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266 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R Ferrier Aminoácido o:·Cetoácido PIRUVATO ( \,__ ./ ) Alanina Aminotransferase Aminoácido a-Cetoácido OXALACETATO ( \,__ / ) Aspartato Aminotransferase Aminoácido o:-Cetoácido o:-cETOGLUTARATO ("\_ ./) Glutamato Aminotransferase Figura 20.12 Formação de alanina, aspartato e glutamato a partir de seus a-cetoácidos correspondentes. ção requer ATP e, como a síntese da glutamina, possui um equilíbrio deslocado no sentido da síntese de asparagina . C. Prolina O glutamato é convertido em prolina por reações de ciclização e redução. D. Serina, glicina e cisteína 1. A serina provém do 3-fosfoglicerato, um intermediário da glicólise (veja a Figura 8.18, pág. 99), que é primeiramente oxidado a 3-fosfopiruvato e então transaminado a 3-fosfosserina. A serina é fo rmada por hidrólise do éster de fosfato. A serina pode também ser produzida a partir da gl i- cina, por meio da transferência de um grupo hidroximeti la (veja a figura 20.6A). 2. A glicina é sintetizada a partir da serina, pela remoção do grupo hidro- ximetila, também pela serina-hidroximeti/-transferase (veja a Figura 20.6A). 3. A cisteína é sintetizada por duas reações consecutivas, nas quais a homocisteína combina-se com a serina, formando cistationina, a qual, por sua vez , é hid rolisada, dando a-cetobuti rato e cisteína (veja a Figura 20.8). A homocisteína é derivada da metionina, como descrito na pág . 262. Uma vez que a metionina é um aminoácido essencial, a síntese da cisteína pode ocorrer apenas se a ingestão de metionina na dieta for adequada. E. Tirosina A tirosina é formada a partir da feni lalanina pela fenilalanina-hidroxilase. A reação requer oxigênio molecular e a coenzima tetraidrobiopterina, que pode ser sintetizada pelo organismo. Um átomo de oxigênio mole- Cistinúria cular torna-se o grupo hidroxila da ti rosina, e o outro átomo é reduzido a Histidinemia Fenilcetonúria Deficiência da meti/ma- loni/-CoA-mutase Albinismo I - ·~ - . . o ,1 1 10 10 o Incidência (por 100.000) Homocistinúria* Alcaptonúria* Doença do xarope de bordo* Cistationinúria* •Todas apresentam incidência semelhante Figura 20.13 Incidência de doenças herdadas do metabolismo dos aminoácidos. (Nota: A cistinúria é o mais comum erro genético relacionado ao transporte dos aminoácidos.) água. Durante a reação, a tetraidrobiopterina é oxidada a diidrobiopterina. A tetraidrobiopterina é regenerada a partir da diidrobiopterina, em uma reação separada, que requer NADPH. A tirosina, assim como a cisteína, é sintetizada a partir de um aminoácido essencial e, portanto, é não- essencial apenas na presença de quantidades adequadas de fenilalanina na dieta. VI. DEFEITOS METABÓLICOS NO METABOLISMO DOS AMINOÁCIDOS Erros inatos do metabolismo são comumente causados por genes mutantes, que em geral resultam em proteínas anormais, freqüentemente enzi mas. As deficiências herdadas podem expressar-se como uma perda total da atividade da enzima ou, mais freqüentemente, como uma deficiência parcial da ativi- dade catalít ica. Sem tratamento, os defeitos herdados do metabolismo dos aminoácidos quase invariavelmente resultam em retardo mental ou em outras anormalidades do desenvolvimento, como um resultado do acúmulo danoso de metabólitos. Embora mais de 50 dessas doenças tenham sido descritas, muitas são raras, ocorrendo com uma freqüência de menos de 1 para 250.000 na maioria das populações (Figura 20.13). Coletivamente, entretanto, elas constituem uma porção muito significativa das doenças genéticas pediátricas. A Figura 20.1 4 resume algumas das doenças do metabolismo dos aminoácidos mais comumente encontradas. A fenilcetonúria, a doença do xarope de bordo, o albinismo, a homocistinúria e a alcaptonúria são discutidos a seguir. A fenil- Fenilactato t Fenilpiruvato t Fenilalanina + Tirosina l I Catecolaminas e Essa doença deve-se a uma deficiência na homogentisato-oxidase. e O homogentisato acumu- la-se, formando polímeros que causam o escureci- mento da urina quando esta fica em repouso. e Uma caracterítica clínica comum é a artrite. e Não há tratamento efeti- vo para essa doença. É prudente adotar uma dieta com baixo conteú- do em proteínas durante toda a vida. Melanina Serina Semi-aldeído metilmalônico Propionii-CoA ~ Acetii-CoA t t Treonina - a-Cetobutirato + a-Celoisovalerato a-Ceto-~-metilvalerato t t Valina lsoleucina DOENÇA DO XAROPE DE BORDO e Essa doença deve-se a uma deficiência na desldrogenase dos a-cetoácidos de cadeia ramificada. e Os níveis dos a-aminoácidos de cadeia ramificada e de seus a-cetoácidos análogos estão aumentados no plasma e na urina. e Problemas neurológicos são comuns. A doença possui um alto índice de mortalidade. e O tratamento envolve restrição da ingestão de aminoácidos de cadeia ramificada na dieta. Figura 20.14 Cistationina Serina ---.4- Homocisteína t S-Adenosil-homocisteína t S-Adenosilmetionina t Metionina Bioquímica Ilustrada 267 DOENÇA DO XAROPE DE BORDO (veja "valina" e "isoleucina", abaixo) Leucina l a-Cetoisocaproato -------==::::::::=::; + I Creatina I t Arginina I Uréia 1+-------1 Ornitina / CISTATIONINÚRIA e O acúmulo de cistationina e de seus metaból itos deve-se a uma deficiência na cistationase. e Não são observados sintomas clínicos. ,. HOMOCISTINÚRIA e Essa doença deve-se a uma defici- ência na cistationina-sintase. e Ocorre acúmulo de homocisteína na urina. e Metionina e seus metabólicos en- contram-se elevados no sangue. e Ocorrem retardo mental, osteoporose, infarto do miocárdio e um deslocamento caracterísico do cristalino. Resumo do metabolismo dos aminoácidos em humanos. Deficiências enzimáticas geneticamente determinadas estão resumidas nos quadros brancos. Compostos nitrogenados derivados dos aminoácidos são mostrados nos pequenos quadros amarelos. A classificação dos aminoácidos está codificada por cores: vermelho = glicogênicos; marrom = glicogênicos e cetogênicos; verde = cetogênicos. Compostos em LETRAS MAIÚSCULAS AZUIS são os sete metabólitos para os quais converge o metabolismo de todos os aminoácidos. 268 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier L·Fenilalanina PKU Fenila/anina- hidroxi/ase L·Tirosina Figura 20.15 Tetraidro- biopterina + 0 2 Diidrobiop- terina + H20 Uma deficiência na fenilalanina- hidroxilase resulta na doença denominada fenilcetonúria (PKU). Síntese de tirosina Fenilalanina 0 ~etraidro- biopterina ~ _;;,-NADP+ (BH4) "/ Fenilalanina- 0 .. d 1 .d. hidrox#ase 11 rop en ma~ ./i"'- . redutase }? , • ~ Oiidro- /\ H 2 0 biopterlna / "'-. (BH2) NADPH + H+ Tirosina t Diidrobiopterina- t sintetase GTP cetonúria é o mais importante desses defeitos herdados, pois é relativamente comum, pode facilmente ser detectada por testes de triagem perinatais e res- ponde a tratamento dietético. A. Fenilcetonúria A feni lcetonúria (FCU ou PKU), causada pela deficiência de fenilalanina- hidroxilase (Figura 20.15), é o erro do metabolismo dos aminoácidos mais comum entre aqueles clinicamente encontrados (prevalência 1 :11 .000). A hiperfenilalaninemia pode também ser causada por deficiências nas enzimas que sintetizam ou reduzem a coenzima tetraidrobiopterina (BH4). Freqüentemente, é importante distinguir entre as várias formas de hiperfeni- lalaninemia, pois seu manejo clínico é diferente. Por exemplo, uma pequena fração da PKU é resultado de uma deficiência na diidropteridina (BH2) redu- fase ou na BH2 sintetase (Figura 20.16). Essas mutações impedem a sín- tese de BH4 e, indiretamente, aumentam as concentrações de fenilalanina, pois a fenilalanina-hidroxilase requer BH4 como coenzima. A BH4 é também necessária para a tirosina-hidroxilase e para a triptofano-hidroxi/ase, que catalisam reações que levam à síntese de neurotransmissores, tais como serotonina e catecolaminas. A simplesrestrição de fenilalanina na dieta não reverte os efeitos sobre o sistema nervoso central (SNC) devidos à deficiência nesses neurotransmissores. A terapia de reposição com BH4 ou 3,4-diidroxifenilalanina e 5-hidroxitriptofano (produtos das reações catali- sadas pelas enzimas afetadas, tirosina-hidroxilase e triptofano-hidroxilase) melhora o quadro clínico nessas formas variantes de hiperfenilalaninemia, embora a resposta desses pacientes seja imprevisível e freqüentemente desalentadora. 1. Características da PKU a. Fenilalanina elevada. A feni lalanina está presente em concentra- ções elevadas nos tecidos, no plasma e na urina. Feni lactato, feni- Síntese de catecolaminas Síntese de serotonina Tirosina 0 ~etra•dro- bJoptenna ~ / NADP+ (BH4) Tirosina- hidroxi/ase Dudropterldma- , /~"'- . redufase H }?O , , ~ D11dro- /\ b1optenna / " 2 (BH2) NADPH + H+ DOPA l t Diidrobiopterina-t sintetase GTP Catecolaminas Triptofano 0 ~etraidro- biopterina ~ _;;,-NADP+ (BH4) "/ Triptofano· Diidropterídina- hldroxtlase redutase ;:( I ~Diidrobiopterina /\ H 0 'Y (BH2) / "'-. 2 NADPH + H+ 5-Hidroxi- triptamina t l Diidrobiopterlna-t smtetase GTP "\ '---~------------------LL-----/ ·-~;··~ Uma deficiência na diidropteridina-redutase ou na diidrobiopter ina-sintetase leva à hiperfenilalaninemia e à redução na síntese de catecolaminas e de serotonina. Figura 20.16 Reações biossintéticas envolvendo aminoácidos e tetraidrobiopterina. b. !acetato e feni lpiruvato, que não são normalmente produzidos em quantidades significantes na presença de fenilalanina-hidroxilase funcional, também apresentam-se elevados na PKU (Figura 20.17). Esses metabólitos dão à urina um odor de mofo característico (ou "de camundongo"). (Nota: A doença adquiriu seu nome antes da fenilcetona presente na urina ser identificada como o feni lpiruvato.) Sintomas do SNC. Retardo mental, dificuldade para andar ou falar, convulsões, hiperatividade, tremor, microcefalia e retardo no crescimento são achados característicos da PKU. O paciente com PKU não-tratada tipicamente apresenta sintomas de retardo mental ao atingir um ano de idade. Praticamente todos os pacientes não- tratados apresentam Ql abaixo de 50 (Figura 20.18). c . Hipopigmentação . Os pacientes com fenilcetonúria freqüente- mente apresentam uma deficiência na pigmentação (cabelo e pele claros, olhos azuis) . A hidroxilação da tirosina pela tirosinase, o primeiro passo na formação do pigmento melanina, é inibida competitivamente pelos níveis elevados de fenilalanina presentes na PKU. 2. Diagnóstico neonatal de PKU. Um diagnóstico precoce da fenilceto- núria é importante, pois a doença é tratável por meio de uma dieta ade- quada. Devido à ausência de sintomas neonatais, testes laboratoriais para níveis elevados de fenilalanina no sangue são obrigatórios para a detecção* . No entanto, o bebê com PKU freqüentemente apresenta níveis sangüíneos normais de fenilalanina ao nascimento, pois a mãe depura os níveis aumentados de fenilalanina no sangue do bebê ate- lado, através da placenta . Dessa forma, testes realizados ao nasci- mento podem mostrar resultados falso-negativos. Níveis normais de fenilalanina podem persistir até o recém-nascido ser exposto a pelo menos 24 horas de alimentação com proteína. Níveis sangüíneos de fenilalanina devem ser determinados em uma segunda amostragem de sangue, obtida após o bebê ter ingerido proteína. Normalmente, a a li- mentação com leite materno ou leite em pó por 48 horas é suficiente para aumentar a fenilalanina no sangue do bebê para níveis que pos- sam ser uti lizados para diagnóstico. 3. Diagnóstico pré-nata l de PKU. A PKU clássica engloba uma família de doenças, causadas por 1 entre 40 ou mais mutações diferentes no gene que codifica a fenilalanina-hidroxi/ase (PAH). A freqüência de uma dada mutação varia entre as populações, e a doença é, freqüen- temente, duplamente heterozigota, ou seja, o gene PAH apresenta uma mutação diferente em cada alelo. Apesar dessa complexidade, a maior parte dos casos de PKU, na maioria das populações, são cau- sados por um pequeno número de mutações (6 a 1 0). Um feto pode ser testado in vitro para determinar se carrega uma mutação para PKU (veja a pág. 458). 4. Tratamento da PKU. A maioria das proteínas naturais contém feni lala- nina e é impossível satisfazer as necessidades protéicas do organismo, quando ingerindo uma dieta normal, sem exceder os limites para a feni- lalanina. Portanto, na PKU, a fenilalanina no sangue é mantida dentro dos limites normais utilizando-se como alimento preparações de ami- noácidos sintéticos, baixas em fenilalanina, suplementadas com alguns N. de T. No Brasil, o teste utilizado para triagem desses erros inatos do metabolismo em bebês é conhecido como "teste do pezinho". Bioquímica Ilustrada 269 Fenilpiruvato A Normal --- ~ Fenliactato Fenllaceiato Fenilalanina .-?' Proteínas teciduais T irosina / Melanina ~~ :::: ~ Catecolaminas ~ Fumarato Acetoacetato Fenilcetonúria Fenilpiruvato -+- Fe nilactato ~ t Fenilacet ato Fenilalanina ,7' Proteinas teciduais -. Tiros i na / ., . __ 7 Melanina --- 7 , -- - lo- · - -~ Catecolamini!s ',.:;\. ' .:!.. Fumarato Acetoacetato Figura 20.17 Vias metabólicas da fenilalanina em indivíduos normais e em pacientes com feni lcetonúria. 120 100 80 õ 60 40 20 o Nascimento 2 4 6 Idade em anos Figura 20.18 Capacidade intelectual típica em pacientes com PKU não-tratados, de diferentes idades. 8 a: a u <2 0: J- 2 u <..: <2 <..: u ~ c (( a: 270 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier 110 1.00 90 õ 80 70 o 2 3 Anos após a interrupção da dieta Figura 20.19 Alterações nos escores de Ql após interrupção de uma dieta com baixo conteúdo de fenilalanina, em pacientes com fenilcetonúria. 5. al imentos naturais (tais como frutas, vegetais e certos cereais) selecio- nados por seu baixo conteúdo em fen ilalanina. A quantidade é ajustada de acordo com a tolerância de cada indivíduo, medida pelos níveis sangüíneos de fenilalanina. Quanto mais cedo é iniciado o tratamento, mais completamente pode ser prevenido o dano neurológico. (Nota: O tratamento deve iniciar entre os primeiros sete a dez dias de vida para prevenir retardo mental.) Uma vez que a fenilalanina é um aminoácido essencial, um tratamento excessivamente zeloso, que resulte em níveis séricos de feni lalanina abaixo do normal, deve ser evitado, pois isso pode levar a retardo no crescimento e a sintomas neurológicos. (Nota: Mesmo com tratamento dietético, os pacientes com PKU apresentam Ql ligeiramente diminuído e um aumento na incidência de problemas comportamentais [humor depressivo, ansiedade, queixas físicas ou isolamento social].) Nos pacientes com PKU, a tirosina não pode ser sintetizada a partir da feni lalanina e, assim sendo, torna-se um amino- ácido essencial que deve ser fornecido na dieta. Uma descontinuidade na dieta com restrição de fenilalanina antes dos oito anos de idade está associada com baixo desempenho em testes de Ql. Pacientes adultos com PKU apresentam deterioração em seus graus de Ql após interrom- perem a dieta (Figura 20.1 9). A restrição de fenilalanina durante toda a vida é, portanto, recomendada. PKU materna. Quando mulheres com PKU, que não estejam em uma dieta com restrição de fenilalanina, engravidam, seus fetos são afeta- dos pela "síndrome da PKU materna". Altos níveis séricos de fenila- lanina na mãe levam a microcefalia, retardo mental e anormalidades cardíacas congénitas no feto. Algumas dessas respostas do desen- volvimento a níveis altos de fenilalanina ocorrem durante os primeiros meses de gestação. Assim sendo, o controle dietético da fenilalanina sangüínea deve iniciar antes da concepção e deve ser mantido durante toda a gestação. Crianças nascidas de mães com PKU, sob controle metabólico, freqüentemente apresentam algunsefeitos residuais sobre o desenvolvimento ou efeitos comportamentais, como por exemplo hiperatividade. B. Doença do xarope de bordo A doença do xarope de bordo (MSUD, de Maple syrup urine disease) é uma doença recessiva, na qual há uma deficiência parcial ou completa na desi- drogenase dos a-cetoácidos de cadeia ramificada, uma enzima que descar- boxila leucina, isoleucina e vali na (veja a Figura 20.1 O). Esses aminoácidos e seus a-cetoácidos correspondentes acumulam-se no sangue, causando um efeito tóxico que interfere nas funções encefálicas. A doença caracte- riza-se por problemas alimentares, vômitos, desidratação, acidose metabó- lica grave e um odor característico de xarope de bordo na urina. Se não for tratada, a doença leva a retardo mental, incapacidades físicas e morte. 1. Classificação. O termo doença do xarope de bordo inclui uma forma clássica e diversas formas variantes da doença. a. Forma clássica. Essa é a forma mais comum de MSUD. Os leucó- citos ou os fibroblastos da pele, obtidos desses pacientes e cultiva- dos, apresentam pouca ou nenhuma atividade da desidrogenase dos a-cetoácidos de cadeia ramificada. Bebés com MSUD clássica apresentam sintomas dentro dos primeiros dias de vida. b. Formas intermediária e intermitente . Esses pacientes apre- sentam níveis mais elevados de atividade enzimática (aproxima- damente 3 a 15% do normal). Os sintomas são menos graves e mostram um início entre a infância e a idade adulta. c. Forma responsiva à tiamina. Doses elevadas de tiamina podem ajudar a aumentar a atividade da desidrogenase dos cx.-cetoáci- dos de cadeia ramificada em pacientes com essa variante rara de MSUD. 2. Tratamento. A doença é tratada com uma fórmula sintética que contém quantidades limitadas de leucina, isoleucina e valina - suficiente para fornecer aminoácidos de cadeia ramificada necessários para o cres- cimento e o desenvolvimento sem alcançar níveis tóxicos. Bebês com suspeita de apresentarem qualquer forma de MSUD devem ser exami- nados dentro de 24 horas após o nascimento. Diagnóstico precoce e tratamento são essenciais para a criança com MSUD desenvolver-se normalmente. C. Albinismo O albinismo refere-se a um grupo de condições nas quais um defeito no metabolismo da tirosina leva a uma deficiência na produção de melanina. Esses defeitos resultam na ausência parcial ou completa do pigmento da pele, do cabelo e dos olhos. O albinismo aparece em diferentes formas e pode ser herdado de diversos modos: autossômico recessivo, autossômico dominante ou ligado ao X. O albinismo completo (também denominado albi- nismo oculocutâneo tirosinase negativo) resulta de uma deficiência na ati- vidade da tirosinase, causando uma ausência total do pigmento de cabelos, olhos e pele (Figura 20.20). É a forma mais grave dessa condição. Pessoas afetadas podem parecer ter cabelo, pele e cor da íris brancos, podendo ainda apresentar problemas de visão. Essas pessoas também apresentam fotofobia (a luz solar é dolorosa para seus olhos), facilmente apresentam queimaduras de sol e a pele não se torna bronzeada. D. Homocistinúria As homocistinúrias compreendem um grupo de doenças envolvendo defeitos no metabolismo da homicisteína. As doenças são herdadas como autossômicas recessivas, caracterizadas por níveis elevados de homocis- teína e de metionina no plasma e na urina e baixos níveis de cisteína. A causa mais comum da homocistinúria é um defeito na enzima cistationina- ~ -sintase, que converte a homocisteína em cistationina (Figura 20.21). Indi- víduos homozigotos para a deficiência da cistationina-~ -sintase apresentam ectopia /entis (deslocamento do cristalino do olho) , anormalidades esquelé- ticas, doença arterial precoce, osteoporose e retardo mental. Os pacientes podem responder ou não à administração oral de piridoxina (vitamina 8 6) - um co-fator da cistationina-~-sintase. Pacientes responsivos à 86 freqüen- temente apresentam um início menos grave e mais tardio dos sintomas clínicos, comparados com os pacientes não-responsivos à 8 6 . O tratamento inclui restrição da ingestão de metionina e suplementação com as vitaminas 8 6 , 812 e folato. E. Alcaptonúria A alcaptonúria é uma doença metabólica rara, envolvendo uma defici- ência na enzima ácido homogentísico-oxídase, resultando no acúmulo de ácido homogentísico. (Nota: Essa reação ocorre na via degradativa da tirosina.) A doença apresenta três sintomas característicos: acidúria homogentísica (a urina do paciente contém níveis elevados de ácido Bioquímica Ilustrada 271 < ~~~~~lt"f~~:- ~·':!:'"'~"'r'l:' ~=~~,...,_$ Figura 20.20 Paciente com albinismo oculocutâneo, mostrando cabelo loiro e sobrancelhas e cílios brancos. SH I ÇH2 CH2 HCNH3+ I coo- L-Homocisteína Cistationina· sintase CH -S-CH I 2 I 2 CH2 HCNH3+ I I HCNH + COO- ' 3 coo- Cistationina Figura 20.21 Deficiência enzimática na homocistinúria. 272 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier Urina de um paciente com alcaptonúria O espécime à esquerda, que ficou em repouso por 15 minutos, mostra algum escurecimento da superfície, devido à ox idação do ácido homogentísico. Vértebras de um paciente com alcaptonúria Figura 20.22 Um paciente com alcaptonúria. homogentísico quando é deixada em repouso, esse composto se oxida a um pigmento escuro, Figura 20.22A), artrite que acomete as grandes articulações e ocronose - pigmentação escura da cartilagem e do tecido conjuntivo (Figura 20.228) . Pacientes com alcaptonúria normal- mente são assintomáticos até a idade de 40 anos. Uma coloração escura nas fraldas algumas vezes pode indicar a doença em bebês, mas nor- malmente não há sintomas presentes até mais tarde. Dietas com pouca proteína - especialmente com baixa quantidade de fenilalanina e tirosina - ajudam a reduzir os níveis de ácido homogentísico e diminuem a quan- tidade de pigmento depositado nos tecidos. Embora a alcaptonúria não represente uma ameça à vida, a artrite associada pode ser gravemente incapacitante. VIl. RESUMO DO CAPÍTULO Os aminoácidos cujo catabolismo produz piruvato ou um dos intermediários do ciclo do ácido cítrico são denominados glicogênicos. Eles podem levar à produção líquida de glicose ou de glicogênio no fígado e de glicogênio no músculo. Os aminoácidos glicogên icos são os seguintes: glutamina, glu- tamato, prolina, arginina, histidina, alanina, serina, glicina, cisteína, triptofano, fenilalanina, tirosina, metionina, valina, isoleucina, treonina, aspartato e aspa- ragina. Os aminoácidos cujo catabolismo produz acetoacetato ou um de seus precursores, acetii-CoA ou acetoacetii-CoA, são denominados cetogênicos. Tirosina, fenilalanina, triptofano e isoleucina são tanto cetogênicos quanto gli- cogênicos. A leucina e a lisina são exclusivamente cetogênicas. Aminoácidos não-essenciais podem ser sintetizados a partir de intermediários metabólicos ou a partir dos esqueletos carbonados dos aminoácidos essenciais. Os ami- noácidos não-essenciais incluem alanina, aspartato, glutamato, glutamina, asparagina, prolina, cisteína, serina, glicina e tirosina. Os aminoácidos essenciais devem ser obtidos a partir da dieta. A feni lcetonúria (PKU) é causada por uma deficiência da fenifalanina-hidroxi/ase - a enzima que converte fenilalanina em tirosina. A hiperfenilalaninemia pode também ser causada por deficiências nas enzimas que sintetizam ou reduzem a coenzima da hidroxilase, a tetraidrobiopterina. Pacientes com PKU não-t ratados apre- sentam retardo mental , d ificuldade para caminhar ou falar, convulsões, hipe- ratividade, tremores, microcefal ia e deficiências no crescimento. O tratamento envolve o controle da fenilalanina na dieta. Observe que a tirosina torna-se um componente essencial na dieta de indivíduos com PKU. A doença do xarope de bordo (MSUD) é uma doença recessiva, na qual há uma deficiência par- cial ou completa na desidrogenase dos a.-cetoácidos de cadeia ramificada - uma enzima que descarboxilaleucina, isoleucina e valina . Os sintomas incluem problemas com a alimentação, vômitos, desidratação, acidose meta- bólica grave e odor característico da urina. Se não for tratada, a doença leva a retardo mental, incapacidades físicas e morte. O tratamento da MSUD envolve uma fórmula sintética que contém quantidades limitadas de leucina, isoleucina e val ina. Outras doenças genéticas importantes associadas com o metabolismo dos aminoácidos incluem o alb inismo, a homocistinúria, a def iciência de metilmalonii-CoA-mutase, a alcaptonúria, a histidinemia e a cistationinúria. Metabolismo dos aminoácidos I ....._, Catabolismo dos aminoácidos I envolve I [ Remoção do l [ Metabolismo dos es-] grupo <>-a mino queletos carbonados j '------ ---' I l [ converge para produzir t Sete produtos I que consistem em I ACETIL-CoA PIRUVATO ACETOACETIL-CoA OXALACETATO FUMARATO u-CETOGLUTARATO SUCCINIL-CoA classificados como classifi~dos como t t Cetogênicos 11 Glicoginicos I I prodtzem prodfzem [ Lipideos Lipídeos [ Energia Energia Glicose L j Síntese dos aminoácidos envolve - Figura 20.23 Transaminação dos a -cetoácidos; por exemplo, piruvato ~ alanina Amidação; por exemplo , aspartato ~ asparagina Síntese a partir de outros aminoácidos; por exemplo, fenilalanina --7 tirosina I I I [ Bioquímica Ilustrada 273 Alguns aminoácidos clinicamente importantes Metionina I I Fen ilalanina I • Fonte de grupos metila • Precursora da tirosina para o metabolismo • Elevada na fenilcetonúria • Precursora do ácido homogentísico [ Histidina I Arginina I • Precursora da histamlna • Membro do ciclo • Elevada na histidinemia da uréla • Precursora do I Triptofano I óxido nítrico • Precursor da serotonina Glutamina I I Alanina I • Forma de armazenamento • Forma de transporte da e transporte de amônia amônia a partir do músculo • Precursora de purinas e pirimidinas Defeitos metabólicos do metabolismo dos aminoácidos j caracterizam-se por t Família de defeitos em enzimas do metabolismo dos aminoácidos I causados por t Mutações pontuais, deleções e erros de clivagem que podem levar a t Enzimas parcial ou completamente inativas que levam a t Acúmulo do substrato e uma deficiência no produto da enzima defeituosa I que~vaa Distúrbios no metabolismo, em especial no SNC que levam a t Convulsões, retardo mental e outros efeitos sobre o SNC normalmente Defeitos herdados de forma ----+-! recessiva; heterozigotos geralment e não apresentam sintomas Aminoácidos:19 Destino do Nit~ogênio C on exão d e co n ce itos Mapa de conceitos-chave para o metabolismo dos aminoácidos. 27 4 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier Questões para Estudo: Escolha A ÚNICA resposta correta. 20.1 Qual das seguintes afirmativas está correta? A. Um aumento na gliconeogênese a partir de aminoáci- dos resulta em uma diminuição na síntese de uréia. 8. Todos os aminoácidos essenciais são glicogênicos. C. Ornitina e citrulina são encontradas em proteínas teci- duais. D. A cisteína é um aminoácido essencial em indivíduos que consomem uma dieta desprovida de metionina. E. Na presença de fontes adequadas de tirosina na dieta, a fenilalanina não é um aminoácido essencial. 20.2 Qual das seguintes afirmativas a respeito de um bebê do sexo masculino de uma semana de idade com fenilcetonú- ria clássica não-detectada está correta? A. A tirosina é um aminoácido não-essencial para o bebê. 8. Níveis elevados de fenilpiruvato aparecem em sua urina. C. A terapia deve iniciar dentro do primeiro ano de vida. D. Uma dieta desprovida de fenilalanina deve ser iniciada imediatamente. E. Quando o bebê alcançar a idade adulta, recomenda-se que a terapia dietética seja interrompida. 20.3 Em um menino de quatro anos de idade, filho de um casal de parentes consangüíneos em primeiro grau, foi obser- vado pelos pais o escurecimento da urina, até uma cor quase negra, quando deixada em repouso. Ele tem um irmão normal e não apresenta quaisquer outros problemas médicos. O crescimento durante a infância e o desenvol- vimento são normais. Quais dos seguintes compostos é o mais provável de estar elevado neste paciente? A. Metilmalonato 8 . Homogentisato C. Fenilpiruvato D. a-Cetoisovalerato E. Homocistina Resposta correta = O. A metionina é o precursor da cisteína. Um aumento na gliconeogênese libera uma maior quantidade de amônia e resulta em uma produção aumentada de uréia. Os aminoácidos essenciais leucina e lisina são cetogênicos. A ornitina e a citrulina são aminoácidos que são intermediários no ciclo da uréia, mas não são encontrados nas proteínas teciduais. Resposta correta = B. Fenilactato, fenilacetato e fenilpiruvato, que normalmente não são produzidos em quantidade signifi- cativa na presença de fenilalanina-hidroxilase funcional, encon- tram-se elevados na PKU e aparecem na urina. Nos pacientes com PKU, a tirosina não pode ser sintetizada a partir da fenila- lanina e, assim sendo, torna-se essencial e deve ser fornecida na dieta. O tratamento deve iniciar durante os primeiros 7 a 10 dias de vida para prevenir retardo mental. A interrupção da dieta com restrição de fenilalanina antes dos oito anos de idade está associada com desempenho prejudicado em testes de 0 1. Pacientes adultos com PKU apresentam deterioração da aten- ção e da velocidade de processamento mental após interrupção da dieta. Portanto, a restrição de fenilalanina na dieta durante toda a vida é recomendável. Resposta correta = B. A alcaptonúria é uma doença metabólica rara, envolvendo uma deficiência na ácido homogentísico- oxidase e o subseqüente acúmulo de ácido homogentísico na urina, que torna-se escura ao ficar em repouso. O aumento no metilmalonato (dev ido à deficiência na metilmalonii-CoA- mutase), no fenilpiruvato (devido à deficiência na fenilalanina- hidroxilase). no a -cetoisovalerato (devido à deficiência na desidrogenase dos a-cetoácidos de cadeia ramificada) e na homocistina (devido à deficiência na cistationina-sintase) é inconsistente com uma cr iança saudável com escurecimento da urina. Conversão dos Aminoácidos em Produtos Especializados I. VISÃO GERAL Além de servirem como blocos constitutivos das proteínas, os aminoácidos são precursores de muitos compostos nitrogenados que apresentam importantes funções fisiológicas (Figura 21.1 ). Essas moléculas incluem porfirinas, neuro- transmissores, hormônios, purinas e pirimidinas. 11. METABOLISMO DAS PORFIRINAS Porf irinas são compostos cíclicos que ligam-se facilmente a íons metálicos - geralmente Fe2 + ou Fe3+. A metaloporfirina mais abundante em humanos é o heme, que consiste em um átomo de ferro na forma de íon ferroso (Fe2+) coordenado, no centro de um anel tetrapirrólico de protopo rfirina IX (veja a pág. 277). O heme é o grupo prostético da hemoglobina, da mioglobina, dos citocromos, da cata/ase e da triptofano-pirro/ase. Essas hemeproteínas são rapidamente sintetizadas e degradadas. Por exemplo, 6 a 7 g de hemoglobina são sintetizados por dia para substituir o heme perdido na renovação normal dos eritrócitos. Essa renovação encontra-se coordenada com a síntese e a degradação simultâneas das porfirinas associadas às hemeproteínas e com a reciclagem dos íons de ferro a elas ligados. A. Estrutura das porfirinas As porfirinas são moléculas cíclicas, formadas pela união de quatro anéis pirrólicos por meio de pontes metenila (figura 21.2). Três estruturas carac- terísticas dessas moléculas são relevantes para a compreensão de sua importância médica. 1. Cadeias laterais. Diferentes porfirinas são observadas em função da natureza das cadeias laterais que estão ligadas a cada um dos quatro anéis pirrólicos. Por exemplo, a uroporfirina contém em suas cadeias laterais os grupos acetato (- CH2- COO-) e propionato (-CH2- CH2- coo-), enquanto a coproporfirina apresenta comosubstituintes grupos metila (-CH3) e propionato. Proteína corporal -400 g/dia Proteína corporal -400 g/dia Proteína da dieta 100 g/dia (típica de uma dieta norte· americana) A síntese de aminoácidos não-essenciais é variável Síntese de: • Portírínas • Creatina • Neurotrans· missores • Purinas Quantidade variável • Pirimidinas • Outros compos- tos nitroge· nados Glicose, glicogênio Figura 21.1 Corpos cetônicos, ácidos graxos, esteróides Aminoácidos como precursores de compostos nitrogenados. 276 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier As porfirinas contêm quatro anéis pirrol (A, 8 , C e D), unidos por meio de pontes metenila. Uroporfir ina I Figu ra 21.2 As porfirinas contêm cadeias laterais l igadas a cada um dos quatro anéis pirrol. Nas porfi- rinas do tipo I, as cadeias laterais estão arranjadas s imetricamente, ou seja, para a uroporfirina I, o A (acetato) está alternado com o P (propionato) ao redor do anel tetrapirrólico. O acetato (A) e o propio- nat o (P) apresentam po- sições invertidas no anel D da uroporfirina III, quando comparada com a uroporfi r ina I. Apenas as porfirinas do t ipo III são fisiologicamente impor- tantes nos humanos. p A ~ _.,N \-., N ~ p p /; N ~ ~ A p Uroporfirina III Estruturas da uroporfirina I e da uroporfirina III. (Nota: A = acetato e P = propionato.) coo- ' ÇH2 ÇH2 ÇH2-coo- NH3+ Glicina O=C-CoA Succinii-CoA õ-Amlnolevulinalo· sintase Hemina -c<·•••"""' Heme coo- ' ÇH2 ÇH2 C=O I ÇH2 NH3+ 2 Ácido õ-aminolevulínico (ALA) 15-Aminolevu//nato- FDuas moléculas desidrase se condensam) Chumbo m ...... .. , .~ • 2 H20 coo- Figura 21 .3 ' çoo- ÇH2 ÇH2 ÇH2 e-c 11 11 C, / CH I ~ ÇH2 NH2 Porfobilinogênio Via de síntese da porfirina: formação de porfobilinogênio. (Continua na Figura 21.4.) 2. Distribuição das cadeias laterais. As cadeias laterais das porfiri- nas podem ser ordenadas ao redor do núcleo tetrapirrólico de quatro maneiras diferentes, sendo designadas pelos numerais romanos I a IV. Apenas as porfirinas do tipo III, que contêm uma substituição assimé- trica no anel O (veja a Figura 21 .2), são fisiologicamente importantes em humanos. (Nota: Na partiria eritropoiética congên it a [veja o Resumo na Figura 21.7, pág. 279], as porfirinas do tipo I, que contêm um arranjo simétrico de substituintes [veja a Figura 21.2), são sintetiza- das em quantidades apreciáveis.) 3. Porfi r inogên ios. Precursores de porfirinas que ocorrem na forma quimicamente reduzida são denominados porfirinogênios. Em con- traste com as porfirinas, que são coloridas, os porfirinogênios, como o uroporfirinogênio, são incolores. Como descrito na próxima seção, os porfirinogênios servem como intermediários entre o porfobilinogênio e as protoporfirinas na biossíntese do heme. B. Biossíntes e do heme Os principais sítios para a biossíntese do heme são o fígado, que sintetiza diversas heme-proteínas (em especial o citocromo P450), e as células produtoras de eritróc itos da medula óssea, que são ativas na síntese de hemoglobina. No fígado, a velocidade de síntese do heme é altamente variável , respondendo a alterações nas quantidades de heme na célula, causadas por flutuações na demanda por heme-proteínas. Em contraste, a síntese de heme nas células eritróides é relativamente constante e se equi- para à taxa de síntese de globina. A reação inicial e os últimos três passos na formação das porfirinas ocorrem na mitocôndria, enquanto os passos intermediários da via biossintética ocorrem no citosol (veja o Resumo na Figura 21.7). (Nota: Eritrócitos maduros não apresentam mitocôndria e são incapazes de sintetizar o heme.) 1. Formação de ácido õ-aminolevulínico (ALA). Todos os átomos de carbono e de nitrogênio da molécula da porfirina são fornecidos por dois blocos construtivos simples: a glicina (um aminoácido não-essen- cial) e a succinii-CoA (um intermediário do ciclo do ácido cítrico). A glicina e a succinii-CoA condensam para fo rmar o ALA em uma reação catalisada pela ALA-sintase (Figura 21.3). Essa reação requer pirido- xal-fosfato como coenzima e é o passo cont rolador da ve locidade na biossíntese hepática de porfirinas. a. Inibição pelo produto final, a hemina. Quando a produção de porfirinas excede a disponibilidade de globina (ou outras apopro- teínas), o heme acumula e é convertido em hemina pela oxidação do Fe2• em Fe3•. A hemina diminui a atividade da ALA-sintase hepática, por meio de uma redução na síntese da enzima. (Nota: Nas células eritróides, a síntese do heme está sob o controle da eritropoietina e da disponibilidade de ferro intracelular.) b. Efeito de drogas sobre a atividade da ALA-sintase. A admi- nistração de drogas, tais como fenobarbital , griseofulvina ou hidantoínas, resulta em um aumento significativo na atividade da ALA-sintase hepática. Essas drogas são metabolizadas pelo sis- tema microssomal citocromo P450-monoxigenase - um sistema heme-proteína-oxidase encontrado no fígado (veja a pág. 278). Em resposta a essas drogas, a síntese de citrocromo P450 aumenta, levando a um consumo aumentado de heme - um componente do citocromo P450. Isso, por sua vez, causa uma diminuição na concentração de heme nas células hepáticas. A redução na con- centração intracelular de heme leva a um aumento na síntese de ALA-sintase (desrepressão), e promove um aumento correspon- dente na síntese de ALA. 2. Formação de porfobilinogênio. A reação de desidratação de duas moléculas de ALA para formar porfobilinogênio pela õ-aminolevuli- nato-desidrase é extremamente sensível à inibição por íons de metais pesados (veja a figura 21 .3 e a pág. 279). Essa inibição é, em parte, responsável pela elevação no ALA e pela anemia observada no enve- nenamento por chumbo. 3. Formação do uroporti rinogênio. A condensação de quatro moléculas de porfobilinogênio resulta na formação de uroporfirinogênio III. Essa formação requer hidroximetibilano-sintase e uroporfirinogênio 11/-sintase (assim é produzido o uroporfirinogênio III , que é assimétrico, Figura 21.4). 4. Formação do heme. O uroporfirinogênio III é convertido no heme por meio de uma série de descarboxilações e oxidações, resumidas na Figura 21.4. A introdução de Fe2• na protoporfirina IX ocorre esponta- neamente, mas a velocidade é aumentada pela enzima ferroquelatase - uma enzima que é inibida pelo chumbo (veja a pág. 279). C. Partirias As porfirias são causadas por defeitos herdados (ou eventualmente adquiri- dos) na síntese do heme, resultando no acúmulo e na excreção aumentada de porfirinas ou de precursores de porfirinas (veja o Resumo na Figura 21.7). Com a exceção da porfiria eritropoiética congênita, uma doença genética recessiva, todas as porfirias são herdadas como distúrbios autos- sômicos dominantes. As mutações que causam as porfirias são heterogê- neas (nem todas ocorrem no mesmo sítio no DNA), e cada família afetada apresenta praticamente sua própria mutação. Cada porfiria resulta no acú- mulo de intermediários em um padrão próprio, causado pela deficiência de uma enzima na via sintética do heme. 1. Manifestações clín icas. As partirias são classificadas como eritropoi- éticas ou hepáticas, dependendo da deficiência enzimática ocorrer nas células eritropoiéticas da medula óssea ou no fígado. As porfirias hepáticas podem ainda ser classificadas como agudas ou crônicas. Indivíduos com um defeito enzimático que leva ao acúmulo de interme- Bioquímica Ilustrada 277 coo- ' çoo- ÇH2 ÇH2 ÇH2 C- C 11 11 C, /CH I ~ yH2 NH2 4 Porfobilinogênio Hidroximetilbilano· ~Quatro moléculas sintase se condensam) 4 NH3 Hidroximetilbilano Uroporfirinogênio 1//- l (Fechamento do anel sintase e isomerização) Uroporfir inogênio III t t Protoporfirina IX Fe2+~.1 ~ -<(•"""""" Chumbo Ferroquelataseh 2 H+ v H e me (Fe2+ protoporfir ina IX) Figura 21.4 Via de síntese da porfirina:formação do heme. (Continuação da Figura 21.3.) 278 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier Figura 21.5 Erupções cutâneas em um paciente com partiria cutânea tardia. Figura 21.6 Urina de um paciente com partiria cutânea tardia (à direita) e de um paciente com excreção normal de portirinas (à esquerda). diários tetrapirróis apresentam totossensibilidade- ou seja, sua pele apresenta prurido e sensação de queimação quando exposta à luz visível. (Nota: Acredita-se que esses sintomas sejam resultado da for- mação de radicais superóxido a partir do oxigênio, que seria mediada por portirinas. Essas espécies reativas de oxigênio podem danificar oxi- dativamente as membranas, causando a liberação de enzimas degra- dativas a partir dos lisossomos [veja a pág. 145 para uma discussão sobre intermediários reativos de oxigênio]. A destruição de componen- tes celulares leva à fotossensibilidade.) a. Partiria crônica. Partiria cutânea tardia, a partiria mais comum, é uma doença crônica que atinge o fígado e os tecidos eritróides. A doença está associada com uma deficiência na uroporfirinogênio- descarboxilase, mas a expressão clínica da deficiência enzimática é influenciada por vários fatores, como sobrecarga hepática de ferro, exposição à luz solar e presença de hepatite B ou C ou infec- ções por HIV. O surgimento cl ínico ocorre tipicamente durante a quarta ou quinta décadas de vida. O acúmulo de portirinas leva a sintomas cutâneos (Figura 20.5) e a mudanças na coloração da urina, que se torna de vermelha a marrom sob a luz natural (Figura 20.6) e de rosa a vermelho sob luz fluorescente. b. Partirias hepáticas agudas. Partirias hepáticas agudas (par- tiria intermitente aguda , coproportiria hereditária e partiria variegata) são caracterizadas por ataques agudos com sintomas gastrintestinais, neurológicos/psiquiátricos e cardiovasculares. Partirias que causam acúmulo de ALA e portobilinogênio, como a partiria intermitente aguda, causam dor abdominal e distúrbios neuropsiquiátricos. Os sintomas das partirias hepáticas agudas são freqüentemente desencadeados pela administração de drogas, tais como barbituratos e etanol, as quais induzem a síntese do sistema microssomal de oxidação de drogas do citocromo P450, que contém heme. Isso diminui ainda mais a quantidade de heme disponível, o que, por sua vez, promove o aumento na síntese da ALA-sintase. c. Partirias eritropoiéticas. As partirias eritropoiéticas (partiria eri- tropoiética congênita e protoportiria eritropoiética) são caracte- rizadas por erupções e vesículas na pele, que aparecem no in ício da infância. Essas doenças são complicadas por cirrose colestática hepática e progressiva insuficiência hepática. 2. Aumento na ativldade da ALA-sintase. Uma característica comum das partirias é uma diminuição na síntese do heme. No fígado, o heme funciona normalmente como um repressor da ALA-sintase. Portanto, a ausência desse produto final resulta em um aumento na síntese da ALA-sintase (desrepressão). Isso leva a um aumento na síntese de intermediários que ocorrem antes do bloqueio genético. O acúmulo desses intermediários tóxicos é a principal fisiopatologia das partirias. 3. Tratamento. Durante ataques agudos, o paciente necessita de apoio médico, em especial de tratamento para dor e vôm itos. A gravidade dos sintomas das partirias pode ser reduzida por injeção intravenosa de hemina, que diminui a síntese de ALA-sintase. Evitar a luz solar e ingerir f3-caroteno (um seqüestrador de radicais livres) também pode ser útil. ENVENENAMENTO POR CHUMBO • Ferroquelatase e ALA-desidrase são espe- cialmente sensíveis à inibição por chumbo. • Coproporfirina III e ALA acumulam-se na urina. PORFIRIA INTERMITENTE AGUDA • Uma doença aguda, causada por uma defi- ciência na hidroximetilbilano-sintase. • O porfobi linogênio e o ácido õ-aminolevulínico acumulam-se na urina. D • A urina escurece com a exposição à luz e ao ar. • Os pacientes NÃO são fotossensíveis. CHAVE: Porfiria hepática Succinii-CoA + Glicina l o~ .......... . Ácido 0-aminolevulínico Ácido 8-aminolevulínico Porfobilinogênio t Hidroximetilbi lano (ligado à enzima) I Espontâneo ••• Heme ;:· o}-•·" : : . . . . . . . . . . . . .. .. .. Protoporfirina IX Protoporfirinogênio IX + Coproporfirinogênio III Coproporfirinogênio III Uroporfirinogênio III f Uroporfirinogênio I ~ Uroporfirina I Porfiria eritro- poiética Figura 21 .7 Coproporfirinogênio I Resumo da síntese do heme. Espontâneo Coproporfirina I Bioquímica Ilustrada 279 PROTOPORFIRIA ERITROPOIÉTICA • A doença se deve a uma deficiência na ferroquelatase. • Protoporfirina acumula-se nos eritrócitos, na medula óssea e no plasma. • Os pacientes são fotossensíveis. PORFIRIA VARIEGATA • Uma doença aguda, causada por uma deficiência na protoporfirinogênio-oxidase. • Protoporfirinogênio IX e outros intermediários anteriores ao bloqueio acumulam-se na urina . • Os pacientes são fotossensíveis . COPROPORFIRIA HEREDITÁRIA • Uma doença aguda, causada por uma deficiência na coproporfirinogênio-oxidase. • Coproporfirinogênio III e outros inter- mediários anteriores ao bloqueio í/ acumulam-se na urina. ~ Espontâneo ) Coproporfirina III PORFIRIA CUTÂNEA TARDIA • Um doença crônica, causada por uma deficiência na uroporfirinogênio· descarboxilase. • A uroporfirina acumula-se na urina. • É a mais comum das porfirias. • Os pacientes são fotossensíveis. Espontâneo ) Uroporfirina III PORFIRIA ERITROPOIÉTICA CONGÊNITA • Essa doença é causada por uma deficiência na uroporfirinogênio 111-sintase. • Uroporfirinogênio I e coproporfir inogênio I acumulam-se na urina. • Os pacientes são fotossensíveis. 280 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier Bi ' iverdina Biliverdina- redutase M V M P P U M V O .t:l M M )J.o N c~~c~~c N HHHH2 HHH Bilirrubina SANGUE Complexo bilirrubina-albumina Diglicuronato de bilirrubina v BILE Figura 21.8 Formação da bilirrubina a partir do h em e. D. Degradação do heme Após aproximadamente 120 dias na circulação, os eritrócitos são captados e degradados pelo sistema reticu loendotelial (RE), especialmente no fígado e no baço (Figura 21 .8). Cerca de 85% do heme destinado à degradação é proveniente dos eritrócitos, e 15% provêm da renovação de eritrócitos ima- turos e citocromos de tecidos extra-eritróides. 1. Formação de bilirrubina. O primeiro passo na degradação do heme é catalisado pelo sistema microssomal heme-oxigenase das células do RE. Na presença de NADPH e 0 2, a enzima adiciona um grupo hidroxila à ponte metenila, entre dois anéis pirrol, com a concomitante oxidação do íon ferroso a Fe3+. Uma segunda oxidação pelo mesmo sistema enzi- mático resulta na clivagem do anel da porfirina. O íon férrico e monóxido de carbono são liberados, resultando na produção de um pigmento verde, a biliverdina (veja a Figura 21.8). A biliverdina é reduzida, for- mando o composto vermelho-alaranjado bilirrubina. A bilirrubina e seus derivados são coletivamente denominados pigmentos biliares. (Nota: A variação de cores em um hematoma reflete a variação no padrão de intermediários, que ocorre durante a degradação do heme.) 2. Captação da bilirrubina pelo fígado. A bilirrubina é apenas ligeira- mente solúvel no plasma e, assim sendo, é transportada para o fígado ligada de modo não-covalente à albumina . (Nota: Certas drogas ani- ônicas, como salicilatos e sulfonamidas 1, podem deslocar a bilirrubina da albumina, permitindo que a bilirrubina penetre no sistema nervoso central [SNC]. Esse fenômeno é potencialmente causador de lesão ner- vosa nos bebês.) A bilirrubina dissocia-se de seu carreador, a molécula de albumina, e entra no hepatócito, onde se liga a proteínas intracelula- res, especialmente à proteína ligandina. 3. Formação de diglicuronato de bilirrubina. No hepatócito, a solubi- lidade da bilirrubinaé aumentada pela adição de duas moléculas de ácido glicurônico. (Esse processo é denominado conjugação.) A rea- ção é catalisada pela bi/irrubina-g/icuronil-transferase, utilizando ADP- ácido glicurônico como doador de glicuronato. (Nota: Conjugados de bil irrubina também ligam-se à albumina, porém muito mais f racamente do que a bilirrubina não-conjugada.) 4. Excreção da bilirrubina na bile. O diglicuronato de bili rrubina é trans- portado ativamente contra um gradiente de concentração para dentro dos canalículos biliares e, a seguir, para a bile. Esse passo dependente de energia é limitante da velocidade e suscetível a prejuízo em casos de doença hepática. A bilirrubina não-conjugada normalmente não é excretada. 5. Formação de urobil inas no intestino. O diglicuronato de bilirrubina é hidrolisado e reduzido por bactérias no intestino, produzindo urobilino- gênio, um composto incolor. A maior parte do urobilinogênio é oxidada, por bactérias intestinais, a estercobilina, que dá às fezes sua cor mar- rom característica. No entanto, parte do urobilinogênio é reabsorvida a partir do intestino e entra no sangue no sistema porta. Uma certa porção desse urobilinogênio participa do ciclo entero-hepático do urobilinogênio, no qual ele é captado pelo fígado, e então novamente excretado na bile. O restante do urobilinogênio é transportado pelo san- gue para o rim, onde é convertido em urobilina, que é amarela e que, ' Veja o Capitulo 34 de Farmacologia Ilustrada (3' edição) e o Capítulo 29 (2' edição) para uma discussão acerca de kemicterus devido ao deslocamento da bilirrubina por sulfonamidas. O Eritrócitos senescentes são a principal fonte de heme-proteínas. m A bilirrubina não-conjugada é transportada no sangue (complexada à albumina) até o fígado. IJ A bilirrubina é captada pelo fígado e conju- gada com ácido glicurônico. Bioquímica Ilustrada 281 O restante do urobilinogênio é transportado pelo sangue para os rins, onde é convertido na urobilina amarela e excretado, dando à urina sua cor característica. Parte desse urobil inogénio participa do ciclo entero-hepático do urobi linogénio. RIM A bile é secretada do fígado para o intestino. fJ Parte do urobilinogênio é reabsorvido do intestino e entra na circulação porta. Para a urina lr.!l No intestino, o ácido ~ glicurônico é removido por bactérias. A bilirru- bina resultante é convertida em urobilinogénio. Figura 21.9 Catabolismo do heme Q =bilirrubina; !liil = diglicuronato de bilirrubina; [!] = urobilinogênio; [.I]J = urobilina; A= estercobilina. ao ser excretada, dá à urina sua cor característica. O metabolismo da bil irrubina está resumido na Figura 21.9. E. Icterícia A icterícia refere-se à cor amarelada da pele, do leito ungueal e da esclera (o branco dos olhos), causada pela deposição de bilirrubina nesses tecidos, secundária a um aumento dos níveis de bilirrubina no sangue (hiperbilirru- binemia, Figura 21.1 0). Embora não seja uma doença, a icterícia é, normal- mente, um sintoma da existência de um distúrbio subjacente. 1. Tipos de icterícia. A icterícia pode ser classificada em três principais formas, descritas a seguir. No entanto, na prática clínica, a icterícia é 282 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier Figura 21.10 Paciente com icterícia, com as escleras dos olhos amarelas. Figura 21.11 freqüentemente mais complexa do que o indicado nessa classificação simples. Por exemplo, o acúmulo de bilirrubina pode ser um resultado de defeitos em mais de um passo de seu metabolismo. a. Icterícia hemolítica. O fígado possui a capacidade de conjugar e excretar, por dia, mais de 3.000 mg de bilirrubina, cuja produção normal é de apenas 300 mg/dia. Essa grande capacidade permite que o fígado responda a um aumento na degradação do heme com um aumento correspondente na conjugação e na secreção de diglicuronato de bilirrubina. No entanto, a lise maciça de eritrócitos (por exemplo, em pacientes com anemia falciforme, deficiência de piruvato-cinase ou de glicose-6-fosfato-desidrogenase ou malária) pode levar a uma produção de bilirrubina mais rápida do que a capacidade hepática de conjugá-la. Assim, mais bilirrubina é excre- tada na bile, a quantidade de urobilinogênio que entra na ci rcula- ção entero-hepática aumenta e o urobilinogênio urinário aumenta. Os níveis de bilirrubina não-conjugada no sangue tornam-se aumentados, causando a icterícia (Figura 21.11 ). b. Icterícia obstrutiva . Nesse caso, a icterícia não é causada por superprodução de bilirrubina, mas resulta da obstrução do dueto biliar. Por exemplo, a presença de um tumor hepático ou de cál- culos biliares pode causar um bloqueio nos duetos biliares, impe- dindo a passagem da bilirrubina para o intestino. Os pacientes com icterícia obstrutiva apresentam dor gastrintestinal e náusea e pro- duzem fezes claras, cor de arg ila. O fígado "regurgita" a bilirrubina conjugada para o sangue (hiperbilirrubinemia). Esse composto é por fim excretado na urina. (Nota: Obstrução prolongada do dueto biliar pode levar à lesão hepática, com um subseqüente aumento na bil irrubina não-conjugada.) Icterícia hemolítica Icterícia neonatal Alterações no metabolismo do heme. A. Icterícia hemolítica. B. Icterícia neonatal. (Nota: A circulação entero-hepática do urobilinogênio está omitida para maior clareza.) BG = diglicuronato de bi lirrubina; B = bi lirrubina; U = urobilinogênio; S = estercobilina. c. Icterícia hepatocelular. Lesão em hepatócitos (por exemplo, nos pacientes com cirrose ou hepatite) pode causar aumento nos níveis sangüíneos de bilirrubina não-conjugada, em função de uma redu- ção na conjugação. A bil irrubina conjugada não é eficientemente secretada para a bile, mas sim difunde ("vaza") para o sangue. O urobilinogênio aumenta na urina, pois a lesão hepática diminui a circulação entero-hepática desse composto, permitindo que uma maior quantidade dele chegue ao sangue, de onde é filtrado para a urina. A urina então torna-se escura, enquanto as fezes apresen- tam uma cor de argila clara. Os níveis plasmáticos de AST (GOT) e ALT (GPT, veja a pág. 249) apresentam-se elevados, e o paciente experimenta náusea e anorexia. 2. Icterícia em recém-nascidos. Bebês recém-nascidos, em especial bebês prematuros, freq üentemente acumulam bilirrubina, pois a ati- vidade da bilirrubina-glicuronil-transferase hepática é baixa ao nasci- mento - ela alcança níveis semelhantes aos do adulto em cerca de quatro semanas (Figuras 21.11 B e 21 .12). Bilirrubina elevada além da capacidade de ligação da albumina pode difundir para os núcleos da base e causar encefalopatia tóxica (kernicterus). Desse modo, recém- nascidos com níveis de bilirrubina significativamente elevados são tratados com luz fluorescente azul (Figura 21.13), que converte a bilir- rubina em isômeros mais polares e, portanto, mais solúveis em água. Esses fotoisômeros podem ser excretados na bile sem ser conjugados ao ácido glicurônico. (Nota: A síndrome de Crigler-Najjar é causada por uma deficiência genética da bilirrubina-glicuronil-transferase hepá- tica.) 3. Determinação da concentração de bilirrubina. A bilirrubina é em geral determinada pela reação de van den Bergh, na qual o ácido sulfanílico diazotado reage com a bilirrubina, formando azodipirróis vermelhos, que são medidos colorimetricamente. Em solução aquosa, a bilirrubina conjugada , que é solúvel em água, reage prontamente com o reativo (dentro de um minuto) e é chamada "reatante direta". A bilirrubina não-conjugada, muito menos solúvel em solução aquosa, reage mais lentamente. No entanto, quando a reação é realizada em metanol , tanto a conjugada quanto a não-conjugada são solúveis e reagem com o reativo, fornecendo o valor da bilirrubina total. A bilirru- bina "reatante indireta", que corresponde à bilirrubina não-conjugada, é obtida subtraindo-se a bilirrubina reatante direta da bilirrubina total. (Nota: No plasma normal, apenascerca de 4% da bil irrubina total são conjugados.) III. OUTROS COMPOSTOS NITROGENADOS A. Catecolaminas Dopamina, noradrenalina e adrenalina (epinefrina) são aminas biologi- camente ativas, coletivamente denominadas catecolaminas. A dopamina e a norad renalina funcionam como neurotransmissores no encéfalo e no sistema neurovegetativo. A noradrenalina e a adrenalina também são sinte- tizadas pela medula adrenal. 1. Funções. Fora do sistema nervoso, a noradrenalina e seu derivado metilado, a adrenalina, aluam como reguladores do metabolismo dos carboidratos e dos lipídeos. A noradrenalina e a adrenalina são libe- radas de vesículas de armazenamento na medula da adrenal em res- posta ao medo, ao exercício, ao frio e a baixos níveis de gl icose. Elas D Bioquímica Ilustrada 283 A atividade da enzima que conjuga a bi lirrubina com o ácido glicurônico, a UDP-glicuronil- transferase (UDPGT), é baixa em recém-nascidos, especialmente em bebês prematuros. Prematuro - Atermo - 12 18 24 30 Dias pós-natais 1:'1 Os níveis séri~os de bil!rrubina U aumentam apos o nasc1mento em bebês a lermo, embora normalmente não atinjam concentrações perigosas. ::J'------- ----- - -. ~ E140 s Figura 21.12 Icterícia neonatal. Figura 21.13 Prematuro - Atermo - 24 30 Fototerapia na icterícia neonatal. 284 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier Tirosina Tirosina- hidroxilase (\ Tetraidro· Diidro- biopterina +02 biopterina +H20 l NH3 > O CH2yHcoo- HO ~ + OH 3,4-Diidroxife- nilalanina (dopa) DOPA- descarboxilase Dopamina OHH Dopamina- fl-hidroxilase Ascorbato +02 O~H~ ,CH3 O C-C-N H H ' H HO < Feni/etanolamina- N-metiltransferase I\ HO O C-C-NH I I 2 H H OH Adrenalina Figura 21.14 Síntese das catecolaminas. Adrenalina Noradrenalina MAO\ ;AO COMT COMT Ácido diidroximandélico 'lif ,:,.-rMT Metanefrina Nmi:,7""' MA~ Ácido 3-Metoxi- 4-hidroxi-mandélico Dopamina MA i \:OMT Ácido diidroxifenil- 3-Metoxitiramina acético COMT\ ;AO Ácido homovanílico Figura 21.15 Metabolismo das catecolaminas pela cateco/-0-metiltransferase ( COM7) e pela monoaminoxidase (MAO). S-Adenosil· homocisteína S-Adenosil· metionina OH Noradrenalina aumentam a degradação do glicogênio e de triacilgliceróis, assim como determinam um aumento na pressão sangüínea e no débito cardíaco. Esses efeitos são parte de uma resposta coordenada para preparar o indivíduo para emergências e são freqüentemente referidos como rea- ções de "luta ou fuga". 2. Síntese das catecolaminas. As catecolaminas são sintetizadas a partir da tirosina, como mostrado na Figura 21 .14. A tirosina é ini- cialmente hidroxilada pela tirosina-hidroxilase, formando 3,4-diidroxi- fenilalanina (dopa), em uma reação análoga àquela descrita para a hidroxilação da fenilalanina (veja a pág. 266). A enzima é abundante no sistema nervoso central, nos gânglios simpáticos e na medula adrenal e é o passo limitante da velocidade dessa via. O dopa é descarboxilado em uma reação que requer piridoxal-fosfato (veja a pág. 376) para formar dopamina, que é hidroxilada pela enzima que contém cobre dopamina-P-hidroxilase, produzindo noradrenalina. A adrenalina é formada a partir da noradrenalina, por meio de uma rea- ção2 de N-meti lação, uti lizando S-adenosilmetionina como doador da metila. 3. Degradação das catecolaminas. As catecolaminas são inativadas por desaminação oxidativa, catalisada pela monoaminoxidase (MAO) e por 0-metilação, catal isada pela catecol-0 -metiltransferase (COMT, Figura 21 .15). As duas reações podem ocorrer em qualquer seqüência. Os produ- tos aldeídicos da reação da MAO são oxidados a seus ácidos correspon- dentes. Os produtos metabólicos dessas reações são excretados na urina como ácido vanililmandélico, metanefrina e normetanefrina. 4. Inibidores da monoaminoxidase. A MAO é encontrada em tecidos neurais e em outros tecidos, tais como o intestino e o fígado. No neu- rônio, essa enzima funciona como uma "válvula de segurança" para desaminar oxidativamente e inativar qualquer excesso de molécu las de neurotransmissor (noradrenalina, dopamina ou serotonina) que possam vazar das vesículas sinápticas quando o neurônio está em repouso. Os inibidores da MAd podem inativar irreversivelmente ou reversivelmente 2 Veja o Capitulo 12 de Farmacologia Ilustrada (21 e 3• edições) para uma discussão acerca das ações da MAO e da COMT e da utilização de inibidores da MAO para o tratamento da depressão. a enzima, permitindo que moléculas do neurotransmissor escapem à degradação e, assim, sejam acumuladas dentro do neurônio pré-sináp- tico, podendo vazar para o espaço sináptico. Isso causa ativação de receptores noradrenérgicos e serotoninérgicos e pode representar o mecanismo responsável pela ação antidepressiva dessas drogas. B. Creatina A creatina-fosfato (também chamada fosfocreatina) é o derivado fosfori- lado da creatina encontrada no músculo e é um composto de alta energia, que pode doar reversive lmente um grupo fosfato ao ADP, formando ATP (Figura 21.16). A fosfocreatina representa uma reserva pequena, mas rapi- damente mobilizável, de fosfatos de alta energia, que podem ser utilizados para manter os níveis intracelulares de ATP durante os primeiros minutos de contração muscular intensa. (Nota: A quantidade de fosfocreatina corpo- ral é proporcional à quantidade de massa muscular.) 1. Síntese. A creatina é sintetizada a partir da glicina e do grupo guani- dino da arginina, mais um grupo metila da 5-adenosilmetionina (veja a Figura 21 .16). A creatina é fosforilada reversivelmente pela creatina- cinase, utilizando ATP como doador de fosfato e produzindo fosfocre- atina. (Nota: A presença de creatina-cinase no plasma é indicativo de lesão tecidual e é utilizada no diagnóstico do infarto do miocárdio [veja na pág. 65).) 2. Degradação. A creatina e a fosfocreatina ciclizam espontaneamente, em uma velocidade lenta, mas constante, produzindo a creatinina, que é excretada na urina. A quantidade de creatinina excretada é propor- cional ao conteúdo total de creatina-fosfato no organismo e pode, por- tanto, ser utilizada para estimar a massa muscular. Quando a massa muscular diminui por alguma razão (por exemplo, paralisia ou distrofia muscular), o conteúdo de creatinina na urina diminui. Além disso, qualquer aumento na creatinina sangüínea é um indicador sensível de prejuízo na função renal, pois a creatinina é rapidamente removida do sangue e excretada. Um adulto do sexo masculino excreta, tipicamente, cerca de 15 mmol de creatinina por dia. A constância dessa excreção é algumas vezes utilizada3 para testar a confiabi lidade de amostras de urina de 24 horas - muito pouca creatinina na amostra examinada pode indicar uma amostra incompleta. C. Histamina A histamina é um mensageiro químico que medeia um amplo espectro de res- postas celulares, incluindo reações alérgicas e inflamatórias, secreção gástrica de ácido e, possivelmente, neurotransmissão em algumas regiões do encéfalo. A histamina, um poderoso vasodilatador, é formada pela descarboxilação da histidina em uma reação que requer piridoxal-fosfato (Figura 21 .17). Ela é secretada por mastócitos, como resultado de reações alérgicas ou trauma. A histamina não apresenta aplicações clínicas, mas agentes que interferem com a ação da histamina possuem aplicações terapêuticas importantes3. D. Serotonina A serotonina, também denominada 5-hidroxitriptamina, é sintetizada e armazenada em diversos sítios no organismo (Figura 21 .18). As maiores quantidades de serotonina são encontradas nas células da mucosa intes- 3 Veja o Capítulo 43 de Farmacologia Ilustrada (3° edições) e o Capítulo 40 (2• edições) para uma discussão acerca da utilização terapêutica de anti·hista mínicos. Bioquímica Ilustrada 285 NH2 C=NH2 I + NH I CH2 CH2 I CH2 H I HCNH3+ I HCNH3+ I + coo- coo- Arginina Glicina l'-----v-----' Ornitina-+---' Amidino- transferase ~H2 Ç= ~H2 NH I ÇH2 coo- Guanidino-acetato S·adenosilmetionina ;i Metiltransferase S-Adenosil·homocisteína ~H2 C=NH2 I + ~CH3 ÇH2 coo- H20rjCreah<;M ATP Creatina· cinase ;Ç=NH ADP ADP + H+ NH ~CH3 9 \ ÇH2 ~o-~-o- co NH2+ Creatinina Ç=NH P; NCH 3 I ÇH2 coo- creatina-tostato Figura 21 .16 Síntese da creatina. 286 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier N~ N ~ CH2 ! H N- C - COOH 2 H Histidina I Descarboxilase co2~ Histamina Figura 21 .17 Biossíntese da histamina. Triptofano Tetraidro-:r 02 b1optenna Dudro· Htdroxtlase btoptenna • + H20 HOO:Jr CH CHCOO- ~ I I 2 NH3 N + Figura 21 .18 H 5-Hidroxi- triptofano Serotonina Síntese da serotonina. tinal. Menores quantidades podem ser observadas em plaquetas e no sis- tema nervoso central. A serotonina é sintetizada a partir do triptofano, que é hidroxilado em uma reação análoga àquela catal isada pela fenilalanina- hidroxilase. O produto, o 5-hidroxitriptofano, é descarboxilado, produzindo serotonina. A serotonina possui mú ltip los papéis fisiológ icos, incluindo papéis na percepção da dor, em transtornos afetivos e na regulação do sono, da temperatura e da pressão sangüínea. E. Melanina A melanina é um pigmento encontrado em diversos tecidos no organismo, em especial nos olhos, cabelos e pele. É sintetizada na epiderme por célu- las formadoras de pigmento denominadas melanócitos. Sua função é pro- teger as células subjacentes dos efeitos danosos da luz solar. O primeiro passo na formação da melanina a partir de tirosina é uma hidroxilação, formando dopa, catalisada pela tirosina-hidroxilase (também denominada tirosinase, veja a Figura 21.14 ), uma enzima que contém cobre. Acredita-se que as reações subseqüentes, que levam à formação de pigmentos de cor marrom e preta, sejam também catalisadas pela tirosina-hidroxilase ou que ocorram espontaneamente. IV. RESUMO DO CAPÍTULO l ------- Os aminoácidos são precursores de muitos compostos nitrogenados, incluindo as porfirinas, as quais, em combinação com o íon ferroso (Fe2+), formam o heme. Os principais sítios de biossíntese do heme são o fígado, que sinte- tiza diversas heme-proteínas (em especial o citocromo P-450), e as células produtoras de eritrócitos da medula óssea, as quais são ativas na síntese de hemoglobina. No fígado, a velocidade de síntese do heme é altamente variável , respondendo a alterações nas concentrações celulares de heme, causadas por demandas flutuantes por heme-proteínas. Em contraste, a síntese de heme nas células eritróides é relativamente constante e está ajustada à velocidade de síntese de globina. A síntese de porfirinas inicia com glicina e succinii-CoA. O passo comprometido, na síntese do heme, é a formação de ácido 8-amino- levulínico (ALA). Essa reação é catalisada pela ALA-sintase e é inibida por hemina (a forma oxidada do heme, que se acumula na célula quando este estiver sendo subutilizado). Partirias são causadas por defeitos herdados na síntese de heme, resultando no acúmulo e na excreção aumentada de porfiri- nas ou de precursores de porfirinas. Com a exceção da porfiria eritropoiética congênita, a qual é uma doença genética recessiva, todas as demais parti- rias são herdadas como doenças autossômicas dominantes. A degradação das heme-proteínas ocorre no sistema reticuloendotelial , especialmente no fígado e no baço. O primeiro passo na degradação do heme é a produção de um pigmento verde, a biliverdina, que é subseqüentemente reduzido a bilir- rubina. A bilirrubina é transportada ao fígado, onde sua solubilidade é aumen- tada pela adição de duas moléculas de ácido glicurônico. O diglicuronato de bi lirrubina é transportado para os canalículos biliares, onde é inicialmente hidrolisado e reduzido por bactérias no intestino, produzindo urobilinogênio, e então oxidado pelas bactérias intestinais a estercobilina . A icterícia refere-se à cor amarela da pele, do leito das unhas e da esclera, que é causada pela depo- sição de bilirrubina, secundária a um aumento dos níveis de bilirrubina no san- gue. Três tipos comumente encontrados de icterícia são a icterícia hepática, a icterícia obstrutiva e a icterícia hepatocelular. Outros compostos nitroge- nados importantes, derivados dos aminoácidos, incluem as catecolaminas (dopamina, noradrenal ina e adrenalina), a creatina, a histamina, a serotonina e a melanina. Síntese do heme FÍGADO Glicina + Succinii-CoA 1 t catalisada Ácido õ-aminolevulínico 2 t O Chumbo Portobilinogênio 3 Hidroximetilbilano 4f Uroportirinogênio III 5 Coproportirinogênio III 6 Protoportirinogênio IX 7 Protoportirina IX 8 t O chumbo H e me Deficiências enzi- máticas herdadas no fígado levdma ocorre no( a) l ocorre no MEDULA ÓSSEA Glicina + Succinii-CoA q Ácido õ-aminolevulinico 2 t O chumbo Portobilinogênio 3t Hidroximetilbilano 4t Uroportirinogênio III Coprop~!inogênio 111 6r Protoportirinogênio IX 7r Protoportirina IX 8 t O chumbo H e me Deficiências enzi- j máticas herdadas na medula óssea levam a .-- ::-'-t-::-:--,/ 3 Partiria intermitente aguda Partirias :--5 Partiria cutânea tardia* 4 Partiria eritropoiêtica congénita 5 Partiria cutânea tardia '-=.:;..;:.====--,..__ 8 Protoportiria eritropoiética hepáticas \: 6 Coproportiria hereditária '-_;====-__J 7 Partiria variegata Icterícia hemolítica Eritrócitos l isados t Hemoglobina LAmino-'t--,.--- ácidos H em e t Biliverdina, CO, Fe++ t O Bilirrubina t Glicuronato de bilirrubina ~ Bilirrubina t Urobilinogênio t Estercobilina Urobilina Figura 21.19 Icterícia obstrutiva Eritrócitos, hepatócitos + Hemoglobina, Citocromos L_ Amino-t ~ácidos H e me + Biliverdina, CO, Fe++ + Bilirrubina + [)Gucuronato de bilirrubina) + .,.&. Pedras na r vesícula biliar Biiirrubina t Urobillnogêmo + Estercobilina Urobilina Icterícia hepatocelular Eritrócitos, hepatócitos + Hemoglobina, Citocromos }-- Amino- Heme ácidos + Biliverdina, CO, Fe++ T Bilirrubina t Urobilinogénio + Estercobllina Urobilina Bioquímica Ilustrada 287 Degradação do heme o BAÇO, FÍGADO Eritrócitos, hepatócitos + Hemoglobina, Citocromos L- Amino-t ~ ácidos H e me + Biliverdina, CO, Fe++ + Bilirrubina Diglicuronato de bilirrubina + Bilirrubina + Urobilinogénio + Estercobilina (pigmento marrom nas fezes) Urobilina (pigmento amarelo na urina) Icterícia neonatal Eritócitos, hepatócitos + Hemoglobina, Citocromos L -Amino-t ~ ácidos H e me + Biliverdina, CO, Fe++ a;•$-~ Glicuronato de bilirrubina ~ Bilirrubina INTESTINO + Urobilinogénio + Estercobilina Urobilina Mapa de conceitos-chave para o metabolismo do heme. *Nota: A porfiria cutânea tardia afeta tanto o fígado quanto as células eritropoiéticas. - = Bloqueio na via. 288 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier Questões para Estudo Escolha a ÚNICA resposta correta. 21 .1 A atividade da õ-aminolevulinato-sintase: A. está freqüentemente diminuída em indivíduos tratados com drogas, tais como o barbitúrico fenobarbital; B. catalisa uma reação determinante da velocidade na biossíntese das portirinas; C. requer a coenzima biotina; O. é fortemente inibida por íons de metais pesados, tais como o chumbo; E. ocorre no citosol. 21 .2 O catabolismo da hemoglobina: A. ocorre nos eritrócitos; B. envolve a clivagem oxidativa do anel portirínico; C. resulta na liberação de dióxido de carbono; O. resulta na formação de protoportirinogênio; E. é a única fonte de bilirrubina. 21 .3 Um homem de 50 anos apresentava bolhas dolorosas no dorso das mãos. Ele era instrutor de golfe e relatou que as bolhas erupcionaram logo após o início da estação de golfe. Não foi exposto recentemente a sumagre ou a heras venenosas, não utilizou recentemente novos sabonetes ou detergentes ou novosmedicamentos. Negou ter tido episódios prévios com ocorrência de erupções. O paciente apresentava distúrbio convulsivo parcial complexo, que começou cerca de três anos antes, após uma concussão no crânio. O paciente estava utilizando feni toína - sua única medicação - desde o início do distúrbio convul- sivo. Admitiu ter um consumo semanal médio de etanol de cerca de 18 latas de cerveja de 350 ml. A urina do paciente apresentou-se laranja-avermelhada. Culturas obtidas das lesões da pele não mostraram crescimento de microrganismos. Urina de 24 horas mostrou aumento na uroporfirina (1.000 ).lg; normal, < 27). O presumível diag- nóstico mais provável é : A. partiria cutânea tardia; B. partiria intermitente aguda; C. coproportiria hereditária; O. partiria eritropoiética congênita; E. protoportiria eritropoiética. Resposta correta = B. A atividade da o-aminolevulinato-sintase controla a velocidade da síntese das portirinas. A enzima está aumentada em pacientes tratados com certas drogas e requer piridoxal-fosfato como coenzima. Uma outra enzima da via (o-aminolevulinato-desidrase) é extremamente sensível à pre- sença de metais pesados. Resposta correta = B. A molécula cíclica do heme é clivada oxidativamente para formar biliverdina. O catabolismo ocorre nas células do sistema do retfculo endotelial, especialmente no baço, e resulta na liberação de monóxido de carbono. O proto- portirinogênio é um intermediário na síntese, não na degrada- ção, do heme. A hemoglobina e os citocromos dos tecidos são precursores da bilirrubina. Resposta correta = A. A doença está associada com uma defi- ciência na uroportirinogênio-descarboxilase, mas a expressão clínica da deficiência enzimática é influenciada por sobrecarga hepática de ferro, exposição à luz solar e presença de hepatite B ou C e infecção por HIV. O início clínico ocorre tipicamente durante a quarta ou quinta década de vida. O acúmulo de por- firina leva a sintomas cutâneos e a urina torna-se de vermelha a marrom. A doença tende a desenvolver-se, com recorrências, ou piorar durante a primavera e o verão, quando a exposição à luz solar é maior. Achados laboratoriais e clínicos não são con- sistentes com outras portirias. Metabolismo dos Nucleotídeos I. VISÃO GERAL Os ribonucleosídeos e os desoxirribonucleosídeos fosfatados (nucleotídeos) são essenciais para todas as células. Sem eles, nem o DNA nem o ANA poderiam ser produzidos e, dessa forma, as proteínas não poderiam ser sintetizadas, nem as células poderiam proliferar. Os nucleotídeos também são utilizados como car- readores de intermediários ativados na síntese de alguns carboidratos, lipídeos e proteínas e são componentes estruturais de várias coenzimas essenciais, como, por exemplo, a coenzima A, o FAD, o NAD+ e o NADP+. Nucleotídeos, tais como o AMP cíclico (AMPc) e o GMP cíclico (GMPc) , também são utilizados como segundos mensageiros em cascatas de sinalização celu lar. Além disso, os nucleotídeos desempenham um papel importante como "moedas" de energia na célula. Finalmente, os nucleotídeos são importantes compostos reguladores para muitas das rotas do metabolismo intermediário, inibindo ou ativando enzi- mas-chave. As bases púricas e pirimídicas encontradas em nucleotídeos podem ser sintetizadas de novo ou podem ser obtidas por vias de salvação, as quais permitem a reuti lização das bases pré-formadas resultantes do metabolismo normal da célula ou da dieta. 11. ESTRUTURA DOS NUCLEOTÍDEOS Os nucleotídeos são compostos de uma base nitrogenada, um monossacarídeo pentose e um, dois ou três grupos fosfato. As bases nitrogenadas pertencem a duas famílias de compostos: as purinas e as pirimidinas. A. Estrutura das purinas e das pirimid inas Tanto o DNA como o ANA contêm as mesmas bases púricas: adenina (A) e guanina (G). Ambos contêm a pirimidina c itosina (C}, mas diferem em sua segunda base pirimídica: o DNA contém timina (T), enquanto o ANA con- tém uraci la (U). T e U diferem por apenas um grupo metila, que está pre- sente em T, mas ausente em U (Figura 22.1 ). (Nota: Bases incomuns são encontradas ocasionalmente em algumas espécies de DNA e RNA, como Purinas do DNA e do RNA Adenina (A) Guanina (G) Pirimidinas do RNA o ·5 o HN:JCH3 HN:) ol N I ol N I o l N H H H Ti mina (T) Citosina (C) Uracila (U) Pirimidinas do DNA Figura 22.1 Purinas e pirimidinas comumente encontradas no DNA e no ANA. 290 Pamela C. Champe, Richard A. Harvey, Denise R. Ferrier Base comum I Base incomum Citosina N4-Acetilcitosina o H " H , _....c, , 2 NJ4 sC I 2 6 I ,c, 1 _....c,H o' N 2 I H Uraci la Diidrouracila Figura 22.2 Exemplos de bases incomuns. m RNA 0 DNA 0 por exemplo em alguns DNAs virais e no ANA transportador. As modifica- ções que podem ocorrer nas bases incluem metilação, hidroximetilação, gli- cosilação, acetilação ou redução. A Figura 22.2 mostra alguns exemplos de bases incomuns.) A presença de uma base incomum em uma seqüência de nucleotídeos pode auxiliar no seu reconhecimento por enzimas específicas ou protegê-la da degradação por nucleases. B. Nucleosídeos A adição de um açúcar pentose a uma base produz um nucleosídeo. Se o açúcar for a ribose, será produzido um ribonucleosídeo; se o açúcar for a 2-desoxirribose, será produzido um desoxirribonucleosídeo (Figura 22.3A). Os ribonucleosídeos de A, G, C e U são denominados adenosina, gua- nosina, citidina e uridina, respectivamente. Os desoxirribonucleosídeos de A, G, C e T recebem a adição do prefixo "desoxi- ", como, por exemplo, desoxiadenosina. (Nota: O composto desoxitimidina é freqüentemente chamado de timidina, ficando o prefixo "desoxi" subentendido.) Os átomos de carbono e nitrogênio nos anéis da base e do açúcar são numerados separadamente (Figu ra 22.38). Observe que os átomos nos anéis das bases são numerados de 1 a 6 nas pirimidinas e de 1 a 9 nas purinas, enquanto nos carbonos da pentose são numerados de 1' a 5'. Dessa forma, quando nos referimos ao carbono 5' de um nucleosídeo (ou nucleotídeo), estamos especificando um átomo de carbono presente na pentose, e não na base. C. Nucleotídeos Nucleotídeos são ésteres mono, di ou trifosfatados dos nucleosídeos. O pri- meiro grupo fosfato é ligado por uma ligação éster à hidroxila 5' da pentose. Tal composto é chamado de nucleosídeo 5' -fosfato ou 5'-nucleotídeo. O tipo de pentose é designado pela adição de um prefixo, "5'-ribonucleotídeo" e "5'-desoxirribonucleotídeo". Se um grupo fosfato é ligado ao carbono 5' da pentose, a estrutura será um nucleosídeo monofosfato (NMP), como AMP ou CMP. Se um segundo ou terceiro fosfato forem adicionados ao mesmo nucleosídeo, serão formados um nucleosídeo difosfato (por exemplo, ADP) ou trifosfato (por exemplo, ATP) (Figura 22.4) . O segundo e o terceiro fos- fato são ligados ao nucleotídeo por uma ligação de "alta energia". (Nota: Os grupos fosfato são responsáveis pelas cargas negativas associadas aos nucleotídeos e também são o motivo pelo qual o DNA e o RNA são chama- dos "ácidos nucléicos".) m NH2 &" 1l~ N1 6 51 7~ 1 6 Lt3 4 9 O N N N HOH,Q HOH,~ HO~ HO~ 4' 1' 4' 1' OH OH 3' 2' 3' 2' OH OH OH H OH OH OH H Ribose 2-Desoxirribose Citidina Oesoxiadenosina Figura 22.3 A. Pentoses encontradas nos ácidos nucléicos. B. Exemplos dos sistemas de numeração para nucleosídeos contendo purinas e pirimidinas. III. SÍNTESE DOS NUCLEOTÍDEOS PÚRICOS Os átomos do anel de purina originam-se de diversos compostos, que incluem aminoácidos (ác ido aspártico, glicina e glutamina), C02 e N 10-formiltetrai- drofolato (Figura 22.5). O anel da purina é formado por uma série de reações que adicionam carbonos e nitrogênios a uma ribose-5-fosfato pré-formada (veja a pág. 145 para uma discussão a respeito da síntese da ribose-5-fosfato pela via das HMPs). A. Síntese de 5-fosfo rribosil-1-pirofosfato (PRPP) PRPP é uma "pentose ativada" que participa na síntese de purinas e pirimi- dinas e nas vias de salvação
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