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1 LOGÍSTICA E SUPLLY CHAIN MANEGEMENT 2 Sumário INTRODUÇÃO 4 Nascimento da Logística Empresarial 5 Evolução da logística 6 Conceitos de Logística 10 Conceitos de Suplly Chain Manegement 13 Cadeia de suprimentos 16 Objetivos e mecanismos do SCM 17 Logística em uma economia global 21 As oportunidades oferecidas pelo SCM 24 Implementando o conceito de SCM: barreiras e alternativas de solução 25 Transporte dos materiais 30 CONCLUSÃO 33 REFERENCIAS 35 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior. O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publicações e/ou outras normas de comunicação. Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade. 4 INTRODUÇÃO Com a evolução da humanidade, com suas necessidades e/ou desejos a serem satisfeitos, surge um desafio às empresas: disponibilizar seus produtos, ao menor custo possível, no momento e no local adequado de forma que seus clientes possam consumi-los seus produtos satisfazendo, assim, suas necessidades e/ou desejos. Atualmente, com a economia cada vez mais globalizada e altamente competitiva, as empresas têm enfrentado descontinuidades (Trade-Off = entende-se por trade-off a situação de compensação de custos, em que se busca otimizar os custos individuais para que o custo total seja minimizado) e expectativas muitas vezes conflitantes (fornecedores, clientes, acionistas) que exigem uma gestão organizacional muito mais eficiente e eficaz do que no passado. Trata-se de gerenciar essas mudanças organizacionais de forma que as empresas estejam preparadas para enfrentar tais descontinuidades e expectativas de forma rápida, flexível e que proporcione ganhos a todos os envolvidos. Portanto, tais mudanças exigem novos enfoques e novas formas de administrar. Segundo Christopher (1997) é fundamental que ocorra uma mudança dos paradigmas que, por longo tempo, definiram os padrões de organização industrial. Na sua concepção existem cinco áreas em que a mudança de paradigmas é necessária, e já está acontecendo nas organizações de “classe mundial”. Como se pode inferir, tratam-se de mudanças complexas e difíceis, que certamente exigem muito mais habilidade e rapidez nos processos decisórios, tudo isso em cenários cada vez mais complexos e competitivos. Esta necessidade de mudança de paradigmas gera, por sua vez, a necessidade de mudanças na cultura das organizações, exigindo uma visão cada vez mais holística que as conduzirá a transformações gerenciais profundas que, finalmente, exigirão novas habilidades dos gerentes. Tais necessidades de novas habilidades constituem-se, atualmente, num dos maiores desafios a serem enfrentados pelas organizações logísticas, uma vez que a formação teórico-prática de profissionais na área ainda é incipiente no Brasil e os profissionais 5 que já atuam em alguma das áreas da logística ainda não apresentam a necessária formação teórica que explique suas experiências sob a luz da teoria administrativa e, assim, venha a complementar adequadamente a vivência prática de tais profissionais. Para que se compreenda a importância das mudanças de paradigmas, é importante entender que são as “quebras” de paradigmas que permitem às ciências evoluírem e, consequentemente, gerarem novas possibilidades para o homem. Na ciência da Administração, relativamente recente, é mais importante ainda que se entenda a importância da mudança de paradigmas e, além disso, se procure realizar tais mudanças espontaneamente. A partir dessa abordagem da mudança de paradigmas, que implica em profundas transformações culturais, pode-se perceber que isto ocorre de forma lenta e gradual nas organizações gerando transformações em estágios evolutivos, conforme se demonstra através da evolução da logística, descrita nas seções subsequentes. Nascimento da Logística Empresarial Nos Estados Unidos, na década de 1960, uma nova visão gerencial estava alterando a percepção anteriormente dominante acerca da área de transporte. Notava-se que a tarefa de entregar o produto na quantidade certa, no local certo, na hora certa, incluía mais do que o transporte em si. A integração da gestão dos estoques, do armazenamento, das compras, da produção, da comunicação e da informação seria necessária para abastecer corretamente, ao mínimo custo possível. Em vez do único variável transporte, a equação do abastecimento necessitava a introdução de mais variáveis. Os militares, de longa data, vinham utilizando o termo logística para designar o suprimento de munições e provisões às tropas nos campos de batalha. Os resultados da logística militar, que havia contribuído decisivamente para a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial, incitavam as empresas a adotar seus ensinamentos. Também influiu na aceitação da nova visão logística a divulgação das técnicas de pesquisa operacional. Essa área propunha a quantificação da gestão, por meio da 6 criação de modelos matemáticos para solução dos problemas administrativos complexos, como, em especial, os de transporte. Um problema típico era, por exemplo: que fábricas ou que filiais deveriam abastecer quais mercados, para minimizar os custos totais da operação? As técnicas quantitativas usavam algoritmos, como em gestão de estoques, programação linear, teoria de filas de espera, programação de projetos; heurísticas, como em programação da produção, roteirização de frotas, alocação de recursos; ou simulação de modelos, para problemas complexos demais para poderem ser resolvidos por algoritmos A teoria dos sistemas populariza o conceito de otimização do sistema, visto como um todo, por oposição à subotimização de uma ou algumas de suas partes. Se um sistema for composto de duas partes, digamos: transporte e estoques, e se o gestor só pensar na otimização do transporte, reduzindo, por exemplo, o custo do transporte, mas aumentando o estoque, ele estará subotimizando, em vez de otimizar. Os trabalhos de Jay Forrester, no Massachussets Institute of Technology (MIT), relativos à dinâmica dos sistemas, divulgados a partir de 1958, analisavam a influência da alteração da demanda do consumidor final sobre a disponibilidade dos produtos na fábrica. Exerceram forte influência sobre a divulgação da nova abordagem logística, em que as variáveis estão interligadas. Evolução da logística Embora a logística sempre tenha existido, sua evolução aconteceu de forma lenta até os anos 40, pois a necessidade da movimentação de produtos, pela própria dispersão geográfica das populações, suas necessidades e pela variedade de produtos, era pequena ou quase inexistente. Evolução numa perspectiva histórica Ao longo do tempo, acompanhando a evolução das organizações, das tecnologias disponíveis e das necessidades domercado, a logística mudou de ênfase. 7 Desconsiderou-se, propositadamente, o período anterior ao século XX, uma vez que até então a logística era desenvolvida de forma totalmente empírica, sem outra preocupação que não fossem as questões relativas ao transporte e a logística de suprimentos nos exércitos. De acordo com Lambert (1998), ao longo da história a logística recebeu denominações diversas: distribuição, engenharia de distribuição, logística empresarial, logística de marketing, logística de distribuição, administração logística de materiais, administração de materiais, logística, sistema de resposta rápida, administração da cadeia de abastecimento, logística industrial. Embora denominações diferentes, as mesmas referiam-se sempre à mesma coisa: a gestão do fluxo de bens de um ponto de origem a um ponto de consumo. Apesar da mudança de denominações, a mais aceita entre os profissionais da área, inclusive validada pelo Council of Logistics Management – CLM, é a expressão administração da logística. Já no início do século XXI, com as profundas mudanças demográficas e a disputa por mercados que começa a se tornar uma necessidade das nações, se pode perceber mais claramente a preocupação com as questões espaciais (onde alocar produtos) e temporais (quando disponibilizá-los) que são dois dos objetivos centrais da logística, ressalvando a dificuldade em se compartimentalizar dessa forma a evolução da logística que é essencialmente dinâmica e constante. a) Período até os anos 40 – teve seu início situado na virada para o século XX, sendo a economia agrária sua principal influência teórica. A principal preocupação era com as questões de transporte para o escoamento da produção agrícola, uma vez que a demanda existente, na maioria dos casos, superava a capacidade produtiva das empresas. b) Período dos anos 40 até os anos 60 – em função das duas grandes guerras, surge o termo “logística” que teve suas raízes na movimentação e no suprimento das tropas durante as guerras. Aqui, a ênfase era no fluxo de materiais e, em especial, nas questões de armazenamento e transporte, tratadas separadamente no contexto da distribuição de bens. c) Período dos anos 60 até os anos 70 – começa uma visão integrada nas questões logísticas, explorando-se aspectos como custo total e uma visão sistêmica 8 do processo produtivo. O foco deixa de recair na distribuição física para abranger um leque mais amplo de funções, sob a influência da economia industrial. d) Período dos anos 70 até anos 80 – corresponde ao “foco no cliente”, com ênfase na produtividade e nos custos de estoques. Surgem modelos matemáticos sofisticados para tratar a questão estocástica, novas abordagens para a questão dos custos não só dos processos logísticos mas, ainda, da questão contábil. e) Período dos anos 80 até anos 90 – retoma-se, com maior ênfase, a visão da logística integrada e inicia-se a visão da administração da cadeia de abastecimento – SCM, cujo pano de fundo é a globalização e o avanço da tecnologia da informação – TI. f) Período dos anos 90 até os dias atuais – apresenta um enfoque mais estratégico, em que a logística passa a ser vista como um elemento diferenciador para as organizações. Surge o conceito de Supply Chain Management, com a utilização das ferramentas disponibilizadas pela tecnologia da informação – TI. Este período atual exige muito mais agilidade e flexibilidade por parte das empresas para que possam suprir adequadamente seus mercados, pois no início do século XXI, as empresas foram cada vez mais pressionadas pela necessidade da redução de custos aliada às mudanças nos desejos, necessidades e/ou expectativas dos clientes. Esta exigência de rapidez e flexibilidade leva as empresas a buscarem a integração de seus canais de abastecimento de forma que possam atender adequadamente aos mercados em que atuam. Porém, para integrar canais de abastecimento, externamente, é necessária uma integração interna das diversas funções administrativas envolvidas pela logística. Espera-se que a conceituação, estabelecida no item três do presente trabalho, deixe claro o fato de que a logística é intra-organizacional enquanto que o SCM é inter-organizacional. Essa integração interna de funções administrativas (através da logística) e externa (através do SCM) não aconteceu rapidamente e nem espontaneamente, mas foi fruto de exigências do mercado, conforme se relata na sequência. 9 A logística, a partir da abordagem do Supply Chain Management, é importante ferramenta para suportar as vantagens mercadológicas decorrentes da agilidade e flexibilidade demandadas pelas pressões ambientais. 10 Conceitos de Logística Para compreender melhor porque SCM é mais que logística e compreende a logística, é necessário vislumbrar alguns conceitos de logística, uma vez que, embora a logística tenha sido utilizada desde os primórdios da civilização, o seu conceito é moderno e não é específico para as atividades públicas ou privadas, mas aplicável a qualquer atividade que utilize seus conceitos básicos A Logística empresarial trata de todas atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável. (Ballou, 1993) A Logística é o processo de gerenciar estrategicamente a aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças e produtos acabados (e os fluxos de informações correlatas) através da organização e seus canais de marketing, de modo a poder maximizar as lucratividades presente e futura através do atendimento dos pedidos a baixo custo. (Christopher, 1997). Logística é o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo e armazenamento eficiente e econômico de matérias-primas, materiais semiacabados e produtos acabados, bem como, as informações a eles relativa, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes. (CLM). Estes conceitos podem ser sintetizados através de uma representação esquemática, que pode ser visualizada na figura. O esquema representado na figura sintetiza o conceito de logística e, além disso, permite perceber a relação da logística com o meio ambiente interno e com o externo, como elemento integrador das funções administrativas de suprimentos, planejamento e controle da produção e distribuição física. 11 Outro aspecto importante a ressaltar é o fato de que a logística somente satisfaz necessidades dos clientes e, como consequência, as necessidades da empresa em termos de lucratividade e rentabilidade, se conseguir entregar seus produtos: - Com a qualidade esperada pelos clientes; - Na forma desejada pelos clientes; - Ao custo adequado; - Com o preço esperado pelo cliente (aquele que ele está disposto a pagar); - No local esperado pelo cliente; e, principalmente - No prazo certo. Através das atividades de transporte a logística consegue agregar o valor de lugar (o produto certo no local esperado pelo cliente) e, através dos estoques, consegue agregar valor temporal aos produtos (o produto certo na hora desejada pelo 12 cliente). Para conseguir atender a esses requisitos de espacialidade e temporalidade, é necessário integrar todas as funções logísticas interna e externamente. Como se percebe nos conceitos apresentados, a logística começa desde o ponto de aquisição da matéria-prima e perpassa toda a organização até o ponto de consumo final. Trata-se de uma visão integradora de todos os processos de gestão envolvendo todos os elos de uma cadeia produtiva. Porém, como a Logística Integrada ainda não era respostasuficiente a tais necessidades, surge o conceito de Supply Chain Management – SCM, que vem a revolucionar a visão da logística pela sua amplitude e visão estratégica. Esta visão de SCM pode ser percebida na figura. 13 Conceitos de Suplly Chain Manegement Supply Chain Management - SCM, ou Administração da Cadeia de Abastecimento, é um termo ainda confuso para a maioria das pessoas ou empresas, inclusive na sua tradução para o português. Existem várias concepções do que seja SCM, inclusive algumas que não demonstram exatamente o que seja SCM. Porém, para demonstrar algumas das concepções usuais, buscamos algumas dessas visões para, então, discorrermos sobre SCM. Para Marcos Isaac, presidente da Modus Logística Aplicada, Supply Chain não é um sinônimo de logística. “O Supply Chain pode ser definido como uma postura organizacional, quando as empresas se organizam em cadeia. A logística, na verdade, é a ferramenta que dá suporte ao Supply Chain”. Na visão da empresa Margate Inc., Supply Chain compreende a logística, mas é mais do que isso. Inclui o fluxo de materiais e produtos até os consumidores, envolvendo também as organizações que são partes desse processo. Segundo a WideSoft Sistemas Ltda., o SCM é atualmente a prioridade estratégica na maioria das grandes empresas. Wood & Zuffo (1998) dizem que SCM é uma metodologia baseada na visão sistêmica da empresa e no conceito de cadeia de valores. 14 Como se pode perceber, apesar das várias concepções de SCM, elas apontam alguns caminhos. Essas concepções permitem visualizar que Supply Chain Management: - Envolve a logística - É suportado pela logística - É uma Postura Organizacional - É uma Metodologia com visão Sistêmica Conforme Fleury (2000), o SCM “é exatamente esse esforço de coordenação nos canais de distribuição, por meio da integração de processos de negócios que interligam seus diversos participantes”. Mas, afinal, o que é Supply Chain Management? Na verdade, a logística é primariamente orientada aos processos de uma só empresa e seus provedores logísticos. Em contraste, o SCM envolve o conjunto de processos e organizações desde a fonte de matéria-prima até o cliente final, conforme se visualiza nas figuras nº 6 e 7. Essa nova forma de gerenciamento busca organizar a produção com base na demanda estimada (com a maior exatidão possível), integrando as duas pontas da cadeia (fornecedores e clientes). É um novo modelo administrativo adotado pelas empresas para evitar o desperdício, reduzir custos e oferecer um melhor serviço ao consumidor. Trata-se de uma abordagem que implica na conjugação de todos os esforços inter e intra-organizacionais no sentido de atender às necessidades e/ou desejos do cliente final. Embora o SCM seja um conceito ainda em evolução, sua importância é indiscutível por permitir que as organizações enxerguem a cadeia de valor genérica, proposta por Porter (1997), de forma interdependente ou relacionada, pois “o ocorrido numa das partes afeta o custo ou a lucratividade de outra. Estes enlaces implicam a necessidade de uma correta coordenação entre atividades, o qual é uma fonte de vantagens competitivas” (Bañegil, 1993). O conceito de SCM visa a fornecer às organizações uma diferenciação competitiva estrategicamente importante, pois, segundo Pires (1999), introduz uma importante mudança no paradigma competitivo, na medida em que considera que a competição no mercado ocorre, de fato, no nível 15 das cadeias produtivas e não apenas no nível das unidades de negócios (isoladas), como estabelece o tradicional trabalho de Porter (1997). Ainda na visão de Pires, através de relacionamentos inter-organizacionais sólidos e duradouros, buscasse criar unidades de negócios “virtuais” de forma a se aproveitar a sinergia existente entre as organizações envolvidas de forma a obter-se muitos dos benefícios da integração vertical tradicional, sem as desvantagens inerentes à mesma, com o objetivo de agregar valor ao produto a ser oferecido ao cliente final da cadeia produtiva. Trata-se de um modelo em que cada elo da cadeia trabalha sempre com uma visão holística e proativa enfocada no cliente final e não apenas no elo seguinte da cadeia produtiva. Para Ching (1999), “Supply Chain é todo esforço envolvido nos diferentes processos empresariais que criam valor na forma de produtos e serviços para o consumidor final”. Assim, ainda segundo Ching, a administração dos canais de abastecimento uma forma de gestão integrada do planejamento e controle do fluxo de mercadorias, informações e recursos, iniciando-se nos fornecedores e encerrando-se com o cliente final. Tal visão exige uma administração dos relacionamentos ao longo da cadeia logística de forma cooperativa e tipicamente de parcerias tipo “ganha-ganha” para que todos os envolvidos sejam igualmente beneficiados. A partir dessas considerações, o autor deste artigo conceitua SCM como sendo a administração sinérgica dos canais de abastecimento de todos os participantes da cadeia de valor, através da integração de seus processos de negócios, visando sempre agregar valor ao produto final, em cada elo da cadeia, gerando vantagens competitivas sustentáveis ao longo do tempo. Porém, para entender melhor o conceito oferecido, é necessário compreender os objetivos e alguns mecanismos do Supply Chain sobre os quais se discorre na continuidade. 16 Cadeia de suprimentos Assim como a logística empresarial ampliou o conceito de transporte, adicionando-lhe as dimensões de compras, gestão de estoques, armazenamento, comunicação, informação e administração, assim também uma nova concepção, chamada cadeia de suprimentos (supply chain), surgiu na comunidade empresarial e veio enriquecer o ponto de vista logístico. Embora se debata ainda intensamente se a noção de cadeia de suprimento acrescenta algo substantivo ao conteúdo da logística, a definição dada pelo Supply Chain Council (2002) joga alguma luz sobre a matéria: "cadeia de suprimento abrange todos os esforços envolvidos na produção e na entrega de um produto final desde o fornecedor do fornecedor até o cliente do cliente". Enquanto a logística concentra-se nas operações da própria empresa, a cadeia de suprimentos olha desde o início até os elos finais da corrente de fornecedores e clientes. E com uma visão mais ampla e panorâmica do que a visão logística. Além da preocupação de todas as empresas com o que ocorre ao longo de toda a sua cadeia, é necessário um intenso grau de colaboração entre empresas ao longo da cadeia de suprimentos para que se atinja maior eficiência. Reuniões periódicas entre cliente - por exemplo, um supermercado - e seus fornecedores-fabricantes de mantimentos são efetuadas a fim de promover essa integração, sobretudo compartilhando informações relativas à demanda e aos estoques e adotando uma atitude amigável em vez de uma postura de confronto. Essa filosofia tem recebido o nome de Efficient Consumer Response (ECR) e seu objetivo oficial é aumentar o lucro da operação ao longo da cadeia, resultando também na redução do custo do produto para o consumidor final. Os esforços colaborativos são ainda mais cruciais nas 17 promoções e nos lançamentos de novos produtos. Pretende-se aumentar o giro dos estoques, reduzir as faltas nas prateleiras e facilitar as entregas. A globalização, que se intensificou nas últimas décadas do século XX, força as empresas a aceitar a ideia de que estão inseridas numa cadeia de suprimentos, de extensão geográfica considerável. Objetivos e mecanismos do SCM Diante do exposto até aqui, pode-se inferir o papel e importância do SCM. Porém, resta compreender seus três objetivos principais, quais sejam: 1º) Redução de Custos – busca-se, através de um melhor gerenciamento dacadeia logística como um todo (integrando todos os elos da cadeia produtiva), conseguir reduzir custos através da eliminação de atividades desnecessárias, evitando-se desperdícios ou, ainda, através de trade-offs de custos; 2º) Agregar Valor – embora o cliente final possa não perceber a integração existente na cadeia produtiva, cada elo da mesma está sempre buscando níveis de qualidade e eficiência que possibilitem ofertar um produto em que o cliente perceba 18 um valor agregado maior, seja em função da maior qualidade resultante, seja através da disponibilização mais rápida do produto aos mesmos (atendendo aos requisitos de espacialidade e temporalidade); e, 3º) Vantagem Estratégica – operando-se numa visão integrada por toda a cadeia produtiva, conseguese obter um diferencial competitivo importante, seja através de uma estratégia de redução de custos, seja através de uma estratégia de diferenciação, conforme preconizado por Porter (1997). Para atingir seus objetivos o SCM pressupõe a simplificação e a otimização de toda a cadeia produtiva através da utilização de diversos mecanismos/recursos disponíveis atualmente, sobretudo com a evolução da Tecnologia da Informação.Existem diversas formas de realizar a integração das diversas funções que o SCM propõe, o que escapa ao objetivo do presente trabalho. Porém, pode-se indicar alguns mecanismos/recursos que podem ser utilizados, entre os quais destacam-se: a) Redução do número de fornecedores, estabelecendo-se relacionamentos de parcerias colaborativas em que se buscam resultados através da sinergia entre os elos da cadeia produtiva; b) Integração de Informações com Fornecedores, Clientes e Operadores Logísticos – utilizando-se principalmente de sistemas como o EDI (Electronic Data Interchange) para a troca rápida de informações que possam agilizar os processos produtivos, o ECR (Efficient Consumer Response) para a reposição automática de produtos no ponto de venda, entre outros Sistemas de Apoio à Decisão, o que possibilita a utilização de sistemas de produção dentro da filosofia Just in Time – JIT, e a diminuição geral dos níveis de estoques (em toda a cadeia produtiva); c) Utilização de Representantes Permanentes junto aos principais clientes – o que possibilita um melhor balanceamento entre as necessidades do cliente e a capacidade produtiva da empresa, além de permitir maior agilidade na resolução de problemas; d) Desenvolvimento conjunto de novos produtos – para atender a necessidades específicas de determinados clientes, busca-se o envolvimento dos 19 fornecedores desde os estágios iniciais do desenvolvimento de novos produtos, o que possibilita redução no tempo e nos custos de desenvolvimento; e) Integração das estratégias competitivas dentro da cadeia produtiva – através de relacionamentos profundos de parcerias colaborativas, busca-se adequar estratégias competitivas unificadas, com os mesmos objetivos, entre empresas diferentes (Inter organizacionais); f) Desenvolvimento conjunto de competências e capacidades na cadeia produtiva – competência como sendo o elo de ligação entre estratégia e infra- estrutura, é qualitativa e não é vista ou percebida pelos clientes, embora agregue valor aos produtos. Capacidade (capability) representando o know-how, habilidades e práticas associadas com a integração e operação de processos; g) Global sourcing – trata-se de uma visão mais abrangente do SCM, pois, trabalha-se com fornecedores/parceiros e clientes independentemente da sua localização geográfica no globo terrestre. Para tanto, é necessário que as práticas de Pesquisa e Desenvolvimento de novos produtos seja feita em conjunto, que a transmissão eletrônica de dados (EDI), seja uma prática constante, entre outras práticas aqui relacionadas; h) Outsourcing – é a prática em que parte do conjunto de produtos e serviços utilizados por uma empresa (dentro da cadeia produtiva) é providenciado por uma empresa externa, num relacionamento de interdependência e estreita colaboração, permitindo que a empresa cliente concentre-se naquilo que é sua competência principal (core competence). Nessa visão, o outsourcing vai muito além da simples terceirização, uma vez que o fornecedor mantém uma integração profunda e de colaboração estreita com o cliente; i) Follow Sourcing – é a política que algumas empresas estão adotando, de trabalhar com o mesmo fornecedor de um item em todas as suas unidades produtivas, independentemente da localização geográfica dessas unidades. Como exemplo podemos citar a Volvo e a Bosch: a Bosch, em Curitiba, fornece as bombas injetoras para todas as plantas da Volvo do mundo todo, cabendo à Gerência de Suprimentos da planta da Volvo em Curitiba, gerenciar todo o processo de abastecimento das demais plantas da Volvo ao redor do mundo; e, 20 j) Operadores Logísticos – um operador logístico é uma empresa especializada em assumir a operação parcial ou total de determinados processos dentro da cadeia logística. Os exemplos mais comuns são: a) a área de transporte (tanto interno quanto externo); b) a armazenagem (de matéria-prima e/ ou insumos, de produtos em processo e/ou de produtos acabados); e, c) os “Solution Providers” que se encarregam de gerenciar todo o processo de negociação com fornecedores, consolidação e movimentação de cargas; desembaraços aduaneiros etc. Cabe apenas destacar que as práticas de Global Sourcing, Outsourcing e Follow Sourcing têm sido praticadas, sobretudo pelas indústrias montadoras e de bens de massa, que precisam operar com ganhos de escala significativos e, com tais práticas, possibilitaram o desenvolvimento dos assim chamados “produtos mundiais”, devido ao fato de que, realmente, são envolvidos recursos de várias partes do mundo para a consecução do projeto e da manufatura dos mesmos. Conforme se pode perceber pela relação dos mecanismos/recursos utilizados para a implementação do SCM, trata-se de uma visão complexa e sofisticada da função logística dentro das organizações. Essa abordagem da logística leva a novas possibilidades em termos de estratégias competitivas organizacionais, ou seja, com as novas possibilidades conquistadas através da função logística, suportada pela tecnologia da informação – TI, as organizações podem estabelecer estratégias competitivas mais ousadas/desafiadoras do que jamais sonhadas até há bem pouco tempo. Diante dessa complexidade/sofisticação, fica clara a importância das mudanças de habilidades referidas no início deste artigo, além da necessidade de mudanças de paradigmas preconizadas por Christopher (1997), e que se justificam diante dos novos desafios que se apresentam aos profissionais da logística. Desafios esses, que somente poderão ser superados com a correta utilização dos recursos atualmente disponíveis e com a adoção da metodologia/filosofia do Supply Chain Management. 21 Logística em uma economia global 22 O tema “globalização” está presente em todos os trabalhos recentes sobre Administração. Tornou-se, de fato, lugar comum falar em globalização, mercados globais ou competição global. A forma como o tema é tratado eventualmente conduz à falsa impressão de uma abertura total de barreiras à circulação de capitais, bens, serviços e pessoas. Na realidade, embora haja uma tendência neste sentido, barreiras continuam e continuarão existindo. Por isso, consideramos mais preciso falar em conectividade global em lugar de globalização. De qualquer forma, imprecisões, exageros e simplificações à parte, o fato é que o tema é obrigatório. Para as empresas, a lógica de atuação em mercados de grande conectividade e competitividade é simples: expandir os negócios, procurando, ao mesmo tempo, a redução dos custos, através de economias de escala (em compras e produção), economias de escopo e otimizaçãodos recursos aplicados em pesquisa e desenvolvimento. Negócios globais não podem ser confundidos com negócios internacionais ou multinacionais. Negócios globais compreendem, além de exportação, compras de matérias-primas e componentes, produção de partes ou do produto completo e venda do produto final em regiões distintas do globo. O grande desafio para uma atuação global é realizar uma operação eficiente e eficaz em mercados heterogêneos. Quanto mais os mercados se expandem, maior a complexidade do sistema logístico. Para as empresas com operações globais, as grandes questões que devem ser consideradas são: • Como oferecer aos mercados a variedade que estes exigem e, ao mesmo tempo, ter as vantagens da produção em massa? • Como gerenciar os elos da cadeia de suprimentos do fornecedor até os consumidores finais com máxima eficácia e eficiência? 23 Os desafios da logística global Dado este novo contexto, os desafios para gerenciar uma rede global de informações e materiais são maiores que aqueles presentes em um sistema de logística nacional29. Estes desafios envolvem os seguintes aspectos: • a tendência de especialização da produção em diversas partes do mundo, que faz com que muitos produtos recebam componentes vindos de três ou quatro continentes diferentes. Isto leva a um aumento potencial do lead-time; • o crescimento potencial da rede de fornecedores e da rede de distribuição; • transportes mais demorados em função da complexidade e, eventualmente, sobrecarga do sistema; • múltiplas opções de escolha quanto a mercado, canais de distribuição e formas de transporte; • possibilidade de montagem durante transporte e possibilidade de acabamento próximo ao consumidor; • ciclo de vida cada vez mais curto, exigindo constante redimensionamento e modificações na rede logística; • barreiras políticas, culturais, de regulamentação, de línguas e geográficas; 24 • incertezas associadas à distância, à demanda e ao controle dos processos, das informações e dos materiais. As oportunidades oferecidas pelo SCM Embora seja um conceito em evolução, cuja utilização ainda se restringe a um conjunto de empresas mais avançadas, o SCM já está na agenda da maioria dos gerentes das grandes empresas internacionais. Artigos na imprensa especializada, como a Fortune, estão anunciando o SCM como a nova fonte de vantagens competitivas. Nos encontros de profissionais, o conceito passou a ter um destaque especial. Das mais de 200 seções do Congresso do CLM de 1997, cerca de 25% das apresentações incorporavam as palavras Supply Chain Management. O enorme interesse pelo tema é totalmente justificado em função tanto dos exemplos de sucesso já conhecidos, quanto do nível de complexidade e descoordenação da grande maioria dos canais de distribuição hoje existentes. A Miliken, maior produtora de tecidos dos EUA e uma das primeiras empresas a adotar o conceito de SCM ainda nos anos 80, conseguiu extraordinários resultados no seu projeto com a Seminal, fabricante de confecções, e a Wal-Mart, maior rede varejista americana. Em pouco mais de 6 meses do início do processo de colaboração, baseado na troca de informações de vendas e estoque entre os membros do canal, a Miliken conseguiu aumentar suas vendas em 31%, ao mesmo tempo em que aumentava em 30% o giro de estoques dos produtos comercializados naquele canal. A troca de informações permitiu eliminar as previsões de longo prazo, os excessos de estoque e o cancelamento de pedidos. A Wal-Mart, por seu turno, tem obtido excelentes resultados em termos de crescimento e rentabilidade, em grande parte devido à alavancagem que tem conseguido com sua estrutura diferenciada de relacionamento na cadeia de suprimentos. A Dell Computers é outra empresa que, através da reconfiguração de sua cadeia de suprimentos, vem conseguindo responder quase que imediatamente aos pedidos customizados de seus clientes. O resultado tem sido um crescimento e lucratividade extraordinários. Em 12 anos a empresa cresceu de um empreendimento 25 de fundo de quintal para uma corporação de US$ 12 bilhões de faturamento. Em 1998, suas vendas cresceram de US$ 7,7 bilhões para US$ 12,3 bilhões, enquanto o lucro saltou de US$ 518 milhões para US$ 944 milhões. O sucesso da Dell é tão grande que a empresa foi classificada como a de melhor desempenho no setor de tecnologia de informação pela revista Business Week em 1998. A Dell é certamente uma das empresas que mais avançou no conceito de SCM, ao estabelecer um esquema de distribuiçào direta, oferecendo customização em massa e um grau tão avançado de parceria nas terceirizações que pode ser chamado de integração virtual. Uma série de estudos realizados nos EUA nos últimos anos tem confirmado as oportunidades de ganho com a adoção do SCM. Um estudo da Mercer Consulting mostrou que as empresas que conseguem implementar as melhores práticas de SCM tendem a se destacar em relação à redução dos custos operacionais, melhoria da produtividade dos ativos e redução dos tempos de ciclo. Um outro estudo recente realizado pelo MIT identificou como principais benefícios do SCM a redução de custos de estoque, transporte e armazenagem, melhoria dos serviços em termos de entregas mais rápidas e produção personalizada, e crescimento da receita devido à maior disponibilidade e personalização. As empresas analisadas no estudo indicaram ganhos impressionantes: redução de 50% nos estoques; aumento de 40% nas entregas no prazo; redução de 27% nos prazos de entrega; redução de 80% na falta de estoques; aumento de 17% na receita. Implementando o conceito de SCM: barreiras e alternativas de solução Considerando os enormes benefícios que podem ser obtidos com a correta utilização do conceito de SCM, surpreende verificar que tão poucas empresas o tenham implementado. As razões para tanto são basicamente duas. A primeira deriva da relativa novidade do conceito, ainda em formação e pouco difundido entre os profissionais; e a segunda com a complexidade e dificuldade de implementação do conceito. SCM é uma abordagem que exige mudanças profundas em práticas 26 arraigadas, tanto a nível dos procedimentos internos, quanto a nível externo, no que diz respeito ao relacionamento entre os diversos participantes da cadeia. A nível interno, torna-se necessário quebrar as barreiras organizacionais resultantes da prática do gerenciamento por silos, que se caracteriza pela perseguição simultânea de diversos objetivos funcionais conflitantes, em detrimento de uma visão sistêmica onde o resultado do conjunto é mais importante que o resultado das partes. Quebrar esta cultura arraigada e convencer os gerentes de que deverão estar preparados para sacrificar seus objetivos funcionais individuais em benefício do conjunto, tem se mostrado uma tarefa desafiante. Alcançá-la implica em abandonar o gerenciamento de funções individuais e buscar a integração das atividades através da estruturação de processos-chave na cadeia de suprimentos. Dentre os processos de negócios considerados chave para o sucesso de implementação do SCM, os 7 mais citados encontram-se listados a seguir: 27 Resumidamente, estes 7 processos-chave têm como objetivos principais: 1. Desenvolver equipes focadas nos clientes estratégicos, que busquem um entendimento comum sobre características de produtos e serviços, a fim de torna-los atrativos para aquela classe de clientes. 2. Fornece um ponto de contato único para todos os clientes, atendendo de forma eficiente a suas consultas e requisições; 3. Captar, compilar e continuamente atualizar dados de demanda, com o objetivo de equilibrar a oferta com a demanda; 4. Atender aos pedidos dos clientes sem erros e dentro do prazo de entrega combinado; 5. Desenvolver sistemas flexíveis de produção quesejam capazes de responder rapidamente às mudanças nas condições do mercado; 6. Gerenciar relações de parceria com fornecedores para garantir respostas rápidas e a contínua melhoria de desempenho; 7. Buscar o mais cedo possível o envolvimento dos fornecedores no desenvolvimento de novos produtos. A experiência tem demonstrado que a montagem de equipes para gerenciamento de processos na cadeia de suprimentos é um grande desafio gerencial. Para tanto, é absolutamente necessário um esforço dedicado de pessoas compromissadas, que possuam a virtude da persistência. As equipes servem para quebrar as barreiras organizacionais e devem envolver todos aqueles que participam das atividades relacionadas com a colocação e distribuição dos produtos no mercado. As empresas de maior sucesso estendem sua atuação para além de suas fronteiras organizacionais, envolvendo participantes externos que são parceiros na cadeia de suprimentos. Os membros destas equipes avançadas coordenam, comunicam e cooperam de forma intensiva. Uma das primeiras perguntas para quem pretende fazer a mudança para equipes é saber quem deve participar da equipe de Supply Chain. A idéia é que haja um grupo permanente de membros-chave e um grupo de participantes esporádicos, que seriam convocados quando necessário. O fato é que as organizações têm tantas 28 peculiaridades e diferem em tantos aspectos umas das outras que não faz sentido pensar em uma solução única para todas as situações. O conjunto de funções-chave que em geral estão representadas nas equipes são em geral: logística, suprimento/compras, fabricação, administração de estoque, serviço ao cliente e sistemas de informação. Outras funções que participam ocasionalmente são marketing, vendas, promoções e pesquisa e desenvolvimento. À frente deste processo de gerenciamento por equipes estão geralmente profissionais de logística ou comprar/suprimento. No entanto, para liderar um processo como este, qualquer executivo deve funcionar como um facilitador e integrador das diversas exigências e interesses, muitas vezes conflitantes. Para ser capaz de assumir este papel, qualquer profissional deveria ampliar seu entendimento das demais funções do negócio. Existe um conjunto de características que tendem a contribuir para o sucesso das equipes de SCM: o estabelecimento de objetivos e metas clara em áreas-chave (tempo de entrega, índices de disponibilidade, giro de estoques, entrega no prazo); a determinação do papel de cada membro da equipe na perseguição dos objetivos; o estabelecimento de uma estratégia de implementação; e a formalização de medidas quantitativas de desempenho para medir os resultados alcançados. Embora a montagem de equipes seja importante, a utilização de todo o potencial só irá ocorrer se a empresa conseguir se interligar aos participantes externos na cadeia de suprimento. Estes participantes incluem fornecedores, distribuidores, prestadores de serviço e clientes. A Figura 3 apresenta um modelo esquemático do conceito de SCM com base no gerenciamento de processos, adaptado de Lambert, 1998. Dada a natureza colaborativa que deve possuir a cadeia de suprimento, torna- se crucial selecionar os parceiros corretos. O que se deseja são empresas que não apenas sejam excelentes em termos de seus produtos e serviços mas que sejam sólidas e estáveis financeiramente. A relação de parceria na cadeia estendida deve ser vista como um arranjo de longo prazo. Muito importante também é lembrar que a cadeia de suprimento estendida necessita um canal de informações que conecte todos os participantes. A maioria das 29 grandes empresas possui os requisitos tecnológicos para fazer a extensão. O problema é que elas os estão utilizando de forma incorreta. Idealmente, a informação que se torna disponível quando o consumidor efetiva a compra deveria ser imediatamente compartilhada com os demais participantes da cadeia, ou seja, transportadoras, fabricantes, fornecedores de componentes e de matéria-prima. Dar visibilidade às informações do ponto de venda, em tempo real, ajuda todos os participantes a gerenciar a verdadeira demanda de mercado de forma mais precisa, o que permite reduzir o estoque na cadeia de suprimento de forma substancial. Pelo que foi visto anteriormente, fica evidente que a implementação do conceito de SCM exige mudanças significativas tanto nos procedimentos internos quanto nos externos, principalmente no que diz respeito ao relacionamento com clientes e fornecedores. No Brasil, o principal esforço para implementação do conceito está sendo feito no âmbito do movimento ECR Brasil. Liderando o processo estão os fabricantes de produtos alimentícios e bebidas por um lado, e os supermercados do outro. Embora seja enorme o potencial de redução de custos na cadeia, um conjunto de mudanças profundas precisa ser efetuado. No caso dos supermercados, por exemplo, existe um amplo conjunto de antigas práticas que estão muito arraigadas e que podem ser consideradas como barreiras ao bom andamento de projetos de SCM. Dentre estas práticas se destacam: o relacionamento com os fornecedores, ainda fortemente dominado pela política de queda de braço mensal com relação aos preços dos produtos; a grande maioria dos produtos ainda é recebida diretamente nas lojas, o que dificulta o controle do recebimento e a avaliação de desempenho dos fornecedores; as empresas ainda estão organizadas em silos funcionais, com compra, logística, e administração das lojas sendo gerenciadas de forma independente e isolada; a mão-de-obra atualmente disponível não possui a formação ou capacitação necessária para operar com base nos novos requisitos do SCM; a tecnologia de informação ainda apresenta fortes deficiências, principalmente no que diz respeito aos softwares de análises de dados, e também aos procedimentos para manutenção dos cadastros de produtos e fornecedores. 30 Transporte dos materiais O transporte dos materiais - matérias-primas, produtos em fabricação e produtos acabados - sempre mereceu atenção por parte dos responsáveis pela gestão industrial, por ser assunto estreitamente ligado ao leiaute e à estrutura física do prédio e por ter implicações na produtividade, na qualidade, na segurança no local de trabalho e nos custos da operação. Todos os manuais de administração da produção da época (Maynard, Ireson e Grant) dedicavam vários capítulos ao prédio industrial, ao arranjo físico e ao transporte interno dos materiais (material handling). Em vista dos imperativos operacionais e dos custos envolvidos, o transporte das matérias-primas, dos componentes e dos demais insumos, desde suas fontes até a fábrica, sempre foi tópico essencial da administração da produção e constituiu um dos fatores mais relevantes para a localização da indústria. Pelas mesmas razões, o escoamento dos produtos acabados até os centros de consumo (distribuição) também erigia-se numa consideração de máxima importância para a escolha da localização da empresa. A escala crescente das operações nas décadas do pós-guerra, de 1945 em diante; o advento de novos equipamentos e tecnologias de transporte, tais como a empilhadeira de garfos, o transelevador, a paletização, as correias transportadoras, o contêiner; e os graus crescentes de mecanização e automação exigiam que se desse um nível de atenção sempre maior ao transporte, tanto de entrada (input) quanto interno e de saída (output). A engenharia de produção e a engenharia econômica, que analisam os equipamentos e permitem determinar os mais adequados, técnica e economicamente, encontravam, na área de transporte, um fértil campo de aplicações. O crescimento econômico do País, sua modernização, a oficialização do nascimento da indústria automobilística nacional (1957), a construção 31 das primeiras estradas de rodagem(via Anchieta, via Dutra) chamavam a atenção do público para uma área carente, a deficiente infraestrutura rodoviária. A advertência do Presidente Washington Luiz, pronunciada 30 anos antes, começou finalmente a ser ouvida pelos governos federal e estaduais: "Governar é abrir estradas". Atendendo à demanda do mercado, a Editora Abril lançou, em 1963, a primeira revista técnica dedicada ao setor, Transporte Moderno. Algumas empresas privadas investiram, nos anos 1960, em iniciativas pioneiras na área de transportes. A Viação Cometa montou linhas de ônibus modernos, rápidos, limpos, confortáveis, entre algumas capitais do País. Os motoristas eram cuidadosamente selecionados, inclusive no aspecto psicológico. Para evitar que dormissem nos longos percursos noturnos, eram obrigados a se recolher em dormitórios da empresa algumas horas antes de cada viagem. A Cometa também foi pioneira no controle do consumo de combustível, lubrificante, pneus e peças de cada veículo, calculando seu desempenho e custo individual. A Real Aerovias e a Varig demonstraram às demais empresas de transporte a necessidade e as vantagens de uma bem-organizada manutenção. Estimuladas por esses exemplos, as transportadoras começaram a adotar essas boas práticas gerenciais, antes inéditas na cultura das empresas. Mais tarde, empresas públicas de transporte, como a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo de São Paulo (CMTC), com sua frota de 10 mil ônibus, tornaram- se adeptos modelares dos melhores sistemas de manutenção e controle de frotas. Outras iniciativas precursoras da década de 1960 foram: a criação do auto trem, isto é, uma composição na qual, colocados sobre vagões- plataformas, os caminhões são transportados por trem, uma inovação do empresário Walter Lorch, controlador da Translor; a tentativa de transportar automóveis zero-quilômetro de São Bernardo do Campo para 32 as demais regiões do País por navios de cabotagem roll-on roll-off; a façanha de distribuir regularmente botijões de gás de petróleo liquefeito de porta a porta para centenas de milhares de domicílios. São Paulo estava se tornando a terceira maior cidade do mundo. Empresas tinham que distribuir diariamente milhares de produtos a milhões de pessoas. O mero vulto dessas operações, realizadas apesar de obstáculos de todo tipo, representava uma façanha administrativa, independentemente da obtenção de padrões aceitáveis de frequência, pontualidade e regularidade. Em 1965, o governo cria, no Ministério dos Transportes, a Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (Geipot), um think tank dos macroproblemas nacionais de transporte, cujos conceituados estudos tornaram-na uma referência nacional no assunto. 33 CONCLUSÃO A partir do presente, algumas considerações podem ser efetuadas à guisa de conclusão. Inicialmente, pode-se concluir que aquelas organizações que quiserem conquistar vantagens competitivas significativas precisarão passar por profundas mudanças culturais para satisfazer seus clientes através da adoção de programas de SCM, pois sem tais mudanças culturais não se consegue êxito na sua implementação. Nos estudos realizados, chega-se a conclusão de que, mesmo entre as empresas que afirmam adotar programas de SCM, não existe unanimidade sobre o conceito e a forma de implementa-lo. Percebe-se, claramente, que a única convergência diz respeito à questão da necessidade de mudança cultural que implique “quebrar” paradigmas organizacionais e que se trata de importante instrumento para conseguir vantagens competitivas. Além disso, o presente artigo deixa o autor com algumas convicções importantes no que diz respeito ao SCM: - Trata-se de uma Filosofia Administrativa que propicia um novo modelo cultural e de gestão organizacional; - Por ser uma Filosofia Administrativa, pressupõe um profundo inter- relacionamento da Logística com todas as demais funções administrativas, sobretudo com o Planejamento e Controle da Produção - PCP e com o Marketing, através da Distribuição Física; - Possibilita gerir melhor os Fluxos Logísticos (de Informações, de Materiais e Financeiro), em função de exigir uma visão sistêmica dos processos organizacionais de todos os participantes da cadeia de valor (desde o fornecedor inicial – de nível 1 – até o cliente ou consumidor final); - Exige um entrosamento e comunicação maiores entre as áreas de planejamento e de execução para a otimização dos processos organizacionais; 34 - Exige que todas as unidades operacionais, intra e inter-organizacionais, estejam orientadas para o mercado (cliente); - Pressupõe delegação da capacidade de decisão (empowerment) para os recursos humanos envolvidos no processo; e, - O objetivo das organizações que adotam programas de SCM consiste, basicamente, em satisfazer (encantar) o cliente, através da produção, venda e entrega dos produtos por ele desejados, atendendo aos requisitos de espacialidade e temporalidade e, dessa forma, atingindo os objetivos organizacionais obtendo lucros. Por fim, uma vez que se trata de assunto de extrema atualidade, objeto de inúmeras pesquisas, discussões e ainda pouco implementado nas organizações (sobretudo no Brasil), não se tem outra pretensão que a de trazer algumas questões a serem discutidas e aprofundadas através do debate acadêmico e que possam representar um estímulo aos interessados em pesquisar este campo de estudo. 35 REFERENCIAS BALLOU, R. H. (1993). LOGÍSTICA EMPRESARIAL – TRANSPORTES, ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAIS, DISTRIBUIÇÃO FÍSICA. SÃO PAULO: ATLAS. BAÑEGIL, T. M. (1993). EL SISTEMA JUST IN TIME Y LA FLEXIBILIDADE DE LA PRODUCCIÓN. MADRID: ED. PIRÁMIDE S.A CHING, H. Y. (1999). GESTÃO DE ESTOQUES NA CADEIA DE LOGÍSTICA INTEGRADA – SUPPLY CHAIN. SÃO PAULO: ATLAS. CHRISTOPHER, M. (1997). LOGÍSTICA E GERENCIAMENTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS: ESTRATÉGIAS PARA A REDUÇÃO DE CUSTOS E MELHORIA DO SERVIÇO. SÃO PAULO: PIONEIRA. CLM - COUNCIL OF LOGISTICS MANAGEMENT. (1995). 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