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Direito dos Idosos e das Pessoas com Deficiência Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Dra. Selma Aparecida Cesarin Idosos e Pessoas com Deficiência – Tratamento Normativo • Introdução • Direitos Humanos e Direitos Fundamentais • A Dignidade da Pessoa Humana como Fundamento Constitucional • Tratamento das Pessoas com Deficiência • Tratamento dos Idosos • Evolução dos Direitos de Idosos e de Pessoas com Deficiência • Pessoas com Deficiência e Idosos na Constituição Federal • Material Complementar · Entender o que são os Direitos Humanos e os Direitos Fundamentais, essa classificação é de grande importância para a proteção de grupos vulneráveis, tais como ocorre com os idosos e as pessoas com deficiência. Assim, poderemos ver como ocorreu a evolução das normas que protegem esses dois grupos sociais, sobretudo no âmbito internacional. · Destacar que as normas internacionais que tratam da proteção desses grupos serviram de base para a formulação das Leis nacionais que são aplicáveis em nosso dia a dia. OBJETIVO DE APRENDIZADO Idosos e Pessoas com Defi ciência – Tratamento Normativo Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Idosos e Pessoas com Deficiência – Tratamento Normativo Introdução Nos últimos anos, houve um despertar de todos para a necessidade de se estabele- cer um sistema diferenciado de proteção para idosos e para pessoas com deficiências. Em nosso país, essa maior atenção a esses grupos sociais decorre, em grande medida, do enfoque que foi dado aos Direitos Humanos e aos Direitos Fundamentais pela Constituição Federal de 1988. Nossa Carta Política, de forma clara, estabelece que esses Direitos Humanos e Direitos Fundamentais devem estar no topo das preocupações do Poder Público e da sociedade. Da mesma forma, no âmbito internacional, a preocupação com esses dois grupos vulneráveis ganhou grande impulso nas últimas décadas, fruto da constatação de que há frequente desrespeito de seus direitos. O QUE SÃO DIREITOS HUMANOS? O QUE SÃO DIREITOS FUNDAMENTAIS? Vamos entender um pouco mais sobre essa diferença e como ocorreu a evolução na aplicação desses preceitos! Figura 1 Fonte: iStock/Getty Images 8 9 Direitos Humanos e Direitos Fundamentais Em nosso, país a expressão “Direitos Humanos” nem sempre é bem compreendida, adotando, por parte de alguns, um significado que não corresponde à sua importância histórica e social. Os “Direitos do Homem” ou “Direitos Humanos” são aqueles que todos os seres humanos, independentemente de qualquer fator, possuem em razão da própria natureza humana e pela dignidade que dela decorre. Todas as pessoas, desde o nascimento, devem ter esses direitos reconhecidos, sendo que eles não podem ser renunciados ou transacionados, cabendo ao Estado e à sociedade reconhecê-los e respeitar as consequências que eles acarretam. Vida, liberdade de ir e vir, respeito à intimidade e liberdade religiosa, entre outros, fazem parte desse importante conjunto de Direitos Humanos. Eles estão previstos em Tratados e Convenções Internacionais, sendo que cada Estado pode (e deve) incorporar esses direitos em seu Sistema Jurídico, em especial, estabelecendo-os como preceitos de sua Constituição. Os Direitos do Homem, expressos no texto constitucional, constituem o que chamamos de Direitos Fundamentais. É possível dizer que Direitos Fundamentais são os Direitos Humanos positivados (expressamente previstos) em uma Constituição. Como afirma Ingo Wolfgang Sarlet1: [...] o termo Direitos Fundamentais se aplica para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional po- sitivo de determinado Estado, ao passo que a expressão Direitos Humanos guardaria relação com os documentos de direito internacional, por referir- -se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitu- cional, e que, portanto aspiram à validade universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco caráter supranacional. 1 SARLET. Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 3.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004. p.35 9 UNIDADE Idosos e Pessoas com Deficiência – Tratamento Normativo Para facilitar a compreensão sobre os Direitos Humanos e os Direitos Fundamentais, vamos destacar suas principais características: • Quanto à previsão normativa: Direitos Humanos Direitos Fundamentais Tratados e Convenções Internacionais reconhecem a existência desses direitos e os mencionam expressamente em seus textos. Estão previstos em Constituições. • Quanto à disponibilidade desses direitos: Direitos Humanos Direitos Fundamentais Eles são indisponíveis e não podem ser transacionados. Eles são indisponíveis e não podem ser transacionados. • Quanto à forma de reconhecimento desses direitos: Direitos Humanos Direitos Fundamentais Nascem com o homem, sendo que todos os seres humanos possuem exatamente os mesmos direitos. Nascem com a previsão desses direitos na Constituição de cada país; assim os Direitos Fundamentais não são os mesmos em todos os lugares do mundo. • Quanto à forma de criação desses direitos: Direitos Humanos Direitos Fundamentais Existem em decorrência da dignidade da pessoa humana, razão pela qual eles não são criados, apenas reconhecidos. Eles são criados em razão de disposições políticas de cada Estado, que os insere no texto constitucional. A Dignidade da Pessoa Humana como Fundamento Constitucional Para destacar a importância que esse tema possui para o Sistema Jurídico brasileiro, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu que a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos de nosso Estado Democrático de Direito. 10 11 Constituição Federal Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana; [...] Sobre a importância da Dignidade da Pessoa Humana para a nossa Constituiçãoe nosso Sistema Jurídico, explica Alexandre de Moraes: A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, que se constituindo um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. O direito à vida privada, à intimidade, à honra, à imagem, dentre outros, aparecem como consequência imediata da consagração da dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil. (...) A ideia de dignidade da pessoa humana encontra no novo texto constitucional total aplicabilidade (...) e apresenta-se uma dupla concepção. Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado, seja em relação aos demais indivíduos. Em segundo lugar, estabelece- se verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. Esse dever-ser configura-se pela existência do indivíduo respeitar a dignidade de seu semelhante tal qual a Constituição Federal exige que lhe respeitem a própria. (...) Ressalte-se, por fim, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução n. 217A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10-12-1948 e assinada pelo Brasil na mesma data, reconhece a dignidade como inerente a todos os membros da família humana e como fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.2 A Constituição de 1988 deu início a uma nova fase social. Nela, a garantia dos direitos do cidadão é sua grande marca, de modo que os direitos e garantias fundamentais nela declarados englobam e prestigiam uma série de Tratados e Convenções Internacionais que tratam de Direitos Humanos, estabelecendo, no âmbito interno, a proteção a diversos grupos sociais que, anteriormente, não tinham a mesma atenção. Esses grupos sociais são normalmente chamados de grupos vulneráveis. Essa denominação destaca que esses agrupamentos de pessoas são aqueles que, mais facilmente, têm seus direitos violados pela sociedade e pelo Estado. 2 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos Arts. 1º ao 5º da Cons- tituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.60. (Coleção temas jurídicos). 11 UNIDADE Idosos e Pessoas com Deficiência – Tratamento Normativo Idosos e pessoas com deficiência são alguns dos grupos vulneráveis mais destacados em nossa sociedade. Como no âmbito internacional e no âmbito interno ocorreu a evolução dos instrumentos de proteção desses dois grupos vulneráveis?Ex pl or Tratamento das Pessoas com Deficiência A história do tratamento de pessoas com deficiência passa por fases bem distintas: eliminação, assistencialismo, integração e inclusão. O modelo de eliminação esteve presente durante toda a Antiguidade e em parte da Idade Média, sendo caracterizado por enfocar a pessoa com deficiência como sendo um ser inferior e indesejável. Muitas vezes, o Direito respaldava essa forma de tratamento, tal como encontramos entre os romanos na Lei das XII Tábuas (firmada em 450 a.C.), que autorizava o pai de um filho “monstruoso” a provocar, imediatamente após o nascimento, a sua morte. Também se tornou tristemente famoso o padrão de tratamento dado a essas pessoas pelos espartanos que, diante do nascimento de uma criança que não tinha aptidão para se tornar um soldado forte e destemido, determinava que ela fosse lançada do alto do Monte Taigeto – um abismo de aproximadamente 2.400 metros de altitude. Esse mesmo destino era reservado pelos espartanos para ladrões e pessoas desonradas, o que demonstra o desprezo e insensibilidade que as pessoas com deficiência recebiam nessa sociedade. Na Baixa Idade Média, sob a influência do pensamento de São Tomás de Aquino, a Igreja adota um novo padrão de tratamento, um paradigma assistencialista, baseado em sentimento de pena. Agora essas pessoas assumem condição de dependência que, em muitos casos, implicava o afastamento de suas famílias, para que recebessem cuidados. Esse afastamento, não raramente, evoluiu para encarceramento e, no caso das pessoas com deficiência mental, serviu de base para a criação de hospícios. Mas há outras cidades, como Nuremberg, (...) que acolheram grande número de loucos, bem mais que os que podiam ser fornecidos pela própria cidade. Esses loucos são alojados e mantidos pelo orçamento da cidade, mas não tratados: são pura e simplesmente jogados na prisão. E possível supor que em certas cidades importantes — lugares de passagem e de feiras — os loucos eram levados pelos mercadores e marinheiros em número bem considerável, e que eles eram ali “perdidos”, purificando-se assim de sua presença a cidade de onde eram originários3. 3 FOUCAULT, Michel. História da loucura. São Paulo: Perspectiva, 1978. p.15. 12 13 No final do Século XVIII, como fruto de concepções liberais, começa a se formar a ideia que de pessoas com deficiência podiam se tornar produtivas e úteis. Firma- se um modelo de integração. Essa concepção teve como consequência a criação de processos e aparelhos que possibilitaram avanço na condição de pessoas com deficiência, podendo ser citadas a criação de cadeiras de rodas, de muletas e do Código Braille. Também foram criadas escolas especiais que buscavam propiciar essa integração; contudo, atribuía-se à pessoa com deficiência o ônus de buscar a cura ou a adaptação. O modelo de inclusão se firmou com a eclosão de dois grandes fatores: a grande quantidade de pessoas feridas ou que se tornaram deficientes em razão da violência das guerras que ocorreram no Século XX e a valorização da pessoa humana, particularmente após o final da Segunda Guerra Mundial, que acarretou a consolidação da ideia dos Direitos Humanos e a necessidade de adoção de medidas internacionais para reconhecê-los e implementá-los faticamente. Esse modelo se caracteriza pela bilateralidade na busca de soluções, ou seja, a pessoa com deficiência e a sociedade juntas devem decidir sobre os melhores caminhos na busca de maiores oportunidades para todos. Tratamento dos Idosos O envelhecimento biológico do ser humano sempre existiu; no entanto, a forma como os idosos se relacionam com o restante da sociedade sofreu grandes modificações ao longo dos séculos. No início, na sociedade primitiva, as populações humanas habitavam cavernas e eram nômades;assim, os mais velhos, com frequência não podiam acompanhar aquele modo de vida, ficando pelo caminho e morrendo expostos ao tempo. No momento seguinte, os povos plantavam e criavam animais para seu sustento, permitindo a organização da família e, consequentemente, caracterizando os primei- ros traços da organização familiar, o que favoreceu maior integração dos idosos. Em um terceiro momento, deu-se a formação de sociedades mais estruturadas e sólidas, mantidas por um conjunto de normas e valores. Então, a religião passa a ter grande importância nas sociedades e, portanto, os mais velhos passam a ser porta- dores de um poder religioso que os torna detentores da sabedoria e dos rituais. Os mais velhos têm o papel de repassar aos seus descendentes os seus conhecimentos, razão pela qual possuíam importância muito grande, que incluía o poder de vida e morte sobre os filhos, que lhes deviam obediência. Um grande exemplo da importância dos idosos nessas sociedades se dava com a figura do pater familia, na Roma Antiga, que possuía papel essencial na estrutura familiar que, além de deter toda propriedade, também era aquele que dirigia o culto doméstico dos antepassados. 13 UNIDADE Idosos e Pessoas com Deficiência – Tratamento Normativo Com o advento da RevoluçãoIndustrial e a expansão do Capitalismo, o prestígio e o apreço que antes os idosos detinham começam a declinar, chegando à ideia de que o idoso era um ser que não era mais produtivo economicamente. Nesse período, nas sociedades mais conservadoras, os homens idosos, que integravam as camadas mais ricas das sociedades mantiveram-se em lugares importantes e ativos, sendo que muitos figuravam no comando político de seus respectivos países. Entretanto, as classes dominantes, os burgueses, não empreendiam nenhuma gestão a fim de apoiar os idosos pobres, cujo destino ficava à mercê da solidariedade da família; porém, em muitos casos, eles acabavam abandonados, eram expulsos ou asilados. Evolução dos Direitos de Idosos e de Pessoas com Deficiência Logo após o final da Segunda Guerra Mundial na Europa, ocorreu a fundação das Nações Unidas4, sendo que essa importante Organização Internacional passou a patrocinar uma série de medidas para a promoção dos Direitos Humanos. Essa disposição está expressa no seu documento de fundação, a Carta das Nações Unidas. Carta das Nações Unidas Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são: (...) 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos Direitos Humanos e às liber- dades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e [...] Para concretizar esse propósito, a Organização das Nações Unidas patrocinou a discussão e a implementação de diversos atos internacionais sobre Direitos Huma- nos, sendo importante esclarecer que: • Cartas e Declarações somente indicam intenções dos Estados signatários, não havendo qualquer mecanismo que acompanhe a efetivação dos seus preceitos; • Tratados, Pactos e Convenções são instrumentos de direito internacional que se caracterizam por serem vinculativos, ou seja, obrigam os Estados signatários a implementar e respeitar as suas disposições. 4 O Organização das Nações Unidas começou a existir oficialmente em 24 de outubro de 1945, data em que a Carta das Nações Unidas – documento oficial de fundação – foi ratificado pelos Estados Unidos, China, Reino Unido, França e União Soviética, bem como pela maioria dos seus signatários. 14 15 O primeiro desses atos foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos5, de 1948, sendo que dela destacamos as seguintes disposições: Declaração Universal dos Direitos Humanos Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Artigo II - 1. Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. (...) Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. [...] Outro importante documento internacional patrocinado pela Organização das Nações Unidas foi o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos6, de 1966, sendo que dele devemos destacar a seguinte disposição: Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos Artigo 26 - Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de discriminação e garantir a todas as pessoas pro- teção igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacio- nal ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação. Nesses dois instrumentos não encontramos expressa menção às pessoas com deficiência ou aos idosos; contudo, é importante destacar que os termos utilizados reforçam a vedação de discriminações e de igualdade de direitos. É claro que quando essas normas internacionais falam de “todos” e “todas as pessoas” estão também tratando desses grupos vulneráveis; contudo, não focam particularidades que lhes são próprias. Essa falta de normas específicas iria durar mais alguns anos. 5 Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.htm>. 6 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm>. 15 UNIDADE Idosos e Pessoas com Deficiência – Tratamento Normativo Normas Internacionais Específicas sobre as Pessoas Deficientes O primeiro importante instrumento internacional que tratou especificamente dos direitos das pessoas com deficiência foi a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes Mentais7, proclamada pela Resolução 2.856, da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 20 de dezembro de 1971. De forma mais ampla, Assembleia Geral das Nações Unidas, de 9 de dezembro de 1975, proclamou, por meio da Resolução 3.447, a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes8, que tem como um dos seus pontos de destaque apresentar em seu item 1 a definição de “pessoa deficiente”: Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes 1. A expressão “pessoa deficiente” designa qualquer pessoa incapaz de satisfazer por si própria, no todo ou em parte, as necessidades de uma vida normal individual e/ou social, em resultado de deficiência, congênita ou não, nas suas faculdades físicas ou mentais. Também podem ser mencionados os seguintes instrumentos internacionais: • Princípios para a Proteção das Pessoas com Doença Mental e para o Melhoramento dos Cuidados de Saúde Mental9, adotados pela Resolução 46/119, da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 17 de dezembro de 1991; • Regras Gerais sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência10, adotadas pela Resolução 48/96, da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 20 de dezembro de 1993. No âmbito do Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, temos a importante Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência11, também conheci- da como Convenção da Guatemala, adotada em 7 de junho de 1999 pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Por fim, foi elaborada a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, que: • São as primeiras normas de Direitos Humanos internalizadas na forma do § 3º do artigo 5º da nossa Carta Política; assim, seu texto tem status constitucional; • Esses documentos serviram de base para a elaboração do Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, sendo expressamente citados em seu texto. 7 Disponível em: <http://direitoshumanos.gddc.pt/3_7/IIIPAG3_7_5.htm>. 8 Disponível em: <http://direitoshumanos.gddc.pt/3_7/IIIPAG3_7_3.htm>. 9 Disponível em: <http://direitoshumanos.gddc.pt/3_7/IIIPAG3_7_6.htm>. 10 Disponível em: <http://direitoshumanos.gddc.pt/3_7/IIIPAG3_7_4.htm>. 11 Disponível em: <http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/o.Convencao.Personas.Portadoras.de.Deficiencia.htm>. 16 17 Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 1º (...) Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, em conformidade com o procedimento previsto no § 3o do art. 5o da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no plano interno. Normas Internacionais Específi cas sobre os Idosos O despertar da necessidadede se estabelecer normas internacionais específicas para tratar dos idosos se iniciou na década de 1980. Para tanto, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas convocou a primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, que foi realizada em 1982. Esse esforço estabeleceu o Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento12. Posteriormente, a Assembleia Geral adotou os Princípios das Nações Unidas em Favor das Pessoas Idosas13, por meio da Resolução 46/91, de 16 de dezembro de 1991. Em 1992, a Organização das Nações Unidas organizou a Conferência Interna- cional sobre o Envelhecimento. Para destacar a importância dos idosos nesse novo contexto, a Assembleia Geral da ONU declarou 1999 como sendo o Ano Internacional do Idoso. Em 2002, foi realizada em Madri a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento, que estabeleceu uma Declaração Política e o Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento. No plano interno, seguindo, em especial, os Princípios das Nações Unidas em Favor das Pessoas Idosas, de 1991, foi elaborado o Estatuto do Idoso – Lei n.º 10.741, de 1º de outubro de 2003. 12 Disponível em: <http://www.ufrgs.br/e-psico/publicas/humanizacao/prologo.html>. 13 Disponível em: <http://www.ufrgs.br/e-psico/publicas/humanizacao/prologo.html>. 17 UNIDADE Idosos e Pessoas com Deficiência – Tratamento Normativo Pessoas com Deficiência e Idosos na Constituição Federal Há algumas passagens do texto constitucional que se referem precisamente às pessoas com deficiência e aos idosos e tratam de vários aspectos protetivos, sendo que essas disposições não afastam a importância de outros direitos e garantias que são aplicadas a todos, sem qualquer distinção. Vamos conhecer essas disposições específicas: • O inciso XXXI do artigo 7º firma a proibição de se estabelecer qualquer tipo de discriminação ao trabalhador portador de deficiência, inclusive em relação a critérios de admissão e salário. Constituição Federal Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; • O inciso II do artigo 23 e o inciso XIV do artigo 24 estabelecem competências relacionados à proteção, integração social e saúde de pessoas com deficiência: Constituição Federal Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; Constituição Federal Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; • O inciso VIII do artigo 37 estabelece que devem ser reservado um percentual de cargos e empregos públicos para serem preenchidos por pessoas com deficiência: Constituição Federal Art. 37 (...) VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão; • Em relação a aposentadorias, a Constituição estabelece a possibilidade de serem criadas regras diferenciadas para as pessoas com deficiência – art. 40 e 201; 18 19 • Entre os objetivos da assistência social estabelecidos no artigo 203, temos a necessidade de adoção de medidas de habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência, buscando integrá-las e a possibilidade de concessão de um benefício (fixado em um salário mínimo) às pessoas com deficiência e aos idosos que não tiverem meios de subsistência: Constituição Federal Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: (...) IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. • Em relação à educação, o artigo 208 garante o atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, ou seja, junto com os demais alunos: Constituição Federal Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (...) III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; • O Título VIII da Constituição, que trata da Ordem Social, tem seu Capítulo VII dedicado à família, à criança, ao adolescente, ao jovem e ao idoso, sendo, que nele encontramos: » A necessidade de criação de um especial atendimento das crianças, adoles- centes e jovens com deficiência; » A necessidade de edição de normas para a construção dos logradouros e dos edifícios de uso público, bem como de fabricação de veículos de transporte coletivo, buscando garantir acesso adequado às pessoas com deficiência, sendo que os já existentes quando da promulgação da Constituição devem ser adaptados (artigo 244); » Em relação aos idosos, é estabelecido o dever de amparo da família, da sociedade e do Estado, bem como a gratuidade em transporte coletivo urbano àqueles maiores de 65 anos: 19 UNIDADE Idosos e Pessoas com Deficiência – Tratamento Normativo Constituição Federal Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: (...) II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e todas as formas de discriminação. § 2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. Constituição Federal Art. 244. A lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme o disposto no art. 227, § 2º. Constituição Federal Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. § 1º - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. § 2º - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites 1852: Morre Louis Braille, Inventor da Escrita para Deficientes Visuais Para saber um pouco mais sobre a história de Louis Braille. https://goo.gl/jodMe8 Declaração Universal dos Direitos Humanos https://goo.gl/CquRab Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos https://goo.gl/YNbVEs Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes Mentaishttps://goo.gl/ScZk9s Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes https://goo.gl/XWHPey Princípios para a Proteção das Pessoas com Doença Mental e para o Melhoramento dos Cuidados de Saúde Mental https://goo.gl/oLuJCy Regras Gerais sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência https://goo.gl/5YtVew Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência https://goo.gl/jUxjso Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento https://goo.gl/KfN5q9 Princípio das Nações Unidas em Favor das Pessoas Idosas https://goo.gl/dNT1ba 21 UNIDADE Idosos e Pessoas com Deficiência – Tratamento Normativo Referências ARAÚJO, Luiz Alberto David; JÚNIOR, Vidal Serrano Nunes. Curso de direito constitucional. 18.ed. São Paulo: Verbatim, 2014. FOUCAULT, Michel. História da loucura. São Paulo: Perspectiva, 1978. LEITE, Flavia Piva; RIBEIRO, Lauro Luiz Gomes; COSTA FILHO, Waldir Macieira da (coord.). Comentários ao estatuto da pessoa com deficiência. São Paulo: Saraiva, 2016. LEMBO, Cláudio. A pessoa: seus direitos. Barueri: Manole, 2007. MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos Arts. 1º ao 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003 (Coleção Temas Jurídicos). PINHEIRO, Naide Maria (org.). Estatuto do idoso comentado. Campinas: Servanda, 2012. SARLET. Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamen- tais na Constituição Federal de 1988. 3.ed. Porto Alegre: Livraria do Advoga- do, 2004. 22
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