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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 2 ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO: LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO, PENSAMENTO, EXPRESSÃO, SOCIEDADE E CULTURA .................................................................. 5 2.1 Mediação Simbólica e Comunicação ................................................................ 6 2.2 Linguagem e Pensamento ................................................................................ 7 2.3 O modelo mais aceito dentro da linguística escolar .......................................... 9 2.4 O biológico e o cultural: os desdobramentos dos pensamentos de Vygotsky 11 2 FALA E A ESCRITA, MODALIDADES DA LÍNGUA .............................................. 13 2.1 Modalidades de linguagem: Fala e escrita ...................................................... 17 2.2 Linguagem social ............................................................................................ 20 3 INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL ...................................................... 22 4 TIPOLOGIA TEXTUAL .......................................................................................... 27 4.1 Tipo ................................................................................................................. 29 4.2 Subtipo ............................................................................................................ 33 4.3 Gênero ............................................................................................................ 34 4.4 Espécie ........................................................................................................... 35 5 ESTRUTURA E PRODUÇÃO DE PARÁGRAFOS ............................................... 37 5.1 Estrutura e características de um parágrafo ................................................... 38 5.2 Estrutura textual .............................................................................................. 42 5.3 Elementos textuais ......................................................................................... 45 6 GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA........................................................... 46 6.1 Ortografia e pontuação ................................................................................... 50 6.2 Concordância nominal e verbal ...................................................................... 52 7 ESTUDOS DE GRAMÁTICA: FLEXÃO ................................................................ 54 7.1 O ensino de flexão verbal ............................................................................... 56 7.2 Regência verbal .............................................................................................. 57 3 7.3 Regência nominal ........................................................................................... 59 7.4 Pronomes ....................................................................................................... 60 8 REDAÇÃO EMPRESARIAL .................................................................................. 63 8.1 Princípio básico do texto comercial ................................................................ 65 8.2 Eficiência do texto ........................................................................................... 66 8.2 Características dos textos empresariais modernos ............................................. 67 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 71 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO: LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO, PENSAMENTO, EXPRESSÃO, SOCIEDADE E CULTURA No início da existência humana, as pessoas já tinham algumas necessidades internas: linguagem, comunicação e pensamento. A linguagem surge da necessidade de comunicar. A comunicação vem do processo de linguagem, seja verbal ou não verbal. Assim, podemos dizer que a linguagem e a comunicação são um dos processos psicológicos básicos mais importantes e necessários para a existência humana. Sem esses processos, a convivência social não seria possível. Segundo o dicionário Aurélio (2014), comunicação significa a capacidade de trocar pensamentos ou discutir, dialogar, conversar visando alcançar um bom entendimento mútuo entre as pessoas e também a convivência. A comunicação é um processo complexo que pode ser alcançado de diferentes maneiras. A linguagem, a comunicação e o pensamento ocorrem nesses processos mencionados. A aquisição da linguagem é um marco no desenvolvimento humano (REGO, 2013). Esses processos psicológicos superiores distinguem o ser humano do animal não humano. Discutir o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem requer um conhecimento prévio dos processos de pensamento (MIRANDA; SENRA, 2012). Argumentando que a linguagem consiste em um sistema simbólico que faz a mediação entre o sujeito e seu objeto de conhecimento, o autor afirma que as palavras que veiculam signos da relação de um indivíduo com o mundo são generalizações. Cada palavra refere-se a uma categoria de objetos, formando um signo a partir dessas categorias e conceitos. Segundo os autores supracitados, os conceitos são estruturas culturais nas quais os indivíduos adentram durante o processo de desenvolvimento e que se definem no mundo real, no universo cultural, a partir das propriedades dos elementos localizados e selecionados. Nesse conceito, os significados são dados pela cultura em que o sujeito se desenvolve, permitindo que o indivíduo organize a realidade em categorias e conceitos (VYGOTSKY, 2017) com um olhar crítico, resultante da criação do conhecimento, da penetração do entendimento e compreensão para se adaptar de forma independente aos fenômenos sociais que prevalecem na sociedade. 6 2.1 Mediação Simbólica e Comunicação Vygotsky dedicou-se ao estudo das chamadas funções psicológicas superiores, ou processos mentais, consideradas complexas e "superiores" porque se referem a mecanismos intencionais, ação conscientemente guiada, processos voluntários que permitem ao indivíduo ser independente (REGO, 2017). Vygotsky entendia a linguagem em todos os grupos humanos como um sistema simbólico fundamental desenvolvido ao longo da história social, que organiza os signos em estruturas complexas e desempenha um papel importante na formação das características psicológicas humanas. Isso também é confirmado pelo autor, enfatizando que os processos não são inatos, eles surgem das relações entre os indivíduos e se desenvolvem no processo interno do comportamento cultural. Os processos elementaressão biológicos, enquanto os superiores são a maturação. Vygotsky distingue dois elementos responsáveis pela transmissão simbólica: o instrumento que regula a atividade entre os objetos e o signo que regula a atividade na psique humana (REGO, 2017). Os sistemas simbólicos são entendidos como representações da realidade, funcionam como elementos mediadores que possibilitam a comunicação entre os indivíduos e formam significados a serem compartilhados entre interações sociais de grupos culturais. Para Vygotsky, o processo de atividade mental seria assegurado pela cultura e pela mediação simbólica. A mediação simbólica é importante na teoria de Vygotsky sobre a atividade psicológica, pois para ele, a interação humana com o mundo não é direta, mas mediada pelo estímulo que promove aquela atividade, a presença de elementos mediadores traz conexão com o restante do organismo ambientais, tornando-as mais complexas. Em resumo, existem dois tipos de elementos mediadores na teoria de Vygotsky, quais sejam: instrumentos e signos; embora haja analogia entre esses dois tipos de intermediários, eles possuem características bastante distintas, pois o instrumento é o objeto social da ação humana e o intermediário da relação do indivíduo com o mundo, já o signo, está relacionado as ações que irão controlar e ou auxiliar o homem em algumas atividades que exigem memória e escolha. O homem pode criar seus próprios instrumentos para fins específicos, de comunicar sua metodologia operacional e construtiva a outros membros de um grupo social. Os símbolos são ferramentas da atividade mental que funcionam como 7 ferramentas de trabalho, ou seja; os marcadores ajudam nossos cérebros a se tornarem mais sofisticados, permitindo maior controle sobre o comportamento, e uma maior atividade mental nos dá a capacidade de pensar, lembrar e raciocinar. “Um símbolo em sua forma mais simples é um signo externo que ajuda as pessoas a realizar tarefas que requerem memória ou atenção” (VYGOTSKY, 2009). Portanto, além de demonstrar a importância das relações sociais entre os indivíduos, acredita- se que a combinação dessas duas ferramentas seja essencial para o desenvolvimento dos processos psicológicos globais. 2.2 Linguagem e Pensamento Para Vygotsky, existe uma troca social: o homem cria e usa sistemas de linguagem para se comunicar com seu semelhante. Para possibilitar uma comunicação mais complexa, essa comunicação requer uma segunda função da linguagem: a síntese de ideias. Essas são as marcas da simplificação e generalização da experiência vivida, permitindo que ela seja transmitida a outros (OLIVEIRA, 1993). A linguagem é um veículo para pensamento, emoção e expressão emocional, mas o mais importante, um veículo para comunicação social (NOVAES, 1962). Assim, a linguagem fornece ao sujeito um meio para expressar o pensamento. A linguagem será então um conjunto de signos usados conscientemente na comunicação interpessoal. Por meio da linguagem, interesses, crenças, conhecimentos, aspirações e ideais comuns são comunicados entre os indivíduos e as gerações futuras. A linguagem pode ser vista como uma forma de adaptação dos indivíduos ao meio ambiente, a função social da linguagem. A linguagem e a comunicação estão intimamente relacionadas e constituem um processo único que envolve a expressão dos aspectos mais complexos e diversos da personalidade humana. A linguagem enriquece o pensamento integrando-se no processo evolutivo do indivíduo. Acreditamos que a linguagem desempenha um papel importante nos processos cognitivos que moldam a mente. Mas não acreditamos, assim como Novaes, visto que a linguagem se limita a transmitir ideias pré-existentes, pode também transmitir, moldar e comunicar ideias. Inicialmente, a linguística aplicada a documentos escritos (enciclopédias) era o 8 conhecimento básico e obrigatório de múltiplas línguas. Saussure (2017) argumenta que esse molde se quebrou ao usar uma linguagem e uma voz estrutural e independente. Nesse caso, os signos linguísticos são o resultado da semântica (imagens sonoras ou palavras) e dos significados (conceitos, imagens). Essa abordagem oferece uma maneira de entender o presente sem as regras do bem e do mal, sem ter que recorrer à história. Na pesquisa do linguista Bakhtin (2011), a construção do sujeito se dá por meio de suas relações sociais a partir do estudo do materialismo. A linguagem é necessária para a comunicação entre as pessoas e será a aquisição da cultura. Nestes aspectos, a ideia do autor mencionado difere de Saussure, que entendia a linguagem falada e escrita como a mesma coisa. A linguagem é um complexo processo de formação mediado pela interação dialógica entre as pessoas por meio da qual se materializa em palavras com múltiplos significados no contexto de jogos retóricos que as envolvem na vida cotidiana. A fala é uma espécie de ponte entre mim e os outros. Se por um lado depende de mim, por outro, depende do meu interlocutor (BAKHTIN, 2006). Para Berwick e Chomsky (2017), que se debruçaram sobre a pesquisa cognitiva, a linguagem fará parte da herança genética humana (gramática interna), pois desconhecemos sua estrutura, e o desempenho linguístico, dependerá dos estímulos do ambiente linguístico e de como a humanidade usa as estruturas básicas da linguagem comum. Ele se concentra na gramática e nas estruturas abstratas, examinando os aspectos corretos e incorretos da linguagem. Para este autor, não é preciso conhecer sua história para falar o idioma, é importante conhecer sua gramática. Chomsky desenvolveu a teoria do aparelho de aquisição de linguagem, segundo a qual temos uma tendência inata de encontrar conformidade com as regras de fala aceitas (DAVIDOFF, 2001). Por outro lado, Vygotsky estava interessado em entender a relação entre as ideias que as pessoas geram e o que elas dizem ou escrevem. “A estrutura da linguagem falada por uma pessoa influencia sua percepção do universo” (VYGOTSKI, 2017). Uma palavra que não representa uma ideia é uma coisa morta, assim como uma ideia que não está incorporada em uma palavra é um remanescente. 9 2.3 O modelo mais aceito dentro da linguística escolar Podemos nos comunicar de maneiras diferentes, e usamos a linguagem para fazer isso. Uma linguagem é uma codificação usada, escrita ou falada por palavras, ou seja, podemos nos comunicar verbalmente e nos ajudar por meio de textos não verbais e expressões faciais. As palavras simbolizam texto falado ou escrito e imagens. Dito de outra forma, uma linguagem nada mais é do que um conjunto estruturado de códigos destinados a transmitir informações. Símbolos e conjuntos estruturados de códigos são sinônimos que transmitem significados. O ser humano precisa viver em grupos; logo, eles precisam se comunicar; a comunicação nos leva à uma terceira necessidade, que é desenvolver sistemas de comunicação e chamar de linguagens. Todos os conjuntos de código estruturado que transmitem informações, se tratam então de linguagem (SANTOS OLIVEIRA; SOUZA.; BATISTA, 2020). Uma linguagem pode ser escrita, ou falada, ou não-verbal, sendo esta, a que transmite intencionalmente uma mensagem que não é falada nem escrita, como a pantomima. Compreendemos o mundo que nos rodeia através da linguagem e é assim que formamos as ideias que temos sobre o mundo. Através da linguagem expressamos nossos pensamentos. A linguagem é social e cultural, a linguagem é universal. O modelo mostrado abaixo é ensinado nas escolas regulares. Cada um desempenha um papel em relação aos elementos presentes na comunicação (emissor, receptor, mensagem, código, canal e contexto). Desta forma, eles determinam o propósito do ato comunicativo. As funções de linguagem e comunicação são as formas pelas quais cada indivíduo se expressa. Isso exige que um remetente receba a mensagem e um destinatárioreceba essa informação (NICOLA; TERRA, 2004). 10 Figura 1 – O Processo de Comunicação Fonte: shre.ink/1jSJ Como elemento de comunicação, alguém (emissor) transmite algo (código de mensagem) para outra pessoa (receptor) por algum meio (canal) em um determinado ambiente, e observa a reação para obter o efeito da comunicação. Os recursos de linguagem ainda estão presentes no modelo escolar. Este modelo mostra seis características da fala. Os recursos de linguagem ainda estão presentes no modelo escolar. Este modelo oferece seis funções para fala (Figura 2). Figura 2 – Seis Funções da Linguagem Fonte: shre.ink/1jSG A função emocional ou expressiva é quando a linguagem se concentra no remetente e revela suas emoções, já o recurso ou função conativa, é quando o remetente organiza a mensagem para influenciar o destinatário. Na função referencial ou descritiva, a intenção do emissor é falar objetivamente sobre o contexto real, sendo uma linguagem com caráter informativo. Na função metalinguística, a linguagem deve falar por si e explicar as próprias palavras. 11 A função fática é uma função que confirma por voz se a estação de transmissão pode ser realmente ouvida. Finalmente, a função poética, que reside no fato de que a linguagem presta atenção especial ao ritmo das frases, aos sons das palavras e ao jogo das ideias (SANTOS OLIVEIRA; SOUZA.; BATISTA, 2020). 2.4 O biológico e o cultural: os desdobramentos dos pensamentos de Vygotsky Aspectos Biológicos A questão do pensamento e da linguagem tem sido menos discutida, e mais obscura em relação ao pensamento e a palavra (VYGOTSKY, 2009). A função do pensamento continua a ser um tema controverso hoje. Isso se deve, em parte, à confusão de terminologia que o cerca. Apesar de tudo, a ideia mais aceita é que sua finalidade é atuar como um mecanismo de controle nas situações que nos apresentam. Um dos instrumentos centrais inventados pela humanidade é a linguagem, e Vygotsky deu à linguagem um lugar muito importante na organização e desenvolvimento dos processos de pensamento (LURIA, 2018). Alexander Romanovich Luria foi um pesquisador importante para a neurociência e neuropsicologia, uma vez que o mesmo conseguiu aprimorar e integrar modelos já existentes. "A abordagem que Vygotsky deu ao estudo da afasia, tornou- se um modelo para todas as pesquisas futuras no campo da neuropsicologia." (LURIA, 2018). Como já dito, os seres humanos são criaturas sociais, e a linguagem é um processo que nos permite comunicar com os outros. No caso humano, essa comunicação é feita por meio de símbolos complexos, fala ou linguagem. A linguagem é um processo muito complexo, considerado na psicologia responsável por transformar a informação, organizá-la e dar-lhe significado. No trabalho de Simis et al. (2014), podemos ver várias áreas de uso da linguagem. A linguagem é a capacidade que um indivíduo tem de transformar o pensamento em algo tangível. Segundo o autor, o ser humano nasce com uma estrutura cerebral que pode desenvolver a capacidade de perceber, codificar e produzir o som por meio da estrutura dos órgãos vocais. Mas as ferramentas de vida sozinhas não são suficientes, gatilhos ambientais são necessários. 12 A capacidade de armazenar, recordar e combinar símbolos em uma interminável troca de expressões possibilita o processamento mental. A habilidade de linguagem está relacionada a outras habilidades cognitivas, mas é uma habilidade relativamente independente. Muito do que se sabe sobre a função da linguagem, vem de estudos de comprometimento da linguagem induzido por lesão cerebral conduzidos, entre outros, por Broca (1824-1880) e Wernicke (1848-1905) (ZANÃO, 2006). Para a maioria das pessoas, especialmente as destras, as funções da linguagem estão no hemisfério esquerdo do cérebro, enquanto nos canhotos, as funções da linguagem provavelmente estão mais no hemisfério direito. A linguagem simbólica é uma das características únicas humanas, capaz de diferenciar os humanos, de outras espécies. A linguagem é uma das habilidades que permite ao ser humano transmitir o conhecimento de uma geração para a outra, seja oralmente ou por escrito, e o conhecimento adquirido não se perde (SANTOS OLIVEIRA; SOUZA; BATISTA, 2020). Aspectos Sócios Culturais Em sua relação com o meio físico e social, mediada pelas ferramentas e símbolos desenvolvidos na vida social, o homem cria e modifica sua forma de agir no mundo. Essa visão da função mental é o que fundamenta o pensamento de Vygotsky sobre a função cerebral. Se a história social objetiva desempenha um papel decisivo no desenvolvimento mental, ela não pode ser procurada nas características normais do sistema nervoso. Isso significa que o cérebro é um sistema aberto que interage constantemente com seu ambiente, alterando sua estrutura e mecanismos funcionais no processo. Em termos de desenvolvimento psicológico, isso significa que o organismo humano nasce muito ‘’ pouco pronto’’, isto é, com muitas características em aberto, a serem desenvolvidas no contato com o mundo externo e, particularmente, com os outros membros da mesma espécie. Essa maturidade dos organismos no momento do nascimento e a imensa plasticidade do sistema nervoso central do homem estão fortemente relacionadas com a importância da história das espécies do desenvolvimento psicológico: o cérebro pode se adaptar a diferentes necessidades, servindo a diversas funções, estabelecidas a história do homem (Vygotsky, 2017, p. 84). Vygotsky (2009) afirma que as ferramentas e códigos socialmente construídos determinam quais das infinitas possibilidades de funcionamento do cérebro serão desenvolvidas e mobilizadas na execução de tarefas específicas. Em outras palavras, as pessoas que vivem em grupos culturais sem a habilidade de escrever nunca serão 13 alfabetizadas. Em outras palavras, enquanto os humanos têm a possibilidade física de aprender a ler e escrever, essa possibilidade só se desenvolve como um padrão de funcionamento mental em pessoas que vivem em sociedades letradas. Deve-se ressaltar que essa diferença funcional não se reflete em diferenças físicas no cérebro humano, pois o cérebro está preparado para desempenhar funções variadas, de acordo com a forma que uma pessoa se apresenta ao mundo. Já a ideia de plasticidade cerebral de Vygotsky não implica a ausência de uma estrutura, mas, ao contrário, implica a existência de uma estrutura básica na qual nasce cada membro da espécie e da qual nascem os padrões funcionais (VYGOTSKY, 2009). 2 FALA E A ESCRITA, MODALIDADES DA LÍNGUA A fala é o primeiro sinal do desenvolvimento humano, uma das primeiras habilidades importantes que uma pessoa adquire fora da educação formal. A escrita, tal como aparece na cultura da nossa sociedade, muitas vezes surge através da educação institucional. Segundo Fávero, Andrade e Aquino (2000), a escrita e a fala são geralmente vistas da seguinte forma: a escrita é como complexamente estruturada, formal e abstrata, enquanto a fala, uma estrutura simples ou não estruturada, vista como informal, concreto e dependente do contexto, que os homens podem expressar de duas maneiras: falando e escrevendo. São duas formas de uma só linguagem, duas formas de apresentar as ideias e os pensamentos produzidos (MASSINI-CAGLIARI, 1997). Partindo do princípio que a linguagem é historicamente mais antiga que a escrita, descobrimos que muitos teóricos, como Câmara Jr., caracterizam a escrita como uma representação da linguagem, ou que a escrita existe apenas como um resultado dela. A rigor, a linguagem escrita não passa de um sucedâneo, de um ersatz da fala. Esta é que abrange a comunicação linguística em sua totalidade, pressupondo, além da significação dos vocábulos e das frases, o timbre de voz, a entoação [...]. Por isso, para bemse compreender a natureza da linguagem humana, é preciso partir da apreciação da linguagem oral e examinar em seguida a escrita como uma espécie de linguagem mutilada, cuja eficiência depende da maneira porque conseguimos obviar à falta inevitável de determinados elementos expressivos (CÂMARA JÚNIOR., 1986, p.16) 14 No entanto, segundo Massini-Cagliari (1997), reconhecemos que, embora possamos traduzir o que é dito em palavras, não fazemos transcrição fonética, caso contrário, cada um teria uma representação diferente da mesma palavra, de acordo com as nuances de sua pronúncia. Na verdade, quase tudo que criamos com som, tem uma forma escrita real. Porém, segundo Fávero, Andrade e Aquino (2000), a escrita, assim como a fala, tem suas características expressivas e organizacionais que se destacam primeiro como paradigma. Nesse ponto, a grafia desempenha um papel fundamental na linguagem: neutralização e padronização. Sendo a ortografia uma característica única da modalidade escrita, ela é responsável por tornar a língua inteligível a todos, além de "esconder" muitos aspectos das aparentes diferenças linguísticas da língua. Dessa forma, também são introduzidas frases fixas e, ao expressar palavras com pronúncias diferentes, todos podem entender (MASSINI-CAGLIARI, 1997). Para melhor validar as diferenças entre essas duas modalidades, tomamos algumas citações de alguns autores, começando por Câmara Júnior (1986, p.15): De maneira geral, podemos dizer que a primeira [fala] se comunica pelo ouvido, e a segunda [escrita] pela visão. Ou em outros termos: na comunicação escrita, os sons que essencialmente constituem a linguagem humana passam a ser apenas evocados mentalmente por meio de símbolos. Em sua obra, “Oralidade e escrita: perspectiva para o ensino de língua materna”, Fávero, Andrade e Aquino afirmam que (2000, pp. 69 e 113): De modo geral, discute-se que ambas [fala e escrita] apresentam distinções porque diferem nos seus modos de aquisição; nas suas condições de produção, transmissão e recepção, nos meios através dos quais os elementos de estrutura são organizados. No texto falado, a seleção lexical se efetiva por meio de construções mais informais, já que se trata de um texto produzido espontaneamente. Por outro lado, no texto escrito o interlocutor dispõe de tempo para planejamento e construção do texto, tendo, portanto, a possibilidade de fazer escolhas mais sutis e também podendo editorá-lo. Distinção entre modalidades orais e escritas das referidas obras em um quadro didático característico da dicotomia (Quadro 1): 15 Quadro 1 – Fala x escrita Fonte: Fávero, Andrade, Aquino (2000) Tal distinção se aplica não apenas à teoria, mas também às mentes da maioria das pessoas que cresceram pensando dessa maneira. Essa dicotomia também pode ser vista em Koch (1995): • A fala possui as seguintes características essenciais: predominância de frases curtas, simples ou coesas com desorganização, fragmentação, incompleta, pouca elaboração e pouco uso da voz passiva. • A escrita se caracteriza pelo: planejamento, falta de fragmentação, completude, sofisticação, predominância de frases complexas com subordinação suficiente e uso frequente da voz passiva. No entanto, como refere Koch (1995), sabemos que há um discurso muito próximo da escrita informal e um discurso muito próximo da escrita formal, pelo que não fazem jus à distinção acima. Assim, o grau de formalidade na interação verbal dependerá do contexto em que ela ocorre, pois a cada momento da comunicação utilizamos uma das variáveis existentes entre a série de comunicação formal e a série de fala informal. Outro teórico que une essa dualidade é Luiz Antônio Marcuschi, que define 16 linguagem como: Um fenômeno heterogêneo (com múltiplas formas de manifestação), variável (dinâmico, suscetível a mudanças), histórico social (fruto de práticas sociais e históricas), indeterminado sob ponto de vista semântico e sintático (submetido às condições de produção) e que se manifesta em situações de uso concretas como texto ou discurso (MARCUSCHI, 2007, p.43). A partir dessa perspectiva linguística, os autores analisam as diferenças entre fonemas e escrita em termos de uso e não de sistemas. Isso significa que o uso do código é considerado, não o código em si. Sugere-se, portanto, que as diferenças sejam graduais e numéricas, e não estritamente dicotômicas. Além disso, Marcuschi (2007) apontou que as semelhanças entre as formas orais e escritas se sobrepõem às diferenças na comunicação oral e social. Muitas das diferenças produzidas por um desses métodos são, na verdade, parte de recursos linguísticos, como contexto/descontexto e particípio/distância. Além disso, não há assinaturas que sejam reconhecidas apenas de uma maneira e não de outra. Isso ocorre porque as notas não são apenas para falar ou escrever. Portanto, a estrita estrutura dicotômica foi fortemente criticada pelo autor (Quadro 2): Quadro 2 – Dicotomias estritas. Fonte: Marcuschi (2007) Assim, Marcuschi aponta que as modalidades da linguagem falada são espontâneas, sujeitas a hesitações, repetições etc., e, portanto, é falsa a afirmação de que não obedecem a nenhuma regra. Caso contrário, a comunicação não será estabelecida. A fala usa gestos, expressões faciais, entonação, etc. Além do uso de símbolos, a fala usa letras de várias formas, cores e tamanhos, um elemento iconográfico que se expressa (MARCUSCHI, 2007). 17 Também é importante para este autor que as distinções entre linguagem e escrita devem ser vistas não apenas em termos de tópicos geralmente considerados essenciais, mas também em termos de diferenças típicas nos gêneros textuais envolvidos (MARCUSCHI, 2007). Portanto, segundo o autor, a fala não é lugar para o traço informal, nem a escrita formal, pois traços como formal/informal, tenso/expansivo, controlado/livre, inclusivo/fluente são as formas de uso da língua em vez de seus atributos ou mesmo qualquer um de seus termos. Assim, caracterizar textos falados ou escritos como formais ou informais, simples ou complexos é uma escolha que fazemos ao preparar um discurso, a situação em que nos encontramos e com quem falamos. Esta é também a razão pela qual a linguagem é inesgotável, pois em cada situação de interação ocorre uma nova recriação da linguagem, que pode ser decifrada não apenas pelo significado literal das palavras, mas também pelo contexto a ser compreendido. Além disso, a linguagem é fundamentalmente um fenômeno sociocultural, definido por relações interacionais, que contribui crucialmente para a criação de novos mundos e o que nos torna verdadeiramente humanos (MARCUSCHI, 2007). 2.1 Modalidades de linguagem: Fala e escrita Existem três concepções de linguagem, segundo Koch (1995, p.9): a. Como representação (“espelho”) do mundo e do pensamento; b. Como instrumento (“ferramenta”) de comunicação; c. Como forma (“lugar”) de ação e interação. Dentre esses conceitos, Ingedore Koch, em seu livro, A inter-ação pela linguagem, revê os mecanismos que o ser humano utiliza ao interagir com seus pares, e muitos linguistas, principalmente os que falam francês, alemão e inglês, cooperam com a ideia de que a linguagem é uma atividade através do qual uma relação é criada entre os usuários da língua. Daí surgiu uma linguística que lidava com as condições reais de representação da linguagem, ou seja, nas situações e contextos que as pessoas precisamente vivem, o que o autor chama de “linguística do discurso” (KOCH, 1995). 18 Segundo o mesmo autor, a interação se manifesta justamente nos atos de fala, nos quais cada pessoa adquire a língua até que seu interlocutor receba a mensagem desejada. Para tanto, o locutor utiliza meios para um fim, para transmitir certa força em sua fala para produzir certo efeito.Mas também é necessário que o interlocutor tenha as ferramentas necessárias para entender o que lhe é transmitido, sob pena de não atingir o objetivo da ação. Assim, segundo Koch (1995), uma vez que nenhum texto, seja falado ou escrito, possui de forma inequívoca todas as informações necessárias à sua compreensão, é necessário que o destinatário da mensagem estabeleça uma relação entre o texto e o contexto, bem como recriar os elementos armazenados em sua memória para captar a mensagem corretamente. Sem ter essas ferramentas que nos permitem pensar em textos, podemos imaginar o quanto temos a dizer ou escrever, por mais simples que seja o assunto. Assim, Koch (1995) afirma que a característica essencial da linguagem é a dialética, pois a cada momento de interação adquirimos e excluímos certas ideias a fim de controlar nossa fala por meio de “determinada força argumentativa”. Nos discursos, palavras consideradas "bobagens" são alguns dos artifícios mais utilizados, como então, né, mas, também, pois é, etc., que costumam ser responsáveis pela "força argumentativa" do texto. Para Koch (1995, p.104) o diálogo: Tem de ser localmente planejada: as mudanças de posição e as negociações se sucedem ininterruptamente e os parceiros precisam ter “jogo de cintura” para levar a interação a bom termo. A cada mudança de “cena” ou de posição, exigem-se mudanças correspondentes na linguagem. Koch descreve a interação face a face como o início de um jogo em que cada participante se reveza jogando. Portanto, por ser de natureza interativa, a fala é criada no momento do planejamento, e as palavras devem ser escolhidas antes que a fala seja articulada. Muitas vezes essas coisas não conseguem expressar o que queremos, então as substituímos por outras no momento da comunicação. O discurso revela assim a sua estrutura, dando a impressão de um texto descontínuo e fragmentado, no entanto, a sintaxe da língua é preservada es ajustada às necessidades da modalidade falada. Ou seja, por estarem inseridos em atos de fala, os textos orais não temem erros, frases curtas, hesitações ou repetições (KOCH, 1995). 19 Também são utilizadas as chamadas "estratégias conversacionais" que, segundo Koch, caracterizam a linguagem falada como essencialmente descontínua, pois implicam que não é necessário continuar falando quando o interlocutor já compreende o que o falante está pensando; se o interlocutor não entender o que foi dito, você deve interromper, repetir a ligação ou tentar outras estratégias; se o orador sentir que a estrutura está incompleta ou inadequada, ele deve corrigi-la de imediato. Digressões e inserções são normais na fala, e parecem causar pausas no desenvolvimento das interações porque interrompem um sujeito para inserir outro. A notação usada para isso são: “a propósito, por falar nisso, abrindo um parêntese, antes que eu me esqueça, desculpe interromper, mas, etc.” (KOCH, 1995). Mas mesmo que essas formas pareçam interromper a interação, elas ajudam a torná-la mais satisfatória. Além disso, a presença de repetições, inserções ou paráfrases é comum a muitos textos falados, altamente desenvolvidos e escritos com fluência. Com efeito, estes elementos revelam, confirmam e reforçam ideias e contribuem para uma melhor compreensão do texto. Segundo Koch (1995), essas características são comuns no discurso político, publicitário e pedagógico justamente porque devem atingir o público- alvo. Vale salientar, que a linguagem não pode ser estudada simplesmente como um símbolo para enviar e receber mensagens, ou como um sistema formal abstrato para a construção de sentenças, muito menos como uma linguagem capaz de existir sem contexto. Em vez disso, as línguas expressas pelos humanos são nomeadas de acordo com as interações sociais que seus povos têm com eles, os papéis que desempenham e o que negociam nas ações comunicativas. Portanto, devemos ver a linguagem não apenas como uma ferramenta para representar ou comunicar o mundo e as ideias, mas, mais importante, como uma forma de interação social (KOCH, 1995). Seguindo essa linha de pensamento, Ilari e Basso (2007) defendem que a diferença entre falar e escrever não se limita à diferença entre escrever para um lado e falar para outro, mas sim problemas de planejamento que surgem entre métodos muito diferentes. Sendo assim, os autores dizem que na língua falada: - As reformulações resultam do fato de que a fala é planejada e executada “em tempo real”, isto é, ao mesmo tempo em que é produzida; por sua vez, o ouvinte sabe que as informações trazidas por enunciados sucessivos de um texto falado precisam ser processadas cumulativamente; - Partículas como né e viu são uma forma de monitorar a atenção do interlocutor à medida que o diálogo se desenrola, garantindo, por assim dizer, 20 que ele não“ desligou”. Têm a mesma função que, numa conversação telefônica, seria reservada a perguntas como “você está aí? ” Você está me ouvindo? ” (tecnicamente, esse controle de que “a ligação não caiu” é conhecida como “função fática”); - Expressões intercaladas como bom ou agora [...] anunciam uma mudança de tópico e nesse sentido têm um papel que corresponde, na escrita, ao recuo da linha; - Usando expressões como eu acho ou sei lá, a informante procura evitar que suas opiniões sejam tomadas como excessivamente categóricas, ou inegociáveis, o que poderia ser interpretado como uma forma de arrogância, passando uma imagem negativa de quem fala; - Quanto às repetições, [...] elas evitam um silêncio que poderia ser interpretado pelo interlocutor como final de turno: recorrendo a elas, a informante consegue “segurar” o turno, que de outro modo seria facilmente “capturado” por um interlocutor mais interessado e afoito” (ILARI, BASSO, 2007, p.184-185). Assim, os indivíduos parecem saber utilizar os recursos da linguagem falada da forma que lhes convém. Para muitos tradicionalistas, esta linguagem pode parecer um lugar desconcertante, mas sabemos que tudo tem uma razão de ser. 2.2 Linguagem social Segundo Sapir (1954, p.34): A linguagem é uma herança imensamente antiga da raça humana, sejam ou não sejam os seus variantes desdobramentos históricos de uma única e prístina forma. É duvidoso que outra qualquer aquisição cultural do homem, seja ela a arte de acender fogo ou a de lascar pedra, possa proclamar maior vetustez. Inclino-me a crer que precedeu até os aspectos mais rasteiros da cultura material, e que eles, na realidade, não foram estritamente possíveis até o momento em que se delineou a linguagem, instrumento da expressão significativa. A linguagem não é definida apenas por fatores formais que influenciam a estrutura. O aspecto social da linguagem também se tornou muito relevante, porque através da linguagem aprendemos sobre as relações entre as pessoas e as comunidades como um todo. A linguagem é, portanto, não apenas o contexto da conversa, mas também o contexto da interação, e neste último constitui o lugar da linguagem e a razão de ser dos sistemas linguísticos (MASSINI-CAGLIARI,1997). Por meio de nossas interações pessoais, chegamos à conclusão de que todos usam a linguagem ou canais de comunicação, de maneiras específicas. Mesmo que duas pessoas morem no mesmo lugar, estejam na mesma situação social e convivam diariamente, podemos ver que seus estilos de fala têm muitas características diferentes. Segundo Massini-Cagliari (1997), as pessoas são tão diversas quanto as línguas. Segundo Bagno (2007) a língua é uma atividade social, uma ação coletiva 21 que todos os falantes realizam sempre que começam a interagir por meio da fala ou da escrita. Como esta é uma atividade que todas as pessoas fazem, observamos que cada falante é capaz de controlar seu comportamento verbal, ou seja, seu uso da linguagem, independentemente de seu nível de escolaridade, da classe socialou idade. O fato de o ser humano adquirir o domínio da voz desde a infância deve-se ao convívio social em que os indivíduos vivem. Assim, os sociolinguistas afirmam que todos podem mudar a maneira como falam e que “não existe falante de estilo único” (BAGNO, 2007). Por outro lado, a forma de escrever é diferente porque depende do nível educacional do usuário da língua, ou seja, do nível de sua capacidade de escrever. Quanto mais exposição uma pessoa tiver à leitura e à escrita, melhor será sua habilidade, desempenho e proficiência na escrita. No entanto, essa habilidade também garante que os textos orais daqueles treinados na escrita se tornem mais refinados e controlados, dando à forma oral uma identidade mais formal em relação à forma escrita. Da mesma forma, para Bagno (2007), há um continuum entre oralidade- letramento, ou fala/escrita, que indica se a atividade oral em um determinado momento de interação está mais próxima da prática oral ou escrita. Ele dá o exemplo de uma professora em sala de aula: quando ela se dirige aos alunos para revelar o que não é assunto de seu curso, percebemos que suas palavras assumem características próprias de sua cultura, e quando ela está pronta para explicar ou ao ler uma passagem, sua fala se aproxima do padrão da escrita. Por isso, cada um adapta o seu texto, falado ou escrito, à situação em que se encontra. Assim como indivíduos altamente escolarizados podem, na ausência de orientação, produzir estruturas consideradas agramaticais pela gramática formal, indivíduos menos escolarizados podem, em condições gramaticais mais formais, gerar textos mais elaborados apesar de apresentarem alguns "erros". Para Fávero, Andrade e Aquino (2000), o que chamam de pares adjacentes ocorre em uma interação conversacional, ou seja, responder a perguntas; aceitar ou recusar um convite; solicitação de aprovação ou negação e saudações. Para os autores, é difícil manter uma conversa sem um parceiro, por isso eles veem o parceiro como a base da interação. 22 No entanto, algumas características tornam o texto mais ou menos compreensível. Tudo vai depender da interação e engajamento geral entre quem fala e quem ouve, que são corresponsáveis por manter uma comunicação coerente e consistente. Portanto, para se comunicar bem, mais importante do que falar o português "correto", ou seja, dominar as regras da gramática, é saber construir um texto coerente, que normalmente se distingue pela organização lexical, pela sintaxe e semântica (FEGADOLLI, 2011). 3 INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL A compreensão da linguagem que expressamos compreende uma forma de interação e diálogo (VOLÓCHINOV, 2017). Para o autor, a linguagem surge apenas por meio da interação verbal, e a comunicação é concebida como um processo interativo e ininterrupto. Para o autor, a linguagem não é um dom de Deus, nem um dom da natureza, é um produto da atividade humana coletiva, tanto da organização econômica quanto sociopolítica da sociedade que a produziu (VOLOCHÍNOV, 2013). Em outras palavras, a realidade efetiva da linguagem não é um sistema abstrato de formas linguísticas, nem enunciados monológicos isolados, nem os atos psicofisiológicos, mas sim as interações discursivas que ocorrem por meio de um ou mais enunciados. É um acontecimento social. A interação discursiva é, portanto, uma realidade fundamental da linguagem (VOLÓCHINOV, 2017). Segundo o filósofo russo, a linguagem se presta à interação entre sujeitos socialmente estabelecidos e aqueles que organizam a fala de acordo com suas intenções e o contexto sócio histórico em que estão inseridos. Logicamente, sem interação não há linguagem. Um dos aspectos mais inovadores da produção do “Círculo de Bakhtin” vê a linguagem não apenas como um sistema autônomo, mas como um processo interativo mediado pelo diálogo constante. De acordo com esse conceito, a linguagem existe apenas em função do uso dela mesma, pelo falante (aquele que fala ou escreve) e pelo interlocutor (aquele que lê ou escuta) em situações comunicativas (informais ou formais). Ensinar, aprender e usar a linguagem passa inevitavelmente por sujeitos que atuam como portadores das relações sociais, responsáveis pela formação e estilo do discurso. 23 Nessa concepção, como enfatiza Geraldi (1984), os sujeitos utilizam a linguagem, um conjunto de sinais sociais e ideológicos para agir, além de expressar pensamentos e comunicar conhecimentos. Portanto, a interação é a base existencial da linguagem, uma vez que seu uso é sempre através da fala. Conforme BAKHTIN (1992), um enunciado é uma unidade adequada de comunicação discursiva, pois facilita o diálogo. Através da fala, olhamos para os outros e esperamos respostas, ou seja, usamos palavras para estabelecer e incorporar contato com os outros. Esses enunciados são diretamente determinados pelo contexto em que ocorrem: o contexto em que ocorre a interação, o status social dos interlocutores e as condições de produção que influenciam o que dizemos/escrevemos algo. Segundo Bakhtin (1992), quando nos comunicamos com os outros, os enunciados que geramos, ou seja, as palavras que usamos, não são nossos enunciados porque nos apropriamos do que já foi criado e dito. Bakhtin comentou sobre este trabalho criativo, dizendo que a fala nunca é um simples reflexo, e sim uma expressão do que já existe. O que é criado, é sempre criado a partir do que nos é dado (BAKHTIN, 1992). Para compreender a linguagem como forma de interação oral, é necessário definir sua relação com o texto. No artigo "O problema do texto na Linguística, na Filologia e em outras ciências humanas" (BAKHTIN, 1992), Bakhtin argumenta que um texto deve ser considerado um enunciado quando faz parte de uma série de comunicações discursivas. Nas palavras do autor: O texto como enunciado incluído na comunicação discursiva (na cadeia texto lógica) de dado campo. O texto como nômada original, que reflete todos os textos (no limite) de um dado campo de sentido. A concatenação de todos os sentidos (uma vez que se realizam no enunciado) (BAKHTIN, 1992[1979], p. 309). A expressão texto-enunciado faz parte do encadeamento de diálogo de um idioma, porque reflete outras expressões de texto-enunciado que ocorreram. Segundo os autores, sua composição é baseada em dois extremos: por um lado, temos as formas linguísticas de um sistema geralmente aceito (BAKHTIN, 1992). Por um lado, temos uma relação diretamente ligada ao contexto, revelando-se apenas em situações interativas e sequências textuais; ligado a relações de diálogo específicos. Bakhtin explica a composição do texto desta forma: [...] por trás de cada texto está o sistema da linguagem. A esse sistema corresponde no texto tudo o que é repetido e reproduzido, tudo o que pode ser dado fora do texto (o dado). [...] cada texto (como enunciado) é algo individual, único, singular, e nisso reside todo o seu sentido (sua intenção em 24 prol da qual foi criado). É aquilo que nele em relação com a verdade, com a bondade, com a beleza, com a história. (BAKHTIN, 1992, p. 310). O conceito de discurso de gênero está relacionado ao conceito de discurso textual. Por serem construídas a partir da necessidade de dizer, essas frases são classificadas em tipos específicos de discurso de acordo com seu fim retórico. Essa afirmação é corroborada pelas palavras de Bakhtin, cada discurso particular é independente, mas cada área de uso linguístico expressa tipos de fala relativamente estáveis, que chamamos de tipos de fala (BAKHTIN, 1992). Nesse sentido, os sujeitos utilizam a linguagem em cada uma de suas atividades e, conforme o interesse, a intenção e a finalidade específica de cada ação, produzirão sentenças de linguagem organizadas de diversas formas, expressas em palavras. Nessa orientação teórica, os tipos de discursos estão relacionados àsrealidades sociais das interações reveladas nos discursos que respondem a necessidades específicas da atividade humana. Eles são constituídos como dados e organizados em um tipo que os promove socialmente. Essa organização é resultado da fusão de três dimensões básicas, conforme indicado por Bakhtin (1992): i) conteúdo temático, que se refere ao tópico mencionado no discurso e está relacionado ao estado da comunicação; ii) o estilo, que corresponde à palavra, à frase, à escolha do modo de falar, cujo entendimento é determinado pelo gênero; iii) estrutura sintática, que se refere à organização dos transcritos em uma determinada espécie. Diante de tudo isso, assumir uma compreensão dos tipos de discurso como um mecanismo disponível de interação, significa adotar uma visão interacionista da linguagem que prevalece sobre os aspectos sociais e históricos. Nesse contexto, a produção da escrita de um texto é entendida como um processo de interação social entre interlocutores, e depende do que se quer dizer (tema a ser discutido, interlocutores, status social ocupado por esses interlocutores, conhecimento), e isso pode ser realizado sistematicamente de forma mais formal ou informal. O "como dizer", é um processo que requer a escolha de um tipo de fala, pois "a vontade do locutor no discurso é primeiramente realizada pela escolha de um determinado tipo de fala" (BAKHTIN, 1992). 25 Geraldi (1997) concorda não haver uso de linguagem sem função, eixos ou conteúdo, ou seja, falar com a linguagem significa ir além da sua estrutura e da sua forma, deve-se considerar também o estado de articulação (VOLÓCHINOV, 2017). Isso requer, ao apresentar um enunciado textual, considerar "o quadro de condições específicas necessárias para a produção do texto" (GERALDI, 1997, p. 160), ou seja, as condições que devem ser observadas. Isso constitui o ato de fala com base nos estudos do Círculo de Bakhtin, Geraldi sistematiza o que ele mesmo chama de relações de produção, a saber: a) se tenha o que dizer; b) se tenha uma razão para se dizer o que se tem a dizer; c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer; d) o locutor se constitui como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz [...]; e) se escolhem as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d) (GERALDI, 1997, p. 160). Geraldi (1997) propõe utilizar o trabalho de produção escrita como ponto de partida para a realização das atividades que antecedem o exercício da escrita, as chamadas pré atividades, visando auxiliar os alunos a desenvolverem uma consciência crítica a partir dessas atividades. Sercundes alerta para a importância de dar ao aluno um conhecimento prévio do tema que pretende escrever, que as atividades anteriores são o ponto de partida para o lançamento da proposta de redação e as atividades anteriores são, de fato, um suporte para todo o processo produtivo (SERCUNDES, 1997). Tais afirmações não apenas confirmam a importância de ajudar o aluno a ter algo a dizer em seu texto, mas também mostram a necessidade de dar ao produtor do texto a oportunidade de responder ativamente, à interpelação do enunciado projeto (VOLÓCHINOV, 2017). Outro aspecto importante no ensino da escrita, que também é considerado nos cenários de produção, é que o aluno tenha uma razão para dizer o que diz (GERALDI, 1997). Tal argumento considera o caráter artificial das atividades de produção textual em sala de aula, que, segundo o modelo tradicional de ensino, têm se mostrado ineficazes na formação de roteiristas habilidosos. A esse respeito, Brito comenta: "A artificialidade dessa situação (da escrita) rege todo o processo de escrita e é fator determinante no seu resultado" (BRITO,1984). 26 Portanto, para obter melhores resultados dos alunos na redação de textos, o desafio é apresentar a eles um objetivo mais específico possível, uma razão para escrever, convencê-lo de que a tarefa de criar um texto não pode estar vinculada apenas para tirar uma nota ou preencher o tempo de aula, etc. (SERCUNDES,1997). A este propósito, afirma Antunes: escrever sem saber desde o início a quem se destina é uma tarefa difícil, dolorosa e, em última instância, ineficaz, pois não há referência ao que o texto deva responder (ANTUNES, 2006). Um projeto narrativo não deve surgir por acaso, deve ser planejado e trabalhado. Nesse sentido, a referência antes da elaboração de um texto escrito deve, no mínimo, mencionar os elementos que organizam a discussão e responder às seguintes questões, conforme a Figura 1: Figura 1- Elementos que encaminham uma proposta de produção de texto para interação Fonte: Costa-Hübes (2012, p. 11). A produção do texto deve incluir elementos que garantam a interação da linguagem, pois entendemos que a linguagem só acontece por meio da interação, ou seja, quando nos comunicamos com o outro por alguma necessidade. Com esse pensamento, introduzimos um gênero segundo o qual organizamos nossa discussão, considerando a esfera humana de atividade em que atuamos (escola, família, 27 universidade, etc.), entendendo com quem estamos falando/escrevendo, quando, onde, por que, etc. Segundo Ferrarezi Jr. e Carvalho (2015), além desses aspectos relacionados às condições de produção, o professor deve ensinar a escrita para que o aluno a domine. Escrever é uma competência e, para aprender a escrever, certas habilidades devem ser dominadas. Muito mais do que dizer aos alunos para escrever isto ou aquilo, os professores devem ensiná-los a fazê-lo; ensinar habilidades especiais de escrita, preparar e organizar um tema, capacidade de expandir ideias em um texto, resumir e selecionar informações, avançar em parágrafos, sentir os aspectos de coerência, continuidade, adequação de vocabulário, etc. Mas é certo que esses aspectos não podem ser feitos isoladamente uns dos outros de forma mecânica e repetitiva, e não devemos esquecer que essas habilidades nos ajudam a nos comunicar verbalmente com os outros; a natureza interativa da linguagem deve iluminar todos os aspectos da produção de um texto escrito. Além desses aspectos teóricos e metodológicos da escrita, é importante ter em mente as diretrizes do currículo de língua portuguesa, pois muitas vezes os documentos dos professores regulam e direcionam a prática docente. 4 TIPOLOGIA TEXTUAL Uma "tipologia de texto" especifica uma classe de textos com características particulares. Um conjunto de características comuns em termos de conteúdo, estrutura organizacional, estilo (características linguísticas), função/finalidade, condições de produção, entre outros (TRAVAGLIA 1991, 2007a, 2007b e 2009). Exemplos de tipos de texto encontrados em nossa sociedade e cultura brasileira são: relato, descrição, comentário, tese, comando, argumentativo "stricto sensu", artigo, reportagem, apresentação, pedido, profecia, novela, conto, parábola, haicai, ditirambo, incidente, ata, notícia, comédia, farsa, anedota, tese, mito, lenda, testemunho, depoimento, ofício, soneto, ode, acróstico, epitalamia, oração, tragédia, etc. Diferentes categorias de texto podem compartilhar características comuns e, como todos os tipos de narrativa (Quadro 1), compartilharão características narrativas 28 comuns, mesmo que sejam interpretadas de maneira diferente. Explorar esse fato no ensino é fundamental e muito produtivo porque quando se trabalha com diferentes espécies que compartilham uma característica em comum, o que se aprende pode ser transferido e ensinado a todas as pessoas que compartilham a mesma característica. No entanto, sempre haverá características distintas do gênero, como romances de contos, fábula de uma parábola, etc. Essa distinção pode ser feita por vários critérios diferentes, mas principalmente pelo comportamento social e pelo papel que o gênero desempenha no uso da linguagem e na construçãodo significado social. Criar esses agrupamentos é importante para o ensino. No Quadro 1, logo abaixo, temos alguns exemplos de espécies que compartilham características comuns, pois consistem necessariamente em um tipo dominante. Quadro 1 – Gêneros necessariamente compostos por um tipo Fonte: Travaglia, (2018) 29 O segundo termo, cujo conceito é importante para registro, é o termo "tipelemento", pelo qual uma categoria de texto é definida com base nas classes de categorias de texto de natureza diferente. Os tipelemento de nível superior mantêm relações específicas entre si, o que deve ser considerado na hora de construir e propor padrões para não colocar elementos de natureza diferente no mesmo nível, importante no ensino/aprendizagem de línguas. Foi identificado por Travaglia (2007; 2009) a existência de quatro elementos clímax, que ele chamou de tipo, subtipo, gênero e espécie. Isso significa que as categorias de texto podem ter quatro níveis diferentes. 4.1 Tipo Definir e caracterizar paradigmas estabelecendo um estilo de interação, um estilo de diálogo de acordo com possíveis diferentes pontos de vista, que constituem os critérios para a criação de diferentes paradigmas. Travaglia identificou oito tipos. Tipologia 1: Estes quatro tipos de texto são apresentados do ponto de vista da ação/passagem ou conhecimento/saber do roteirista sobre o que diz, e se está inserido no tempo e/ou no espaço (TRAVAGLIA, 1991). Essa classificação é muito importante no ensino porque todos os textos analisados de qualquer tipo consistem em um ou mais desses tipos. No Quadro 2, tenta-se resumir as principais características desses tipos para poder diferenciá-los. Quadro 2 – Características essenciais de descrição, dissertação, injunção e narração: 30 Fonte: Travaglia, (2018) Tipologia 2: texto argumentativo stricto sensu e não-stricto sensu. Ambos os tipos de texto surgem do ponto de vista do criador do texto, ou seja, sua impressão sobre a concordância ou não do destinatário. Quando ele achar que o entrevistador não concorda, ele tentará fazer o que se chama de discurso de mudança. Neste caso, cria textos argumentativos “stricto sensu” em que explicitamente mobiliza recursos para persuadir o interlocutor, tentando levar o destinatário do texto a seguir uma ideia, sugerir uma ação ou aumentar a sua adesão. 31 Se o criador de textos vê o interlocutor como alguém com quem concorda, então está falando de cumplicidade. Nesse caso, nosso texto não é dialético “stricto sensu” (TRAVAGLIA, 1991). Portanto, podemos dizer que qualquer texto é discutível, seja no “lato sensu” seja no “stricto sensu”, pois sempre deve alcançar um objetivo. A linguística estudou e trabalhou em muitos aspectos da dialética. Assim, o conhecimento linguístico atual dos argumentos se estende a uma ampla gama de tópicos: o que é o texto argumentativo e suas propriedades; elementos importantes de uma argumentação, conclusões ou tese. As categorias de argumentos são medidas que registram até que ponto alguns argumentos suportam uns, mais do que outros; o locutor e público em discussão; o ponto de partida do acordo ou argumento; pontos de discussão; tipo de argumento e utilização de diversos recursos linguísticos, como, por exemplo: fatores de enredo, pressupostos, números, método, estabelecimento de relações (causalidade, contradição, afirmação, conjunção, concordância, etc.) repetição, pausas, silêncios, etc. Todo esse conhecimento obriga o professor a lidar com a língua e lançar as bases para ela. Como lidar com ensaios argumentativos e com que tipo de textos, é uma grande questão que professores e linguistas aplicados costumam fazer. Tipologia 3: texto preditivo e não preditivo. Os textos preditivos surgem da perspectiva do produtor antecipado, o que ele disse antes que se torne realidade, ou seja, expectativa (texto preditivo) ou não (texto não preditivo) (TRAVAGLIA, 1991). Tipologia 4: texto que explica, narra o mundo. Os dois tipos identificados por Weinrich (1968), enquadram-se na perspectiva apresentada pelo observador contra a posição não comunicativa. Em um texto mundial anotado, o falante se concentra no que ele disse, enquanto em um texto mundial narrado, ele não o faz. Por exemplo, esta é a diferença entre descrições em sentenças declarativas presentes (comentando o mundo) e sentenças declarativas incompletas (narrando o mundo). Tipologia 5: texto lírico e épico/narrativo e dramático. A lírica é um gênero porque se apresenta por meio da criação de um modo de interação caracterizado por recorrer ao próprio ponto de vista para contemplar as “confissões”, com pouca preocupação com os outros, e o destinatário portanto, é uma visão altamente subjetiva de si mesmo ou das coisas fora de si, um ponto de vista que surge do mundo interior e busca o mesmo (MOISÉS, 1973). 32 A perspectiva de buscar admiração pelo que aconteceu no mundo exterior é tão grande que a complexidade que permite perguntar "qual é o significado?", é decisivo. Seria o gênero épico ou narrativo da teoria literária (que seria o mesmo tipo de história mencionado acima, mas com uma perspectiva diferente que a inclui a partir de outra perspectiva, que difere daquela classificação da teoria literária) e a perspectiva do mundo exterior, no caso das relações entre seres, dá um tipo dramático (o gênero dramático da teoria literária). Tipologia 6: texto humorístico e não humorístico. O ponto de vista aqui é se o locutor está se comunicando com o receptor de maneira confiável (texto não humorístico) ou comunicação não confiável (texto humorístico). A insegurança da comunicação em um texto humorístico sempre vem do fato de que o locutor parece estar falando sobre algo, formando um determinado mundo textual ou quadro de referência com determinados tópicos de discussão, e de repente o destinatário fica surpreso porque se vê “jogado” em outro mundo, geralmente chamado de "gatilho" na teoria do humor. Geralmente, esse tipo é mesclado com outros tipos em gêneros humorísticos. Tipologia 7: texto literário e não literário. Embora seja difícil definir o que é e o que não é um texto literário, todos reconhecem que ele existe, e há inúmeros textos na sociedade e na cultura assim classificados. Para qualificar os textos como literários, nos limitaremos a dizer que os textos literários recebem as perspectivas de produtores e receptores, traduzindo em estética o que o texto (os produtores) tem ou realiza (os receptores). As obras literárias são geralmente consideradas romances, contos, poemas de todos os tipos, crônicas, épicos, peças teatrais, etc. Tipologia 8: texto realista e ficcional. Este é o ponto de vista, seja o conteúdo do texto visto como algo real, que realmente aconteceu, ou algo criado pela imaginação das pessoas. Por exemplo, biografias são consideradas fatos, enquanto romances e contos são ficção, mesmo aqueles históricos ou autobiográficos, que misturam eventos reais com elementos de ficção. 33 4.2 Subtipo O subtipo é um tipelemento que distingue e pode ser reconhecido como uma classe de texto que é realmente um tipo, criando assim uma forma ou interação. Se trata de uma variação de outro que lhe é superordenado e que se caracteriza por uma perspectiva única, que se enquadra no subtipo. Os subtipos do tipo diferem entre si com base em alguns fatores, como na observação em pesquisas. Os fatores e as características distintivas dos subtipos nem sempre são os mesmos. Existem dois tipos: o injuntivo e o dissertativo. Subtipos do injuntivo No texto injuntivo há enunciados na perspectiva de fazer um enunciado após outro, a finalidade é dizer uma ação necessária e desejável, dizer o que e/ou como fazer; encoraja a compreensão da situação. Portanto, o interlocutor é aquele que faz o que se exige, o quese ordena ou o que se deseja que seja feito. Quanto ao tempo de referência (o tempo em que o mundo real se passa em sua ordem cronológica), a ordem se caracteriza pela indiferença à simultaneidade ou não das situações, e o tempo do enunciado (o momento da criação/recepção, que pode ou não coincidir com o referente) é sempre anterior ao tempo de atraso para a realização da situação, ou seja, todas as formas verbais basicamente têm o futuro. Todos os subtipos têm essas características. O injuntivo inclui as seguintes variedades ou subtipos: ordem, solicitação, solicitação, conselho, prescrição e alternativa. Subtipos do dissertativo Na dissertação, o conferencista está na perspectiva da consciência/conhecimento, desprendimento de tempo e espaço, cuja finalidade é refletir, explicar, avaliar, conceituar, revelar ideias, compartilhar, informar, relacionar análises e sínteses de apresentações. Portanto, o interlocutor é como um ser pensante que raciocina. Quanto ao tempo de referência, o dissertativo se caracteriza pela simultaneidade das situações expressas no texto, podendo o tempo de leitura ser posterior ao fato, simultaneamente ou antes. Em quase todos os textos dissertativos, o tempo de enunciado é o mesmo da referência. Apesar disso, devido à abstração de tempo e espaço inerente à dissertação, o momento presente não é considerado tempo verbal, mas universal, pois as situações 34 se apresentam como válidas a qualquer momento. A dissertação apresenta as seguintes variantes ou subtipos: o expositivo e o explicativo. O expositivo funciona apresentando os textos de várias formas de conhecimento sem oposição (o que levaria à argumentação, sustentação, refutação e negociação de posições) e não como um problema (ocorrendo no explicativo) (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004). No expositivo, segundo Fávero e Koch (1987), a análise e/ou síntese de representações conceituais em uma ordem lógica, às quais podemos ou não acrescentar alguns julgamentos, organiza reflexões sobre um ponto conhecido por meio de generalização e categorias de generalização e especificação, que pode ocorrer em um modelo dedutivo (generalização-especificação), indutivo (especificação-generalização) ou dedutivo-indutivo (generalização-especificação- generalização). Portanto, a exposição apresenta informações de forma coerente e lógica. 4.3 Gênero A terceira natureza das categorias de texto, ou o terceiro elemento principal, é um gênero reconhecido e caracterizado pela realização de uma certa tarefa social comunicativa, a satisfação das necessidades de uma comunidade comunicativa ou esfera social de atividade. Gênero é um instrumento linguístico de atividade social, criado ao longo da história por grupos sociais, usualmente chamados de “comunidades discursivas”, como, por exemplo, comunidades religiosas, jornalísticas, industriais e empresariais, de entretenimento, militares, policiais, acadêmica científica, legal/forense, educação escolar, arte-literária, etc. Os membros dessas sociedades sabem e entendem como as espécies tendem a participar socialmente por meio da linguagem em diferentes áreas de atividade social. Assim, os gêneros são convenções prévias sobre como a linguagem é usada para funções sociais, e o conhecimento delas é importante para os membros das sociedades e culturas. Gêneros são a essência de categorias de textos já existentes e difundidas em sociedades e culturas, os tipos, os subtipos e as espécies constituem os gêneros e só ocorrem dentro deles. 35 4.4 Espécie A espécie, o quarto tipelemento, é identificada e caracterizada pelos aspectos formais da estrutura e pela superfície linguística e/ou aspectos de conteúdo. Uma espécie pode ser associada a um tipo ou a um gênero. São exemplos de espécies: a) história e não-história (espécies do tipo narrativo). Uma narrativa histórica consiste em episódios de conflito conectados por relações causais e temporais que se movem em direção à resolução e ao resultado. Já uma narrativa não histórica contém uma série de episódios sem conflitos, que se movem em direção a uma resolução; b) textos em prosa e em verso; c) históricos, indianistas, fantásticos, psicológicos, regionalistas, de capa e espada, de ficção científica, policiais, autobiográficos, eróticos, etc. (para contos ou romances); d) memorando, telegrama, carta, bilhete, ofício, etc. (espécies do gênero epistolar/correspondência); e) acróstico, balada, epitalâmio, ditirambo, écloga, idílio, soneto, haicai, elegia (espécies do tipo lírico). Caracterização das categorias de texto As categorias de texto são caracterizadas principalmente por cinco critérios: conteúdo do assunto; estrutura composicional; estilo; propriedades linguísticas da superfície do texto; propósito ou função e condições de produção. Conteúdo temático é o que pode e costuma ser dito em uma categoria textual, que geralmente nos dá o tipo de informação que um tipo/subtipo, gênero ou espécie costuma veicular, ou transmitir. São básicos os quatro tipos na composição dos textos: a) na narração, organizar fatos ou eventos em episódios, que contenham indicações e detalhes (muitas vezes em forma de descrição) de lugares, tempos, participantes/atores/personagens e eventos (ações, eventos ou fenômenos ocorridos); b) na descrição, o conteúdo é sempre sobre a localização do objeto (opcional), com suas propriedades (cor, forma, tamanho, textura, etc.), seus componentes ou partes; 36 c) na dissertação, o que é contado e apresentado como informação são as entidades, enunciados e as relações entre eles, em particular modalidade, causalidade, oposição, adição (ou conjunção), disjunção, especificação/apêndices/ilustrações, provas, etc. d) na injunção indica sempre o que fazer e/ou como fazer. Quando falamos de gêneros, alguns exemplos de conteúdos temáticos são: a) convite, intimação, convocação, aviso destinado a solicitar a presença de alguém. Sempre inclui uma solicitação para um local e/ou evento (comemoração, festa, show/apresentação, encontro, reunião, etc.) e finalidade (divertir-se, aprender, decidir as coisas, desempenhar um papel específico em processos judiciais, etc.) (TRAVAGLIA, 2002). Alguns itens de conteúdo aparecem em todos os quatro tipos, como: quem solicitou a participação, quando e onde você participa, do que você participa: cerimônia, festa, forma de apresentação (atuação, conferência, etc.), curso, realizar algo, aula, etc. O chamado pode configurar engajamento (reunião, declaração, compromisso) ou não engajamento (convite), dependendo de quem está participando, e está relacionado às condições de produção. Dependendo da espécie, mais detalhes sobre o conteúdo de alguns gêneros podem ser observados na caracterização. Por exemplo, para convites, dependendo do programa para o qual é convidado, definir o tipo de convite que afeta o conteúdo: casamento, aniversário, apresentações, cursos, eventos, etc. Os convites de casamento caracterizam-se, por exemplo, por um número mínimo de referências: quem vai casar, local e data do casamento e se haverá recepção cerimonial após um evento religioso ou civil. Por outro lado, um convite para palestra deve conter algum outro tipo de informação: tipo de apresentação (apresentação, conferência, etc.), conteúdo/tema/assunto (se aplicável) (por exemplo, conferência, curso), orador, se o evento irá ser pago ou não. b) Tavares (1974), procurando distinguir e diferenciar a epopeia ou poema heroico, utilizou o critério do conteúdo, afirmando que uma epopeia é "uma narrativa de um grande acontecimento heroico de interesse nacional". Portanto, um fato histórico ou mítico que capturou o imaginário popular, embora de importância secundária, caracterizando o critério, é qual conteúdo é dito e sua relevância para a nação. 37 Em relação ao conteúdo dos gêneros,podemos citar alguns exemplos. Vejamos: a) as narrações do tipo história contêm episódios que parecem estar conectados e se movem em direção a resultados ou soluções, enquanto as narrações do tipo não história têm texto justaposto, contendo episódios desconexos que levam a histórias, resoluções e resultados; b) descrições estáticas envolvem descrever o que são objetos e seres, e caracterizá-los enquanto descrições dinâmicas e eventos (danças, tempestades, festivais); c) no caso dos tipos líricos de poesia, alguns desses tipos diferem em ambos os conteúdos: a) o ditirambo é um poema que celebra a alegria da mesa, principalmente ao brindar de forma alegre e exuberante; b) as elegias contêm composições de luto e tristeza; c) epitalâmio é uma composição destinada a celebrar casamentos e bodas; d) os poemas bucólicos descrevem o caráter da vida rural e podem ser divididos em idílio (que é monológico) e écloga (que é dialógica); e) o genetlíaco comemora o nascimento e aniversários. 5 ESTRUTURA E PRODUÇÃO DE PARÁGRAFOS O parágrafo é uma unidade relacionada à estrutura textual e também responsável por conferir unidade de sentido ao texto. Do ponto de vista de Adam (2018), o parágrafo pode ser definido como um segmento gráfico intermediário de estruturação, isto é, ele tanto está ligado à textura microtextual, inter e transfrástica quanto à macroestrutura hierarquizante dos planos de texto. De acordo com o linguista, além da noção de unidade temática, é na escala de uma sequência de parágrafos que a continuidade e a progressão temática fazem sentido, ou seja, é na relação com outras porções de texto, como proposições e sequências, que o todo textual se organiza (ADAM, 2018). Os parágrafos são um dos elementos mais importantes de qualquer texto e têm uma função específica. Uma má compreensão da formação do parágrafo não afetará apenas a estrutura superficial do texto, mas também sua consistência e coerência, que são outros dois elementos 38 essenciais. Fonte: mundoeducacao.uol.com.br 5.1 Estrutura e características de um parágrafo Para compor um parágrafo, é primordial compreender que ele é composto por uma ou mais frases. Assim, a união dos períodos, sejam eles simples ou composto formam um parágrafo. Por exemplo, em um parágrafo de um texto argumentativo, um período simples (também chamado de tópico frasal) é proposto primeiro com a ideia central do texto e, em seguida, com uma série de períodos compostos com argumentos. Dessa forma, o parágrafo fica da seguinte forma: ATENÇÃO ao resumo dos parágrafos 39 Fonte: mundoeducacao.uol.com.br Antes de ser um bom escritor, é preciso ser um bom leitor. Sabemos que a leitura nos permite realmente entender como a linguagem funciona, e que quando nos tornamos leitores ávidos, as regras da gramática são internalizadas. É um processo que proporciona aprendizagem organizada. Além da leitura, é sempre útil conhecer algumas técnicas de texto estruturado, tema que ainda gera muitas dúvidas na hora de escrever. Em relação à extensão dos parágrafos, vale ressaltar que não se trata de uma receita pronta, pois a habilidade do escritor determinará o tempo de deslocamento de uma posição para outra, para a compreensão total do discurso, podemos então dizer que, um parágrafo é um pequeno texto dentro do texto. Nestes termos, temos: Fonte: adaptada de portugues.com.br Tópico frasal (ideia central - período simples) + argumentos (períodos compostos - coordenação e subordinação) Introdução – também denominada de tópico frasal, constitui-se pela apresentação da ideia principal, feita de maneira sintética e definida pelos objetivos aos quais o emissor se propõe. Desenvolvimento – fundamenta-se na ampliação do tópico frasal, atribuído pelas ideias secundárias, reconhecidas na exposição dos argumentos com vistas a reforçar e conferir credibilidade ora em discussão. Conclusão – caracteriza-se pela retomada da ideia central associando-a aos pressupostos mencionados no desenvolvimento, procurando arrematá-los de forma plausível. Pode, na maioria das vezes, constar-se de uma solução por parte do emissor no que se refere ao instaurar dos fatos. 40 Quanto aos textos narrativos, os parágrafos são frequentemente caracterizados por uma predominância de verbos de ação que descrevem a situação dos personagens ao longo do desenvolvimento do enredo, bem como indicações de elementos ambientais relevantes para a trama: quando, por que, com quem ocorreu, o fato etc. Nesta modalidade também é atribuído à transcrição do discurso direto, especialmente nas falas dos personagens. Já referência aos textos descritivos, seu uso está associado a uma apresentação detalhada dos objetos descritos, como pessoas, animais, lugares, obras de arte, etc., para permitir que o leitor crie a cena em sua mente. Além dessas apresentações, são usados propósitos retóricos destinados a descrever as características de algo, há a preponderância de verbos de ligação e uso de adjetivos. Quanto aos tipos de parágrafo, eles variam de acordo com a finalidade do texto, podendo ser: Argumentativo: parágrafos de texto em que predomina a tipologia argumentativa, isto é, a defesa de uma tese/ponto de vista acerca de um tema. Fonte: brainly.com.br Narrativo: presente em textos predominantemente narrativos, como a crônica, o conto e o romance. Nele, prevalecem as características da narração e fazem-se presentes os elementos da narrativa (narrador, tempo, espaço, personagem e enredo). 41 Fonte: mesadeestudo.com Descritivo: prevalece a descrição de características ou coisas, parágrafos repletos de adjetivos, verbos de ligação e orações coordenadas, dos quais apresentam uma descrição e/ou apreciação de objeto, pessoa, lugar, acontecimento, dentre outros. Fonte: mesadeestudo.com Ainda dependendo da dimensão e do tipo de texto, os parágrafos são classificados em: Longos: muito utilizado em textos acadêmicos, monografias, teses e artigos, pois apresentam conceituações, definições e exemplificações. 42 Fonte: SILVA (2018). Médios: normalmente encontrado nos meios de comunicação como revistas e jornais. Esse tipo de parágrafo prende a atenção do leitor, uma vez que suas ideias são apresentadas de maneira menos extensa. Fonte: mesadeestudo.com Curtos: encontrados nos textos infantis ou publicidades. Constituídos por poucas palavras e, no caso de publicidades, uso de frases de destaque. Fonte: mesadeestudo.com 5.2 Estrutura textual Segundo Galeano (2001), a palavra “texto” vem da palavra latina textum e significa “tecido”. Isso significa que, quando alguém escreve, ele tece pensamentos com palavras. Ele procura evitar falhas e distorções para que seu propósito comunicativo seja totalmente completo. Pode até parecer um tanto complexo, mas um texto pode ter uma ou milhares de palavras, porque ele varia em estilo e tamanho. Pode ser oral ou escrito, verbal ou não verbal; pode ser formal ou coloquial; ou quem sabe uma imagem. Além disso, existem vários tipos de texto: literário, técnico, oficial, comercial, jornalístico, filosófico, didático, etc. Em todos os tipos, porém, deve ser apresentado um significado completo para formar um sentido claro. Tal unidade pode ser alcançada através do uso de duas dimensões do texto: clareza e concisão. Além disso, todos os tipos possuem uma estrutura básica que os mantém organizados para que sejam imediatamente 43 compreendidos e reconhecidos como texto. Essa estrutura é dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão. Seja ele escrito ou não. A primeira parte do texto, a introdução, conduz o leitor ao tema em discussão. Nesse ponto,