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Direito dos Idosos e das Pessoas com Deficiência Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Estatuto do Idoso – 2ª Parte • Medidas de Proteção • Política de Atendimento ao Idoso • Entidades de Atendimento ao Idoso • Garantia De Acesso à Justiça • A Defesa Coletiva dos Direitos dos Idosos • Infrações Praticadas contra os Idosos · Pouco adiantaria se o Estatuto do Idoso estipulasse diversos direitos dos idosos e não criasse formas de torná-los mais efetivos. · Infelizmente, nem sempre os direitos das pessoas em geral são espontaneamente respeitados pelos demais, sendo essa situação ainda mais grave quando envolve um grupo tão vulnerável como os idosos. · Tornar mais presentes esses direitos em nossas relações com os idosos, o Estatuto criou diversos mecanismos para que eles se- jam implementados, tais como a possibilidade de serem adotadas medidas de proteção e a impetração de ações judiciais coletivas. · Além disso, condutas mais graves podem caracterizar infrações admi- nistrativas e crimes. · Em razão da importância desses mecanismos, eles serão o objeto de estudo desta Unidade! OBJETIVO DE APRENDIZADO Estatuto do Idoso – 2ª Parte Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Estatuto do Idoso – 2ª Parte Medidas de Proteção E se os direitos previstos no Estatuto do Idoso não forem respeitados? Buscando dar maior efetividade aos direitos dos idosos, o Estatuto do Idoso estabeleceu mecanismos que buscam ampliar medidas fiscalizatórias, envolver Órgãos Públicos e a sociedade em ações para que esses direitos sejam respeitados, bem como criou infrações administrativas e penais que devem ser aplicadas nas situações mais graves. Entre esses mecanismos, temos as chamadas medidas de proteção, que devem ser aplicadas sempre que os direitos dos idosos, reconhecidos pelo Estatuto, estiverem ameaçados ou efetivamente violados: » Por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; » Por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; » Em razão de sua condição pessoal. As medidas de proteção criadas pelo Estatuto podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, ou seja, pode ser aplicada uma única medida ou várias, sempre levando em consideração as particularidades da situação. Na sua aplicação, essas medidas devem considerar os fins sociais a que se destinam e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. O Estatuto não estabelece todas as medidas de proteção que podem ser aplicadas, havendo relação somente exemplificativa. Se os direitos dos idosos estiverem sendo ameaçados ou efetivamente violados, o Ministério Público ou o Poder Judiciário (a requerimento do Ministério Público), poderá determinar, entre outras, as seguintes medidas de proteção: » Encaminhamento do idoso à sua família ou ao seu curador, mediante termo de responsabilidade; » Orientação, apoio e acompanhamento temporários ao idoso afetado; » Requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar; » Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação; » Abrigo em entidade; » Abrigo temporário. 8 9 Política de Atendimento ao Idoso A criação da Política Nacional do Idoso é anterior ao Estatuto do Idoso, sendo estabelecida, inicialmente, pela Lei n.º 8.842/94, que também criou o Conselho Nacional do Idoso e estabeleceu a criação de conselhos semelhantes nos estados, Distrito Federal e municípios, sendo as disposições dessa Lei renovadas e ampliadas pelo Estatuto. A política de atendimento ao idoso é realizada por meio do conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. O Artigo 47 do Estatuto estabelece as linhas de ação dessa política de atendimento: Estatuto do Idoso Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento: I. políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994; II. políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que necessitarem; III. serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão; IV. serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais e instituições de longa permanência; V. proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos; VI. mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos segmentos da sociedade no atendimento do idoso. Entidades de Atendimento ao Idoso As entidades de atendimento ao idoso, públicas ou privadas, desempenham importante papel na Política de Atendimento ao Idoso, razão pela qual estão sujeitas a diversas normas que objetivam que os direitos dos idosos sejam plenamente respeitados quando, de qualquer forma, estejam sendo assistidos por essas entidades. São elas, por exemplo, que operacionalizam as medidas de proteção de abrigo temporário ou de abrigo em entidade. As entidades governamentais ou não governamentais de assistência ao idoso devem realizar a inscrição dos programas que irão desenvolver: » Na Vigilância Sanitária; » No Conselho Municipal da Pessoa Idosa e, em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa. 9 UNIDADE Estatuto do Idoso – 2ª Parte Na realização de suas atividades com os idosos, as entidades de atendimento devem oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança. Para atuarem, as entidades de atendimento ao idoso devem estar regularmente constituídas, sendo que os objetivos indicados no seu Estatuto devem ser compatíveis com os princípios indicados no Estatuto do Idoso. Além disso, quando da inscrição de seus programas, deve haver a demonstração da idoneidade de seus dirigentes. As entidades de atendimento são obrigadas a celebrar contrato escrito de prestação de serviço com o idoso, especificando o tipo de atendimento, as obrigaçõesda entidade e as prestações decorrentes do contrato, com os respectivos preços, se for o caso (Artigo 50). Também são obrigações dessas entidades, previstas no Artigo 50 do Estatuto: » Observar os direitos e as garantias de que são titulares os idosos; » Fornecer vestuário adequado, se for pública, e alimentação suficiente; » Oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade; » Oferecer atendimento personalizado; » Diligenciar no sentido da preservação dos vínculos familiares; » Oferecer acomodações apropriadas para recebimento de visitas; » Proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso; » Promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer; » Propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças; » Proceder o estudo social e pessoal de cada caso; » Comunicar à autoridade competente de saúde toda ocorrência de idoso portador de doenças infectocontagiosas; » Providenciar ou solicitar que o ministério público requisite os documentos neces- sários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem, na forma da Lei; » Fornecer comprovante de depósito dos bens móveis que receberem dos idosos; » Manter arquivo de anotações nos quais constem data e circunstâncias do atendimento, nome do idoso, responsável, parentes, endereços, cidade, relação de seus pertences, bem como o valor de contribuições, e suas alterações, se houver, e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento; » Comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de abandono moral ou material por parte dos familiares; » Manter no quadro de pessoal profissionais com formação específica. 10 11 A não observância das obrigações estabelecidas no Artigo 50 do Estatuto irá caracterizar a infração administrativa prevista em seu Artigo 56. Quando a entidade de atendimento ao idoso for filantrópica ou sem fins lucrativos, terá direito à assistência judiciária gratuita prestada pelo Estado. Entidades de Atendimento que Desenvolvem Programas de Institucionalização de Longa Permanência Se a entidade de atendimento desenvolver programas de institucionalização de longa permanência (os antigos “asilos de idosos”), deverá atuar para que o idoso preserve seus vínculos familiares, bem como deve realizar ações que busquem a participação do idoso em atividades comunitárias. Para tanto, é importante que haja a manutenção do idoso na mesma unidade, salvo casos de força maior. Outro princípio que essas entidades devem respeitar se refere ao direito do idoso de preservar sua identidade, bem como de que lhe seja oferecido um ambiente de respeito e dignidade. Nessas entidades é importante que haja a plena observância dos direitos do idoso, pois essa longa permanência na instituição costuma torná-los especialmente vulneráveis. Fiscalização das Entidades de Atendimento Sem prejuízo da competência de outros Órgãos Públicos, estabelece o Estatuto do Idoso que as entidades governamentais e não governamentais de atendimento ao idoso devem ser fiscalizadas: » Pelos Conselhos do Idoso; » Pelo Ministério Público; » Pela Vigilância Sanitária. Objetivando dar maior transparência na gestão financeira das entidades de atendimento, deve ser dada publicidade das prestações de contas dos recursos públicos e privados recebidos. Caso sejam verificados desvios na atuação da entidade de atendimento, se ela for governamental, podem ser aplicadas as seguintes sanções: » Advertência; » Afastamento provisório de seus dirigentes; » Afastamento definitivo de seus dirigentes; » Fechamento de unidade ou interdição de programa. 11 UNIDADE Estatuto do Idoso – 2ª Parte Já se a entidade for não governamental, ela estará sujeita às seguintes sanções: » Advertência; » Multa; » Suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas; » Interdição de unidade ou suspensão de programa; » Proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público. O papel dos dirigentes dessas entidades de atendimento é destacado pelo Estatuto, sendo que eles podem ser responsabilizados civil e criminalmente, sem prejuízo de eventual responsabilização administrativa da entidade que representam. Estatuto do Idoso Art. 49 [...] Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora de atendimento ao idoso responderá civil e criminalmente pelos atos que praticar em de- trimento do idoso, sem prejuízo das sanções administrativas. A sanção de afastamento provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade e a suspensão do programa pode ser aplicada se for constatado que houve o desrespeito aos direitos dos abrigados ou qualquer tipo de fraude em relação ao programa. Já a suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas deve ocorrer quando for verificada a sua má aplicação ou o desvio de finalidade na utilização desses recursos. Se ficar caracterizado que a entidade praticou infração que coloca em risco os direitos assegurados aos idosos, deverá ocorrer a comunicação dos fatos ao Ministério Público, para as providências cabíveis, o que pode incluir a adoção de medidas para que haja a suspensão das atividades, a dissolução da entidade e a proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público. Quando da aplicação das penalidades às entidades, devem ser consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o idoso, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes da entidade. Garantia De Acesso à Justiça Para garantir que os idosos tenham maior acesso à Justiça, o Estatuto estabelece uma série de mecanismos que buscam dar maior agilidade aos processos judiciais que envolvem idosos, dando, dessa forma, maior efetividade aos seus direitos. Um desses mecanismos é a possibilidade de serem criadas varas judiciais especializadas e exclusivas para os processos que tenham como interessados os idosos. 12 13 Tramitação Prioritária de Processos que Envolvem Idosos Em muitas situações os direitos dos idosos não são espontaneamente respeitados, sendo que, nesses casos pode ser necessário que ele ingresse com uma ação judicial buscando a tutela jurisdicional. Ocorre, contudo, que os processos judiciais podem se arrastar por anos e até décadas, muito embora a Constituição Federal tenha estipulado entre os direitos fundamentais o Princípio da Razoável Duração dos Processos. Constituição Federal Art. 5.º [...] LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Essa demora para a finalização dos processos é particularmente perversa no caso dos idosos, não sendo incomum que eles se encerrem quando o autor já faleceu há vários anos. Tentando minorar essa situação, o Estatuto criou a necessidade de que os processos que envolvam idosos (como partes ou intervenientes) devam ter tramitação prioritária, em qualquer instância. Estatuto do Idoso Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância. [...] Além do Estatuto do Idoso, essa regra de prioridade também é determinada pelo Código de Processo Civil. Código de Processo Civil Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais: I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988; [...] Para obter essa prioridade de tramitação, o interessado, fazendo prova de sua idade, requererá o benefício ao juiz competente que determinará as providências a serem cumpridas, inclusive com a identificação dessacircunstância nos autos, de forma visível. 13 UNIDADE Estatuto do Idoso – 2ª Parte Se após a concessão do benefício ao idoso interessado ocorrer seu falecimento, essa tramitação prioritária não será retirada, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, com união estável, se ele for maior de 60 anos. Essa prioridade de tramitação não se aplica somente aos processos judiciais, pois também deve ocorrer nos processos e procedimentos da Administração Pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, bem como garante aos idosos o atendimento preferencial junto à Defensoria Pública da União, dos estados e do Distrito Federal em relação aos Serviços de Assistência Judiciária. O atendimento prioritário aos idosos deve incluir o fácil acesso aos assen- tos e caixas, identificados com a destinação a idosos em local visível e com caracteres legíveis. A Defesa Coletiva dos Direitos dos Idosos O idoso que, individualmente, não tem seus direitos respeitados pode ingressar com ações judiciais para que essa situação se reverta. Contudo, também pode ocorrer a defesa coletiva dos direitos dos idosos, sempre que ficar caracterizada a existência dos chamados direitos difusos, direitos coletivos ou direitos individuais homogêneos. Nesses casos, o que se busca não é a tutela de direitos de um único idoso, mas de um grupo de idosos ou a totalidade deles. É o que ocorreria, por exemplo, na situação a seguir: No município X, há uma única Empresa de ônibus intermunicipal que serve os moradores; em especial, aqueles que desejam chegar à Capital. Ocorre que essa Empresa cria uma série de dificuldades para que os idosos tenham acesso à gratuidade de dois assentos por ônibus e no desconto para os demais passageiros dessa categoria – direitos esses estabelecidos no Artigo 40 do Estatuto do Idoso. Os idosos que buscam esse serviço sempre recebem a informação da Empresa de que os dois assentos gratuitos já foram vendidos, havendo séria suspeita de que, na verdade, isso não ocorreu. Em relação ao desconto que deve ser dado aos demais idosos, a Empresa criou uma taxa de seguro especial para os idosos que estabeleceu uma cobrança diferenciada que, praticamente, invalidou o menor valor que a Lei determina. Nesse caso, cada um dos idosos prejudicados pode, individualmente, ingressar com uma ação judicial? Observe que, qualquer idoso, individualmente, poderia ingressar com uma ação judicial para que os direitos estabelecidos pelo Artigo 40 do Estatuto sejam respeitados; contudo, nesse caso, a decisão judicial somente se aplicaria para os idosos que individualmente ingressaram com a ação e obtiveram a tutela judicial (tutela individual). 14 15 Em relação aos demais idosos a empresa continuaria a adotar as mes- mas práticas! Em situações como essas, em especial, são atingidos os idosos: » Que são moradores do município X e que frequentemente utilizam as linhas de transporte; » Que são moradores do município X e que esporadicamente utilizam as linhas de transporte; » Que são moradores do município X e que, ainda que não utilizem os serviços da Empresa de transporte coletivo, um dia poderão fazê-lo; » Que, mesmo não sendo moradores no município X, um dia podem ir a esse local, por exemplo, para visitar familiares e poderão utilizar os serviços dessa Empresa. Como podemos ver, há várias situações que indicam que a ação indevida da Empresa de transporte coletivo não afeta direitos de apenas um idoso individualmente considerado, mas todos os idosos, ainda que não utilizem, no momento, os serviços da Empresa. Situações como essas é que indicam a necessidade de ações coletivas para a defesa de todo esse grupo vulnerável (tutela coletiva). Quem pode ingressar com essas ações judiciais para a defesa coletiva dos idosos? A resposta a essa questão está no Artigo 81 do Estatuto, cuja redação é a seguinte: Estatuto do Idoso Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, consideram-se legitimados, concorrentemente: I – o Ministério Público; II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; III – a Ordem dos Advogados do Brasil; IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre os fins institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a autorização da assembleia, se houver prévia autorização estatutária. [...] Dessa forma, todos esses legitimados podem ingressar com ações judiciais sempre que ficar caracterizado que os direitos dos idosos, em especial aqueles estabelecidos no Estatuto, não estão sendo respeitados. Esse desrespeito pode ocorrer em razão de ações ou omissões do Poder Público, da família ou da sociedade. 15 UNIDADE Estatuto do Idoso – 2ª Parte Também ficará caracterizada a possibilidade de se buscar a atuação do Poder Judiciário sempre que os serviços de que o idoso necessita para a sua manutenção com dignidade estiverem sendo prestados de forma insatisfatória. Infrações Praticadas contra os Idosos O desrespeito aos direitos dos idosos se caracteriza como condutas ilícitas e pode gerar ações judiciais para que os autores dessas práticas sejam compelidos a observar o estabelecido em Lei. Algumas dessas condutas podem caracterizar a prática de infrações administrativas previstas no Estatuto do Idoso e outras, as mais graves violações, caracterizam-se como crimes. Infrações Administrativas contra os Idosos As infrações administrativas expressamente previstas no Estatuto dos Idosos estão relacionadas nos Artigos 56 a 58. A aplicação das sanções administrativas expressamente previstas no Estatuto do Idoso não afasta a possibilidade de serem aplicadas sanções semelhantes previstas em outras leis como, por exemplo, em normas atinentes à Vigilância Sanitária e a serviços de atendimento à Saúde. As infrações administrativas previstas no Estatuto do Idoso são as seguintes: Estatuto do Idoso Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as determinações do art. 50 desta Lei: Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), se o fato não for caracterizado como crime, podendo haver a interdi- ção do estabelecimento até que sejam cumpridas as exigências legais. Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimento de longa permanência, os idosos abrigados serão transferidos para outra instituição, a expensas do estabelecimento interditado, enquanto durar a interdição. Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimen- to de saúde ou instituição de longa permanência de comunicar à autoridade competente os casos de crimes contra idoso de que tiver conhecimento: Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no caso de reincidência. Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre a prioridade no atendimento ao idoso: Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00 (um mil reais) e multa civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso. 16 17 Os Crimes praticados contra os Idosos Quando falamos em crimes praticados contra idosos não podemos esquecer que eles estão abrangidos por situações gerais em que a proteção penal é estabelecida em benefício de todas as pessoas. Assim, qualquer pessoa, idosa ou não, pode ser vítima (sujeito passivo) de um crime de roubo (Artigo 157 do Código Penal). Há, porém, certas situações específicas em que: » A vítima do crime (sujeito passivo) somente pode ser o idoso; » Alguns crimes, quando praticados contra idosos, possuem maior sanção penal (pena); » A prática de crimes contra idosos sempre irá caracterizar circunstância agravante em todas as infrações penais. » Vamos ver cada uma dessas situações. Crimes que, quando praticados contra idosos, possuem maior sanção O Código Penal estabelece em certos crimes circunstâncias queaumentam a pena estabelecida, quando praticados contra idosos. É o que ocorre, por exemplo, no homicídio e no abandono de incapaz. Código Penal Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. [...] § 4º [...] Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. Código Penal Abandono de incapaz Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de seis meses a três anos. § 3º - As penas cominadas neste Artigo aumentam-se de um terço: [...] III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos 17 UNIDADE Estatuto do Idoso – 2ª Parte Agravante nos Crimes Praticados contra Idosos Dentro da sistemática do Código Penal, o juiz, ao aplicar a pena relativa a crimes praticados contra idosos, deve considerar a circunstância agravante prevista na alínea “h” do seu Artigo 61, o que poderá aumentar a pena a ser aplicada ao réu. Código Penal Circunstâncias agravantes Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: [...] h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; Crimes próprios contra os idosos O Estatuto do Idoso prevê, nos seus Artigos 96 a 108, crimes que têm como vítimas (sujeitos passivos) idosos, sendo que, para facilitar a compreensão, podemos agrupá-los da seguinte forma: • Crimes em que o idoso é discriminado, humilhado ou não é respeitado seu direito de prioridade de atendimento: Estatuto do Idoso Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. § 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo. § 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente. Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa: I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade; II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho; III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa; IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei; V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público. Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informa- ções ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso: Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. 18 19 • Crimes relativos à omissão nos cuidados com os idosos: Estatuto do Idoso Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado: Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa. § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 2º Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. • Crimes relacionados ao patrimônio do idoso ou à sua representação para prática de atos da vida civil: Estatuto do Idoso Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abriga- do, por recusa deste em outorgar procuração à entidade de atendimento: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração: Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida representação legal: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. 19 UNIDADE Estatuto do Idoso – 2ª Parte Por fim, é importante destacar que os crimes previstos no Estatuto do Idoso são classificados como crimes de Ação Penal Pública Incondicionada. Assim, indepen- dentemente da vontade de quem quer que seja, deverá ocorrer a sua apuração. Dessa forma, por exemplo, se o filho do idoso praticar contra ele um desses crimes, mesmo que a vítima não queira que haja processo, deverá ocorrer a apuração do ocorrido. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Violência Financeira contra Idoso é crime A Violência Financeira contra as Pessoas Idosas pode ser considerada como qualquer prática que visa à apropriação ilícita do patrimônio de uma pessoa idosa e pode ser realizada por fami- liares, profissionais e instituições.... https://goo.gl/MxBvnX Vídeos Maus Tratos contra Idosos no Brasil têm números impressionantes Reportagem do G1: “Maus tratos contra idosos no Brasil têm números impressionantes: Negligência e violência psicológica é o teor da maior parte das denúncias. https://goo.gl/IAd209 Leitura Estatuto do Idoso, Lei n.º 10.741/03 Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. https://goo.gl/bLddT Registros de abandono e violência contra idosos crescem 16,4% no país Reportagem da Folha de São Paulo: Registros de abandono e violência contra idosos crescem 16,4% no país. https://goo.gl/QCcP5N 21 UNIDADE Estatuto do Idoso – 2ª Parte Referências ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional. 18.ed. São Paulo: Verbatim, 2014. BULOS, Uadi Lâmmego. Curso de Direito Constitucional. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2015. LEMBO, Cláudio. A pessoa: seus direitos. Barueri: Manole, 2007. MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos Arts. 1º ao 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e juris- prudência. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003 (Coleção Temas Jurídicos). PINHEIRO, Naide Maria (org.). Estatuto do idoso comentado. Campinas: Ser- vanda, 2012. SARLET. Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 3.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004. 22
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