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Fundamentos de contabilidade José L. Azzolin Código Logístico 58355 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6234-8 9 788538 762348 José L. Azzolin Fundam entos de contabilidade Fundamentos de contabilidade IESDE BRASIL S/A 2019 José L. Azzolin Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A998f Azzolin, José L. Fundamentos de contabilidade / José L. Azzolin. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 156 p. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6234-8 1. Contabilidade. I. Título. 18-54428 CDD: 657 CDU: 657 © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: karandaev/iStock.com José L. Azzolin Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Administração Tributária e em Metodologia em Ensino Superior pela Escola de Administração Fazendária (ESAF) e em Gestão da Aprendizagem e Formação Pedagógica do Professor Universitário pela Universidade Positivo (UP). Bacharel em Ciências Econômicas pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná (FESP). Atuou como auditor fiscal da Secretaria da Fazenda (PR) durante trinta e dois anos. Professor nas disciplinas de Contabilidade Geral, Análise e Gestão de Custos, Contabilidade Empresarial, Gestão Financeira, Gestão Orçamentária e Controladoria. É autor de livros nas áreas de contabilidade, planejamento e controle, análise de crédito e cobrança, análise de demonstrações contábeis, rotinas contábeis e trabalhistas, e análise de custos. Sumário Apresentação 7 1 A contabilidade 9 1.1 A origem da contabilidade 10 1.2 Evolução da contabilidade 12 1.3 A contabilidade no cenário atual 17 2 O patrimônio 25 2.1 O que é patrimônio? 25 2.2 Bens econômicos 26 2.3 Direitos: o que é seu, mas encontra-se em poder de terceiros 30 2.4 Obrigações: elas financiam os investimentos 32 3 Estudo das contas 39 3.1 Contas patrimoniais e contas de resultado 39 3.2 O método das partidas dobradas 43 3.3 Plano de contas: necessário para o planejamento e para a gestão 49 4 Balanço Patrimonial 55 4.1 O Balanço Patrimonial 55 4.2 Ativo: conjunto de bens e direitos 56 4.3 Passivo: obrigações da empresa com terceiros 68 4.4 Patrimônio Líquido: capital investido pelos sócios e retenção de lucros 74 5 Demonstrações financeiras 83 5.1 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) 83 5.2 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) 93 5.3 Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) 98 6 Fundamentos de custos 107 6.1 Custeio por absorção e custeio variável 107 6.2 Análise do custo/volume/lucro 115 6.3 Margem de contribuição unitária e determinação do ponto de equilíbrio 119 7 Análise das demonstrações financeiras 127 7.1 Análises horizontal, vertical e de valores absolutos 127 7.2 Indicadores financeiros: solvência e estrutura patrimonial 133 7.3 Indicadores de rotatividade dos estoques, dos valores a receber e dos valores a pagar 138 7.4 Indicadores econômicos: rentabilidade e retorno 143 Gabarito 153 Apresentação A contabilidade é a linguagem dos negócios. Por isso, destina-se não apenas aos contado- res, mas também aos empresários, administradores, gestores e todos os indivíduos que precisam conhecer adequadamente as técnicas contábeis para tomar decisões em uma organização. Assim, esta obra destina-se aos profissionais que desejam ou precisam, em decorrência de suas escolhas profissionais, compreender a contabilidade. Há tempos, a contabilidade passou a ser estudada por diversos profissionais, desmistificando a ideia equivocada de que ela é extremamente difícil ou “coisa de contador”. Atualmente, a contabilidade não tem como única finalidade o atendimento às formalidades legais e do fisco, hoje ela está voltada para o mundo. Em 2007, o Brasil aderiu aos padrões internacionais de contabilidade e auditoria, por isso a contabilidade deve se revestir das características quantitativas e qualitativas da informação contábil-financeira, adquirindo um caráter universal. Nesta obra veremos que a riqueza – tanto da pessoa física quanto da pessoa jurídica – é demonstrada pelo conjunto de seus bens, direitos e obrigações, itens que representam seu patrimônio. Ainda, veremos que para elaborar e entender um plano de negócios, é necessário conhecer a essência da equação contábil e os pressupostos do processo de contabilidade de um plano de contas. Além desses aspectos, conheceremos o Balanço Patrimonial (BP) – constituído por Ativos, Passivos e pelo Patrimônio Líquido – e aprenderemos a elaborar e interpretar as demais demons- trações financeiras: Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) e Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). Compreenderemos que é impossível gerir uma empresa sem a compreensão básica dos custos e que a avaliação eficaz de uma entidade depende principalmente da possibilidade de compará-la a outras. A análise das demonstrações financeiras, por sua vez (assunto que também estudaremos nesta obra), tem o objetivo de dotar o administrador e o empreendedor de informações qualitativas e quantitativas capazes de levá-los a tomar decisões e monitorar o desempenho de suas empresas. Dada a riqueza deste livro, você tem em mãos uma obra essencial para a compreensão dos aspectos básicos da contabilidade, indo além das noções preliminares e dominando aspectos contábeis e financeiros que garantem a gestão eficiente de um negócio. 1 A contabilidade A contabilidade teve origem em tempos remotos e evoluiu quase que simultaneamente ao crescimento das atividades rurais, mercantis e industriais. Entretanto, a área começou a consolidar- -se apenas no século XV, com a publicação da obra Summa de arithmetica, geometria, proportioni et proportionalita (1494), do Frei Luca Pacioli, a qual trazia uma seção inteira sobre os registros contábeis segundo o método das partidas dobradas. Após Pacioli, outros autores publicaram novos trabalhos, e os métodos preconizados por eles se desenvolviam e cresciam à medida que o comércio, as sociedades e o crédito evoluíam. O crescimento dos créditos, inclusive, foi um dos principais motivos para o início do controle sobre volumes e valores, que se deu por meio de documentos que garantiam os direitos provenientes de transações a prazo, pois até então, as vendas e/ou trocas eram realizadas à vista. No Brasil, a importância da contabilidade só foi evidenciada a partir da década de 1970, com a divulgação da Circular n. 179/1972 (BC, 1972). De acordo com Iudícibus, Marion e Faria (2018), a Circular em questão adotou a filosofia contábil norte-americana, a qual pressupunha o uso da contabilidade para a tomada de decisões, dando ênfase à contabilidade aplicada. Ainda de acordo com Iudícibus, Marion e Faria (2018, p. 15), na contabilidade america- na, “ao contrário dos europeus, não havia uma preocupação com a teoria das contas, ou querer provar que a Contabilidade é uma ciência”. A ascensão da escola americana decorreu também da importância dada à auditoria e dos expressivos valores concedidos a pesquisas desenvolvidas pelas universidades americanas nas áreas de contabilidade, finanças e auditoria. Na sequência, a mesma filosofia veio a ser reafirmada pela Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), que ficou conhecida como a “Lei das Sociedades por Ações”. De acordo com Iudícibus et al. (2018), as Leis n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007) e n. 11.941/2009 (BRASIL, 2009) contribuíram posteriormente para a elevação de todos os profissionais da contabi- lidade a um patamar ímpar de qualidade, uma vez que com a globalização dos negócios, a prática contábil tornou-se mais importante e regulamentada, nãopodendo ser praticada conforme os desejos de cada um. Todo esse percurso histórico capaz de trazer a contabilidade à realidade atual é o que estu- damos neste capítulo. Fundamentos de contabilidade10 1.1 A origem da contabilidade De acordo com Eddington, citado por Sá (2002, p. 21), “para que a exposição de um sistema de pensamento seja clara, é preciso que se comece pelas origens”, portanto, é importante que estudemos a procedência dos pensamentos, a fim de compreendermos as concepções atuais. Comecemos, então, pela escrita. Estudiosos como Hendriksen e Van Breda (2009) afirmam que a escrita está atrelada ao incremento de atividades comerciais baseadas no desenvolvimento da agricultura e nas trocas de mercadorias, considerando a necessidade de con- trolar trocas de itens, pagamentos de tributos e afins. De acordo com Sá (2006), antes mesmo da invenção dos ideogramas, já se adotava a escrita contábil. Para o autor, “foram os contadores que se transformaram em escribas e não os escribas em contadores” (SÁ, 2006, p. 17). Tanto para controle de bens quanto para trocas é necessária a utilização de um inventário. Já que não havia moeda, um cálculo de equivalência dos diversos bens era necessário, mas só foi possível quando do surgimento da contabilidade, mesmo em sua forma rudimentar. Como demonstra Iudícibus, Marion e Faria (2018), até os anos 4.000 a.C. não existia escrita, tampouco existiam os números do modo como conhecemos hoje. Dessa maneira, um pastor, cujo bem era representado pelo rebanho, executava a contabilidade de uma forma bem elementar, ado- tando uma contagem com base na quantidade de seixos. Ao conduzir seu rebanho para abrigar-se em uma caverna, o pastor deveria, portanto, separar um seixo para cada cabeça de gado que lá entrava, de modo que cada um representasse um animal de seu rebanho. Na condução do rebanho para fora da caverna, era possível constatar se o número de cabeças de gado era maior ou menor que a quantidade de seixos separados no momento da entrada. Iudícibus, Marion e Faria (2018) exemplificam esse fato: quando do início do inverno, um pastor internou seu rebanho, e para controle, separou um seixo para cada cabeça do rebanho que entrava na caverna. Ao final do inverno, ele retirou o rebanho da caverna e, para cada cabeça que saía, separava um seixo. Ao comparar os dois conjuntos de seixos (o da entrada com o da saída), constatou que o conjunto da saída era superior ao conjunto das entradas e concluiu alegre- mente que o rebanho havia crescido. Essa diferença constatada por meio dos seixos representaria, portanto, o nascimento ou morte de um animal. Nesse exemplo, verificamos além da contagem a mensuração da riqueza do pastor. Isso significa que em decorrência desse procedimento, houve o uso efetivo de um processo contábil. Rudimentarmente, o pastor realizou um inventário, como pode ser demonstrado na Figura 1. Figura 1 – Exemplo de inventário rudimentar de um rebanho 1º inventário 2º inventário Acréscimo de cabeças de gado • • • • • • • • • • • • • • • ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ • • • • • ■ ■ • • • • • ■ ■ • • • • • ■ Fonte: Adaptado de Iudícibus, Marion e Faria, 2018, p. 5. Vídeo inventário: levanta- mento minucioso de todos os bens. seixo: pedra ou cas- calho de pequenas dimensões. A contabilidade 11 Você pode perceber que a contagem e a análise são tão antigas quanto o próprio ser humano. Relatos bíblicos, inclusive, já traziam informações sobre a contagem. O Livro de Jó, por exemplo, descreve a riqueza deste personagem: “possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas jumentas e uma grande quantidade de escravos” (BÍBLIA, Jó, 2018, 1: 3). Embora estejamos tratando do pastoreio, muitos cidadãos exerciam outras atividades, como a caça, a pesca, a agricultura e a prestação de serviços. Quem possuía um rebanho, certamente ne- cessitava de grãos que pertenciam ao agricultor, e este, por sua vez, necessitava tanto da carne para se alimentar quanto das peles dos animais para se vestir. Pela inexistência da moeda, era necessário atribuir valores aos bens para se realizar a troca de um por outro. Uma questão que se levanta é: como atribuir valores? Smith (2017), ao discorrer sobre o assunto, busca determinar o valor pela quantidade de trabalho necessária para conquistar o bem. Por exemplo, imagine que um caçador, para abater um veado, tenha despendido o dobro de tempo que outro caçador despendeu para abater um castor. Seguindo esse raciocínio, um veado deve custar o equivalente a dois castores. Além disso, o valor dos bens estava sujeito à lei natural da oferta e da demanda. Não existia, por exemplo, processo de conservação da carne, por isso, havia a necessidade de trocá-la mais rapidamente que os grãos. Se houvesse pouca demanda por carne e nem sua troca, ela se deterioraria em dias. Esse fato ensejava que o valor da carne dependesse também do mercado, e não apenas do tempo de trabalho aplicado em sua obtenção. Os diversos polos começaram a preocupar-se com o controle da produção e dos estoques e com seus potenciais rendimentos. Assim, havia a necessidade da criação de um sistema que pudesse representar a produção e o consumo, sem o qual seria impossível realizar um registro, ainda que incipiente. Veja na Figura 2 registros da antiga Mesopotâmia, em que a escrita, criada pelos sumérios por volta de 4.000 a.C., era efetuada em placas de barro. Figura 2 – Texto de escrita cuneiforme em sumério Ja st ro w /W ik im ed ia C om m on s Fonte: Contrat archaïque sumérien concernant la vente d’un champ et d’une maison1. 2.600 a.C. 8,5 x 8,5 x 2 cm. Museu do Louvre, Paris. Todos esses relatos confirmam a asserção de Marion (1988, p. 23), de que “a contabilidade é tão antiga quanto a origem do homem”. 1 Contrato sumério de Shuruppak diz respeito ao contrato desenvolvido por uma antiga civilização da Suméria – atual- mente localizada no Iraque –, que registra a venda de um campo e de uma casa (cerca de 2.600 a.C.). Fundamentos de contabilidade12 1.2 Evolução da contabilidade Dando um salto na História, encontramos Aristóteles, que em aproximada- mente 300 a.C. escreveu sobre premissas falsas e falácias. À época, constatava-se a predominância dos sofistas, produzindo discursos falaciosos, com argumentações descritivas de uma suposta verdade que tinha como objetivo real a indução do ou- vinte ao erro, ao ludíbrio e ao engano. Aristóteles defendeu a ideia de que a falácia é um pensamento ilógico, já o argumento é um raciocínio lógico que depende da correta relação entre as premissas e suas conclusões. Uma premissa é uma ideia ou fato inicial do qual se parte para formar um raciocínio ou um estu- do. Para Aristóteles (2015, p. 21), “ao contrário da retórica dos sofistas, a verdadeira arte retórica funda- -se em provas, entendendo-se por prova uma espécie de demonstração a partir de um raciocínio lógico”. Hoog (2014, p. 2), por sua vez, afirma que “um argumento contábil pode ser chamado de premissa, e as conclusões destes argumentos são deduzidas a partir das investigações das premis- sas”. Logo, se a premissa for falsa, a conclusão também será falsa. Se a premissa for verdadeira, a conclusão será verdadeira. Constata-se, com base em Aristóteles, que existe uma filosofia contabilística que ensina aos usuários da contabilidade a pensar e refletir sobre as situações reais, a partir de uma base real, já que a contabilidade se assenta em postulados e princípios que determinam que apenas os fatos contábeis sustentados por materialidade e objetividade – ou seja, apenas os argumentos contábeis entendidos como premissas verdadeiras – sejam aceitos para registro contábil. De Aristóteles, vamos para o século VII. Os árabes, influenciados pelos indianos, produzi- ram uma lógica e um sistema numérico, inclusive com o conceito de zero, que é hoje denominado de arábico. Esse sistema numérico é fundamental para a evolução da contabilidade,já que esta é uma linguagem matemática. Sem a matemática, a contabilidade não teria evoluído. Os europeus utilizavam, até então, somente o sistema romano. Imagine que você precise realizar uma soma utilizando-se apenas dos algarismos romanos. Vamos tentar? DCCXXIV + DCCXXIV = ? Você conseguiu? Agora divida o resultado por três. Consegue? Como seria difícil realizar operações matemáticas básicas fazendo uso do sistema romano! Constata-se, em decorrência de tamanha dificuldade, que os algarismos romanos foram de- senvolvidos para demonstrar quantidades e não para o desenvolvimento de cálculos. Vamos, agora, para a Idade Média. Em meados do século XI, na Europa Ocidental, o pontapé inicial para o desenvolvimento da ciência matemática – e o consequente desenvolvimento da contabili- dade – foi realizado por Leonardo Fibonacci, conhecido também como Leonardo de Pisa. Vídeo A contabilidade 13 O matemático publicou, em 1202, o Liber abaci2, que continha capítulos sobre adição, subtra- ção, preços de produtos, sociedades, entre outros. As fontes de apoio utilizadas por Leonardo Pisa para escrever seu livro provinham do mundo islâmico, por ele visitado durante suas muitas viagens. Segundo Cuomo (2002), nessa obra, o autor aprofundou-se encadeando todo o material recolhido que, além de conter as regras para o cálculo dos numerais indo-arábicos, é um verdadeiro baú do tesouro não só para cientistas e estudiosos da matemática, mas também para os historiadores da sociedade e economia medievais, já que trata de numerosos problemas de natureza prática, principalmente ligados ao cálculo dos lucros, conversões e mensuração de moedas. Os algarismos arábicos, também chamados de indo-arábicos, são um sistema de numeração que consiste nos símbolos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 0. Há autores que atribuem a origem dos símbolos à relação destes com a quantidade de ângulos que possuíam em sua forma original. Você pode observar essa curiosa relação na Figura 3. De acordo com Hendriksen e Van Breda (2009, p. 39), “não sabemos quem inventou a contabilidade. Sabemos, porém, que sistemas de escrituração por partidas dobradas começaram a surgir gradativamen- te nos séculos XIII e XIV em diversos centros de co- mércio da Itália”. Pode-se afirmar que até a edição da obra de Leonardo de Pisa, a contabilidade era embasada apenas em conhecimentos adquiridos no cotidiano, não fun- damentados na ciência, fato que só se tornou possível com a evolução da matemática, relacionando de vez as duas áreas. A sistematização, ou seja, a padronização por meio de normas, só foi possível graças ao Liber abaci (no qual houve a utilização dos algarismos arábicos) e progrediu em 1494, quando a contabilidade começou a tomar corpo com a obra de Luca Pacioli (Figura 4). A obra Summa de arithmetica, geometria, proportioni et proportionalita, como o próprio título sugere, é um tratado matemático, mas além disso, ela contempla os registros contábeis segundo o método das partidas dobradas3, metodologia aceita e utilizada até hoje pela contabilidade (e que será estudado adiante). Denominado Tratado Particular de Conta e Escrituração, o método desenvolvido por Luca Pacioli, de acordo com Marion (2009, p. 160) é “universalmente aceito, dá início a uma nova fase para a Contabilidade como disciplina adulta, além de desabrochar a escola contábil italiana, que iria dominar o cenário contábil até o início do século XX”. 2 Trata-se do Livro do Ábaco ou Livro do Cálculo. 3 A característica deste método universalmente aceito, é que o registro é realizado de maneira dígrafa, isto é, qualquer operação implica em um lançamento em, no mínimo, duas contas; um valor lançado em uma conta enseja que o mesmo valor seja lançado em outra ou outras contas. Sem ângulos Figura 3 – Uma versão da evolução dos números arábicos Fonte: Adaptada de Lemos apud Darela, Cardoso e Rosa, 2011, p. 69. Fundamentos de contabilidade14 Figura 4 – Retrato de Luca Pacioli com um estudante M at te s/ W ik im ed ia C om m on s Fonte: BARBARI, Jacopo de. Portrait of Luca Pacioli (1445-1517) with a student (Guidobaldo da Montefeltro?). 1495. Óleo sobre tela: color.; 98 x 108 cm. Museu de Capodimonte, Nápoles. De acordo com estudiosos da área, ao longo dos anos foram criadas várias escolas, compreendidas como correntes doutrinárias da contabilidade, sempre atendendo às mudanças exigidas pela sociedade, limitadas a determinado período histórico. É possível dividir essas escolas de acordo com os períodos, os personagens principais, os ideais e doutrinas defendidas, e a aceitação dessas correntes pela sociedade. É o que vemos no Quadro 1. Quadro 1 – Períodos da contabilidade Período Nome do período Duração Personagem e obra principal 1º História Antiga ou da contabilidade empírica 6.000 a.C. até 1202 d. C. Leonardo Fibonacci, com Liber Abacci. 2º História Média ou da sistematização da conta- bilidade De 1202 até 1494 Frei Luca Pacioli, com o método das partidas dobradas. 3º História Moderna ou da literatura da contabilidade De 1494 até 1840 Francesco Villa, com La contabilitá Applicatta alle Administrazioni Privada e Pubbliche. 4º História Contemporânea ou científica da contabi- lidade De 1840 até a atualidade Fábio Besta, seguidor de Francesco Villa, definiu o patrimônio como ob- jeto da contabilidade em sua obra La Ragioneria. Fonte: Elaborado pelo autor. Já conhecemos os dois primeiros períodos de evolução da contabilidade demonstrados no Quadro 1, com as contribuições matemáticas de Leonardo Fibonacci e com o método das partidas dobradas do Frei Luca Pacioli. Vejamos, agora, o terceiro e quarto períodos dessa evolução. A contabilidade 15 O terceiro período teve início com a obra de Francesco Villa, La Contabilita Applicata alle Ammistrazioni Private e Publiche (1840), complementada no quarto período por Fábio Besta, que produziu diversas obras, tendo La Ragioneria (1880) como a principal, cujos princípios permane- cem até os dias de hoje. No terceiro período ocorreu a disseminação da escola italiana por toda a Europa, liderada por doutrinadores italianos como Leonardo de Pisa, Luca Pacioli, Benedetto Cotrugli, Francesco Villa, Fábio Besta, Gino Zappa e Vicenzo Masi. Entretanto, essa escola se fundamentava em excessiva teoria e não permitia a flexibilidade necessária para o surgimento, por exemplo, de uma contabilidade gerencial4, já que os autores europeus entendiam que a contabilidade era uma ciência. Assim, ela se voltava apenas ao público acadêmico, não sendo compreendida como uma disciplina que pudesse ser discutida nas empresas. De acordo com Iudícibus, Marion e Faria (2018, p. 17), nesse período os estudos da contabi- lidade avançaram, “porém, os trabalhos [eram] repetitivos e excessivamente teóricos, apenas pelo gosto de serem teóricos”. A Revolução Industrial, a intensificação do comércio internacional e as guerras – ocasiões que acarretaram inúmeras falências – tornaram necessários os levantamentos de perdas e lucros. Além disso, o crescimento dos negócios no século XX foi um dos fatores que contribuíram para o aperfeiçoamento da contabilidade. Com o término da Primeira Guerra Mundial em 1919, aflorou uma demanda de bens de con- sumo e de uso que alimentou uma explosão de investimentos, principalmente voltados para rádios, telefones e automóveis. De acordo com Hendriksen e Van Breda (1999, p. 57), “somente a produção de automóveis elevou-se de 485.000, em 1913, para 1.934.000 em 1919 e 5.622.000 em 1929”. Em 1929, porém, ocorreu uma crise no mercado norte-americano que foi chamada de Grande Depressão, cujas causas e efeitos permanecem em discussão até a atualidade. Os contado- res não passaram incólumes às críticas levantadas nas discussões. Pesquisadores atribuíram como causa da crise a concentração do poder e da riqueza nas mãos de poucas pessoas. Autores das áreas de direito e de economia, como Adolph Berle e Gardiner Means, escreve- ram sobre a temática eafirmaram que “enquanto padrões de contabilidade não se tornarem mais rígidos, e não houver lei que imponha cânones específicos, os diretores de empresas e seus contado- res serão capazes, dentro de certos limites, de apresentar as cifras que quiserem” (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 2009, p. 58). A contabilidade, à época, não impunha padrões de controle no intuito de evitar fraudes. Por isso, por meio do New Deal, plano que vigorou entre 1933 e 1937, implementado pelo então presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, o governo criou leis que permitiram controlar o sistema financeiro, de modo a reduzir a possibilidade de fraudes. 4 Em vez de ater-se exclusivamente à teoria, a contabilidade gerencial adota um conjunto de técnicas contábeis, como a controladoria, a gestão de custos e a análise das demonstrações financeiras, que fornecem informações para o proces- so de tomada de decisões. incólumes: ilesos, intactos. New Deal: novo acordo. Fundamentos de contabilidade16 Embora um pouco injustas, essas críticas à contabilidade ensejaram respostas que vieram por meio da adoção de inúmeros procedimentos de suas associações: o American Institute of Accountants (AIA) e o American Association of Accountants (AAA). De acordo com Hendriksen e Van Breda (2009), a AIA, por exemplo, criou uma comissão com o objetivo de cooperar com a Bolsa de Valores de Nova Iorque e, como resultado dessa coope- ração, editou uma norma exigindo que todas as empresas se inscrevessem na Bolsa e fornecessem a esta última suas demonstrações financeiras auditadas. Os líderes empresariais, porém, não reagiram suficientemente para tentar solucionar os problemas, pois cada um deles ou cada grupo de pessoas atribuía a outra ou a outros a respon- sabilidade pela Grande Depressão. Segundo Hendriksen e Van Breda (2009), o então candidato a presidente Franklin Roosevelt, em um comício realizado em 1928, culpou os empresários pela depressão, mesmo sabendo que o poder público também tinha sua responsabilidade. Com a posse do presidente Roosevelt, iniciaram-se os famosos 100 primeiros dias5, em que foram editadas inúmeras leis, destacando-se a Lei de Emergência Bancária e a Lei da Veracidade na Emissão de Títulos6, ambas com o objetivo de evitar ou diminuir fraudes. Assim, entra em ação no ano de 1936 o Comitê de Procedimentos Contábeis (Committee on Accounting Procedure – CAP), ao qual foi atribuída autoridade para fazer pronunciamentos a respeito de princípios e procedimentos contábeis. Surge, então, no início do século XX, a escola norte-americana, conhecida como pragmática, que apresentou muitas características especiais e importantes para a contabilidade, sobretudo porque se ateve ao aspecto prático das questões econômico-administrativas e se preocupou pouco com as construções teóricas gerais, praticando mais a arte do que a ciência. Importante frisar que por arte, entende-se a capacidade de gerar informações por meio das demonstrações, e assim, garantir a possibilidade de auditar o passado, controlar o presente e planejar o futuro. As grandes corporações que foram criadas naquele século exigiam que a contabilidade ampliasse seus horizontes para além dos ideais da escola europeia, que se restringia apenas ao campo acadêmico e concebia a contabilidade como ciência pura, estudando seus aspectos lógicos e sistemáticos. Essas corporações exigiam uma contabilidade prática, que resolvesse as questões ligadas ao custo, à controladoria, à gestão financeira e, principalmente, à possibilidade de prever o futuro por meio da aplicação de práticas orçamentárias. No Brasil, seguem esse pensamento os professores José Carlos Marion, Milton Augusto Walter, Sérgio de Iudícibus, Eliseu Martins, Alexandre Assaf Neto, Stephen Kanitz, entre outros grandes nomes da área. 5 Roosevelt conseguiu construir todo o programa de recuperação e reforma econômica-social, a New Deal, em dias, com a participação dos grandes sindicatos, das autoridades municipais, industriais, dos fazendeiros e de todas as lideranças americanas. 6 Essas leis de 1933 exigiam que os títulos emitidos fossem registrados quando oferecidos à venda ao público, coibindo, assim, a emissão de títulos enganosos. A contabilidade 17 Marion (1988) esquematiza os modelos que vigoram no Brasil desde a década de 1940 até a atualidade, como é possível observar pela análise da Figura 5: Figura 5 – Modelos de contabilidade adotados no Brasil nos últimos anos Modelo europeu Decreto-Lei n. 2.627/1940 • Visava os donos das empresas. • Não considerava os acionistas. Modelo americano Lei n. 6.404/1976 • Adequa-se aos acionistas. • Brasileiros, padrão nacional. Contabilidade para o mundo Leis n.11.638/2007 e n.11.941/2009 • Propõe a contabilidade para o mundo. Fonte: Adaptado de Marion, 1988, p. 44. O Decreto-Lei n. 2.627/1940 (BRASIL, 1940) normatizou as características e a natureza das sociedades anônimas que começavam a florescer no país, voltando-se exclusivamente aos aspectos jurídicos das empresas. A Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976) organiza as sociedades e impõe a distribuição de poderes, criando o Conselho de Administração e determinando que as decisões sejam tomadas ou corroboradas pelas Assembleias Gerais dos Acionistas, voltando-se, portanto, aos acionistas das companhias. As Leis n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007) e 11.941/2009 (BRASIL, 2009) introduziram e deram ênfase às normas contábeis expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelos demais órgãos reguladores, obrigando os responsáveis pelas normas contábeis a falarem a mesma língua, assunto que estudamos na próxima seção. 1.3 A contabilidade no cenário atual A contabilidade de hoje deve ser vista como um sistema de informação cujo método de trabalho consiste em coletar, processar e transmitir dados sobre a situa- ção econômico-financeira de uma entidade em determinado momento, avaliar a evolução do patrimônio em determinado período e, com base nos dados, fornecer meios para a tomada de decisões. De acordo com o American Institute of Accountants (AIA)7, a contabilidade tem por finalidade “a classificação, registro, resumo e exposição das transações de entidades em termos de custos, transferências e rendimentos, incluindo a conversão de custos em dinheiro e outros valores, e o seu dispêndio como gasto ou prejuízo” (PARMA, 1991, p. 24). Você pode observar que começamos a adotar um caráter simplista no trato das questões contábeis, como descreveu o professor José Carlos Boucinhas no prefácio do livro Contabilidade Introdutória, coordenado pelo professor Sérgio de Iudícibus: A velha tendência da escola europeia, de uma prolixidade teórica monótona e cansativa, cedeu vez a uma atitude mais pragmática, representada pela escola norte-americana, mais preocupada em apresentar essa disciplina como poderoso instrumento de administração. Simultaneamente, sem pôr em risco a genial 7 O AIA é uma organização profissional que define a contabilidade como profissão que deve ser exercida com padrões profissionais éticos e alinhados com o interesse público. Conheça mais em: https://www.aiaworldwide.com/. Acesso em: 18 dez. 2018. Vídeo Fundamentos de contabilidade18 concepção do método das partidas dobradas, que permitiu construir uma imagem perfeita de equilíbrio entre os valores que integram o patrimônio de qualquer ente, são feitas pesquisas com o uso de sofisticados métodos matemáticos, procurando explicação e justificação racional das ações que sucedem no âmbito das empresas e outras entidades. (BOUCINHAS, 1998, p. 22) Em 1971, o Brasil começou a viver um grande crescimento econômico que refletiu no mercado de ações, principalmente com a participação de pequenos investidores. Havia, portanto, a necessidade de regulamentar a estrutura das demonstrações financeiras, principalmente a do Balanço Patrimonial e a da Demonstração do Resultado do Exercício. Além disso, houve também a necessidade de regulamentar os órgãos de auditoria, no intuito de avaliaras condições de risco das empresas. Em 1972 foi editada pelo Banco Central do Brasil a Circular n. 179/1972 (BC, 1972), introduzindo normas pertinentes às sociedades por ações referentes ao controle, à auditoria e à estruturação das demonstrações contábeis. Em 1976 foi editada a Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), que estabeleceu regras para o fun- cionamento das sociedades anônimas e regulamentou a relação entre os acionistas e a estruturação e divulgação dos resultados, com o objetivo de essas ações transparentes e objetivas. Desde 2005, quando as entidades ligadas às normas de contabilidade resolveram que o Brasil deveria se submeter às normas internacionais de contabilidade, muito se discutiu a esse respeito e, a partir dessas discussões, editou-se a Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007). Desde então, a conta- bilidade brasileira está utilizando os padrões internacionais definidos pelo International Financial Reporting Standards (IFRS) e emitidos pelo International Accounting Standards Board (IASB). O IASB é uma entidade que executa um papel de fundamental importância nas áreas contábil e financeira. Ele é o órgão internacional responsável por emitir normas de acolhimento obrigatório pelas entidades correlatas existentes em todos os países. Essas normas são denominadas IFRS. No Brasil, a entidade que reproduz e exige das empresas e profissionais ligados à contabili- dade a convergência às normas internacionais é o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). De acordo com Iudícibus et al. (2018, p. 14), “um importante passo, no Brasil, foi dado pela criação do CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis”. Para o autor, o país está caminhando para uma única norma mundial, o que só se realiza pela convergência às normas internacionais de contabilidade, emitidas pelo IASB. Vivemos em um mundo globalizado e as empresas hoje são globais. Em decorrência dessa realidade, é necessário que os postulados, as estruturas patrimoniais e as de resultado sejam capa- zes de serem avaliadas e interpretadas em todo o mundo. Diferentemente da abordagem dos princípios de contabilidade vigentes até 2011, em que diversas entidades expediam normas e definiam postulados e princípios de maneira totalmente dife- rente, toda a normatização contábil no Brasil passou a ser firmada pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) a partir daquele ano. A contabilidade 19 A primeira norma surge com a publicação do CPC 00 (CPC, 2011), que aborda a estrutu- ra conceitual atual e interpreta as características qualitativas da informação contábil-financeira, ou seja, os atributos que tornam as demonstrações contábeis úteis aos seus usuários. O pronun- ciamento em questão também comenta acerca das características qualitativas da informação contábil-financeira útil e prescreve que ela precisa ser relevante e representar com fidedignidade o que se propõe representar, além de dever apresentar materialidade, como é demonstrado na Figura 6. Figura 6 – Características da informação contábil Características qualitativas fundamentais Relevância Materialidade Revelação fidedigna Fonte: Elaborada pelo autor com base em CPC, 2011. Vejamos, então, o que significam essas características: • relevância: para ser relevante, uma informação deve ser capaz de avaliar decisões econômicas passadas de modo que a experiência possa influenciar as decisões presentes (caráter confirmatório) e futuras (caráter preditivo) dos usuários, ou seja, ser capaz de fazer a diferença nas tomadas de decisões; • materialidade: a informação deve propiciar a confirmação ou a necessidade de mudança de decisões; • representação fidedigna: só é fidedigna a informação que representar a verdade, a autenticidade e a precisão do fenômeno que está sendo representado. A representação fidedigna indica que a informação é neutra e livre de erros, isto é, ela não apresenta sem dados confiáveis informações favoráveis ou desfavoráveis. Finalmente, a infor- mação é completa. Por outro lado, o pronunciamento elenca outras características que, embora não essenciais, melhoram a qualidade da informação contábil. Essas características são demonstradas na Figura 7 a seguir. Figura 7 – Outras características da informação contábil Características qualitativas de melhoria Comparabilidade Verificabilidade Tempestividade Compreensibilidade Fonte: Elaborada pelo autor com base em CPC, 2011. Vejamos os sentidos de cada uma das características qualitativas de melhoria: • comparabilidade: as informações contábeis-financeiras devem proporcionar ao usuário a pos- sibilidade de conhecer e calcular a evolução de determinada informação ao longo do tempo; Fundamentos de contabilidade20 • verificabilidade: deve-se admitir a possibilidade de que diferentes observadores cheguem a um consenso, mesmo que não se obtenha um completo acordo quanto ao retrato de uma realidade econômica; • tempestividade: a informação contábil deve chegar ao conhecimento do usuário em tempo hábil para que ele possa utilizá-la no momento correto; • compreensibilidade: pressupõe-se que o usuário da informação contábil disponha de conhecimentos suficientes de contabilidade e da atividade da empresa para que seja capaz de analisar, com a profundidade necessária, as demonstrações divulgadas como informações contábeis. Essa característica também deve levar em consideração a organização espacial, a redação e as técnicas de exposição, além de dever ser expressa em idioma nacional, permitindo-se o uso de palavras em língua estrangeira quando inexistir palavra com significado idêntico na língua nacional. Em relação à apresentação, as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) são editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e compreendem regras e procedimentos de conduta que devem ser observados como requisitos para o exercício da profissão contábil e também devem seguir os mesmos padrões de elaboração e estilo das normas internacionais. A Resolução n. 1.121/2008 (BRASIL, 2008) acrescenta pressupostos básicos que devem ser observados na elaboração das demonstrações financeiras. Alguns deles são descritos no quadro a seguir: Quadro 2 – Pressupostos para a elaboração das demonstrações financeiras Primazia da essência sobre a forma É possível que um evento, para fins de registro contábil, tenha forma legal, porém a forma tenha sido artificialmente produzida. No caso da constituição de um fundo de reserva, por exemplo, para enfrentar futuros problemas com indenizações trabalhistas, não há data definida para ocorrer o evento indeni- zatório, mas esses recursos devem ser contabilizados. Regime de competência As receitas e despesas devem ser registradas no período de sua ocorrência, independentemente do seu recebimento ou pagamento. Os salários de um determinado mês, por exemplo, são pagos no mês seguinte, porém o fato gerador do salário ocorreu no mês da realização do trabalho e, assim, a despesa de salário deve ser apropriada no período de sua ocorrência, independentemente de seus reflexos em caixa. Continuidade As demonstrações financeiras são elaboradas e apresentadas partindo do pressuposto de que a empresa está em atividade e irá manter-se por um tempo previsível e não entrará em processo de liquidação. Visão verdadeira e apropriada Um exemplo da aplicação desse pressuposto é a atribuição do valor para um ativo biológico. Qual é o valor verdadeiro e justo de um quilo de mel que foi coletado no apiário? Qual é o valor da lã da ovelha que foi tosquiada? A resposta é, referentemente ao valor justo e verdadeiro, que esses dois ativos sejam avaliados ao preço de mercado. Se você tem um valor a receber sobre o qual incide ganhos financeiros a serem calculados com base, por exemplo, nos índices de preços ao consumidor, o seu valor verdadeiro não é o que está no documento que representa este direito: o valor justo e verdadeiro de contas a receber é o valor original acrescido dos encargos financeiros. Fonte: Elaborado pelo autor com baseem Brasil, 2008. A contabilidade 21 Além das características preconizadas, é forçoso lembrar que as entidades se obrigam a obe- decer a um conjunto de normas e regras oriundas das boas práticas da governança corporativa, as quais estão expostas na Figura 8. Figura 8 – Normas básicas de governança corporativa Princípios básicos de governança corporativa Transparência Equidade Prestação de contas Responsabilidade corporativa Fonte: Elaborada pelo autor. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) define cada um desses princípios: Transparência – consiste no desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. Equidade – caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders), levando em consideração seus direi- tos, deveres, necessidades, interesses e expectativas. Prestação de Contas (accountability) – os agentes de governança devem pres- tar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis. Responsabilidade corporativa – os agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental etc.) no curto, médio e longo prazos. (IBGC, 2015, p. 72) É oportuno considerar que mesmo as empresas que não estejam obrigadas a se inserir nos princípios da governança corporativa devem atender a esses princípios, pois sua observância gera valor e credibilidade e os clientes passam a enxergá-la como responsável e transparente. A ciência contábil encontrou um campo fértil quando a economia de mercado exigiu ferramentas de controle e projeções, de modo que, ao longo dos tempos, houve (e ainda há) uma interação entre os dois fenômenos: a economia e a contabilidade. Considerações finais Como vimos no decorrer deste capítulo, as modificações sofridas pela contabilidade sempre foram ensejadas pelo mercado. Sem informações contábeis, o investidor que desejasse se tornar acionista não teria como analisar a situação econômico-financeira das empresas nas quais desejava investir, os administradores não poderiam obter informações precisas Fundamentos de contabilidade22 e indispensáveis às tomadas de decisões, e os indivíduos não teriam instrumentos para mensurar e controlar os patrimônios individuais. Todos esses fatores fazem da contabilidade uma ferramenta que fornece condições para o equilíbrio dos orçamentos domésticos e para a tomada de decisões sobre investimentos pessoais. Ampliando seus conhecimentos • Aprofunde seus conhecimentos sobre a história da contabilidade e o impacto de eventos econômicos, políticos e sociais relacionados a essa história com a leitura do artigo a seguir. PELEIAS, I. R. et al. Evolução do ensino da contabilidade no Brasil: uma análise histórica. Revista Contabilidade & Finanças. São Paulo, p. 19-32, jun. 2007. Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/rcf/v18nspe/a03v18sp.pdf. Acesso em: 18 dez. 2018. Atividades 1. Leia a seguinte afirmação, constante na Resolução n. 1.121/2008: “As transações devem ser contabilizadas e apresentadas de modo a demonstrar a substância econômica, mesmo que em detrimento dos aspectos formais”. Com base no que estudamos sobre essa resolução, qual pressuposto básico está relacionado a essa afirmativa? 2. Qual foi a importância da obra Liber abaci (1202), de Leonardo Fibonacci, para a matemática e para a contabilidade? Justifique. 3. Sabe-se que, por muito tempo, o ensino da contabilidade seguia orientações da escola euro- peia. Entretanto, no início do século XX, a escola norte-americana ganhou força e cresceu. Explique qual é a principal diferença entre essas duas escolas. Referências ARISTÓTELES. Retórica. Trad. de Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena. São Paulo: Publifolha, 2015. BC – Banco Central do Brasil. Circular n. 179, de 10 de maio de 1972. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 maio 1972. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp? arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/40314/Circ_0179_v2_L.pdf. Acesso em: 26 nov. 2018. BÍBLIA. (Antigo Testamento). Jó. Português. Bíblia Sagrada. Trad. Bíblia Ave Maria, cap. 1, vers. 3. Disponível em: https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/jo/1/. Acesso em: 26 nov. 2018. BRASIL. Decreto-Lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 1 out. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2627compilado.htm. Acesso em: 27 nov. 2018. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018. A contabilidade 23 BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28 dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso em: 30 out. 2018. BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.121, de 28 de março de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1 abr. 2008. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1121.pdf. Acesso em: 28 nov. 2018. BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, Poder Legislativo, DF, 28 maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm. Acesso em: 16 nov. 2018. BOUCINHAS, J. C. Prefácio. In: IUDÍCIBUS, S. Contabilidade introdutória. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1998. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1): estrutura conceitual para elaboração e di- vulgação de relatório contábil-financeiro. Brasília, 2011. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/ Documentos/147_CPC00_R1.pdf. Acesso em: 18 dez. 2018. CUOMO, S. Fibonacci’s Liber Abaci: A Translation into Modern English of Leonardo Pisano’s Book of Calculation by Laurence E. Singler. Institute for Research in Classical Philosophy and Science, 2004. Revisão. Disponível em: http://www.ircps.org/sites/ircps.org/files/aestimatio/1/2004-02-01_Cuomo.pdf. Acesso em: 28 nov. 2018. DARELA, E.; CARDOSO, M.; ROSA, R. C. História da matemática. Palhoça: UnisulVirtual, 2011. Disponível em: http://pergamum.unisul.br/pergamum/pdf/restrito/000003/00000369.pdf. Acesso em: 18 dez. 2018. HENDRIKSEN, E. S.; VAN BREDA, M. F. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009. HOOG, W. A. Z. A importância da filosofia para os contadores. Contábeis. 17 fev. 2014. Disponível em: https://www.contabeis.com.br/artigos/1606/a-importancia-da-filosofia-para-os-contadores/. Acesso em: 28 nov. 2018. IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores práticas de governança corporativa. 5. ed. São Paulo: IBGC, 2015. Disponível em: http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/Publicacoes/ Publicacao-IBGCCodigo-CodigodasMelhoresPraticasdeGC-5aEdicao.pdf. Acesso em: 14 dez. 2018. IUDÍCIBUS, S. et al. Contabilidade introdutória. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1998. IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C.; FARIA, A. C. Introdução à teoria da contabilidade. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018. IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. MARION, J. C. Contabilidade empresarial. São Paulo: Atlas, 1988. MARION, J. C. Teoria da contabilidade. São Paulo: Alínea, 2009. MARION, J. C. Contabilidade básica. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PARMA, H. Delineamentoshistórico-contábeis. Contabilidade Vista & Revista, Belo Horizonte, v. 3, n. 1, p. 20-26, ago. 1991. Disponível em: http://www.spell.org.br/documentos/ver/24918/delineamentos-historicos -contabeis/i/pt-br. Acesso em: 28 nov. 2018. SÁ, A. L. Teoria da Contabilidade. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SMITH, A. A riqueza das nações: uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. 3. ed. Rio de Janeiro, 2017. https://www.contabeis.com.br/artigos/1606/a-importancia-da-filosofia-para-os-contadores/ 2 O patrimônio A contabilidade relativa às entidades1 tem como objeto o estudo do patrimônio. Seu objetivo é controlá-lo permanentemente que esse controle possa contribuir nas tomadas de decisões. No desenvolvimento de suas atividades, as entidades utilizam bens econômicos para produzir outros bens, realizando a intermediação entre o produtor e o usuário ou na prestação de serviços. No intuito de atender aos seus objetivos, a entidade jurídica – que é independente das pessoas físicas que a compõem – tem a necessidade, por um lado, de realizar investimentos em bens e direitos e, por outro, de buscar financiamentos para seus investimentos. Nesse sentido, o presente capítulo tratará dos investimentos e financiamentos que representam o patrimônio. 2.1 O que é patrimônio? Como já dito, o foco da contabilidade é o patrimônio. Em toda a literatura nacional, o patrimônio é definido como o conjunto de bens, direitos e obrigações de uma entidade, seja ela física ou jurídica. Para Sá (2002, p. 60), o “patrimônio é um fundo de valores, em um dado mo- mento existente, visando à satisfação das necessidades da atividade de uma célula social”. Os valores representativos de bens e de direitos constituídos pretendem satisfazer as neces- sidades de cada setor da instituição, que Sá (2002) denominou como célula social. Assim, móveis, computadores e demais bens do escritório de um gerente, por exemplo, representam um fundo de valores não destinado à venda, mas sim destinado às exigências da atividade do profissional. Para entender o que é patrimônio, é preciso compreender o que são bens, direitos e obrigações tanto sob o aspecto qualitativo quanto sob o aspecto quantitativo. Qualitativamente, o patrimônio busca identificar seus componentes nomeando-os; quantitativamente, busca-se atribuir-lhes um valor monetário. Veja como essa diferença se dá no Quadro 1 a seguir: Quadro 1 – Exemplos de componentes do patrimônio Aspectos qualitativos Aspectos quantitativos Bens Disponibilidades, estoques etc. Disponibilidades: R$ 10.000,00 Direitos Duplicatas a receber, tributos a recuperar etc. Duplicatas a receber: R$ 100.000,00 Obrigações Duplicatas a pagar, tributos a pagar etc. Tributos a pagar: R$ 18.000,00 Fonte: Elaborado pelo autor. 1 Contabilmente, uma entidade pode ser uma pessoa física ou um conjunto de pessoas que se unem e constituem uma empresa por quotas de responsabilidade limitada ou uma sociedade anônima. Vídeo Fundamentos de contabilidade26 A seguir, estudamos cada um dos componentes do patrimônio: os bens econômicos, os di- reitos e as obrigações. 2.2 Bens econômicos De acordo com Fulgencio (2007, p. 86), os bens são coisas capazes de satisfazer as necessidades materiais humanas e suscetíveis de avaliação econômica. Tudo aquilo que tem utilidade, com ou sem valor eco- nômico. O ar, por exemplo, é um bem livre, mas o minério de ferro é um bem econômico, porque é escasso e depende do trabalho humano para ser obtido. Ainda, segundo o autor, para que um bem seja reconhecido pela contabilidade é necessário que ele: • tenha valor econômico; • possa ser convertido em dinheiro; • seja útil e capaz de satisfazer as necessidades da entidade. Assim, o interesse da contabilidade são os bens econômicos, ou seja, os bens que têm preços, diferentemente dos bens livres (como o ar e o sol) aos quais não se pode atribuir preço. Os bens econômicos de existência própria – independentemente do meio em que se situam – são denominados tangíveis ou materiais. São exemplos de bens tangíveis: terrenos, prédios, máquinas, veículos, ferramentas, entre outros. Entretanto, se os bens econômicos não puderem ser reconhecidos visualmente, de maneira distinta dos outros (ainda que possuam valor monetário), eles são conceituados como intangíveis ou imateriais. São exemplos de bens intangíveis: marcas e patentes, fundos de comércio2, entre outros. Considerando a relevância dos bens econômicos para a contabilidade, é importante apresentar algumas definições e classificações embasadas no Código Civil (BRASIL, 2002), no CPC 27 (CPC, 2009) e em diversos autores da área3. Essas definições são utilizadas pela con- tabilidade empresarial e, por meio delas, podemos enumerar e classificar os principais bens como imóveis ou móveis. Os bens imóveis não podem ser deslocados, a não ser que haja danos em sua estrutura. Para a contabilidade, há necessidade de separar esses bens em diversos itens, por exemplo: solo (superfície), elementos incorporados ao solo (como construções e plantações) e bens determinados legalmente (como penhor agrícola e apólices da dívida pública). 2 Para uma empresa comercial, por exemplo, é de suma importância a localização do estabelecimento de vendas. O fundo de comércio é conhecido também por goodwill of trade ou como ponto da empresa. 3 Como Franco (1988), Calderelli (1967), Iudícibus et. al (2018) e Marion (2015). Vídeo O patrimônio 27 Os bens móveis são aqueles que podem ser deslocados sem prejuízos ou com pouco prejuízo em sua estrutura, podendo ser classificados em: móveis que podem ser transportados (animais, materiais e mercadorias) ou móveis por determinação legal (direitos autorais sobre um objeto móvel, ou seja, produção intelectual, marcas, patentes ou obras artísticas). As características sobre a fungibilidade ou não fungibilidade dos bens se assentam na possibilidade de substituição desses bens. Assim, os bens fungíveis são aqueles que podem ser substituídos por outros de mesmo gênero, espécie, quantidade e qualidade (como móveis, imóveis, dinheiro etc.). Já os infungíveis são os bens de natureza insubstituível (por exemplo: pinturas, obras de arte, partituras etc.). Os bens econômicos podem ser classificados como bens de troca, por serem valores rotati- vos destinados à venda ou transformação. Esses bens, por sua vez, são classificados como: • numerários: denominação atribuída a moedas que foram cunhadas ou impressas, ou seja, diz respeito a valores monetários; • produtos: são objetos que tenham sido alvo de fabricação, isto é, que foram extraídos de algo e que modificaram os insumos empregados; • mercadorias: são artigos adquiridos por intermediários (empresas comerciais) entre os produtores primários ou industriais e os consumidores ou usuários. Essa intermediação é denominada revenda, e pode ser realizada a varejo ou por atacado. Os bens econômicos também podem ser classificados como bens de consumo ou de aplica- ção, sendo classificados como: • matéria-prima; • materiais secundários; • embalagens; e • material de escritório. A matéria-prima é o insumo principal para a fabricação de qualquer produto. Ela pode ser natural, como a soja ou o trigo utilizados na produção do óleo e da farinha, ou pode ser transfor- mada, como chapas de aço e tábuas para produzir automóveis e mobiliários. Os materiais secundários são itens agregados à produção, em caráter complementar. Para pro- duzir uma compota de figo, por exemplo, o fruto é a matéria-prima e o açúcar é o material secundário. Já a embalagem é o recipiente destinado a armazenar os produtos tanto individualmente quanto em grupos, com o objetivo de protegê-los. A embalagem é um insumo que, muitas vezes, tem custo superior ao do próprio produto. insumo: elemento necessário para a produção de mercadoria. Fundamentos de contabilidade28 Ao material de escritório devem ser adicionados os custos pertinentes aos produtos utiliza- dos na higiene e limpezada instituição, além de gastos com produtos consumidos na copa, como água, pó de café, entre outros. Vemos na Figura 1 a classificação apresentada até aqui. Figura 1 – Mapa da classificação dos bens Imóveis Móveis Matéria Troca Numerários Produtos Mercadorias Matéria-prima Materiais secundários Embalagens Materiais de escritório Fungíveis e Infungíveis Materiais ou corpóreos Imateriais ou intangíveis Bens econômicos Aplicação Uso Fonte: Elaborada pelo autor. Agora que conhecemos essas definições, é possível trabalharmos em um memorial descritivo de bens de uso que uma entidade deve adquirir antes de abrir um negócio, pois, para a abertura de uma empresa são obrigatórias diversas ações que antecedem o ato de “abrir as portas”. Inicialmente, é forçoso levantar quais bens serão utilizados pelo empreendimento para que se possa produzir determinado produto, revender determinada mercadoria ou prestar um serviço. Imagine uma indústria sem um parque fabril, um mercado sem local de vendas, um mecânico sem ferramentas ou um cozinheiro sem condimentos. Para que isso não ocorra, é preciso realizar um levantamento dos bens de uso. Vamos, ainda, imaginar a abertura de uma pequena confecção. Será necessário adquirir máquinas para produzir as peças de vestuário, por isso, deve-se elaborar um memorial O patrimônio 29 descritivo de todos os bens tangíveis necessários à execução desses objetivos. A Tabela 1 é um exemplo de memorial. Tabela 1 – Exemplo de memorial descritivo dos bens tangíveis Descritor Quantidade Valor unitário Valor total Máquina de costura Janome 2 R$ 1.120,05 R$ 2.240,10 Máquina de costura reta Singer 2 R$ 959,90 R$ 1.919,80 Máquina de cortar tecidos Faca 1 R$ 1.780,00 R$ 1.780,00 Computador Gamer Intel 1% 7400 2 R$ 2.828,00 R$ 5.656,00 Total dos bens tangíveis R$ 11.595,90 Fonte: Elaborada pelo autor. Além das máquinas, a empresa deve registrar sua marca e seus produtos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Para realizar o registro, ela despende valores para a contratação de empresas especializadas em desenvolver sites, logomarca e afins. Para esse tipo de bens, exige-se também um memorial descritivo, de acordo com o modelo expresso na Tabela 2. Tabela 2 – Exemplo de memorial descritivo dos bens intangíveis Marcas e patentes R$ 1.500,00 Esforço mercadológico com empresas especializadas R$ 5.000,00 Total dos bens intangíveis R$ 6.500,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Para começar a produzir, a empresa necessita de insumos; então, ela deve adquiri-los, fazendo-se necessária a elaboração de um memorial descritivo dos insumos que inicialmente comporão os estoques e, posteriormente, os custos de produção. Vamos imaginar que a previsão de produção durante o mês seja de 100 calças, sendo necessário adquirir para cada unidade e para o total de calças a serem produzidas os insumos descritos na Tabela 3. Tabela 3 – Exemplo de memorial descritivo dos insumos para a produção de calças Descrição Quantidade Valor unitário Valor total Fazenda 1,12 m2 R$ 18,66 R$ 20,90 Forro 0,32 m2 R$ 7,32 R$ 2,34 Zíper 1 R$ 3,00 R$ 3,00 Botão 3 R$ 0,45 R$ 1,35 Linha de costura 45,00 m R$ 0,01 R$ 0,45 Linha algodão 160,00 m R$ 0,011 R$ 1,76 Etiqueta de confecção 1 R$ 0,50 R$ 0,50 Etiqueta de logo 1 R$ 2,00 R$ 2,00 Lavanderia Stone 0,380 kg R$ 26,00 R$ 9,88 (Continua) Fundamentos de contabilidade30 Descrição Quantidade Valor unitário Valor total Embalagem plástica 1 R$ 0,12 R$ 0,12 Bordado 1 R$ 7,00 R$ 7,00 Entretela 1 R$ 1,20 R$ 1,20 Total dos custos variáveis R$ 50,50 Produção prevista de calças R$ 100,00 Estoque de insumos R$ 5.050,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Imaginemos que na metade do mês tenham sido produzidas 50 calças. Em decorrência da sua fabricação, foram transferidos 50% dos insumos adquiridos, ou seja, o valor de R$ 2.525,00. A este valor foram adicionados, a título de exemplo, os custos da mão de obra (R$ 2.500,00) e os custos indiretos, no valor de R$ 450,00. Assim, o total do custo de produção a ser transferido para os estoques de produtos prontos é de R$ 5.475,00, somados os valores dos insumos, da mão de obra e dos custos indiretos. Convém observar que 50% dos insumos que não foram utilizados também compõem os estoques de materiais. A empresa de confecções, nesse momento, possui uma riqueza patrimonial expressa em moeda, nos valores e nos bens descritos na Tabela 4. Tabela 4 – Memorial da riqueza patrimonial (bens) da indústria de confecções Bens de troca Produtos acabados R$ 5.475,00 Bens de aplicação Insumos R$ 2.525,00 Bens tangíveis R$ 11.595,90 Bens intangíveis R$ 6.500,00 Total dos bens R$ 26.095,90 Fonte: Elaborada pelo autor. Para confeccionar seus produtos, a pequena indústria de confecções necessita manter recur- sos alocados como bens sem os quais não consegue produzir. Por outro lado, constituirá direitos quando começar a vender os produtos acabados. Este é o tema da próxima seção. 2.3 Direitos: o que é seu, mas encontra-se em poder de terceiros Vamos discorrer sobre os direitos que, para fins contábeis, só podem ser con- siderados como tal se puderem ser convertidos em dinheiro. Podemos entender os direitos como algo pertencente à companhia, mas que está em poder de terceiros. Dessa maneira, a diferença entre os bens e os direitos é a posse. Por exemplo, o dinheiro que você tem depositado em um banco não está em seu poder, logo, os recursos financeiros que você mantém em bancos – mesmo aqueles em conta corrente – são seus direitos. Vídeo O patrimônio 31 Outro bom exemplo de direito é o da instituição que vende produtos a consumidores, intermediários ou usuários; porém, em decorrência da política de recebimento das vendas, ela concede um prazo para o comprador efetuar o pagamento. Como se trata de um contrato, a entidade normalmente emite uma fatura, e dela são extraídas duplicatas relacionadas a cada uma das prestações mensais. Utiliza-se a expressão normalmente porque no Brasil é usual a emissão de cheques pós-datados4 para documentar a realização de uma venda a prazo, assim como é habitual aceitar vale-refeição, vale-alimentação e afins. A empresa que emite um título de crédito, aceita cheques pós-datados ou vales institui um direito a receber. Além da venda a prazo de suas mercadorias, a empresa também pode vender bens de uso (máquinas, veículos etc.) e pode aceitar que o adquirente emita uma nota promissória, gerando um direito para a empresa vendedora. Pela sistemática tributária vigente, alguns tributos são recuperáveis e geram direitos para empresa, como é o caso do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); para algu- mas empresas, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); o Programa de Integração Social (PIS); e a Contribuição para Financiamento das Atividades Sociais (COFINS). Partindo do exemplo da indústria de confecções, que possuía 50 calças em estoque, vamos imaginar que tenha sido realizada uma venda de 50% dos itens, isto é, 25 calças. Essas calças estão evidenciadas nos estoques, e futuramente, no custo do produto vendido (CPV) pelo custo de pro- dução (matéria-prima, mão de obra e custos indiretos). Ou seja, as 50 calças que estão em estoque custam, cada uma, R$ 109,50; portanto, o custo total dos itens é de R$ 5.475,00. Suponhamos que a confecção almeje um lucro de 80%. O valor de venda será, em decor- rência dessa escolha, de R$ 197,10 por unidade (R$ 109,50 × 1,80) e o preço total da venda das 25 unidades será de R$ 4.927,50 (25 × R$ 197,10). As empresas normalmente concedem prazos de pagamento aos seus clientes. Por isso, é nor- mal a adoção do cartão de crédito como forma de pagamento, o que caracteriza uma venda a prazo. Assim, vamos imaginar que a política de recebimento de vendas adotada pela indústria de confecções seja de 10% do pagamento à vista e o restante parcelado em cinco vezes iguais. Isso significa que a indústria receberá R$ 492,75 (10% de R$ 4.927,50) em dinheiro e os R$ 4.434,75restantes em períodos futuros. Temos, nessa situação, um bem e um direito. O bem é o dinheiro que a companhia recebe – e que está em seu poder – e o direito é o montante de recursos que está em poder dos clientes e que a companhia somente receberá nos prazos acordados. Com base nesses dados, vamos atualizar a riqueza patrimonial dessa pequena indústria de confecções na Tabela 5. Tabela 5 – Exemplo de memorial da riqueza patrimonial da indústria de confecções Bens de troca Numerário R$ 492,75 Produtos acabados R$ 2.737,50 4 Cheque com uma data futura indicando quando deve ser depositado. (Continua) Fundamentos de contabilidade32 Bens de aplicação Insumos R$ 1.262,50 Direitos Duplicatas a receber R$ 4.434,75 Bens tangíveis R$ 11.595,90 Bens intangíveis R$ 6.500,00 Total dos bens e direitos R$ 27.023,40 Fonte: Elaborada pelo autor. Concluída a explanação dos bens e direitos pertencentes à empresa, o passo seguinte é deter- minar de que forma a instituição provê os recursos para financiá-los. 2.4 Obrigações: elas financiam os investimentos Para financiar os bens e direitos que compõem a riqueza de uma empresa, ela necessita permanentemente de recursos financeiros que possam ser aplicados na atividade, visando alcançar seus objetivos. Os recursos financeiros têm duas ori- gens: as internas e as externas. As origens internas correspondem ao capital dos proprietários, sendo deno- minadas capital próprio, e correspondem ao conceito de riqueza ou de Patrimônio Líquido, abran- gendo o investimento inicial realizado pelos sócios ou acionistas, acrescido dos lucros gerados. As origens externas são denominadas capital de terceiros e dizem respeito aos recursos pro- venientes de terceiros (por exemplo, de instituições financeiras, fornecedores de materiais e servi- ços, e entidades públicas credoras de impostos, taxas e contribuições). O capital total à disposição da empresa ou as origens de recursos representam o conjunto de valores disponibilizados para a empresa, abrangendo capital próprio e capital de terceiros. O provimento de recursos – tanto de capital próprio quanto de capital de terceiros – gera obrigações. Inclusive, no mundo acadêmico, muito se discute sobre a caracterização do capital investido pelos sócios como obrigação. Marion (2015, p. 385) ensina que “pela Lei das Sociedades Anônimas, entende-se como Passivo todo o lado direito do Balanço Patrimonial [...] Assim, o Patrimônio Líquido pode ser visto como uma obrigação da empresa com seus proprietários”. No entanto, as obrigações com os sócios não são por eles exigidas de imediato, pois elas denotam que os sócios são os proprietários da empresa, mesmo que ela seja uma entidade diferente da deles. De acordo com Iudícibus (2010, p. 33), deve-se compreender a “entidade contábil como um ente, juridicamente delimitado ou não [...] para o qual devemos realizar relatórios” que são, por sua vez, destinados aos proprietários da própria entidade. Frisa-se que em decorrência desse aporte de recursos, os sócios esperam receber retorno por meio de dividendos. Se a empresa não apresentar lucros que se transformam em dividendos, os sócios se retirarão da sociedade e exigirão a devolução dos investimentos realizados. Vídeo O patrimônio 33 Na sequência, Iudícibus (2010, p. 34) esclarece sobre o postulado da continuidade, afirmando que “a contabilidade é mantida para entidades, como pessoas distintas dos sócios que as integram e que, se supõe, continuarão operando por período indefinido de tempo”. Argumentando esses dois enunciados, o autor pontifica que “de acordo com a teoria da en- tidade [...] é preciso, antes de mais nada, esclarecer que a entidade tem vida distinta das atividades e interesses pessoais dos proprietários de parcelas de seu capital. A entidade tem personalidade própria” (IUDÍCIBUS, 2010, p. 168). No mesmo sentido, Marion (2015) ensina que a contabilidade, por se basear nos pilares da entidade e da continuidade, exige que caso não houver uma entidade contábil, inexistirá a aplica- ção da contabilidade, o que leva à dedução lógica de que a contabilidade é mantida para a entidade e não para os sócios. Assim, se uma pessoa ou empresa fizer uma lista de seus bens econômicos e de todas as importâncias que tem a receber – bem como de todas as suas dívidas – pode-se dar a essa lista o nome de patrimônio. Retomando o exemplo da pequena indústria de confecções, verificamos por meio do memorial descritivo dos bens tangíveis, que a empresa adquiriu bens destinados ao seu uso nas atividades de confecção que totalizaram R$ 11.595,90, enquanto pelo memorial descritivo do intangível constatou-se que a empresa investiu R$ 6.500,00, totalizando R$ 18.095,90 em aplicações de recursos. Essas aplicações precisam obrigatoriamente ter origem, que pode ser própria ou de terceiros. Como exemplo, vamos considerar que 45% desses recursos foram captados por meio de empréstimos em instituições financeiras, enquanto os 55% restantes foram captados por meio da participação dos sócios. Para representar o patrimônio dessa entidade, devemos traçar um risco vertical em uma folha de papel e colocar ao lado esquerdo os bens e direitos que representam as aplicações de recursos e ao lado direito as obrigações que representam as origens dos recursos, como se evidencia na Tabela 6. Tabela 6 – Demonstração das origens e aplicações de recursos Bens tangíveis R$ 11.595,90 Capital de terceiros (R$ 18.095,00 × 45%) R$ 8.143,16 Bens intangíveis R$ 6.500,00 Capital próprio (R$ 18.095,00 × 55%) R$ 9.952,75 Total das aplicações R$ 18.095,90 Total das origens R$ 18.095,90 Fonte: Elaborada pelo autor. Na sequência, a empresa adquiriu R$ 5.050,00 de insumos necessários para a confecção das calças. Suponha que o fornecedor desses insumos tenha concedido um prazo para pagamen- to de 60 dias. Isso significa que a empresa, ao mesmo tempo em que agregou uma aplicação de R$ 5.050,00, assumiu uma obrigação no mesmo valor, como demonstra a Tabela 7 a seguir. Fundamentos de contabilidade34 Tabela 7 – Alteração do patrimônio por aquisição de insumos Descritor Valor Descritor Valor Bens de aplicação R$ 5.050,00 Capital de terceiros (R$ 18.095 × 45%) R$ 8.143,16 Bens tangíveis R$ 11.595,90 Fornecedores R$ 5.050,00 Bens intangíveis R$ 6.500,00 (=) Capital de terceiros R$ 13.193,16 Capital próprio (R$ 18.095,90 × 55%) R$ 9.952,75 Total das aplicações R$ 23.145,90 Total das origens R$ 23.145,90 Fonte: Elaborada pelo autor. Em seguida, a empresa consumiu 50% do estoque de insumos para produzir 50 calças. Para fabricá-las, foi necessário apontar os salários devidos aos seus trabalhadores, um montante de R$ 2.500,00. Além disso, a empresa despendeu de R$ 450,00 de custos indiretos de fabricação. Sabemos que o salário e os custos indiretos (como energia elétrica e água) podem ser pagos nos primeiros dias do mês seguinte – é o que a empresa pretende fazer. Nesse caso, ocorre a criação de uma nova obrigação com terceiros, como demonstra a Tabela 8. Tabela 8 – Inclusão de novos bens e obrigações Descritor Valor Descritor Valor Capital de terceiros (R$ 18.095,90 × 45%) R$ 8.143,16 Bens de troca R$ 5.475,00 Fornecedores R$ 5.050,00 Bens de aplicação R$ 2.525,00 Salários a pagar R$ 2.500,00 Bens tangíveis R$ 11.595,90 Contas a pagar R$ 450,00 Bens intangíveis R$ 6.500,00 (=) Capital de terceiros R$ 16.143,16 Capital próprio (R$ 18.095,90 × 55%) R$ 9,952,75 Total das aplicações R$ 26.095,90 Total das origens R$ 26.095,90 Fonte: Elaborada pelo autor. Por meio desses dados, constatamos que a pequena indústria realizou a venda de 50% das calças existentes em estoque, ou seja, 25 calças. Essas calças foram vendidas por R$ 4.927,50. Do valor de vendas foi recebido R$ 492,50 e foi constituído um direito de R$ 4.434,75. Para completar a operação, falta calcular qual foi o lucro obtido na venda realizada. Para isso, basta efetuar a seguinte operação: Receita das vendas de 25 unidades × 197,10 R$ 4.927,50(-) Custo das vendas de 25 unidades × 109,50 R$ 2.737,50 (=) Lucro/recurso dos proprietários (capital próprio) R$ 2.190,00 O patrimônio 35 O lucro apurado será distribuído aos sócios da empresa ou aumentará sua riqueza líquida como um aumento de capital. Como ensinam Iudícibus et al. (2018, p. 345), o Capital Social é: uma figura mais jurídica do que econômica, já que, do ponto de vista econômico, também os lucros não distribuídos, mesmo que ainda na forma de Reservas, representam uma espécie de investimento dos acionistas. Sua incorporação ao Capital Social é uma formalização em que os proprietários renunciam a sua distribuição. É como se os acionistas recebessem essas Reservas e a reinvestissem na sociedade. Os eventos realizados pela pequena indústria de confecções – tanto na fase pré-operacional (quando investiu na aquisição de máquinas e em intangíveis) quanto na fase operacional de faturamento – permitiram concluir que o seu patrimônio, descrito qualitativamente e mensurado quantitativamente, resultou em um valor de R$ 28.285,90, como se vê na Tabela 9. Tabela 9 – Inclusão de novos bens, direitos e obrigações. Descritor Valor Descritor Valor Financiamento inicial R$ 8.143,16 Bens de troca (Numerários) R$ 492,75 Fornecedores R$ 5.050,00 Direito (Duplicatas a receber) R$ 4.434,75 Salários a pagar R$ 2.500,00 Bens de troca (Produtos) R$ 2.737,50 Contas a pagar R$ 450,00 Bens de aplicação (Insumos) R$ 2.525,00 (=) Capital de terceiros R$ 16.143,16 Bens tangíveis R$ 11.595,90 Capital próprio R$ 12.142,75 Bens intangíveis R$ 6.500,00 Capital Social R$ 9.952,75 Lucro R$ 2.190,00 Total das aplicações R$ 28.285,90 Total das origens R$ 28.285,90 Fonte: Elaborada pelo autor. O lado esquerdo da tabela apresenta, em dado momento, o conjunto de bens e direitos (as aplicações de recursos), tanto qualitativa quanto quantitativamente. Em decorrência da impos- sibilidade de existir um investimento sem o devido financiamento, a tabela também apresenta, no lado direito, as obrigações da empresa, ou seja, os financiamentos. Assim, verificamos que a montagem da Tabela 9 caracteriza todo o percurso realizado sobre o conceito de patrimônio. Constatamos, ainda, que os valores dos bens e direitos são exatamente iguais aos das obrigações – sejam elas de Passivo ou de Patrimônio Líquido – e que o conjunto de bens, direitos e obrigações vinculados a uma pessoa física ou jurídica denomina-se patrimônio. Considerações finais Ao iniciar um planejamento para criação de uma empresa é necessário prover recursos financeiros para realizar os investimentos necessários. Por isso, os sócios integralizam o Capital Social, ou seja, realizam um investimento inicial por quotas de capital ou ações. À medida que a empresa opera, suas obrigações deixam de se restringir apenas aos sócios, pois, em virtude da aquisição de mercadorias para pagamento a prazo e da protelação de pagamento de despesas, as obrigações se estendem também a fornecedores de mercadorias ou de insumos. Fundamentos de contabilidade36 Ao final, a soma dessas obrigações próprias e para com terceiros se iguala ao montante investido em bens e em direitos, e o capital total compreende o somatório dos recursos postos à disposição da entidade, ou seja, a soma do capital de terceiros com o capital próprio. O Balanço Patrimonial, por ser uma demonstração contábil que apresenta um retrato da empresa em dado momento, é considerado estático, porém, é necessário muito dinamismo para se chegar a ele. Você pode não conhecer fisicamente uma empresa, porém, ela se apresenta a você por meio deste retrato. Com ele, você poderá conhecer o conjunto de bens, direitos e obrigações dessa enti- dade; em outras palavras, você conhecerá o patrimônio dessa entidade. Ampliando seus conhecimentos • Ao estudar o patrimônio, verificamos que parte dele é composta pelo Ativo, que congrega o conjunto de bens e de direitos. Sugerimos a leitura do artigo a seguir para melhor com- preender esse componente patrimonial. GOULART, A. M. C. O conceito de Ativos na contabilidade: um fundamento a ser explorado. Revista Contabilidade & Finanças, São Paulo, n. 28, p. 56-65, jan./abr. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rcf/v13n28/v13n28a04.pdf. Acesso em: 26 dez. 2018. • Grande parte do conteúdo deste capítulo foi destinado ao estudo dos bens. Você poderá aprofundar seus conhecimentos nesse assunto por meio da leitura do artigo a seguir. RIBEIRO, G. W. C. Bens jurídicos no Código Civil de 2002. Boletim Jurídico, Uberaba, v. 13, n. 954. Disponível em: https://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/artigo/2478/ bens-juridicos-codigo-civil-2002. Acesso em: 26 dez. 2018. Atividades 1. José, um dos sócios da empresa Alfa, solicita que o contador realize a escrituração de uma escrivaninha que pertencia ao seu falecido avô. Ele justifica a solicitação em decorrência do alto valor sentimental desse móvel, reconhecido por todos os sócios e familiares. O conta- dor, na dúvida, solicita sua opinião a respeito dessa escrituração. O que você diria a ele? 2. Identifique e justifique se os itens a seguir devem ser caracterizados como bens, direitos ou obrigações: a) Dinheiro em caixa e em conta corrente. b) Automóvel alugado pela empresa para locomoção. O patrimônio 37 3. Toda a torcida de um clube de futebol, inclusive os adversários, acham que o jogador Júnior vale muito dinheiro. Alguns torcedores e principalmente a diretoria do clube até imaginam o valor monetário desse jogador em cifras de milhões de dólares. O presidente do clube, visando aumentar o valor da riqueza da empresa, entende que o valor que a torcida atribui ao jogador (que é um bem fungível, porque pode ser transferido) deve ser registrado pela contabilidade. Você concorda com ele? Justifique sua resposta. Referências BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/ L10406.htm. Acesso em: 14 dez. 2018. CALDERELLI, A. Enciclopédia contábil brasileira. São Paulo: Formar, 1967. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 27: Ativo Imobilizado. Brasília, DF, 2009. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=58. Acesso em: 26 dez. 2018. FRANCO, H. Contabilidade geral. 21. ed. São Paulo: Atlas, 1988. FULGENCIO, P. C. Glossário Vade Mecum: administração pública, ciências contábeis, direito, economia, meio ambiente. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2015. SÁ, A. L. Teoria da contabilidade. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 3 Estudo das contas Imagine-se responsável pelos apontamentos das transações realizadas por uma pessoa ou empresa. Certamente você se preocuparia em organizar os documentos separando os recebimentos dos pagamentos. Após essa separação, provavelmente você organizaria as despesas, por exemplo, em diversas categorias: alimentação, transporte, vestuário etc. Um raciocínio lógico induziria você a pensar que como há necessidade desses apontamentos, eles devem ser usados futuramente para eventuais conferências, controle, entre outras utilidades. Por isso, você naturalmente usaria fichas ou folhas para registrar as transações de acordo com a separação feita inicialmente. A realização desse trabalho nada mais é que a utilização de um recurso contábil que se caracteriza por reunir em um item todos os eventos da mesma natureza, no intuito de estruturar os apontamentos de maneira homogênea e compatível, e proporcionar aos usuários dessas informações a possibilidade de analisá-las, compará-las e exercer controle sobre
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