Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1. Benjamin Cohen - International political economy Cohen mostra que, de forma geral, a área tende a ser mais crítica e inquieta com o status quo, características próprias de um campo onde a multidisciplinaridade de escopo se faz presente. Um campo de estudo apresenta uma ontologia e uma epistemologia. Ontologia: objeto da realidade a ser analisado. Epistemologia: paradigmas e métodos para a análise do objeto. Ontologia da Economia Política Internacional: relação entre a riqueza e o poder, observando o lócus do pensamento político e econômico e as assimetrias existentes de poder e de informação. Em relação à epistemologia da área é que se apresentam maiores discussões. Entre as escolas inglesa e americana existem diferenças de formação nesse sentido. Escola Americana : EPI ainda é uma área de interesse periférico nos departamentos de economia. A ciência política influencia a área no que diz respeito ao departamento em que estão alocadas nas universidades; epistemologicamente a ciência econômica guia os rumos da EPI → padronização a partir de modelos formais, análises positivistas e diversos trabalhos matemáticos e estatísticos. Lembra a metodologia utilizada por autores neoclássicos, muitas vezes deixando de lado grandes temas. Atualmente: Importante a discussão sobre fontes de financiamento, uma vez que por um lado um campo precisa de legitimidade e por outro a ciência se curva aos poderosos e ao contexto em que é produzida. Escola Inglesa : tende a ser mais qualitativa do que quantitativa. Origem na política econômica clássica, sendo mais institucional e histórico, portanto mais interpretativo. Ampla compreensão de sociedade é valorizada; métodos nada reducionistas. Importantes contribuições de Susan Strange: ela tinha o objetivo de desenvolver um jeito de pensar economia política internacional, e não de construir uma teoria em si. Para ela, o campo das Relações Internacionais era um subconjunto de EPI, que por sua vez, é uma área que versa sobre experiência humana e, portanto, nada deve ser deixado de lado. Atualmente, a escola inglesa não tem nenhuma especialidade acadêmica; o discurso é muito amplo, resistindo às formas e normas de uma única tradição. Na Inglaterra os estudos internacionais tem raízes espalhadas em diversas disciplinas, como sociologia, filosofia, religião e direito. Poder para Strange: termo central para explicar as dinâmicas e peculiaridades da economia global. Estudos tradicionais de política global, tendiam a identificar poder com recursos tangíveis (território, população, forças armadas). Mas, em termos econômicos, Strange argumentava que o que mais se sobressaía não eram as dotações físicas, mas estruturas e relações – que dependem de quem e para que. Dois níveis de atuação do poder: nível relacional e nível estrutural. Keohane listou os cinco principais temas do trabalho de Strange: ênfase no poder estrutural; foco na agência e no comportamento de atores auto-interessados; ceticismo sobre organizações internacionais e regimes; ênfase em competição entre autoridades dentro de diferentes setores da economia mundial; e profunda ambivalência sobre o papel dos EUA. → Escola Americana: estadocêntrica → Escola Inglesa: mais fragmentada e normativa Teoria da Estabilidade Hegemônica Essa teoria foi baseada na ideia de que a estabilidade da economia global dependia da presença de um único poder dominante. Daí a constância na discussão sobre um provável declínio hegemônico ser um presságio a uma era de insegurança. Keohane: estruturas hegemônicas de poder deveriam ser dominadas por um único país, de forma a conduzir da melhor maneira o desenvolvimento de regimes internacionais fortes, para que suas regras fossem precisamente obedecidas. Kindleberg: “Para a economia mundial ser estabilizada, é preciso existir um estabilizador”. Para ele a crise de 1929 foi tão profunda, tão ampla e tão longa porque o sistema econômico internacional foi desestabilizado pela inabilidade britânica e pela falta de vontade dos EUA em assumirem a responsabilidade por sua estabilização. Três funções eram necessárias para a estabilidade sistêmica: (1) manutenção de um mercado relativamente aberto para importações, (2) provisão a longo prazo de empréstimos anticíclicos e (3) suprimento de financiamentos a curto prazo para o caso de crises. Sua abordagem foi identificada posteriormente com a tradição neoliberal institucionalista da EPI. Gilpin: uma economia internacional de base liberal chama a responsabilidade de um poder que administre e estabilize o sistema. Sua conclusão é que a evolução da economia global moderna se deu pela emergência de grandes economias nacionais que se tornaram dominantes, todo sistema econômico se estabeleceu sobre uma ordem política e que não poderia ser entendido fora dessa ordem. Gilpin desenvolveu uma tese positivista sobre a natureza da transformação sistêmica, em que mudanças históricas eram dirigidas pela crença baseada no auto interesse dos Estados poderosos. Krasner: contribuição mais focada em uma dimensão do sistema global: a estrutura do comércio internacional. Afirmava que é mais possível que uma relação sistêmica ocorra durante períodos em que uma hegemonia estatal está em ascensão. Para ele, o poder e a política dos Estados criam a ordem onde estaria o caos. → Kindleberg acreditava numa projeção ideológica da crença em mercados abertos e não em uma política ligada a interesses, enquanto Krasner e Gilpin mudaram o argumento do objetivo de ser cosmopolita para o “interesse nacional”. → Duas versões da TEH: (1) uma mais benevolente, no estilo liberal (vai prover estrutura pública pra manter essa ordem; bempúblico e economicista), e outra (2) mais coercitiva (interesses nacionais do hegemon), na tradição realista. Para Cohen, essa teoria argumenta que a hegemonia é necessária e suficiente para prover estabilidade global. Num mundo complexo, aprendemos que os benefícios dependem muito mais do que apenas da concentração de um único poder. O ponto principal não é a concentração de poder, mas as condições que facilitam a produção de bens públicos necessários, seja por um Estado ou por muitos. O poder importa não porque ele pode ser concentrado, mas porque ele é relevante para a administração das relações econômicas. Teoria Crítica Ao contrário da ciência positivista, adota um horizonte muito mais amplo, mensurado não apenas em meses ou anos, mas em gerações, décadas. A teoria crítica permite a análise da relação entre estrutura e agência. Cox: “Teoria é sempre para alguém e para algum propósito”. Afirmava que muito mais do que apenas a ascensão da interdependência econômica estava envolvido nas mudanças que ocorriam na economia global. Não era nada menos do que a emergência de uma nova ordem mundial, uma nova estrutura histórica que refletia a expansão e integração de processos produtivos em uma escala transnacional. E central a isso tudo estava o realinhamento transformativo das forças sociais. Para ele a teoria crítica focava centralmente no potencial desenvolvimento e transformação sistêmicos. No seu ponto de vista, a ciência positivista (que ele chamou de teoria de resolução de problemas) era conservadora porque não questionava os interesses subjetivos que servem a um determinado sistema. A teoria RP era sobre o mundo como ele é, não sobre como mudá-lo. A resposta, para ele, deveria ser encontrada no conceito de “ordens mundiais”, estruturas históricas que ele via como funções de três amplas categorias de influência: capacidades materiais, ideias e instituições. Capacidades materiais se refletem em capacidades tecnológicas e modo de produção, que rapidamente estavam se tornando integradas para além das fronteiras nacionais; e a acelerada internacionalização da produção estava gerando entendimentos intersubjetivos das relações sociais e inovações na forma de governar instituições. Cox rejeitava o Estado-centrismo da teoria tradicional das RI, uma vez que para ele o Estado não pode ser analisado isoladamente. As mudanças históricas devem ser pensadas em termos de relações recíprocas das estruturas e atores dentro de uma conceitualização muito mais ampla de RI: o complexo Estado-sociedade. Gramsci: influência de Cox; marxista que enfatizava o poder das ideias e das estruturas de conhecimento, e como elas emergiam de interesses materiais das classes dominantes. Como Gramsci, Cox via o controle hegemônico das ideias como central para a legitimação e manutenção de uma ordem social particular. Polanyi: enfatizava a centralidade do processo dialético que ele chamava de “duplo movimento”: primeiro, a expansão do mercado, e depois, a tentativa da sociedade de proteger-se contra as consequências desestabilizadoras do mercado. Wallerstein: tentou reconceitualizar o sistema internacional como um sistema amplamente integrado de política econômica, diminuindo o papel das relações políticas interestatais. → Para ser uma grande potência é necessário relacionar o poder do dinheiro e o poder das armas. 2. Susan Strange - The Retreat of the State: the diffusion of power in the world economy As fronteiras dos Estados não coincidem mais com a extensão dos limites da autoridade política sobre a economia e a sociedade. O poder é exercido dentro e através das fronteiras por aqueles que estão em posição de oferecer segurança ou ameaçá-la, por aqueles que estão em posição de oferecer ou reter crédito, por aqueles que controlam o acesso ao conhecimento e informação e por aqueles que estão em posição de definir a natureza do conhecimento. O poder é produzido em uma estrutura de produção que define os termos e condições para seu exercício. Não é só a autoridade do Estado que possui esses poderes, mas se fortalece a estrutura financeira da economia política internacional nesse contexto. Na estrutura do conhecimento e da produção (produção de bens e serviços, criação, armazenamento e comunicação do conhecimento), os Estados territoriais perderam o controle há tempo. Na verdade, o Estado exerce papel de liderança somente no poder estrutural da segurança, nas outras estruturas de poder as autoridades não-estatais são quem determinam quem ganha o quê. Recuo do governo do Estado na qualidade de sua autoridade, especialmente do que diz respeito às funções mais básicas que deveria realizar, como a manutenção da lei e da ordem civil, a defesa do território de invasões estrangeiras, a garantia da solidez do dinheiro na economia, a garantia da clareza judicial na interpretação de leis acerca das mudanças de propriedade entre vendedores e compradores, credores e mutuários (quem pega emprestado). O nacionalismo moderno foi criado pelo capitalismo, já que o Estado é a ferramenta política necessária para a economia de mercado, provendo coesão através dos sentimentos de identidade e lealdade da sociedade com o Estado. Globalização é um termo muito vago que na verdade é um eufemismo para a americanização contínua das preferências de consumo e práticas culturais. Interdependência é um eufemismo para dependência assimétrica. Governança global é usado para significar cooperação e harmonização ou padronização de práticas entre governos de Estados territoriais de acordo com uma burocracia internacional, quando na verdade os governos estão sendo colocados em umahierarquia de autoridade, já que os limites da burocracia internacional para tomada de decisões são determinados pelos membros dos governos mais poderosos. As OIs são instrumentos dos grandes governos para perseguir seus interesses nacionais, assim os regimes internacionais são resultado de uma estratégia desenvolvida pelos Estados dominantes. Não tem como escapar da multidisciplinaridade no entendimento das mudanças e resultados na economia política internacional. Bem como da natureza da teoria e da pesquisa empírica, isto é, as teorias e explicações nascem de observações da realidade. Fundações Teóricas O declínio da autoridade dos Estados : a partir da desilusão com os líderes nacionais sua autoridade é diminuída. Strange afirma que as percepções dos cidadãos são mais confiáveis dos que as pretensões dos líderes nacionais e das burocracias que servem a eles. Os cientistas sociais estão criando conceitos e teorias obsoletas, pensadas para um mundo mais ordenado e estável do que o que vivemos, um mundo onde as fronteiras territoriais significam alguma coisa. Por isso, a autora defende que o estudo da EPI precisa ser repensado, especialmente no que concerne aos limites da política como uma atividade social, à natureza e fontes do poder na sociedade, à necessidade e a indivisibilidade da autoridade na economia de mercado, à anarquia da natureza da sociedade internacional e a condução racional dos Estados como atores unitários na sociedade. → Argumento central: as forças impessoais dos mercados do mundo, integrados no pós-guerra mais através de empresas nas finanças, indústrias e comércio do que por decisões cooperativas entre governos, são mais poderosas que os Estados, aos quais as autoridades políticas, supostamente, pertencem. Assim, o declínio do poder dos Estados é refletido no crescimento e difusão da autoridade para outras instituições e associações, para corpos regionais em uma crescente assimetria entre os grandes Estados com poder estrutural e os pequenos Estados sem isso. → Paradoxos: (1) as intervenções da autoridade do Estado e das agências do Estado na vida dos cidadãos estão aumentando. Mesmo assim o Estado está perdendo sua autoridade no que diz respeito às suas responsabilidades que o mercado nunca esteve apto a prover – segurança contra a violência, moeda estável para comércio e investimento, um sistema limpo de leis que sejam cumpridas e suficiência de bens públicos como suprimento de água e infraestrutura de transporte e comunicação. (2) enquanto os governos dos países estabilizados estão sofrendo queda da real autoridade, a fila das sociedades que querem ter seu próprio Estado é longa; ou seja, o desejo de autonomia cultural é universal, mas os meios políticos para satisfazer esse desejo, dentro da economia de mercados integrados, não é. (3) há um fenômeno ocidental, ou mesmo anglo-saxão, que é refutado pela experiência asiática de Estado, já que esta última é um exemplo de governos fortes que conseguiram crescimento econômico de acordo com algumas condições especiais que acabaram junto com a GF. Tecnologia: o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas são a causa primária das transformações na balança de poder do mercado estatal. A tecnologia, com o desenvolvimento da energia nuclear, determinou a razão primária para a existência do Estado: sua capacidade de repelir o ataque por outros. A competição por participação no mercado substituiu a competição por territórios ou pelo controle de recursos naturais; a busca por alianças entre Estados continua, mas não por sua capacidade bélica, e sim por seu poder de barganha concedido por sua grande área econômica. Os aliados buscados não são só Estados, mas também organizações intergovernamentais e empresas que aumentam o acesso à mercados nacionais. Finanças: a habilidade de aumentar o financiamento, para atrair investimentos e para o desenvolvimento de tecnologias é uma características importante para os Estados. O desenvolvimento de tecnologias aumentou a entrada de capital enquanto a entrada de trabalho diminuiu. Esse fato é importante para perceber a maior importância do dinheiro (crédito) na estrutura de produção na EPI. A escalada de custos de capital das novas tecnologias (elas são mais capital-intensivas) não pode ser coberta sem mudanças fundamentais no volume e natureza do crédito criado pela economia de mercado capitalista; e sem o aumento da mobilidade que caracterizou esse crédito criado nos últimos anos. Essas mudanças no suprimento e na demanda têm efeito no mercado, que ganha mais ênfase do que as relações entre Estados. A autora afirma que as teorias de demanda e oferta falham em se unir, as duas assumem um vácuo político no qual nada muda no comportamento dos governos para com elas e seus operadores – industriais, comerciais e financeiros na economia de mercado. Política, poder e legitimidade: três premissas que sublinham o argumento, cada uma direcionada a um desafio. (1) A primeira é que a política é uma atividade comum, não é confinada aos políticos e seus oficiais. (2) A segunda é que o poder sobre os resultados é exercido impessoalmente pelos mercados e normalmente sem intenção por aqueles que querem vender e comprar nos mercados. (3) A terceira é que a autoridade na sociedade e sobre as transações econômicas é exercida legitimamente por outros agentes além dos Estados. Três proposições gerais sobre a legitimidade da autoridade desenvolvida na EPI no final do século XX. (1) A primeira é a crescente assimetria entre a soberania dos Estados na autoridade que eles exercitam nasociedade e na economia. Havia uma tendência a assumir certa uniformidade na natureza da efetividade do controle que cada Estado assumia nas relações econômicas e sociais dentro das suas fronteiras territoriais. Isso não pode mais ser afirmado, vide ONU e decisões do CS. (2) A segunda é que a autoridade dos governos de todos os Estados, pequenos ou grandes, fracos ou fortes, enfraqueceram com as mudanças tecnológicas e financeiras e com a crescente integração das economias nacionais em um mercado global. (3) A terceira complementa a segunda, e é que algumas das responsabilidades fundamentais do Estado em uma economia de mercado não estão sendo executadas por ninguém. A difusão da autoridade para além dos governos nacionais deixaram um buraco de não-autoridade e não-governança, há um vácuo político no centro da EPI que não é preenchido por instituições ou por algum poder hegemônico exercendo sua liderança em interesses comuns. Padrões de poder: para Strange o poder é relacional. Como pensar sobre poder: definição mais ampla de poder pra além do controle de recursos. Poder é a habilidade de uma pessoa ou grupo de pessoas de afetar resultados nos quais suas preferências superem as preferências de outros. A racionalidade deve ser utilizada com precaução na definição de poder, esse aspecto assume que as motivações ou os propósitos para o ator estar satisfeito sempre são as mesmas em uma negociação entre governos, entre firmas ou um com o outro. Por isso a autora ressalta que o contexto da negociação muda de acordo com as transformações de opiniões políticas e de relações no mercado, dessa forma os propósitos dos protagonistas mudam também, além de que as vezes eles agem dissociados de seus propósitos. Obsessão hegemônica: a literatura em RI tem obsessão com a hegemonia. O poder, nesse sentido, ainda é visto como capacidades, propriedade de pessoas ou de Estado-nações como sociedades organizadas, não como característica de relacionamentos, ou como um processo social afetando resultados – a maneira como o sistema opera para a vantagem de alguém e a desvantagem de outro, e para dar prioridade à alguns valores acima de outros. Perspectiva gramsciana: A estrutura de produção envolve não capacidades, mas relações de poder; produção que cria recursos que podem ser transformados em outras formas de poder – financeiro, administrativo, ideológico, militar ou de polícia. Essas relações, para Cox, criam a autoridade política- os Estados – que impõem certas hierarquias de produção na sociedade formando um sistema de acumulação (uma estrutura de produção baseada na exploração de alguns grupos sociais por outros). Quando esse sistema se torna global, a exploração também é globalizada. Poder estrutural: “o poder over (sobre)” é mais importante que o “poder from (de)”. O “poder sobre” não precisa ser confinado à resultados conscientemente ou deliberadamente procurados, o poder pode ser exercido efetivamente por “estando lá”, sem ter a intenção de criar ou explorar algum privilégio ou de transferir os custos e riscos para outros. Ou seja, pode ser um poder inconsciente, um poder estrutural. Nas relações com outros é difícil pensar em um poder sendo exercido sem intenção deliberada, mas o poder em termos de poder sobre as estruturas é fácil pensar que as relações estruturais são afetadas mesmo sem intenção. Os resultados de algum conflito ou negociação são subjetivos, as vantagens e desvantagens podem mudar no curto ou no longo prazo. As relações de causa e efeito nas análises de EPI são complexas, quando se fala em resultados distributivos entre as sociedades, ou mesmo quando se fala de resultados sistêmicos – mistura de valores dentro de um mesmo sistema. O poder do mercado é impessoal, intangível, não tem preferências racionais e pode se comportar de uma maneira imprevisível, essa questão incomoda alguns cientistas sociais que não conseguem entender como os EUA adquirem poder através do mercado. Os limites da política : Estudar EPI coloca a pessoa entre os economistas e os cientistas políticos. Os primeiros reclamam maior atenção para os fatores econômicos, para os mercados, os preços, para as finanças. Enquanto os segundos protestam por igual relevância das escolhas que são essencialmente subjetivas e políticas, pela importância da lei e da organização do funcionamento dos mercados e para constranger o comportamento dos operadores do mercado e do papel da história e das percepções da história na formulação de políticas. O estudo da política, na maior parte do século XX, foi dominado pelo Estado como objeto. Todas as outras instituições tinham seu comportamento analisado de acordo com a maneira como afetavam o funcionamento do Estado. Ainda se mantém um axioma da maioria dos estudiosos interessados na política internacional do Estado soberano como unidade primária de análise, o problema é que por ser unidade primária acaba se tornando também unidade única, o que impede que esses acadêmicos olhem para outras autoridades que coexistem com o Estado no sistema, bem como para outras arenas da política nas quais os resultados são determinados e o “poder sobre” é exercido por autoridades não-estatais. A ferramenta para a análise da EPI requer atenção não somente para aspectos específicos como comércio ou conflito armado, ou a alocação de valores para individuais ou para grupos, mas também para arranjos que determinam a mistura de valores refletidos no sistema como um todo. Esses valores podem ser reduzidos em quatro: a riqueza criada, a segurança provida, a justiçadistribuída e a liberdade ou a autonomia permitida. Toda sociedade provê alguma quantidade desses valores, a diferença está no peso ou prioridade dada a esses valores entre as sociedades nacionais e entre a EPI como um todo em um determinado período de tempo. Easton diz que a política pode ser definida como esses processos e estruturas através dos quais a mistura de valores em um sistema como um todo e sua distribuição entre os grupos e os indivíduos é determinada. Nesse sentido, a autora afirma que não só os Estados que possuem a autoridade para alocar esses valores. Diretores de empresas podem fazer isso decidindo pagar mais ou menos para seus empregados de acordo com o mercado de trabalho; líderes de opinião terão poder para influenciar tomadores de decisão política acerca da defesa de direitos de determinados grupos sociais. São pessoas agindo de forma concertada que fazem a política e produzem lócus de poder, o poder deriva do desejo de pessoas de agir conjuntamente para aprovar objetivos comuns. Problemas conceituais: (1) um desses problemas nasce da separação da política doméstica e da internacional; como e por quem são alocados os valores e as decisões políticas são tomadas? O que a autora sugere é que os estudiosos de EPI deveriam usar a mesma lógica para redefinir a natureza da política e da autoridade política. (2) O segundo é como relacionar em um estudo síntese o sistema político dos Estados e o sistema econômico dos mercados. Para Gilpin o resultado da soma de Estados + Mercados é a EP, ou seja, como os Estados afetam a produção e distribuição da riqueza e como os mercados afetam a distribuição de poder e bem-estar entre os Estados. Strange estende a definição de política para além dos Estados, para outras fontes de autoridade, com poder de alocar valores permitindo tratar os dois mundos do mercado e do Estado como um só e propõe uma nova equação para a de Gilpin. No lugar de Estados estão múltiplas autoridades somadas com múltiplos mercados que resultam na variação da mistura de valores básicos incorporados ao sistema. Também tem-se como resultado a alocação dos valores não somente entre os Estados nações, mas entre classes, gerações, gêneros e múltiplos grupos sociais e associações. Essa modificação retira o Estado do papel de ator unitário e primário nas RI. Essa ferramenta analítica mais compreensiva resolve outro problema conceitual, (3) que diz respeito à agenda da economia política – a definição do cerne das questões políticas na economia de mercado. Gilpin vê essa agenda como relacionada aos interesses dos Estados, sendo os EUA o modelo dos interesses dos Estados de modo geral. Strange, por outro lado, afirma que os EUA não são modelo para o mundo, que cada Estado tem percepções diferentes, e diversas sobre as agendas da economia política, doméstica ou global. Esse aspecto é confirmado com a ascensão de novos temas sendo tratados transnacionalmente e envolvendo múltiplas autoridades e mercados. “O poder define a agenda”. Opções metodológicas para o desenvolvimento de um enfoque mais compreensivo: (a) organizar o material com base nos mercados ou setores da EPI, examinando o papel do Estado e dos atores não-estatais no funcionamento de mercados específicos. O equilíbrio entre autoridade política e mercado pode ser alcançado e as consequências para a variedade de grupos sociais são apresentadas de uma maneira comparativa que a variação entre setores ao longo do contínuo “livre para manejar” aparenta ser tão grande quanto a variação entre economias nacionais ao longo do mesmo contínuo. (b) analisar a intervenção de um número de instituições de governos nacionais e organizações internacionais em fundações privadas e associações de negócios. (c) [preferido pela autora] chamado de funcionalista, parte das várias funções da autoridade na economia política e pergunta quem ou o que está exercendo essas funções ou responsabilidades, quais são suas intenções e quais são seus efeitos e resultados. Ao imaginar o mesmo tipo de contínuo “livre para manejar” como antes, mas sem limites para intervenção de autoridades estatais, o método tem a vantagem da flexibilidade e pode ser aplicado para todas as formas de autoridade. O resultado em algumas situações é que ninguém é responsável pelas funções de autoridade, assim há um declínio no poder da maioria dos Estados e algum ganho na autoridade dos mercados mundiais e das empresas operando nesses mercados. Esse movimento é a maior mudança na EPI do século XX, e acontece nas estruturas produtiva e financeira, que têm mais impacto na vida das pessoas. Política e Produção : a mudança na estrutura de produção da economia mundial (os bens que são produzidos e como, onde e por quem) afetou a política nos mais alto nível de relações entre Estados e ao mesmo tempo as chances de vida dos indivíduos por toda parte do mundo. Essa mudança diz respeito não às multinacionais se proliferando, mas sim da produção antes destinada para um mercado nacional passar a ser destinada ao mercado mundial, ou pelo menos para vários mercados nacionais, assim, não são as empresas que são multinacionais, e sim a produção. E assim se criam as empresas transnacionais (TNCs), que se tornam atores políticos com a diminuição do poder dos Estados. Elas são instituições políticas, possuindo relações com a sociedade civil. Essa transformação do poder político dos Estados indo para o mercado não foi acidental, e sim resultado de políticas deEstado. As TNCs são as organizadoras centrais da atividade econômica mundial. O equilíbrio de poder mundial (sobre a sociedade civil) modificou-se dos Estados territoriais para os mercados não territoriais e isso transformou os limites da cooperação e da competição entre os Estados. Tendências para as TNCs: (a) novas formas de investimento em outros países, em todas elas o capital é levantado pelo parceiro local enquanto a empresa estrangeira comprada supre o capital invisível – a tecnologia, o conhecimento para produção, o desenvolvimento da marca e a publicidade. Uma consequência dessa relação é que grande parte do comércio mundial é intrafirma. (b) a produção internacional se tornou multinacional, no sentido de que as empresas estão ligadas a produção internacional de bens e serviços. (c) a mais importante politicamente, é a mudança no emprego e no comércio, da manufatura para serviços. Os países em desenvolvimento, abrindo seus mercados, conseguiram aumentar suas chances de competir com sucesso na exportação de manufaturas, mas com o preço de aceitar a crescente dependência em relação aos serviços financeiros e de marketing providos por grandes empresas em países desenvolvidos. Política inclui todas as atividades pelas quais os outros são persuadidos ou coagidos a colaborar com o alcance dos objetivos desejados por alguém. Influência sobre resultados. A autora argumenta que as TNCs possuem um papel muito importante em determinar quem fica com o que no sistema mundial, isso porque os Estados têm recuado sua participação no controle e posse sobre indústrias, serviços e comércio, mesmo na direção da pesquisa e inovação em tecnologia. Além disso, as TNCs tem feito mais que os Estados e organizações internacionais, na última década, para redistribuir riquezas de países desenvolvidos industrialmente para países mais pobres em desenvolvimento e as TNCs tiraram do governo o papel de resolver, ou pelo menos manejar conflitos de interesses. Privatização: tendência à privatização de empresas, Estados recuando em seu envolvimento na produção e na pesquisa subsidiada. Muitas vezes o capital para financiamento das TNCs vão para fora do país onde estão localizadas, assim, suas relações com outras empresas são mais importantes que as relações com o Estado. Realocando a indústria de manufatura: a suposição geral é que a economia mundial manteria as empresas manufatureiras nos países já industrializados e os países do “terceiro mundo” permaneceriam pobres. Entretanto, todo mundo errou em assumir que as mudanças estariam relacionadas somente à políticas de Estado, as empresas de manufatura estão mudando-se para países em desenvolvimento com a crescente mobilidade do capital e melhoria dos transportes e comunicações, através não de políticas de ajuda do Estado e sim movimentos do mercado. Gestão das relações de trabalho: tradicionalmente as relações de trabalho eram discutidas como aspecto de política pública. Com o neo-corporativismo, a manutenção da economia nacional se tornou objeto de perturbações para o mercado financeiro e para as forças econômicas para além do controle do governo. Questões fiscais: antigamente os governantes procuravam maneiras de conseguir fazer com que as pessoas pagassem os custos do governo. Mas isso mudou, tanto as demandas dos governos, quanto os meios utilizados pelos governos para aumentar sua receita e (o declínio) da habilidade dos governos em exercer direitos exclusivos na taxação dentro de seus limites territoriais. Com o aumento do comércio e investimento internacionais se desenvolve um conflito de interesses entre os governos. Aqueles que exportam capital reclamam o direito de taxar suas firmas onde quer que eles operem lucro. Por outro lado, os governos que recebem essas empresas também querem taxá-las. As empresas são incentivadas a buscar evitar ambas as taxações subdeclarando seus lucros para os dois governos. Por vezes essa situação é resolvida através de acordos entre os dois países em questão, mas não há um acordo global estabelecendo princípios para taxação. Embora as TNCs não tenham assumido o lugar dos governos dos Estados, elas certamente suplantaram seus domínios de poder, exercendo uma autoridade paralela à dos governos em matéria de gestão econômica afetando a indústria e investimento locais, o direcionamento da inovação tecnológica, a gestão das relações de trabalho e a extração fiscal dos valores excedentes. O Estado do Estado : Visão alternativa para o pós-GF de que a sociedade humana estaria provocando as maiores mudanças estruturais que afetam o lugar e função dos Estados em suas relações entre si. Essa visão pode ser encontrada em trabalhos de estudiosos que gestam organizações de negócios e que veem o intenso desenvolvimento de redes de empresas econômicas, transcendendo suas fronteiras, confundindo agências de Estado e substituindo as empresas dominantes como o modelo dominante para a produção de bens e serviços. Tradicionalmente, nas RI se afirma que o Estado é o ator unitário no SI, especialmente por sua responsabilidade de manter sua segurança dentro da economia e sociedade mundiais. Porém, a autora afirma que há outras matérias que afetam a sociedade e economia mundiais além da segurança, onde é óbvio que o Estado não é o ator principal. Ela cita três estruturas da EPI: produção, financeira e do conhecimento, nas quais outros atores, não-estatais possuem papéis mais decisivos em determinar de do que produzir, onde e por quem; em escolher quem tem acesso ao crédito e quem ganha e quem perde nas finanças internacionais; em persuadir outrosa compartilhar crenças fundamentais sobre a sociedade e a economia ou decidir que conhecimento é buscado e adquirido e por quem e para quem. Não significa que o Estado como instituição está desaparecendo, mas está acontecendo uma mudança na estrutura da sociedade e economia mundiais. Para comprovar isso, a autora analisa a situação de dez importantes poderes e responsabilidades atribuídas ao Estado: 1) Responsabilidade de defesa do território nacional contra invasões estrangeiras está sendo relativizada com o risco mínimo de invasão externa além do fato de que o território não é um fator crucial para a prosperidade de uma sociedade nacional, e sim a competição por mercados mundiais. 2) Responsabilidade de manter o valor da moeda, também suplantada pelo mercado; Estados têm sofridos crises econômicas recorrentes devido a incapacidade de realizar essa função. 3) Escolher as formas de desenvolvimento capitalista, de acordo com o nível de intervenção na economia de mercado e controle dos meios de produção e distribuição; e o nível de responsabilidade pelo bem-estar social. Os Estados pouco conseguem fazer isso, são as mudanças estruturais na economia global que conduzem os Estados pelos caminhos em convergência com o capitalismo. 4) Corrigir as tendências cíclicas da economia a quedas e explosões, é um responsabilidade que os Estados não tem mais capacidade para realizar, o mercado faz isso sozinho. 5) Prover uma rede de segurança àqueles indivíduos que não podem sobreviver sozinhos na economia (crianças, desempregados, idosos). Esse papel fez com que aumentassem as burocracias estatais, a autora argumenta que talvez essa extensão do papel do Estado tenha chegado ao seu limite, os Estados não vão aumentar gastos com essa responsabilidade por constrangimento do mercado. 6) Responsabilidade sobre impostos e gastos foi usurpada pela atuação das organizações internacionais, de acordo com a participação relativa dos governos nacionais. Estado perdeu espaço para essas OIs e também para os bancos e negociações específicas entre empresas que impedem o aumento das taxas pelo governo do Estado. 7) Responsabilidade pelo controle sobre o comércio internacional também está relativizada tendo em vista que há uma grande diferença entre os objetivos dos Estados e os resultados comerciais verificados. 8) Responsabilidade pela infraestrutura econômica (comunicação, transporte). O Estado não consegue fazer isso sozinho, a maior parte dessas obras é resultado de parcerias público-privadas, o Estado não pode oferecer a forma de infraestrutura desejada pelas empresas e sociedade para melhor inserir-se na economia mundial. 9) Garantir ambiente competitivo no país é uma responsabilidade totalmente afetada pelas mudanças estruturais na economia mundial, diminuindo o poder do Estado através do aumento dos custos para proteção das empresas nacionais e da manutenção de privilégios de monopólio até então disponíveis aos Estados, com o desenvolvimento da economia de mercado mundial. 10) Uso legítimo da violência contra cidadãos ou grupo de cidadãos também está sendo perdido pelo Estado com o aumento de grupos mafiosos, terroristas que utilizam a violência contra cidadãos, ameaçando-os. Para a autora as razões para isso estão relacionadas com o mercado mundial, que não possui controle de muitas armas na estrutura global de segurança. O domínio da autoridade do Estado na sociedade e na economia está encolhendo, há poucos domínios que a autoridade é exclusiva do Estado, em todos os outros ela está sendo compartilhada com outras fontes de autoridade. Uma indicação desse movimento é que certos grupos sociais que o Estado costumava proteger agora estão expostos a forças estruturais globais de mudança, como, por exemplo, as uniões de trabalhadores em socialdemocracias, que até a metade do século XX aumentavam suas intervenções na economia para assegurar seus direitos de negociação com os empregadores, com a proteção das leis. Mas a partir dos anos 1990 o escudo protetivo não está sendo efetivo, as uniões estão perdendo seu poder e os gestores estão transferindo a produção para outros países onde as leis de trabalho são mínimas e não existem mecanismos neocorporativistas. As empresas estão tomando decisões de investimento que transcendem os limites do Estado territorial onde foram criadas, as pessoas estão procurando empregos em outros lugares. E essas mudanças estão acontecendo de forma muito rápida e intensa. Aula : A questão trabalhada pela autora não é teórica, ela busca criar um arcabouço analítico, mais relacionado à análise da realidade empírica. Produz um trabalho fundador da EPI na Inglaterra. Ela parte da economia política, diferente da metodologia da economia neoclássica, ponto de partida da Escola Americana. A autora entende que as teorias das RI não explicam o mundo por partirem, essencialmente, do fato dos EUA serem hegemônicos, terem expandido seu poder econômico e político pelo mundo todo, dessa forma, essas teorias se baseiam na agenda desse país. A crítica da autora é que essa agenda é política e não acadêmica, portanto não seria adequada. Ela afirma que esses teóricos americanos veem os EUA como mantenedores da ordem internacional e assim não acompanham as mudanças que acontecem no SI (dinâmicas de poder alteradas na década de 70) para realizar suas análises, permanecem reproduzindo a agenda defendida e hierarquizada pelos EUA. Critica as RI por manter a centralidade do Estado, negligenciando a ação humana (sociedade civil organizada) na política, que mesmo sem ser governamental, é política por interferir econdicionar as ri. Critica a teorização e esquematização no estudo dos regimes internacionais feita pelos teóricos americanos, que mantém uma estrutura de sistema internacional, analisando e não propondo soluções que questionem as relações estabelecidas; eles sempre buscam caminhos para restabelecer a organização do SI com EUA hegemon. A autora percebe a autoridade do Estado sendo dividida e dissolvida, especialmente com o aumento da importância e controle do Estado pelo mercado. Década de 60: liberalismo embutido, controlado, com Estado usando o mercado, mas mantendo sua autonomia sobre ele devido as fortes fronteiras entre países. Década de 80: aumento da integração entre mercados impede controle do Estado sobre ele. As consequências desse movimento incluem o fim da distribuição de benefícios do Estado às classes escolhidas por ele, o mercado vai regular isso sozinho. A grande miopia dos Estados diz respeito ao avanço e inovações da tecnologia, o grande elemento que acelerou a integração dos mercados e que não foi percebido pelos cientistas políticos –americanos. O papel do Estado é transformado totalmente nesse cenário, a relação entre Estado-mercado-sociedade civil é também modificada. Pessoas tornam-se mais conservadoras na tentativa de manter sua qualidade de vida conseguida com o avanço tecnológico, não se importam com conflitos internacionais impactando em sua vida e país e modificando as relações econômicas e políticas. EPI americana relega novos problemas por esses não se incluírem em suas análises teóricas já estabelecidas. Não conseguem perceber as relações diferentes entre Estado e mercado. Mudança no sistema financeiro aconteceu para possibilitar tamanhos avanços tecnológicos (crédito em novas formas para financiamento, bem como novas formas para pagamento, com submissão do Estado ao mercado), que precisam de muito financiamento, porque são caros. A autora tenta explicar o que os autores, teóricos, americanos perderam na transformação das RI, busca entender, analisando e explicando, as ri como elas são. O estudo da EPI é um processo árduo que combina sociedade, economia, política e suas influências sobre o sistema global de produção, troca e distribuição de riqueza e valores inerentes a esse sistema. Strange acredita que o Estado não é o único ator. Cria um arcabouço analítico para entender as relações de poder no sistema internacional. EPI inclui agentes internos que influenciam o sistema global, através de suas próprias decisões carregadas de seus próprios valores e crenças. A década de 1980 reflete o resultado das mudanças na década de 1970. Para explicar essas mudanças, cria dois conceitos: Poder estrutural → poder de modificar o cenário no qual o poder relacional ocorre (mudar as regras do jogo); e Poder relacional → poder de jogar e ganhar o jogo (tradicional, porém sempre condicionado por mudanças nas relações econômicas, sociais e políticas). Mudanças estruturais fundamentais do poder estrutural ocorreram nas estruturas: 1) Produção:O que produzir, como e para quem. Mais importante para Strange. Analistas não conseguem ver a diminuição da autoridade de ação do Estado na EPI. 2) Finanças: crédito desvinculado dos lucros da produção. Dólar como moeda referência. Aliado ao sistema financeiro robusto dos EUA. Pós-SBW, dólar dos EUA (moeda como poder estrutural ao garantir crédito internacional) na centralidade das finanças globais, mantendo seu poder relacional. Strange afirma que diversos autores não perceberam as transformações profundas na estrutura da produção, da segurança, do conhecimento e dos valores com a nova ordem econômica estabelecida pós década de 70. Nesse sentido, momento anterior de fim do sistema de acumulação fordista (pra vir acumulação flexível/globalização) e busca por nova tecnologia de produção, todos os países passaram por crise e EUA perdem, relativamente, sua hegemonia, reconquistada com o movimento subsequente de financeirização da economia mundial desencadeado por eles. Fordismo baseado na junção Estado + capital em determinado mercado, as empresas eram beneficiadas pelos Estados. Com globalização e flexibilização do padrão de acumulação, os mercados são transnacionais, as empresas estão interessadas nos benefícios de pertencimento a uma cadeia global (fusões, privatizações), o que enfraquece o poder do Estado na negociação com as empresas. As finanças constituem a estrutura que garante as outras (a segurança, a produção e as novas tecnologias possíveis). Com a globalização, as finanças passam por desregulamentação com liberalização financeira. Estado perde ainda mais poder por não controlar moeda e taxas de câmbio, entrada e saída de capitais e sua participação no mercado financeiro e monetário internacionais, já que os agentes econômicos internacionais baseiam suas atitudes em fatores do mercado. 3) Segurança: Com a globalização há muitas agências privadas que promovem a segurança na sociedade, não é mais exclusividade do Estado, assim como o uso da violência (máfias...). Item que menos muda no período. EUA mantém controle do poder internacional. 4) Conhecimento e valores: Ligado à produção tecnológica, globalizada e centrada em garantir empresas multinacionais. Valores são relativizados, essa estrutura dos valores está permeada pelos princípios neoliberais, Estado fica com o papel de garantir a competitividade e concorrência, a liberdade de atuação do mercado. Strange cita predominância nas empresas (Microsoft) e não mais nos Estados. Conhecimento e técnicas vinham dos EUA. É necessário novo padrão tecnológico. A forma de viver dos EUA é transferida junto com conhecimento Valores: cabe ao Estado garantira competição. Papel de reduzir Welfare State (diminuir salários). Grande trunfo do poder relacional dos EUA: liberalismo econômico. Principais pontos: → o Estado não é um ator unitário → Sofreu críticas de todos os lados → Análise relacional: relacionar os quatro pilares do poder → A quem o poder beneficia? → O poder é difuso e multifacetado: o poder é exercido pelos Estados mas também pelo mercado (Cox acrescenta forças sociais) → 4 estruturas de poder: Segurança, Produção, Conhecimento, Finanças. O poder é difuso nessas estruturas. → Quem determina quem vai produzir o que, pra quem? Conclusão: “Estado Pinóquio e outras conclusões”. A autora enxerga o Estado como uma marionete viva (referência ao Pinóquio), com várias mãos tentando coordenar essa marionete. O Estado ainda mantém (1) monopólio do uso legítimo da força, (2) o direito de taxar e (3) o poder de decidir o que é legal ou ilegal. (além do monopólio da emissão da moeda) → Questões básicas do livro: 1) Quem ou o que é responsável por essa mudança? 2) Quem ou o que exerce autoridade na economia mundial ou na sociedade nacional? A resposta apresentada é um modelo triangular: tecnologia, mercado e política. 3. Robert Cox - Forças sociais, Estados e ordens mundiais O processo de teorização parte de uma divisão inicial da realidade, usualmente ditada por uma convenção. As RI são uma área de estudo relacionada às relações entre Estados-nação, que são as principais agregações de poder político, porém geraram confusões acerca da natureza dos atores envolvidos (diferentes tipos de entidades estatais e não estatais), introduzindo uma diversidade de objetivos perseguidos e produzindo uma complexidade de modos de interação entre instituições com as quais cada ação tem lugar. Hoje essas entidades estão tão interpenetradas que os conceitos são puramente analíticos, vagos e imprecisos, já que é muito difícil definir aspectos da realidade tão complexa. As teorias das RI tem sido criticadas em dois sentidos, algumas por sua tendência a subestimar o Estado considerando-o como um derivativo de sua posição no SI (centro e periferia), outras por seu viés alegado, embora não intencional, de manutenção do sistema. Método: para entender as relações globais, o autor olha para o problema da ordem mundial como um todo, mas toma cuidado em materializar um sistema mundial. Toma cuidado em menosprezar o poder do Estado, mas da atenção apropriada às forças e processos sociais, percebendo como eles se relacionam com o desenvolvimento dos Estados e de ordens mundiais. Acima de tudo, não baseia a teoria na teoria, mas sim em mudanças de práticas e em estudos empíricos-históricos que fornecem uma base para conceitos e hipóteses. “A teoria é sempre para alguém e para algum propósito”. Perspectivas e propósitos: Todas as teorias possuem uma perspectiva, que deriva de uma posição em um tempo e um espaço, especialmente social e político. Quanto mais uma teoria reflete e transcende sua própria perspectiva, mais sofisticada é, mas ainda assim sua perspectiva inicial é importante para sua explicação. Para cada perspectiva o mundo levanta um número de questões. A primeira tarefa da teoria é clarificar esses problemas para permitir que a mente enfrente a realidade que a confronta. Assim como a realidade muda, conceitos antigos precisam ser ajustados ou rejeitados dando lugar a novos conceitos forjados através de diálogos entre o teórico e o mundo particular que ele tenta compreender. Esse diálogo inicial concerne à problemática a partir de uma perspectiva; partindo da sua problemática a teoria pode servir a dois propósitos: 1) resposta direta: ser um guia para ajudar a resolver problemas em termos da perspectiva que foi seu ponto de partida → RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS, sua força reside em sua habilidade de estabelecer limites ou parâmetros para a área do problema; 2) tornar-se consciente de sua perspectiva inicial e sua relação com outras perspectivas (para alcançar uma perspectiva dentre as perspectivas) e abrir a possibilidade de escolher uma perspectiva diferente para a qual a problemática se torna criadora de um mundo alternativo → TEORIA CRÍTICA, parte da ordem mundial prevalecente e questiona como essa ordem se estabeleceu. Diferente da resolução de problemas, a teoria crítica não toma como certo instituições e relações sociais e de poder, mas as coloca em questão ao considerá-las em suas origens e como e se elas podem estar em processo de transformação. Enquanto o enfoque da rp leva a uma subdivisão analítica e uma limitação da questão a ser tratada, o enfoque crítico leva a construção de uma grande imagem do todo com o qual a contemplação inicial é somente um componente, e procura entender o processo de mudança no qual as partes e o todo estão envolvidos. A teoria crítica também trabalha com os problemas do mundo real, mas seus enfoques partem de uma perspectiva que transcende a ordem existente, nesse sentido, seu principal objetivo é clarificar a diversidade de alternativas possíveis de transformação da ordem mundial; é um guia para ações estratégicas trazendo uma ordem alternativa, enquanto a teoria rp é um guia para ações táticas para a manutenção da ordem. A teoria crítica é uma teoria da história no sentido de ser relacionada ao contínuo processo de mudanças históricas. Por outro lado, a teoria de rp é fixa, uma vez que a permanência das instituições e relações de poder constituem seus parâmetros. Essa consideração é ideológica e conveniente, dessa forma essas teorias são consideradas servindo a interesses particulares de umEstado ou classes sociais que estão confortáveis com a ordem dada; propósito dessas teorias é conservador, tendo em vista seus objetivos de resolver problemas para manter o funcionamento de um todo. Realismo, Marxismo e um enfoque para uma teoria crítica da ordem mundial : realismo e marxismo são consideradas tentativas preliminares de desenvolver um enfoque crítico às RI. O neorrealismo, com Waltz, falha em desenvolver uma teoria crítica na medida em que busca uma teoria não histórica, somente utilizando materiais históricos. Os neorrealistas debatem com os internacionalistas liberais acerca dos seus diferentes conceitos de essência do homem, do Estado e do sistema de Estados. Vico Giambattista oferece uma possibilidade de visão além dessa mutualidade ao afirmar que a natureza do homem e as instituições humanas não devem ser pensadas em termos de substâncias imutáveis, mas sim em uma contínua criação de formas. Para ele não é possível abstrair o homem e o Estado de sua história, sendo história o registro das interações entre manifestações de suas substâncias. E é isso que teorias rp (neorrealismo por exemplo) fazem, pegam uma forma de pensamento derivada de uma fase particular da história e assumem ser universalmente válido. O Marxismo em sua forma materialista histórica é a principal fonte para a teoria crítica, ele vê no conflito o processo de contínuo rearranjo da natureza humana e a criação de novos padrões de relações sociais que mudam as regras do jogo e fora disso, novas formas de conflitos surgem. Em resumo, o neorrealismo vê o conflito como uma consequência de uma estrutura contínua enquanto o materialismo histórico vê o conflito como uma causa possível para mudanças estruturais. Por seu foco no imperialismo, o materialismo histórico adiciona uma dimensão vertical do poder, que demonstra a dominância e subordinação do centro sobre a periferia na economia política mundial. O materialismo histórico amplia a perspectiva realista acerca das relações entre Estado e sociedade civil, de acordo com a teoria de Gramsci na qual há uma relação recíproca entre a estrutura (relações econômicas) e a superestrutura (a esfera ético-política), considerando o complexo Estado-sociedade como as entidades constituintes da ordem mundial e explorando as formas particulares tomadas na história por esse complexo. Principal diferença: O materialismo histórico foca no processo de produção como um elemento crítico na explicação de uma forma particular histórica tomada pelo complexo Estado-sociedade e examina as conexões entre o poder na produção, no Estado e nas RI, enquanto o neorrealismo ignora o processo de produção. Premissas básicas para uma teoria crítica: 1) consciência de que a ação nunca é totalmente livre, mas tem um lugar dentro de uma estrutura que constitui sua problemática. A teoria crítica deve começar a partir dessa estrutura, o que significa começar com uma pesquisa histórica ou empírica; 2) realização de que não somente a ação, mas a teoria é moldada pela problemática. A teoria crítica sabe que sua tarefa não pode ser nunca terminada em sistema fechado, mas continuamente ser iniciada de novo; 3) a estrutura para ação muda o tempo todo, e o principal objetivo da teoria crítica é entender essas mudanças; 4) essa estrutura é histórica, é uma combinação de padrões pensados, condições materiais e instituições humanas que possuem certa coerência entre si; essa estrutura não determina as ações das pessoas, mas constituem o contexto de hábitos, pressões e expectativas dentro dos quais as ações tem lugar; 5) a estrutura dentro da qual as ações tem lugar deve ser vista não de cima em termos de requisitos para seu equilíbrio e reprodução, mas de baixo, ou de fora em termos dos conflitos que surgem dentro dela e abrem a possibilidade de transformá-la. Frameworks pra ação: estruturas históricas : configuração de forças. Essa combinação não determina ações, mas impõe pressões e constrangimentos. Grupos e indivíduos podem mover-se com a pressão, ou se opor a elas, mas não podem ignorá-las. Quando resistem, eles apoiam suas ações em uma configuração de forças alternativa. Três categorias de forças interagem em uma estrutura: capacidade materiais, ideias e instituições, de forma recíproca. É importante distinguir entre estruturas hegemônicas e não hegemônicas, isto é, entre aquelas nas quais a base de poder da estrutura tende a passar para o plano de fundo da consciência e aquelas nas quais a manutenção das relações de poder está sempre na primeira linha. Hegemonia não pode ser reduzida em uma dimensão institucional; instituições não contemplam outros aspectos da realidade (forças materiais, emergência de desafios ideológicos para a ordem prevalecente) e sua eficácia como meio de regular conflitos (a função hegemônica) é posta em xeque. E estrutura histórica não representa o mundo todo, mas uma esfera particular da atividade humana em sua totalidade historicamente localizada. O método das estruturas históricas é aplicado em três níveis ou esferas de atividade: 1) a organização da produção, no que diz respeito às forças sociais engendradas pelo processo de produção; 2) formas de Estado como derivadas de um estudo dos complexos Estado/sociedade; 3) ordens mundiais, as configurações de forças que definem a problemática da guerra ou da paz para os dois Estados. Esses três níveis se inter-relacionam. Mudanças na organização da produção geram novas forças sociais que, trazem mudanças na estrutura dos Estados, e a generalização das mudanças na estrutura dos Estados altera
Compartilhar