxismo inspirou grandes pedagogos em diversos lugares no mundo. No caso específico do Brasil, podemos citar os nomes de Paulo Freire e Darcy Ribeiro, como profissionais da educação influenciados pelo ideal do denominado materialismo dialético. A principal ideia de Marx é que a história humana se transforma através da luta de classes. No tocante à educação, a ideia de que a educação escolar nos países capitalistas está a serviço do poder político-econômico foi a grande denúncia marxista em relação à áreaeducacional (GADOTTI, s.d). O centro do pensamento de Karl Marx reside em compreender e denunciar as contradições do regime capitalista. As principais influências teóricas de Marx são as do idealismo alemão de Hegel e seus seguidores, os estudos de economia política inglesa feitos por Adam Smith (1723-1790), Jean-Baptiste Say (1767-1832) e David Ricardo (1772-1823), o socialismo utópico francês representado por Saint Simon (1760- 1825), Jean-Baptiste Fourier (1768-1823) e Robert Owen (1771-1858). Quando Marx entra na universidade, o universo acadêmico e científico da época era dominando pelas ideias de Hegel. Foi da tese de Hegel de que “a consciência é que determina a existência”, que Marx retirou a sua principal chave de entendimento e explicação do seu momento histórico, mas agora, com Marx, na perspectiva inversa, a de que é “a existência que determina a consciência”. Para Hegel, a racionalidade está por trás de tudo no mundo e a filosofia tem o poder de compreender a racionalidade da história, ou seja, o pensamento capta a racionalidade da história. Para Marx, Hegel e todos os filósofos estavam alienados e poderiam ser chamados de a-históricos, e, segundo suas teses, as características da história seriam sempre as mesmas em todas as épocas, a natureza humana era somente crítica; procuravam mudar, transformar o mundo com filosofias e teorias. Marx, em contrapartida, defendia que o mundo não se transforma com o pensamento, com críticas, o mundo se transforma pela ação politicamente orientada, que ele preferiu chamar de práxis, e que se faziam necessárias tanto a explosão como a revolução das antigas estruturas. Marx, ao longo da vida intelectual e financeira, contou com a ajuda de Friedrich Engels (1820-1895). No livro "A ideologia alemã", de 1846, ambos abordam as bases do materialismo histórico e procuram, ao longo da obra, defender que o homem é fruto do seu trabalho e das relações de produção, e não da vida espiritual e intelectual que leva. Para Marx, o trabalho é o que diferencia e distingue os seres humanos de outras espécies. A concepção de História defendida por Marx e Engels residia no fato de que estão na vida material, no modo de produção e na estruturação da sociedade civil as chaves de entendimento de todo o processo histórico, e que ao invés de resultar em ‘emancipação e autonomia’ do homem, como foi defendido pelos iluministas e idealistas, o que ocorre é a exploração e a ‘alienação’ dos indivíduos. Com a defesa destes termos, Marx e Engels foram responsáveis por tecer as críticas mais expressivas às teorizações defendidas anteriormente tanto por Kant como por Hegel. SÍNTESE De forma resumida, o paradigma marxista apresenta a seguinte perspectiva de história: • a realidade social é mutável; • a mudança está submetida a leis que se encaixam em outras leis históricas; • as mudanças tendem a momentos de equilíbrio relativo. Platão (428-347 a.C) e Aristóteles (384-322 a.C) já discutiam a noção de dialética, sob a nomenclatura de a ‘arte da conversação’, mas restringiam-se ao universo especulativo e idealista que trata do movimento universal e de transformação constante das coisas, que já havia sido contemplado nos estudos de Hegel. A concepção de ‘materialismo dialético’ que Marx e Engels desenvolveram é oriunda dos estudos de Ludwig Feuerbach (1804-1872) presentes nas obras “Essência do cristianismo” e “Pensamentos sobre a filosofia do futuro”, escritos entre 1841-1843; que, somada à tradição de antagonismo social latente desde a Revolução Francesa, ao contexto de industrialização, da formação dos movimentos operários (cartismo e ludismo), forneceu a base de referências para que Marx e Engels desenvolvessem a questão com propriedade. Marx e Engels aproveitam os elementos racionais da dialética de Hegel, negam a dimensão idealista e a adaptam à práxis social, reconhecem a vida cotidiana e o modo de produção como responsáveis pela transformação da consciência e da subjetividade dos indivíduos. Os fenômenos materiais e mecanicistas passam a ser entendidos como os verdadeiros responsáveis pelo desenvolvimento das atividades humanas; tendo em conta estes pressupostos, acabavam por refutar tanto a tradição idealista como a tradição moral religiosa, que visavam meramente observar e constatar os fenômenos sociais. A pauta da discussão do materialismo dialético residiu na proposta de que o método utilizado para compreender os fenômenos da natureza e gerar conhecimento deveria ser o dialético, e a interpretação, a base conceitual de verificação deste conhecimento, de natureza materialista. A noção central residia no fato de que o desenvolvimento de qualquer atividade humana se dava a partir de contradições. No caso dos estudos do marxismo, os elementos que protagonizavam esta contradição foram o proletariado e o capitalista/burguês. Para ilustrar esta abordagem da realidade, Marx e Engels partiam do raciocínio de que o homem tem necessidade de comer e beber, ou seja, de sobreviver antes de filosofar ou expressar-se artisticamente; o restante (Estado, instituições civis, religiões, cultura...), se desenvolveria no prolongamento. Primeiro os homens almejavam satisfazer suas necessidades básicas: a vida material determina a vida intelectual; o ser social determina a consciência social; o material determina o espiritual e os assuntos sociais. A sociedade, os fatos e os acontecimentos sociais deveriam ser tomados na sua totalidade; a economia entendida como a responsável por organizar as estruturas básicas da sociedade; a política e a cultura estabeleciam as formas históricas de gestão econômica. Em meio a este contexto de determinações, o materialismo dialético serviria como referência tanto como categoria de análise, como de orientação teórica à ação prática da política revolucionária. Outro intelectual alemão a ser considerado cofundador da sociologia foi Max Weber, autor de dois livros basilares no tocante à sociedade contemporânea. Segundo Weber (1982), cada indivíduo age levado por um motivo e se orienta pela tradição (conduta social orientada pelas tradições), o que quer dizer que cada indivíduo mobiliza suas ações e interesses racionais e se realiza pelo campo da emotividade e da subjetividade. Logo, um pesquisador deveria lançar mão do que é de natureza particular, daquilo que permite identificar na sua peculiaridade na configuração panorâmica da cultura, e para tanto deveria lançar mão do método compreensivo, isto é, um esforço interpretativo que percebe as tradições e sua repercussão nas sociedades contemporâneas. Em A ética protestante e o espírito do capitalismo, relaciona o ideal de salvação das igrejas protestantes, vinculadas à vida sóbria, ligadas a ideias como moral elevada e trabalho, que estão em afinidade com os valores do capitalismo, dependente de funcionários competentes, pontuais e ordeiros. Este aspecto foi denominado por Weber como ascese laica ou ascetismo intramundano, pois, se o catolicismo pregava que para ter uma vida santa, longe dos prazeres pecaminosos, o cristão deveria se isolar do mundo, vivendo em um convento, o protestantismo afirmava que o ideal de santidade deveria ser perseguido no confronto cotidiano com o mundo. Outras duas questões apontam afinidades do cristianismo protestante com o capitalismo. O primeiro é: para o catolicismo, o lucro é um pecado denominado usura. Para o protestantismo, este pecado não existe, pois, como afirmava Calvino, as relações comerciais que envolvem lucro não são conquistadas através de coação, mas sim através da troca. Também, para o protestantismo, a prosperidade econômica não era um sinal de contradição com a fé, mas sim o sinal de uma bênção divina. Em relação à educação, a principal contribuição weberiana foi o estudo sobre a burocracia. Pois, para Weber, é a burocracia um dos sinais da sociedade da modernidade, pois o racionalismo que a burocracia emprega depende em muito da formação escolar de uma classede técnicos capacitados para gerir os bens públicos ou privados. Uma classe gerencial, que Weber definiu como Estamento Burocrático, é a principal camada dirigente das instituições privadas ou estatais contemporâneas. Isto em parte explica a importância que as classes dirigentes ofertam para a educação, pois será entre os que receberam maior instrução, os melhores cargos. Esta perspectiva formou um verdadeiro ethos educacional nas sociedades do Ocidente. O último dos sociólogos que iremos citar, neste tópico, foi um dos mais importantes para o estabelecimento da sociologia da educação como disciplina do conhecimento humano. Émile Durkheim foi o principal formulador da sociologia como ciência, ao possuir uma cátedra desta ciência na Universidade de Paris- Sorbonne e ser o escritor do livro As regras do método sociológico. Sua importância para a história da educação se mede ao ser Durkheim o principal formulador da sociologia da educação enquanto ciência humana. Hoje, jamais se pensaria a educação apartada das realidades nas quais as famílias e as escolas estão presentes. Porém, a influência iluminista e cristã de alguns teóricos do século IX não compreendia que as diferenças sociais são parte importante ao se pensar a educação na contemporaneidade (GADOTTI, s.d. 113-115). Para o autor, o indivíduo na fase da infância nada mais é do que uma tábula rasa e diante disto a escola, as instituições de ensino e o sistema educacional devem atuar no sentido de preencher aquela criança de forma adequada ao convívio em sociedade de forma mais integrada e adequada possível. Estudiosos analisam estas ideias de Durkheim e o nominam de conservador, no ponto em que compreendia a escola como simplesmente uma instituição de ajuste e não de transformação da sociedade. A disciplina de sociologia da educação tem contribuído de forma significativa no sentido do reconhecimento e da importância do fazer educacional. Os estudiosos da sociologia se esforçam em fazer análises e trabalhos críticos que indicam os limites e impasses no campo educacional. Na atualidade têm-se os trabalhos do estudioso argelino Pierre Bourdieu, que se dedica a denunciar os mecanismos e modelos de ensino que tendem a tornar a escola um mero local reprodução dos conteúdos Como os estudiosos da filosofia foram responsáveis por formular escolas filosóficas que ultrapassam os tempos históricos, os estudiosos da sociologia também contribuíram com a formação de correntes sociológicas que perpassam o pensamento filosófico, social, histórico e educacional. Para facilitar o entendimento das principais correntes sociológicas e a relação que possuem com as demais áreas do conhecimento, atente para o quadro a seguir: QUADRO 5 - PRINCIPAIS CORRENTES SOCIOLÓGICAS FONTE: Os autores 5.2 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO De acordo com Fernanda G. de Oliveira (2014), há muitos anos, psicólogos e educadores procuram descobrir como se aprende. Várias observações foram feitas e surgiram diversas teorias, na tentativa de explicar o processo de aprender. O ideal seria se as teorias repercutissem na educação, tornando mais eficiente o trabalho dos educadores e influindo na prática escolar. Felizmente, alguns pesquisadores da aprendizagem têm apresentado conclusões que falam diretamente aos educadores. Podemos descrever que a psicologia contribui na educação, no estudo das diversas fases de desenvolvimento dos seres humanos, no estudo da aprendizagem e das condições que a tornam mais eficiente e mais fácil. Em nossos dias, tal é a importância da Psicologia da Educação e da Aprendizagem que todos na área da educação precisam refletir sobre o seu significado. No entanto, a indagação que você mesmo deve estar se fazendo é a seguinte: afinal, o que é Psicologia da Educação e da Aprendizagem? Antes de explorarmos este conceito, vamos compreender o que é aprendizagem. Atualmente existem diversas teorias sobre a aprendizagem, sendo estudadas pela psicologia da educação. A aprendizagem integra os elementos cognitivo, biológico, social, psíquico e cerebral, sendo, portanto, um fenômeno, um processo bem complexo que ocorre num determinado momento histórico e dentro de uma cultura particular. Aprender é bem mais do que absorver uma informação, pois se pode saber tudo, por exemplo, a respeito de dentes: a sua estrutura, a causa de suas cáries e de suas moléstias e, ainda assim, nada disso alterar a conduta prática. A aprendizagem é considerada como um processo contínuo, no qual o ser humano desde a vida uterina começa a aprender e permanece durante toda a vida, pois o caminho para atingir o crescimento, a maturidade e o desenvolvimento como pessoas, num mundo organizado, cujas interações com o meio nos permitem a organização do conhecimento, é a aprendizagem. E a psicologia da educação busca empregar os princípios e as informações que as pesquisas psicológicas oferecem acerca do comportamento humano, para tornar mais eficiente o processo ensino-aprendizagem. A contribuição da Psicologia da Educação abrange dois aspectos fundamentais, conforme descreve Piletti (1994): • Compreensão do aluno: compreensão de suas necessidades, suas características individuais e seu desenvolvimento, nos aspectos: físico, emocional, intelectual e social. O aluno não é um ser ideal, abstrato. É uma pessoa concreta, com qualidades e preocupações. • Compreensão do processo ensino-aprendizagem: para o professor, não é suficiente conhecer o aluno. É necessário que ele saiba como funciona o processo de aprendizagem, quais os fatores que facilitam ou prejudicam a aprendizagem, como o aluno pode aprender de maneira mais eficiente, além de outros aspectos ligados à situação de aprendizagem, envolvendo o aluno, o professor e a sala de aula. Assim a psicologia da educação estabelece um conjunto de relações estáveis entre sujeito e objeto. A ação do sujeito, estruturada por dados internos e externos, constitui e determina o motivo da observação, isso significa que o estudo do homem se viabiliza quando consideramos a mediação recíproca entre sujeito e objeto, isto é, quando consideramos estes aspectos em interação constante. É útil aos professores conhecer as teorias predominantes desenvolvidas pelos psicólogos da aprendizagem, para que entendam a orientação do ensino nas escolas atuais e optem pela prática escolar que desejarem. 5.3 O IMPASSES DO PROCESSO DE LAICIZAÇÃO E DA RACIONALIZAÇÃO O processo de implantação das ideias iluministas, modernas, laicas e racionais não se deu de forma pacífica e de aceitação unânime, e formas de resistência podem ser registradas tanto em países católicos como em países protestantes. O século XIX foi um momento histórico em que diversas formas de resistência à modernização e racionalização foram registradas, um exemplo pode ser o do sacerdote católico Dom Bosco (1815-1888), que contribuiu na formulação da rede salesiana de ensino, que visava atender crianças e jovens que origem humilde e que se encontravam em condições de abandono e violência na Itália. Nas regiões de maior presença das tradições protestantes, ocorreram conflitos no campo escolar onde se dava o ensino da origem do homem, sendo que as unidades escolares ministravam as teorias evolucionistas de Charles Darwin. Nos Estados Unidos da América, cuja articulação religiosa era forte e politicamente legitimada, ocorreu um caso peculiar, o professor de ciências John Scopes sofreu processo por ensinar as teorias onde atuava. Neste caso, o professor obteve a vitória e seu exemplo foi utilizado como inspiração em outras nações (OLSON, 2001). O processo de laicização do Estado e da sociedade foram responsáveis para contribuir no sentido de ampliar o alcance da educação e da alfabetização. Na atualidade, este modelo apresenta limites, e as questões religiosas não são o centro dos debates e sim como melhor ensinar, as melhores formas de promover aprendizagem, pois os desafios são muitos, em especial os que são oriundos do mundodo trabalho, que se encontra em constante transformação, as novas realidades sociais, as diferentes configurações de família entre outras questões. 5.3.1 O Movimento do romantismo O Romantismo, ao se expressar, utilizou-se de metáforas que eram oriundas do campo da natureza, da poesia, do fantástico e do encantado, do folclore e do místico. Com estes recursos procurava denunciar o rigor da razão, do academicismo, do classicismo, dos regulamentos, normas, condutas, das demais regras e imposições que vinham ganhando espaço desde o Iluminismo e a Revolução Industrial. Conforme Abbagnano (2007), o significado comum do termo "romântico", que significa "sentimental", valorizou o sentimento, que fora ignorado na Antiguidade Clássica e que foi reabilitado pelo Iluminismo do século XVIII, no sentido de que se fazia necessário conciliar razão e fé, conteúdo e forma, matéria e espírito, experiência e sentido. O movimento do Romantismo estava relacionado ao sentido de valorizar os aspectos do inconsciente, os instintos, o lirismo, o melódico, o dramático, a liberdade criativa, a paixão, o desejo por ideais e pelo inatingível, do misticismo, indianismo, da boemia, vida noturna, entre outros hábitos. Esta corrente artística foi inserida em um momento em que ocorreram outras mudanças no contexto da sociedade dos séculos XVIII e XIX, entre elas, o processo de massificação da leitura e da palavra escrita. As produções de intelectuais – como Karl Marx – apresentavam novas formas de compreender e denunciar a realidade social, numa perspectiva de preencher o ambiente crítico e que tendeu proceder a uma leitura crítica e dialética da sociedade, e esta foi feita contra a promessa de progresso e felicidade pura e simples contida na modernidade. O Romantismo reuniu adeptos das mais diversas áreas do conhecimento, da literatura, da música, das artes plásticas. Enquanto Marx descobria o socialismo, na Paris de 1840, T. Gautier (1811-1872) e Flaubert desenvolviam sua mística da “arte pela arte”. 5.3.2 O exemplo de Friedrich Nietzsche A laicização no campo político e público afetou as relações humanas, com a natureza e as dimensões espirituais, que por sua vez favoreceu o processo de secularização da sociedade, que consistiu no movimento da distinção, separação, distanciamento entre o campo da fé, do espiritual, do religioso, do sagrado e do eterno (poder invisível) em relação ao campo do temporal, do método, do racional, do profano e do leigo (poder visível e palpável). O pensador Friedrich Nietzsche (1844-1900) procurou definir como “a morte de Deus” e “o advento do niilismo”. Nietzsche (2012, p. 125) afirma que: Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós, os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste ato não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu ato mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste ato, de uma história superior a toda a história até hoje! Nietzsche (2012) discutiu que sentimento de niilismo deve ser entendido juntamente com as noções de “desvalorização dos valores” e “a morte de Deus”, que foi ocasionada pelo afastamento dos valores sagrados e espirituais das explicações e formulações humanas, e em especial a dissociação entre o mundo visível e sensível, com a supervalorização do primeiro diante do segundo, produzindo assim uma espécie de vazio existencial. CONCEITO O Niilismo está relacionado aos sentimentos de descrença e desengajamento diante da promessa de progresso e realização/felicidade humana, contidos no interior dos projetos modernos globalizantes/totalizantes ou grandes narrativas que se pretendiam e apresentavam como atemporais e universais, nos esquemas de verdade, liberdade e igualdade, história, progresso e felicidade, razão, revolução e redenção, ciência, industrialismo e bem viver. Que por sua vez desabilitavam as experiências históricas contidas no passado e reconheciam somente como campo e horizonte do presente e do futuro como o terreno de realização humana primordial. Nietzsche empregou o conceito também para qualificar sua oposição radical aos valores morais tradicionais e às tradicionais crenças metafísicas, na qual o niilismo não é somente um conjunto de considerações sobre o tema “tudo é vão”, não é somente a crença de que tudo merece morrer, mas consiste em colocar a mão na massa, em destruir. E o filósofo aponta que as gerações que sucederam a geração da modernidade nasceram em meio a esta noção de sociedade. A noção de niilismo causava certo deslocamento nas formulações mentais de sentido do ser humano, causando certa secura espiritual e existencial. 5.4 TRANSFORMAÇÕES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO CONTEXTO EDUCACIONA L Com relação ao contexto histórico desta época, pode-se afirmar que a Revolução Industrial foi marcada pela produção capitalista, que introduziu a máquina a vapor, a modernização dos métodos de produção, desintegrou costumes e introduziu novas formas de organização da vida social. Por outro lado, ocorreu a transição da produção artesanal para a manufatureira e desta para a produção fabril, a migração do campo para a cidade; o fim da servidão; o desmantelamento da família patriarcal; a introdução do trabalho feminino e infantil. O crescimento demográfico das cidades sem a devida infraestrutura básica favoreceu a formação de cortiços e favelas, o aumento das condições degradantes de vida, da prostituição, suicídio, alcoolismo, violência, epidemias. O aparecimento do empresário capitalista, que concentrou as máquinas, as terras e as ferramentas de trabalho; e do proletariado, que foi submetido a severa disciplina, como novas classes sociais. Observe no quadro abaixo, outras invenções que acompanharam o processo de revolução industrial: QUADRO 6 - INVENÇÕES E INVENTORES DE TECNOLOGIA FONTE: Os autores CURIOSIDADE: MUSEUS O primeiro museu público, o Asmoleum Museum, foi aberto em 1683, na Inglaterra e encontrava-se vinculado à Universidade de Oxford, mas possibilitava visitação somente a artistas e estudiosos. Foi a partir da Revolução Francesa, no século XVIII, que os museus ganharam caráter popular propriamente dito, em especial surgem os grandes museus nacionais, voltados à educação e esclarecimento do povo. O Museu do Louvre foi aberto na França em 1793. Em 1810, surge o Altes Museum, de Berlim, na Alemanha, o Museu do Prado, na Espanha, em 1819, e o Museu Hermitage de Leningrado, na Rússia, em 1852. As manifestações de revolta dos trabalhadores foram da destruição das máquinas, sabotagem, explosão de algumas oficinas, roubos e crimes, formação de sindicatos. Nesta trajetória, produziram jornais e literatura, exercendo a crítica à sociedade capitalista e inclinando-se para o socialismo como alternativa de mudança. A tarefa dos pensadores deste período foi a de racionalizar a nova ordem, encontrando soluções para o estado de ‘desorganização’ existente, conhecendo as leis que regem os fatos sociais. Determinados pensadores da época estavam imbuídos da crença de que era necessário introduzir uma certa ‘higiene’ na sociedade e fundar uma nova ciência. A sociologia assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. Sabe-se que a capacitação intelectual não cessou de avançar ao longo dos últimos 200 anos, quando carrega um processo de declínio das ocupações única e exclusivamente braçais e, em contrapartida, a legitimação do processo produtivo mecanizado, automatizadoe robotizado (ARANHA, 1996). Foi no contexto da Revolução Industrial que cada vez mais foi dada ênfase à educação técnica. Durante o denominado Antigo Regime Europeu, período que inicia na baixa Idade Média e finda com a Revolução Francesa, os objetos eram produzidos através das corporações de ofício. Portanto, algumas profissões tradicionais existiam, como as de sapateiros, relojoeiros, carpinteiros etc. Com o incremento da produção industrial destes objetos fabricados por estes artífices citados, como sapatos, relógios e móveis para o lar, o aprendizado para o ingresso em uma indústria passa a ser realizado não em corporações, nas quais aprendizes aprendiam com mestres mais antigos no ofício, até que se especializavam e, deixando de ser aprendizes, se tornavam oficiais e posteriormente mestres. A formação necessária à preparação do trabalhador da indústria solicitava a realização em escola técnica, na qual o aluno aprende as rotinas industriais, até ser capaz de atuar como técnico qualificado para determinada função, pois a mecanização da produção é uma tendência constante no capitalismo, sendo assim presente a necessidade de técnicos que cuidem das máquinas, que substituíram a tração animal ou o braço humano na confecção dos mais distintos produtos. Em geral, o ensino técnico é voltado para as camadas mais baixas da população dos diferentes países industrializados, pois muitos observam no trabalho industrial especializado uma chance de ascensão para a classe média. LITERATURA Para melhor compreender o contexto histórico das mudanças na sociedade, nas áreas política e cultural, iniciadas na época moderna, observe as sugestões de livros e filmes que fazemos abaixo: Os miseráveis, escrito por Victor Hugo (existe em filme também) Germinal, de Emile Zola (existe em filme também) Madame Bovary, de Gustave Flaubert (existe em filme também) Senhores e camponeses, de Leon Tolstoi (existe em filme também). 5.5 OS IMPACTOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO ENSINO SUPERIOR O ensino superior sempre representou um ponto de grande disputa entre os mais diferentes indivíduos da sociedade, por ser uma das condições pelas quais o indivíduo consegue galgar outras posições sociais. Em especial, quando os índices de abandono escolar são registrados no ensino médio, e quando o ensino médio é concluído de forma satisfatória mediante de custeio familiar. Outro fator agravante reside no fato de que os estudos universitários são oferecidos em horários como o matutino e vespertino o que inviabiliza que trabalhadores os frequentem. Diante disto, eis que o ensino superior acaba sendo uma condição acessada somente por pessoas oriundas de grupos sociais abastados. Diante da necessidade de especialização da mão de obra no interior das fábricas e indústrias, em especial nas áreas da engenharia, surgem núcleos de inovação e desenvolvimento tecnológico. INSTITUIÇÕES No Brasil, a educação técnica é presente em diversos Estados, tanto com Institutos Federais e estaduais, que formam técnicos nos mais diversos ramos da indústria e dos serviços, como o sistema “S” (SESI, SENAI, SENAC etc.), que primam pela qualificação da mão de obra. Inclusive, um ex-presidente da República, Lula, frequentou uma destas escolas de formação profissional. 5.6 A EDUCAÇÃO NOS PAÍSES AUTORITÁRIOS: O COMUNISMO E O NAZI -FASCISMO O século XX foi marcado por inúmeras situações que colocaram em xeque o processo de desenvolvimento que se havia alcançado, entre elas encontram-se as guerras mundiais e as péssimas condições de vida das populações em determinadas regiões do mundo. As dificuldades também alcançaram as instâncias políticas e econômicas, em que diversas crises abalaram governos e sociedades inteiras. Os modelos de política e sociedade autoritários acabaram se aproveitando do contexto de crise de determinados países de se instalar e para se manter no poder se utilizaram de estratégias que restringiam o acesso às informações, em especial alterando as formas de ensinar e censurando conteúdos de disciplinas que possuíam potencial crítico-reflexivo diante da realidade. A título de exemplo, o modelo comunista de educação é pouco conhecido, porém bastante mencionado, tanto em situações positivas como negativas, mas o que se pode reconhecer como prioridade é a ampliação de vagas no ensino básico, o que conseguiu melhorar os números de analfabetismo que eram registrados naqueles países. No que diz respeito ao ensino superior, em algumas universidades dos países, como Cuba e Rússia, os estudos e pesquisas nas áreas médicas e da saúde foram responsáveis por encontrar inúmeros tratamentos e curas a doenças que até então pareciam invencíveis. A crítica a estes países ainda recai sobre os aspectos da liberdade de expressão dos cidadãos, em especial, quem se manifestava contrário à adoção do regime. Mas não foram os únicos países e nações que impuseram a restrição à liberdade de pensamento e expressão a seus cidadãos, o fascismo de Mussolini na Itália, de Franco na Espanha, de Salazar em Portugal, o nazismo de Hitler na Alemanha, não foram diferentes. Ao ponto que professores universitários fugiam de seus países de origem ou cometiam suicídio a fim de não colaborar com o governo imoral que havia se instalado. A título de exemplo podemos citar Albert Einstein (1879-1955), notório pelos seus estudos e pesquisas no campo da física, que em fuga das perseguições religiosas que o governo nazista empreendia, refugiou-se nos Estados Unidos (ARANHA, 1996). PARA REFLETIR: Einstein (1981), em seus escritos e reflexões sobre ciência e conhecimento, tecia as seguintes orientações: Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Por que se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser aprendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu lugar em relação a seus próximos e à comunidade. Estas reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos contatos vivos com os professores, de forma alguma se encontram escritas nos manuais. É assim que se expressa e se forma de início toda a cultura. Quando aconselho com ardor “as humanidades”, quero recomendar a cultura viva e não um saber fossilizado, sobretudo em história e filosofia. Os excessos do sistema de competição e de especialização prematura, sob o falacioso pretexto da eficácia, assassinam o espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem. Ora, a sobrecarga do espírito pelo sistema de notas entrava e necessariamente transforma a pesquisa em superficialidade e falta de cultura. O ensino deveria ser assim: quem o receba o recolha como um dom inestimável, mas nunca como uma obrigação penosa. Adaptado de: Einstein, Albert. Como vejo o mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. As ideologias nazistas e fascistas transformaram o sistema escolar em mecanismos cujos valores e preceitos eram deturpados, que condenavam indiscriminadamente o povo judeu, homossexuais, ciganos e outras minorias. Nos países latino-americanos ocorreu algo semelhante nos anos de 1970, quando se instauraram as ditaduras militares que passaram a perseguir estudantes e professores que manifestavam pensamento crítico diante a realidade política do país. Foi o momento também em que pesquisadores e professores das áreas da física, química, sociologia e antropologia foram fazer estudos, ministrar aulas e participar de projetos científicos em instituições e universidade de países de primeiro mundo. Ospaíses que passaram por períodos em que formas autoritárias de poder foram implantadas também foram países nos quais a educação sofreu fortes projetos de sucateamento e desvalorização em termos estruturais e no reconhecimento social e profissional dos professores. 5.7 O EXEMPLO DA ESCOLA DE FRANKFURT Foi um grupo de estudiosos que na primeira metade do século XX encontrava-se congregado ao Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, na Alemanha. Possuem forte influência marxista, mas não se resumiam aos dogmatismos e ao marxismo tradicional do século XIX, atuaram como críticos tanto das ideologias do capitalismo e liberalismo internacional como do socialismo soviético. E o que os identificava com mais coerência era lançar mão de alternativas que promovessem o desenvolvimento e o bem-estar social, para tanto dedicaram-se em proferir análises e críticas às mais diversas áreas, como a educação, a ciência, o Estado, o cinema, a música, o sistema de produção e consumo. Na primeira leva de integrantes da Escola estavam Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Friedrich Pollock e Erich Fromm. Na segunda geração participaram Jürgen Habermas, Franz Neumann, Albrecht Wellmer. Outros estudiosos, como Walter Benjamin, Siegfried Kracauer, Karl A. Wittfogel, participaram associando-se temporariamente ao Instituto. Os estudiosos da Escola de Frankfurt inspiravam- se nas concepções teórico-filosóficas e metodológicas legadas nos escritos de Immanuel Kant, Hegel, Karl Marx, Sigmund Freud, Max Weber e George Lukács. 5.8 O EXEMPLO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO Tratou-se de um movimento religioso cristão originado do Concílio Vaticano II, realizado na cidade de Medellín, na Colômbia, no ano de 1968, mas é atribuído ao padre peruano Gustavo Gutiérrez o pioneirismo do movimento. A Teologia da Libertação priorizava o trabalho aos pobres e desvalidos e defendia toda uma reinterpretação analítica e antropológica da fé cristã, ou seja, a viabilidade prática dos princípios e valores cristãos. Tal orientação ideológica da Teologia da Libertação foi responsável por provocar críticas de caráter político, que por sua vez interpretavam o movimento como uma vertente marxista de organização político- social. O movimento foi reprovado nos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, porém recentemente recebeu reconhecimento favorável do Papa Francisco. Entre os integrantes da Teologia da Libertação pode-se relacionar os brasileiros Leonardo Boff e Rubem Alves, Jon Sobrino de El Salvador, o equatoriano Leônidas Proaño e o uruguaio Juan Luis Segundo. O movimento seguiu aos anos de 1970 e 1980 com grandes ações e movimentos em meio à sociedade, porém, a partir dos anos de 1990 passou a declinar, em especial pela falta de renovação das lideranças, tanto em meio às ações de base no interior das comunidades como na esfera de orientação intelectual. No filme A VIDA É BELA, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, existe uma bela sátira das intervenções dos funcionários fascistas no sistema escolar, feita por um observador da vida social e personagem principal do filme, que por fim acaba sofrendo as agruras de um campo de concentração ao lado da esposa e do seu filho. A VIDA É BELA. Roberto Benigni. Itália/EUA. 1997. 116min. Cor LEITURA COMPLEMENTAR A FRAGILIDADE DOS LAÇOS HUMANOS: AMOR LÍQUIDO Os tempos modernos e, agora, os tempos contemporâneos são marcados por um estado de fusão líquida da sociedade humana, e a transformação se deu do estado sólido para o líquido. A metáfora “líquido mundo moderno” evidencia um dos principais conceitos propostos pelo pensador e pode ser entendida como sendo oriunda de um contexto semelhante ao da frase que foi proposta por Marx: “tudo o que é sólido desmancha no ar”, proposta ainda no século XIX, quando a modernidade estava em pleno curso. Esta mesma serviu de base interpretativa a Bauman (1925-2017), que foi utilizada ao longo desta obra. O livro Amor Líquido reúne uma reflexão crítica do cotidiano do homem moderno, e preocupa-se em analisar a sociedade contemporânea e ressaltar “a fragilidade dos laços humanos”. Encontra-se dividido em quatro capítulos: Apaixonar-se e desapaixonar-se; Dentro e fora da caixa de ferramentas da sociedade; Sobre a dificuldade de amar o próximo; convívio destruído. Ao final das análises e reflexões, o autor pontua que o “cidadão da líquida sociedade moderna” constitui um homem sem vínculos e inserido em um quadro e esboço imperfeito e fragmentado. Nos dois primeiros capítulos, Bauman (2004) analisa a fragilidade que o “líquido mundo moderno”, de certa forma, impôs ao relacionamento humano. Em “Apaixonar-se e desapaixonar-se”, o autor atrela amor à cultura consumista e de mercado. O sentido de que amar tornou-se como um passeio no shopping center, visto “tal como outros bens de consumo”; neste contexto a vida deve ser consumida instantaneamente, despreocupadamente (não requer maiores treinamentos nem uma preparação prolongada); é usada uma só vez, sem preconceitos, receios e critérios, a experiência da vida deve ser fluida e deliberadamente flexível. A cultura consumista do amor, então, serve de cenário para o segundo capítulo, “Dentro e fora da caixa de ferramentas da sociedade”. Neste momento, o autor discute que o sentimento do imediatismo e rapidez oferece consequências e custos à “líquida, consumista e individualizada sociedade moderna”, e o resultado de intensificação da velocidade globalizante é o de que a dimensão da solidariedade da vida e das relações humanas perde valor, e sobre estas passa a ocupar espaço e a triunfar o mercado consumidor’. Quem seria, portanto, o responsável por este contexto de mudanças? De acordo com Bauman (2004), é o próprio homem, mediante a (des)configuração que este sofreu diante das exigências competitivas do mundo moderno. Hoje, mais do que nunca, o homem necessita de produtos pré e/ou fabricados, e em função destes são programadas as demais necessidades do homem, como o tempo livre, os horários de intervalo, as refeições, as férias, entre outras. Em “Sobre a dificuldade de amar o próximo”, o autor remonta a atmosfera que ronda os relacionamentos humanos e a interpreta à luz do conceito bíblico de amar ao próximo como a si mesmo. Segundo Bauman (2004), o amor próprio é construído a partir do amor que é oferecido e atribuído por outros. Ou seja, a construção de amar a si mesmo somente é possível quando o mesmo sentimento é manifestado pelos outros, que “devem nos amar primeiro para que comecemos a amar a nós mesmos”. Assim, o amor e o cuidado de si e autovalorização e autoestima, bem como o amor gratuito e incondicional que poderia ser oferecido aos outros, não fazem mais sentido neste contexto. No quarto e último capítulo de “Amor líquido”, o autor reflete sobre a vertiginosa indústria do medo que criou um novo espectro: o da xenofobia, ou seja, a aversão ao estrangeiro. Os imigrantes passam a ser acusados como sendo os principais causadores da epidemia financeira do líquido mundo moderno, que estas ainda fornecem à sociedade atual as ameaças reais aos Estados-nação. Assim instaura-se uma indústria do medo com relação aos imigrantes, entendidos como criminosos, configurando um cenário favorável ao sensacionalismo e à especulação aos meios de comunicação. A pauta, dentro dessas redações, é e continuará sendo a mesma. Roubos, assassinatos, e principalmente, atentados terroristas são reflexos da invasão imigratória de indivíduos oriundos de países periféricos e/ou miseráveis. Atualmente e cada vez mais os seres humanos buscam contatos com seus pares numa espécie de irmandade, construída a partir do mundo virtual, e procuram substituir e compartilhar fracassos, frustrações, desequilíbrios e solidões com a agilidade, praticidade e velocidade da internet. Bauman (2004) utiliza como reflexo da metamorfose da relação humana o testemunho de um universitário polonês que afirma categoricamente que dentro do líquidomundo moderno tudo se resolve na base do delete, do bloqueio – um simples toque no mouse é tal como um passe de mágica, os problemas desaparecem. Basta limpar a lixeira, ocultar as ações e alterar as configurações de privacidade e tudo estará resolvido. É nítido e avassalador o contato físico e em especial o recuo dos momentos e espaços de real sociabilidade. O resultado não poderia ser outro e está anunciado no subtítulo do livro de Bauman (2004): “a fragilidade dos laços humanos”. A partir do momento em que os verdadeiros cidadãos perceberem o tamanho do labirinto onde se encontram, e moverem-se no sentido de buscarem saídas, alternativas e soluções ao problema real e complexo que os envolve, é que se poderá avançar rumo à retomada da vida humana na sua dimensão individual, social, integral ao universo. Caso contrário, permanecerá aprofundando o isolamento, confundindo coisas/produtos/mercadorias com seres/existências/ experiências/histórias e multiplicando os ambientes virtuais. RESUMO DO TÓPICO Ao longo desta unidade de conteúdos você pôde estudar que: • A época moderna foi forjada em meio à desagregação da sociedade feudal, à consolidação da civilização capitalista, política imperialista das nações europeias sobre as demais nações e povos do mundo. • A cidade passou a ocupar o status de excelência em termos de espaço e da sociabilidade e realização de modernidade, e diante disto, ocorreu o gradual abandono das regiões agrícolas e a subsequente concentração da população nas imediações das cidades e centros industriais. • Os movimentos de independência dos Estados Unidos da América, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, a revolução da técnica e tecnologia, a urbanização da população, os estudos da sociologia e da psicanálise, os regimes autoritários, as guerras mundiais compõem o contexto no qual se desenvolveram o pensamento, a ciência e a educação da época contemporânea. • A educação técnica, científica e laica passa a ser favorecida por políticas de governo, e estas almejavam formar mão de obra às indústrias e aos setores do governo, agora denominado de Estado Laico. • Pestalozzi foi um pedagogo iluminista, influenciado pelo pensamento de Rousseau, em especial no que diz respeito à influência do meio e da sociedade sobre a formação do homem. • Froebel foi um pedagogo que se inspirava na natureza e no desenvolvimento natural para compreender e explicar o cuidado e a forma como se deveria conduzir a educação das crianças, que, conforme compreendia, necessitavam de cuidados e proteção especial. • Dewey foi um pensador norte-americano que propôs a chamada ‘Escola Nova’, que defendia a importância da escola integral, cuja organização de currículo e conteúdos deveria contemplar os conhecimentos específicos e experiências de sociabilidade. AUTOATIVIDADES UNIDADE 2 - TÓPICO 2 1. Construa um texto explicando como é possível afirmar que a educação no Ocidente é predominantemente laica e qual foi o principal ponto de divergência que ocorria em relação aos conteúdos ministrados pelas instituições religiosas. 2. Construa um texto apresentando o que caracteriza o pensamento de cada um dos pensadores da educação moderna: Pestalozzi e Froebel: UNIDADE 2 ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO TÓPICO 3 OS DESAFIOS EDUCACIONAIS NO CONTEXTO DA PÓS-MODERNIDADE 1 INTRODUÇÃO No decorrer da época Moderna e Contemporânea, dentre as ações de governos foram elencados como prioridade os problemas e fatos sociais modernos, como erradicação do analfabetismo, doenças, epidemias, que representavam pontos nevrálgicos ao desenvolvimento. O fortalecimento e a realização destes projetos foram alcançados com a colaboração de entidades, instituições, centros educacionais e profissionais, universidades, laboratórios de pesquisas. Em 1789 ocorreu a publicação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que foi resultante do processo da Revolução Francesa. Trazia em seu conteúdo os ideais de liberdade e igualdade; delegava ao homem moderno uma relação de deveres e de direitos, que seriam responsáveis por conduzi-lo à categoria de cidadão e indivíduo emancipado. Implanta-se a democracia, na qual homens e mulheres, independentemente de cor, raça, classe social, venham a requerer condições de concorrer, apoiar, eleger e ser eleito no campo político, econômico e social. Martinazzo (2010) explica que o paradigma moderno concebeu a estrutura do universo como algo estável, linear, simétrico e previsível e que, pela via dos métodos hipotético-dedutivo e indutivo-experimentalista, o homem pode acessar à realidade e representar mentalmente suas leis e funções. Conhecer é representar o real, onde a consciência de si, como sujeito epistêmico, é condição sine qua non para a apreensão e consciência do objeto. Desde a época moderna instauraram-se as ideias de progresso, de democracia, de inclusão, de liberdade, na capacidade do homem em intervir em seu meio e destino. Para alcançar estas pretensões, empreendeu suas ações obtendo o suporte do industrialismo, com emprego de novas técnicas e tecnologias; de teorias, métodos, invenções, máquinas, ferramentas, utensílios, entre outros. Os campos teórico e material combinaram-se para que a modernidade se cumprisse. (DIEHL; TEDESCO, 2001). Os meios de comunicações foram responsáveis por anunciar os novos inventos e descobertas e comunicar às demais regiões que se encontravam distantes das metrópoles modernas. E nesse sentido, o rádio conseguiu superar, não tornar obsoleto ou deslegitimar o alcance da imprensa tradicional, que era representada pelos jornais e folhetins, muito em voga nos séculos XVIII e XIX. Agora acabamos de nos despedir do século XX e assistimos ao descortinar do século XXI e nos encontramos, no exercício de qualidade de humanidade, diante de um acúmulo de problemas sociais, políticos, econômicos e ambientais, que nos deixam um tanto perplexos, desorientados e, em especial, desconfiados com o que nos aguarda caso não repensarmos e mudarmos nossos valores, hábitos e costumes enquanto indivíduos e sociedade. 2 A FILOSOFIA NO CONTEXTO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO Severino (1990) descreve que o campo da filosofia, ainda na Grécia clássica, apresentava forte preocupação e intenção pedagógica e com a formação do ser humano. Observe a citação que apresentamos: Ela já nasceu Paideia! Para não citar senão o exemplo de Platão, em momento algum o esforço dialético de esclarecimento que propõe ao candidato a filósofo deixa de ser simultaneamente um esforço pedagógico de aprendizagem. Praticamente todos os textos fundamentais da filosofia clássica implicam, na explicitação de seus conteúdos, uma preocupação com a educação (SEVERINO, 1990, p. 19). Porém, chegamos aos dias atuais e nos deparamos com o fato de que as áreas da educação, da filosofia, da história, da sociologia e das demais disciplinas reflexivas encontram-se desprestigiadas, são anunciadas como campos menores do saber. Para Severino (1990), os caminhos da filosofia da educação na nossa época são preocupantes, pois: Parece ser a primeira vez que uma forte tendência da filosofia se considera desvinculada de qualquer preocupação de natureza pedagógica, vendo-se tão somente como um exercício puramente lógico. Essa tendência desprendeu-se de suas próprias raízes, que se encontravam no positivismo, transformando-se numa concepção abrangente. Denominada neopositivismo, que passa a considerar a filosofia como tarefa subsidiária da ciência, só podendo legitimar-se em situação de dependência frente ao conhecimento científico, o único conhecimento capaz de verdade e o único plausível fundamento da ação. Desde então, o qualquer critério do agir humano só pode ser técnico, nunca mais ético ou político. Fica assim rompida a unidade do saber (SEVERINO, 1990, p. 19). No campo social supervalorizam-se as sociedades que apresentam alta urbanização, arsenalmetalúrgico, industrial, científico, bélico, os regimes políticos com maior tempo de experiência política de república e democracia, ou seja, as sociedades/nações que circundam o Mar Mediterrâneo e a costa norte do Oceano Atlântico, que recebem o status de “nações civilizadas”. Por outro lado, desvalorizam-se os indivíduos e as sociedades/comunidades tradicionais, as quais se encontram regidas por princípios milenares, que estão fixadas em regiões rurais, sustentadas em atividades agrícolas, artesanais e manufatureiras; que apresentam coesos sistemas morais e religiosos, que se localizam no Oriente Médio ou no interior dos continentes da Ásia e África e América, que acabam por ser interpretadas e traduzidas como ‘bárbaras e/ou incivilizadas’, retrógradas. Em meados dos séculos XXI, a crise econômica nos Estados Unidos e na União Europeia, os regimes totalitários na Coreia do Norte e na China, a perpetuação das situações de fome, miséria, a exploração humana pelo sistema econômico, entre outros, atestam que os descaminhos do progresso da humanidade do século passado ainda não foram superados, fazendo com que uma sensação e sentimento de mal-estar, desconforto e até mesmo de desencanto se instaure no imaginário e nas expectativas dos indivíduos do tempo presente. Eis que o campo da filosofia da educação pode contribuir na identificação e solução profunda de tais contextos e realidades, em especial, no ponto em que Severino (1990) afirma que a educação precisa estar comprometida com a finalidade de atribuir sentido à existência cultural da sociedade histórica. 3 O CONTEXTO EDUCACIONAL EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO: DO CÓDEX À TELA O códex consistiu nos manuscritos gravados em madeira no formato de livro, que foram muito utilizados no final da Idade Média, a partir do século XV. Significou a superação dos antigos pergaminhos, e em contrapartida o códex foi substituído pelos livros em papel, e agora, mais recentemente, os livros impressos em papel passaram a ser substituídos pelos e-books e demais versões de livros digitais. Uma das principais alterações que a humanidade vivenciou no fim do século XX e início do século XXI foi a ampliação do acesso à informação proporcionado pelos computadores, em especial, pela internet, que possibilitou uma melhoria em vários aspectos do desenvolvimento intelectual humano, pois as informações científicas e o acesso a bibliotecas e museus pode ser viabilizados de forma virtual. Um estudante no Brasil, por exemplo, pode acessar a seção de obras raras da Biblioteca de Lisboa. Todavia, esta alteração na relação do conhecimento que foi provocada pela internet nos posiciona a outra questão: a autoridade do professor. Durante os últimos séculos, o professor era considerado o dono do conhecimento. Hoje, os educadores não mais possuem este papel, pois as alterações e descobertas científicas provocam questões nas quais as verdades científicas são questionadas diariamente nos periódicos, das mais distintas disciplinas do conhecimento humano. Neste sentido, os professores são muito mais os mediadores das relações educacionais, despertando curiosidades e desenvolvendo determinadas sensibilidades dos educandos em relação ao mundo que os rodeia. Com relação aos acúmulos alcançados pela ciência, bem como os alcances e formas de acesso ao conhecimento, leia com atenção as reflexões que Durant (2000, p. 9) tece: O conhecimento humano tornou-se incontrolavelmente vasto; cada ciência gerou uma dúzia de outras, cada qual mais sutil que as demais; o telescópio revelou estrelas e sistemas em número tal, que a mente do homem não consegue contá-los ou dar-lhes nomes; a geologia falou em termos de milhões de anos, quando os homens, antes dela, haviam pensado em termos de milhares; a física descobriu um universo no átomo, e a biologia encontrou um microcosmo na célula; a fisiologia descobriu um mistério inesgotável em cada órgão, e a psicologia, em cada sonho; a antropologia reconstruiu a insuspeitada antiguidade do homem, a arqueologia desenterrou cidades e estados esquecidos, a história provou que toda história é falsa e pintou uma tela que só um Spengler ou um Eduard Meyer podia ver como um todo; a teologia desmoronou, e a teoria política rachou; a invenção complicou a vida e a guerra, e as doutrinas econômicas derrubaram governos e inflamaram o mundo; a própria filosofia, que antes havia convocado todas as ciências para ajudá- la a formar uma imagem coerente do mundo e fazer um retrato atraente do bem, achou que sua tarefa de coordenação era prodigiosa demais para a sua coragem, fugiu de todas essas frentes de batalha da verdade e escondeu-se em vielas obscuras e estreitas, timidamente a salvo dos problemas e das responsabilidades da vida. O conhecimento humano tornara-se demasiado para a mente humana. O ensino a distância também passou por profundas transformações nos últimos anos, graças às inovações da informática, pois uma primeira geração de ensino a distância acontecia com os cursos por correspondência. Uma segunda geração, pelos cursos que utilizavam o rádio e a televisão como mediadores do ensino. Hoje, com os computadores, a facilidade do acesso à informação possibilitou uma nova forma de ensino, com cursos a distância de graduação em diversas áreas do conhecimento humano. No que tange à educação em todos os níveis, o que os computadores estão proporcionando são alterações nos hábitos de leitura (CHARTIER, s.d). Pois, temos uma geração que está se formando que não são migrantes digitais, mas nativos digitais. Isto é, ao invés de leitores de livros que passam a se habituar à internet, existem jovens que já possuem na internet seu principal hábito de leitura. Um aspecto interessante e revolucionário foi a do fim da leitura de jornais impressos, que passam por dificuldades para se manter. Alguns jornais importantes não mais circulam em meios impressos, como o Jornal do Brasil. Outra prática de leitura que se transformou foi a utilização de enciclopédias, hoje substituídas pelos sites de busca. O declínio de livros impressos não é necessariamente um problema educacional, porém, as atuais gerações não possuem uma carga de leitura considerável comparada a gerações anteriores. A internet e os computadores ainda são, muitas vezes, concorrentes dos professores em seu cotidiano escolar. Cabe às atuais gerações de educadores, que se formam nas universidades, vencer o desafio de transformar a tecnologia em uma poderosa aliada da educação no Brasil. As universidades, em sua origem etimológica, significam justamente pensamento universalizado. Como podemos observar, as universidades, desde o seu surgimento na Idade Média, estão relacionadas às relações de poder no interior das fronteiras dos Estados Nacionais. Isto porque o conhecimento sempre foi uma arma poderosa nas relações de poder. As diversas ciências que surgem com o desenvolvimento secular das universidades nos apresentaram para a humanidade melhorias incalculáveis na qualidade de vida cotidiana, no desenvolvimento das condições de saúde das pessoas. Também são frutos do desenvolvimento técnico-científico em geral, relacionados às universidades, os terríveis armamentos que podem dizimar a vida humana por diversas vezes. 4 IMPLICAÇÕES DA PÓS-MODERNIDADE NO CONTEXTO EDUCACIONAL As reflexões de Fromm (1987) se fazem pertinentes no ponto em que ele discute que a técnica nos tornou onipotentes (pode-se tudo); a ciência nos fez oniscientes (sabe-se tudo). O homem moderno e contemporâneo encontra-se ávido e sedento por mais, e alcançar cada vez níveis mais específicos, profundos e complexos; a partir de então, a natureza, os corpos e os materiais tinham de ser ‘acossados em seus descaminhos’, ‘obrigados a servir’ e ‘escravizados’. O comando foi o de ‘reduzir à obediência’, e o objetivo do cientista foi de ‘extrair da natureza, sob tortura, todos os seus segredos’ (CAPRA, 1982). A visão do mundo e da vida moderna e que ainda prevalece nos
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