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1 Profª Daysi Mendes Gestão de Inovação e Tecnologia Aula 4 Conversa Inicial Nesta aula, nosso objetivo é identificar aspectos relevantes relacionados à tecnologia, sua gestão e seus processos Para tanto, serão abordadas as seguintes informações: Os dois tipos de mudança tecnológica – science-push e demand-pull Quais são os efeitos e impactos da tecnologia nas empresas e na sociedade? Como se dá a gestão da pesquisa tecnológica no Brasil? O que é o processo de transferência de tecnologia? O que é o processo de absorção de tecnologia? Processos de mudanças tecnológicas “Tecnologia é, antes de mais nada, conhecimento e, mais especificamente, conhecimento útil, no sentido de ser aplicado, ou aplicável, às atividades humanas - especialmente, mas não exclusivamente àquelas ligadas aos processos de produção, distribuição e utilização de bens e serviços - e de contribuir para a elevação quantitativa e/ou qualitativa dos resultados de tais atividades e processos” (Rosenthal; Moreira, 1992, p. 147) 2 Uma mudança tecnológica devida ao science-push está associada à difusão do progresso técnico, de acordo com o qual a modernização supõe a aplicação de conhecimentos científicos modernos à produção. Neste caso, o desenvolvimento econômico advém dos avanços científicos, que seriam determinados por fatores externos ao sistema econômico Science-push “A abordagem demand-pull supõe que as unidades produtivas primeiro reconhecem suas necessidades para, em seguida, tentar satisfazê-las por meio de esforços tecnológicos. Assim, a mudança tecnológica é concebida como determinada pelas condições do sistema econômico” (Cribb e Cribb, 2007, p. 8) Demand-pull Diferenças entre science-push e demand-pull Descrição/atributo Science-push Demand-pull Incerteza tecnológica Alta Baixa Despesas com P&D Alta Baixa Duração P&D Longa Curta Integração cliente e P&D Difícil Fácil Tipo de pesquisa de mercado Qualitativa- exploratória Quantitativa- levantamento Tipo de processo inovativo Tentativa e erro/ Aprendizado Fato estruturado Adaptado de Maçaneiro e Cunha, 2011, p. 31 Usa-se, no Brasil, o modelo linear, de acordo com o qual se imagina que as inovações devem surgir na academia por intermédio de pesquisas básicas que podem se transformar em pesquisas aplicadas para que, somente então, sejam transferidas para o setor produtivo Efeitos da inovação tecnológica As organizações podem ou não ser bem-sucedidas na realização de seus objetivos com a implementação de inovações, ou as inovações podem ter outros efeitos adicionais além dos que motivaram inicialmente a sua implementação (OCDE, 2005) Efeitos das inovações 3 Reposição de produtos que se tornaram obsoletos Aumento da gama de bens e serviços Desenvolvimento de produtos não agressivos ao meio ambiente Competição, demanda e mercados Aumento ou manutenção da parcela de mercado Entrada em novos mercados Aumento da visibilidade ou da exposição dos produtos Tempo reduzido de resposta às necessidades dos consumidores (Adaptado de OCDE, 2005, p. 124) Competição, demanda e mercados Aumento da qualidade dos bens e serviços Aumento da flexibilidade de produção ou provisão de serviços Aumento da capacidade de produção ou de provisão de serviços Redução dos custos unitários de produção Redução do consumo de materiais e energia Redução dos custos de concepção dos produtos (...) Produção e distribuição (...) Redução dos tempos de produção Obtenção dos padrões técnicos industriais Redução dos custos operacionais para a provisão de serviços Aumento da eficiência ou da velocidade do fornecimento e/ou distribuição de bens ou serviços Melhoria das capacitações de TI (Adaptado de OCDE, 2005, p. 124) Produção e distribuição Melhoria da comunicação e da interação entre as diferentes atividades de negócios Melhoria do compartilhamento e da transferência de conhecimentos com outras organizações (...) Organização do local de trabalho (...) Melhoria da capacidade de adaptação às diferentes demandas dos clientes Desenvolvimento de relações fortes com os consumidores Melhoria das condições de trabalho (Adaptado de OCDE, 2005, p. 124) Organização do local de trabalho 4 Positivos Efeitos na sociedade Negativos Gorodenkoff/Shutterstock Lightspring/Shutterstock “No que se refere aos efeitos citados pela OCDE para as empresas, torna-se necessária a aceleração de processos que propiciem um ambiente favorável ao estabelecimento de um novo ciclo de expansão, integrado por fatores dinâmicos tais como: centros de pesquisa e desenvolvimento, ambiente cultural aberto, recursos humanos bem formados e organizações públicas e privadas flexíveis” (Lotufo, 2009, p. 41) Gestão da pesquisa tecnológica Pesquisa tecnológica é aquela atrelada à demanda real de usuários, consumidores e do mercado de um modo geral, de forma que, ao atender essa demanda, possa ser gerado valor econômico A pesquisa tecnológica O valor econômico que provém da pesquisa tecnológica está condicionado não ao domínio do conhecimento, mas à competência em utilizá-lo para alcançar a inovação pretendida A pesquisa tecnológica A pesquisa tecnológica utiliza o acervo de conhecimentos existentes, tanto científicos, quanto tecnológicos e culturais para proporcionar satisfação ao consumidor “Esse acervo está disponibilizado na literatura técnica e nos registros de patentes e pode ser acessado desde que se disponha de recursos humanos qualificados” (Nicolsky, 2010, p. 36) A pesquisa tecnológica 5 Posturas antagônicas entre os homens de ciência e os profissionais da tecnologia ainda persistem e somente quando eles se relacionam é que se observam avanços e benefícios para a sociedade Cabe aos administradores de ciência & tecnologia estabelecerem essa correlação Ciência versus tecnologia Em 2016, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) propôs a revisão e atualização da Estratégia Nacional de CT&I, para o período 2016-2022 Tal documento contém a orientação estratégica de médio prazo para a implementação de políticas públicas de CT&I no país, em busca de emparelhamento com as nações mais desenvolvidas no campo da CT&I Estratégia Nacional de CT&I Principais atores do SNCTI P O LÍ TI C O S A G ÊN C IA S D E FO M EN TO O P ER A D O R ES D E C T& I PODER EXECUTIVO PODER LEGISLATIVO SOCIEDADE MCTIC Outros ministérios Agências reguladoras Congresso nacional Assembleias estaduais ABC CNISBPC Secretarias estaduais e municipais Confap & Concecti MEI Centrais sindicais CNPq Capes Finep BNDES Emprapii Fap Universidades Institutos federais e estaduais de CT&I Institutos de pesquisa do MCTIC Institutos nacionais de C&T (INCT) Instituições de CT&I (ICT) Incubadoras de empresas Parques tecnológicos Empresas inovadoras MCTIC (2016, p. 14) O grupo de operadores mais relevante é aquele relacionado com os processos de desenvolvimento tecnológico e de inovação empresarial Esses operadores podem compor ecossistemas de inovação circunscritos territorialmente, nos moldes dos polos tecnológicos ou clusters de alta tecnologia Operadores de pesquisa tecnológica Nesses ambientes, além da proximidade territorial, as instituições podem contar com o apoio de universidades, tal como se constata em parques tecnológicos e em incubadoras de empresas As entidades também podem compor outros ecossistemas de inovação, com intensidades variadas de relacionamento entre startups e empresas inovadoras já consolidadas no mercado Operadores de pesquisa tecnológica “Esses atores privados utilizam diversos instrumentos disponíveis no SNCTI, seguindo as tendências internacionais de apoio à inovação, e apresentam como desafio contínuo para a expansão do SNCTI o aumento da interação entre universidades e empresas” (MCTIC, 2016, p. 18) Operadores de pesquisa tecnológica 6 “A Embrapii é uma organização social cuja missão é apoiar projetosempresariais que tenham como base a inovação por meio da cooperação universidade-empresa, utilizando-se de mecanismos ágeis e transparentes de contratação” (MCTIC, 2016, p. 45) A Embrapii A Embrapii atua por meio da cooperação com instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas ou privadas, tendo como foco as demandas empresariais e como alvo o compartilhamento de risco na fase pré-competitiva da inovação A Embrapii “Ao compartilhar riscos de projetos com as empresas, tem objetivo de estimular o setor industrial a inovar mais e com maior intensidade tecnológica para, assim, potencializar a força competitiva das empresas tanto no mercado interno como no mercado internacional” (Embrapii, 2018) A Embrapii Selecionar adequadamente projetos a serem executados por determinada instituição ou centro de pesquisa e desenvolvimento Executar esses projetos com a máxima eficiência no que se refere ao uso dos recursos humanos, financeiros e materiais Fazer com que os resultados obtidos por meio desses projetos sejam de fato aplicados (Robert, 1983, p. 3) Etapas da gestão Transferência de tecnologia A transferência de tecnologia pode ser conceituada como um processo (ou seja, um conjunto de etapas) pelo qual o conhecimento tecnológico passa de uma fonte para um receptor O que é transferência de tecnologia 7 Esse processo pode ser realizado de maneira formal, por meio de licenciamento ou cessão de um ente que detém uma propriedade intelectual para um indivíduo, empresa, ou até mesmo um governo Processo de transferência Pode também acontecer de maneira informal, sendo os canais de transferência publicações e relatórios, a troca de informações informais, o treinamento e a consultoria Processo de transferência Para muitas organizações, a criação de inovações tecnológicas não é factível pela inexistência de recursos como tempo, dinheiro, capacidade produtiva ou conhecimento Há necessidade de elevar seu patamar tecnológico Uma forma que exige menos recursos para se conseguir novas tecnologias é o processo de transferência Benefícios da transferência O fornecedor da tecnologia obtém reconhecimento e aumenta sua reputação por seu potencial de pesquisa e inovação Os receptores da tecnologia podem reduzir os custos incorridos durante o estágio de pesquisa e desenvolvimento, licenciando tecnologia Benefícios da transferência O beneficiário final da transferência de tecnologia é o público, que se beneficia tanto dos produtos que chegam ao mercado quanto dos empregos resultantes do desenvolvimento, da fabricação e da venda de produtos Benefícios da transferência Etapas-chave do processo de TT 1. Identificação do problema ou de uma oportunidade para a busca de uma solução tecnológica 2. Definição da solução que a empresa precisa para solucionar seu problema – demanda tecnológica 3. Levantamento de competências tecnológicas e capacidade de aprendizagem da empresa 4. Levantamento e definição da(s) instituição(ões) parceira(s) que possa(m) oferecer a solução 5. Análise da tecnologia e seleção do canal de transferência 6. Negociação e formalização da parceria 7. Transferência 8. Internalização Dias e Porto (2014, p. 491) 8 Plataforma iTec – desafios e soluções tecnológicas Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) Facilitadores O Brasil é um país technological follower, por ainda não ter desenvolvido seu potencial de inovação tecnológica e ser, portanto, um seguidor ou imitador dos países tecnologicamente desenvolvidos Para reduzir seu hiato tecnológico, o país deve apresentar uma transferência de tecnologia rápida e eficiente Technological follower Absorção de tecnologia O conceito de capacidade de absorção diz respeito à habilidade de reconhecer o valor de um novo conhecimento, assimilá-lo e aplicá-lo a fins comerciais É uma continuidade do processo de transferência de tecnologia, na medida em que o receptor, nesse processo, precisa ter condições de absorver a tecnologia e o conhecimento transferidos Capacidade de absorção A escolha – que engloba avaliação dos cenários tecnológico, político e econômico, comercial, de busca de alternativas, obtenção de dados, análise comparativa das alternativas (e, finalmente, a escolha em si) Ciclo de absorção A contratação – que inclui negociação e formalização do acordo entre a cedente de tecnologia e a recebedora da tecnologia, de acordo com a legislação pertinente, onde estão descritos o objeto do contrato, obrigação das partes, direitos, remuneração etc. Ciclo de absorção 9 A absorção – que se inicia na aquisição da tecnologia, passa por sua implantação, operação e uso, resultando no saber fazer mais a experiência do ter feito (Ozolins, 1991, p. 36) Ciclo de absorção A capacidade de absorção está relacionada a dois aspectos genéricos O esforço tecnológico da empresa As habilidades pessoais dos seus colaboradores Capacidade de absorção A absorção tecnológica é medida por fatos e resultados concretos, passíveis de serem objetivamente aferidos no tempo A absorção tecnológica dificilmente ocorrerá se não houver real necessidade de sua implantação; será tão mais bem absorvida, quanto maiores forem os desafios inerentes aos problemas que a envolverem A absorção tecnológica somente ocorrerá se houver tempo para a sua assimilação Pressupostos da absorção A escolha da tecnologia deverá ser tal, que proporcione possibilidades reais de uso competitivo após sua absorção. Poderá surgir, por razões de causa-efeito, geração de tecnologia própria A absorção de tecnologia deverá agregar valor ao centro tecnológico. Deve-se entender quais as suas reais vocações e qual o seu potencial A absorção tecnológica, em si, resume-se, ao final, em uma questão comportamental Pressupostos da absorção Referências CRIBB, A. Y.; CRIBB, S. L. S. P. Mudança tecnológica: em busca de uma abordagem funcional. In: XLV Congresso da SOBER, Londrina, 2007. Disponível em: <http://www.sober.org.br/palestra/6/1028.pdf >. Acesso em: 5 dez. 2018. DIAS, A. A.; PORTO, G. S. Como a USP transfere tecnologia? Organizações & Sociedade, Salvador, v. 21, n. 70, p. 489-507, July/Sept. 2014. EMBRAPII. Empresa brasileira de pesquisa e inovação industrial. 2018. Disponível em: <https://www.embrapii.org.br/>. Acesso em: 5 dez. 2018. 10 LOTUFO, R. A. A institucionalização de Núcleos de Inovação Tecnológica e a experiência da Inova Unicamp. In SANTOS, M. E. R.; TOLEDO, P. T. M.; LOTUFO, R. A. (Orgs.). Transferência de Tecnologia: estratégias para a estruturação e gestão de Núcleos de Inovação Tecnológica. Campinas, SP: Komedi, 2009. MAÇANEIRO, M. B.; CUNHA, J. C. Os modelos technology-push e demand-pull e as estratégias de organizações ambidestras: a adoção de inovações tecnológicas por empresas brasileiras. Revista Capital Científico, Guarapuava, v. 9, n. 1, jan./jun. 2011, p. 27-41. MCTIC. Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – 2016/2022. Brasília, 2016. Disponível em: <http://www.finep.gov.br/images/a- finep/Politica/16_03_2018_Estrategia_Nacional _de_Ciencia_Tecnologia_e_Inovacao_2016_202 2.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2018. NIKOLSKI, R. Modelo dinâmico para inovações tecnológicas. In: PAROLIN, S. R. H; OLIVEIRA, H. C. de (Org.). Inovação e propriedade intelectual na indústria. Curitiba: SENAI/SESI, 2010. Coleção inova, v. 4, p. 29-42. OCDE. 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