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resumo prática de leitura e escrita

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Prática de Leitura 
e Escrita
5
• Leitura
• Leitura e leituras
• Os entornos da leitura
Em cada unidade, você encontrará, além de um aviso e esta orientação de estudos:
- a contextualização, em que você terá uma grande questão respondida: “Para que servem esses temas 
na minha vida?” assim você verá a relação entre os temas trabalhados e a função desses temas no seu 
cotidiano e na vida profissional;
- o texto-teórico da unidade, em que os conceitos básicos da unidade serão apresentados com a 
bibliografia para compreender o assunto e aprofundá-lo;
- a apresentação narrada é uma apresentação em powerpoint, contendo os pontos centrais da unidade 
e do texto-base;
- a vídeoaula da unidade;
- a atividade de sistematização (AS) são atividades com as quais você poderá verificar se o que foi visto 
e ouvido nas seções anteriores foi apreendido. São atividades de autocorreção, seguidas sempre do 
gabarito e uma explicação para que você possa conferir o que errou ou acertou e confirmar os porquês;
- a atividade de aprofundamento (AP), consiste em atividades de produção escrita em um Fórum de 
Discussão ou em uma atividade de Produção Textual. Você deverá, então, participar de uma discussão 
coletiva a partir de uma questão colocada no fórum ou produzir um texto sobre o tema da Unidade, 
a partir de uma dada proposta. Essas atividades irão compor sua avaliação no Ambiente Virtual de 
Aprendizagem (AVA) Blackboard (Bb). Fique bem atento às instruções! 
 · Nesta Unidade – “O prazer de ler e o ler por prazer” – 
começamos a disciplina Prática de leitura e escrita na qual 
você encontrará, no texto teórico, alguns caminhos possíveis 
para realizar a leitura de um texto, identificando seu tema, 
gênero e a sua esfera de circulação, isto é, em que situações 
de comunicação e de uso esses textos circulam na sociedade. 
O prazer de ler e o ler por prazer
• A leitura do texto escrito e as distâncias
• Quem escolhe o tipo de leitura a ser feita? 
• Um texto, múltiplas leituras
6
Unidade: O prazer de ler e o ler por prazer
Contextualização
Como futuro professor do Ensino Fundamental e Médio, pense em como você deverá 
estimular os seus alunos à leitura e, principalmente, ao prazer proveniente desse ato. Para 
isso, torna-se necessário refletir sobre o seu papel de leitor, principalmente por ser professor. 
Gostar de ler e de interpretar textos já é um grande passo, porém, mais do que isso, o seu 
prazer pela leitura e o conhecimento que você adquire com este ato pode chamar a atenção 
de seus alunos e estimulá-los.
Vamos pensar em uma atividade prática de leitura em sala de aula: você pode escolher um 
poema, como o exposto a seguir, e pedir para alguns alunos fazerem uma leitura em voz alta:
A lagartixa (Álvares de Azevedo)
A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.
Posso agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores
Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz.html#alagartixa,Acesso em 12.03.2013)
Nessa primeira leitura em voz alta, procure orientar os seus futuros alunos a refletirem sobre 
os sentimentos envolvidos no poema e que a leitura deve acompanhar esses sentimentos, 
além de respeitar os sinais de pontuação e o encadeamento dos versos. A leitura, antes 
de mais nada, deve ser interpretativa e um aluno pode opinar sobre a leitura do outro, no 
sentido de ajustá-la e melhorá-la.
7
Leitura
Vamos começar com um alongamento mental...
Imagine a seguinte situação: 
Você vê pegadas que saem do mar, atravessam a faixa da praia, parecem parar em uma esteira, mas 
continuam até chegar a um carrinho de sorvete... O que você deduz?
Provavelmente que a pessoa que saiu do mar, pegou o dinheiro na esteira e foi comprar um 
sorvete. É uma hipótese que tem grande probabilidade de ser verdade, porque sua experiência 
de mundo permite criar essas relações entre fatos e intencionalidades. 
Ou seja, é muito provável que, num dia de verão, a pessoa que está tomando banho de mar 
queira um sorvete, um doce muito apreciado, principalmente na praia ou nos dias quentes. Para 
comprar o sorvete, porém, é necessário dinheiro, então, a parada na esteira teve essa função. As 
esteiras são os lugares onde se deixam os objetos quando se entra no mar (chinelos, óculos etc.).
Você só conseguiu entender as pegadas como um texto com início, meio e fim, ao “ler” esse 
texto todo, montando hipóteses que foram sendo confirmadas ou refutadas pelos elementos que 
você, nesse caso, encontrou no chão.
Se você prestar mais atenção aos detalhes pode chegar a definir se se trata de um adulto ou 
uma criança, mulher ou homem. Como você fez isso?
Trata-se da observação da pegada, o tamanho, a largura, a distância dos dedos etc.
Essa “dedução” é um tipo de leitura como tantos outros que existem no mundo e que permitem 
a todos nós nos relacionarmos com as pessoas a nossa volta, obtermos informações, entendermos 
os fatos que acontecem ao nosso redor e muitas outras ações derivadas dessa descodificação e 
atribuição de sentidos a um texto. O texto que você “leu” era composto por pegadas na praia, com 
ponto de partida (o mar), percurso (a esteira) e ponto de chegada (o carrinho de sorvete).
Leitura e leituras
Há muitos tipos de leitura no mundo. Essas leituras são aprendidas no convívio familiar 
e social, na vida cotidiana e, tradicionalmente, como na nossa disciplina, são aprendidas na 
escola. Um dos objetivos da escola é ensinar a ler e a escrever em língua materna.
A leitura em língua materna (na nossa disciplina, a língua portuguesa), como em outras, tem de ser 
aprendida, porque requer o conhecimento da língua e de formas específicas de se organizá-la para a 
comunicação entre as pessoas que vivem em sociedade, o que acontece por meio dos gêneros.
8
Unidade: O prazer de ler e o ler por prazer
Os textos que lemos são escritos de acordo com os gêneros que existem em nossa sociedade. Cada 
gênero tem uma função social, um valor, um certo tratamento dado aos temas abordados e um estilo. 
Alguns gêneros existem há muitos séculos como as cartas e outros são muito novos como o e-mail, 
dessa forma, é possível constatar que todos os gêneros têm sua própria história, que está integrada à 
história do grupo social em que se insere. 
Existem gêneros orais e escritos. Muitos dos gêneros orais, você já domina. Aprendeu alguns deles 
pelo uso e pela necessidade de interação e de convivência no mundo. O telefonema é um deles. 
Mesmo que os aparelhos tenham mudado (fixo ou celular e afins), as conversas telefônicas se 
realizam todos os dias, e o famoso “alô” ainda funciona, embora os temas das conversas, a duração e 
as fórmulas de despedida (“até logo”, “tchau” etc.) tenham mudado, porque dependem das relações 
entre os participantes da conversa, grau de intimidade, local em que se encontram e tema abordado. 
Um casal de namorados pode demorar mais para se despedir, enquanto um chefe pode desligar 
o telefone depois de ter dito o que precisava informar ao seu funcionário. Pense em situações em 
que as características dos participantes da conversa telefônica, o tema abordado, local em que se 
encontram modificam o diálogo entre ambos.
BRANDÃO, H.H. N. Gêneros do discurso: unidade e diversidade. 
Disponível em: https://bit.ly/2TuM3gk
SILVA, S. da. Teoria aplicada sobre gêneros do discurso/textuais. 
Disponível em: https://bit.ly/38VdlqJ
Objetivos de aprendizado
Nas aulas de leitura, focaremos a atenção nos gêneros escritos, buscando os elementos que os 
compõem. Em cada texto, estudaremos, desde a esfera de circulação, autor e leitor e oestilo.
Os entornos da leitura
Os textos, sejam verbais ou não verbais, exigem que o leitor tenha conhecimento de 
mundo e dos códigos utilizados, para que assim ele possa determinar o valor de cada 
elemento presente nos textos.
Assim, quando lemos um texto, buscamos, nessa posição de leitores, elementos – provenientes 
do contexto e do próprio texto – que permitam a atribuição de sentidos. É o equilíbrio entre 
elementos do contexto e do texto que auxiliam na decifração do texto.
9
A leitura é um processo, portanto, que coloca lado a lado autor / falante e leitor/ ouvinte 
intermediados pelo texto. Cada texto, como aparece no box sobre gêneros, pode ser oral ou 
escrito; e também verbal ou não verbal, ou ainda misto, isto é, verbal e não verbal, como 
nas histórias em quadrinhos. O que garante a legibilidade dos textos é a unidade de sentido, 
negociada na interação entre leitor / ouvinte e autor / falante.
Quando estamos conversando com amigos íntimos, há uma interação que, para outras 
pessoas, pode parecer sem sentido. Conversamos de maneira aparentemente cifrada, pois nos 
entendemos com poucas palavras e muitos implícitos (informações que dependem do grau de 
conhecimento entre os envolvidos, da situação em que estão e não propriamente do que é dito). 
Por exemplo: se temos um amigo que é mais “esquentado”, o seguinte diálogo faz sentido:
- O vendedor insistiu muito com o Carlos. – disse o primeiro amigo
- Deu B.O.? – perguntou o segundo.
- Quase... – responde rindo o primeiro.
B.O. (boletim de ocorrência) aqui significa que Carlos teria brigado com o vendedor por causa 
da insistência. Em outra situação, o segundo amigo continuaria ouvindo a história sem esse tipo 
de comentário, que resulta do fato de Carlos ser bastante combativo e ter pouca paciência, 
daí a inferência do segundo amigo sobre uma suposta briga de Carlos com o vendedor e o 
consequente B.O. – boletim feito na ocasião da denúncia na delegacia.
Para entender melhor como funcionam os implícitos no texto, imaginemos 
a seguinte fala de um diálogo:
- Pedro parou de fumar! (posto)
Esse é o posto. O posto está marcado linguisticamente (pelas palavras ditas) e não 
pode ser negado, pois está explícito.
O pressuposto, um dos implícitos do texto, está marcado nos elementos 
linguísticos, pois se Pedro parou de fumar, o verbo “parar” implica que ele fumava antes. Assim 
cada leitor ou ouvinte utiliza seus conhecimentos linguísticos e de mundo para compreender o 
que está sendo dito.
O outro implícito é o subentendido, pois, de acordo com a situação imediata que 
envolve os falantes (as relações entre eles – se são amigos, conhecidos, pai e filho, empregado 
e patrão -,e a situação ampliada em que se inserem (os participantes do diálogo podem estar 
no século XXI em que o hábito de fumar é combatido por questões de saúde ou estar no século 
XIX, em que fumar fazia parte dos hábitos de um homem elegante), há várias respostas para 
essa fala que dependerá dessa situação. A pessoa que responderá pode entender a frase como 
uma informação ou como uma forma de repreensão.
Se a pessoa entender como uma informação que a outra está fornecendo, ela pode responder:
- Ele disse mesmo que queria parar! Ou: – Que bom, agora os problemas respiratórios 
dele vão sumir.
10
Unidade: O prazer de ler e o ler por prazer
Em outro caso, se a pessoa entender essa fala como uma forma de repreensão, a resposta 
será bem diferente:
- Eu já disse que cada um pára quando quer. Ou: - Você sempre fica me pressionando. Toda 
hora vem com sermão. Eu já sei que preciso parar de fumar. 
A resposta está baseada no que a pessoa entendeu do fato e não do que foi dito. Trata-se do 
subentendido que é como o ouvinte ou o leitor compreende o que foi dito segundo 
suas expectativas; a situação em que ocorre a conversa ou o momento em que 
acontece a leitura; a relação que tem com o outro falante / o autor ou ainda com 
o tema apresentado. Isso resulta do fato de que não dizemos tudo, pois se o fizéssemos a 
comunicação seria lenta e menos eficaz. Conforme os gêneros que estamos utilizando, podemos 
explicitar mais ou menos informações, visões de mundo e opiniões.
Os gêneros jurídicos, por exemplo, deixam menos informação implícita por trabalharem com 
fatos, provas e argumentos que levem ao ganho do processo (livrar um réu de uma acusação 
ou conseguir que ele seja considerado culpado por aquilo de que foi acusado – depende de que 
lado o advogado está). Já os gêneros publicitários deixam mais elementos implícitos por terem 
como objetivo não somente que os consumidores considerem o produto melhor, mas que tenha 
o desejo de comprar. Por essa razão, os gêneros publicitários criam certas imagens baseadas nas 
expectativas nos consumidores e não somente na leitura dos dados apresentados.
O subentendido, às vezes, se refere a como um autor ou um falante entende os temas tratados 
nos textos. Vejam o caso dessas manchetes.
“Mandinga” funciona, Luxa é expulso por agressão em gandula e Inter fatura o retorno
(Folha online, 29-04-2012)
Internacional vence o Grêmio e vai decidir com o Caxias (Estadão online, 29-04-2012)
Ambas as manchetes tratam de um mesmo jogo entre Internacional e Grêmio pelo 
campeonato estadual, porém cada uma delas indica como o jornal considera a notícia da 
partida. A Folha destaca a partida como consequência de outros fatos apresentados durante 
a semana (a mandinga – colocar sal grosso no banco de reservas do Grêmio) e aponta como 
elementos relevantes a expulsão do técnico do Grêmio (Luxemburgo, também conhecido como 
Luxa) e a vitória do Internacional. Já o Estadão se atém somente ao fato principal deixando 
os detalhes como a preparação durante a semana e a expulsão do técnico (Luxemburgo) para 
outro momento. O subentendido aqui se refere ao modo como cada jornal trata o tema partida 
semi-final do campeonato gaúcho de futebol. Um com mais detalhes, direcionando o que o 
leitor deve entender dos fatos e outra que apresenta de forma mais “neutra” o que ocorreu na 
partida, deixando mais espaço para o leitor. 
Os implícitos do texto oral ou escrito dependem do conhecimento de língua, 
de gênero, de mundo.
Os conhecimentos de língua são necessários para que todos nós possamos entender como as 
palavras ou as estruturas do texto se relacionam. 
11
Os conhecimentos de gênero são importantes para saber as funções de cada texto; também 
é importante saber por onde circulam e quais intenções colocam e seus autores/falantes e quais 
expectativas demandam de seus leitores / ouvintes. Ou melhor, deve-se levar em conta como 
cada um deve se comportar ao ler o texto de determinado gênero, uma vez que é diferente ler 
uma notícia e uma conta de luz ou de água. 
Por fim, os conhecimentos de mundo são imprescindíveis para a atribuição de sentidos a um 
texto, porque sem eles as palavras não significam, já que o significado de um texto é marcado 
histórica e socialmente.
FIORIN, J.L.; SAVIOLI, F.P. “Lição 20 Informações implícitas”. In: Lições de 
Texto: Leitura e Redação. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2003.
GOLDSTEIN, N.; LOUZADA, M. S.; IVAMOTO, R.“Capítulo 1 Linguagem, texto, 
gêneros textuais”. In: O Texto Sem Mistério: Leitura e Escrita na Universidade. 
São Paulo: Ática, 2010.
A leitura do texto escrito e as distâncias
A leitura do texto escrito ocorre longe do autor do texto, às vezes distante no tempo – quando 
lemos a carta de um avô; outras, distante no espaço – quando lemos um e-mail de um colega de 
outro estado ou país; há ainda os casos em que as distâncias são temporais e espaciais – quando 
lemos as obras de Machado de Assis ou Shakespeare.
Se o texto é escrito, a dependência de elementos contextuais é um pouco menor do que as 
dos textos orais (sem nunca deixar de ser importante) e os elementos linguísticos ganham maior 
relevo, porque a negociação se dá de forma mais intensa nesses níveis. 
Em outra Unidade, sobre escrita, vamos tratar dessa questão com mais detalhes.
Em razão da interação entre autor eleitor, podem ser feitas muitas leituras de cada texto. 
Essas leituras podem variar, porque os leitores têm diferentes experiências de vida e de mundo 
e os objetivos da leitura são múltiplos.
Nesse momento, você está lendo, pois precisa das informações contidas no texto; deve finalizar 
a unidade; está fazendo um curso. Essa leitura se caracteriza por apresentar uma finalidade: 
você busca algo no texto para aplicar em outro lugar, no nosso caso, em exercícios. Há, no 
entanto, outros tipos de leitura. Aquela que se faz por prazer, para relaxar, como a leitura de 
romances, colunas sociais, páginas pessoais das redes sociais. Há ainda a leitura feita para se 
obter dados sem um objetivo imediato para a formação do profissional ou do indivíduo como 
a leitura de textos religiosos ou teóricos na área profissional. 
12
Unidade: O prazer de ler e o ler por prazer
Quem escolhe o tipo de leitura a ser feita? 
Certos ambientes de interação, como a escola, privilegiam a leitura como forma de obter 
informações para realizar tarefas. Outros ambientes como o familiar, o da roda de amigos, tem 
a leitura como formação ou como prazer.
A leitura pode variar também em função do gênero a que se vincula o texto, e assim você aos 
poucos vai aprendendo a ler cada gênero de acordo com suas características.
Acompanhe o caso do aluno que lê um conto ou um poema para fazer uma prova. Ele 
pode ser bem sucedido na avaliação da disciplina, porém os gêneros da esfera literária não são 
elaborados nem estruturados de modo a fornecer informações para uma prova. A circulação e 
a função social desses gêneros pressupõem um diálogo entre formas de entender o mundo e, 
consequentemente, formas de avaliar o mundo. Em outra ocasião, o aluno lê um texto teórico 
para fazer uma prova ou um texto didático. Nesse caso, o apoio desses textos está mais de 
acordo com a atividade a ser desenvolvida pelo aluno – a prova.
A leitura dos gêneros é feita na tensão entre a historicidade do gênero e a atualização desse 
mesmo gênero na forma de texto que se encontra à sua frente. 
O que seria a historicidade de um gênero e a atualização desse gênero? 
Se você está lendo um texto do twitter, vai considerar que os caracteres permitidos são 
140, que as mensagens são estímulos para discussões posteriores ou desdobramentos dessa 
primeira mensagem etc. No twitter, não está previsto um aprofundamento dos fatos e reflexões, 
mas pode-se apontar para outros gêneros ou suportes que permitam esses processos de 
compreensão dos fatos ou da exposição das ideias sobre o tema abordado. Ou seja, a leitura 
do twitter permite um recorte da situação apresentada com indicações para outros textos. Não 
se espera desse texto a profundidade ou o caráter panorâmico que outros gêneros trazem 
como a notícia ou a reportagem.
Ler o twitter como o texto que resume a situação com esclarecimentos precisos e detalhados 
é ler de forma equivocada sem perceber a função desse texto.
Assim é vital lembrar que cada gênero, na forma de texto que está na tela do computador ou 
que chega às suas mãos, imprime uma forma de ler, mas não pode impedir que outras leituras 
sejam feitas. Respeitar os limites de cada uma das formas de leitura e estabelecer objetivos para 
a sua leitura é uma das metas dessa disciplina, uma vez que, ao desenvolvermos os processos de 
leitura, bem como algumas das estratégias, você possa escolher sua forma de leitura, respeitando 
esses limites e buscando otimizar os objetivos relativos ao texto que está a sua frente.
Outras vezes, a escolha de que tipo de leitura vai ser feita depende do ambiente em que você 
se encontra, em que ocorre a interação autor – texto- leitor. Na sala de aula, virtual ou presencial, 
muitos textos são lidos como fonte de informação. No entanto, fora do ambiente escolar são 
normalmente lidos com outros objetivos. Um exemplo disso, são os textos jornalísticos que fora 
da sala têm como objetivo informar e formar a opinião do leitor, mas que, na sala de aula, 
muitas vezes, são utilizados para reforçar os argumentos de um aluno ou professor com os 
dados que aparecem nas notícias ou reportagens. Eles servem para provar um ponto de vista.
13
O mesmo pode ser verificado com as receitas que são, em aula, utilizados para a formulação 
e resolução de problemas matemáticos e não como uma forma de se fazer um prato para 
alimentar as pessoas.
Se não prestarmos atenção a esses elementos, podemos ser levados a ignorar a função de 
cada texto, utilizando-o como pretexto para outras atividades e funções. Observar ou seguir 
as funções dos textos é vital para quem como vocês utilizarão os textos (remetendo sempre ao 
gênero ao qual pertencem) em sala de aula para ensinar a língua e seus usos.
Para a formação de repertório, no entanto, você pode escolher suas leituras e se colocar na 
posição de leitor de vários textos, mesmo que eles não tenham sido escritos para você.
Colocar-se como leitor de um texto permite que você entenda outras realidades que esses 
textos veiculam. Muitas vezes, fazemos isso sem ter consciência. 
Isso pode ocorrer quando somos crianças e lemos textos destinados aos adultos. Boa parte 
do que lemos nessa época não faz sentido, pois não temos conhecimento de mundo para 
construir os sentidos que esses textos propõem. Imaginem uma criança de sete anos lendo um 
carnê com as datas de vencimento, detalhes sobre atraso do pagamento etc. Para essa criança, 
isso pode não fazer muito sentido. No entanto, se ela for ler o regulamento do prédio, essa leitura 
pode fazer mais sentido, porque ela está acostumada a regras dos jogos, por exemplo, e por sua 
vivência em um condomínio, sabe que existem horários para brincar no parquinho etc.
Quando nos propomos a ler a Constituição Brasileira, muitos dos detalhes ou do vocabulário 
que lá está pode nos afastar dos sentidos presentes nos artigos das leis, porém, trata-se de uma 
leitura necessária para aqueles que querem conhecer seus direitos e deveres. Assim colocar-se como 
leitor da Constituição Brasileira (pelo menos de trechos) pode ser importante para a construção da 
cidadania. Aliás, essa uma das grandes tarefas da leitura e da escrita: formar o cidadão.
Um texto, múltiplas leituras
Ler um texto é levar todos esses elementos em conta. Depois de uma leitura sem compromisso, 
é importante observar alguns elementos que tornam a leitura mais aprofundada:
1. Começamos pelo gênero para identificar:
1.1 sua função (informar; persuadir; indicar prazos etc.)
1.2 elementos de sua estrutura composicional (como se organiza no espaço em branco, 
quais os elementos imprescindíveis para que reconheçamos o gênero, etc.; 
2. Observamos o suporte em que se encontra o texto (papel; tela de computador; outdoor; 
televisão etc.); 
3. Verificamos em qual esfera circula;
14
Unidade: O prazer de ler e o ler por prazer
4. Determinamos quem escreve e para quem é escrito;
5. Retornamos à leitura do texto verbal (ou não verbal ou misto, conforme o gênero).
Tomemos, como exemplo, o texto de Ana Maria Machado, conhecida escritora da literatura 
infanto-juvenil, premiada internacionalmente por seus livros. Nessa coluna, na revista eletrônica 
Carta Capital, temos o texto “Apossar-se de um tesouro”, publicado em 13-02-2012.
Faça uma primeira leitura, depois passaremos para a nossa lista.
Carta da Ana
13.02.2012 18:33
1. Carta da Ana
2. 13.02.2012 18:33
3. Apossar-se de um tesouro
4. Precisamos fincar raízes em uma linha de continuidade e ter a segurança de certa permanência, 
fixada na cultura da humanidade
5. Caro professor,
6. Quando eu nasci, era filha única. Mas isso não durou muito e virei a mais velha de um monte 
de irmãos. Somos 11. E tínhamos uma quantidade de primos inacreditável: tanto meu pai como 
minha mãe tinham seis irmãos.
7. Alguns desses tios tiveram uma filharada, o que me deu 14 primos mineiros, 7 gaúchos, muitos 
fluminenses, outros tantos capixabas.
8. Fora os primos de segundo grau, sobretudo filhos dos primos de minha mãe, deconvívio muito 
próximo e laços íntimos até hoje, que se prolongam já por nossos netos, por incrível que pareça.
9. De perder a conta e o fôlego. Principalmente porque nas férias de verão convivíamos pelos 
mesmos quintais numa praia do Espírito Santo, por onde a família se espalha desde 1916. Hoje, 
meus netos e sobrinhos-netos brincam por lá, em meio às novas gerações dessa primalhada e 
seus amigos.
10. É com alegria que a gente vai acompanhando as transformações e vendo como a garotada 
continua brincando na praia, correndo pelos gramados e subindo pelos galhos de goiabeiras, 
mas é capaz de ficar horas em torno de games, de tablets nas mãos. Ou de livro nas mãos, um 
mais velho lendo para os menores, como tantas vezes fizemos ou ouvimos na nossa infância.
11. Agora (como sempre) os recém-alfabetizados andam dando sua leitura em voz alta de presente 
aos pequeninos, fascinados com aquela mágica de transformar papel com manchinhas de tinta 
em histórias que fazem sonhar. Têm à sua disposição um excelente acervo que a literatura infantil 
brasileira foi construindo ao longo das últimas décadas. Uma variedade de alto nível, com uma 
riqueza de repertório de que muito poucas culturas podem se gabar em nossos dias.
12. Ao mesmo tempo, mesmo já lendo, não querem perder a alegria de escutar com atenção uma 
história lida. Começam a pedir aos pais que lhes contem outras, mais compridas, sem tanta figura 
15
para distrair. E vejo os pais deles, meus sobrinhos, em busca do repertório que os deliciava na 
infância – histórias tradicionais populares como a de Pedro Malasartes ou João Bobo, contos 
de fadas, a obra de Monteiro Lobato ou Cazuza, de Viriato Correia. Vivem uma experiência 
emocional gostosíssima, de descobertas conjuntas e encantos compartilhados. Ao mesmo tempo, 
têm a oportunidade de levantar dúvidas, medos, angústias e tentar aprender a conviver com as 
inevitáveis zonas de sombra que nos acompanham.
13. Além de todos esses aspectos positivos no terreno da afetividade, evidentes por si só, observo 
como esse processo vai construindo neles um embasamento humanista para o futuro, paralelo à 
aquisição de parte de um legado cultural milenar, que constitui um tesouro das civilizações.
14. Não vivemos apenas de tecnologia de ponta e modas passageiras. Além da inserção no 
contemporâneo, precisamos também fincar raízes em uma linha de continuidade e ter a 
segurança de certa permanência, fixada na cultura da humanidade que vem sendo construída 
há milênios. Sentir que coisas diferentes têm ritmos diferentes. Umas exigem resposta 
imediata, quase automática. Outras demandam um tempo de reflexão e entendimento - para 
amadurecer uma reação. Precisamos de ambas as experiências. Uma alimenta a outra. E nós 
nos nutrimos de todas.
15. Vários estudos demonstram que a aquisição desses repertórios na infância contribui 
enormemente para o desenvolvimento das capacidades próprias e estimula a imaginação tão 
necessária a cientistas, inventores, artistas e estadistas. Fundamental para sonhadores ou para 
empreendedores. Na Universidade de Cambridge, por exemplo, a professora Juliet Dusinberre 
pesquisou as leituras infantis de vários monstros sagrados das letras em língua inglesa no século 
XX e fez algumas descobertas interessantes.
16. Entre elas, a de que todos os que revolucionaram essa literatura no Modernismo, com suas 
experimentações radicais na linguagem ou na maneira de contar histórias (como James Joyce, 
Virginia -Woolf e -Ernest -Hemingway), -tinham tido intenso convívio, em criança, com a leitura 
de obras de autores sem condescendência com a facilitação no que escreviam, e sem preocupação 
em insistir em dar lições.
17. Ou seja, autores como Lewis Carroll, de Alice; Robert Louis- Stevenson, de A Ilha do Tesouro e 
O Médico e o Monstro; ou Mark Twain, de As Aventuras de Huck.
18. Autores que não faziam a menor concessão a um linguajar simplificado ou a uma história 
paternalista de heróis e vilões claramente divididos, mas pelo contrário, erigiam desafios à leitura 
infantil e exigiam cumplicidade na decifração de significados mais profundos. Mas, ao mesmo 
tempo, foram capazes de criar enredos empolgantes e personagens atraentes.
19. Naquele tempo, sem a concorrência de outras tecnologias mais visuais e eletrônicas, as crianças 
desenvolviam muito cedo o fôlego de leitura que lhes permitia mergulhar nessas obras, logo que 
se alfabetizavam.
20. Hoje, provavelmente, os primeiros passos por esse território serão mais firmes se acompanhados 
por um adulto que leia junto e comente – ou a partir de leituras em voz alta ou em leituras 
paralelas que se reúnam depois numa conversa sobre um episódio lido. Em ambos os casos, será 
uma experiência deliciosa e enriquecedora para as duas partes.
21. Ana Maria Machado
(disponível em http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/apossar-se-de-um-tesouro/ ) 
Acesso em 10 de agosto de 2012.
16
Unidade: O prazer de ler e o ler por prazer
Após a leitura, você é capaz de responder a qual gênero pertence essa “carta”?
Como se pode observar, o texto possui todas as características de uma carta, desde a data 
(13-02-2012 - 2), o endereçamento ao interlocutor (Caro professor - 5) e a despedida no fim 
(Ana Maria Machado - 21), porém traz outras características que não pertenceriam às cartas, 
como o título (Apossar-se de um tesouro – 3); a frase que se destaca (“Precisamos fincar raízes 
em uma linha de continuidade e ter a segurança de certa permanência, fixada na cultura da 
humanidade”) e o fato de ser divulgada na Revista Carta Capital, com o título da coluna (Carta 
da Ana – 1).
As revistas têm editoriais; notícias, reportagens, ensaios, colunas entre outros gêneros.
As colunas existem em cada um dos cadernos de um jornal ou em várias partes de uma revista. 
O nome desse gênero vem do fato de que os textos estão dispostos em colunas identificadas 
por um título fixo ou pelo nome do autor. Assim, temos a coluna do Zé Simão e a coluna Carta 
fundamental, de onde se extraiu esse texto de Ana Maria Machado. Trata-se de uma maneira de 
expor pontos de vista pelos quais se responsabiliza o autor da coluna e não o jornal e sua editoria.
Há uma variedade enorme de colunas, uma vez que elas variam de acordo com o tipo de 
editoria do jornal e suas necessidades. A editoria de esportes, por exemplo, é bem diversa da de 
economia em objetivos, linguagem, tratamento dos temas e identificação do leitor.
A linguagem nas colunas pode se apresentar de forma mais coloquial, incorporando muitas 
vezes dados de outras fontes para a estrutura argumentativa que propõe; ou de maneira mais 
formal, caracterizada pelo modo como age seu autor.
No caso da Carta Capital, as colunas da Carta Fundamental (uma subdivisão da revista 
eletrônica) apresentam semanalmente autores que trazem um tema que julgam “fundamentais” 
para serem discutidos.
Tomando esses elementos como base, podemos afirmar que a carta de Ana Maria Machado 
é uma simulação de uma carta real, pois ela utiliza o espaço da revista para mandar essa carta 
que deveria ir pelo correio. Além disso, ela elegeu os professores (na figura de “caro professor”) 
para poder, nessa carta, conversar com todos que se encaixem nessa categoria. Dessa forma, 
temos o gênero coluna de atualidades e para quem se dirige o texto.
A esfera em que circula o texto é importante para sabermos a sua abrangência e importância. 
O texto de Ana Maria Machado circula na esfera jornalística que tem como uma de suas funções 
formar a opinião pública, assim ela utiliza esse espaço da coluna na esfera jornalística para 
divulgar seu ponto de vista sobre a leitura.
Na apresentação do texto, destaquei alguns elementos da biografia da autora e de sua 
atuação. Essas informações reforçam a importância dela e situam o leitor para acatar ou pelo 
menos considerar o que ela está propondo em seu texto.
Como se trata de um texto longo, é necessário identificar partes em que se subdivide:
1) a autora inicia o texto contando suaexperiência pessoal em relação à família e sua 
constituição. São os parágrafos identificados como 6, 7, 8 e 9. Aparentemente esses dados 
pessoais não se relacionam com o título nem com o tema do texto, porém a partir desses 
parágrafos ela vai tecer a segunda parte;
17
2) Nos parágrafos 11 e 12, ela revela que a nossa literatura infanto-juvenil é uma das melhores 
e que é possível relacionar tradição (Monteiro Lobato e Viriato Correa) e inovação. No 
parágrafo 12, Ana Maria Machado aponta para as inúmeras funções da literatura infanto-
juvenil (“Vivem uma experiência emocional gostosíssima, de descobertas conjuntas e 
encantos compartilhados. Ao mesmo tempo, têm a oportunidade de levantar dúvidas, 
medos, angústias e tentar aprender a conviver com as inevitáveis zonas de sombra que nos 
acompanham.”), que serão descritas e explicadas na parte 3.
3) Nos parágrafos 12 (parte final), 13, 14, 15, 16, 17 e 18, a autora indica o que seria 
esse tesouro e como se apoderar dele. Para convencer o leitor, traz a voz da ciência, 
dos pesquisadores (“Na Universidade de Cambridge, por exemplo, a professora Juliet 
Dusinberre pesquisou as leituras infantis de vários monstros sagrados das letras em língua 
inglesa no século XX e fez algumas descobertas interessantes.”). A conclusão dessa parte é 
que os grandes escritores formaram seu repertório com obras que não eram facilitadas, que 
propunham visões de mundo complexas e, ao mesmo tempo, atraentes para as crianças.
4) Nesta última parte, ela continua ressaltando o valor da literatura como formadora de 
repertório e faz uma ressalva quanto ao acesso das crianças e adolescentes a esse tipo de 
tesouro. Nessa parte fica mais claro porque ela se dirige ao professor (“Hoje, provavelmente, 
os primeiros passos por esse território serão mais firmes se acompanhados por um adulto 
que leia junto e comente – ou a partir de leituras em voz alta ou em leituras paralelas que 
se reúnam depois numa conversa sobre um episódio lido.”) e, pela esfera em que circula 
a revista, aos pais, tios, irmãos e afins – adultos que podem se responsabilizar pela busca 
a apropriação desse “tesouro”.
Para usufruirmos das múltiplas leituras que o texto propõe, podemos nos colocar algumas 
questões que ampliarão a primeira leitura.
A) Qual é o tema desse texto? 
“A literatura forma o sujeito e o cidadão, sendo um elemento humanista em nossa formação.”
B) Como é possível provar essa resposta?
Esse papel da literatura se encontra enunciado pela autora nos parágrafos identificados como 
12, 13 e 14 – trechos marcados em negrito. Nesses trechos, Ana Maria Machado ressalta o papel 
cultural da literatura como ponte entre épocas, ritmos e valores.
1. Ao mesmo tempo, mesmo já lendo, não querem perder a alegria de escutar com atenção uma 
história lida. Começam a pedir aos pais que lhes contem outras, mais compridas, sem tanta figura 
para distrair. E vejo os pais deles, meus sobrinhos, em busca do repertório que os deliciava na 
infância – histórias tradicionais populares como a de Pedro Malasartes ou João Bobo, contos 
de fadas, a obra de Monteiro Lobato ou Cazuza, de Viriato Correia. Vivem uma experiência 
emocional gostosíssima, de descobertas conjuntas e encantos compartilhados. Ao mesmo tempo, 
têm a oportunidade de levantar dúvidas, medos, angústias e tentar aprender a conviver com as 
inevitáveis zonas de sombra que nos acompanham.
18
Unidade: O prazer de ler e o ler por prazer
C) Como explicar o título? Qual seria o tesouro? Como nos apossamos dele?
Novamente voltamos aos parágrafos identificados como 13 e 14, pois contém as palavras-
chave para responder a essas questões.
No 13, “paralelo à aquisição de parte de um legado cultural milenar, que constitui um tesouro 
das civilizações”. Daí o título.
No 14, “Sentir que coisas diferentes têm ritmos diferentes. Umas exigem resposta imediata, 
quase automática. Outras demandam um tempo de reflexão e entendimento -para amadurecer 
uma reação. Precisamos de ambas as experiências. Uma alimenta a outra. E nós nos nutrimos 
de todas.” Aponta para como a leitura dos clássicos permite nos apossar do passado vivendo o 
tempo presente de forma mais plena.
D) E como a autora nos convence disso?
Ela nos envolve em sua experiência pessoal e mostra como esse contato com a literatura é 
decisivo também para aqueles que são nomes consagrados na cultura. Para isso, ela se utiliza 
de outras fontes, como por exemplo, a pesquisadora da Universidade de Cambridge, centro de 
produção e difusão de conhecimentos.
Em Síntese
Como pudemos ver nessa unidade, a leitura é um processo amplo, que depende da observação de 
muitos elementos, que permite a atribuição de múltiplos sentidos e que depende tanto de aspectos 
linguísticos como extra-linguísticos.
E como bem orienta Ana Maria Machado, para formar leitores é preciso acompanhar-lhes os 
primeiros passos, fazer leituras em voz alta, propor comentários e discussões a respeito do que foi 
lido e compartilhado pelo texto. 
Esperamos com essa unidade tê-lo ajudado a dar mais um passo em sua formação de leitor!
2. Além de todos esses aspectos positivos no terreno da afetividade, evidentes por si só, observo 
como esse processo vai construindo neles um embasamento humanista para o futuro, paralelo à 
aquisição de parte de um legado cultural milenar, que constitui um tesouro das civilizações.
3. Não vivemos apenas de tecnologia de ponta e modas passageiras. Além da inserção no 
contemporâneo, precisamos também fincar raízes em uma linha de continuidade e ter a 
segurança de certa permanência, fixada na cultura da humanidade que vem sendo construída 
há milênios. Sentir que coisas diferentes têm ritmos diferentes. Umas exigem resposta 
imediata, quase automática. Outras demandam um tempo de reflexão e entendimento - para 
amadurecer uma reação. Precisamos de ambas as experiências. Uma alimenta a outra. E nós 
nos nutrimos de todas.
5
• A palavra falada e a palavra escrita: comunicação e poder
• A escrita e sua importância 
• O ato de escrever
É necessário que você leia com atenção os textos disponibilizados, visite os sites sugeridos, 
leia obras importantes da bibliografia e procure estabelecer relação entre a teoria e a prática, já 
que você perceberá que os textos foram concebidos com muitos exemplos.
Lembramos a você da importância de realizar todas as leituras e as atividades propostas dentro 
do prazo estabelecido para cada unidade, no cronograma da disciplina. Para isso, organize uma 
rotina de trabalho e evite acumular conteúdos e realizar atividades no último minuto. Em caso 
de dúvidas, utilize a ferramenta “Mensagens” ou “Fórum de dúvidas” para entrar em contato 
com o tutor.
É muito importante que você exerça a sua autonomia de estudante e que desenvolva sua 
proatividade para construir novos conhecimentos.
Bons estudos!!
 · Nesta Unidade – “A palavra escrita” – você encontrará, 
no texto teórico, alguns caminhos possíveis para realizar a 
leitura de um texto escrito, identificando seu gênero e suas 
características.
A palavra escrita
6
Unidade: A palavra escrita
Contextualização
A escrita como poder de inserção social
Por que aprender a escrever e a entender o funcionamento da escrita?
Ao ser humano, cabe o privilégio de sonhar para além daquilo que é dado e feito. Dentro 
desse princípio, em um determinado momento da história humana, a linguagem falada que 
possibilitava a comunicação entre os seres, já não atendia totalmente as necessidades do homem. 
Naquele momento, faltava-lhe o domínio da linguagem escrita, essencial para a realização de 
sua plena interação social. Hoje, principalmente porque vivemos em uma sociedade letrada, 
em que as relações entre as pessoas é mediada pela palavra escrita, em boa parte do tempo, o 
domínio da escrita é fundamental.
Destacam-se, desse modo, as diferenças de importância atribuídas ao domínio da palavra 
falada ou escrita em distintos períodos da história do homem. Em determinada época a oralidade 
era a força da comunicaçãopara a persuasão e o convencimento e menor importância era 
dada à escrita. Esta foi adquirindo força com a modernização da sociedade, a invenção da 
imprensa, o advento das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’s), pelo fato de 
o domínio da escrita ter se tornado um bem-social necessário para enfrentar o cotidiano em 
todo e qualquer contexto. 
Pela maneira como foi introduzida culturalmente na vida do homem, a escrita tornou-se um 
símbolo de “educação, desenvolvimento e poder” (MARCUSCHI, 2004, p.17). 
O caso de pessoas que, apesar de já adultas, ainda não dominam a escrita como meio de 
comunicação e de interação social, pode servir de ilustração para a afirmação acima. Essas 
pessoas percebem que só a oralidade não atende a todas as necessidades básicas nos dias de 
hoje e resolvem buscar o acesso à escrita meio da escola. 
Para exemplificar, um fragmento da história de uma mulher, 46 anos, que trabalha como 
diarista. Viveu anos de aflição por chegar atrasada ao emprego. Como não conseguia 
ler, associava os itinerários dos ônibus a cores. Isso funcionou até que uma lei municipal 
determinou que todos os ônibus adotassem a mesma cor. Essa foi a maior razão que a levou 
à escola. No seu pedido de socorro, expressou: “preciso conhecer as letras e aprender a ler 
para poder trabalhar”.
Percebe-se que essa pessoa e outras tantas em situações semelhantes, por algum tempo, 
conseguiram atender às necessidades básicas de sobrevivência, comunicando-se por meio da 
linguagem oral e utilizando-se de suas leituras de mundo, pois trabalharam, constituíram família, 
puderam ter conta em bancos. Escrever, para essas pessoas, pode significar a vontade de ser 
“alguém na vida” como costumam dizer.
Podemos, então, afirmar que o desenvolvimento das ciências e das tecnologias passou a 
exigir o conhecimento de outras linguagens para a execução de atividades simples do dia a dia.
Os argumentos de que a posse da escrita dá certo poder liberador já são suficientes para 
justificar a busca por conhecimentos novos, mais amplos e elaborados.
Aprender a escrever auxilia o homem a assumir sua voz e conseguir autonomia nos meios 
em que circula: no trabalho, nas redes sociais, na educação etc. Vamos ver como isso se dá no 
texto principal da Unidade.
7
A palavra falada e a palavra escrita: comunicação e poder
Palavras, palavras....palavras. Elas podem nos dar a sensação de poder e de prazer como nos 
diz a escritora Adélia Prado. O poder e o prazer de dizer.
Poder comunicar-se foi sempre uma necessidade humana. Uma necessidade suprida, 
inicialmente, pela palavra falada e depois por várias outras formas que, por meio de invenções e 
novas tecnologias, contribuíram para que as barreiras do tempo e da distância fossem rompidas. 
As formas podem ser aqui destacadas pelos sinais deixados pelo povo da Antiguidade: os 
hieróglifos dos egípcios, os ideogramas dos chineses e japoneses e o alfabeto dos fenícios.
Já as invenções como o papel, a imprensa, o lápis e a caneta, usados até hoje, e atualmente, 
as novas tecnologias, surgiram para facilitar a comunicação escrita e marcarem a história da 
humanidade ao longo dos tempos. Um fato bem brasileiro que mostra a importância da escrita 
como registro da história é a carta de Pero Vaz de Caminha. Nela, foram retratadas características 
que permitem ao leitor, mais de 500 anos depois, voltar no tempo e compreender a história 
dessa terra e do povo que nela vivia. 
Cada uma das inovações tecnológicas relacionadas à escrita permitiu avanços na socialização 
da palavra escrita. Pode-se dizer que surgiu um novo leitor, diferente do que se tinha até então, 
aquele que era considerado apenas um ouvinte de leituras realizadas por outros, uma vez que 
o conhecimento da escrita era poder de poucos. Então, esse novo leitor passou a ter acesso à 
palavra que já não era mais só falada e, assim, a utilizar tanto uma quanto a outra forma de 
expressão e comunicação, conforme sua necessidade.
Com isso, percebe-se que, em toda e qualquer situação da comunicação humana, 
faz-se necessário o uso da palavra, oral e/ou escrita, como forma de dizer. No entanto, é 
possível compreender a importância da escrita como garantia de registro da história e da 
evolução humanas.
Ainda menina, descobri o poder e o prazer da palavra. [...] É uma coisa 
fantástica escrever, descobrir sua própria voz. Quem escreve sabe disso. 
Adélia Prado
Revista Na Ponta do Lápis.dez. de 2010,pp. 2-3.
8
Unidade: A palavra escrita
A escrita e sua importância 
A expansão social do uso da linguagem escrita foi acompanhada pelo desenvolvimento 
social, pelas mudanças na política, na economia e na compreensão do homem a esse respeito. 
Sabe-se que, há mais de três mil anos, o homem já fazia tentativas de registrar seus pensamentos, 
seus sentimentos e aspectos de sua vida por meio da escrita e que esse fato é justificado pelas 
linguagens gráficas que foram criadas ao longo da história, marcas de uma trajetória que registram 
a possibilidade de compreender a evolução do homem, enquanto ser social.
É possível observar um exemplo das tentativas acima citadas, por meio das pinturas e das 
gravuras rupestres aqui do Brasil, registradas no Parque Nacional Serra da Capivara, localizado 
no sudeste do estado do Piauí, ocupando áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, João 
Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias1 .Observe a seguir.
Figura 1 - Toca do Boqueirão da Pedra Furada (Escolhida como logomarca do
Parque). Disponível em: commons.wikimedia.org
Conforme atestam os pesquisadores e as informações arqueológicas disponíveis, essa pintura 
e outras do Parque teriam sido realizadas na pré-história por vários grupos étnicos que habitavam 
aquela região. Também chamadas de arte rupestre, feita nas paredes de cavernas ou abrigos, 
são marcas que se apresentam tanto como formas de expressão para externar sentimentos 
quanto de comunicação.
No Brasil, outros registros da história chamam a atenção para um fato pouco difundido que é 
a familiaridade dos escravos com a escrita. Tal fato pode ser percebido em registros que tratam 
do “Movimento Malê” em que se faz referência aos revoltosos e às marcas trazidas no corpo 
e aos amuletos com papéis escritos por eles mesmos. Também chama a atenção um trecho de 
Casa-grande & Senzala, de Gilberto Freyre, que fala da Bahia de 1835: “nas senzalas da Bahia 
havia talvez maior número de gente sabendo ler e escrever do que no alto das casas-grandes” 
(FREYRE, 1992, p. 49).
1 As imagens fazem parte do acervo da FUMDHAM – Fundação Museu do Homem Americano no Piauí. Podem ser encontradas no site www.
fumdham.org.br/parque.asp 
9
Glossário
Movimento Malê - Levante de escravos e libertos islâmicos na Bahia, em 1835.
As pesquisas sobre tal tema buscam avaliar o poder atribuído aos negros que sabiam ler, 
escrever ou assinar o nome. Na época da escravidão no Brasil, quando um negro sabia assinar, 
já ocupava posição de certo poder numa sociedade basicamente iletrada. 
Confira a pesquisa de doutorado de Christianni Cardoso Morais, do Departamento 
de Educação da Universidade Federal de São João-del-Rei, em Minas Gerais, 
sobre a disseminação da escrita e os tipos de assinaturas dos negros, na época 
da escravidão no Brasil. 
A evidência da importância que era dada às pessoas que sabiam ler e escrever, no século XVIII 
e princípio do XIX, confirma-se em Freyre (1992) quando ele conta de como ricos fazendeiros 
buscavam um genro que “[...] em vez de quaisquer outros dotes apenas soubesse ler e escrever” 
(FREYRE, 1992, p. 5)
Com o tempo, a sociedade brasileira evoluiu quanto à aquisição da escrita e os fatos aqui 
citados demonstram a importância dada tanto à leitura quanto à escrita, sendo que esta é ainda 
compreendida pelos que não a têm como um salto de inserção social, na relação sujeito/mundo.
A escrita se revela como sinônimo de desenvolvimento e poder, quando é dada à escola, 
enquanto ‘detentora do saber’, a função de desenvolver no indivíduo ashabilidades para escrever.
Por essa razão, a escrita deve ser ensinada e aprendida como “uma atividade cultural 
complexa [...], de forma que a leitura e a produção de textos devam ser consideradas como 
atividades constitutivas da vida dos sujeitos, na construção da cidadania”, conforme defende 
Perfeito (1999, p. 91).
A concepção do que é leitura e escrita se transformou ao longo desses séculos. Antes, a 
escrita era vista como decodificação ou representação da linguagem oral; dava-se, por exemplo, 
ênfase ao método de ensino e não ao processo de aprendizagem. 
Percebeu-se, ao longo do tempo, que a escrita é um modo de compreender o mundo e que 
só dominar o código não significa que o sujeito domina a escrita e sabe fazer uso funcional 
dela. Percebeu-se também que a escola precisaria desenvolver as habilidades de ler e escrever 
a partir da alfabetização, mas priorizando a linguagem para o uso social, pois “ser um usuário 
competente da escrita é, cada vez mais, condição para a efetiva participação social” (BRASIL, 
1997, p. 21).
10
Unidade: A palavra escrita
O ato de escrever
Escrever não é mole, não.
Esse é um comentário que pode ser dito quando nos deparamos com o desafio de escrever. 
Não importa em que gênero se faz necessário a escrita. Pode ser um bilhete, uma carta, um 
conto, uma crônica, uma ideia para registrar. Isso porque o ato de escrever requer a organização 
de ideias para a intenção de dizer.
Vamos ver no texto de Marinho, se é possível para o escritor descobrir qual a sensação ou o 
sentido do ato de escrever.
Fonte do texto: Jorge Miguel Marinho – professor de literatura, ator, roteirista, 
escritor. In. Revista Na ponta do Lápis.n.11.ago.2009.
“João escreveu três palavras, colocou as três numa garrafa e jogou tudo 
no mar. Não se sentiu mais conhecido nem sentiu a vida melhor. Mas o 
sentimento de diminuir as distâncias ou aproximar as pessoas foi lá no fundo 
do seu coração. Acontece o seguinte: quando João escreveu as três palavras 
que um dia alguém achou na garrafa e não entendeu muito bem porque elas 
apenas diziam “Eu estou aqui”, ele procurou com todas as mãos e todas as 
letras de todos os tempos o primeiro “sentido de escrever”, que é partilhar 
com o mundo o que existe dentro de cada um.”
O partilhar com o mundo põe em cena um elemento importante da comunicação escrita: o 
enunciatário, aquele para quem se escreve, o leitor do nosso texto.
Assim, as perguntas que devemos fazer quando nos propomos a escrever devem levar em 
conta para quem escrevemos: Quem é esse leitor? Qual a relação que temos com ele? Quais os 
temas que podemos tratar se pensarmos nele? Quais os gêneros que podemos utilizar para nos 
comunicarmos com ele?
Fazer um recado escrito para alguém que faz parte do nosso cotidiano é um ato simples e mais 
fácil. Agora, quando se pensa em escrever para alguém com quem não se tem uma relação de 
proximidade ou para um leitor desconhecido, o desafio é maior. Precisamos identificar quem é 
esse leitor e como ele poderá reagir ao nosso texto, ou seja, atribuir sentidos e interagir com ele.
A partir daí, precisamos determinar qual o gênero com o qual vamos trabalhar. 
Uma forma de identificarmos quais os gêneros que circulam no grupo em que vivemos é 
observarmos as formas de interação linguística. No ambiente virtual do curso, um dos gêneros 
que têm como função a comunicação é o e-mail. Se pensarmos nas formas de avaliação 
das unidades, os gêneros são os exercícios de autocorreção, os fóruns, as atividades de 
aprofundamento etc. Há outros gêneros no espaço virtual, os avisos, os esquemas de unidade 
entre outros.
11
Como podemos começar a escrever em um determinado gênero? Primeiro, é importante 
ter tido contato com um texto desse gênero; sabermos qual a sua função, ou seja, em quais 
situações e espaços ele circula e quais temas ele pode abordar. Vamos tomar como exemplo, 
resposta ao Fórum de Discussão. 
Qual o objetivo desse gênero? É a exposição de ideias, conceitos, comentários, relacionando 
o que você leu na unidade e o que construiu de conhecimentos sobre determinado tema a uma 
questão proposta. É também objetivo do fórum estabelecer uma troca de ideias, aliando a sua 
resposta a de outros colegas e às intervenções do tutor. 
Quem são os leitores desse gênero? Os seus leitores serão o tutor e seus colegas de curso 
quando você escrever, depois há o deslocamento de posição e você será o leitor deles até que 
as participações no Fórum tenham seu término. 
Como deve ser o nível de linguagem desse gênero? Como seus leitores estão longe de você 
no espaço e como não são próximos (você ainda os está conhecendo), a linguagem deve ser 
formal, sem gírias, expressões regionais, ou abreviações que podem confundir o leitor. 
A língua portuguesa como todas as línguas do mundo refletem a organização da sociedade. 
Assim, a língua que chamamos portuguesa apresenta muitas variantes internas. Não falamos 
o português da mesma maneira do Oiapoque ao Chuí; há diversas variantes regionais. 
Também nos diferenciamos na língua de acordo com outras características, como a idade 
(adultos e crianças falam de forma diversa, por exemplo); sexo (mulheres e homens têm 
formas próprias para falar); escolaridade (o grau de escolaridade promove diferenças na 
linguagem); profissão (médicos falam de uma maneira enquanto os advogados de outra); 
entre outros. Essas variantes conferem identidade aos falantes e aos escreventes.
Para saber mais, sugerimos, neste primeiro momento, os fundamentos do Projeto 
Vertentes da Universidade Federal da Bahia. Lá você encontrará os suportes 
teóricos para compreender essas variações na língua: http://www.vertentes.ufba.
br/projeto/fundamentos
Como deve ser a organização do texto que você vai escrever? A estrutura do texto, sua 
participação no Fórum, deve ser feita de forma direta para facilitar a compreensão, ou seja, as 
frases na ordem direta. Os períodos não devem ser longos. Além disso, o seu texto precisa manter 
uma relação com a pergunta proposta e, depois, você necessita relacionar seu comentário com 
os dos outros participantes. 
Não se esqueça de que sua escrita é sua imagem para os outros participantes, assim, é 
importante verificar a ortografia das palavras (consulte um dicionário); a concordância verbal e 
nominal (por exemplo: 2% não gostam de revisar o texto – concordância verbal); a regência dos 
verbos e dos nomes (exemplos: quem gosta, gosta de algo; a referência ao fato). 
Verifique também se as ideias não se contradizem, quer dizer, se você não afirmou que 
era a favor de algo e depois escreveu ser parcialmente contrário. Outro ponto a ser evitado é 
a repetição, que não faz o texto progredir e dispersa a atenção do leitor. Esses cuidados são 
chamados de revisão de texto e esses avisos servem para todos os gêneros escritos.
12
Unidade: A palavra escrita
Vamos imaginar que você devia responder a uma questão como essa:
Leia a citação e escreva no Fórum se você concorda ou não com Fernando Sabino.
Escrevo sobre aquilo que não sei para ficar sabendo. Tenho a impressão 
de que tudo que a gente escreve, consciente ou inconscientemente, é 
sempre uma catarse. É uma forma de recuperação do sentido da vida.
Fernando Sabino (1923 – 2004), escritor e jornalista
Para poder responder à questão, você precisa entender o que Sabino escreveu. Há duas 
questões-chave para entender a fala de Fernando Sabino: a primeira se refere ao fato de que, 
para ele, escrever é construir o conhecimento sobre algo desconhecido; e a segunda é saber o 
que é catarse. 
Glossário
Catarse é uma palavra de origem grega. Segundo o Dicionário Houaiss eletrônico,
Acepções
  substantivo feminino 
1. na religião, medicina e filosofia da Antiguidade grega, libertação, expulsão ou purgação 
daquilo que é estranho à essência ou à natureza de um ser e que, por esta razão, o corrompe 
(...) 1.2 Rubrica: estética. 
No aristotelismo, descarga de desordens emocionais ou afetos desmedidos a partir da experiência 
estéticaoferecida pelo teatro, música e poesia 
1.2.1 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: estética, teatro. 
purificação do espírito do espectador através da purgação de suas paixões, esp. dos sentimentos de 
terror ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico
O verbete indica que o ato de escrever leva Sabino a uma purificação e a um estado de 
compreensão de seus sentimentos de sua natureza.
Com esses dois pontos principais, observe duas participações possíveis nesse Fórum:
1
Acho que se a gente for escrever sobre o que não conhece, a escrita fica muito estranha. Como é que 
posso escrever sobre algo que ainda não sei? Não concordo com Sabino. Preciso saber sobre o que 
vou escrever, porque, se não souber, não consigo escrever.
13
 
2
Se a escrita for catarse, concordo com Sabino, porque, enquanto escrevo, posso descobrir novas 
ideias, elas são resultado dessa minha elaboração, como se eu fosse ao mesmo tempo o escritor 
e o leitor. 
A participação 1 tem como ponto positivo se opor a ideia de Sabino, no entanto, está confusa 
por repetir a mesma ideia muitas vezes (não se pode escrever sobre o que não se sabe).
Já a participação 2 é mais clara. Começa retomando o texto de Sabino, e continua 
exemplificando o que acontece com o romancista: ser escritor e o primeiro leitor do texto.
As duas tomadas de posição pelos alunos são possíveis, pois os participantes podiam 
concordar ou discordar contanto que apresentassem boas razões para uma ou outra posição. 
No entanto, a participação 1 não satisfez o que se esperava por apresentar um discurso circular 
(repetir sem necessidade, sem acrescentar); enquanto a segunda soube trazer um argumento 
que concordava e exemplificava o que o Sabino havia proposto.
Vamos agora a mais dois exemplos.
3
Gente, Sabino é o cara, né? Concordo que ele diz que quando a gente escreve rola uma sintonia 
com o mundo, num é? Eu mesmo estou maluco com esse papo de sintonia aqui.
4
Não concordo com o Sarbino. Quando a gente escreve alguma coisa tem que ter na cabeça. A gente 
escreve porque quer diser muito alguma coisa para os outros.
No caso das participações 3 e 4, as participações são superficiais, não mostram porque 
concordam ou discordam da posição de Sabino.Nesse caso, os tutores estimulam os alunos a 
fazer novas participações. O que se sobressai em ambas é a concordância e a discordância com 
a citação de Sabino. 
Quanto à forma como essas participações ocorreram, os comentários que o tutor poderia 
fazer para os alunos envolvidos são:
1) Na participação 3, foram utilizadas a) expressões da gíria (“rola uma sintonia” e “estou 
maluco com esse papo de sintonia”) que indicam uma proximidade que esse aluno não têm 
com os colegas no espaço virtual; b) uma concordância que poderia passar despercebida na 
fala, mas na escrita, fica clara a inadequação, “concordo que ele diz”. O verbo concordar 
exige a preposição “com”. O adequado seria “concordo com o que ele diz”. 
2) Na participação 4, algumas coisas precisam ser adequadas, tais como a grafia errada do 
nome do autor e do verbo dizer; e a ausência de pontuação que pode levar a uma leitura 
equivocada do texto. A grafia errada pode dar a impressão de que a escrita não foi pensada 
14
Unidade: A palavra escrita
e de que não houve revisão. Já o caso do uso da vírgula evitaria uma leitura errada do que 
se pretendeu escrever. No período, “Quando a gente escreve alguma coisa tem que ter na 
cabeça.”, seria necessária uma vírgula separando a oração que indica a ocorrência do fato 
de escrever e a afirmação sobre esse fato. Do modo como está é possível ler “Quando a 
gente escreve alguma coisa”, e então a outra frase fica sem sentido “tem de ter na cabeça”. A 
vírgula separaria as orações e o resultado seria “Quando a gente escreve, alguma coisa tem 
de ter na cabeça.” Uma outra forma de evitar essa leitura equivocada seria o uso da ordem 
direta da segunda oração: “quando a gente escreve tem de ter alguma coisa na cabeça.”
Glossário
Período é formado por uma ou mais orações. Os limites do período são a letra maiúscula até a 
pontuação que indica o fim do período (ponto final; ponto de exclamação; ponto de interrogação; 
e reticências).
Como vocês observaram nas participações, a escrita exige preparação e planejamento.
Como se planeja a escrita? 
Começamos por observar as especificidades do gênero o qual vamos utilizar para escrever. A 
partir daí, vamos identificar as funções do gênero; os temas que podem ser objeto desse gênero; 
qual o nível de linguagem utilizado; quais as características composicionais presentes.
Glossário
Gêneros “são textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características 
sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição 
característica.” Por isso, para trabalhar com gêneros é necessário saber quais as funções que eles 
assumem nas várias esferas em que vivemos socialmente (política, comercial, jornalística, privada 
etc.) e qual a relação entre o escritor/falante e leitor/ouvinte nesses textos no nosso tempo e no 
espaço em que vivemos. É necessário também conhecer sua estrutura e temas que aborda. Há 
vários gêneros que utilizamos para viver em sociedade: o requerimento de matrícula é um deles; 
outro é o anúncio de revista, entre tantos outros.
 
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BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Gêneros do discurso: unidade e diversidade.
Disponível em: https://goo.gl/biso9A
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BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Gêneros do discurso: unidade e diversidade.
15
A linguista apresenta o conceito de gênero tendo como base dois autores: 
Bakhtin e Marcuschi.
Com esses dados, podemos começar. Escrevemos uma primeira versão e, depois, relemos 
verificando o que pode não estar adequado aos nossos objetivos; daí reescrevemos e, então, 
colocamos o texto em circulação. 
Vamos observar outro exemplo? O e-mail é um gênero que pode utilizar variados níveis de 
linguagem e pode ter vários objetivos.
Imaginemos um e-mail para um amigo e outro para seu chefe. Nos dois, você vai informar 
os leitores (em um o seu amigo e em outro, seu chefe) que você está cursando a licenciatura em 
Letras Online. Você já deve ter entendido que esses e-mails serão diferentes, porque as pessoas 
que vão ler o e-mail estabelecem uma relação diferente com você. 
No caso do seu chefe, informar sobre o curso pode ser necessário porque há provas no fim 
dos módulos que você precisa fazer ou porque você quer acessar o site para estudar durante o 
horário de almoço. Já para o seu amigo, você pode querer contar para compartilhar algo que 
você acha interessante fazer, e os amigos são pessoas que ficam contentes com nossa felicidade, 
não é isso?
Afinal, escrever é entender, como dissemos anteriormente, as relações diversas entre as 
pessoas de um grupo social, e encurtar espaços e, às vezes, ultrapassar as distâncias temporais. 
É uma forma de projetar você e o que você quer ou precisa dizer, informar, apresentar, partilhar, 
desenvolver... Dessa forma, quando for escrever, não se esqueça de planejar começando por 
identificar em qual gênero você deve escrever, para quem, com qual objetivo e como dizer.
Vamos pensar agora o que fazer como professores na escola ao ensinarmos a escrever...
Escrever é um processo complexo, mas que pode ser ensinado e aprendido. Sabendo que a 
escola tem obrigação de ensinar a ler e a escrever, a maneira como o desenvolvimento desse 
processo acontece, dará o tom ao ato de escrever do aluno.
É isso que faz com que cada um tenha uma relação diferente com o ato de escrever. É preciso 
saber para quem dizer, o que se quer dizer e qual a melhor forma de fazê-lo. Eis a razão de focar 
a quem se destina a produção escrita.
Daí entra a situação do aluno que escreve para que o professor leia. Este último, na condição 
de autoridade, tem o “domínio do ato de escrever”. O aluno não pode ter medo de escrever, ele 
precisa ser estimulado e orientado a fazê-lo.
O escritor e jornalistaJosé Castello2 conta que, quando ainda jovem, escreveu um conto e 
o enviou a Clarice Lispector. Um dia, já passado certo tempo, ela lhe disse por telefone: “você 
é um homem muito medroso e com medo ninguém escreve”. Para ele, esse foi o conselho 
literário mais importante e que ainda marca a sua vida.
2 Em entrevista dada a Revista Língua Portuguesa n. 74, dez. de 2011
16
Unidade: A palavra escrita
Então, é preciso perder o medo e se aventurar neste mundo de descobertas do prazer que 
nos dão as palavras; as palavras faladas e as palavras escritas.
Assim, fica o convite para essa aventura. Como estímulo, fragmentos de entrevistas realizadas 
com duas conhecidas escritoras para que o mote inicial dessa unidade possa ser transformado: 
escrever é mole, sim. 
Quando não estou escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve. Se não soasse infantil e 
falsa a pergunta das mais sinceras, eu escolheria um amigo escritor e lhe perguntaria:como é que se 
escreve? Por que, realmente, como é que se escreve? que é que se diz? e como dizer? e como que se 
começa? e que é que se faz com o papel em branco nos defrontando tranquilo? Sei que a resposta, 
por mais que intrigue é a única: escrevendo.
Clarice Lispector.
“Como é que se escreve”. 
In. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999,pp.156-157.
Faço diário. Sobre tudo e sobre nada. Vou escrevendo como passarinho canta. Mas sempre gostei de 
escrever. Escrevo o tempo todo, não só quando estou diante do papel ou do computador – esse é só 
o momento final, em que as palavras saem de mim e tomam forma exterior.
Ana Maria Machado
Revista Na Ponta do Lápis. Julho de 2010, p. 2
5
• Introdução
• Narração
• Descrição
 · Nesta Unidade – “Tipos Textuais: narração, descrição e disser-
tação”– você encontrará, no texto teórico, as características e 
exemplos de três tipos textuais que podem aparecer em gêne-
ros textuais distintos ou no mesmo gênero. Você aprenderá a 
identificá-los e terá dicas de como deve produzir um texto de 
cada tipo apresentado. 
Tipos Textuais: Narração, 
Descrição e Dissertação
 
 Atenção
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as ativi-
dades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
• Dissertação
6
Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação
Contextualização
Você, como futuro licenciado em Letras, portanto, tendo recebido a formação para ser 
professor, deve ter o texto como instrumento de trabalho no cotidiano escolar, pois a leitura 
e a escrita são fatores fundamentais para a inclusão social e inserção do aluno no mundo 
letrado. Saiba que o conteúdo estudado nesta unidade mostra que em qualquer situação de 
comunicação, oral ou escrita, você utilizará os tipos textuais estudados e, como professor, 
deverá dominá-los.
Ainda, você deve ter percebido que cada texto se insere em atividades sociais estruturadas, 
criando para o leitor um fato social que é realizado através de formas textuais padronizadas 
que são os gêneros. Isso significa que, em uma atividade em sala de aula, você, enquanto 
professor, escolherá qual o gênero textual a ser trabalhado com os seus alunos, de acordo 
com o tema da aula e a situação. 
Lembre-se de que os tipos textuais estudados estarão presentes nos diferentes gêneros 
textuais que escolher ou até mesmo no mesmo gênero. Por exemplo, pense na seguinte 
situação: você observa que muitos de seus alunos possuem blogs pessoais e esta é uma 
ótima oportunidade de trabalhar esse gênero, que pode abrigar vários outros gêneros e 
tipos textuais. Você pode mostrar que um blog, como um diário online, pode apresentar 
sequências narrativas e descritivas do autor que visa narrar os acontecimentos de sua vida, 
bem como sequências dissertativas, na medida em que o blogueiro também expõe a sua 
opinião, bem como a dos usuários sobre determinado assunto.
Caso queira colocar em prática essa ideia, consulte os textos a seguir e bom trabalho!
GENTILE, Paola. “Blog: diário (de aprendizagem) na rede”. Nova escola, jun./jul. 2004. 
Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/2562/blog-diario-de-aprendizagem-na-rede. 
Acesso em 15 de janeiro de 2013.
KOMESU, Fabiana Cristina. “Blogs e as práticas de escrita sobre si na Internet”. 
In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos. Hipertexto e gêneros 
digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
7
Introdução
Antes de analisarmos os diferentes tipos textuais, o que nos propomos fazer nessa unidade, é 
importante que você saiba diferenciar esses dois conceitos distintos e interdependentes: tipo textual e 
gênero textual. Vamos observar como o linguista Luiz Antonio Marcuschi (2003, p.20) os diferencia: 
Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção 
teórica definida pela natureza lingüística de sua composição {aspectos lexicais, 
sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais 
abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, 
argumentação, exposição, descrição, injunção... (Disponível em http://www.
letraviva.net/arquivos/Generos_textuais_definicoes_funcionalidade.pdf. 
Acesso em 10 de janeiro de 2013).
Diferente do conceito “tipo textual” que vamos estudar nessa unidade de nossa disciplina, 
o gênero textual se utiliza dos diferentes tipos textuais citados por Marcuschi, como narração, 
argumentação, exposição1 , descrição e injunção2 , porém, os gêneros textuais são inúmeros. 
Na definição do linguista, 
Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga 
para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e 
que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, 
propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais 
são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros 
textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, 
bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia 
jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, 
cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, 
edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, 
bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante. (Disponível em 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/133018/mod_resource/content/3/
Art_Marcuschi_G%C3%AAneros_textuais_defini%C3%A7%C3%B5es_
funcionalidade.pdf. Acesso em 10 de janeiro de 2013).
Você deve ter notado que toda vez que nos comunicamos oralmente ou por escrito utilizamos 
um gênero textual, que possui propriedades funcionais e características próprias o qual apropria-
se de tipos textuais específicos. 
Sendo assim, nessa unidade vamos analisar alguns tipos textuais, começando pela narração.
1 Esse tipo textual será estudado em outra disciplina do curso.
2 Esse tipo textual será estudado em outra disciplina do curso
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Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação
Narração
Em algum momento de sua vida, sobretudo na infância, você teve contato com fábulas e 
contos de fadas. Normalmente, são as primeiras leituras que fazemos e ouvimos quando nossos 
pais, tios e professores contavam histórias para a gente. Essas histórias que lemos e ouvimos são 
gêneros textuais caracterizados, predominantemente, pelo tipo textual narrativo ou narração.
Vamos deixar isso mais claro com um exemplo? É provável que você conheça a famosa 
fábula de Esopo “A cigarra e a formiga”. Agora, observe bem o que esse texto nos apresenta:
As fábulas são gêneros antigos que incluem um título; 
animais que se relacionam como os humanos; uma 
situação que é representação das ações humanas; uma 
narrativa em terceira pessoa (observador); a moral que 
localiza os valores e a imagem que o fabulista quis criar. 
Note que nessa fábula de Esopo, além de ela 
apresentar os itens básicos que caracterizamesse 
gênero, temos a predominância da narração. Observe 
que a fábula narra fatos fictícios, no caso, a relação e 
o comportamento humanos da cigarra e da formiga; 
além disso, notamos a presença dos verbos de ação no 
passado, como: botaram, molhara, pediu, disseram, armazenaste, cantava etc. 
E não é só isso que marca esse texto narrativo, há, também, a presença de marcadores 
temporais, como as indicações das estações inverno e verão, além da presença de um conflito 
que se estabelece entre a cigarra, que só cantou durante o verão e não se preparou para o 
inverno, e as formigas, que só trabalharam. 
Esse conflito, o momento em que as formigas negam ajuda à cigarra, é um acontecimento 
que complica a situação inicial da narrativa, criando uma tensão entre essas personagens.
Dessa forma, o tipo textual narração apresenta essas características básicas apontadas nessa 
fábula de Esopo e você poderá observá-las em outros gêneros também, como: anedota, diário, 
romance, conto, crônica, notícia, lenda, fábula, conto de fadas, relato pessoal, relato histórico, 
biografia, autobiografia etc.
As narrativas biográficas se assemelham ao gênero memorialístico, já que os dois tipos de 
escrita buscam conservar viva a memória ou a lembrança. Embora tratem de relatos supostamente 
verdadeiros, que contam a história do sujeito como realmente foi, não se pode negar que aí 
esteja também presente um pouco de subjetividade. Ou seja, características assinaladas pelos 
próprios autores, já que eles têm a liberdade de usar a ficção a partir do modo peculiar de cada 
um perceber o mundo. 
Milo Winter, A cigarra e a formiga, 1919
9
Isso significa que, muitas vezes, o biógrafo, mesmo se baseando em fatos reais, ao contar 
a história do biografado, pode fazer interpretações pessoais, que podem inserir certo grau de 
ficcionalidade ao texto.
Vejamos um exemplo. Leia os fragmentos a seguir, da biografia do escritor Manuel Bandeira, 
publicada no site da Academia Brasileira de Letras:
Terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito em 29 de agosto de 1940, na sucessão de Luís 
Guimarães e recebido pelo Acadêmico Ribeiro Couto em 30 de novembro de 1940. Recebeu 
os Acadêmicos Peregrino Júnior e Afonso Arinos de Melo Franco.
Manuel Bandeira (M. Carneiro de Sousa B. Filho), professor, poeta, cronista, crítico e 
historiador literário, nasceu em Recife, PE, em 19 de abril de 1886, e faleceu no Rio de 
Janeiro, RJ, em 13 de outubro de 1968.
Filho do engenheiro civil Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de Francelina Ribeiro de 
Sousa Bandeira. Transferiu-se aos 10 anos para o Rio de Janeiro, onde cursou o secundário 
no Externato do Ginásio Nacional, hoje Colégio Pedro II, de 1897 a 1902, bacharelando-
se em letras. Em 1903 matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo para fazer o curso 
de engenheiro-arquiteto. No ano seguinte abandonou os estudos por motivo de doença e 
fez estações de cura em Campanha, MG, Teresópolis e Petrópolis, RJ, e por fim Clavadel, 
Suíça, onde se demorou de junho de 1913 a outubro de 1914. Ali teve como companheiro 
de sanatório o poeta Paul Eluard. Sua vida poderia ter sido breve, face à doença. Viveu até 
os 82 anos, construindo uma das maiores obras poéticas da moderna literatura brasileira.
De volta ao Brasil, Manuel Bandeira iniciou a sua produção literária em periódicos. Em 
1917, publicou A cinza das horas, onde reuniu poemas compostos durante a doença. Em 
1919 publicou o segundo livro de poemas, Carnaval. Enquanto o anterior evidenciava as 
raízes tradicionais de sua cultura e, formalmente, sugeria uma busca da simplicidade, esse 
segundo livro caracterizava-se por uma deliberada liberdade de composição rítmica. Ao 
lado de “sonetos que não passam de pastiches parnasianos”, segundo o próprio Bandeira, 
nele figura o famoso poema “Os sapos”, sátira ao Parnasianismo, que veio a ser declamado, 
três anos depois, durante a Semana de Arte Moderna, por Ronald de Carvalho. Antecipador 
de um novo espírito na poesia brasileira, Bandeira foi cognominado, por Mário de Andrade, 
de “São João Batista do Modernismo”.
Por intermédio do amigo Ribeiro Couto, Manuel Bandeira conheceu os escritores 
paulistas que, em 1922, lançaram o movimento modernista. Não participou diretamente 
da Semana, mas colaborou na revista Klaxon e também na Revista Antropofagia, 
Lanterna Verde, Terra Roxa e A Revista.
Em 1927, viajou ao Norte do Brasil, até Belém, parando em Salvador, Recife, Paraíba, 
Natal, Fortaleza e São Luís do Maranhão. De 1928 a 1929 permaneceu no Recife como 
fiscal de bancas examinadoras de preparatórios. Em 1935, foi nomeado inspetor de ensino 
secundário; em 1938, professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II; 
em 1942, professor de Literaturas Hispano-Americanas na Faculdade Nacional de Filosofia, 
sendo aposentado por lei especial do Congresso em 1956. Desde 1938, era membro do 
Conselho Consultivo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
10
Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação
Recebeu o prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira por conjunto de obra (1937) e o 
prêmio de poesia do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, também por conjunto 
de obra (1946).
(...)
(Disponível em: https://goo.gl/j3rqtZ. Acesso em 10 de janeiro de 2013).
Diferente da fábula de Esopo, “A cigarra e as formigas”, a biografia é uma narrativa que se 
pauta em fatos reais. Você deve ter observado que parte da vida de Manual Bandeira é relatada 
no texto anterior, desde o nascimento do escritor. 
Note que, como na fábula, os fatos são narrados com verbos de ação no passado, como: nasceu, 
faleceu, transferiu-se, cursou, bacharelou-se, matriculou, abandonou, publicou, colaborou etc. Os 
marcadores temporais são indicados por datas, anos e por expressões como ano seguinte. 
Outra característica a ser destacada desse texto narrativo, é a presença de um acontecimento 
que complica a situação inicial e que, no caso do escritor Manuel Bandeira, instaurou-se como uma 
temática recorrente em sua obra: trata-se da tuberculose, doença que o condenaria à morte, ainda 
muito jovem. Note que devido a essa doença, Bandeira teve que abandonar os seus estudos no 
curso de Engenharia e Arquitetura, mas a tuberculose não o impediu de construir uma obra sólida e 
percorrer uma longa e sólida trajetória na literatura brasileira, falecendo aos 82 anos. 
Mas não é só o tipo narrativo ou narração que caracteriza os gêneros textuais exemplificados, 
a fábula e a biografia, a descrição ou sequências descritivas também podem aparecer nesses 
gêneros, com o uso das adjetivações, que é uma das características da descrição, como nos 
exemplos: “cigarra faminta”, na fábula; e, na biografia, as qualificações atribuídas a Manuel 
Bandeira, professor, poeta, cronista, crítico e historiador literário. 
No próximo item, estudaremos mais detalhadamente a descrição. Vamos conhecer um pouco 
mais sobre esse tipo textual.
Descrição
O tipo textual descritivo se caracteriza por mostrar características dos seres (objetos, lugares, 
animais ou pessoas) e dos conceitos de que trata um determinado gênero. As características 
descritas não indicam relações de anterioridade ou causalidade, mas sim propriedades e 
aspectos presentes numa situação. 
Esse comprometimento com a simultaneidade faz com que as formais verbais estejam, em 
sua maioria, no presente ou no imperfeito, que são tempos verbais mais neutros com relação 
à cronologia. Também é comum o uso de verbos de estado – ser, estar, parecer – e formas 
nominais do verbo: particípio, gerúndio. Ao mesmo tempo, há uma quantidade de palavras e 
expressões indicadoras de propriedades, como adjetivos, locuções adjetivas e comparações. 
Você, provavelmente, já se deparou com textos descritivos típicos, como cardápios, anúncios 
classificados e laudos técnicos. Deve ter percebido que esses gêneros textuais utilizam, sobretudo, 
a descrição. Vamos ver o exemplo a seguir, de um anúncio classificado da Folha de São Paulo:
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Casa,

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