AULA 2 (1)

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UNIDADE I
AULA 2:Desenvolvimento sustentável - formação histórica e a disputa pelo direito de se falar em nome dele.
Gestão Ambiental e Sustentabilidade 
1
Introdução
A presente aula tem como objeto a formação histórica do termo “desenvolvimento sustentável” (doravante chamada aqui “DS”), bem como buscará explicitar, em linhas gerais, os pensamentos e práticas que o DS busca legitimar. 
As principais fontes serão o caderno guia (pp. 33-40) e o relatório “Nosso Futuro Comum” no original. 
O guia começa pelo reconhecimento de que a noção de “desenvolvimento sustentável” (DS) já faz parte do nosso senso comum, sendo frequentemente reproduzida pela imprensa, nos blogs, na escola etc. O termo foi criado pelo documento “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como Relatório Brundtland. 
Esse relatório foi demando, em 1983, pela Assembleia das Nações Unidas, que designou uma comissão independente de políticos, juristas e pesquisadores para confeccioná-lo. As Nações Unidas estava em busca de uma “agenda global para a mudança” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, p. xi). 
A norueguesa Gro Brundtland, ex-ministra de meio ambiente do seu país, tornou-se a relatora da comissão. Após a realização de painéis de discussão, contando com a participação de ambientalistas, empresários, políticos e membros da sociedade civil em geral, o relatório foi aprovado pela Assembleia da ONU em 1987. O DS ficou famoso mesmo a partir da Rio-92, conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento. 
O guia situa a grande inovação do Relatório Brundtland: “harmonizar” mercado, sociedade e meio ambiente. Na verdade, o que esse relatório buscou fazer foi responder ao impasse trazido pelas conclusões do painel de especialistas do Clube de Roma (1973), segundo o qual seria preciso perseguir o “crescimento zero” (ver aula 1). É evidente que as empresas e diversos países não gostaram dessa conclusão. Assim, à comissão do relatório de 1987 foi encomendada a missão de resolver a “equação” do crescimento e da proteção ambiental. Tendo sucesso ou não em resolver o problema na prática, sabemos que a noção de DS ganhou notoriedade, agradando a muitos grupos sociais. 
Obs: veremos, na aula 3, que a própria banalização do termo “desenvolvimento sustentável” se torna um desafio a ele: será que seus sentidos estão sendo esvaziados? Quantas pessoas você conhece que já leram o relatório Brundtland (que deu origem ao termo), nem que seja apenas a introdução do texto? Será que todos que falam no termo estão de acordo entre si ou cada vez mais podemos ver “versões” particulares do DS? Será que uma grande firma que impacta o meio ambiente e uma população atingida pela poluição falam da mesma coisa quando citam a “sustentabilidade” ou estão disputando o sentido dessa noção?
na p. 34, pode-se ver o quanto a intenção do relatório Brundtland foi chamar atenção para o caráter transversal da questão ambiental, tendo interfaces com as decisões políticas, técnicas, financeiras, comerciais e com as problemáticas da desigualdade social e da assimetria de poder entres as nações. 
Assim, o DS consagra hoje uma ideia cara à administração pública: a da transversalidade da questão ambiental, que caberia ser incorporada pelos gestores de todas áreas, mesmo naquelas consideradas mais “desenvolvimentistas”. Do mesmo modo, as áreas tidas como estritamente “sociais” - como saúde, educação e habitação - só poderiam ter resultados verdadeiros se considerarem a interface com o meio ambiente. Voltaremos ao assunto quando falarmos na Agenda 21 (módulo 2). 
O guia tem razão quando menciona (p. 35) que o relatório Brandtland celebra o crescimento econômico (em contraste como Clube de Roma), inovação tecnológica, competitividade, saúde, educação, habitação, os desafios ambientais urbanos, paz internacional, a segurança alimentar, a proteção de espécies e ecossistemas, proteção e fomento de diversidade cultural, a redução do uso de matéria e energia e a superação das desigualdades sociais. 
Cronologia da Ambientalização de Políticas Públicas no Brasil (1)
Obs: o relatório também prega a contenção das taxas de aumento populacional (COMISSÃO, p. 12 ). Porém, vamos problematizar essa ”questão populacional” na aula 3.