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MEDIDAS E AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA Ana Paula Maurilia dos Santos Avaliação física da criança e do adolescente Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Listar as particularidades da avaliação física em crianças e adolescentes. Identificar testes de aptidão física para a saúde de crianças e adolescentes. Descrever testes de aptidão física para o desempenho esportivo de crianças e adolescentes. Introdução A aquisição das habilidades motoras na infância é necessária para o en- volvimento em atividades físicas e para a participação em esportes, sendo influenciada por fatores relacionados ao crescimento, ao desenvolvimento e à maturação. Na adolescência, o ritmo de maturação biológica, em con- junto com as experiências anteriores, resulta em uma grande variabilidade no desempenho motor, o que favorecerá o desenvolvimento de todo o potencial de aptidão física. Por esse motivo, a identificação de parâmetros antropométricos e de aptidão física é essencial para o monitoramento de hábitos saudáveis e/ou para a detecção de talentos esportivos em crianças e jovens. Assim, acredita- -se que o conhecimento sobre um protocolo de avaliação válido e fidedigno, que avalie os componentes da aptidã o fí sica relacionados à saú de e ao desempenho esportivo de maneira simples e eficaz, é fundamental para o profissional de educação física que almeja elaborar programas de exercícios voltados à saúde e ao desempenho esportivo de crianças e adolescentes. Neste capítulo, você vai ver as principais medidas utilizadas para avalia- ção da composição corporal, flexibilidade, capacidade cardiorrespiratória, resistência muscular localizada, agilidade, força explosiva e velocidade. Para tanto, você vai conhecer os protocolos existentes para cada área, com ênfase na descrição detalhada da bateria de testes do Protocolo do Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR). Crescimento, maturação e desenvolvimento: a importância da avaliação física Sabe-se que a identifi cação dos componentes de aptidão física é considerada um importante marcador de hábitos saudáveis, uma vez que jovens que apre- sentam bom desempenho motor são comumente mais envolvidos em atividades físicas. Porém, de acordo com Pinto et al. (2018), é necessário admitir que, apesar de a identifi cação da capacidade fí sica ser um parâmetro essencial para a elaboração de estratégias que garantam a prática de atividade fí sica, é imprescindível, também, verifi car outros fatores envolvidos na função motora da população pediátrica. De acordo com Ré (2011), o processo de crescimento, maturação e desen- volvimento interfere decisivamente nas funções motoras, nas relações afetivas e sociais de crianças e jovens. O crescimento diz respeito a aspectos biológicos quantitativos (dimensionais), relacionados com a hipertrofia e a hiperplasia celular, enquanto a maturação pode ser compreendida como um fenômeno biológico qualitativo, relacionando-se com o amadurecimento das funções de diferentes órgãos e sistemas. Já o desenvolvimento diz respeito à interação entre as características biológicas individuais (crescimento e maturação) com o meio ambiente ao qual o sujeito é exposto durante a vida (RÉ, 2011). Veja, no Quadro 1, as principais características desse processo em períodos específicos da infância e adolescência. Do nascimento aos 3 anos de idade O potencial de futuras aquisições começa a ser estruturado desde o nascimento. A atividade motora do recé m-nascido é bem ativa, mas desordenada e sem finalidade objetiva, e ele movimenta de modo assimé trico todos os membros. A curva neural apresenta uma evoluç ã o (dimensional e funcional) extremamente rá pida no iní cio da vida, de modo que, por volta dos trê s anos de idade, o cé rebro e as estruturas relacionadas já atingiram aproximadamente 70% do seu tamanho na idade adulta. A elevada taxa de evoluç ã o bioló gica possibilita uma rá pida aquisiç ã o da capacidade de organizaç ã o e controle de movimentos, principalmente quando acompanhada de experiências motoras adequadas. Quadro 1. Crescimento, maturação e desenvolvimento na infância e na adolescência (Continua) Avaliação física da criança e do adolescente2 Fonte: Adaptado de Ré (2011). Dos 3 aos 5 anos de idade As habilidades motoras adquiridas na etapa anterior sã o refinadas, possibilitando a execuç ã o de movimentos de complexidade crescente. A coordenação motora deve ser desenvolvida de modo integrado com o processamento cognitivo. As curvas de crescimento em estatura e peso corporal mantêm-se relativamente está veis, com ganhos anuais médios de 7 cm e 2,5 kg respectivamente. O ritmo lento de crescimento é importante para a aquisição e a retenção de um amplo acervo motor. As forç as mecâ nicas gravitacionais (impacto) e as contraç õ es musculares inerentes à atividade fí sica/esportiva contribuem para o sistema esquelé tico, com aumento da densidade mineral ó ssea, sem influenciar seu crescimento longitudinal. Dos 5 aos 10 anos de idade Ocorre grande evoluç ã o motora, facilitando a aprendizagem de habilidades cada vez mais complexas. Há um aumento relativamente constante de forç a, velocidade e resistê ncia. Assim como nas fases anteriores, as diferenç as no desempenho motor entre meninos e meninas é pequena ou inexistente. É desejá vel que, até aproximadamente os 10 anos de idade, a crianç a tenha um amplo domí nio das habilidades motoras fundamentais. Durante a puberdade Um dos principais fenô menos é o pico de crescimento em estatura, acompanhado da maturação biológica (amadurecimento) dos ó rgã os sexuais e das funç õ es musculares (metabó licas), alé m de importantes alteraç õ es na composiç ã o corporal. Nos meninos, o pico de crescimento em estatura ocorre aproximadamente aos 14 anos de idade, com grandes variaç õ es individuais, sendo normal sua ocorrê ncia entre os 12 e os 16 anos. Aproximadamente seis meses apó s o pico de crescimento em estatura, ocorre o pico de ganho de massa muscular, diretamente associado à elevaç ã o do hormô nio testosterona. Nas meninas, o pico de crescimento em estatura ocorre por volta dos 12 anos e apresenta considerá veis variaç õ es em relaç ã o à idade cronoló gica, podendo ocorrer entre os 10 e os 14 anos. Quadro 1. Crescimento, maturação e desenvolvimento na infância e na adolescência (Continuação) 3Avaliação física da criança e do adolescente Recentemente, pesquisas têm demonstrado que indivíduos na mesma faixa etária com estágios maturacionais diferentes obtiveram indicadores de crescimento e desempenho motor distintos, sugerindo que a maturação é uma importante ferramenta a ser utilizada em conjunto com indicadores de cres- cimento e de desempenho motor para fornecer intepretações mais adequadas dos jovens (PINTO et al., 2018). É importante destacar que a idade ó ssea, a maturação somática e a maturação sexual sã o métodos comumente utilizados para avaliar o estágio maturacional de crianças e jovens. A idade óssea é um componente essencial para avaliar o grau de maturação dos ossos. No decorrer do desenvolvimento na infância, os ossos mudam de número e em qualidade (tamanho e forma). Ao nascer, por exemplo, temons menos ossos na mão, no punho, no tornozelo e no pé do que na vida adulta, e é particularmente na infância que o aumento em quantidade e qualidade vai acontecendo. Os bebês têm ossos mais macios e com maior conteúdo de água que um adulto. O processo de endurecimento ósseo é chamado de ossificação, que ocorrerá regularmente do nascimento à puberdade. Esse processo é tão regular e previsível que torna possível medir o amadurecimento físico com base em exame de raio-x dos ossos (BEE, 2011), de modo que, para se avaliar a idade biológica, a radiografia de mão e punho esquerdo permite observar a presença ou a ausência de centros de ossificação e é um dos métodos mais aceitos (MALINA;BOUCHARD; BAR-OR, 2009). Outra forma de avaliar a maturação óssea é por meio das medidas de diâmetro ósseo, que se constitui, basicamente, da menor distância entre duas extremidades ósseas. Para sua verificaç ã o, utiliza-se um aparelho de metal, chamado de paquí metro, com tamanhos variados, calibrados em cm ou mm, e com precisã o de 0,01 cm ou mm (PETROSKI, 1999). Por sua vez, a maturação somática é utilizada para avaliar o desenvolvi- mento biológico, utilizando-se, para isso, a análise do pico de velocidade do crescimento em estatura, contando com medidas antropométricas de peso, estatura e altura troncocefá lica — sendo que todas as modificações na com- posição corporal ocorridas nesse período associam-se ao estágio de maturação biológica (PINTO et al., 2018). Na pesquisa realizada por Pinto et al. (2018), foi constatada variação dos valores antropométricos e de composição corporal entre os estágios de pico de velocidade do crescimento, principalmente os relacionados à gordura corporal. A antropometria diz respeito às medidas que definem a dimensã o da massa e do volume corporal. Ela representa a somató ria de cé lulas, tecido de sustentaç ã o, ó rgã os, mú sculos, ossos, gorduras, á gua, ví sceras, entre ou- tros. A partir das medidas de massa corporal, alturas, comprimentos, dobras Avaliação física da criança e do adolescente4 cutâ neas, perí metros e diâ metros ó sseos, é possí vel desenvolver as equaç õ es antropomé tricas (PETROSKI, 2007). Além disso, a antropometria é con- siderada o mé todo isolado mais utilizado universalmente (e proposto pela Organização Mundial de Saúde) para a avaliação nutricional na infâ ncia e na adolescê ncia por fatores como facilidade de execuç ã o, baixo custo e inocuidade. As medidas antropométricas mais utilizadas para avaliar e monitorar o estado nutricional das crianças são o peso e a estatura (altura ou comprimento). Os perí metros cefá lico, torá cico, braquial e abdominal també m podem ser utilizados. Para Sigulem, Devincenzi e Lessa (2000, p. 276), “[...] há evidê ncias de que o crescimento em altura e peso de crianç as saudá veis de diferentes origens é tnicas, submetidas à condiç õ es adequadas de vida, sã o similares até os 5 anos de idade”. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) adota, desde 1978, os dados do National Center for Health Statistics (NCHS) como padrã o de referê ncia internacional e está constantemente empenhada na elaboração de novos padrões de crescimento. Os valores antropomé tricos são analisados em funç ã o da idade e do sexo, e trê s í ndices antropomé tricos podem ser calculados: peso/idade, estatura/idade e peso/estatura. Para se estabelecer uma comparaç ã o de um conjunto de medidas antropomé tricas com um padrã o de referê ncia, vá rias escalas podem ser utilizadas, sendo as mais comuns o percentil e o escore Z. O escore Z sig- nifica, em termos prá ticos, o nú mero de desvios-padrã o que o dado obtido está afastado de sua mediana de referê ncia. Os percentis sã o derivados da distribuiç ã o em ordem crescente dos valores de um parâ metro, observados para uma determinada idade ou sexo; a classificaç ã o de uma crianç a em um determinado percentil permite estimar quantas crianç as, de mesma idade e sexo, sã o maiores ou menores em relaç ã o ao parâ metro avaliado. O acompa- nhamento do crescimento com a utilizaç ã o da curva-grá fico de crescimento em pelo menos trê s mensuraç õ es sucessivas de peso e estatura, com intervalos compatí veis com sua velocidade de crescimento em funç ã o da idade, permite aferir se a crianç a está em processo de desnutriç ã o com tendê ncia de afas- tamento de seu canal de crescimento, caminhando para percentis inferiores. Esse instrumento é extremamente ú til no estabelecimento de situaç õ es de risco nutricional (SIGULEM; DEVINCENZI; LESSA, 2000, p. 277). De modo geral, podemos entender, portanto, que a antropometria e o uso de tabelas e figuras sã o recursos comumente utilizados para avaliar o cres- cimento na infância e na adolescência. Esse processo pode ser resumido de forma grá fica, a partir de distribuiç õ es de percentis (ou escores z) de valores de medidas antropomé tricas de crianç as consideradas referências. Assim, sã o construí das as chamadas curvas ou grá ficos de crescimento. 5Avaliação física da criança e do adolescente As curvas de referê ncia têm por objetivo a classificaç ã o e o diagnó stico do estado nutricional de crianças e jovens. Desse modo, as normas referenciais da OMS e/ou do Centro Nacional de Estatí sticas sobre Saú de para avaliaç ã o do crescimento fí sico são válidas internacionalmente, e as curvas de peso corpó reo e estatura da OMS em crianç as e adolescentes são úteis para o diagnó stico do estado nutricional e para o seguimento do crescimento fí sico, assim como para verificar o impacto de fatores ambientais (COSSIO-BOLAÑ OS et al., 2012). A avaliação do estado nutricional, bem como as modificações antropométri- cas e de composição corporal na adolescência, são fortemente relacionadas ao estirão puberal e, por isso, a OMS tem ressaltado a importância de se considerar marcadores biológicos para o início e o final do estirão puberal (BARBOSA; FRANCESCHINI; PRIORE, 2006). Tais marcadores possibilitam predizer o estágio de desenvolvimento puberal em que o adolescente se encontra. Segundo os autores, para os meninos, são propostos o estágio 3 do desenvolvimento da genitália masculina e a mudança do timbre da voz como marcadores biológicos do início e do final do estirão puberal, respectivamente. Nas meninas, os marca- dores biológicos propostos para o início e o final do estirão puberal são o estágio 2 do desenvolvimento mamário e a menarca, respectivamente. O estágio 2 do desenvolvimento mamário se dá, aproximadamente, um ano antes do pico da velocidade de crescimento, enquanto a menarca ocorre, aproximadamente, um ano após o pico máximo da velocidade de crescimento. Nos meninos, o estágio 3 do desenvolvimento da genitália masculina precede em, aproximadamente, um ano o pico da velocidade máxima de crescimento, ao passo que a mudança do timbre da voz ocorre por volta de um ano após o pico máximo da velocidade de crescimento (BARBOSA; FRANCESCHINI; PRIORE, 2006). Na prática, ao considerarmos a velocidade de crescimento, torna-se possível avaliar se um adolescente com baixa estatura para a idade iniciou ou não o estirão puberal, possibilitando o direcionamento das ações de intervenção. Além disso, a informação da ocorrência ou não do estirão puberal auxilia na avaliação do estado nutricional e, consequentemente, na avaliação das modi- ficações antropométricas e de composição corporal (SIERVOGEL et al., 2003 apud BARBOSA; FRANCESCHINI; PRIORE, 2006). Ainda em relação à maturação sexual, vale ressaltar que a sua modulação é influenciada por diversas alteraç õ es no sistema endó crino, pela ativaç ã o do eixo hipotalâ mico-hipofisá rio-gonadal, que induz a liberaç ã o progressiva de Avaliação física da criança e do adolescente6 androgê nios (por exemplo, testosterona), e pela ativaç ã o do eixo hipotá lamo- hipó fise-ová rio, que resulta na produç ã o de estrogê nio (PINTO et al., 2018). Níveis altos de concentração desses hormônios relacionam-se linearmente com o desempenho motor dos adolescentes e, por isso, devem ser avaliados em conjunto com outros parâ metros associados ao crescimento e desenvolvimento motor dessa população. Em outra perspectiva, os músculos, assim como os ossos, mudam em qualidade na infância até a adolescência, tornam-se mais longos e compactos e aumentam em proporção; na adolescência, sofrem o estirão do crescimento, como ocorre com a altura, fazendo com que os adolescentes se tornem mais fortes em apenas poucos anos (BEE, 2011) — esse aumento tende a ocorrer tanto em meninos quanto em meninas, embora seja maior nos meninos. De acordo com Ré (2011), seria ideal que, nesse período, o adolescente já possuísseum excelente padrã o coordenativo e cognitivo (tomada de decisã o), de modo que, assim, fosse priorizado o treinamento da forç a, velocidade e resistê ncia, levando-se em consideração a especificidade de determinada modalidade esportiva. No entanto, nesse aspecto, cabe uma reflexão, já que é justamente na infância que o investimento na aquisição de habilidades motoras deve ocorrer, até por volta dos 11 anos, mais ou menos, para que a criança desenvolva todo o repertório motor necessário para se movimentar com proficiência. Sendo assim, ao chegar à puberdade (com o estirão de crescimentos favorecendo o fortalecendo dos músculos), a aptidão física pode manifestar todo o seu potencial. Se, durante a infância, a criança não aproveitar o período adequado para o aprimoramento das habilidades motoras, pode apresentar problemas motores em função do cresci- mento abrupto típico do estirão, tornando-se aquele adolescente “desajeitado”, “atrapalhado”, que comumente verificamos. Isso demonstra a importância da relação entre crescimento, maturação e desenvolvimento. Quanto à puberdade, vale ressaltar a necessidade dessa fase em se adequar às solicitaç õ es motoras em função das características individuais dos adoles- centes e, desse modo, justifica-se a importância de uma avaliaç ã o do estágio de maturação bioló gica. A avaliação física: proposta de um protocolo para crianças e adolescentes O Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR) é um sistema de avaliaç ã o da aptidã o fí sica relacionada à saú de e ao desempenho esportivo de crianç as e adolescen- 7Avaliação física da criança e do adolescente tes no â mbito da educaç ã o fí sica escolar e do esporte educacional no Brasil (GAYA; GAYA, 2016). O protocolo leva em consideração a carência de ma- teriais da maioria das escolas e dos clubes brasileiros e, por isso, desenvolveu uma bateria de testes para a avaliaç ã o de parâ metros de saú de e desempenho motor de muito baixo custo, sendo possível a adaptação de muitos materiais necessários para a realização do teste. A bateria apresenta critérios de validade, fi dedignidade e objetividade. De acordo com Alexandre et al. (2015), a populaç ã o em idade escolar tem-se tornado objeto de estudo entre pesquisadores de todo mundo, e essas pesquisas têm contribuído fortemente para o estudo do crescimento, desenvolvimento e, principalmente, da aptidã o fí sica relacionada à saú de. Os autores apontam ainda que, na literatura, a aptidã o fí sica é tratada sob dois componentes: relacionada à saú de e ao desempenho esportivo. Existem mais estudos rela- tando o componente de saúde, mas vale ressaltar que é imprescindí vel que a variá vel desempenho motor seja melhor abordada, visto que contribui para o desempenho de tarefas específicas importantes para a vida (SILVA; SILVA JUNIOR; OLIVEIRA, 2005). A aptidão física relacionada à saúde refere-se à condição física nas capacidades que estão profundamente relacionadas, principalmente, à qualidade de vida das pessoas — como a flexibilidade, a resistência aeróbia, a força e composição corporal. Veloci- dade, agilidade e coordenação são capacidades físicas relacionadas ao desempenho esportivo, necessárias à performance em vários esportes. Quanto à dimensão corporal, o protocolo PROESP-BR preconiza a avaliação da massa corporal (peso), da estatura (altura), da envergadura e também do perímetro da cintura. A partir daí, inclui a composição corporal como medida de classificação da aptidão física para à saúde por meio da estimativa do excesso de peso (índice de massa corporal [IMC]) e da estimativa do excesso de gordura visceral (por meio da razão cintura/estatura). Além disso, os testes de aptidão física para a saúde preveem, também, a aplicação do teste de flexibilidade Avaliação física da criança e do adolescente8 (sentar e alcançar), de aptidão cardiorrespiratória (teste da corrida) e o teste de resistência muscular localizada (sit-up). Já nos testes de aptidão física para o desempenho esportivo, o PROESP- -BR prevê a aplicação dos testes de força explosiva de membros superiores (arremesso de medicine ball), de força explosiva de membros inferiores (salta horizontal), teste de agilidade (teste do quadrado), de velocidade (corrida de 20 metros) e de aptidão cardiorrespiratória (corrida de 6 minutos). Testes de aptidão física relacionada à saúde A seguir, você conhecerá os testes de aptidão física que são aplicados para observação da saúde. Avaliação antropométrica Conforme descrito, uma das formas de medir o estado nutricional de crianças e jovens é por meio da avaliação antropométrica. O protocolo PROESP-BR objetiva realizar avaliações de campo e de baixo custo, sendo de grande relevân- cia em indivíduos em idade escolar para o levantamento, principalmente, das prevalências de sobrepeso e obesidade em crianç as e adolescentes brasileiros, que têm aumentado consideravelmente nos últimos anos. Recentemente, a bibliografia na á rea da atividade fí sica e da nutriç ã o relacionada à promoç ã o da saú de tem sugerido novas estraté gias capazes de predizer fatores de risco com medidas mais acessí veis à populaç ã o em geral (GAYA; GAYA, 2016) e, por esse motivo, justifica-se a utilização do protocolo PROESP-BR. Nesse contexto, vale ressaltar que estudos têm sugerido que a medida da razã o entre o perí metro da cintura e a estatura é indicador de excesso de gordura visceral. No Brasil, pesquisadores testaram a validade dessa medida e de sua capacidade de prediç ã o de ní veis de gordura visceral com relação a fatores de risco cardiovasculares (HAUN; PITANGA; LESSA, 2009 apud GAYA; GAYA, 2016). Confira no Quadro 2, a seguir, as principais medidas de aptidão física relacionadas à saúde propostas pelo projeto PROESP-BR e suas formas de aplicação. 9Avaliação física da criança e do adolescente Medida da massa corporal Material: uma balanç a portá til (precisã o de até 500 g). Procedimento: os avaliados devem ser medidos preferencial- mente com roupas leves e descalç os. Deverã o manter-se em pé , com os cotovelos (braç os) estendidos e juntos ao corpo. Anotaç ã o: a medida deve ser anotada em quilogra- mas, com a utilizaç ã o de uma casa apó s a ví rgula. Medida da estatura Material: estadiô metro, trena ou fita mé trica com resolução de até 2 mm. Procedimento: na utilização da fita métrica (considerando que normalmente ela mede 1,50 m de comprimento), acon- selha-se prendê -la à parede a 1 m do solo, estendendo-a de baixo para cima (neste caso, o avaliador nã o poderá esquecer de acrescentar 1 m ao resultado aferido pela fita mé trica). Para a leitura da estatura, deve ser utilizado um dispositivo em forma de esquadro. Desse modo, um dos lados do esqua- dro é fixado à parede e o lado perpendicular inferior junto à cabeç a do avaliado (a utilização do esquadro possibilita a eliminação de erros decorrentes das possí veis inclinaç õ es de materiais, tais como ré guas ou pranchetas, quando livremente apoiados apenas sobre a cabeç a do avaliado). Anotaç ã o: a medida é anotada em centí metros com uma casa apó s a ví rgula. Medida da enver- gadura Material: trena mé trica com precisã o de 2 mm ou duas fitas mé tricas unidas. Procedimento: sobre uma parede (preferencialmente sem rodapé), fixa-se uma trena mé trica paralelamente ao solo a uma altura de 1,20 m para os sujeitos menores e 1,50 m para os sujeitos maiores. O avaliado se posiciona em pé , de frente para a parede, com os braç os elevados (om- bros abduzidos) e cotovelos estendidos em 90 graus em relaç ã o ao tronco. As palmas das mã os ficam voltadas para a parede. O avaliado deverá posicionar a extremidade do dedo mé dio esquerdo no ponto zero da trena, e mede- -se a distâ ncia até a extremidade do dedo mé dio direito. Anotaç ã o: a medida é registrada em centí metros com uma casa apó s a ví rgula. Quadro 2. Avaliação da composição corporal — PROESP-BR (Continua) Avaliaçãofísica da criança e do adolescente10 Fonte: Adaptado de Gaya e Gaya (2016). Medida de perímetro da cintura Procedimento: afere-se por meio de uma fita mé trica flexí vel com resoluç ã o de 1 mm. A medida é realizada no ponto mé dio entre a borda inferior da ú ltima costela e a crista ilí aca. Anotaç ã o: a medida é registrada em centí metros, com uma casa apó s a ví rgula. Cálculo de IMC É determinado pelo cá lculo da razã o (divisã o) entre a medida de massa corporal total em quilogramas (peso) pela estatura (altura) em metros elevada ao quadrado. Anotaç ã o: a medida é registrada com uma casa apó s a ví rgula. Cálculo da razão cintura/ estatura É determinado pelo cá lculo da razã o (divisã o) entre a medida do perí metro da cintura em cm e a estatura (altura) em cm. Anotaç ã o: a medida é registrada com uma casa apó s a virgula. Quadro 2. Avaliação da composição corporal — PROESP-BR (Continuação) Flexibilidade A fl exibilidade, quando em níveis adequados, está relacionada à prevenção de alterações posturais, de dores lombares e a um menor risco de lesões ósteo- -mioarticulares. Como a fl exibilidade é específi ca por articulação, existe certa difi culdade em medir e, consequentemente, em avaliá-la de forma geral nos indivíduos (TOSCANO; EGYPTO, 2001). De acordo com Moreira et al. (2009), para a medida de flexibilidade da região inferior das costas, do quadril e dos músculos isquiotibiais, existem diversos testes clínicos e instrumentos, como o inclinômetro, o goniômetro, o flexômetro, as fitas métricas, as radiografias, dentre outros. Apesar dessa diversidade, grande parte das baterias de testes recomendam a utilização do teste sentar e alcançar para avaliação da flexibilidade. É importante lembrar 11Avaliação física da criança e do adolescente que esse teste é amplamente utilizado internacionalmente por apresentar por apresentar validade, reprodutibilidade e objetividade aceitável e por ser um instrumento de baixo custo e fácil aplicação. O PROESP-BR utiliza o teste de sentar e alcançar para a medida de flexi- bilidade e inclusive propõe uma adaptação para a sua aplicação, considerando que muitos ambientes não possuem o instrumento (banco de Wells) para medida da flexibilidade. Essa possibilidade foi idealizada por Hui e Yuen, que procuraram identificar a validade do teste de sentar e alcançar sem a utilização do banco (SASB) em um grupo de estudantes universitários. Os resultados indicaram a possibilidade de utilização do teste com a vantagem de necessitar como material apenas fita métrica e fita adesiva (MOREIRA et al., 2009). Os mesmos autores afirmam com propriedade que o teste de sentar e alcançar sem o banco pode ser utilizado como um instrumento alternativo em crianças e adolescentes. Veja, a seguir, como se dá a aplicação desse teste. Teste de flexibilidade (sentar e alcançar) Material: fita mé trica e fita adesiva. Procedimento: estenda uma fita mé trica no solo. Na marca de 38 cm dessa fita, coloque um pedaç o de fita adesiva de 30 cm em perpendicular. A fita adesiva deve fixar a fita mé trica no solo. O avaliado deve estar descalç o. Os calcanhares devem tocar a fita adesiva na marca dos 38 cm e estar separados por 30 cm. Com os joelhos estendidos e as mã os sobrepostas, o avaliado inclina-se lentamente e estende as mã os para a frente o mais distante possí vel. O avaliado deve permanecer nessa posiç ã o o tempo necessá rio para a distâ ncia ser anotada. Serã o realizadas duas tentativas. Anotaç ã o: o resultado é medido em centí metros a partir da posiç ã o mais longí nqua que o avaliado pode alcanç ar na escala com as pontas dos dedos. Registram-se os resultados com uma casa apó s a ví rgula. Para a avaliaç ã o, será utilizado o melhor resultado. Fonte: Gaya e Gaya (2016). Resistência muscular localizada Para avaliação da resistência/forç a dos mú sculos abdominais, historicamente, o teste mais conhecido mundialmente é o teste de 1 minuto (sit-up), mas Avaliação física da criança e do adolescente12 esse teste vem sendo alvo de críticas nas ú ltimas dé cadas por nã o levar em consideraç ã o a aç ã o dos mú sculos fl exores do quadril, como o iliopsoas, e també m por gerar uma alta pressã o entre os discos da coluna vertebral. Como alternativa, outros testes abdominais tê m sido utilizados para avaliar a forç a dos mú sculos da parede abdominal, como, por exemplo, testes abdominais com as pernas apoiadas sobre um banco (teste bench trunk-curl [BTC] de 2 minutos) (SCHOENELL et al., 2013). No protocolo PROEP-BR, o teste sit-up é utilizado para a avaliação da resistência muscular de crianças e jovens. Confira, a seguir, como proceder com a sua aplicação. Teste sit-up Material: colchonetes e cronô metro. Procedimento: o avaliado se posiciona em decú bito dorsal com os joelhos fle- xionados a 45 graus e com os braç os cruzados sobre o tó rax. O avaliador, com as mã os, segura os tornozelos do participante, fixando-os ao solo. Ao sinal, o partici- pante deverá iniciar movimentos de flexã o do tronco até tocar com os cotovelos nas coxas, retornando à posiç ã o inicial (nã o é necessá rio tocar com a cabeç a no colchonete a cada execuç ã o). O participante deverá realizar o maior nú mero de repetiç õ es completas em 1 minuto. Anotaç ã o: o resultado é o nú mero de abdominais completos realizados em 1 minuto. Fonte: Gaya e Gaya (2016). De acordo com Gaya e Gaya (2016), pesquisas realizadas pelo PROESP-BR evidenciaram em crianç as e adolescentes brasileiros associação entre deter- minados valores do teste de flexibilidade (sentar e alcanç ar) e de resistê ncia abdominal (sit-up) com a ocorrê ncia de dor e hiperlordose lombar. A partir dessas informaç õ es, tal como ocorreu com as variá veis da aptidã o fí sica para a saú de cardiovascular, foram estabelecidos pontos de corte ou valores crí ticos estratificados por idade, conforme descrito no quadro da Figura 1, a seguir. 13Avaliação física da criança e do adolescente Flexibilidade Resistência abdominal Figura 1. Valores críticos de flexibilidade e resistência abdominal. Fonte: Gaya e Gaya (2016, p. 17). De acordo com a Figura 1, consideram-se valores abaixo dos pontos de corte zona de risco à saú de; valores acima, zona saudá vel. Aptidão cardiorrespiratória A principal forma de medida da aptidão cardiorrespiratória é o consumo má ximo de oxigê nio por ergoespirometria. Contudo, tal procedimento nã o se torna viá vel quando o objetivo é a avaliaç ã o populacional, já que necessita de material especí fi co, pessoal especializado e demanda de tempo relativamente grande para cada avaliaç ã o. Dessa forma, a alternativa mais adequada é a utilizaç ã o de testes de campo (BERGMANN et al., 2010). Os mesmos autores citam, ainda, que os testes de campo para aptidão cardiorrespiratória mais utilizados em pesquisas com crianç as e adolescentes sã o o teste de corrida/ caminhada de nove minutos, o teste de corrida/caminhada de uma milha e o teste vai e vem de 20 metros (20-m shuttle run test). Avaliação física da criança e do adolescente14 No Brasil, o teste que tem sido mais utilizado é o de corrida/caminhada de nove minutos, sendo a forma de medida da aptidão cardiorrespiratória em vá rios estudos. Quanto à avaliaç ã o dos ní veis de aptidão cardiorrespiratória de crianç as e adolescentes, crité rios de referê ncia de instituiç õ es internacionais sã o frequentemente tomados do Fitnessgram e do Physical Best (BERGMANN et al., 2010). Na bateria de testes preconizadas pelo PROESP-BR, o teste de caminhada de seis minutos (TC6) é utilizado. Este teste é usado para avaliar a resposta de um indivíduo ao exercício e propicia uma análise global dos sistemas respiratório, cardíaco e metabólico. As principais vantagens do TC6 são sua simplicidade e as exigências tecnológicas mínimas, bem como o fato de que sinais e sintomas vitais podem ser medidos durante o teste.Teste de aptidão cardiorrespiratória (corrida/caminhada dos 6 minutos) Material: local plano com marcaç ã o do perí metro da pista, trena mé trica, cronô metro e ficha de avaliação. Procedimento: divide-se os participantes em grupos adequados à s dimensõ es da pista. Deve-se informar como será a execuç ã o do teste dando ê nfase ao fato de que os participantes devem correr o maior tempo possí vel, evitando piques de velocidade intercalados por longas caminhadas. Durante o teste, a passagem do tempo 2, 4 e 5 (“Atenç ã o: falta X minutos”) é informada aos participantes. Ao final do teste, soará um sinal (apito) para que a corrida seja interrompida imediatamente; os participantes permanecem no lugar onde estavam (no momento do apito) até ser anotada ou sinalizada a distâ ncia percorrida. Anotação: os resultados devem ser anotados em metros, com uma casa apó s a ví rgula. Fonte: Gaya e Gaya (2016). A partir de estudos realizados pelos pesquisadores do PROESP-BR, verifi- cou-se, em crianç as e adolescentes brasileiros, associação entre determinados valores do IMC e aptidã o cardiorrespirató ria (teste dos 6 minutos) com a 15Avaliação física da criança e do adolescente ocorrência de ní veis elevados de colesterol, hipertensã o arterial e resistê ncia a insulina. A partir dessas informaç õ es, foram estabelecidos pontos de corte/ valores crí ticos em uma escala categó rica, que serão descritos a seguir. Normas e critérios para avaliação da aptidão física relacionada à saúde Foram estabelecidos pontos de corte ou valores crí ticos que, estratifi cados por idade e sexo, permitem ao profi ssional de educaç ã o fí sica avaliar as crianç as e os adolescentes em uma escala categórica de dois graus: crianç as e adolescentes na zona de risco à saúde ou na zona saudá vel (GAYA; GAYA, 2016). Veja, na Figura 2, os valores críticos de IMC e corrida/caminhada. IMC Corrida/caminhada de 6 minutos Figura 2. Valores críticos de IMC e corrida/caminhada. Fonte: Gaya e Gaya (2016, p. 15). Consideram-se valores acima dos pontos de corte como zona de risco à saú de, e os valores abaixo como zona saudá vel. Avaliação física da criança e do adolescente16 Classificação da aptidão física relacionada à saúde Rafaela, 10 anos. IMC: Massa corporal: 44 kg. Altura: 1,35 m. Cálculo do IMC: IMC = 44/1,402 = 22,4 (zona de risco à saúde) Flexibilidade: 29,2 (zona saudável) Resistência muscular: abdominais = 18 (zona de risco à saúde) Capacidade cardiorrespiratória: 720 (zona de risco à saúde) Testes de aptidão física relacionados ao desempenho esportivo A seguir, veja os testes de aptidão física que são aplicados para observação do desempenho esportivo dos sujeitos analisados. Força explosiva A força é um componente de aptidão física relacionado ao desempenho es- portivo, mas também é muito importante para a saúde de crianças e jovens. A resistê ncia da forç a explosiva guarda certa relaç ã o com a potê ncia anaeró bia de curta duraç ã o. Muitos estudos têm validado o uso de testes de saltos verticais contí nuos na avaliaç ã o desempenho da resistê ncia de forç a explosiva (HES- PANHOL, 2004). Em crianças e jovens, a força tem sido investigada por meio de diferentes mé todos de avaliaç ã o, como execuç ã o de saltos, levantamento de pesos, dinamô metro hidrá ulico e isociné tico (COLEDAM et al., 2013, p. 44). Os autores também citam que “[...] os saltos vertical, horizontal e sê xtuplo tê m sido utilizados como indicadores da forç a dos membros inferiores em crianç as e adolescentes, uma vez que demonstraram ser sensí veis ao treinamento de forç a” (COLEDAM et al., 2013, p. 44). Nesse contexto, verifi ca-se que os testes envolvendo saltos (força explosiva de membros inferiores) e arremessos (força explosiva de membros superiores) sã o utilizados nas avaliações por serem especí fi cos à s aç õ es de diferentes modalidades esportivas. O protocolo PROESP-BR avalia esses dois componentes, veja no Quadro 3. 17Avaliação física da criança e do adolescente Fonte: Adaptado de Gaya e Gaya (2016). Força ex- plosiva de membros superiores Material: uma trena e uma medicine ball de 2 kg (ou um saco de areia com 2 kg). Procedimento: a trena é fixada no solo perpendicularmente à parede. O ponto zero da trena é fixado junto à parede. O avaliado senta-se com os joelhos estendidos, as pernas unidas e as costas completamente apoiadas à parede e segura a medicine ball junto ao peito, com os cotovelos flexionados. Ao sinal do avaliador, o avaliado deverá lanç ar a bola o mais longe possí vel, mantendo as costas apoiadas na parede. A distâ ncia é registrada do ponto zero até o local em que a bola tocou o chão pela primeira vez. Deve-se executar dois arremessos, registrando‐se o melhor resultado. Sugere‐se que a bola seja banhada em pó branco (magnésio ou giz moído) para facilitar a identificaç ã o precisa do toque ao chão. Anotaç ã o: a medida é registrada em centí metros, com uma casa apó s a ví rgula. Força ex- plosiva de membros inferiores Material: uma trena e uma linha traç ada no solo. Procedimento: a trena é fixada ao solo, perpendicularmente à linha de partida. A linha de partida deve ser sinalizada com giz, com fita crepe ou deve-se utilizar uma das linhas que de- marcam as quadras esportivas. O ponto zero da trena situa-se sobre a linha de partida. O avaliado coloca-se imediatamente atrá s da linha, com os pé s paralelos, ligeiramente afastados, joelhos semiflexionados, tronco ligeiramente projetado à frente. Ao sinal, ele deverá saltar a maior distâ ncia possí vel, aterrissando com os dois pé s em simultâ neo. Serã o feitas duas tentativas, sendo registrado o melhor resultado. Anotaç ã o: registra-se a distâ ncia em centí metros, com uma casa apó s a ví rgula, a partir da linha traç ada no solo até o calcanhar mais pró ximo. Quadro 3. Força explosiva — PROESP-BR Agilidade De acordo com Oliveira (2017), existem vá rios protocolos de avaliaç ã o da agilidade. O mais conhecido é o ShuttleRun, de Marins e Giannichi (2003). Outros sã o també m usualmente encontrados, como o T-Test e o Illinois Agility Test (IAT), bastante utilizados nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, o teste do quadrado proposto na bateria do PROESP-BR é o mais utilizado. A seguir, confi ra a metodologia proposta para o teste do quadrado. Avaliação física da criança e do adolescente18 Agilidade (teste do quadrado) Material: um cronô metro, um quadrado com 4 m de lado. Quatro garrafas de refrigerante de 2 litros do tipo PET cheias de areia. Piso antiderrapante. Procedimentos: demarca-se no local de testes um quadrado de 4 m de lado. Coloca-se uma garrafa PET em cada â ngulo do quadrado. Uma fita crepe ou uma reta desenhada com giz indica a linha de partida. O aluno parte da posiç ã o de pé , com um pé avanç ado à frente imediatamente atrá s da linha de partida (em um dos vé rtices do quadrado). Ao sinal do avaliador, deverá deslocar‐se em velocidade má xima e tocar com uma das mã os na garrafa situada no canto em diagonal do quadrado (atravessa o quadrado). Na sequê ncia, corre para tocar a garrafa à sua esquerda (ou direita) e, depois, desloca-se para tocar a garrafa em diagonal (atravessa o quadrado em diagonal). Finalmente, corre em direç ã o à ú ltima garrafa, que corresponde ao ponto de partida. O cronô metro deverá ser acionado pelo avaliador no momento em que o avaliado tocar pela primeira vez com o pé o interior do quadrado e será travado quando tocar com um das mã os na quarta garrafa. Serã o realizadas duas tentativas, sendo registrado para fins de avaliaç ã o o menor tempo. Anotaç ã o: a medida será registrada em segundos e centé simos de segundo (duas casas apó s a ví rgula). Fonte: Gaya e Gaya (2016). Velocidade Uma das formas mais precisas e fi dedignas de se avaliar a velocidade é por meio do método computadorizado de fotocélulas, que permitem analisar avelocidade de um atleta respeitando a especifi cidade da modalidade e reproduzindo principalmente as condições ambientais de piso, calçado e temperatura (CASTRO et al., 2009). Geralmente, as células fotoelétricas são utilizadas para determinar o tempo necessário para percorrer uma distância defi nida. “A aplicação desse método permite, além da mensuração do tempo, a determinação da velocidade média no intervalo da medição” (CASTRO et al., 2009, p. 103). Em campo, a velocidade é avaliada sob distâncias curtas (20 metros). O sprint de 20 metros (WEINECK, 2000) permite avaliar a capacidade de aceleração e velocidade máxima. O PROESP-BR recomenda esse teste para avaliação da velocidade de crianças e adolescentes, e a eficácia do resultado dependerá do momento exato em que o avaliador travar o cronômetro quando o avaliado cruza a linha dos 20 metros. 19Avaliação física da criança e do adolescente Teste de velocidade Material: um cronô metro e uma pista de 20 m demarcada com trê s linhas para- lelas no solo da seguinte forma: a primeira (linha de partida), a segunda, distante 20 m da primeira (linha de cronometragem), e a terceira linha, marcada a 1 m da segunda (linha de chegada). A terceira linha serve como referê ncia de chegada para o aluno na tentativa de evitar que ele inicie a desaceleraç ã o antes de cruzar a linha de cronometragem. Duas garrafas do tipo PET de 2 litros para a sinalizaç ã o da primeira e da terceira linhas. Procedimento: o estudante parte da posiç ã o de pé , com um pé avanç ado à frente imediatamente atrá s da primeira linha (linha de partida), e será informado que deverá cruzar a terceira linha (linha de chegada) o mais rá pido possí vel. Ao sinal do avaliador, o aluno deverá deslocar-se, o mais rá pido possí vel, em direç ã o à linha de chegada. O avaliador deverá acionar o cronô metro no momento em que o avaliado, ao dar o primeiro passo, tocar o solo pela primeira vez com um dos pé s alé m da linha de partida. O cronô metro será travado quando o sujeito, ao cruzar a segunda linha (linha de cronometragem), tocar pela primeira vez o solo. Anotaç ã o: registra-se o tempo do percurso em segundos e centé simos de segundos (duas casas apó s a ví rgula). Fonte: Gaya e Gaya (2016). Aptidão cardiorrespiratória Segundo o protocolo do PROESP-BR, a aptidão cardiorrespiratória por meio do teste de corrida/caminhada de 6 minutos é uma medida de aptidão física relacionada tanto à saúde quanto ao desempenho esportivo. Vale ressaltar que o critério de classifi cação para essa valência física, quando se trata de desempenho esportivo, é diferente. Assim, as normas e os critérios para a sua avaliação serão descritas a seguir, juntamente com as outras valências, como forças explosivas, agilidade e velocidade. Normas e critérios para avaliação da aptidão física para o desempenho esportivo A avaliaç ã o da aptidã o fí sica para o desempenho esportivo é referenciada a normas estatí sticas. A partir do perfi l da população brasileira estratifi cada Avaliação física da criança e do adolescente20 por sexo e idade, para cada um dos testes, são consideradas cinco categorias, baseadas em análise normativa (percentis): fraco (menor que percentil 40); razoável (entre percentil 40 e 59); bom (entre percentil 60 e 79); muito bom (entre percentil 80 e 98); excelência (maior que percentil 98). Veja, a seguir, nas Figuras 3 a 7, as tabelas com as categorias para os testes de força explosiva de membros superiores, inferiores, de agilidade, velocidade e cardiorrespiratório. Figura 3. Força explosiva de membros superiores (arremesso da medicine ball). Fonte: Gaya e Gaya (2016, p. 18). 21Avaliação física da criança e do adolescente Figura 4. Força explosiva de membros inferiores (salto em distância). Fonte: Gaya e Gaya (2016, p.18). Figura 5. Teste de agilidade (quadrado). Fonte: Gaya e Gaya (2016, p. 20). Avaliação física da criança e do adolescente22 Figura 6. Teste de velocidade (corrida de 20 metros). Fonte: Gaya e Gaya (2016, p. 20). Figura 7. Teste de aptidão cardiorrespiratória (corrida/caminhada de 6 minutos). Fonte: Gaya e Gaya (2016, p. 21). 23Avaliação física da criança e do adolescente A ficha de avaliação dos testes, bem como os vídeos explicativos da bateria de testes PROESP-BR, podem ser visualizados no link a seguir. https://qrgo.page.link/DwSMy Diante do exposto, podemos concluir que a avaliação da aptidão física relacionada ao desempenho esportivo é fundamental para a detecção de talentos esportivos, e essa detecção é feita pelos profissionais de educação física por meio da utilização de protocolos de avaliação válidos, como o PROESP-BR, seja na á rea escolar ou em entidades esportivas (clubes, centros educacionais, etc.). ALEXANDRE, J. M. et al. Avaliação do desempenho de escolares em testes de aptidão física. Saú de (Santa Maria), v. 41, n. 2, p. 161–168, jul./dez 2015. BARBOSA, K. B. F.; FRANCESCHINI, S. C. C.; PRIORE, S. 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