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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 4 1 INTRODUÇÃO À ENGENHARIA ELÉTRICA .................................................. 5 2 ELETRICIDADE E MAGNETISMO .................................................................. 9 3 CIRCUITOS ELÉTRICOS .............................................................................. 14 3.1 Corrente elétrica ...................................................................................... 15 3.2 Tensão elétrica ........................................................................................ 15 3.3 Resistência elétrica ................................................................................. 15 3.4 Potência elétrica ...................................................................................... 16 4 MATERIAIS ELÉTRICOS .............................................................................. 17 4.1 Materiais condutores ............................................................................... 18 4.2 Materiais semicondutores ........................................................................ 18 4.3 Materiais isolantes ou dielétricos ............................................................. 20 5 FONTES DE ENERGIA E MEIO AMBIENTE ................................................. 21 5.1 Tipos de fontes de energia ...................................................................... 22 5.2 Energia hidráulica .................................................................................... 23 5.3 Energia termelétrica ................................................................................ 23 5.4 Energia nuclear ....................................................................................... 24 5.5 Energia eólica .......................................................................................... 25 5.6 Energia solar ........................................................................................... 25 5.7 Conversão de energia ............................................................................. 26 6 SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA ........................................................... 27 6.1 Estrutura dos sistemas elétricos de potência .......................................... 28 6.2 Histórico dos sistemas elétricos de potência ........................................... 29 6.3 História do sistema elétrico de potência no Brasil ................................... 31 7 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA............................................................ 32 8 TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ................................................... 35 8.1 Transmissão de energia elétrica em corrente alternada.......................... 37 8.2 Transmissão de energia elétrica em corrente contínua ........................... 37 8.3 Sistema de conversão ............................................................................. 38 9 DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA .................................................... 38 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 42 11 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 44 4 INTRODUÇÃO O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 1 INTRODUÇÃO À ENGENHARIA ELÉTRICA Segundo Cocian (2009), colocado de forma simples, a engenharia elétrica é a aplicação das leis da física para dominar a eletricidade, o magnetismo e os fenômenos eletromagnéticos, para desenvolver produtos e serviços em benefício da humanidade. Os engenheiros eletricistas projetam novos produtos, especificam requisitos de desempenho e desenvolvem cronogramas de manutenção. Os engenheiros fazem coisas diversas, como projetar pontes, equipamentos médicos, automóveis, desenvolver processos para dejetos tóxicos e sistemas para o transporte de massas. Em outras palavras, a engenharia envolve o desenvolvimento de um produto técnico ou sistema que seja adequado para resolver uma questão específica, valendo-se, para isso, de técnicas de utilização de materiais que a natureza oferece com a energia para fazer as transformações requeridas. Pensando nisso, outra definição interessante pode ser: “A engenharia é a aplicação dos saberes científicos para criar algum elemento de valor a partir dos recursos naturais” (COCIAN, 2009d, p. 17, apud COCIAN, 2017) Ainda conforme Cocian (2017), a engenharia é mais do que uma ciência, uma arte, pois a técnica também depende muito da inteligência perceptiva. A arte utiliza a aplicação sistemática do conhecimento e das habilidades de acordo com um conjunto de regras. A engenharia requer perspicácia e habilidade de decisão na adaptação do conhecimento para propósitos práticos. Uma das atividades mais frequentes na engenharia é a resolução de problemas, e para alguns engenheiros isso é uma arte. Já a ciência é um conjunto de conhecimentos cumulativos, embasados e sistematizados. A engenharia é baseada nas ciências fundamentais da física, química e matemática, com suas extensões no estudo das ciências dos materiais, mecânica, termodinâmica, eletrodinâmica e processos de transferência, denominados “ciências da engenharia”. A palavra ciência deriva do latim scire, que significa “conhecer”. Diferentemente, a função básica do engenheiro é “fazer” (COCIAN, 2017). O cientista busca a ampliação do conhecimento. O engenheiro utiliza a ciência para resolver problemas práticos; ele é uma pessoa de ação. O engenheiro utiliza a ciência, mas não se limita à construção do conhecimento científico. Para citar um 6 exemplo, até hoje ninguém conhece exatamente como e por que o concreto e o aço se comportam da maneira que se comportam; mesmo assim, usando dados empíricos, o engenheiro é capaz de projetar estruturas eficientes e seguras. É importante notar que a concepção e o projeto de uma estrutura, dispositivo ou sistema, que atenda a uma determinada especificação de forma otimizada, é considerada uma obra de engenharia, mesmo que tenha sido feita por uma pessoa cujo treinamento formal foi na área das ciências. Para tanto, a formação em engenharia prevê uma integração entre conhecimentos de diversas ciências, o que é necessário para a compreensão dos problemas existentes e para a identificação de potenciais soluções. Assim, várias características são intrínsecas à engenharia (BRASIL, 2019, apud GREGORIO, 2019). A engenharia envolve a utilização dos recursos naturais. Alguns recursos naturais são renováveis e outros podem ser rapidamente esgotados. O engenheiro deve se preocupar com a conservação desses recursos, o que não significa “não utilizá-los”. A verdadeira conservação dos recursos naturais requer o contínuo desenvolvimento de novos recursos, assim como a utilização eficiente dos já existentes. Todos nós devemos ser conscientesda finitude de alguns desses recursos, entre eles a água doce, o petróleo e o minério de ferro (COCIAN, 2017). Os recursos materiais são utilizados com o objetivo de produzir outros objetos. Os materiais utilizados na engenharia incluem derivados de animais, vegetais e minerais, sendo alguns naturais e outros, em sua maioria, manufaturados ou processados. Estes derivados são muito úteis pelas suas diversas propriedades: resistência, fácil fabricação, leveza, durabilidade, capacidade de isolamento ou condução, boas características térmicas, magnéticas, elétricas, químicas ou acústicas. Segundo Cocian (2017), os recursos energéticos são utilizados com o objetivo de produzir energia. A quantidade de fontes importantes de energia é muito menor do que a de recursos materiais como o carvão mineral, o petróleo, o gás natural, o vento, a luz solar, as quedas de água, as ondas do mar e a fissão nuclear. Os recursos energéticos são necessários para processar esses recursos naturais. Cada forma de energia tem vantagens e desvantagens. O carvão mineral é barato, mas a sua mineração é perigosa e o seu conteúdo de enxofre é difícil de remover. Os produtos derivados de petróleo 7 podem ser armazenados e convertidos em calor sob condições cuidadosamente controladas. O estoque mundial de petróleo está se esgotando rapidamente e a sua disponibilidade está submetida a um conjunto pequeno de países. O poder do vento é barato, mas não confiável. O desenvolvimento de energia pela força da água é viável somente em certas áreas, geralmente remotas. O combustível nuclear é barato, mas o equipamento de conversão é muito caro, e a sociedade se preocupa com relação a sua segurança. Cada dia, a terra recebe 10.000 vezes a quantidade de energia necessária para os seres humanos, mas ainda não encontramos uma forma efetiva de converter essa energia de forma competitiva. Tem-se afirmado que a história da civilização é a história da engenharia. Certamente é verdade que as civilizações desenvolvidas são conhecidas pelas suas realizações de engenharia (COCIAN, 2017). A engenharia pode ser definida como a arte de colocar em prática conhecimentos empíricos, científicos e determinadas habilitações específicas para a criação de processos que transformem recursos naturais em meios apropriados de atendimento às necessidades humanas (FERREIRA, 1986, apud GREGORIO, 2019). A seguir é mostrada uma pequena descrição de alguns personagens que marcaram a história da engenharia elétrica. O famoso experimento da pandorga de Benjamin Franklin, em 1752, estabeleceu a analogia entre os relâmpagos e a eletricidade estática obtida por materiais “elétricos” esfregados. Para Franklin, uma das mais temidas amostras de energia incontrolada são os relâmpagos. Sob condições apropriadas, os ventos ocasionam a separação da carga elétrica de forma progressiva até que, superando todas as restrições, as cargas são equalizadas com uma tremenda transformação de energia na forma de calor, luz, som e ocasionalmente, forças mecânicas destrutivas (COCIAN, 2009). A possibilidade de converter esta energia em benefício da humanidade, sempre tem sido levada em consideração. A pesar de que os engenheiros ainda não têm sido capazes de dominar esta energia selvagem, todas as propriedades desejáveis têm sido reproduzidas sob condições controladas. Nos 50 anos seguintes à experiência de Franklin, cientistas europeus estabeleceram os fundamentos das ciências da eletricidade, baseados nas observações 8 sistemáticas de Franklin da eletricidade estática. A célula voltaica inventada por volta em 1800, permitiu aos pesquisadores o estudo do fluxo de corrente, e em 1831, Oersted, Ampère, Ohm, Faraday, e outros brilhantes pesquisadores, estabeleceram os seguintes fatos: I - Um fluxo de corrente elétrica produz um campo magnético; II - A variação de um campo magnético induz uma diferença de potencial elétrico em condutores próximos e; III - A corrente fluindo por um condutor é proporcional à diferença de potencial elétrico aplicado (COCIAN, 2009). Independentemente da época, a essência da engenharia tem relação com o novo, quando se projeta, ou com os fatores já existentes, quando se busca a solução para problemas reais (ANDRADE, 1997 apud OLIVEIRA, 2005, apud GREGORIO, 2019). A primeira aplicação prática da energia elétrica foi nas comunicações através do telegrafo, invenção acreditada a Samuel F. B. Mores em 1840. O telegrafo era alimentado por grandes baterias de células voltaicas relativamente fracas. A dínamo Xenobe Gramme de 1872, que convertia energia mecânica em energia elétrica, foi o real precursor da indústria de energia elétrica. Esta foi aplicada rapidamente para a iluminação, e em 1879 foi instalada a primeira central de energia em San Francisco, EUA, para alimentar os arcos de luz de Charles Brush. Estes dispositivos de iluminação tinham aplicações limitadas, até que foi inventada a lâmpada de filamento de carbono pelo Thomas Edison, patenteada em 1880. Para Cocian (2009), este dispositivo estimulou o desenvolvimento da geração, transmissão, distribuição e utilização da energia elétrica. O rápido progresso na arte e na ciência da aplicação da eletricidade, produziu um novo especialista, o engenheiro eletricista. Em 1883, Edison notou um fato curioso. Uma pequena corrente de eletricidade irá fluir entre um filamento incandescente e um outro eletrodo isolado, dentro do mesmo bulbo. Este efeito não foi considerado até a descoberta do elétron, e foi denominado de efeito Edison. Pouco depois, a válvula de Fleming foi utilizada como um sensível detector de ondas de rádio. A introdução de um terceiro eletrodo, a grade de controle, no tubo de vácuo, é acreditada a Lee De Forest em 1906. A primeira válvula podia gerar, amplificar 9 e detectar sinais de áudio ou ondas de rádio, e foi a base para o rápido desenvolvimento das comunicações, como uma das ramas da engenharia elétrica (COCIAN, 2009). Na mesma época que Alexandre Graham Bell e o seu assistente Thomas A. Watson estavam trabalhando no telefone em Boston (1876), James Clerk Maxwell da Universidade de Cambridge anunciava e demonstrava que as ondas eletromagnéticas atravessam o espaço com a velocidade da luz. As equações de Maxwell são notáveis, já que elas não estão baseadas na evidencia experimental, mas foram deduzidas pela analogia entre as ondas de luz. O físico alemão Heinrich Hertz, confirmou a teoria de Maxwell em 1888 através de um experimento engenhoso. Perto de um circuito oscilador, ele colocou um fio condutor na forma de um círculo quase fechado, e observou centelhamento no gap. Conforme Cocian (2009), em 1895, Guglielmo Marconi conectou um oscilador de Hertz entre a terra e um ponto elevado, sendo capaz de detectar ondas a uma distância de um pouco mais de um quilometro. Em 1901, ele conseguiu com êxito a transmissão de sinais através do oceano Atlântico. Para Silva Filho (2012, apud GREGORIO, 2019), uma das características principais da engenharia é a capacidade de adaptar-se de forma rápida aos novos conhecimentos e técnicas, principalmente, considerando a rápida evolução tecnológica e a obsolescência das tecnologias já existentes. Inventores imaginativos criaram o novo mundo da eletrônica, utilizando os versáteis tubos de vácuo de inúmeras maneiras. No ano de 1948, John Bardeen, William Shockley e Walter Brattain, tiveram sucesso no controle do movimento dos elétrons num cristal sólido de silício. Cinco anos mais tarde, eles resolveram os problemas práticos da produção e os pequenos transistores começaram a revolucionar a eletrônica (COCIAN, 2009). 2 ELETRICIDADE E MAGNETISMO Como caracteriza Tonidandel et al (2018), prosa e poesia, ética e moral, medicina e mitologia se entrelaçam nos primeiros relatos conhecidos sobre eletricidade e magnetismo. Muito antes de se tornarem objetode ciência, observadores da Antiguidade notavam que determinados materiais, ora submetidos ao atrito com materiais de natureza 10 diferente, cediam ou recebiam determinadas “virtudes”, que pareciam transferir-se de um corpo ao outro, fazendo com que estes, ora inertes, ganhassem propriedades similares ao da “pedra ímã”. A “capacidade de transferência” sugeria que um entre material, dotado de massa, jornadeava livremente entre os corpos − desde que estabelecido um caminho − tornando-os concentrados ou “carregados”. Tais virtudes foram enaltecidas em diversas produções, que acabaram por formar, ao longo do tempo, o inventivo e genioso caminho de descoberta dos fenômenos eletromagnéticos. Registros históricos indicam que no ano de 2637 a.C., as tropas do imperador chinês Huang-ti se perderam na enevoada planície de Tchu-lu, quando perseguiam as tropas inimigas do príncipe rebelde Tchi-yu. Dadas as circunstâncias, Huang-ti construiu uma carruagem sobre a qual uma grande figura feminina, de braços abertos, girava livremente de modo a sempre indicar o sul, qualquer que fosse a direção tomada pela carruagem. Suspeita-se, com muita razão, que ligada a essa figura houvesse uma espécie de agulha magnética que lembrasse uma bússola. A este registro tão antigo seguem-se outros, todos na China (Tonidandel et al, 2018). O primeiro registro não chinês de fenômenos elétricos ou magnéticos ocorre na Grécia, no século VI a.C. Sabemos, por terceiros, que Tales, uma mistura de filósofo e cientista prático, na expressão de Copleston, teria conhecido (ou descoberto) fenômenos elétricos associados ao âmbar, bem como fenômenos magnéticos associados a uma pedra encontrada na região de Magnésia. Ainda conforme Tonindadel et al (2018), Aristóteles é o primeiro a citar Tales e os fenômenos magnéticos, no seu tratado sobre a alma: “Parece que também Tales, a avaliar pelo que se conta, considerava a alma como algo de cinético, se é que ele disse que a pedra [de Magnésia] possui alma pelo fato de deslocar o ferro.” A extensão na qual o comportamento elétrico e magnético e a condutividade podem ser variados é afetada principalmente: (1) pelas energias dos elétrons na camada de valência; (2) pelo “spin” dos elétrons nos átomos; (3) pela estrutura cristalina ou amorfa do material. Dessa forma, o conhecimento dessas relações permite a previsão das propriedades elétricas e magnéticas de um material de forma a não se necessitar de tentativas ao se fazer a seleção do material (VAN VLACK, 1970, apud STEIN, 2016). Deve-se ter certa cautela acerca do fato de Tales ter realmente tido contato com os fenômenos elétricos exibidos pelo âmbar quando atritado. Aristóteles, um sujeito 11 meticuloso em suas afirmações, não menciona nada sobre o âmbar quando fala de Tales, mencionando apenas a pedra-ímã. Aqui há de se acrescentar que a pedra-ímã é um aspecto muito importante no desenvolvimento das concepções filosóficas de Tales, considerado como um dos fundadores da filosofia ocidental. É difícil crer que o âmbar, tendo o poder de atrair objetos, não tenha sido incluído por Tales como um dos exemplos de coisas naturais possuidoras de alma. Ou, por outro lado, que Tales tenha de fato mencionado o âmbar como algo animado e que Aristóteles tenha deixado de mencioná- lo. De qualquer forma, a referência mais antiga ao âmbar e sua relação com Tales, vem de Diógenes Laércio, cuja confiabilidade como historiador já foi posta em questão em muitas oportunidades (Tonidandel et al, 2018). Quinze séculos mais tarde, o experimento de Mileto seria completado pelo físico e médico inglês da corte elizabethiana, William Gilbert, que, em 1600, descobriu que além do âmbar, muitos outros materiais poderiam atrair se fossem friccionados. Muitos outros inventos surgiram desde então. Em 1663, o cientista alemão Otto Von Guericke construiu a primeira máquina eletrostática, que consistia em uma esfera de enxofre em cima de um eixo, que transformava energia mecânica em energia elétrica. Era uma invenção estratégica, já que tempos depois, no final do século XVIII, verificou-se que, por meio do princípio eletrostático, poderia ser possível também gerar energia mecânica. ConformeTonidandel et al (2018), antes dessa constatação, o físico norte- americano Benjamin Franklin observou, em 1752, durante seu experimento, no qual empinou uma pipa em uma tempestade, que a eletricidade podia ser captada e conduzida por fios. Mas temendo ser ridicularizado por seu possível fracasso, que geralmente ocorre na ciência, ele (Franklin) não comunicou sua intenção de realizar este experimento a ninguém, exceto seu filho que o assistiu empinando a pipa. (Priestley 1966, pp 216-217, apud SILVA; PIMENTEL, 2007). O professor italiano de medicina e anatomia, Luigi Galvani, verificou, em 1786, que as coxas de uma rã contraíam-se depois de separadas do corpo, se colocadas em um suporte de ferro. Denominou esse fenômeno como eletricidade animal, mas não soube explicá-lo. A solução desse fenômeno só viria com outro italiano, o físico Alessandro Volta, que ao colocar dois metais distintos imersos em um líquido condutor de corrente 12 observou que ao contrário do que pensava Galvani não era necessário tecido animal para gerar eletricidade. Foi somente após o final do século XVIII, porém, com o físico dinamarquês Hans Christian Oersted e o físico francês André Marie Ampère que foi dado, verdadeiramente, o primeiro passo rumo ao surgimento do motor elétrico. Oersted, ao observar a agulha magnética de sua bússola desviar da posição original norte sul perto de um condutor de energia elétrica e voltar à posição inicial ao ser afastado dele, verificou a conexão entre magnetismo e eletricidade (Tonidandel et al, 2018). Já Ampére, em 1821, um ano após a constatação de Oersted, complementou a experiência do cientista nórdico, criando a “lei da mão direita” que tomou como base a orientação de uma agulha imantada no sentido da corrente. Os cientistas ingleses William Sturgeon e Michael Faraday, inspirados pelas descobertas de seus contemporâneos foram os responsáveis pelos últimos passos rumo à construção do motor elétrico. Sturgeon inventou, em 1825, o eletroimã, que posteriormente teria grande papel na construção de máquinas elétricas gigantes. Já Faraday foi responsável por descobrir, finalmente, a indução eletromagnética. Ele verificou que uma corrente elétrica era induzida nos terminais de um condutor elétrico quando este se movimentava em um campo magnético e provou, definitivamente, a ligação entre magnetismo e eletricidade que já havia sido intuída por Tales de Mileto há quase dois mil anos. O magnetismo é um fenômeno no qual os materiais impõem uma força ou influência de atração ou de repulsão sobre outros. É de conhecimento comum que o ferro, alguns aços e o mineral magnetita, de ocorrência natural, exibem propriedades magnéticas. Mas não tão familiar, no entanto, é o fato que todas as substâncias são influenciadas, em maior ou menor grau, pela presença de um campo magnético (CALLISTER; RETHWISCH, 2014, apud STEIN, 2016). Segundo Tonidandel et al (2018), era 1831 quando Faraday comprovou o eletromagnetismo. Ainda faltavam 35 anos para que o primeiro motor elétrico da história surgisse. Isso não impediu, no entanto, que durante esse período relativamente pequeno, outras máquinas com o mesmo princípio fossem inventadas, a começar por um gerador construído pelo próprio Faraday e que consistia em um disco de cobre com diâmetro de 30 cm. Ele girava no campo magnético formado entre os pólos de um imã com forma de ferradura e produzia eletricidade. Outro inglês, ainda na década de 1830, o cientista W. Ritchie inventou o comutador, peça que seria importante na composição do motor elétrico 13 e o mecânico francês H. Pixii colocou o invento em prática. Pixii construiu um gerador composto de um imãem ferradura que girava na frente de duas bobinas presas com um núcleo de ferro. Este núcleo, utilizado pela primeira vez em um experimento, permitiu o aumento do fluxo magnético e da tensão da indução, fazendo a tensão alternada das bobinas ser transformada pelo comutador em uma tensão contínua pulsante. No final dessa mesma década, o arquiteto e professor de física alemão, Moritz Hermann von Jacobi, deu um objetivo para a nova invenção. Instalou um motor movido a pilhas galvânicas dentro de uma lancha e transportou 14 pessoas durante algumas horas. Mostrou-se, pela primeira vez, que a energia elétrica podia ser utilizada a favor do trabalho mecânico. Contudo, as baterias galvânicas eram muito caras e descarregavam rapidamente, tornando a invenção um artigo de luxo. Através do movimento de partículas carregadas eletricamente, são geradas as forças magnéticas. Estas são adicionais a quaisquer forças eletrostáticas que possam prevalecer, sendo que podem, muitas vezes, ser representadas por linhas de forças imaginárias, a fim de indicar a direção da força em posições na vizinhança da fonte de campo (CALLISTER; RETHWISCH, 2014, apud STEIN, 2016). A mudança de perspectiva viria com Siemens, que, em 1866, já tendo criado um gerador de tensão elétrico baseado no princípio de indução eletromagnética desenvolvido por Faraday, construiu um dínamo e provou que a tensão necessária para o magnetismo podia ser extraída do próprio enrolamento do rotor. Ou seja, a máquina podia gerar sua própria energia e não ficar dependente dos imãs. Assim, a invenção barateou o gerador, que também funcionava como motor quando alimentado por energia elétrica. Com preço menor, estavam criadas as condições para uma maior difusão do novo velho invento (Tonidandel et al, 2018). 14 3 CIRCUITOS ELÉTRICOS Fonte: brasilescola.com Na visão de Teixeira (2015), o circuito elétrico proporciona a interligação de dispositivos e componentes de um sistema elétrico. Quando utilizamos o termo circuito elétrico, podemos estar nos referindo a um modelo matemático ou, então, a um sistema físico. Sabemos que, por meio dos circuitos elétricos, é fornecida a energia elétrica e temos presentes as seguintes grandezas elétricas: corrente, tensão, resistência e potência. Portanto, podemos afirmar que o circuito elétrico é um conjunto de componentes conectadas, em um ou mais caminhos fechados, com a função específica de fornecer energia elétrica para um ou mais elementos. Analisar circuitos empregando apenas a lei de Ohm nem sempre é sufi ciente; somente nos casos de circuitos mais simples, quando a tensão nos terminais de cada elemento e a corrente correspondente forem determinadas. Utilizando-se a lei de Ohm juntamente com as leis de Kirchhoff, o estudo de circuitos elétricos ficará mais completo e satisfatório (NILSSON; RIEDEL, 2009, apud SEIXAS, 2015) 15 A energia elétrica pode ser utilizada, por exemplo, para acender uma lâmpada, acionar um motor, ligar uma lavadora de roupas, entre tantas outras necessidades presentes em nosso dia a dia (Teixeira, 2015). 3.1 Corrente elétrica Conforme Gebran e Rizzato (2017, apud TEIXEIRA, 2015), a corrente elétrica corresponde ao movimento, no interior de um condutor, de elétrons que surgem a partir da aplicação de uma força externa, que pode ser magnética ou elétrica. Quando aplicamos a diferença de potencial na extremidade de um condutor, ela provoca o deslocamento dos elétrons livres, pois se formou um campo elétrico. Esse campo tem a direção do menor potencial, e surge o que denominamos de corrente elétrica. A medida da quantidade desse deslocamento de cargas é chamada de intensidade de corrente elétrica, e sua unidade é o Ampere, representado pela letra A. 3.2 Tensão elétrica Segundo Gebran e Rizzato (2017, apud TEIXEIRA, 2015), para que haja circulação da corrente elétrica, é necessário que um trabalho seja realizado por meio da utilização de um campo elétrico. Ao aplicarmos esse campo nos dois lados do condutor, uma diferença de potencial aparece e conduz a movimentação dos elétrons. O valor da diferença de potencial é a tensão, e sua unidade é o volt, representado pela letra V. 3.3 Resistência elétrica A resistência elétrica é a capacidade de um material de se opor à passagem de corrente elétrica. Quando a corrente elétrica é estabelecida em um condutor, temos um movimento bastante intenso de elétrons livres que começam a se deslocar nele. Com esse movimento, os elétrons começam a colidir entre si, encontrando certa dificuldade na sua circulação. Isto é, existe resistência à passagem da corrente no condutor. Em relação ao condutor, a resistência elétrica apresenta uma variação quanto ao 16 comprimento, à área da seção e à temperatura. Quanto ao comprimento, teremos uma maior resistência elétrica quanto maior for o comprimento. Já na área da seção transversal, é ao contrário, onde se encontra um valor de maior resistência elétrica quanto menor for a área da seção. Também é interessante ressaltar que a temperatura tem uma influência direta na resistência elétrica, pois a variação de temperatura modifica o valor da resistividade do material (TEIXEIRA, 2015). 3.4 Potência elétrica A potência elétrica é a energia gerada por unidade de tempo, fornecida ou recebida por um elemento e igual ao produto da tensão entre os terminais pela corrente que o percorre. Ela é representada pela letra P, e sua unidade é o watt (W). As cargas fluem somente quando são “empurradas” ou “impelidas”. Uma corrente sustentada requer um dispositivo de “bombeamento” adequado para fornecer uma diferença de potencial elétrico – uma voltagem. Se carregarmos duas esferas condutoras, uma positivamente e outra negativamente, podemos obter uma grande voltagem entre as esferas (HEWITT, 2002, P. 393, apud MORAES; TEIXEIRA, 2006). Uma corrente contínua é aquela que circula sempre no mesmo sentido, com uma intensidade constante ao longo do tempo. Já a corrente alternada muda o sentido de circulação, variando com o tempo segundo uma forma senoidal. Ainda conforme Teixeira (2015), no Brasil a frequência utilizada no sistema elétrico é de 60 Hz. O fornecimento de CC é realizado por fontes, como células solares fotovoltaicas e baterias. A própria característica de trabalho CC direciona a sua aplicação para baixas tensões, como o carregamento de baterias, o controle de equipamentos industriais, as aplicações de robótica, entre outros. Atualmente, a CA é usada principalmente na geração e distribuição de energia elétrica, por apresentar vantagens significativas sobre a corrente contínua, tanto na transmissão quanto na distribuição. Por outro lado, uma das maiores vantagens da energia CC é a possibilidade de ser utilizada em aplicações específicas, como no caso das linhas submersas de alta tensão. 17 4 MATERIAIS ELÉTRICOS Na visão de Stein (2016), nos primórdios da humanidade, o Homo Sapiens tinha acesso somente aos materiais presentes na natureza, como madeira, barro, pedras, minério de ferro e outros. Com o passar do tempo, novos materiais foram surgindo e, juntamente com os avanços tecnológicos, foram descobertos materiais com propriedades superiores em comparação aos materiais naturais. Além do mais, se descobriu que as propriedades de um material podiam ser alteradas por meio de tratamentos térmicos e pela adição de outros elementos (como cobalto, tungstênio, magnésio, manganês, chumbo, entre outros). A condutividade elétrica indica a facilidade com que um material conduz corrente elétrica e é o inverso da resistividade. Em função dos valores de condutividade ou de resistividade, os materiais podem ser classificados como: condutores, semicondutores e isolantes (SCHMIDT, 2010, apud ROCHA, 2018). Na visão de Rocha (2012), os materiais elétricos podem ser classificados, de acordo com a sua condutividade elétrica, emmateriais isolantes, condutores e semicondutores. Os semicondutores são materiais elétricos cujas características de condutividades são intermediárias entre as características dos materiais isolantes, que são maus condutores elétricos, ou seja, materiais de baixa condutividade, e as características dos materiais condutores, que são excelentes condutores elétricos, materiais que têm alta condutividade. Portanto, os materiais que, em temperatura ambiente, possuem uma resistividade intermediária entre a dos metais e a dos isolantes são denominados semicondutores. Sabe-se que a corrente elétrica é a taxa de variação da carga em relação ao tempo. As cargas elétricas se deslocam na forma de uma corrente através das diferentes substâncias e de diferentes formas (ANTÔNIO; JÚNIOR, 2018). 18 4.1 Materiais condutores Materiais condutores são aqueles materiais nos quais a corrente elétrica tem baixa resistência em sua passagem. Os materiais condutores podem ser classificados em dois grupos: materiais de grande condutividade, e materiais de elevada resistividade. Ainda conforme Antônio e Júnior (2018) afirmam, os materiais de grande condutividade são aqueles nos quais a corrente deve passar com maior facilidade, gerando as menores perdas possíveis. É o caso dos elementos de conexão entre aparelhos ou que devem dar origem a uma segunda forma de energia por transformação, como bobinas em transformadores ou em máquinas elétricas. Os materiais de elevada resistividade destinam-se à transformação da energia elétrica em energia térmica, como nos chuveiros elétricos ou fornos elétricos. De forma geral, os materiais condutores são formados por metais. Os principais materiais de elevada condutividade elétrica são os metais nobres, além de alguns metais de outros grupos químicos e de ligas metálicas. No entanto, a escolha de um material condutor nem sempre recai naquele metal ou liga com característica elétrica mais vantajosa, mas sim em outro metal ou liga que satisfaça as demais condições de utilização, como o custo. Do ponto de vista econômico, os metais de maior condutividade elétrica mais utilizados são: cobre; alumínio; prata; chumbo; platina; mercúrio (ANTÔNIO; JÚNIOR, 2018). 4.2 Materiais semicondutores A condutividade de um material semicondutor é influenciada por perturbações em sua estrutura, em especial pela presença de impurezas. Os átomos são formados por elétrons, prótons e nêutrons. Os elétrons giram em orbitas em torno do núcleo, que é composto pelos prótons e nêutrons. A quantidade de elétrons, prótons e nêutrons muda de acordo com cada tipo de elemento químico, e quanto maior for a energia do elétron, maior será o raio da órbita por onde ele gira (SCHMIDT, 2010, apud ROCHA, 2012). Os elétrons que se encontram na camada mais externa são chamados de elétrons de valência, e, por isso, essa última orbita recebe o nome de orbita de valência ou banda 19 de valência. Os elétrons de valência são os elétrons que podem liberar-se dos átomos por força de alguma energia externa, como calor e luz, ou que podem ligar-se a outro átomo por meio de ligações covalentes, que consistem no compartilhamento de elétrons da última camada de um átomo com os elétrons da última camada de outro átomo. Quando um átomo recebe energia externa, faz com que os elétrons de valência se tornem elétrons livres que formam uma banda de condução que pode se movimentar pelo material (ROCHA, 2012). Nos materiais isolantes quase nenhum elétron tem energia suficiente para sair da banda de valência e atingir a banda de condução, proporcionando assim uma corrente elétrica muito baixa nesses materiais. Nos materiais condutores os elétrons de valência passam facilmente para a banda de condução sem ter a necessidade de muita energia, fazendo com que esses materiais resistam pouco à passagem de corrente. Os semicondutores são materiais que tem características intermediárias entre os condutores e os isolantes, ou seja, necessitam mais energia que os condutores para que os elétrons de valência passem para a banda de condução e proporcionam mais corrente elétrica que os isolantes. (SMITH; HASHEMI, 2012, apud ROCHA, 2012). Uma característica dos semicondutores é que eles são tetravalentes, ou seja, apresentam 4 elétrons livres na camada de valência, que é a camada mais externa do átomo. Assim, para obter a estabilidade (8 elétrons na camada de valência) os átomos tetravalentes precisam compartilhar mais 4 elétrons. Como caracteriza Antônio e Júnior (2018), os semicondutores são sólidos cristalinos de condutividade intermediária. Atualmente, os materiais mais utilizados como semicondutores são o germânio e o silício. Um cristal de silício (Si) puro ou intrínseco é considerado um material isolante, pois o átomo de silício pode se ligar a mais quatro átomos e adquirir estabilidade. Podemos também considerar novamente o cristal de silício, mas, dessa vez, o cristal dopado. A dopagem pode ser feita de duas maneiras como afirma Antônio e Júnior (2018): 1 - por átomos trivalentes, com 3 átomos livres na camada de valência; 2 - por átomos pentavalentes, com 5 átomos livres na camada de valência. 20 Se o cristal for dopado com átomos trivalentes, a estabilidade do cristal será desfeita. Nesse elemento, alguns átomos de silício ficaram sem a quarta e última ligação necessária para se tornarem-se estáveis. Nesse caso, a falta de elétrons cria a chamada lacuna no cristal. Olhando de forma geral, o cristal com falta de elétrons tem uma característica positiva; por isso, é chamado de elemento Tipo P. Utilizando impurezas pentavalentes, todos os elétrons do semicondutor formam ligações covalentes com os elétrons do átomo de impureza. Porém, como a impureza tem cinco elétrons de valência, e o semicondutor, apenas quatro, um elétron fica sem ligação e, como esse elétron fica livre, ele vai para a banda de condução. Portanto, o processo de dopagem cria um número elevado de elétrons na banda de condução, formando portadores de carga majoritária no material. Sendo assim, as lacunas passam a ser as portadoras de cargas minoritárias. Por isso, quando o semicondutor é dopado com átomos pentavalentes, ele passa a se chamar de semicondutor do tipo N (SCHMIDT, 2010, apud ROCHA, 2012). Ou seja, se o cristal for dopado com átomos pentavalentes, a estabilidade do cristal também será desfeita. No elemento resultante, os átomos de silício obterão estabilidade, mas como o átomo pentavalente apresenta 5 elétrons livres, 1 desses 5 elétrons ficará livre. Assim, de forma geral o cristal dopado com átomos pentavalentes assume uma característica negativa, o que confere a ele o nome de elemento Tipo N (ANTÔNIO; JÚNIOR, 2018). 4.3 Materiais isolantes ou dielétricos São considerados materiais isolantes ou dielétricos aqueles materiais que oferecem resistência à passagem de cargas (corrente elétrica). Como exemplos de matérias isolantes temos a borracha, o silicone, o vidro, a cerâmica e o papel. O que torna o material um dielétrico é a ausência de elétrons livres. O processo comum para qualquer dielétrico que ocorre quando é submetido a uma diferença de potência (tensão) é a polarização do dielétrico, um deslocamento de parte das cargas ou a orientação de moléculas dipolares (ANTÔNIO; JÚNIOR, 2018). A propriedade isolante de determinado material é mantida até o momento em que determinado nível de tensão é aplicado ao material. Caso a diferença de potencial seja 21 muito grande, o isolante passa a agir como um condutor. A unidade que mede a tensão máxima a ser aplicada a um material é chamada de rigidez dielétrica. Antônio e Júnior (2018) afirmam que a polarização de um dielétrico pode ser exemplificada a partir do funcionamento de um capacitor (componente eletrônico passivo que armazena energia no campo elétrico). No geral, o capacitor é constituídopor duas placas condutores, separadas por um meio dielétrico (papel, óleo, cerâmica, etc). 5 FONTES DE ENERGIA E MEIO AMBIENTE Fonte: engegrid.com Segundo Rosa et al (2012), energia é um recurso fundamental para o desenvolvimento de qualquer economia e civilização. Hoje ela é vista como estratégica no cenário de poder mundial e regional e estima-se que a demanda energética mundial triplique nos próximos 30 anos. Dessa forma, o consumo energético mundial terá crescido 6 vezes em 80 anos. 22 5.1 Tipos de fontes de energia Fontes renováveis: são abundantes (como o sol e os ventos), podem ser plantadas (biomassa) ou não descaracterizadas durante o uso (como a água em uma hidrelétrica). Fontes não renováveis: recursos minerais, mais ou menos escassos dependendo do tipo (petróleo, carvão, urânio, etc.) e da região. Rosa et al (2012) afirma que, a demanda energética atual apresenta uma forte tendência ao uso de fontes renováveis, ao contrário do ciclo energético, que foi baseado essencialmente no petróleo. Tal combustível se mostrou, ao longo dos anos, bastante suscetível a crises, com subidas de preços na maior parte das vezes artificiais. A primeira crise do gênero se deu em 1973 e elevou o preço médio do barril de US$ 2,8 para US$ 12 (valores nominais médios). A partir de então, o mundo conheceu uma nova sigla, a OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo – da qual fazem parte Irã, Iraque, Kwait, Líbia, Nigéria, Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Venezuela, Angola, Argélia e Equador. A Casa Civil da Presidência da República do Brasil, por meio da Lei nº10.438, de 28 de abril de 2002, criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). O programa tem como objetivo aumentar a participação de fontes alternativas renováveis como pequenas centrais hidrelétricas (PCH), usinas eólicas e termelétricas à biomassa, privilegiando investidores que não tenham vínculo societário com concessionárias de geração. O incentivo define preços diferenciados, mais atrativos, para a contratação de energia eólica e outras fontes renováveis alternativas (BRASIL, 2002, apud MARIMON, 2018). Além de representar um papel importante relacionado à soberania de um país, a energia também pode significar divisas para exportação ou gastos com importação. O Brasil sempre apresentou uma dependência histórica do petróleo internacional, chegando a importar 90% do necessário na dé cada de 1970. A alta no preço do barril tornou a busca por óleo no mar compensatório e fez com que a Petrobrás se desenvolvesse como uma grande empresa do setor, diminuindo paulatinamente a dependência nacional mesmo com a demanda crescente, até a autossuficiência em 2006. Nesse período, o país desenvolveu tecnologia própria, inclusive exportando o conhecimento adquirido. Em 23 outra escala, desenvolvimentos tecnológicos similares ocorreram para os casos do etanol, urânio e biodiesel (ROSA et al, 2012). 5.2 Energia hidráulica Na opnião de Rodrigues (2017), a energia é gerada a partir de uma fonte contínua de movimento de água. A força da queda da água é utilizada para movimentar turbinas que acionam um gerador elétrico. Para que isso ocorra, na construção de usinas hidrelétricas, são criados grandes reservatórios de água, inundando uma extensa área de terra, o que pode provocar profundas alterações no ecossistema, como a destruição da fauna e da flora locais. Conforme o tipo de relevo e da região onde se encontra o empreendimento, as hidrelétricas podem também ocasionar o alagamento de terras e o deslocamento de populações ribeirinhas. A usina de fio d’água é um outro tipo de usina hidrelétrica, que opera sem a necessidade de grandes reservatórios. 5.3 Energia termelétrica Conforme Rodrigues (2017) explica, a energia térmica ou calorífica se origina da combustão de diversos materiais, como carvão, petróleo, gás natural, outras fontes não renováveis e biomassa (lenha, bagaço de cana etc.), que é uma fonte renovável, podendo ser convertida em energia mecânica e eletricidade por meio de equipamentos como caldeiras a vapor e turbinas a gás. Após a geração de eletricidade, o calor que sobra pode ainda ser aproveitado em outros processos, principalmente na indústria. Usinas de cogeração é o nome dado às usinas que produzem ao mesmo tempo calor e eletricidade. Há diferentes métodos utilizados para a geração de energia térmica, e eles envolvem diferentes combustíveis: Gás natural: reservas de gás natural foram formadas há milhões de anos com a sedimentação do plâncton. Sua combustão libera óxido de nitrogênio e dióxido de carbono. Depois de tratado e processado, o gás natural é amplamente utilizado em indústrias, no comércio, em residências e em veículos. Em países de clima frio, é muito 24 utilizado no aquecimento ambiental. Já no Brasil, seu uso residencial e comercial é na cocção de alimentos e no aquecimento de água (REIS, 2011, apud RODRIGUES, 2017). Petróleo: o petróleo, que se formou durante milhões de anos pelas transformações químicas de materiais orgânicos, como os plânctons, a partir da queima de seus derivados, também pode operar termelétricas. Contudo, os derivados do petróleo (gasolina, óleo combustível, óleo diesel etc.), quando queimados, produzem gases contaminantes, como monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e dióxido de carbono, que poluem a atmosfera e contribuem para o aquecimento da Terra e para a formação de chuva ácida, entre outros efeitos nocivos. O consumo de petróleo e seus derivados no Brasil está mais relacionado ao setor de transportes do que ao setor elétrico. Carvão mineral: é outro combustível muito usado em termelétricas. Também formado há milhões de anos a partir de restos de plantas e animais, dos combustíveis não renováveis, esse é o que causa o maior impacto ambiental. Sua combustão, além de liberar dióxido de carbono, que contribui para o aumento do efeito estufa, emite grandes quantidades de óxidos de nitrogênio e enxofre, que provocam acidificação (chuva ácida), e podem agravar doenças pulmonares, cardiovasculares e renais nas populações próximas. A abundância de outros recursos naturais disponíveis no Brasil, principalmente no que diz respeito à geração de energia elétrica, faz com que a utilização do carvão mineral seja bastante limitada, em consequência também de sua baixa qualidade, como teor calorífico baixo e alto teor de enxofre. Biomassa: é uma fonte renovável formada por matéria de origem orgânica que pode ser usada como combustível em usinas termelétricas. Um exemplo de biomassa é o bagaço da cana (RODRIGUES, 2017). 5.4 Energia nuclear Ainda conforme Rodrigues (2017), por uma reação denominada fissão nuclear, a energia é liberada no reator nuclear. Os núcleos dos átomos são bombardeados uns contra os outros, provocando o rompimento dos núcleos e a liberação de energia, resultando em radiação e calor, que transforma a água em vapor. A pressão resultante desse processo é usada para produzir eletricidade. O urânio, um metal pesado radioativo, 25 é a matéria-prima empregada na produção de energia nuclear. Esse tipo de produção de energia gera muitas discussões, seja pelos problemas de contaminação resultantes da extração do urânio ou pelas dificuldades de eliminação de dejetos radioativos. Além disso, assim como em outros tipos de usinas termelétricas, a água empregada nos sistemas de refrigeração, quando lançada em rios ou mares, por exemplo, aumenta a temperatura e prejudica os seres vivos locais. No caso das usinas nucleares do Brasil, o rejeito de calor é lançado ao mar. 5.5 Energia eólica É a energia produzida a partir da força dos ventos. A força do vento é captada nos aerogeradores por hélices ligadas a uma turbina que aciona um gerador elétrico. A produção de energia eólica se dá por meio da transformaçãoda energia mecânica do vento em energia elétrica. A utilização da energia mecânica do vento é conhecida pela humanidade há centenas de anos, passando por aplicações de produção de alimentos (moinhos) e navais. Os moinhos de eixo horizontal passaram a ser utilizados na região do mediterrâneo e na Europa entre os anos de 1300 e 1875 (FLEMING; PROBERT, 1984, apud MARIMON, 2018). Essa fonte é abundante, limpa e renovável, podendo ser explorada em muitos lugares. Ela é utilizada desde os anos 1970 para fins comerciais em decorrência da crise do petróleo no mundo, inicialmente pelos Estados Unidos e alguns países da Europa, na busca de diminuir a dependência do petróleo e do carvão. No Brasil, o potencial de aproveitamento da energia eólica é de 143.000 megawatts. Os estados que apresentaram os potenciais mais promissores são Ceará e Rio Grande do Norte (RODRIGUES, 2017). 5.6 Energia solar O sol é uma fonte de energia inesgotável. Muitas fontes de energia renováveis derivam do sol, com seu uso direto, para fi ns de aquecimento ou geração de eletricidade, e indiretamente, como é o caso da energia dos ventos, das águas, das plantas etc. Com o uso de diversas tecnologias, a radiação solar pode ser convertida em energia útil. 26 Usando concentradores solares feitos de espelhos facetados, é possível obter elevadas temperaturas, sendo utilizadas em processos térmicos ou na geração de eletricidade (REIS, 2011, apud RODRIGUES, 2017). A cadeia de atividades da geração de energia solar é bem simples, mas a instalação dos equipamentos ainda tem um custo elevado 5.7 Conversão de energia Rosa et al (2012) diz que a conversão de um tipo de energia em outro é uma atividade corriqueira. A fonte básica é o sol, cuja energia luminosa é convertida por seres autótrofos em alimento, fornecendo a base para a existência de cadeias tróficas. Durante o movimento de um automóvel, a energia química do combustível é convertida em energia cinética pelo motor (chamado de motor de combustão interna, seja Ciclo Otto ou Ciclo Diesel), que movimenta o eixo e faz as rodas girarem. Dessa forma, motor é o equipamento que transforma energia em movimento. O equipamento que transforma movimento em energia é o gerador. Outro exemplo bastante prático de conversão energética ocorre em uma usina termelétrica. A produção de eletricidade pode se dar em: 1. Motogeradores: em um motor de combustão interna, a explosão gerada pela queima do combustível movimenta o pistão, e este movimenta o eixo de um gerador de eletricidade acoplado (a ser tratado posteriormente). 2. Turbina a gás: a queima do combustível se dá próximo a uma turbina (conjunto de pás desenhadas para se movimentarem pela passagem de fluidos gerando movimento do eixo a ela acoplado) e a expansão gerada pela explosão aciona o gerador. 3. Turbina a vapor: o combustível queimado, e/ou o gás proveniente da turbina a gás, aquece um fluido (normalmente a água, cujo aquecimento também pode ser feito pela fissão do urânio), até formar vapor sob pressão. O alívio da pressão contra as pás de uma turbina gera nestas um movimento que pode, por sua vez, ser empregado para acionar um gerador acoplado a essa turbina. O vapor que sai da turbina pode ser lançado para o ambiente ou então reciclado 27 por um condensador, onde novamente como líquido será devolvido ao sistema de geração. Em um sistema de ciclo aberto ou simples (1 ou 2), a eficiência normalmente não passa de 35%, sendo o restante da energia perdido, por exemplo, como som e calor. Em um sistema de ciclos combinados, emprega-se o princípio da cogeração, que consiste no aproveitamento de um combustível na geração simultânea de trabalho mecânico (e deste, a eletricidade) e calor. Rosa et al (2012), conclui que entre os impactos ambientais de um sistema de geração termelétrico, certamente se listam os gases de exaustão, que, no caso de um motor de combustão interna, podem chegar a 550º C, e a água a ser aquecida ou utilizada no sistema de refrigeração. Embora a utilização de sistemas fechados de refrigeração evite a captação constante de água de recursos hídricos, a troca de calor para resfriamento do vapor devolve água aquecida para o ambiente. 6 SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA Para Binotto (2018), o fornecimento de eletricidade é considerado um serviço básico, assim como o saneamento, a iluminação pública e os sistemas de abastecimento de água, devido à dependência, da humanidade, desses serviços. A engenharia de energia, também chamada de engenharia de sistemas de energia, lida com a geração, transmissão, distribuição e utilização de energia elétrica, além do aparato elétrico conectado a esses sistemas. Embora grande parte do campo esteja preocupada com os problemas de energia de corrente alternada trifásica — o padrão para transmissão e distribuição de energia em larga escala no mundo moderno —, uma fração significativa está relacionada à conversão entre energia de corrente alternada e corrente contínua e o desenvolvimento de sistemas de energia especializados, como os utilizados em aeronaves ou em redes ferroviárias elétricas. A engenharia de energia entrelaça os fundamentos da física clássica e moderna, química e matemática, com aplicações de técnicas modernas de engenharia (ABB, 2006; apud ENGINEERING SCIENCE, 2016, apud GUIA DO ESTUDANTE, 2012, apud SARAIVA, 2020). Para que a energia elétrica chegue até o consumidor, o caminho é longo e passa por geração, transmissão e distribuição. Esse caminho é o que compõe o chamado sistema elétrico de potência. A função do sistema elétrico de potência é fornecer energia 28 elétrica a grandes e pequenos consumidores, com uma qualidade mínima estabelecida por normas vigentes do setor e no momento em que for solicitada. O crescimento da população mundial e, consequentemente, o crescimento econômico dos países demanda cada vez mais energia, o que faz com que os sistemas elétricos precisem ser cada vez mais robustos e inteligentes para atender todos (BINOTTO, 2018). 6.1 Estrutura dos sistemas elétricos de potência Os sistemas elétricos de potência são sistemas complexos compostos por aspectos técnicos e regulatórios. Existem leis e normas que devem ser seguidas para que o consumidor seja atendido com a qualidade mínima exigida. Para isso, há uma estrutura composta por diversas instituições que organizam esse sistema. No Brasil, o poder federal regula e fiscaliza a geração, a transmissão e a distribuição de energia elétrica. Desse modo, as concessões são de responsabilidade do Ministério de Minas e Energia (MME), enquanto a regulação e a fiscalização são exercidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Assim, o MME é o órgão do Governo Federal responsável pela formulação, organização e implantação das políticas energéticas do Brasil, de forma integrada, monitorando a segurança de suprimento e definindo ações de prevenção (COMPANHIA PAULISTA DE FORÇA E LUZ, 2014, apud BINOTTO, 2018). Para assessorar o MME em questões técnicas, foi criado o Conselho Nacional de Política e Energia (CNPE). Esse órgão tem por objetivo estabelecer diretrizes das políticas energéticas, visando ao aproveitamento racional dos recursos de energia (COMPANHIA PAULISTA DE FORÇA E LUZ, 2014, apud BINOTTO, 2018). Sob o comando do MME, existem três instituições: a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), cuja função é realizar os estudos relacionados ao sistema energético nacional e a sua expansão; a ANEEL, que é responsável pela regulação e pela fiscalização do setor elétrico; e o Comitê de Monitoramento do Setor de Energia (CMSE), qual é responsável pelo monitoramento do fornecimento de energia do sistema e pela solução dos problemas que existirem nessa etapa (COMPANHIA PAULISTA DE FORÇA E LUZ, 2014, apud BINOTTO, 2018). 29 O ONS é uma empresa pública de direito privado, sem fins lucrativos,criada pelas Leis nº. 9.648 e 10.848/2004 e regulamentada pelo Decreto nº. 5.081/2004, sendo responsável pela operação dos sistemas de geração, pela transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN) e pelo planejamento da operação dos sistemas isolados. SIN é a interconexão dos sistemas elétricos subdivididos regionalmente entre os sub-sistemas Sul, Sudeste/Centro-oeste, Nordeste e a maior parte da região Norte. Por meio de um sistema de transmissão, esses subsistemas podem realizar a transferência de energia entre eles, integrando os recursos de geração para atender à demanda dos consumidores (BRASIL, 2018, apud BINOTTO, 2018). O ONS desenvolve estudos visando à operação dos sistemas de geração de maneira ótima, isto é, gerar a maior quantidade de energia com o menor custo, sempre respeitando os níveis de qualidade e segurança definidos pela ANEEL. Além disso, é de responsabilidade do ONS que todos os agentes do setor elétrico tenham igual acesso às redes de transmissão, bem como garantir que a ampliação do SIN seja realizada com o menor custo, atendendo às condições operacionais futuras (BRASIL, 2018, apud BINOTTO, 2018). Também fiscalizada pela ANEEL, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) é uma entidade, sem fins lucrativos, composta pelos agentes que atuam no mercado de compra e venda de energia elétrica. Os principais objetivos da CCEE são a realização de leilões públicos de energia elétrica e a documentação de contratos de comercialização. 6.2 Histórico dos sistemas elétricos de potência O sistema elétrico de potência é uma das obras mais complexas desenvolvidas pela humanidade e passou por um longo período até ser o que se conhece hoje. Graças a esse desenvolvimento, o crescimento e o desenvolvimento dos países foi possível e essa grande rede de conversão e transporte de energia se tornou confiável, segura e totalmente necessária para a sociedade. 30 A história do sistema elétrico começou em 1878, quando Thomas A. Edison passou a pesquisar um sistema elétrico formado por uma central elétrica que distribuiria esse tipo de energia para a redondeza (GLOVER; SARMA, 2003, apud BINOTTO, 2018). Com o objetivo de atrair a atenção de potenciais investidores, a estação de Pearl Street ficava no distrito financeiro e comercial de Nova Iorque e marcou o começo da indústria da eletricidade. Na inauguração da estação, em 1882, cerca de 60 clientes eram abastecidos em uma milha quadrada. Em um mês, a carga já era aproximadamente três vezes maior e no ano seguinte mais de sete vezes maior (GLOVER; SARMA, 2003, apud BINOTTO, 2018). Alguns anos depois, essa estação se incendiou. Embora tenha sido reconstruída, encerrou completamente suas atividades um tempo depois. Apesar disso, esse foi um marco importante na história dos sistemas elétricos de potência. Segundo Glover e Sarma (2003, apud BINOTTO, 2018): O sistema desenvolvido por Edison era um sistema em corrente contínua (CC), de 220V, e logo alguns problemas relacionados a esse nível de tensão, às distâncias de transmissão e ao crescimento das cargas começaram a aparecer. Com o desenvolvimento de um transformador viável, comercialmente falando, Stanley tornou possível a distribuição de energia em alta tensão, com corrente menor e menores quedas de tensão na linha. Isso fez com que a corrente alternada (CA) se tornasse mais atrativa frente aos equipamentos que operavam em CC. Logo foi instalada a primeira linha monofásica operando em CA. Com 21 km, a linha ligava Oregon a Portland e operava em 4 Kv. Nikola Tesla teve sua participação registrada no Instituto Americano de Engenheiros Eletricistas quando apresentou um artigo sobre um motor de indução bifásico. Nessa pesquisa, ele defendeu as vantagens dos sistemas polifásicos, quando comparados aos sistemas monofásicos. Por fim, as primeiras linhas trifásicas começaram a operar em 1891 e 1893, na Alemanha, com tamanho de 179 km em 12 kV, e nos Estados Unidos, com 12 km em 2,3 kV, respectivamente (GLOVER; SARMA, 2003, apud BINOTTO, 2018). 31 6.3 História do sistema elétrico de potência no Brasil Enquanto isso, no Brasil, em 1879, foi utilizado um dínamo para criar o primeiro serviço de iluminação pública, instalado na estação central da ferroviaDom Pedro II. Anos depois, também no Rio de Janeiro, foi a vez do jardim do Campo da Aclamação, atualmente conhecido como Praça da República, receber uma iluminação pública (GOMES et al., 2002, apud BINOTTO, 2018). A primeira central geradora brasileira foi instalada na cidade de Campos, no Rio de Janeiro, tendo a capacidade de 52 kW utilizados para alimentar 39 lâmpadas. Uma caldeira alimentada à lenha gerava o vapor necessário para alimentar a termelétrica. A história do Brasil no ramo das hidrelétricas iniciou em 1883, na cidade de Diamantina, em Minas Gerais. Utilizando a força das águas do Ribeirão do Inferno, afluente do rio Jequitinhonha, gerava-se energia para abastecer a extração de diamante que acontecia a 2 km de distância (GOMES et al., 2002, apud BINOTTO, 2018). Com o crescimento do setor hidrelétrico justificado pelo grande potencial hídrico do país, em 1903, iniciou-se o processo de regulamentação da utilização e do aproveitamento da energia hidráulica dos rios brasileiros para fins de serviços públicos. Apesar de não funcionar efetiva e imediatamente, essa lei foi importante para que o processo regulatório dessa atividade começasse (GOMES et al., 2002, apud BINOTTO, 2018). Entre 1900 e 1920, a população do Brasil quase dobrou, o que fez com queo potencial hidráulico, localizado entre Rio de Janeiro e São Paulo, crescesse mais de 600%. Somente em 1903 foi construída uma hidrelétrica em Alagoas, utilizando as águas da Cachoeira de Paulo Afonso, para alimentar as máquinas das fábricas de linhas e fios da região. A tentativa de regular o setor elétrico nacional era cada vez mais urgente, já que o crescimento do país fazia com que mais investidores empreendessem nele, da forma que melhor lhes cabia. Só em 1934 foi formalizado o Código de Águas, que definiu o papel intervencionista do Estado na gestão do setor hidráulico e energético do país (GOMES et al., 2002, apud BINOTTO, 2018). 32 O Código de Águas definia que a União passava a deter a competência de legislar e outorgar concessões de serviços públicos de energia elétrica, antes estabelecidos apenas por contratos. Assim, foram revistos os critérios utilizados para definir os preços dos serviços prestados pelas companhias, o que determinou que o preço do serviço deveria sanar as despesas da operação e da depreciação das instalações e prover uma justa remuneração às empresas. A justa remuneração seria definida de acordo com o custo histórico das instalações (GOMES et al., 2002, apud BINOTTO, 2018). 7 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Na visão de Morais (2015), as energias solar, hidrelétrica, nuclear, eólica entre outras, transformadas em energia elétrica são hoje um recurso indispensável para o desenvolvimento socioeconômico de muitos países e regiões. Com progressos tecnológicos de geração e transmissão de eletricidade, podemos observar regiões, anteriormente pobres e desocupadas, transformando-se em grandes centros urbanos e polos industriais. Porém, apesar dos avanços e investimentos na geração e transmissão de energia elétrica, cerca de um terço da população mundial ainda não tem acesso a esse recurso, e outra grande parte é atendida de forma insuficiente. A energia elétrica gerada nas usinas (Hidrelétrica, Térmica ou Nuclear) para chegar ao consumidor final passa por processos de transformação que modificam os níveis de tensão com o objetivo de diminuir as perdas inerentes ao processo de transmissão e a adequação aos limites requeridos pelos consumidores (MORAES, 2001, p.16, apud NETTO; HENKES, 2015). Além disto, nas últimas décadas a sociedadedespertou para uma nova abordagem sobre os recursos energéticos que utiliza. Começou-se a pensar em fatores como: sustentabilidade, poluição ambiental, custo social e segurança energética, ou seja, uma oferta de energia elétrica capaz de atender a crescente demanda, principalmente nos países emergentes. De acordo com Morais (2015), os aspectos econômicos ainda continuam a exercer forte influência na definição da matriz energética de um determinado país, porém 33 considerando os diversos fatores, surgem grandes investimentos nas fontes renováveis de energia: tais como energia eólica, solar, biomassa, entre outras. O documento “International Energy Outlook (IEO)”, elaborado pela Energy International Administration (EIA), estima que a geração de energia elétrica no mundo aumentará 77% entre 2006 e 2030. No entanto, atualmente com a crise econômica mundial, a demanda de energia elétrica no setor industrial sofre redução devido à diminuição dos produtos manufaturados. A energia hidrelétrica é a principal fonte geradora de energia elétrica para mais de 30 países e representa por volta de 20% de toda eletricidade gerada no mundo, no entanto, os países desenvolvidos praticamente já exploraram todos os seus recursos hidrelétricos, com exceção do Canadá e da Turquia, portanto são poucos os projetos de hidrelétricas para o futuro, ou seja, o crescimento da utilização de outras fontes renováveis deverá ocorrer, particularmente a eólica, a solar e a biomassa. Ainda conforme Morais (2015), esses países, sobretudo os europeus, possuem políticas governamentais que incentivam a exploração de energias renováveis. Com relação às fontes de energias não renováveis, as de mais destaque na matriz energética mundial são: o petróleo, o gás natural, o carvão e a energia nuclear. Mesmo com a diminuição da utilização do petróleo, o mesmo deverá permanecer nos próximos anos como a principal fonte de energia no mundo, já o gás natural é o combustível fóssil que mais vem crescendo sua participação na matriz energética mundial, tanto em termos da oferta quanto de consumo. Isso se deve a substituição de outros combustíveis fósseis por gás natural. A abundância de recursos hídricos faz com que a utilização de energia hidráulica na geração de eletricidade ocorra de forma significativa em alguns países, como é o caso do Brasil, onde, atualmente, mais de 85% da energia elétrica é gerada com esse tipo de usina. Em 2009, a capacidade instalada em usinas hidrelétricas era de 78,2 GW (REIS, 2011, apud RODRIGUES, 2017). A utilização do gás natural em termelétricas é responsável por 22% da matriz elétrica mundial. Para atender o aumento da demanda mundial por gás natural, a produção vem crescendo em todas as regiões do mundo, com a possibilidade de comercializar o gás sob a forma de gás natural liquefeito ocorre um aumento na produção mundial. 34 As fontes renováveis apresentam crescimento tanto na oferta como no consumo total de energia no mundo, em especial devido às exigências do governo e da sociedade em busca de uma matriz energética mais “limpa”. Com a redução de preços no setor e desenvolvimento tecnológico dos materiais semicondutores utilizados na fabricação de painéis fotovoltaicos, a energia solar aumentou sua participação na oferta total de energia no mundo (MORAIS, 2015). Desde que o homem começou a transformar as energias disponíveis na natureza, vários impactos associados a essas transformações passaram a ser gerados no meio ambiente. Com a revolução industrial e a criação das máquinas térmicas, potencializaram-se os impactos inerentes a qualquer atividade antrópica. Como todas as formas de geração de energia elétrica, a hidrogeração1 possui variados impactos ambientais. Alguns desses impactos só começaram a ser compreendidos na sua totalidade recentemente com a emergência do pensamento ecológico e o reconhecimento das interações dos fenômenos físicos com o meio ambiente, homem e sociedade. No Brasil hoje, a geração de energia elétrica a partir de usinas hidrelétricas responde por setenta e cinco por cento da capacidade instalada (ANEEL, 2008, apud NETTO; HENKES, 2015). A existência de grandes rios, a geografia do território brasileiro e os índices pluviométricos registrados em determinadas regiões do país justificam a opção por essa matriz de geração. Outro fator que deve ser levado em conta é que a energia gerada nas centrais hidrelétricas pode ser considerada limpa, isto é, no processo de geração não são emitidos agentes poluidores nos corpos hídricos e na atmosfera. Entretanto uma análise mais cuidadosa mostra que essa forma de geração envolve um impacto profundo no meio ambiente natural em que é inserida. Esse impacto engloba fauna, flora e o homem assim como suas interações, e se estende muitas vezes, além da entrega da usina para operação (ANNEL,2008, apud NETTO; HENKES, 2015). Acrescida à geração, levar energia através de linhas de transmissão e distribuição para todas as populações distantes das centrais geradoras pode ser também dispendioso e danoso ao meio. 35 No que se refere à distribuição de energia elétrica, no Brasil, acredita-se que mudanças urgentes devem ser efetivadas para que não haja problemas futuros na geração e distribuição de energia para todas as regiões do país (NETTO; HENKES, 2015). 8 TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Fonte: prefeituradeatibaia.com As atividades relativas ao planejamento da transmissão desempenhadas pela Superintendência de Transmissão de Energia – STE foram conduzidas, em caráter regional, pelos Grupos de Estudos de Transmissão Regionais (GET) da EPE com a colaboração das concessionárias de transmissão e de distribuição na sua área de atuação (BRASIL, 2018). A expansão da Rede Básica de transmissão (instalações com tensão igual ou superior a 230 kV) deve ser estabelecida de forma a permitir que os agentes de mercado tenham livre acesso à rede, possibilitando um ambiente propício para a competição na geração e na comercialização de energia elétrica no sistema interligado. Além do 36 atendimento ao mercado, o sistema de transmissão desempenha o importante papel de interligar os submercados de energia elétrica, permitindo a equalização dos preços da energia por meio da minimização dos estrangulamentos entre os submercados, possibilitando um despacho otimizado do parque gerador (BRASIL, 2018). As análises desenvolvidas no planejamento da expansão do sistema de transmissão seguem os critérios de desempenho de acordo com o documento de Critérios e Procedimentos para o Planejamento da Expansão de Sistemas de Transmissão, apresentado nas referências bibliográficas. A seleção de alternativas é conduzida considerando o desempenho elétrico e socioambiental e o enfoque do mínimo custo global, ou seja, considerando, além dos custos referentes às perdas elétricas no sistema, os investimentos relativos às obras necessárias na Rede Básica, nas Demais Instalações de Transmissão, na Rede de Distribuição e nas instalações de uso restrito de cada empreendimento (BRASIL, 2018). A energia é, geralmente, transmitida através de linhas de energia aéreas. A transmissão de energia subterrânea tem um custo de instalação significativamente mais alto e maiores limitações operacionais, mas custos de manutenção reduzidos, sendo usada em áreas densamente urbanizadas ou sensíveis ao meio ambiente. Então, a eletricidade é transmitida em altas tensões (66 kV ou mais) para reduzir a perda de energia que ocorre na transmissão de longa distância causada pelo efeito Joule, que expressa a relação entre o calor gerado e a corrente elétrica que percorre um condutor (HALLIDAY, 2000, apud SARAIVA, 2020). Conforme Conceição et al (2016), Durante anos, o crescimento da população sobe absurdamente, com isso, cresce também a demanda de energia elétrica no país, principalmente em regiõesmais afastadas dos grandes centros urbanos. Surge, pois, a necessidade do transporte da energia elétrica, através de distancias não muito pequenas. Contudo, alguns locais de grande população vão sendo desenvolvidos no trajeto, o que acaba acarretando maiores dificuldades no transporte de energia elétrica. Segundo Carvalho (2012, apud CONCEIÇÃO et al, 2016), o custo do transporte aumenta com a distância a ser vencida e diminui com a quantidade de energia a ser transportada. Qualquer estudo de viabilidade econômica de um aproveitamento hidroelétrico devera equacionar custo de produção e custo de transporte de energia produzida. 37 O crescimento de novas técnicas utilizadas para transportar energia elétrica torna cada vez mais compreensível, a utilização de transmissão em corrente continua aparece em um cenário onde a vantagem em relação a transmissão em CA (Corrente Alternada) é bastante elevada, considerando o uso aproveitado da melhor qualidade de energia transportada. O surgimento de novas tecnologias para maximizar as vantagens e diminuir os custos em relação as estações conversoras, vem se tornado cada vez mais eficaz. Para garantir maior eficácia na produção de energia, as centrais de geração usualmente são construídas distantes dos consumidores finais de energia, por esse motivo, a energia produzida precisa ser transportada por longas distancias por um sistema de transmissão. Este sistema é composto basicamente, por cabos aéreos revestidos por um material isolante, ligados à grandes torres metálicas por estruturas isolantes de vidro ou porcelana. Todo este conjunto é chamado de rede de transmissão (Baroni, 2012, apud CONCEIÇÃO et al, 2016). 8.1 Transmissão de energia elétrica em corrente alternada Em um sistema em corrente alternada, ocorre uma conversão relativamente simples, apenas para subtransmitir para os devidos consumidores, que possui um transformador em corrente alternada que exige altos níveis de isolamento e grandes níveis de potência. Por ser um sistema simples, esse sistema requer pouca manutenção. A rede de transmissão transporta uma grande quantidade de energia elétrica por longas distâncias, mas antes de chegar aos centros de consumo, esta passa por uma subestação abaixadora, que tem a função de abaixar o nível de tensão, para que esta esteja em um nível adequado para o abastecimento de pequenas cidades ou consumidores de grande porte (Baroni, 2012, apud CONCEIÇÃO et al, 2016). 8.2 Transmissão de energia elétrica em corrente contínua O sistema de transmissão em corrente continua é composto por uma estação conversora, que converte a tensão em corrente alternada dos centros geradores para corrente contínua, e uma estação inversora, que tem como função reverter essa tensão em corrente contínua novamente para corrente alternada, para o processo de subtramissão aos consumidores (Kimbark, 1971, apud CONCEIÇÃO et al, 2016). Nos 38 sistemas de transmissão em corrente continua onde denominamos HVDC, a corrente e tensão são retificadas e depois invertidas novamente para alternada, desta forma as linhas transportam energia usando corrente continua. A transmissão em HVDC tem como principal característica o fator de que a tensão se mantém constante e da não alteração de polaridade durante todo o processo. Alem disso, através de rápida modulação no processo de conversão, a transmissão DC pode ser usada para amortecer oscilações da rede AC e então melhorar a estabilidade do sistema (Kimbark, 1971, apud CONCEIÇÃO et al, 2016). 8.3 Sistema de conversão Segundo Sato (2013, apud CONCEIÇÃO et al, 2016), existem dois tipos de conversão utilizados nessa tecnologia de transmissão em corrente contínua: LCC (Line Commutated Converter) foi a primeira desenvolvida e é a mais utilizada, esta utiliza tiristores como principal elemento de comutação, atingindo altos níveis de capacidade de transmissão de potência, altas tensões e altas correntes. Outro tipo de conversor é o VSC (Voltage Source Converter) e foi desenvolvido mais recentemente, onde seu principal elemento é um IGBT (Insulated Gate Bipolar Transistor, Transistor Bipolar de Porta Isolada), logo é possível atingir alto nível de controle na conversão de potência e grandes velocidades. 9 DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Na visão de Gouvêa (2018), a transição energética que se vivencia nos dias atuais tem estabelecido um novo panorama para todos os setores de energia, e em particular para o setor elétrico, visando mitigar os problemas do aquecimento global. Em geral, o setor de energia elétrica contribui de forma significativa para essas emissões, portanto mudanças no modo de produzir e de usar a eletricidade são as principais alternativas para desenvolvimento de uma economia de baixo carbono. De acordo Morrisy (2015), a distribuição elétrica, entretanto, somente veio a constituir-se em um serviço público relativamente amplo a partir da primeira década do 39 século, inicialmente em São Paulo (1899) e, posteriormente, no Rio (1905). Desde então, verificou-se um acelerado impulso ao novo serviço, que, se nos primeiros anos se dedicava predominantemente à iluminação pública e à tração elétrica (os tradicionais bondes), já na década de 20 estendia-se à cobertura do atendimento aos usos comercial, residencial e industrial. Basta dizer que por esta época estavam já construídos, no centro urbano daquelas duas cidades, sofisticados sistemas de distribuição subterrâneos, do tipo "network ", que em essência nada diferem dos atualmente em operação. A partir dos anos 60, a distribuição, incorporando as novas tecnologias disponíveis, vem desenvolvendo-se de forma acelerada, com o emprego de métodos computacionais, telecomando, etc (MORRISY, 2015). Nos últimos anos, a capacidade fotovoltaica instalada global cresceu acentuadamente devido à redução dos custos associada à geração solar, que tem sido vista como grande oportunidade de negócio em diferentes setores da economia (EIA, 2017; IRENA, 2016, apud GOUVÊA, 2018). Para Netto e Henkes (2015), a energia elétrica é um bem de consumo importante nos dias atuais. Sem ela as populações não conseguiriam mais sobreviver dado o desenvolvimento tecnológico que marcou o mundo com o seu advento. É notável como todos os seguimentos sociais estão dependentes da energia elétrica, de maneira incondicional. Sem energia elétrica “tudo” para. A falta desse bem de consumo, nos tempos atuais, traz sérios problemas à sociedade como um todo, provocando perdas no setor industrial, ao comércio em geral e a todas as comunidades, tanto urbana como rural. O trânsito, por exemplo, vira um caos, pois é um setor que não possui fontes alternativas, estando exclusivamente, dependente da energia elétrica, ainda. Assim, o homem, submetido aos desígnios da sua própria evolução, busca constantemente, descobrir novas formas para viver melhor, na expectativa de encontrar fontes alternativas de energia, que possam suprir as eventuais faltas de energia elétrica provocadas nos moldes atuais, numa forma de manter a segurança dos sistemas que dependem da eletricidade e ao mesmo tempo, a segurança dos trabalhos, nas empresas, e dos trabalhadores a elas associados (NETTO; HENKES, 2015). 40 O homem moderno, atualmente, também se encontra envolto á diversas dificuldades, divididas entre acertos e erros, nos seguimentos da vida cotidiana, estando submetido a perigos e riscos, muitas vezes por falta de conhecimento, como é o caso da exposição à eletricidade. O modo como este processo é conduzido é, de fato, um tema cuja análise é muito pertinente, porque disso depende o modo como são garantidas as exigências de uma Declaração de Impacto Ambiental na fase de construção de Projetos sujeitos a Avaliação de Impacto Ambiental (SANCHEZ, 2006, apud NETTO; HENKES, 2015). A “Privatização da Energia Elétrica” se dá em um processo de
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