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América I – 13.10.2016
Questões de prova:
1 - Analise as diversas conquistas tratadas por Restall, Garavaglia e Raminelli.
Numa análise ampla do que seria a ‘Conquista’ da América Hispânica, temos 3 visões nestes 3 textos propostos. Todos os 3 vão relatar a conquista, só que em momentos, formas e enfoques distintos. Como um conjunto que se completa a fim de traçar um panorama de mais de 2 séculos.
Começando por Matthew Restall em seu livro Sete Mitos da Conquista Espanhola. Ele estabelece um diálogo entre os diferentes tipos de explicações sobre a conquista formuladas ao longo dos séculos XVI ao XX, comparando os escritos gerados durante o processo (relatos dos próprios conquistadores, cartas de religiosos, etc) com aqueles formulados em produções historiográficas mais recentes. Sugere interpretações diferentes e possibilita uma discussão com outras conclusões, não definitivas como ele mesmo saliente, mas mais amplas, de como teria ocorrido as “conquistas espanholas”. 
Analisando os capítulos 3 e 4, onde Restall trata do mito do conquistador branco e do mito da conclusão, temos um bom panorama de como foi o princípio das conquistas e seu reflexo na Espanha através dos relatos que chegavam. Na tese de que poucos soldados venceram milhares de nativos (o mito do conquistador branco), Restall coloca que os espanhóis sempre foram minoria no terreno das batalhas na América, porém, que tiveram constante ajuda de grupos nativos, já que estes nunca formaram um grupo homogêneo e unido. A rivalidade entre os nativos era antiga; povos eram subjugados e obrigados a pagar impostos aos que os dominavam. Daí acordos serem firmados com os espanhóis para a defesa de interesses comuns. Além disso, em muitas situações os povos nativos eram tão estrangeiros entre si quanto o era a figura do espanhol. Além do nativo, o negro africano foi outro aliado fundamental para o espanhol. Os escravos africanos ocuparam variadas funções tanto nos campos de batalha como na organização administrativa e de apoio. Argumenta o autor que as fontes hispânicas ao mesmo tempo revelam e ignoram a participação negra, uma vez não fornecerem o número e o nome daqueles trazidos pelas Companhias, mas sendo possível ter informações sobre eles através de relatos de incidentes que, para Restall, merecem a atenção dos historiados por se confrontarem ao discurso oficial que omite e oculta a participação negra na denominada “conquista espanhola. E além de tudo isto, ainda existiu uma grande mortalidade dos nativos por doenças trazidas pelos espanhóis, aos quais eles não tinham resistência, o que se tornou importante no conflito civil Inca, já que as doenças precederam os espanhóis. Na continuação, Restall vai tratar da comunicação entre os primeiros conquistadores e a coroa, e a tese do mito da conclusão (a questão de que a conquista e a colonização da América pelos espanhóis tenham sido realizadas rapidamente por todo o continente). Menciona o autor que não bastava informar sobre as descobertas no novo mundo à coroa, era preciso deixar claro que a empreitada era viável por meio da exploração do ouro e da prata, daí os exageros nas descrições e prestações de contas. Isso teria levado à criação do mito da conquista rápida, pacífica e geral desse território fabuloso e cheio de riquezas. O discurso religioso teria amparado essa idéia na medida em que tais argumentos só viriam a comprovar o plano divino posto em prática pelo rei e seus agentes. O autor diz que a rebeldia e resistência dos nativos à invasão deixam claro que não foi nem rápida nem fácil a “missão” dos espanhóis. Várias pequenas nações nativas ainda seriam encontradas intocadas pela conquista muitos e muitos anos depois das primeiras batalhas e dos relatos de sucesso
Já com Juan Carlos Garavaglia em seu livro América Latina, De los Orígenes a la Indenpendencia (capítulo 11), conseguimos perceber um tempo um pouco mais a frente neste longo processo da conquista. A instabilidade e precariedade dos pactos e alianças firmados entre os grupos distintos de conquistadores, os senhores nativos e, (neste período) os poucos representantes da Coroa. E o que viria a se tornar isto mais à frente.
Garavaglia vai discorrer sobre esta ordem recém implantada pelos primeiros conquistadores e as atitudes da Coroa para fazer-lhes frente. A cresça de que suas conquistas lhe garantiriam benefícios inalienáveis, o domínio e o governo das terras conquistadas “à custa de seu sangue e esforços” faz com que os primeiros conquistadores estabeleçam quase que um processo senhorial (feudal) entre os nativos, o que desperta uma reação da Coroa (com várias medidas) para dissolver este poder, inclusive confrontar estes velhos conquistadores com a grande leva de novos espanhóis que afluíram para a América após os duros anos de guerra. Estes novos atores chegam com o respaldo da Coroa e entram em conflito direto com os velhos senhores, inclusive ignorando ou mesmo quebrando os pactos e alianças que mantinham a estabilidade das relações, fazendo por vezes eclodirem revoltas e conflitos. Mesmo tendo que ceder as vezes, a Coroa consegue estabelecer um regular afluxo de bens a seus cofres. Chegam os vice-reis e se forma toda uma estruturação política e funcional na América. As Leis Novas serão gradativamente colocadas em pratica e começaram a regular as encomiendas e repartimientos de nativos, sua transmissão e usofruto. E mesmo os Curacas/Caciques estando enfraquecidos e os Ayllus desestruturados, são jogados dentro de um complexo processo de responsabilidades individuais e coletivas, políticos e jurídicos, que passa por cima de suas estruturas e tradições.
Garavaglia, vai deduzir que, se na fase inicial da conquista os primeiros conquistadores apareceram como os principais senhores da guerra e os seus atos e ações parecem ter sido os determinantes da situação, aproveitando-se de conjunturas muito especiais dentro do mundo indígena e contando com a colaboração fundamental de muitos deles, como Restall também frisa. Mas a situação começou a se transformar em alta velocidade, com problemas internos dentro de seus próprios grupos e contra os representantes da Coroa e novos colonos que pretendia cortar seus privilégios e aproveitar-se de seus bens já adquiridos, numa guerra que eles acabariam perdendo em pouco tempo. Os Curacas/caciques, por sua parte, diante da pressão de seus acordos e pactos rompidos e o incremento dos requerimentos oficias, se veem em condições muito pouco vantajosas e desestruturantes.
Nativos conquistados e conquistadores derrotados, vai dizer Garavaglia, é uma das possíveis leituras globais do período, mesmo que cada área tenha se dados de um jeito, em ciclos e fases diferentes. 
Ele ainda vai discorrer sobre os descendentes destes primeiros conquistadores, muitos mestiços por conta da necessidade do casamento imposta pela Coroa, para se manter as encomiendas e repartimientos dos nativos. Uma campanha de extinção destes títulos de encomienda será feito pela Coroa estes herdeiros se voltaram contra isto até o quanto puderem, mas as Leis Novas são colocadas em pratica, com todo apoio dos novos colonizadores e de toda a estrutura funcional que a Coroa manda para a América.
E com Ronald Raminelli em A Monarquia Católica e os Cabildos do Novo Mundo conseguimos ver de forma mais detalhada o que Garavaglia começa a delinear.
Como uma ‘conquista dos conquistadores’ e mesmo uma reconquista de espaço e rumo para a Coroa Espanhola na América, são dispostas as formas políticas, econômicas e jurídicas desenvolvidas no decorrer dos sec. XVI e XVII na principal instância de poder local, os cabildos seculares, as câmaras municipais da época.
Sendo inicialmente um local apenas para poucos privilegiados e gerando com isto uma aristocracia/elite local, inicialmente foram ocupados pelos espanhois residentes, os primeiros conquistadores e seus descendentes, os que detinham as encomiendas, haciendas, postos militares e burocráticos (mais tarde apareceriam também os comerciantes, nos cabildos das maiores cidades). “Os cabildosnasciam junto com as comunidades e eram portanto, a sua primeira instituição, instrumento de governo dos espanhóis estabelecidos nas paragens americanas. Os municípios portanto, constituíam o principal espaço político das elites.” As elites de poder, portanto, estavam submetidas às regras de funcionamento dos cabildos. 
Ser um Vecino, um cidadão que poderia votar e ser votado, não era para todos. Além de terem que cumprir regras e pormenores, ainda seriam avaliados por seus pares para obterem tal deferencia. Ser um vecino e fazer parte do cabildo inicialmente era quase um titulo honorífico, capaz de promover honra e prestígio, além de privilégios e bens. E nos primeiros tempos, os vecinos basicamente eram os encomienderos castelhanos.
Com as pretensões da monarquia de diminuir a influência e poder dos primeiros conquistadores, tentava ampliar, segundo regras bem elitistas o número de súditos que participavam do poder local. Com a diminuição das encomiendas, a entrada de novos castelhanos e as vendas de cargos dentro do cabildo, o poder dentro destas câmaras se diversifica, mas também enfraquece. Os homens enriquecidos com o comercio passaram cada vez mais ao poder em detrimento dos descendentes dos conquistadores.
E mesmo passando por crises internas e econômicas, é inegável quanto a coroa consegui se impor dentro da America, pois mesmo a distância manteve a capacidade de nomear, vender, vigiar e contar com leais vassalos. Com tudo isto, os cabildos vão podendo poder e assim deixando de ser interessante, fazendo as elites tentarem influenciar o poder via as audiências, as instâncias superiores de poder.
Num apanhado geral, conseguimos ver com Restall os primeiros movimentos dos conquistadores, suas manobras para conseguirem se aproveitar das conjunturas políticas existentes se utilizando da força de nativos contra nativos e negros africanos para se imporem e conquistarem e a partir daí tomarem para si o que acham que eram seu direito legitimo, relatando aos monarcas as maravilhas da conquista, sua paz importa e os proveitos que tudo isto teria para eles (e para si mesmos). Com Garavaglia vamos um pouco mais a fundo neste segundo momento, quando a monarquia se volta para o poder que os conquistadores detêm na américa e começa a cerceá-los. Com a chegada dos novos conquistadores/colonizadores, mais leais e respaldados pela Coroa, as disputas por terras e, principalmente, por nativos entre estes dois grandes grupos de castelhanos da outra dimensão à conquista. E por último com Raminelli vemos com maior detalhe como se deu o embate politico dentro dos cabildos seculares. A grande força que a monarquia demostra conseguindo, mesmo a distância e com algumas dificuldades, se impor e controlar os rumos econômicos e políticos da colônia modificam e legitimando o poder a quem lhe parecesse melhor no momento. Seja delegando cargos e controlando o poder, seja vendendo estes mesmos cargos. Mudam-se os rumos diminuindo o poder dos herdeiros dos primeiros conquistadores em detrimentos dos homens enriquecidos via as haciendas, mineração e comercio em geral, seria a conquista dos conquistadores.
2 - Explique porque os novos imigrantes espanhóis competiam com os conquistadores no controle das encomiendas e nos cargos dos cabildos.
Ter terras sem ter quem trabalhasse nelas não valeria de nada, com isto, os novos conquistadores/colonizadores que chegaram à América depois dos anos de guerra, Senhores mais prestigiados pela Coroa, que os viam mais leais a si do que os primeiros conquistadores que, com suas alianças e pactos com as elites nativas locais criaram quase que uma estrutura de vassalagem feudal em torno de si, se viram na na posição de forçar a diminuição ou conquistar as encomiendas e repartimientos dos nativos que estavam nas mãos dos primeiros conquistadores, com as bênçãos da coroa.
Com vai ressaltar Garavaglia, com a cresça de que suas conquistas lhe garantiriam benefícios inalienáveis, o domínio e o governo das terras conquistadas “à custa de seu sangue e esforços”, os primeiros conquistadores e seus descendentes tentaram a todo custo barrar isto, mas a situação começou a se transformar em alta velocidade, com problemas internos dentro de seus próprios grupos e contra os representantes da Coroa e estes novos colonos, numa guerra que eles acabariam perdendo em pouco tempo.
Mesmo tendo que ceder as vezes, a Coroa consegue estabelecer um regular afluxo de bens a seus cofres, faz chegam os vice-reis e forma toda uma estruturação política e funcional na América, via os cabildos seculares, as câmaras municipais da época. As Leis Novas serão gradativamente colocadas em pratica e começaram a regular as encomiendas e repartimientos de nativos, sua transmissão e usofruto
Raminelli vai ressaltar a importância dos cabildos desde o início: “Os cabildos nasciam junto com as comunidades e eram portanto, a sua primeira instituição, instrumento de governo dos espanhóis estabelecidos nas paragens americanas. Os municípios portanto, constituíam o principal espaço político das elites.” As elites de poder, estavam submetidas às regras de funcionamento dos cabildos. 
Nada melhor do que fazer parte do poder que regula as encomiendas e repartimentos para conseguir privilégios e estruturação dos seus próprios ganhos. Por isto a disputa tão acirrada dos novos colonizadores em conseguir se colocarem como pares votantes e sendo votados dentro dos cabildos, até seu esvaziamento de poder mais para o sec. XVII.

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