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teorico 4

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Prévia do material em texto

Responsável pelo Conteúdo: 
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni 
 
Revisão Textual: 
Profª. Esp. Vera Lidia Cicaroni 
 
 
 
 
 
Nesta unidade, vamos tratar do tema “O conceito de evolução 
aplicado à antropologia e a constituição cultural do Homem”. 
Veremos como os primeiros antropólogos desenvolveram seus 
primeiros referenciais teóricos fortemente influenciados pelo 
evolucionismo darwinista e como, a partir do spencerianismo, 
esses ideários penetraram as nascentes Ciências Humanas. 
Conheceremos, também, como a crítica boasiana e as teses 
do relativismo cultural desmontaram esses primeiros 
referenciais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sendo assim, este é um conteúdo fundamental, não só porque nos serve de base informativa 
para compreender as origens da Antropologia e seus primeiros pressupostos teóricos, mas 
também porque nos servirá de fundamento para compreender a questão da diversidade entre 
os povos a partir do prisma do relativismo cultural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Conceito de Evolução aplicado à 
Antropologia e a Constituição Cultural do 
Homem 
Atenção 
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar 
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 
 
 
 
 
 
 
 
A sociedade vem desde muitas décadas, dividindo-se em culturas diferentes. Essas nem 
sempre são aceitas por todos. As pessoas costumam admirar e reconhecer as riquezas da 
diversidade do planeta, como os aromas, os sons e os sabores. Mas, infelizmente, quando se 
trata de diversidade cultural e individual, ainda se tem muito preconceito. 
É grande o número de pessoas que sofrem diariamente com preconceito quanto à cor, 
à condição física, à etnia, à sexualidade, à classe social, entre outros. Tal problema só vem se 
agravando nos mais diversos países, as pessoas perguntam se será mesmo que todos os 
homens são considerados iguais, que medidas devem ser tomadas para mudar a realidade de 
exclusão e como tornar um país igualitário.” (Alanna Avad – “Jornal de Hoje”). 
Como vemos, em notícias recentes, a diversidade entre os povos é objeto mais de 
discórdia e intolerância do que de paz e tolerância. Homossexuais estão sendo perseguidos e 
mortos; nordestinos, agredidos em São Paulo; afrodescendentes, vítimas de um racismo 
histórico; mulheres, agredidas dentro de seus próprios lares etc. 
Diante desses fatos, reflita sobre estas questões: como as diferenças foram entendidas 
pela Antropologia? Esse entendimento pode agravar ou melhorar esses quadros? 
Nesta unidade vamos conhecer o contexto de passagem do evolucionismo para o 
relativismo cultural, mudando a própria natureza da Antropologia em relação a essas 
horrendas ocorrências. 
Em busca das respostas às questões aqui elaboradas, embrenhe-se pelo conteúdo 
teórico, apresentação narrada e demais materiais dessa unidade, a fim de entendermos mais 
sobre a dimensão cultural da condição humana. 
 
 
 
Contextualização 
 
 
 
 
 
Em ciência, nada é definitivo. Aquilo que se pensa verdade, hoje, pode ser 
desconstruído por uma nova teoria científica que imponha outra forma de perceber a 
realidade, alterando, consubstancialmente, a própria ideia de verdade, e que, de igual forma, 
é passível de desconstrução. Não que a ciência não produza saberes exatos sobre os seus 
objetos de investigação; a questão é que nenhum desses conhecimentos é absoluto e 
inamovível. 
O conceito de evolução, que já foi tomado como verdade absoluta até extremos 
inimagináveis, também se insere nessa categoria. É largamente aplicado à Antropologia e é 
produto do impacto da publicação das teses de Charles Darwin, em especial a da perpetuação 
dos mais aptos, amplamente difundida no séc. XIX e que teve imensa influência nas Ciências 
Sociais durante todo o séc. XIX e início do XX. 
A concepção darwinista de evolução 
nunca apregoou que o Homem fosse 
descendente dos macacos (como é 
dito no senso comum), mas que os 
primatas mamíferos (chipanzé, gorila, 
orangotango e o Homem) possuem o 
mesmo descendente comum. Sendo 
assim, segundo essa concepção, o 
Homem é também um primata, mas, 
dentre os mencionados, o único que 
sofreu o processo de humanização. 
Modernas técnicas para determinação da antiguidade de materiais orgânicos foram 
obtidas por meio de restos esqueletais localizados em sítios arqueológicos e submetidos às 
técnicas de datação de fósseis por C (carbono quatorze), cujo grau de confiabilidade oscila 
entre um período de 5700 anos, e o processo de datação com Argônio-Potássio, com precisão 
de até milhões de anos. 
A Antropologia possui uma dimensão teórica e 
uma dimensão prática. A teórica refere-se ao estudo puro 
de todo o conhecimento passível à compreensão da 
humanidade. No campo prático, é necessário, por parte 
do antropólogo, o conhecimento das posições teóricas 
que fundamentam e orientam sua atuação na 
compreensão de problemas. 
 
Material Teórico 
 
 
 
Ocorre que, desde o século XIX, quando a Antropologia foi sistematizada como 
ciência, até hoje, diferentes nortes teóricos deram a essa ciência formas distintas de ver o 
Homem e de fazer a própria Antropologia. 
O séc. XIX, com a difusão da teoria darwinista de perpetuação dos mais aptos na 
evolução das espécies, emprestou da Biologia à Antropologia, do darwinismo biológico para o 
darwinismo social, a falsa convicção de que o Homem estaria dividido em raças, o que 
permitiria dizer que, qualificando-as, seria possível falar em raças superiores e inferiores e, 
pior, dotar a medicina de meios seletivos para ou aniquilar aqueles entendidos como inferiores 
ou inviabilizar sua reprodução. 
A Antropologia rácica está no contexto também do chamado darwinismo social, que 
emprestou para regimes de terror, como o nazismo, no final da primeira metade do séc. XX, 
argumentos pseudocientíficos para os assassinatos em massa empreendidos entre 1933 a 
1945. 
Estudiosos da questão identificam que não há fronteiras rácicas entre os homens, senão 
geográficas e culturais, e que valores, comportamentos e morais são socialmente construídos, 
não dados hereditariamente. Sob esse ponto de vista, há, portanto, uma só raça entre os 
homens: a raça humana. 
Mas o ponto de inflexão dessa Antropologia rácica, que nascia no contexto de 
validação científica da própria Antropologia, foi a publicação da obra de Franz Boas e a 
difusão de sua nova teoria - a do relativismo - em dois de seus textos fundamentais: “A Mente 
do Homem Primitivo”, publicado em 1938, e " Raça, Linguagem e Cultura”, de 1940. 
Boas, criticando duramente a percepção da 
Antropologia rácica de que diferenças culturais 
seriam determinadas biologicamente e que seria 
possível escalonar culturas entre mais evoluídas e 
menos evoluídas, entre melhores e piores, entre 
belo e feio, demonstrou que essas diferenças 
constituem sistemas culturais construídos 
socialmente, sem obedecer a critérios como 
hereditariedade. Como prova tem-se o fato de 
que irmãos gêmeos, separados quando bebês e 
criados em culturas completamente distintas, 
incorporam os valores, morais, hábitos e 
costumes próprios dos grupos nos quais estão 
inseridos e jamais adotam um sistema cultural 
diverso por haver alguma programação biológica 
para isso. 
 
 
Mais do que isso, de Franz-Boas a Antropologia incorporou a ideia de relativismo 
cultural. 
A relatividade cultural ensina que o Homem e sua cultura devem ser estudados sob o 
aspecto de sua própria cultura, ou seja, os padrões de bem e de mal, moral e imoral, belo e 
feio, certo e errado, justo e injusto não devem ser estudados sob o ponto de vista da cultura 
do antropólogo ou de qualquer outra cultura dominante, mas sim sob o prisma daquela 
cultura que está sendo estudada, por mais estranha que pareça aos olhos do analista. 
Desses pressupostosresultam outros três: 
O primeiro alude ao direito de autonomia tribal. Os grupos humanos têm o direito de 
manter sua cultura preservada e desenvolvê-la sem influência nenhuma externa, mesmo 
tratando-se de sociedades tribais, rurais, isoladas ou ágrafas. 
O segundo pressuposto guarda os valores culturais. Os valores de determinados grupos 
não devem ser julgados e modificados por outra sociedade dominante sob a pena de agredir 
desmedidamente a cultura dominada. Devem-se analisar os valores de determinada cultura 
sob o ponto de vista dos integrantes dessa cultura e não sob um ponto de vista externo ao seu 
universo referencial. 
Por fim, desponta o problema do etnocentrismo. 
Segundo a Antropologia, não existem grupos ou culturas 
inferiores ou superiores a outras, mesmo que algumas 
detenham mais recursos tecnológicos e outras sejam 
consideradas primitivas; apenas são diferentes. Seria um erro 
adotar uma postura etnocêntrica e julgar uma cultura como 
superior ou inferior a outra. 
A cultura define-se, segundo a Antropologia 
Cultural, como o ato voluntário humano que é 
consciente de sua finalidade, ou seja, trata-se da ação 
humana consciente de que produz resultados. 
Isso, por si só, nos permite empreender uma 
série de reflexões. Podemos começar percebendo que 
o pensar humano se distingue do pensar de outros 
seres em natureza exatamente por seu grau de 
consciência, isto é, o Homem é consciente de que suas 
ações têm resultados. Isso quer dizer que o Homem 
tem plena capacidade de consciência que lhe permite 
saber que aquilo que ele faz lhe traz consequências, e, 
assim, pode valorar suas ações de forma a agir no 
sentido de provocá-las (se boas) ou evitá-las (se ruins). 
 
 
 
Antes de mais nada, percebamos que, em seu pensar, o Homem pode se antecipar a 
um determinado problema e imediatamente pensar na solução mais adequada para ele. Ao 
fazer isso, ele dá uma espécie de “salto para o futuro” em apenas um pensamento: é capaz de 
projetar possibilidades de futuro em seu tempo presente, e mais, de mudar o seu próprio 
futuro, uma vez que, orientando suas ações no presente, pode evitar um futuro indesejado. 
O pensar humano, portanto, possibilita ao Homem projetar a si mesmo nos futuros 
possíveis, orientando as ações humanas em direção ao futuro mais desejado e evitando o 
menos desejado. 
Mais do que isso, se idêntica situação se repetir no futuro, o indivíduo não precisa 
realizar a mesma reflexão com o mesmo grau de profundidade, uma vez que dessa situação 
ele retirou aquilo que chamamos de experiência. Além disso, pode partilhá-la com os outros, 
ensinando sobre a experiência vivida e transmitindo o conhecimento gerado por esse tipo de 
situação àqueles que fazem parte do seu convívio social. 
Sendo o resultado da ação humana benéfico, esse valor positivo é deslocado, pelo 
indivíduo, do resultado para a própria ação, dando-lhe, então, um significado de acordo com 
a qualidade do resultado, ou seja, tendo sido bom o resultado, aquela foi uma boa ação. O 
próprio pensar recebe, portanto, os valores e significados da ação e de seu resultado, 
compondo os sentidos do pensar. Nesse caso, o indivíduo teve bons pensamentos que o 
levaram a uma boa ação, cujo resultado foi positivo. 
Esses valores, significados e sentidos, por sua vez, passam a compor a identidade do 
indivíduo, ou seja, no caso citado, um homem esperto. No campo da valoração, identidades 
podem ser determinadas das formas mais diversas: o homem bom, mau, mentiroso, 
verdadeiro, justo, injusto etc. Identidades sociais são, portanto, determinadas por repertórios 
de valores, significados e sentidos. 
Mas, quem determina o que é bom ou ruim para os resultados de uma ação? 
Percebam que valores e morais 
(tudo aquilo que determina o 
certo e o errado, o bom e o ruim, 
até mesmo o justo e o injusto), 
sejam quais forem, são relativos 
no tempo e no espaço, o que 
significa que o que é bom e ruim 
para mim, ou moral e imoral, 
pode ter sido entendido de uma 
forma completamente diferente 
por meus antepassados, o que 
prova que valores e morais 
mudam de acordo com o tempo. 
 
 
Percebam também que o que é certo e errado para mim, também pode não o ser para 
indivíduos que vivam em outra parte do mundo, em outra cultura. Em várias sociedades 
ocidentais, por exemplo, é natural ingerir carne bovina, inclusive de vaca, no entanto, na 
Índia, esse animal é considerado sagrado e sua carne não é usada como alimento. Isso prova 
que valores e morais também estão em transformação no espaço. 
Enfim, morais e valores estão em movimento no tempo e no espaço. 
Mas o que isso tem a ver com cultura? Tudo! Porque morais, valores, sentidos, 
significados e identidades compõem aquilo que é chamado de sistema cultural. Como todos 
os itens acima são relativos no tempo e no espaço, não se pode dizer que haja uma só cultura, 
mas complexos de distintos sistemas culturais. 
Se todos esses itens são relativos, portanto todas as culturas também são relativas, ou 
seja, não há culturas superiores ou inferiores, mas sim culturas diferentes. 
Mais do que isso, se esse pensar é inerente ao ser humano e a consciência, um 
potencial de todos os indivíduos (o que ativa todas as relações que identificamos e 
qualificamos acima), não existe indivíduo sem cultura, todos possuem uma cultura: a sua 
cultura. 
Ocorre que a cultura não se localiza, como sistema, apenas no âmbito do indivíduo: ela 
assume uma dimensão coletiva. Isso, porque os valores e morais que mencionamos aqui 
também são partilhados entre indivíduos, no âmbito de suas sociedades ou segmentos sociais. 
Portanto, a cultura constitui-se numa dimensão sempre coletiva, dado que todos os demais 
itens também são partilhados: valores, morais, sentidos, significados e identidades sociais. Por 
 
 
isso, não só não existem indivíduos sem cultura, como também não existem sociedades sem 
cultura. Da mesma forma não existem sociedades mais ou menos avançadas que outras em 
termos culturais, mas sim sociedades distintas. 
Temos que pensar, também, que esses valores podem ser gerados 
pelo indivíduo ou pelo grupo e é possível que nem sempre eles coincidam. 
Por exemplo, cometo uma ação que, segundo a moral e os valores do 
grupo, é errada, atenta contra a moral do grupo, portanto sou alguém 
imoral para esse grupo. Porém, para mim, a ação que empreendi pode ser 
plenamente aceitável, segundo os meus valores, o que me permite perceber-
me como alguém pleno de moral. Pelo fato de haver uma moral dominante 
e uma moral do indivíduo, é possível que existam duas ou até mais 
identidades sociais para o mesmo indivíduo, ou seja, para o grupo sou 
alguém imoral, para mim mesmo sou um indivíduo moral. É possível, ainda, 
que eu pertença a outro grupo cujo sistema cultural desobedeça à cultura 
dominante, fenômeno nominado como contracultura. 
As identidades são, então, não somente auto atribuídas, mas também 
construídas socialmente e externamente ao indivíduo, podendo, nesses 
casos, haver conflitos de identidade para o mesmo indivíduo. 
Sendo assim, todos têm cultura – dado que basta ser humano para ser portador de 
sistemas culturais - e não existem sociedades menos ou mais evoluídas, em termos culturais, 
que outras. 
Após essa breve análise, podemos, então, compreender que a condição existencial 
humana é cultural, porque o Homem atribui sentidos às suas ações, constrói símbolos, cumula 
experiência e transmite-as por meio da linguagem (oralidade, iconografia e escrita). A 
atribuição de significados às ações coloca as experiências em movimento, podendo ser 
partilhadas e compor um repertório cultural coletivo. 
Já a condição existencial animal está condicionada ao mundo 
dos fenômenos; obedece a uma programação biológica, instintiva, na 
qual a experiência se esgota nela mesma. 
A transmissão da experiência humana se dá por meio de uma 
linguagem em construção e de sistemasculturais em movimento de 
perene transformação. A linguagem permite ao Homem cumular a 
experiência, e sua inteligência abstrata lhe permite elaborar símbolos. 
Já os animais obedecem a reflexos condicionados; há aprendizado, mas por meio de 
uma inteligência concreta, que lhes permite tão somente programar índices. 
A linguagem, como instrumento maior de cumulação e difusão de experiências e trocas 
culturais, inerentes ao humano, permite-nos identificar também sintomas de desumanização, 
no enfraquecimento da possibilidade de expressão, que revela graus decrescentes de 
 
 
consciência sobre os resultados das ações humanas, conformando identidades sociais vazias 
de sentidos, de significados e de repertórios morais. 
Trata-se de um sintoma de desumanização, produzido pela sociedade de consumo de 
massa, aquele que o psicólogo alemão Erich Fromm identificou, no livro Ter ou ser, como os 
valores do consumo determinando as identidades sociais. O capitalismo ocidental teria 
falhado em criar valores morais, aprofundando processos de desumanização que levam a 
constituições culturais mais de aparência do que de essência, na vigência dos valores acríticos 
das sociedades de consumo de massa e do espetáculo, em que se é aquilo que se tem. 
Para a Antropologia, em sua área específica de estudos culturais – a Antropologia 
Cultural -, a cultura define-se como um processo de aprendizagem. Trata-se de um 
comportamento apreendido, o que se defronta com seu contrário: a personalidade, que se 
pensa como algo já dado. Trata-se de um conjunto de coisas (materiais, de existência 
concreta) e de ideias (imateriais, espirituais, de existência abstrata). 
Segundo o que vimos até aqui, conseguimos entender que coisas, mais corretamente 
nominadas como artefatos, referem-se aos materiais fabricados pelo Homem para atender às 
suas necessidades de sobrevivência, uma vez que já sabemos que o Homem é portador de 
necessidades biológicas. Mas, e as ideias? A que tipo de necessidades elas se referem? 
Ora, o Homem não é portador apenas de necessidades biológicas, as assim chamadas 
necessidades do corpo ou da matéria. O Homem é feito, também, de outra substância, de 
essência imaterial e abstrata, que não se pode tocar fisicamente, medir ou pesar: a alma ou, 
como queiram, o intelecto; exatamente aquilo que preenche o corpo material, dando-nos 
caráter, personalidade, sentimentos e emoções. Trata-se daquilo que nos torna únicos! Essa 
nossa dimensão imaterial também possui necessidades, assim como a dimensão material, mas 
de outra natureza: amar, ser amado, ter amigos, ser solidário, ser feliz, conhecer etc. 
Se a dimensão da existência humana gravita entre material e imaterial, a cultura, 
produto da ação humana, também se constitui nessa dupla dimensão. 
Temos, então, a cultura material: concreta, do universo das coisas, e a imaterial: 
espiritual, do universo das ideias. Essas assumem invariavelmente uma forma híbrida, porque 
os objetos criados pelo Homem não se constituem apenas por sua dimensão físico-química, 
mas também pelos sentidos e significados imateriais que lhes são atribuídos. 
Para entendermos melhor essa distinção, pensemos em dois ambientes essenciais nos 
quais se desenvolve a vida em sociedade: 
 
 
 
 
 
AMBIENTE LÓCUS CARACTERÍSTICAS 
 
Primário natural 
Natureza 
Necessidades biológicas, físico-orgânicas (excreção, sede, alimentação, 
reprodução, segurança) 
Secundário artificial Sociedade 
 
Necessidades socioculturais ou psicossociais (religião, educação, política, 
economia, relacionamento individual ligado aos sentimentos). 
 
Esse quadro demonstra que a cultura é composta por elementos materiais concretos, 
voltados, basicamente, ao atendimento de um conjunto de necessidades de curto prazo; mas 
também existe aquele conjunto de necessidades, sobretudo, de ordem psicossocial, 
relacionadas às necessidades orientadoras do comportamento, apreendidas desde os 
primeiros anos de existência e que acompanham o indivíduo ao longo de sua vida. 
A cultura real revela efetivamente as condições concretas e imediatas de existência, 
comportando aspectos positivos e negativos e, essencialmente, resultantes dos modos como os 
homens produzem e se relacionam em sociedade. A cultura ideal representa um parâmetro 
que orienta as condutas no sentido de atingir condições satisfatórias de vida, entretanto seus 
elementos, só em casos excepcionais, são atingidos. 
Depois de refletir, ao longo da leitura dessas páginas, sobre a cultura, podemos concluir 
que: 
 A cultura é universal na experiência do Homem, entretanto cada manifestação local ou regional da 
cultura é única. 
 A cultura é estável e, não obstante, é também dinâmica, evidenciando contínua e constante 
mudança. 
 A cultura inclui e determina amplamente o curso de nossas vidas e, no entanto, raramente interfere 
no pensamento consciente. 
 
 
 
 
 
 
Caro aluno, 
Para o caso de você desejar se aprofundar em algumas questões trabalhadas 
no conteúdo, disponibilizamos, aqui, uma relação de materiais complementares 
que podem ser extremamente elucidativos. 
 
Vídeo: 
“Exposição sobre Charles Darwin” 
YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=_ujLk5LC4lw&feature=relmfu 
“Charles Darwin e a árvore da vida” 
YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=87wNrPAhons&feature=fvsr 
“Relativismo cultural” 
YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=aFCHxeQWhrg 
“Franz-Boas: The Shackless Of Tradition” 
YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=GOvFDioPrMM 
 
 
 
Material Complementar 
http://www.youtube.com/watch?v=_ujLk5LC4lw&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=87wNrPAhons&feature=fvsr
http://www.youtube.com/watch?v=aFCHxeQWhrg
http://www.youtube.com/watch?v=GOvFDioPrMM
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à 
África, São Paulo, Brasiliense, 1985. 
DURKHEIM, Émile e Marcel MAUSS, “Algumas formas primitivas de classificação: 
contribuição para o estudo das representações coletivas”. Em Ensaios de Sociologia, São 
Paulo, Perspectiva, 1981, pp. 399-455. 
EVANS-PRITCHARD, E.E. Os Nuer. São Paulo, Editora Perspectiva, 2002. 
MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a Dádiva”. Em Sociologia e Antropologia, Rio de Janeiro, 
Cosac & Naify, 2004. 
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, Zahar, 1978. 
SAHLINS, Marshall. Ilhas de História, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1990. 
LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. São Paulo, Companhia Ed. Nacional, 
1976. 
MALINOWSKI, Bronislaw. Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Brasília, Editora 
da UnB, 2003. 
MATTA, Roberto da. “Carnavais, malandros e heróis". Em Carnavais, malandros e heróis: 
para uma sociologia do dilema brasileiro. 4 ed. Zahar, 1983. 272 p. 
MATTA, Roberto da. “Relativizando". Em Relativizando: uma introdução à antropologia 
social. 4 ed. Rocco, 1993. 246 p. 
RIBEIRO, Darcy. "Os Índios e a civilização". Em Os Índios e a civilização: A integração das 
populações indígenas no Brasil moderno. 6 ed. Vozes, 1993. 508 p. 
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. "O índio e o mundo dos brancos". Em O índio e o mundo 
dos brancos. 3 ed. Universidade de Brasília, 1981. 131 p. v. 
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Perspectivismo e Multinaturalismo na América Indígena”. 
Em A Inconstância de Alma Selvagem, São Paulo, Cosac & Naify, 2002, pp. 345-399. 
 
Referências 
 
 
 
 
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