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Estudo p1 IBE 1- Explique o regionalismo na política mundial a partir dos seguintes grupos teóricos: teorias sistêmicas, interdependência regional e teorias de nível interno. Teorias sistêmicas e o regionalismo: advoga que : a pressão que vem de fora, do sistema anárquico, é o que gera uma integração regional. Algumas regiões se juntam, se consolidam por acharem uma boa maneira de lidar com a anarquia. Há dois conjuntos de teorias sistêmicas: i) neorrealismo e ii) interdependência. Neorrealismo: a política e o alinhamento regionalista têm pontos em comum com a política de formação de alianças, além de trabalhar muito com a ideia de hegemonia. Esta traz processos de integração, visto que muitos blocos são formados a fim de conter uma força/pressão hegemônica, como o caso do Mercosul frente à hegemonia estadunidense. O hegemon será incentivado a se integrar com outros países para impor seu domínio a outros Estados, um exemplo disso é a ALCA. Pode ser, também, que países mais fracos tenham interesse em se juntarem com um país hegemônico para adquirir mais força no sistema internacional, por exemplo os países do sudeste asiático e a China, acabando por formar a Asean. Interdependência estrutural: regionalismo como uma resposta dos Estados aos problemas criados pela interdependência regional, propondo instituições para incentivar coesão regional. Tem em mente o processo de globalização, responsável por mudanças econômicas globais que afetam a natureza da competição política e econômica. A relação entre a globalização e o regionalismo possui muitas camadas, podendo oferecer incentivos contrários (favorecimento recorrente de uma lógica ocidental, e não regional, aumento da interdependência que podem ocasionar consequências diversas e empresas ultrapassando limites regionais) e a favor, estimulando o regionalismo para a gestão dos problemas de escala global, como a crise de refugiados e a degradação do meio ambiente, a partir de uma iniciativa regional, visto que há grandes dificuldades na resolução à nível mundial e que as regiões podem sofrer consequências parecidas, se não as mesmas, com particularidades e aparatos semelhantes. Teoria da interdependência regional e o regionalismo: abrange 3 teorias: Neofuncionalismo: quando um país não consegue resolver seus problemas sozinho, o melhor seria cada país entregar um pouco de sua soberania a uma entidade supranacional, para que esta possa definir políticas e normas comumente aceitas pelos participantes, criando uma região mais consolidada e forte frente aos problemas Institucionalismo liberal: ligado à ideia de inter-governamentalismo, objetiva promover uma boa relação de cooperação entre os países, todos responsáveis por discutir os temas e tomar decisões conjuntamente, sem necessariamente uma instituição supranacional, como o caso do Mercosul Construtivismo: uma teoria de cunho mais sociológico, remete à ideia de identidade como motor para a integração. Não se aplica no caso da União Europeia, já que a identidade presente no processo de integração europeia diz respeito à distinção entre Europeus ("civilizados") e não-Europeus ("não-civilizados") Teorias de nível interno e o regionalismo: concentra-se no papel dos atributos ou características internas compartilhadas, levando em conta os aspectos: Coerência estatal: as chances de cooperação e integração regional vão depender da coerência e da viabilidade dos Estados e suas estruturas. Países com objetivos comuns para a possibilidade de cooperação. Assim como é necessário que os interesses internos dos países estejam de acordo com a integração, a apoiem. Tipo de regime e democratização: Há estudos que associam a onda de transições democráticas, ocorrida na década de 1980, com a emergência do regionalismo, mesmo essa relação ainda sendo bastante complexa e enevoada. Um ponto a se destacar refere-se a conflitos entre países democráticos e não democráticos dentro de um bloco, como ocorreu no próprio Mercosul. Relacionado à definição de que a democracia liberal é o melhor regime político e deve ser implementado. Teorias de convergência: a integração surge das convergências das preferências políticas e econômicas nacionais. Procuram demonstrar que é necessário que os Estados estejam sempre convergindo nas ideias e objetivos para que a cooperação seja frutífera. 2- Explique as teorias funcionalista e neofuncionalista, a partir de seus fundamentos principais, deixando clara a diferença entre as duas. Funcionalismo → David Mitrany é o principal autor da corrente de pensamento Funcionalista na área de cooperação e integração regional. O teórico se dedica a pensar em instrumentos para aproximar as nações de forma pacífica. Ele argumenta que uma cooperação com uma instituição supranacional que tenta impor normas aos Estados não é eficiente, priorizando, portanto, uma organização internacional que coexista com a liberdade nacional. Mitrany constata que há setores específicos que possuem capacidade e interesse em se integrarem mais rápido, tendo facilidade em se entenderem entre si. Com isso, a característica central de seu modelo é a diferenciação entre autoridade e território definido. O insight nessa questão é tomar a autoridade como aquela criada dentro de um setor específico - aquele que se integra - e não a autoridade suprema do Estado Nacional. Mitrany advoga que a participação direta e ativa dos Estados se dá mais à frente no processo de integração, não sendo necessária para o alcance do bem-estar. Nestes termos, a soberania é, de alguma forma, delegada através das funções que são exercidas de forma compartilhada. A integração a partir dessas funções - como os setores de rádio, ferroviários e rodoviários, por exemplo - são executadas a partir de instituições internacionais coordenadas por elites técnicas, por especialistas em determinada área, instituidores de regras formais mais gerais em relação ao setor em questão. Assim, num primeiro momento, certos setores de países diferentes se integram e, mais tarde, as integrações "interestatais" de diferentes setores se interligam, ampliando seus escopos e podendo chegar a abarcar os Estados. Cada agência - de determinado setor - será capaz de funcionar independentemente, mas não exclui-se a possibilidade de algumas delas estarem ligadas entre si caso isso seja necessário ou útil. A cooperação internacional, segundo o funcionalismo, se desenrolaria desta forma: i) cooperação em um assunto específico → ii) criação de uma teia cooperativa → iii) formação de regimes e instituições internacionais. Indo mais além, a integração começaria com um caráter técnico, evoluindo para uma integração econômica e, mais tarde, para uma integração política. O funcionalismo vê a cooperação como um caso de governança bottom-up. Mitrany separa, ainda, high politics e low politics, entendendo a primeira como o poder político e a segunda como os interesses referentes ao bem-estar. Portanto, segundo seu modelo, o bem-estar poderia ser alcançado sem o poder político ou o envolvendo em fases mais avançadas de integração. De forma geral, ao observarem os ganhos e avanços atingidos por esse processo de regionalização funcional, os Estados se sentiriam estimulados a buscar uma maior integração que extrapolasse os limites da cooperação técnica. Entretanto, esta teoria se mostra demasiadamente descritiva, impondo a forma “correta” de coexistência pacífica; além disso, esta teoria não identifica quais são as razões que mobilizam os Estados a promoverem e participarem de um processo de integração. Neofuncionalismo → A teoria neofuncionalista enfatiza o papel dos partidos políticos, dos grupos de interesse e das elites políticas dos países que participam de um processo de integração, como atores fundamentais para apoiar ou se opor ao processo de integração. Seu principal expoente é o autor Ernst Haas, para o qual a integração é um processo no qual os atores políticos nacionais são persuadidosa transferir suas lealdades, expectativas e atividades políticas para um novo centro, cujas instituições têm ou demandam uma jurisdição que ultrapassa a dos Estados. Haas identifica 4 motivações básicas para uma integração regional: 1) desejo de promover a segurança numa dada região, realizando a defesa conjunta contra uma ameaça comum; 2) promover a cooperação para obter desenvolvimento econômico e maximizar o bem-estar; 3) interesse de uma nação mais forte em querer controlar e dirigir as políticas de seus aliados menores, por meio de persuasão, coerção ou ambos; 4) a vontade comum de constituir a unificação de comunidades nacionais numa entidade mais ampla. tendo em vista a teoria funcionalista, Haas opina que a) É mais provável que grupos que representam uma região específica atinjam a integração do que uma organização com representantes de todo o mundo; b) É provável que os peritos que não disponham de interlocutores a nível nacional venham a achar que as suas recomendações são ignoradas. segundo HAAS, a integração é impulsionada pelo núcleo funcional constituído pelos governos, as burocracias especializadas e as elites para formular sua estratégia política. A capacidade decisória estaria concentrada nestes formuladores e tomadores de decisão. o conceito de spillover é muito importante → pode ocorrer de “forma automática”, se entendermos por automática algo que ocorre porque os atores participantes tomam determinadas decisões políticas para beneficiar coletivamente seu bem-estar econômico. A automaticidade não implica ausência de conflito, de dificuldades nas negociações e retrocesso temporários no processo, sugere apenas que estes elementos levarão a futuras decisões adaptativas. A ocorrência do spillover não está baseada no sucesso da cooperação em um setor, mas nas expectativas de ganhos e perdas dos principais grupos dentro da unidade que será integrada. Neste aspecto, Haas aceita a proposição funcionalista de que as lealdades políticas resultam da satisfação com o desempenho de funções importantes de uma agência governamental, seja ela nacional ou regional (pertencente à estrutura da integração). O papel do líder político ou das lideranças é muito importante no modelo de Haas porque de acordo com sua visão, para que a integração avance é preciso que exista um compromisso político compartilhado entre as grandes elites e as lideranças governamentais. Quando a integração tem como suporte uma visão positiva das lideranças e um compromisso destas com os princípios (ou valores) da cooperação, o seu desenvolvimento levaria a uma transferência gradual das lealdades dos grupos nacionais para um organismo internacional com importantes atribuições. outro fator importante é a democratização do sistema político. 3- Explique as teorias do intergovernamentalismo liberal e construtivista, considerando todos os seus elementos. O intergovernamentalismo é uma teoria clássica da integração regional, crítica às teorias liberais e pluralistas, principalmente ao que defende o funcionalismo e o neofuncionalismo, com ênfase na ideia de estrutura supranacional como concebida por esse. Adota-se uma visão realista da Política Internacional: o ambiente internacional é anárquico, onde cada Estado visa sua sobrevivência e é dotado de certa racionalidade (fazendo, portanto, cálculos das pressões internas e externas sofridas por ele). Desta forma, tem-se a distribuição das capacidades entre os Estados como a variável-chave. Portanto, quando essas capacidades mudam, o momento é propício para a integração regional, já que os Estados se moverão para conter possíveis perdas relativas. Para Andrew Moravcsik, os Estados mais fortes no Sistema Internacional também o são no processo de integração. Nesta teoria, os Estados são o centro de todo e qualquer processo de integração regional, ou seja, negociações interestatais são necessárias para a aproximação. De acordo com o intergovernamentalismo, uma integração regional dependeria da convergência entre as preferências dos Estados envolvidos. Assim, esses atores cooperaram enquanto a integração atenda a seus interesses. Teoria do intergovernamentalismo liberal: possui três elementos básicos: a) Comportamento racional do Estado: é este elemento que pauta, ou não, a possibilidade de uma integração; por meio dessa racionalidade, o Estado calcularia as perdas e ganhos ocasionadas pela participação em determinada integração. Teria em conta as pressões internas - vindas de grupos da sociedade - e externas - criadas pelo ambiente internacional. b) Formação da Preferência Nacional: muito relacionada às pressões internas; formado pelos interesses dos setores internos daquele país; reflexões como “o que representa ganho e o que representa perda para determinado segmento da sociedade?”, “a integração agradaria aqueles com maior influência/força/representatividade?”. Vem antes do cálculo de perdas e ganhos, vai determiná-lo. Ligada diretamente à necessidade do governo de consultar a sociedade antes de tomar decisões no âmbito internacional c) Negociação interestatal: onde as pressões internas são expressas em forma de interesses/condições, tendo em vista o contexto internacional, frente às potenciais partes da integração. Com isto posto, a preferência nacional demandará, ou não, a integração, além de ditar as condições com que esta cooperação possa ser estabelecida ou mantida, tendo em mente os principais setores econômicos, sociais e políticos daquela sociedade e suas preferências. Indo além, é preciso ter em mente: I) Relações Estado-sociedade: deve haver consulta constante à sociedade; II) Interdependência - os atores subnacionais já se relacionam entre si, podendo criar “an unambiguous incentive to co-ordinate policy” (MORAVCSIK, 1994, p. 486); III) externalidades - o contexto mundial naquele momento deve ser mantido em mente: “de acordo com o que está acontecendo no mundo, a integração vale à pena?” e cooperação - deve existir vontade de cooperar; IV) Consequências distributivas da cooperação: diferentes setores dos Estados integrantes podem ser impactados de maneiras diversas, aqueles que são prejudicados estarão inclinados a encerrar a cooperação (ou nem mesmo começá-la), enquanto os que são beneficiados procuram iniciar/manter/expandir a integração. A relação entre a negociação inter-estatal e a oferta de uma integração implica: a) poder de barganha: pode ser de 3 tipos → I) Alternativas de política unilateral (poder de barganha que nasce do fato de que um dos Estados cotados para a integração tem a capacidade de resolver o problema - que a integração visa mitigar - sozinho); II) Coalizões Alternativas (um país tem a alternativa de se integrar com mais de um grupo, podendo escolher entre eles); III) Potencial para compromisso e ligação (um país tem poder muito grande quando comparado aos demais e, por isso, ao se integrar, passa a ditar as regras dentro do bloco/liderar). b) intensidade de preferência → essa preferência é criada apenas se há uma relação entre Estado e sua sociedade, assim, se muitos setores possuem muita intensidade em suas preferências específicas, o país terá dificuldade de encontrar uma oferta de integração que abrace todas. Deve-se perguntar, a preferência é cultivada por qual setor e qual força ele possui dentro daquele país? Também é presente na negociação entre os países, caso todos os países tenham grande intensidade em preferências diversas, será trabalhoso, talvez até impossível chegar a um consenso. Ligada ao jogo de dois níveis.] A teoria intergovernamental chama atenção para o fato de que toda e qualquer integração regional é construída a partir de negociações demoradas, marcadas por trocas de propostas e consultas com a sociedade de cada parte. A teoria intergovernamentalista não deve ser vista como antítese de instituições supranacionais fortes, ela apenas tem como princípio a rejeição de uma estrutura supranacional que enfraqueça as políticase preferências domésticas de cada integrante. Por isso, na visão intergovernamental, a estrutura institucional única da Comunidade Europeia é aceitável para os governos nacionais apenas na medida em que fortalece, em vez de enfraquecer, seu controle sobre os assuntos domésticos, permitindo-lhes atingir metas de outra forma inatingível. Intergovernamentalismo construtivista: se trata de uma abordagem bottom-up, já que se concentra nas relações entre os atores (sub-estatais inclusos e diferentes entre si) e as estruturas sociais às quais eles pertencem. As identidades e os interesses são moldados pelas relações entre os diversos atores. Para esta teoria, a integração nasce a partir de uma identidade compartilhada entre os futuros membros, fugindo da racionalidade presente na vertente liberal. Seus pressupostos são: a) Estruturas (normas) definem o comportamento dos atores sociais e políticos. Sistemas de compartilhamento de ideias, crenças e valores também são tidos como instrumentos poderosos na influência sobre a ação política e social. Tanto estruturas normativas quanto materiais são relevantes. Logo, é levado em consideração as interpretações epistêmicas e normativas do mundo material; b) Identidades são as bases (essenciais) para a criação e condução de interesses conjuntos. Argumentam que entender como as estruturas não-materiais condicionam as identidades dos atores é importante porque estas são a chave para compreender os interesses e as ações → entender como os atores formulam seus interesses é crucial para a explicação; c) Condicionamento mútuo entre agentes e estruturas. As normas modelam os comportamentos, assim como estes acabam criando normas. Normas institucionalizadas; valores e ideias do meio social → identidade dos atores → interesses compartilhados dos atores. Ainda dentro desta vertente, encontramos 3 possíveis perspectivas: I) corrente sistêmica: em que a ação construtivista é notada (e é importante) apenas entre os Estados (relações entre atores estatais unitários), desconsiderando os demais atores e suas ações do plano doméstico; II) corrente nível único: concentra-se na relação entre normas sociais e legais domésticas e interesses dos Estados, centrando sua análise nos determinantes domésticos das políticas nacionais (aqui vemos certa aproximação com o intergovernamentalismo liberal); III) corrente holística: assume o plano doméstico e o internacional como 2 lados de uma única ordem política e social, se aproximando de um transnacionalismo. Seus autores buscam responder a uma preocupação básica: entender a dinâmica da mudança global e situação do Estado soberano nessa nova ordem. 4- Explique toda a evolução do processo de integração europeia desde o Tratado de Maastricht (1992) até a segunda década do século XXI. 5- Como você explica, de forma detalhada, as trajetórias centrífuga e centrípeta da União Europeia pós-Brexit?