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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 1.1 A importância da capelania hospitalar .................................................. 6 1.2 A enfermidade faz parte da vida ........................................................... 8 2 CONCEITOS SOBRE DOENÇA, DOENTE e CURA .................................. 9 2.1 A doença .............................................................................................. 9 2.2 O doente ............................................................................................. 10 2.3 A cura ................................................................................................. 12 3 NORMAS, REGRAS E ORIENTAÇÕES PARA VISITAS A ENFERMOS . 13 3.1 A prática ............................................................................................. 13 3.2 Atitudes recomendadas ...................................................................... 14 3.3 Atitudes inconvenientes ...................................................................... 16 4 A CAPELANIA E O PACIENTE TERMINAL ............................................. 17 4.1 Primeira Fase: Choque....................................................................... 17 4.2 Segunda fase: Negação ..................................................................... 18 4.3 Terceira fase: Raiva ........................................................................... 18 4.4 Quarta fase: Negociação .................................................................... 18 4.5 Quinta fase: Desespero ...................................................................... 18 4.6 Sexta-fase: Aceitação......................................................................... 19 4.7 A família do paciente terminal ............................................................ 19 5 OS BENEFICIOS DA CAPELANIA PARA OS HOSPITAIS E PARA A COMUNIDADE .......................................................................................................... 20 6 Direito à assistência religiosa .................................................................... 21 6.1 Dos direitos do paciente hospitalizado ............................................... 22 7 O visitador, sua função e suas atividades ................................................. 23 7.1 O Aspecto Espiritual ........................................................................... 23 7.2 O Aspecto Social ................................................................................ 24 7.3 O Aspecto Físico ................................................................................ 25 7.4 O Aspecto Intelectual ......................................................................... 25 8 Os benefícios: ao paciente e sua família, ao hospital e a comunidade ..... 27 8.1 Apoio Espiritual e sua Prática. ............................................................ 27 8.2 A Importância do Cuidado Espiritual para enfrentar a Doença. .......... 28 8.3 Cuidando das Famílias ....................................................................... 29 8.4 A satisfação do paciente e sua família com o cuidado espiritual provido por capelães. ......................................................................................................... 30 8.5 Os Benefícios para o Hospital e Comunidade .................................... 31 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 34 9 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................... 36 1 INTRODUÇÃO Capelania não é um termo moderno. É o nome dado aos serviços religiosos/pastorais prestados por sacerdotes, diáconos, pastores, agentes, ministros, leigos e leigas, especialmente envolvidos com a área da saúde, em hospitais (instituições psiquiátricas, asilos, sanatórios). Por extensão, também se entende uma presença religiosa/pastoral junto aos doentes em seus domicílios. Na sua genericidade “Capelania” também se refere aos mesmos serviços prestados em outros ambientes de internamento, tais como cadeias, penitenciárias, instituições militares, casas de reeducação de menores, abrigos de idosos, etc. Fonte: cpcipb.org.br Fala-se que tal termo originou no Exército Francês em 1976, e dizem estar a origem do nome ligado À Capa (Capelo, capelania) que São Martinho de Tours, num dia de chuva e frio, teria repartido com um andarilho. Esta capa, mais tarde, passou a ser venerada na Igreja da cidade, com relíquia. Capelania (na área da saúde) é um ministério religioso/pastoral/espiritual prioritariamente, e cristão (católico e/ou evangélico), solidário, humanitário, fraterno, voluntário, que pode ser confessional e/ou interconfessional (outras Igrejas e Religiões). Tal ministério, exercido em instituições hospitalares e em domicílios, em prol dos enfermos, idosos e todas as pessoas com eles relacionados (também profissionais da saúde), confortando-os e ajudando-os a lidar com a enfermidade, a aceitar o tratamento indicado e, preparando-os até mesmo para a morte, no caso de doentes terminais. Esse ministério visa levar a fé, a esperança, o amor (cf. I Cor 13,13); é aperfeiçoar a fé com obras (cf Tg 2, 22); e ser ovelhas de Jesus (cf Mt 25, 33-36). Logo, fundamenta-se nessa base, essencialmente, bíblica. Se suprimirmos do Evangelho todos os textos que indicam a disponibilidade, atenção, poder e tempo de Jesus dedicado aos doentes, nós teremos nos Evangelhos, no seu texto escrito, uma perda de 30% ou até 40% de seu conteúdo. Exercer tal ministério é levar o toque do amor de Deus aos necessitados, através da nossa instrumentalidade. Para participar e querer se abastecer de uma formação a esse respeito, é preciso que se desprenda de preconceitos, “achismos”, para que não falte, naquilo que depende de nós, o necessário para esta obra que é de Deus. Logo, capelão, agente da pastoral da saúde, visitador de idosos, agentes da pastoral do idoso é o termo sinônimo de pastor, irmão, pai/mãe. E, tal função/ministério deve ser atribuído a aqueles que tenham alguma vivência e sensação de serem chamados para tal atividade, levando sempre palavras de calma e paz, de ânimo e de conforto, fé e esperança, autoestima e valorização da vida, da pessoa, da família, da sociedade. Sabemos das dificuldades colocadas por parte das Instituições de Saúde, no que se refere à visita pastoral de Capelães (Padres, Pastores, etc). Às vezes, isso até tem “cheiro” de anticlericalismo, anti-religiosidade… e parece até mesmo uma certa falta de respeito à fé alheia, seja dos pacientes, familiares, como dos Agentes de Pastorais. Dá uma impressão de “concorrência funcional” ou algo como declarar: “Medicina no hospital. Padre/Pastor, na Igreja”, com diferentes variações. Sabemos que um hospital tem suas normas, contudo, mesmo no rigor delas, tem-se que, com bom senso, pode-se abrir possibilidades para que a visita/assistência espiritual seja garantida. Hospitais mais evoluídos até exigem essas visitas, pois sabem que, sendo a pessoa humana um todo indivisível, o bem que é a assistência religiosa faz ao enfermo é considerável. Respeito, prudência, clareza de ambos os lados, ajudam. E muito! Daí a importância, em se tratando de Capelania Hospitalar, ter um bom e claro entendimento com a Direção da Instituição, no sentido de evitar dificuldades e mal-estares. Objetividade e imparcialidade, de ambos os lados, fazem bem. Nos hospitais é comum ocorrer que os profissionais da saúde, incluindo os médicos, experimentem, às vezes, tensões no trabalho junto aos doentes e seus familiares. Mesmo sendo um profissional da saúde, não significa que está vacinado contra stress, irritações, depressão. Muitas são as razões para isso. Pode-se conversar a respeito. Fonte:pontosdevista.pt Esta tensão desses profissionais tem aumentado nos últimos tempos, também por causa de questões econômicas, dificuldades com SUS, convênios, com direções hospitalares, com diminuição de profissionais em relação ao aumento de doentes. Logo, também os médicos e outros profissionais de saúde não podem estar fora das preocupações pastorais/espirituais e deve-se, mesmo com uma metodologia a construir, ajudá-los a enfrentarem os problemas profissionais, pessoais e familiares. A palavra oportuna, encorajadora, pode levantar o moral e aumentar o bom senso de todos, no ambiente hospitalar. Um estudo feito nos Estados Unidos da América do Norte, demonstrou que 63% de médicos e enfermeiros de UTI acreditam ser um papel importante o dos Capelães e Agentes da Pastoral da Saúde, com suas palavras e atitudes, prover-lhes conforto nas tensões do seu dia-a-dia. Outros 37% acreditam que Capelães e Agentes da Pastoral da Saúde deveriam ser mais disponíveis para ajudar essas pessoas (médicos, enfermeiros, etc), ouvindo-os, orientando-os. Muito bom é quando a instituição hospitalar dispõe de um local para essas orientações personalizadas. 1.1 A importância da capelania hospitalar Temos todas as evidências para perceber que Jesus dava enorme importância à visitação dos enfermos, fato provado quando ele disse: “estava enfermo e me visitastes...” (Mt 25:31-40). Este ato cristão de visitar, de exercer a Capelania, era percebido já na igreja primitiva: Paulo foi convidado a ir à casa de Lídia (At 16:14-27); Paulo e Silas foram à casa do carcereiro (At 16:27-34); Pedro foi fazer uma visita à casa do centurião (At 10:23-33); dentre outros. Deste modo, é preciso levar uma palavra de paz às pessoas enfermas, sobrecarregadas e oprimidas (Mt 11:28-30). É necessário anunciar o amor e o zelo de Deus pelas suas vidas, imitando a Jesus Cristo, que sempre estava interessado e ouvia o clamor dos enfermos. O amor que moveu Jesus, que morreu por nós, deverá ser o principal elemento que move e estimula neste abençoado ministério, que consiste em dar apoio e consolo aos enfermos. Ninguém é poupado da doença, e saúde é, tampouco, a única razão da felicidade. Uma pessoa que aprendeu a conviver com a sua enfermidade, pode ser uma pessoa muito feliz e uma fonte de alegria para aqueles que cruzam o seu caminho. Na Bíblia a doença faz parte da vida. Ela sinaliza para os nossos limites, para a nossa transitoriedade, para a nossa natureza humana. Fato que constantemente negamos por não aceitarmos que somos finitos e limitados. A importância do Ministério da Capelania Hospitalar está ligada diretamente ao número de pessoas que passam pelos hospitais em todo o mundo, o qual é bem maior do que o número dos que frequentam as igrejas. No hospital, a mente e o coração estão geralmente mais abertos à mensagem do evangelho. Raramente o Capelão achará pessoas tão despidas de máscaras e de vaidades quanto numa enfermidade. Quando o Senhor Jesus aqui viveu, o seu ministério era total (corpo, alma e espírito), e não podemos deixar de seguir seus passos. Hoje, a medicina reconhece que a paz espiritual do paciente pode contribuir muito para sua recuperação física. Por meio de conversas, encorajamento e oração, o servo de Deus se torna um agente do Poder curativo, na crise de enfermidade. O sofrimento físico nos leva a reconhecer nossa fragilidade. Por isso, pessoas enfermas e com sofrimento físico começam a levantar uma série de perguntas: Por que isto está acontecendo comigo agora? O que fiz para merecer isto? Será que ficarei bom? Onde está Deus nesta situação? Será que alguém vai cuidar de mim? Uma enfermidade, geralmente, vem acompanhada ou gera dúvidas, emoções de zanga, solidão, desespero, confusão, ira, culpa e mágoas. Diante desta realidade, o Capelão cristão, com o apoio da igreja e da ajuda prática que puder adquirir, enfrentará os desafios que Jesus Cristo deixou para os membros da Sua igreja. O hospital é uma instituição que busca uma cura física. O capelão deve respeitar o ambiente, a estrutura hospitalar, e trabalhar sempre dentro das normas estabelecidas. Como cristãos, a Constituição Brasileira dá direitos para atender aos doentes, porém não é um direito absoluto. Por isso o trabalho deve ser realizado de forma a não infringir os direitos dos outros. Nem todos podem ou conseguem entrar numa enfermaria, visitar um doente no lar. Não é fácil lidar com situações que envolvem o sofrimento humano. Quando visita- se os enfermos, deve-se estar atento aos sentimentos e preocupações deles. A agenda de um capelão precisa priorizar os assuntos que eles desejam abordar. Deve- se saber expressar esta esperança de maneira mais real e vívida, com integridade. O religioso deve levar palavras seguras, mas evitar a criação de uma falsa esperança, baseado em promessas pessoais que se gostaria de fazer ao enfermo. As palavras devem ser baseadas nas palavras de Deus, e a atenção deve ser focada no presente e no paciente. Ao visitar hospitais, não deve-se perder a visão macro dos outros pacientes, eles não devem ser ignorados. É importante observar e respeitar as visitas de outros grupos. O capelão deve fazer e atuar em seu ministério sem competir ou entrar em conflitos. O assistente religioso deve saber utilizar bem seus instrumentos de apoio: oração, bíblia, compromisso e apoio com o ministério, reconhecimento e submissão às autoridades da igreja, e a esperança renovada, em Jesus Cristo. Fonte: www.hsan.com.br Faz-se mister que o capelão aprenda os textos Bíblicos apropriados para usar nas visitas hospitalares ou nos lares dos enfermos. Com eles haverá solidez para auxiliar o paciente. 1.2 A enfermidade faz parte da vida Poucas pessoas, se é que existe alguém, atravessam a vida sem experimentar pelos menos uma doença. A Bíblia menciona várias enfermidades, como alcoolismo, cegueira, tumores, inflamações, febre, hemorragias, surdez, mudez, insanidade, lepra, paralisia, e várias outras. Fica claro que cada uma delas causa tensão psicológica e física, e são citadas de modo a demonstrar que a doença faz parte da vida. O cristianismo nos responsabiliza a respeito do cuidado aos enfermos. Por meio de suas palavras e atos, Jesus ensinou que doença, embora comum, é também indesejável. Mesmo dar a alguém um gole de água era considerado digno de elogios, e Jesus indicou que ajudar um doente era o mesmo que ministrar a Ele, Jesus. A enfermidade não é um sinal de pecado ou manifestação de falta de fé: quando Jó perdeu sua família, bens e saúde, três amigos vieram visitar com a boa intenção de consolar. Apesar da boa vontade, foram totalmente ineficazes, argumentando que todos os problemas seriam resultados do pecado. Jó descobriu, porém, que a doença nem sempre é resultado do pecado do indivíduo, Jesus ensinou isso claramente (Exemplo, João 9:1-3). Assim, os casos individuais de doença não são necessariamente resultantes dos pecados da pessoa doente. Embora, há ocasiões em que o pecado e a doença têm realmente relação de causa-efeito. 2 CONCEITOS SOBRE DOENÇA, DOENTE E CURA 2.1 A doença A doença é a decadência natural do nosso corpo, que resultará, um dia, na morte. Há quem acredite que ela é parte da estratégia de Deus para nos avisar, chamar nossa atenção, e nos conscientizar de que somos apenas seres humanos. A Enfermidade faz surgir questões difíceis e cruciais sobre o sofrimento: Se Deus é bom, por que ele permite o sofrimento? Se Ele é Todo-Poderoso, por que não suspende ou evita o sofrimento? A dor física: Pessoas reagem de diferentes formas à dor. A Bíblia, porém, nos afirma que “há doenças da alma”, Há, por exemplo, as chamadas “doenças psicossomáticas” ou “doenças afetivas”, cuja cura não poderá ser apenas externa, mas também interna, como a chamada pela igreja de:“cura interior”. Neste sentido, a decadência é total: corpo, alma e espírito. Geralmente esta decadência não é só resultado do enfraquecimento da alma e do corpo físico, mas, sim, resultado de falhas pessoais. Exemplo: alguma ação que lesou a outrem gera um sentimento de culpa, aperto, amargura. A falta de cura nesta situação pode resultar em uma afecção da alma, que, por consequência, atinge toda a vida, cultivando amargura, cólera e ira. A amargura, a ira, a ansiedade, são medos resultantes da falta de fé e do desespero, da desesperança, que afetam diretamente a alma. Esta amargura, quando atinge outras pessoas, as consome e exausta de corpo e alma. 2.2 O doente A doença e o doente são literalmente pressionados pela finitude terrena. O doente irá se defrontar com a sua finitude e reconhecer sua fragilidade, sua total dependência de Deus, até para as coisas mais naturais, como um simples respirar. Às vezes, o ser humano é acometido por uma “síndrome da divindade”: ele acha que sabe e pode comandar as coisas do seu jeito, que tem capacidade para tudo, sem qualquer influência de Deus. O interessante é que, por mais ateu que alguém possa se declarar, esta finitude terrena o incomoda, pois a grande maioria dos seres humanos teme sua morte. E o que é este medo da morte? É a incerteza do que irá acontecer depois. E como perdê- lo? Por meio da constante busca da palavra de Deus, alcançamos a certeza inabalável de Fé e daquilo que Jesus Cristo realizou na cruz, quando exclamou: “Está consumado!”. Paulo nos diz, em Co 15:26 que “o último inimigo a ser derrotado é a morte”. Os doentes, geralmente os hospitalizados, experimentam sete categorias de tensão psicológica: 1) Tensão da ameaça à integridade: Os enfermos são submetidos a uma série de experiências em que eles não têm controle sobre as circunstâncias. Devem obedecer a um médico, enfermeiras, se submeter a uma estrutura e regras de um hospital, uma agenda estabelecida para tratamento médico, ordens para dormir, orientações para tomar medicamentos, sobre a alimentação, etc. Ele volta a depender de outro como era quando criança, e isto não é fácil. 2) Tensão do medo de estranhos Pacientes temem que suas vidas e seus corpos tenham que ser colocados nas mãos de estranhos com quem muitas vezes não têm qualquer laço pessoal. 3) Tensão da ansiedade pela separação: A enfermidade nos separa: amigos, lar, rotina, trabalho. Durante a internação hospitalar, ficamos separados das pessoas e das coisas que nos são familiares, no momento em que aparentemente mais precisamos delas. 4) Tensão do medo de perder a aceitação: A doença e os ferimentos podem deixar as pessoas fisicamente deformadas, obrigando a moderar suas atividades e tornar dependentes de outros. Tudo isto pode ameaçar a autoestima, e levar a temer que, devido a essas mudanças, as pessoas não irão mais amá-lo ou respeitá-lo, antecipando ainda mais outros traumas. 5) Tensão do medo de perder o controle: Perder o controle de força física, agilidade mental, controle dos intestinos e bexiga, controle dos membros da fala, ou a capacidade de dominar as emoções é uma ameaça forte para os pacientes. E estas ameaças se tornam maiores quando o paciente está exposto em um leito de hospital. 6) Tensão do medo de expor ou perder partes do corpo: As pessoas doentes precisam expor as partes do corpo que doem e submeter- se ao exame visual e ao toque físico, por parte da equipe médica. Isto pode ser embaraçoso e, por vezes, ameaçador. Especialmente quando se torna aparente que uma parte do corpo está doente e deve ser operada ou até mesmo removida. 7) Tensão da culpa e medo do castigo: A doença ou os acidentes levam muitas vezes a pensar que o sofrimento possa ser um castigo por pecados ou faltas pessoais cometidas no passado. Apesar de essas tensões serem comuns aos enfermos, temos que saber que existem diferenças no modo das pessoas reagirem. Estas tensões desencadeiam emoções e reações pessoais adversas como depressão com a doença, desânimo com o tratamento, frustração com o diagnóstico ou a falta dele, sentimento de culpa, frustração com a vida, sentimento de incapacidade, raiva e/ou ira com familiares, médicos e até mesmo com Deus. A enfermidade não afeta apenas o paciente, mas os que estão ao seu redor, perturbando amigos e familiares. Esta perturbação de terceiros muitas vezes causa incômodo neles e até mesmo no próprio paciente, quando nota que outros foram (ou não) afetados com sua situação. As mudanças na rotina familiar devido à doença, aos problemas financeiros, às dificuldades em organizar as visitas ao hospital podem criar tensões que, ocasionalmente, redundam em fadiga, irritabilidade e preocupação. Em todas as fases da enfermidade, o paciente deve guardar o sentimento de esperança. Mesmo pessoas gravemente enfermas e que têm uma ideia real sobre a sua condição descobrem que a esperança sustenta e encoraja especialmente em momentos difíceis. A esperança carrega em si a capacidade de apontar melhoras. 2.3 A cura A cura fazia parte integral do ministério de Cristo. Podemos ter certeza disso em vários textos bíblicos, como em Lucas 4:14-21, Isaías 61:1-2 e Mateus 11:2-6. Claro que a Bíblia apresenta vários aspectos do ministério de Jesus Cristo, porém a cura faz parte importante desta lista. Ao examinar as curas do Novo Testamento, temos alguns esclarecimentos: Alguns “pacientes” melhoravam simplesmente por crer que Jesus Cristo operaria a cura, como a mulher com fluxo de sangue, citada no livro de Lucas (Lucas 8:43-48). Houve vezes, no entanto, em que uma pessoa, além do paciente, teve fé. Vários pais procuraram Jesus, por exemplo, e falaram de seus filhos doentes, sendo estes curados por Ele, sem ligação direta com as pessoas que eram os alvos da petição de cura. Em outra ocasião, no Jardim do Getsêmani, a orelha de um servo foi “reimplantada”, embora ninguém tivesse fé, e fosse movido por amor curativo, além de Jesus. Com base nesses exemplos, fica bastante evidente que a doença não é necessariamente um sinal de pecado ou manifestação de falta de fé. Contudo, ensinar que a saúde instantânea sempre virá para aqueles cuja fé é forte é um erro e deve ser evitado. Quando Jesus Cristo se apresenta aos discípulos de João Batista, em Mateus 11:2-6, deu-lhes detalhes sobre várias curas e, depois da lista das curas mencionadas, Jesus disse: “e o Evangelho do Reino de Deus está sendo pregado, aos de coração aberto e submisso”. Em Lucas 7:21 e 10:9, Jesus Cristo também delegou aos seus discípulos a autoridade para curar ao dizer: “ao entrarem numa cidade, curai os enfermos que ali houver, (...) pois o Reino de Deus é chegado”. 3 NORMAS, REGRAS E ORIENTAÇÕES PARA VISITAS A ENFERMOS Fonte: novo.heufpel.com.br 3.1 A prática O aprendizado da teoria sempre será confirmado e ampliado pela prática. Cada experiência na Capelania, ou cada visita a enfermos, são experiências distintas. Porém, os princípios, os valores, as regras e as normas são semelhantes e válidos para todos os casos, uma vez que os mesmos são universais. 1. O capelão deve visualizar, mesmo que mentalmente, o seu espaço de trabalho. 2. Entender o seu propósito, em estar naquele quarto/enfermaria, naquela Ala, diante daquele paciente. O foco não é religião, é Deus. 3. Ganhar a simpatia do paciente e assim terá o direito, delegado por ele mesmo, a falar-lhe. 4. Trabalhar sempre em sintonia com a equipe médica, com os enfermeiros, com as faxineiras, com as zeladoras e, claro, com o próprio paciente, respeitando-os. 5. Nunca entrar num quarto onde esteja acontecendo algum procedimento, por qualquer profissional da saúde. 3.2 Atitudes recomendadas • Identificar-se apropriadamente. • Reconhecer que o doente pode apresentar muita dor, ansiedade, culpa, frustrações, desespero, ou outros problemasemocionais. O capelão deve estar preparado para enfrentar estas circunstâncias e adaptar-se preventivamente. • Usar os recursos da vida Cristã que são: oração, Bíblia; palavras de apoio, esperança e encorajamento; e a comunhão da igreja. • Quando for orar pelo/com o paciente, o capelão deve ser breve e objetivo. • Deve-se pedir licença para que a oração seja feita. É preciso levar em consideração as circunstâncias do momento, as condições do paciente, as pessoas presentes, e as necessidades citadas. • Deixar material devocional para leitura: um folheto, um Evangelho, o Novo Testamento e demais ferramentas que possam servir de apoio e estímulo. • Visitar obedecendo sempre às normas do Hospital, ou se uma visita no lar é possível, buscando sempre o horário mais adequado e conveniente. • Ser amável com a equipe do hospital e respeitar as normas estabelecidas. • O capelão deve ficar numa posição em que o paciente possa enxerga-lo bem. Isto facilita o diálogo. • Estar sempre atento aos efeitos da dor ou dos remédios. Eles podem alterar o comportamento ou a receptividade do paciente. • Tomar precauções para evitar contato com uma doença contagiosa. No entanto, o capelão deve fazer isso sem demonstrar repugna, nojo, horror, ofender ou distanciar-se do paciente. • Em alguns lugares, é possível aproveitar a capela do hospital para fazer um culto religioso, caso fazê-lo na enfermaria possa atrapalhar o atendimento médico de outros pacientes ou incomodá-los. • Ser sensível aos sentimentos e direitos dos outros. • Avaliar cada visita, para melhorar a atuação. • Lembrar-se de que, durante toda a hospitalização, o quarto do paciente é o seu local de dormir. Este espaço deve ser tratado com o mesmo respeito que a sua casa. • O assistente religioso deve manter-se em contato com a familiares e amigos do paciente, é importante para o hospitalizado. • Vestimentas: deve-se cuidar e zelar do próprio corpo. Ao realizar uma visita o capelão deve ter alguns cuidados, tais como usar roupas longas (calça comprida, camisas ou blusas de preferência com mangas longas) e sapatos fechados. • Higienização das mãos: é a medida individual mais simples e menos dispendiosa para prevenir a propagação das infecções relacionadas à assistência da saúde. Recentemente, o termo “lavagem das mãos” foi substituído por “higienização das mãos” devido à sua maior abrangência. As mãos constituem a principal via de transmissão de microrganismos durante a assistência prestada aos pacientes. A pele é um possível reservatório de diversos microrganismos que podem se transferir de uma superfície para outra, por meio de contato direto (pele com pele) ou indireto. Oo objetivo do capelão é atuar como agentes de cura e conforto, e não como agentes transmissores! • Deve ser dada a liberdade para o paciente falar. Ele tem suas necessidades, que devem tornar-se as prioridades para sua visita. O desabafo é uma ferramenta terapêutica muito eficiente. Hoje em dia pessoas pagam grandes fortunas a profissionais só para serem ouvidas. Se não soubermos ouvir, não saberemos responder! A presença silenciosa e o ouvir em silêncio são maneiras poderosas de apoiar alguém que está doente. Como cristãos temos algo que todos desejam: esperança. É preciso demonstrar amor, carinho, segurança, confiança, conforto, esperança, bondade e interesse na pessoa. O assistente religioso deve ter sempre em mente que o trabalho não é seu, a Palavra que está levando não é sua, a inteligência com que usa esta Palavra também não é sua, a vida que está ajudando não lhe pertence, a sua própria vida também não é sua, a unção com a qual está ungido e revestido também não é sua, e a glória também não é sua! 3.3 Atitudes inconvenientes Algumas atitudes e situações a serem evitadas pelo assistente religioso: • Fazer a visita se estiver doente. • Identificar-se inadequadamente: “sou da igreja tal, onde temos dois mil membros, temos um trabalho...”. • Falar de suas doenças ou suas experiências hospitalares: o capelão não é o paciente, portanto, o foco e a atenção devem estar no paciente, e não em si. • Criticar ou questionar o hospital, o tratamento médico, o diagnóstico. • Sentar-se no leito do paciente ou buscar apoio ou alguma escora no leito. • Entrar numa enfermaria sem bater na porta: Deve-se buscar sempre autorização. • Falar num tom alto ou cochichar baixinho demais. O equilíbrio é apropriado. • Prometer que Deus vai curar alguém. Podemos falar de Deus, sermos a voz de Deus, mas não “somos Deus”. A promessa de cura é extremamente perigosa. • Espalhar detalhes ou informações do paciente. • Tomar decisões no lugar da família ou do paciente: ajudar a orientá-los, sim. Mas deixar as decisões cabíveis sob a competência da orientação médica ou da própria família. • Forçar o paciente a falar ou se sentir alegre. Ou o contrário: desanimar o paciente. O paciente deve ficar à vontade. Numa visita hospitalar ou numa visitação em casa, para atender um doente, sempre pode-se observar níveis diferentes de comportamento. Cada visita precisa ser norteada pelas circunstâncias e os nossos objetivos ou alvos sempre deverão ser da pessoa visitada. É preciso se informar de como o paciente está, para saber qual a abordagem que pode-se usar. As perguntas aos familiares, no primeiro contato, servem como boa base para cultivar um relacionamento pessoal. Não se deve tentar alimentar esperanças infundadas. 4 A CAPELANIA E O PACIENTE TERMINAL Fonte: www.blogdobruxo.com.br O Capelão, pela prática do exercício deste Ministério, irá reconhecer e identificar algumas fases para ter a capacidade de ajudar a superá-las. O luto é um processo lento, que traz cansaço e sofrimento, mas também um processo agudo, quando é repentino ou inesperado. Os pacientes terminais, que estão sofrendo ou sofreram grandes perdas, passam geralmente por 6 (seis) fases com suas famílias. São elas: 4.1 Primeira Fase: Choque É o momento em que a família recebe a notícia do estado real do paciente. Ela pode indicar uma situação terminal ou mesmo um pré-óbito, um coma, ou uma amputação, paralisia, tetraplegia. As reações nesta fase podem ser as mais diversas, tanto de aceitação, revolta e até comportamentos autodestrutivos como arranhar-se, bater no peito, arrancar os cabelos, rasgar-se com raiva, resistir à realidade. Podem ainda ser reações de culpa ou vingança, podem trazer reflexos físicos como vômitos, desmaios, etc. 4.2 Segunda fase: Negação Normalmente esta fase segue-se ao choque, e é preciso compreender a necessidade psicológica que o paciente e os familiares tem de negar os fatos. Geralmente, surgem perguntas como: Será que os exames não foram trocados? Não pode ser! Ele sempre tinha tanta saúde! Devo ou não contar para toda a família? Será mesmo que vai morrer? A resposta terá que ser sábia, branda e positiva, pois ninguém conhece os desígnios de Deus e nem o seu tempo exato. A esperança, sempre positiva, não é escapista, pois traz a oportunidade de levar a pessoa a confrontar os seus valores. 4.3 Terceira fase: Raiva Esta reação é bastante comum. A ira, a raiva, a decepção, podem e devem ser divididas e compartilhadas, mostrando ao aconselhado, ou ao familiar do paciente, que Deus entende as suas emoções e não está ausente ou indiferente à sua dor e muito menos se vingando de algum “comportamento indesejável”. 4.4 Quarta fase: Negociação As pessoas nesse momento se voltam para Deus com promessas de uma vida diferente. Às vezes, este é o momento da renovação de votos do passado. O Capelão pode ajudar a família a aceitar a doença ou a total incapacitação diante de morte iminente, explicando como devem e podem viver plenamente a cada dia. Não é o momento de se levantar culpas. Somente o presente e o futuro podem ser mudados. 4.5 Quinta fase: Desespero Aqui a desesperançaé total. É aqui que o amor de Deus deve ser demonstrado em todo o seu aspecto, como disse Jesus Cristo, nas Bem-Aventuranças: choro, abraço, oração, companhia. Um cuidado que envolve a alma, o corpo e o espírito. Este “agasalho espiritual” deve aquecer a pessoa integral e totalmente. 4.6 Sexta-fase: Aceitação A família também passa por essa fase, e é possível ajudá-la a manter-se alerta às mensagens finais, daquele que pode estar partindo. Muitas pessoas estão enfrentando a perda pela primeira vez. A morte é algo que sempre parece acontecer aos outros e nunca consigo mesmo ou com seus queridos. Dificilmente estaremos preparados para a dor, sofrimento, e a perda da morte. Pode-se oferecer a ajuda da igreja ou a ajuda pessoal para preparar o funeral, roupas, documentos, testamento e outros cuidados legais e financeiros. Sempre é possível ajudar a apontar para o futuro, independente do falecido, ensinando e mostrando que Cristo faz ressuscitar o sonho, o belo, e que opera nas circunstâncias concretas e nas novas perspectivas, de que a vida em Suas mãos sempre será uma constante nova possibilidade. 4.7 A família do paciente terminal Quando o Capelão ajuda a família de um paciente, é provável que o paciente vá escolher aquela instituição novamente para hospitalização futura, pois sabe que ali há este tipo de cuidado e apoio. Um estudo feito recentemente por Vande Creek e Lyon demostrou a satisfação dos pacientes e familiares com as atividades da Capelania. A satisfação com a assistência da Capelania, pelos familiares dos enfermos era até mais alta do que informado pelos pacientes. As visitas do Capelão fazem a hospitalização parecer mais fácil, porque a visita prove conforto, apoio e renovo, e ajuda o paciente a ficar mais tranquilo e confiante. O Capelão ajuda os pacientes, aumenta a prontidão deles para voltar para casa, porque as visitas ajudam a sentirem-se mais esperançosos. Os Capelães fazem um papel importante ajudando também os profissionais da área da saúde a enfrentarem seus problemas pessoais. A palavra encorajadora pode aumentar a moral e o bom senso da pessoa e da equipe. Há relatos de que 73% de médicos de UTI e enfermeiras acreditam que prover conforto a eles é um papel importante do Capelão, e 32% acreditam que a Capelania deveria estar disponível e ajudar o profissional da saúde que estiver com problemas pessoais devido às muitas tensões ao trabalhar com os pacientes e familiares. Esta tensão aumentou recentemente porque mudanças econômicas e sociais conduziram e produziram menos profissionais da saúde que podem prover o cuidado necessário e exigido pelos pacientes seriamente doentes, tornando-se, por isso, muito carentes. 5 OS BENEFICIOS DA CAPELANIA PARA OS HOSPITAIS E PARA A COMUNIDADE A Capelania ajuda hospitais a satisfazerem as expectativas dos pacientes com serviços de cuidados espirituais compassivos, melhorando, assim, a imagem dos hospitais. Numa época de medicamentos cada vez mais evoluídos, as hospitalizações devem ser cada vez mais breves e com cada vez menos contato médico. A Capelania tem oferecido, neste meio, uma das poucas oportunidades para os pacientes discutirem as suas preocupações pessoais e espirituais. Os Capelães fazem um papel importante, muitas vezes, abrandando situações de descontentamento, de pacientes e familiares. Quando pacientes se tornam nervosos e impacientes a Capelania pode mediar estes sentimentos, servindo como um veículo para redução de risco, auxiliando hospitais a desenvolverem sua missão, seus valores, e as declarações de justiça sociais que promovem. A serviço da comunidade a Capelania faz contribuições sem igual, incluindo: • Liderança e participação na comunidade em respostas às crises e aos desastres. Como exemplo, Eleny Vassão, em Santa Maria/RS, no desastre da Boate KISS. • Orientação e apoio para programas das próprias igrejas e da comunidade como ajuda a alcoólatras, dependentes químicos, etc. • Visitas residenciais como tratamento paliativo, às vezes, com acompanhamento psicológico e espiritual às pessoas e aos membros da comunidade com dificuldades para conseguirem tratamento médico/hospitalar, pela crescente falta de vagas e de leitos. Obviamente esta visitação não substitui o trabalho nem o tratamento médico, mas gera renovo e ajuda, trazendo, muitas vezes, descontração e ânimo para conseguirem, por meio da Capelania, uma melhora acentuada. 6 DIREITO À ASSISTÊNCIA RELIGIOSA Fonte: www.lagoinha.com Em nossa Constituição Federal está garantido o direito à Assistência Religiosa aos cidadãos que estiverem em local de internação coletiva (art. 5, inciso VII). Há também uma lei federal (nº 9.982, de 14/07/2000) que dispõe sobre o referido tema. Preconiza o artigo 1º dessa lei que às religiões, de todas as confissões, assegura-se o acesso aos hospitais da rede pública ou privada (…) para dar atendimento religioso aos internados, desde que, em comum acordo com estes, ou com os familiares, em caso dos doentes que não mais estejam no gozo de suas faculdades normais. Diz ainda no artigo 2º: os religiosos chamados a prestar assistência nas entidades definidas no artigo 1º deverão, em suas atividades, acatar as determinações legais e normas internas de cada instituição hospitalar ou penal, a fim de não por em risco as condições do paciente ou a segurança do ambiente hospitalar ou prisional. Observe-se que não é o Estado Brasileiro o responsável pela prestação de serviço religioso, já que o Brasil é um Estado que adota a laicidade e a liberdade religiosa. Logo, a administração pública está, até mesmo, impedida de exercer tal função. Essa assistência tem caráter privado e deve ser assumida pelo representante de cada religião/Igreja, com sua equipe. Todas as pessoas que se encontram, pois, internadas, poderão, se assim o desejarem, ou a pedido da família, receber visitas de representantes habilitados, de suas respectivas instituições religiosas, de sua Religião ou Igreja ou de outra que preferirem livremente. 6.1 Dos direitos do paciente hospitalizado Receber um atendimento atencioso e respeitoso; A dignidade pessoal é um dos direitos do paciente, inclusive o paciente não deve ser obrigado a ficar despido mais tempo do que o necessário, e tem o direito de exigir a presença de outra pessoa do mesmo sexo quando examinado. Sigilo ou segredo médico. Conhecer a identidade dos profissionais envolvidos em seu tratamento. Ter informação clara, numa linguagem acessível, sobre o diagnóstico, o tratamento e o prognóstico. Comunicar-se com pessoas fora do hospital e ter, quando necessário, um tradutor. Recusar tratamento e ser informado sobre as consequências médicas dessa opção. Ser informado sobre projetos e pesquisas referentes ao tratamento, podendo recusar-se a participar dos mesmos. Receber explicação completa referente à sua conta hospitalar. Reclamar, e sua reclamação não deverá ter influência na qualidade do tratamento que deve receber. Recusar a realização de exames desnecessários (por exemplo raios X, exames de sangue e urina etc. executados recentemente). Ter acesso a uma segunda e ou terceira avaliação. Escolher o médico e/ou especialista dentro do âmbito hospitalar. Questionar a medicação prescrita. Ter acesso à sua ficha médica. 7 O VISITADOR, SUA FUNÇÃO E SUAS ATIVIDADES O visitador é um agente de Deus, preocupado em levar aos enfermos a Palavra da Salvação, carinho, motivação e consolo. Para desempenhar bem o seu papel, ele precisa conhecer quatro aspectos fundamentais: espiritual, social, físico e intelectual. Fonte: liberal.com.br 7.1 O Aspecto Espiritual Vida espiritual abundante. O que vai proporcionar uma postura otimista diante do paciente é a vida espiritual do visitador. Convívio com a Palavra de Deus. O visitador deve conhecerbem a sua Bíblia, que será sua ferramenta de trabalho. O ideal é tê-la lido toda pelo menos uma vez, para ter noção do todo. Autoridade. O visitador deve viver o que prega. Vida de oração. O visitador estará sempre orando a volta da cama ou da maca de algum paciente. Mas, antes disso, ele deve estar a sós com Deus muito tempo no seu viver diário. É essa convivência com Deus que vai comunicar vida aos pacientes. Quando o visitador se puser diante de um leito, toda sua dinâmica espiritual dominará o ambiente. Seu olhar, seus gestos, sua face, tudo vai comunicar vida. Não será o tamanho da sua Bíblia, ou o estilo de sua roupa, ou suas palavras medidas que vão impressionar o paciente, mas sua vida, sua dinâmica espiritual. Amor aos enfermos. Amor, muito amor, e capacidade de relacionamento. O visitador deve ter amor no coração. Amor de verdade. Não dá para ser agradável profissionalmente. É preciso realmente possuir essa virtude. O amor pelos enfermos é o sentimento que deve motivar o desejo de ser fazer a visita. Quem se dispõe a fazer essa obra deve estar cheia de amor, o dom maior que recebemos de Deus. 7.2 O Aspecto Social Uma visita diferente. Quando visitamos alguém em sua casa, esperamos que a pessoa abra, e com um sorriso nos convide educadamente a entrar. É também educado que essa pessoa mantenha a conversa animada, deixando- nos à vontade. Em visita a enfermos, seja no hospital ou em casa, não é possível esperar isso. Certamente o enfermo não abrirá a porta, muito menos animará a conversa. Mas o visitante também não precisa ser um grande falante. Ele deve ser comunicativo, simpático e criar um clima agradável, deixando o enfermo à vontade e confortado com sua visita. Humildade. A Bíblia traz textos que ressaltam a importância da humildade. Ninguém pode dispor-se para o trabalho de levar a Boas Novas e o consolo se não for humilde. Motivação correta. A visitação hospitalar é um ministério e exige um chamado especial. Não há outra motivação senão a compaixão pelos enfermos, vidas que precisam do amor de Deus. Disposição para se submeter a regulamentos. São muitas as regras a serem obedecidas quando se está no hospital. Todo hospital tem regulamentos. É preciso, antes de fazer uma visita, informar-se sobre as regras adotadas e segui-las fielmente. Nunca se deve tentar mudar as regras. Elas foram criadas com o objetivo de proporcionar um melhor ambiente ao enfermo. 7.3 O Aspecto Físico Boa saúde física e psicológica. Não pode-se pensar em fazer da visitação um trabalho de autoajuda, ou uma fuga de seus próprios problemas. Se o assistente religioso não está bem, e seus sentimentos estão confusos, não deve-se fazer visitas a enfermos, antes de procurar a ajuda certa para si mesmo. A saúde física também conta. Quem entra num hospital fica exposto há um universo de doenças. Se a saúde física de um visitador não é boa, ele pode se comprometer e comprometer também aquele que está no leito. O visitador não deve visitar uma pessoa enferma, se não está com boa saúde. Se está gripado, vai contagiar ainda mais a pessoa enferma. Se não está se sentindo bem, vai passar um ar de desânimo, e de certo modo será tentado a falar mais da sua doença do que confortar o seu visitado. Neste caso a dinâmica da sua presença poderá ser negativa. Asseio. O visitador deve estar limpo, com roupa simples, sem exageros, de preferência usando um jaleco. Não usar perfumes, pois poderão provocar espirros e reações alérgicas nos pacientes; unhas bem aparadas e limpas, cabelos bem penteados, e cuidar bem do hálito bucal. Higienizar as mãos. Ao entrar numa enfermaria para visitar alguém, deve-se lavar bem as mãos com sabão. Geralmente na entrada das enfermarias há pias para este fim. Para conseguir uma assepsia melhor, deve-se retirar o relógio do pulso, anéis e até aliança, lavando entre os dedos e até o pulso. Se tiver que dar a mão ao enfermo, o que sempre é bom, correrá menos risco de contaminá-lo. 7.4 O Aspecto Intelectual Proclamação da mensagem de Deus. Ser o portador das boas novas. Não há outro jeito de falar sobre a Boas Novas senão pelo exemplo. O assistente religioso precisa buscar com fervor, pela leitura da Bíblia e oração, andar com Jesus. A vida dele deve espelhar tudo o que ele traz no coração. Respeito pela opinião dos outros. O mais importante ao visitar uma pessoa enferma é não esperar que ela se torne membro da igreja, mas sim levá-la ao conhecimento de Jesus. O próprio Mestre falava com amor sobre o Reino de Deus e permitia que as pessoas refletissem sobre o que Ele havia dito. Boa comunicação e controle da língua. “Alguém há cuja tagarelice é como pontas de espada, mas a língua dos sábios é medicina” (Pv. 12.18). Fonte: cbpc.org.br Postura otimista. O visitador não pode aparecer diante do paciente com uma fisionomia de preocupação e pessimismo. Ele deve manter uma fisionomia alegre, simpática e comunicativa. É claro que ele não deve ser um artista. Ele não pode exagerar na sua apresentação de alegria e otimismo. Ao apresentar- se ao paciente, ele fará com seriedade e compenetração, mas o seu interior deve revelar-se numa face de otimismo e esperança. Olhar discreto. A expressão facial do visitador, principalmente dos olhos, quando põe-se diante de um paciente no leito ou enfermaria, pode ajudar ou atrapalhar. Se olhar com espanto, poderá agravar a situação do enfermo. Olhar com simplicidade, discretamente, apenas denotando interesse pela pessoa, pode ajudar. O visitador precisa vigiar bastante o seu olhar. Equilíbrio emocional. É o auto controle. O visitador não pode ser aquela pessoa que fica muito tangida diante de um quadro chocante de doença. Ele deve ter total controle sobre suas emoções, pois situações chocantes surgirão inesperadamente e com frequência. Capacidade de relacionamento afável com qualquer pessoa. Capacidade para conviver com opiniões religiosas contrárias às suas. Conversação com raciocínio claro, discernimento fácil das ideias, respeitando as ideias dos outros. Paciência para ouvir o paciente e até seus familiares que estão por perto. Outro fator importante é que o capelão não deve trabalhar sem a devida autorização do Hospital. De preferência que ele esteja sempre usando jaleco branco e com sua identificação à mostra. 8 OS BENEFÍCIOS: AO PACIENTE E SUA FAMÍLIA, AO HOSPITAL E A COMUNIDADE1 A visita hospitalar e o cuidado espiritual oferecem benefícios distintos para os pacientes e seus familiares, ao pessoal de cuidado médico profissional, ao próprio hospital, e a comunidade num todo. Estes benefícios crescentemente são demonstrados através de estudos de pesquisa. 8.1 Apoio Espiritual e sua Prática. Um corpo crescente de pesquisa demonstra os benefícios da saúde relacionados a religião, fé e sua prática. Um estudo realizado envolvendo aproximadamente 126.000 participantes comprovou que as pessoas que foram assistidas frequentemente por religiosos viveram mais tempo em comparação a pessoas que eram não possuíam essa assistência2. Em um estudo com quase 600 pacientes idosos, gravemente doentes e hospitalizados, que buscaram um envolvimento com o amor de Deus, como também apoio de pastores e voluntários, visitantes membros da igreja, foi constatado que eles estavam menos deprimidos e com qualidade de vida melhor, até mesmo depois de saber da severidade da doença deles3. 1 Texto extraído do link: http://capelaniahospitalar.blogspot.com/ 2 McCullough, Hoyt, Larson, Koenig & Thoresen, 2000. 3 Koenig, Pargament, & Nielsen, 1998. No estudo de 1.600 pacientes com câncer, a contribuição espiritual ao paciente que tinha boa qualidade de vida era semelhante ao seu bem estar físico. Entre pacientes que possuem sintomas significantes como fadiga e dor, aoter uma vida espiritual atuante nota-se uma qualidade mais alta de vida4. Deste modo, esses e outros estudos demonstram que a fé traz impacto de bem estar prático emocional e físico. Capelães, pastores e voluntários fazem um papel integrante de apoio e fortalecimento destes recursos religiosos e espirituais. 8.2 A Importância do Cuidado Espiritual para enfrentar a Doença. Fonte: ogimg.infoglobo.com.br Num estudo com adultos mais velhos, evidenciou-se que mais da metade destes confirmaram que a religião era o recurso mais importante que os ajudou na luta com doença5. Em outro estudo, 44 % dos pacientes informaram que a religião era o fator mais importante que os amparou na luta com a doença deles ou hospitalização6. Já num estudo sobre mulheres com câncer de mama, 88 % informaram que religião era importante para elas e 85 % indicaram que a religião ajudou a enfrentar a doença7. 4 Brady, Peterman, Fitchett, Mo, & Cella, 1999. 5 Koenig, Moberg, & Kvale, 1988. 6 Koenig, Paire, Bearon, & Travis, 1991. 7 Johnson & Spilka, 1991. Semelhante a este, 93 % das mulheres em um estudo de pacientes de câncer ginecológicos informaram que a religião aumentou a sua esperança8. Pesquisas demonstram que estar bem espiritualmente ajuda as pessoas a moderar os sentimentos dolorosos que acompanham a doença: ansiedade 9 , desesperança 10 e isolamento 11 . Muitos pacientes esperam que os capelães e voluntários os ajudem com tais sentimentos infelizes12. O estudioso Paragment cita muitos estudos adicionais que demonstram a importância do cuidado espiritual na luta das pessoas que lidam com doença. Sendo assim, as pessoas procuram cuidados espirituais durante doença e em outras experiências dolorosas. Capelães e voluntários devem estar prontos para dar ajuda espiritual na luta das enfermidades. 8.3 Cuidando das Famílias Frequentemente os familiares sofrem angústias semelhantes ou mais intensas que os entes hospitalizados. Em alguns estudos, pacientes indicaram que as funções da capelania mais importantes são aquelas que estão ajudando seus familiares com os sentimentos associados com doença e hospitalização13. Em determinado estudo, 56 % das famílias identificaram a religião como o fator mais importante para ajudar a enfrentar a doença de um ente querido deles14. Um outro estudo indicou que os familiares queriam o cuidado espiritual dos capelães mais que os pacientes15. Comparado a esses, os familiares dos pacientes de Alzheimer que adoravam a Deus regularmente e que sentia as necessidades espirituais satisfeitas informaram que diminuíram a tensão16. Assim, conclui-se que as famílias confiam em religiosos e recursos espirituais para lidar com os níveis altos de angústia durante a doença de um ente querido. O cuidado de um capelão e voluntários para os familiares tem um impacto positivo. 8 Roberts, Marrom, Elkins, & Larson, 1997. 9 Kaczorowski, 1989. 10 Mickley, Soeken, & Belcher, 1992; Fehring, Moleiro, & Shaw, 1997. 11 Feher & Maly, 1999. 12 Paire, Travis, Koenig, & Bearon, 1992. 13 Carey, 1973; Carey, 1985. 14 Koenig, Paire, Bearon, & Travis, 1991. 15 Vandecreek, Thomas, Jessen, Gibbons & Strasser, 1991. 16 Burgener, 1999. 8.4 A satisfação do paciente e sua família com o cuidado espiritual provido por capelães. Estudos indicam que 70 % dos pacientes está atento às necessidades espirituais relacionados à doença deles17. Outros estudos de pacientes em hospitais de cuidado agudos indicam que entre um terço e dois terços de todos os pacientes queriam receber cuidado espiritual18. Quando os capelães ajudam a família de um paciente, o mais provável é que o paciente vá escolher aquela instituição novamente para hospitalização futura19. Um grande estudo de VandeCreek e Lyon mostrou a satisfação dos pacientes e familiares com as atividades dos capelães: A maioria dos pacientes estava satisfeita com o cuidado espiritual provido por capelães20. A satisfação com a assistência da capelania pelos familiares dos enfermos era até mais alta do que informado pelos pacientes. As visitas do capelão "fizeram a hospitalização mais fácil" porque a visita proveu "conforto" e ajudou para o paciente a relaxar. O capelão ajudou para os pacientes "a melhorar mais rápido" e aumentou a prontidão dos pacientes para voltar para casa" porque as visitas lhes ajudaram a sentir mais esperançoso. Neste sentido, os pacientes e seus familiares estão frequentemente atentos às suas necessidades espirituais durante hospitalização, desejam a atenção espiritual profissional a essas necessidades, e respondem positivamente quando recebem atenção - influenciando na sua recomendação do hospital a outros. 17 Fitchett, Burton, & Sivan, 1997; Moadel, Morgan, Fatone, Grennan, Carter, Laruffa, Skummy, & Dutcher, 1999. 18 Carey, 1985; Fitchett, Meyer, & Burton, 2000. 19 Gibbons, Thomas, VandeCreek, & Jessen, 1991. 20 VandeCreek & Lyon, 1997 8.5 Os Benefícios para o Hospital e Comunidade Fonte: cdn-istoe-ssl.akamaized.net 8.5.1.1 Para os Profissionais de Saúde Profissionais da Saúde, inclusive os médicos e enfermeiras, às vezes experimentam tensão ao trabalhar com os pacientes e familiares. Capelães podem prover cuidado espiritual sensível, encorajador a estes pacientes e as suas famílias por períodos de tempo estendidos, permitindo assim para outros profissionais prestar atenção a outros deveres. Capelães fazem um papel importante ajudando profissionais de saúde a enfrentar os seus problemas pessoais. A palavra encorajadora pode aumentar a moral e bom senso do pessoal. Um estudo relata que 73 % de médicos de UTI e enfermeiras acreditam que prover conforto a eles é um papel importante do capelão, e 32 % acreditam que os capelães deveriam estar disponíveis ajudar pessoal com problemas pessoais21. 8.5.1.2 Para os Hospitais 21 Sharp, 1991. Os capelães e voluntários ajudam hospitais a satisfazer as expectativas dos pacientes com serviços de cuidado espirituais competentes, compassivos, enquanto melhoram assim a imagem do hospital. Em uma época de medicamento de alta tecnologia, hospitalizações breves, e breves contatos com os médicos e outros profissionais de saúde, os capelães e voluntários oferecem uma das poucas oportunidades para os pacientes discutirem as suas preocupações pessoais e espirituais. Os capelães e voluntários que especializaram na área de capelania por organizações profissionais podem oferecer curso de visitação a voluntários. Desde participantes em programas, podem ter vários voluntários prestando cuidado espiritual ao hospital sem custo para a instituição. Os capelães e voluntários fazem um papel importante abrandando situações de descontentamento de pacientes e seus familiares que envolvem o hospital. Quando pacientes se tornam nervosos e impacientes os capelães podem mediar estes intensos sentimentos de modos que conservam valiosos recursos organizacionais. A presença deles pode servir como um veículo por reduzir risco. Os capelães e voluntários podem reduzir e podem prevenir abusos religiosos, agindo de modo a proteger os pacientes de proselitismo. Códigos de éticas profissionais estipulam que os capelães têm que respeitar as convicções de fé e práticas de pacientes e famílias. Eles também ajudam os pacientes e seus familiares a identificar os seus valores relativos a escolhas de tratamento no fim da vida e comunicam esta informação ao pessoal de saúde. Os capelães e voluntários ajudam os hospitais a desenvolver a sua missão, valor e declarações de justiça sociais que promovem curando o corpo, mente e espírito. Especialmente para hospitais que sãos suportados por igrejas, eles promovem consciência dessa missão. 8.5.1.3Para a Comunidade Hospitais são crescentemente sensíveis sobre a sua relação para com a comunidade e os capelães fazem contribuições sem igual provendo muitos serviços da comunidade. Estes incluem: Liderança e participação em programas de sociais da comunidade. Liderança de grupos de apoio para ajudar os membros da comunidade a enfrentar a perda ou crise e viver com a doença. Liderança e participação na comunidade em respostas as crises, desastre, pobreza. Participação do cuidado espiritual que enfatiza conexões entre religiões, igrejas e seus membros. Orientação e apoio para programas das igrejas e da comunidade como ajuda a alcoólatras, drogados, entre outros. Comunidade provendo seminários educacionais em tópicos de espiritualidade, perda e doença, e luta com a crise. Deste modo, pode-se concluir que nos tumultos dos hospitais, os diretores estão procurando constantemente modos para prover ótimos serviços aos pacientes dentro de suas dificuldades financeiras. Eles buscam manter os funcionários de qualidade e manter relações positivas dentro dos hospitais e a comunidade. Os capelães respondem a estas preocupações de modo singular, enquanto utilizam as tradições históricas de espiritualidade que contribui à cura de corpo, mente, coração e alma. BIBLIOGRAFIA BITENCOURT, Lygia. Assistência religiosa no sistema público de saúde: Um estudo de caso/Religious assistance in the public health system: A case study. PLURA, Revista de Estudos de Religião/PLURA, Journal for the Study of Religion, v. 6, n. 2, jul-dez, p. 278-306, 2016. BRAGHETTA, Camilla Casaletti et al. Aspectos éticos e legais da assistência religiosa em hospitais psiquiátricos. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 38, n. 5, p. 189-193, 2011. COSTA, Ana Filipa Ladeira Félix da. Assistência ao doente moribundo no século XVIII. 2012. Tese de Doutorado. DA SILVA, Aluísio Laurindo. FUNDAMENTO HISTÓRICO DA CAPELANIA. Manual do capelão: Teoria e prática, 2017. DE FREITAS, Marta Helena. Religiosidade e saúde: experiências dos pacientes e percepções dos profissionais. Revista Pistis Praxis, v. 6, n. 1, p. 89-105, 2014. DELGADO CARLOS, Djailson José; MEDEIROS GERMANO, Raimunda; ITAYRA PADILHA, Maria. Participação de religiosas na composição do serviço de enfermagem em um hospital universitário (1909-2005). Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, v. 15, n. 3, 2014. FAGUNDES, Renan Carvalho et al. O cuidado espiritual dos enfermos: análise socioantropológica da ação de grupos religiosos em um hospital da região metropolitana de Porto Alegre. 2017. FERREIRA, Damy; ZITI, LIZWALDO Mário. Capelania Hospitalar Cristã. SOCEP, São Paulo, 2002. FRANCISCO, Daniel Pereira et al. Contribuições do serviço de capelania ao cuidado de pacientes terminais. Texto contexto-enferm, v. 24, n. 1, p. 212-9, 2015. GOBATTO, Caroline Amado; DE ARAUJO, Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira. Religiosidade e espiritualidade em oncologia: concepções de profissionais da saúde. Psicologia USP, v. 24, n. 1, p. 11-34, 2013. JÚNIOR, Eudoxio Mendes dos Santos. Capelania Hospitalar. Disponível em: http://capelaniahospitalar.blogspot.com/. Acesso em: 17 set. 2018. MARTIN, Leonard M. A ética da humanização hospitalar. Mundo saúde (Impr.), v. 27, n. 2, p. 206-218, 2003. RODRIGUES, Rafael Souza et al. A missão da Igreja junto a pessoas enfermas no contexto da capelania hospitalar: uma reflexão a partir da teologia da missão integral. 2016. SILVA, Júlio Reis. A fundamentação constitucional do direito à assistência religiosa. Chiado Editorial, 2014. 9 LEITURA COMPLEMENTAR RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE EM ONCOLOGIA: CONCEPÇÕES DE PROFISSIONAIS DA SAÚDE Autoras: Caroline Amado Gobatto Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de Araujo Disponível em: http://www.periodicos.usp.br/psicousp/article/view/55988/59361 Acesso em: 18/09/2018 Resumo: A literatura especializada vem identificando influências positivas e negativas de crenças religiosas e espirituais no enfrentamento de enfermidades, tais como o câncer. Sendo assim, a presente investigação teve como objetivo conhecer, analisar e compreender as concepções de profissionais da saúde acerca da associação entre religiosidade, espiritualidade e saúde em Oncologia. Em uma primeira etapa, utilizou-se um questionário eletrônico, respondido por 85 profissionais. Na etapa posterior, sete profissionais participaram de grupos focais online. Os resultados indicaram que aproximadamente metade dos participantes da primeira etapa não praticam atividades religiosas. Porém, 85% revelaram grau elevado de espiritualidade. Temas religiosos/ espirituais são frequentes nos atendimentos. Os integrantes dos grupos relataram não ter recebido formação acadêmica para abordar a temática. Em suma, os participantes evidenciaram concepções positivas sobre a influência da religiosidade/ espiritualidade para a saúde, com efeitos negativos em menor proporção. Pesquisas futuras podem subsidiar programas destinados à capacitação dos futuros profissionais da área oncológica. Palavras-chave: Religiosidade. Espiritualidade. Enfrentamento. Câncer. Profissionais da saúde. Introdução Nas sociedades ocidentais, religião e ciência possuem um histórico de conflitos que se estende ao campo da saúde. Assim, desde a Revolução Científica, iniciada no século XVI, o enfoque explicativo das doenças supervalorizou características físico- biológicas e buscou excluir aspectos psíquicos, sociais e espirituais, contribuindo para a supremacia do paradigma biomédico. Porém, no decorrer do século XX, diversas transformações foram suscitadas pelo acompanhamento prolongado de enfermos crônicos e a constatação da influência de fatores psicológicos para a saúde (Castañon, 2007; Straub, 2005). Progressivamente, em saúde, reafirma-se o paradigma biopsicossocial, que preconiza a atenção integral pela inclusão de parâmetros políticos, econômicos e culturais (Gurung, 2010; Straub, 2005). Cabe lembrar que até mesmo a Organização Mundial da Saúde passou a destacar a dimensão espiritual em sua delimitação conceitual da saúde, propiciando a ampliação do escopo das pesquisas na área (Organização Mundial da Saúde, 1999). De fato, é notável o aumento das publicações que almejam relacionar saúde e religiosidade/espiritualidade. Contudo, no Brasil, a produção encontra-se muito aquém das publicações internacionais em termos quantitativos. Mas, um exame atento dessas produções, além de revelar um interesse crescente, indica também que os autores têm uma visão positiva da influência de aspectos religiosos e espirituais para a saúde dos indivíduos (Lucchetti, Almeida, & Granero, 2010; Liberato & Macieira, 2008; Moreira-Almeida, 2010; Paiva et al., 2009; Panzini & Bandeira, 2007). Enfrentamento religioso/espiritual Inicialmente, é preciso realçar a essência multidimensional das noções de religião, religiosidade, espiritualidade, crenças e fé, não viabilizando, portanto, definições consensuais (Dalgalarrondo, 2008). James (1902/1994) focaliza a vivência pessoal da religião, definida como experiências, atitudes e sentimentos dos homens em sua relação individual com o divino. De maneira distinta, Geertz (1973/2008) sublinha a dimensão cultural e simbólica da religião, destacando o papel dos símbolos sagrados na configuração da visão de mundo de cada indivíduo. Para alguns estudiosos, a religião engloba características comportamentais, sociais e doutrinárias específicas compartilhadas por um grupo e praticadas pelo indivíduo; ao passo que a espiritualidade está relacionada ao transcendente e ao direcionamento de questões sobre o significado da vida não necessariamente presentes em crenças e práticas religiosas (Fetzer Institute, 1999; Rocha, Panzini, Pargendler, & Fleck, 2008; Sulmasy, 2009). Ademais, uma certa dicotomia entre religiosidadee espiritualidade pode ser apreendida em trabalhos que as distinguem respectivamente em: institucionalização e individualidade; estagnação e dinamismo; objetividade e subjetividade; crenças e experiências/emoções; negativa e positiva (e. g. Zinnbauer & Pargament, 2004). Todavia, Pargament (1997) alerta que ambas estão intimamente conectadas, não se justificando a pressuposição de uma “espiritualidade- pessoal” sempre positiva e de uma “religiosidade-institucional” sistematicamente prejudicial. Segundo esse autor, há inúmeros exemplos empíricos que contradizem esses pré-julgamentos, a despeito de existir no meio acadêmico a preferência de alguns estudiosos pela espiritualidade ao invés da religião. Em geral, denomina-se como enfrentamento o conjunto de esforços cognitivos e comportamentais destinados ao manejo de situações externas e/ou demandas internas que excedem os recursos pessoais do indivíduo e ocasionam sua sobrecarrega (Folkman, Lazarus, Gruen, & DeLongis, 1986). Especificamente, quando o indivíduo utiliza a religião ou a fé como estratégia de manejo do estresse, a literatura reconhece o enfrentamento religioso/espiritual (ERE), cujas estratégias podem ser classificadas como positivas ou negativas, em função das consequências para a saúde dos indivíduos. Como exemplo de ERE positivo, costuma-se mencionar: sentimentos de segurança e conforto, conexão com os outros e crença no sentido da vida. Em contraposição, o ERE negativo parece se associar a uma visão pessimista do mundo e pouca autoconfiança (Panzini & Bandeira, 2007; Pargament, 1997; Pargament, Smith, Koenig, & Perez, 1998; Tix & Frasier, 1998). Com relação à avaliação do ERE, destacam-se dois instrumentos: a RCOPE scale, desenvolvida por Pargament, Koenig e Perez (2000), e sua versão abreviada, BriefCOPE scale (Pargament, Tarakeshwar, Ellison, & Wulff, 2001). No âmbito brasileiro, a adaptação e a validação do primeiro instrumento – nomeado como Escala de Coping Religioso-Espiritual (Escala CRE) – foi empreendida por Panzini (2004); já a versão abreviada foi adaptada e validada em uma amostra de indivíduos soropositivos e intitulada Escala Breve de Enfrentamento Religioso (Faria, 2004). Modelos explicativos têm sido elaborados na tentativa de compreender a relação entre religiosidade/espiritualidade e saúde, englobando as dimensões comportamental (dietas, comportamento de risco), social (suporte emocional de membros da instituição religiosa), psicológica (crenças e cognições que influem no enfrentamento e na qualidade de vida) e fisiológica (práticas que afetam a resposta de estresse) (Fitchett & Canada, 2010). Religiosidade e espiritualidade no contexto oncológico Apesar dos avanços conquistados em Oncologia o câncer ainda desencadeia ideias de morte e finitude, somadas às vivências de restrições corporais, dores e sofrimentos, que geram questionamentos dos valores e do projeto existencial. Nesses momentos de ressignificação, religiosidade e espiritualidade podem ter efeito positivo para o paciente, por um lado, contribuindo para a diminuição das experiências negativas provocadas pelo câncer e, por outro lado, aprimorando sua qualidade de vida (Aquino & Zago, 2007; Prada, 2006; Tarakeshwar et al., 2006; Thuné-Boyle et al., 2011). Estudos com mulheres brasileiras apontaram correlações positivas entre apoio social e espiritualidade com o enfrentamento saudável do câncer de mama (Hoffmann, Müller, & Frasson, 2006; Hoffmann, Müller, & Rubin, 2006). De modo semelhante, a fé foi avaliada como fonte de conforto e segurança para pacientes com câncer cérvico- uterino (Oliveira, Fernandes, & Galvão, 2005). Em pacientes laringectomizados, a religião foi considerada um suporte significativo (Aquino & Zago, 2007). Pacientes idosos relacionaram a fé religiosa à esperança, ao equilíbrio e ao fortalecimento (Teixeira & Lefèvre, 2008). Porém, experiências negativas como a manutenção da rigidez e de sentimentos de autocondenação, também foram identificadas (Barbosa & Freitas, 2009). Diante da constatação de influências tanto positivas como negativas da religiosidade/espiritualidade, é incontornável que profissionais de saúde estejam atentos a tais dimensões, inclusive solicitando a colaboração de representantes religiosos ou de profissionais especializados nestas questões para o manejo clínico de seus pacientes oncológicos. Em escolas médicas americanas, disciplinas preparatórias para lidar com as questões religiosas e espirituais dos pacientes são comuns (Koenig, Hooten, Lindsay-Calkins, & Meador, 2010). É preciso explicitar também que em muitos países da América do Norte e da Europa a figura do capelão está consolidada nas instituições hospitalares (Fitchett, King, & Vandenhoeck, 2010). Ademais, segundo Maciejewski et al. (2012) a articulação com profissionais religiosos é essencial no acompanhamento de pacientes oncológicos e, especialmente, daqueles que se encontram em cuidados paliativos. No Brasil, a legislação vigente estabelece diretrizes para serviços dessa natureza (Constituição Federal de 1988; Lei nº 9.982/2000; Decreto Nº 30.582/2009), porém, ainda são escassas as iniciativas nesta direção. Aliás, em um estudo com médicos oncologistas, Junqueira (2008) verificou que, apesar dos esforços para contemplar a subjetividade dos profissionais em unidades de cuidados paliativos, impera o despreparo para lidar com a dimensão religiosa nos atendimentos. Tendo em vista a diversidade religiosa brasileira, bem como a sua elevada importância atribuída pela população, os estudantes das profissões de saúde necessitariam receber alguma formação sobre o assunto (Dal-Farra & Geremia, 2010; Moreira-Almeida et al., 2010). A falta de treinamento e de habilidade em identificar as demandas dos usuários, assim como o receio de influenciar as crenças dos pacientes, constituem barreiras percebidas pelos próprios profissionais, que dificultam a abordagem da religiosidade/espiritualidade nos atendimentos (Balboni et al., 2007; McCauley et al., 2005; Monroe et al., 2003). Em contraponto, diversos estudiosos ressaltam benefícios da religiosidade/espiritualidade para o enfrentamento de doenças, justificando a inclusão da temática nas intervenções em saúde (Balboni et al., 2007; McCauley et al., 2005; Monroe et al., 2003; Panzini & Bandeira, 2007; Saad, Masiero, & Battistella, 2001). Para alguns autores, isto propicia a compreensão das crenças dos pacientes e sua relação com a doença, permitindo detectar interferências negativas na adesão aos tratamentos (Koenig, 2006; Post, Puchalski, & Larson, 2000). O preparo dos profissionais da saúde brasileiros para lidar com a temática religiosa/espiritual também tem sido examinado (Peixoto, 2006; Tomasso, Beltrame, & Lucchetti, 2011). Alves (2004) averiguou a opinião de jovens universitários de diversos cursos sobre o ensino religioso em disciplinas da graduação. Constatou-se a necessidade dos participantes em romper com as antigas tradições religiosas em prol de uma vivência da espiritualidade singular. Quanto às práticas de ensino, sugeriram- se debate crítico e livre expressão da opinião dos alunos sobre as doutrinas religiosas. A religiosidade/espiritualidade dos profissionais da saúde também foram foco de estudos (Espíndula, Valle, & Bello, 2010; Junqueira, 2008). Ecklund, Cadge, Gage e Catlin (2007) levantaram as crenças religiosas e espirituais de 74 oncopediatras. Do total, 22 respondentes (29,7%) não participavam de cultos religiosos no último ano do curso, porém, 18 (24,3%) realizaram tais atividades de duas a três vezes por mês. Mais da metade (52,7%) presumiram que suas crenças podiam influenciar a interação com colegas e pacientes. Tendo em vista tais evidências destacadas pela literatura especializada, realizou-se uma pesquisa com o objetivo geral de conhecer, analisar e compreender as concepçõesde profissionais da área da Oncologia sobre religiosidade, espiritualidade e saúde, bem como a abordagem dessa temática com pacientes em seus atendimentos. Método Delineou-se um estudo descritivo e exploratório, quanti-qualitativo, organizado em duas etapas e previamente autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. A primeira etapa foi conduzida com uma amostra de conveniência constituída por 85 profissionais com formação completa na área da saúde que atuavam na assistência a pacientes oncológicos. Desses, sete profissionais foram distribuídos em dois grupos focais online (n = 3 e n = 4) na segunda etapa do estudo. A pesquisa foi divulgada na rede de contatos profissionais da área de saúde, utilizando-se a estratégia comumente denominada “bola de neve”. Inicialmente, a coleta de dados foi feita por meio de um questionário eletrônico elaborado pela ferramenta Survey Monkey e disponibilizado na internet. O conteúdo englobava: a) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); b) perguntas destinadas ao levantamento de dados sociodemográficos, hábitos religiosos, crenças dos participantes e presença de aspectos religiosos/espirituais em seus atendimentos; c) Escala Breve de Enfrentamento Religioso (Faria, 2004), composta por 14 itens para avaliação de padrões positivo e negativo, medidos em uma escala tipo Likert (1-4); d) convite para participar da segunda etapa da pesquisa. Durante os grupos focais online, realizados em data e horário previamente agendados, adotaram-se TCLE específico e roteiro com cinco questões norteadoras da discussão, que também ocorreu em ambiente virtual, utilizando-se o software GVO Conference. Os dados provenientes do questionário eletrônico foram submetidos à análise estatística descritiva (frequência e porcentagem) e inferencial (Teste t), com o auxílio dos programas Statistical Package for Social Science (SPSS versão 18.0) e do Excel Starter 2010. Os relatos reunidos ao longo dos grupos online foram submetidos à análise de conteúdo temática (Bardin, 2009). Resultados e discussão Etapa questionário eletrônico A Tabela 1 apresenta os dados sociodemográficos relativos a amostra desta etapa. As Figuras 1 e 2 caracterizam os hábitos religiosos dos participantes. Aproximadamente metade dos respondentes assinalou não participar de atividades religiosas públicas (instituições religiosas) ou privadas (leituras religiosas), denotando que tais atividades não fazem parte da rotina dos profissionais. Contudo, ao se comparar a frequência a instituições religiosas dos psicólogos da amostra, verificaram-se porcentagens próximas de profissionais que negaram (45%) e aqueles que se consideraram muito assíduos (40%). Sendo assim, verifica-se que os participantes dessa categoria profissional expuseram hábitos religiosos diversos. Figura 1. Grau de envolvimento em práticas religiosas públicas (N = 85). Fonte: Figura 2. Grau de envolvimento em práticas religiosas privadas (N = 85). A maioria dos respondentes (57,6%) se avaliou como muito ou completamente espiritualizada. Apenas dois médicos e um psicólogo negaram que a espiritualidade faça parte de suas vidas. Esse dado corrobora o estudo de Paiva (2002), cujos profissionais não se mostraram contrários à ideia de divindade. Tal como já discutido na literatura, é possível supor que os profissionais expressam necessidade de rompimento com as antigas tradições religiosas, aspirando vivenciar a espiritualidade de maneira singular (Alves, 2004). A análise da percepção de médicos, nutricionistas e psicólogos sobre as influências que a religião pode exercer na saúde das pessoas mostrou maiores efeitos positivos do que negativos (Tabela 2). A exemplo de evidências já reportadas por vários pesquisadores, o benefício mais frequentemente assinalado foi o enfrentamento de doenças (Faria & Seidl; 2005; Panzini & Bandeira, 2007; Pargament, 1997; Pargament, 1998; Pargament et al., 2000; Pargament et al. 2001). No que tange à solicitação de ajuda religiosa ou espiritual pelos pacientes oncológicos, pouco mais da metade dos participantes (54,1%) respondeu afirmativamente, sendo que 23 eram psicólogos. Para 85% dos profissionais, os temas religiosos/espirituais são frequentes nos atendimentos. Quanto à abordagem da temática pelos profissionais da saúde, a maioria dos respondentes (52,9%) informou que se deve lidar apenas com o que o paciente relatar. Ressalta-se que apenas nove respondentes expuseram que nenhum profissional da saúde deve abordar a temática nos atendimentos (Figura 3). Muitos estudiosos admitem que as vivências relacionadas à religião/espiritualidade do paciente sejam averiguadas atribuindo um papel ativo ao profissional da saúde no levantamento dessas informações desde que se assegure o respeito às crenças dos pacientes (Koenig, 2006; Panzini & Bandeira, 2007; Saad et al., 2001). Fonte: Figura 3. Percepção sobre a abordagem da temática religiosa/espiritual com pacientes oncológicos. Quanto ao direcionamento das necessidades religiosas e espirituais dos pacientes oncológicos, aproximadamente metade dos participantes (48,2%) concordou que não existe profissional responsável por esse tipo de apoio em seu local de trabalho. O apoio do capelão foi mencionado por 15 participantes, o que representa menos de um quinto da amostra. Este resultado confirma que não há uma participação efetiva deste profissional em equipes de saúde, apesar da legislação reguladora que prevê a atuação dos capelães em instituições hospitalares brasileiras (Constituição, 1988; Lei nº 9.982/2000; Decreto Nº 30.582/2009; Gentil, Guia, & Sanna, 2011). Embora a temática religiosa seja frequente nos atendimentos, a maioria dos profissionais do estudo não encaminhou pacientes a representantes religiosos na própria instituição (83,5%). Esse dado pode estar relacionado ao fato de não haver um profissional de referência. Na implementação de um serviço de suporte religioso, estudiosos indicam ser necessário priorizar ações integradas entre o trabalho de profissionais da saúde e religiosos, respeitando-se as demandas da família e do paciente (Fitchett et al., 2010; Junqueira, 2008; Maciejewski et al., 2012). A percepção dos profissionais da saúde sobre a influência da religiosidade/ espiritualidade na experiência oncológica é ilustrada na Figura 4. A questão “fonte de conforto” foi a mais selecionada pelos participantes, correspondendo a 97,6% da amostra. O item “pessimismo sobre a doença e o prognóstico” recebeu a menor quantidade de indicações. Em termos gerais, foram apontadas mais influências positivas do que negativas, tal como salienta a literatura (Faria & Seidl; 2005; Fitchett & Canada, 2010; Koenig, 2009; Panzini & Bandeira, 2007; Pargament, 1997). É válido destacar, porém, que grande parte dos profissionais considerou que os pacientes podem atribuir ao câncer um caráter punitivo. Nesse sentido, estudos vêm alertando que a percepção da doença como punição está geralmente associada a maneiras desadaptativas do enfermo ao lidar com o câncer. Assim, o enfrentamento negativo deve ser averiguado pelo profissional em seus atendimentos a fim de que possam ser promovidas maneiras mais assertivas de lidar com a enfermidade (Barbosa & Freitas, 2009; Maciejewski et al., 2012; Thuné-Boyle, Stygall, Keshtgar, Davidson, & Newman, 2011). Figura 4. Percepção sobre as influências da religiosidade/espiritualidade na experiência oncológica do paciente. A Escala Breve de Enfrentamento Religioso foi respondida por 82 participantes. Desses, 10,5% sinalizaram não recorrer a estratégias religiosas/espirituais para lidar com situações de estresse. Mais da metade dos respondentes (53,6%) indicou não utilizar estratégias de cunho negativo. Constatou-se, portanto, maior utilização
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