Buscar

Ebook03 PRÁTICAS EM SERVIÇO SOCIAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Autoria: Dr. Marcone Costa Cerqueira
Revisão técnica: Ma. Carmen Suely Cavalcanti de Miranda
PRÁTICAS EM SERVIÇO SOCIAL IV
COMO PENSAR A
INTERVENÇÃO
PROFISSIONAL NOS
DIFERENTES ESPAÇOS
OCUPACIONAIS?
Introdução
A multiplicidade de campos de atuação do assistente social não o torna um
pro�ssional descaracterizado, ao contrário, rea�rma que seus princípios éticos e
políticos são constantes e aplicáveis em todos os espaços ocupacionais
existentes na sociedade. Sendo assim, como se fundam as bases para este
caráter pro�ssional constante e, ao mesmo tempo, �exível? Podemos a�rmar
que os instrumentos técnico-operativos utilizados pelo assistente social
propiciam-lhe bases seguras para sua prática pro�ssional? Este caráter
operativo é fundamental em sua formação, sendo por isso, importante sua
completa apreensão.
Nesse sentido, é possível conciliar teoria e prática na construção de uma
formação pro�ssional sólida? Pois saiba que é imprescindível que o processo de
formação do pro�ssional resguarde esta possibilidade, que torna importante a
prática em todas as fases de sua formação. A prática pro�ssional se realiza por
meio das mediações e intervenções possibilitadas pela interação constante
entre teoria e prática.
Em vista destas questões, no primeiro tópico deste capítulo abordaremos o
tema da intervenção pro�ssional mediada pela utilização dos diversos
instrumentos técnicos. No segundo, trataremos de aspectos concernentes à
formação do pro�ssional, a importância de prepará-lo e avaliá-lo para a prática,
com sólidos fundamentos teóricos. Já no terceiro tópico, nos deteremos na
temática da elaboração de projetos em vista das diversas maneiras de
intervenção. Por �m, no quarto tópico nosso objetivo será tratar da questão das
ações interventivas, planejando e executando ações direcionadas pela clara
identi�cação das demandas.
Esperamos que ao concluir a leitura você possa tecer suas opiniões sobre os
temas, a partir do conhecimento apreendido, podendo assim, aplicá-los em sua
própria formação e prática pro�ssional.
Bons estudos!
Tempo estimado de leitura: 52 minutos.
Não se pode desvencilhar o caráter interventivo da pro�ssão do assistente
social. Seu trabalho direto com os usuários, independentemente do espaço
ocupacional, lhe proporciona enormes possibilidades de aprimorar seus
instrumentais técnicos. Dessa forma, mais que apenas uma prática pro�ssional,
a aplicação dos instrumentos técnico-operativos é um processo do próprio
aprimoramento da pro�ssão.
Seja em atendimentos prestados no âmbito público, seja no âmbito privado, em
consultorias e assessorias a empresas ou entidades sociais, o assistente social
se vale de seu aparato técnico-operativo de forma crítica, não apenas como
executor de tarefas. Este é um dos principais diferenciais deste pro�ssional.
Em vista disso, a seguir trataremos dos instrumentos técnico-operativos do
Serviço Social e, na sequência, investigaremos a aplicação de tais instrumentos
no processo de assessoria.
O Serviço Social se con�gura como uma importante área do conhecimento
dentro da grande área das Ciências Humanas, tendo forte caráter interventivo e
sendo classi�cado como ciência humana aplicada. O aporte que o direciona
para uma construção teórica própria não o afasta de seu caráter empírico,
prático, atuante no meio social, e crítico dos fenômenos surgidos neste meio.
A gama de instrumentos técnico-operativos que o pro�ssional utiliza a partir da
teoria é rea�rmada em seu próprio aprimoramento prático; dessa forma, não
podemos desvencilhar os dois momentos.
3.1 Intervenção profissional e os instrumentais
técnicos
3.1.1 Instrumentos técnico-operativos do Serviço Social
Figura 1 - Teoria e prática são âmbitos inseparáveis na construção do Serviço Social enquanto área de
conhecimento e atuação profissional
Fonte: Ivelin Radkov, Shutterstock, 2021.
#PraCegoVer
Na figura, temos a fotografia da mão de uma
pessoa "escrevendo" na tela. Nesta,
encontramos um ciclo de teoria e prática.
Sendo o assistente social um pro�ssional inserido na divisão social do trabalho,
é natural que tal inserção seja marcada por um instrumental próprio de atuação.
No entanto, esta inserção não pode se dar de forma acrítica ou puramente
instrumentalizada – é um terrível engano entender o Serviço Social como
pro�ssão de mera prestação de serviço.
De acordo com Guerra (1999), o Serviço Social deve romper com a lógica
instrumentalista de reprodução incutida no processo produtivo capitalista, na
qual o pro�ssional é um mero possuidor de técnica. Por este viés, o aporte
instrumental do Serviço Social deve ser, antes de tudo, uma forma de interagir
crítica e dialeticamente com a realidade dos usuários atendidos.
Em vista desta preocupação, vamos abordar esses instrumentos técnico-
operativos por uma via de compreensão que nos permita ver, neles, os meios
críticos e dialéticos que devem ser. Para empreendermos essa compreensão é
preciso partir de duas premissas. Primeiro, os instrumentos técnico-operativos
não são �ns em si mesmos; segundo, independentemente do caráter
interventivo, o objetivo primário é sempre o atendimento à demanda do usuário.
A primeira premissa nos leva a compreender que os
instrumentos técnico-operativos são ferramentas de
abordagem, não se constituindo em técnicas puramente
repetitivas. Ou seja, ao se valer de instrumentos tais como
�cha de cadastro socioeconômico, relatórios de
atendimento, relatório de visita domiciliar, entrevistas
individuais, reuniões em grupo, encaminhamento
socioassistencial, folha de produção diária, visitas
domiciliares e visitas institucionais, o assistente social não
deve se limitar ao processo em si, a uma simples obtenção
de informação.
O estabelecimento do caráter crítico e dialético da prática
do pro�ssional está em valer-se dessas informações,
dados e percepções, para construir o quadro no qual se
O documentário Capitalismo – uma história de amor (2009), de Michael
Moore, trata do tema do capitalismo exacerbado que cria relações sociais
de extrema desigualdade e aliena o indivíduo a partir do processo de
produção e ganho. Ao apresentar a falsa propaganda do sistema
capitalista, na qual é pregada a ideia de que todos podem ter o mesmo
nível de vida social, o documentário apresenta a situação da maioria dos
indivíduos que são esmagados pela lógica de produção e reprodução de
riqueza. A versão legendada está disponível no link a seguir!
Acesse (https://www.youtube.com/watch?
time_continue=9&v=UgstIm2Ee-o)
VOCÊ QUER VER?
https://www.youtube.com/watch?time_continue=9&v=UgstIm2Ee-o
Conforme Iamamoto (2009), a prática pro�ssional não pode ser tomada
isoladamente, mas tanto frente a condicionantes internos, na capacidade do
assistente social, quanto externos, na circunstância social encontrada por ele.
Posto este quadro de necessária posição crítica, re�exiva e dialética – no
sentido de encarar a intervenção como apreensão da realidade social e ação
sobre ela –, podemos entender que os instrumentos técnico-operativos devem
ser pontualmente utilizados com o objetivo primário de identi�car, quanti�car e
quali�car as demandas dos usuários, bem como de embasar as ações
necessárias.
Por este prisma, podemos compreender que a técnica envolvida na prática
pro�ssional do assistente social não é a mesma utilizada por um pro�ssional da
contabilidade, por exemplo. Este último vale-se de instrumentos que servem para
aplicação de fórmulas, normas e dispositivos �xos, inserindo neles dados
mensuráveis e puramente codi�cáveis. No caso do assistente social, as
informações e dados colhidos, e a utilização de seus instrumentos, são voltados
para uma compreensão crítica, não engessada, da realidade social dos
indivíduos. Mesmo que seja importante a questão estatística – os dados
concretos que demonstrem aspectos os codi�cáveis –, não é possível uma
simples dedução quantitativa da vivência dos sujeitos que se encontram como
usuários.
Dessa forma, pode-se compreender que o caráter dos instrumentos operativos
utilizados pelo assistente social, mesmo queseja próximo àquele dos
instrumentos próprios de outras ciências humanas, não se limita à simples
reprodução técnica voltada para si mesma; é, antes, uma forma crítica de ação
dialética.
A partir das apreensões tomadas até aqui sobre o caráter e uso dos
instrumentos técnico-operativos, no próximo item buscaremos discutir sua
aplicação no processo de intervenção, em especial no processo de assessoria. 
A intervenção é um processo que não se limita à execução de projetos ou ações
pontuais em vista de demandas identi�cadas. A abordagem que pretendemos
dar a essa prática nos leva a pensarmos esse processo como re�exivo. Como
inserem os usuários a serem atendidos. Nesse sentido, o
assistente social é um “leitor” da realidade social, e por
conta disto os instrumentos não são o �m da ação do
pro�ssional, mas antes o meio para sua análise crítica. Isso
nos leva a identi�car a necessidade de uma sólida
formação teórica, que reconheça a ação do pro�ssional
frente à realidade na qual efetua sua prática.
3.1.2 A intervenção como processo reflexivo
todo processo re�exivo, a intervenção do assistente social deve começar com a
compreensão do contexto político-social no qual está inserido o usuário a ser
atendido, avançando para a escolha da metodologia a ser utilizada, culminando
no uso dos instrumentos técnico-operativos mais apropriados.
Se nos alinharmos aos princípios ético-políticos da pro�ssão, entenderemos o
processo que culmina na intervenção como um processo político. Como indica
Baptista (2000), o processo de planejamento, a tomada de decisão sobre as
suas partes metodológicas e operacionais, constitui-se como processo político,
pois está diretamente relacionado às relações de poder.
Aplicando esse entendimento à construção de uma metodologia de ação em um
processo de intervenção, reforçamos a convicção de que a utilização dos
instrumentos técnico-operacionais não se restringe a um cotidiano interminável
de reprodução de tarefas.
O termo rei�cação designa um processo próprio do capitalismo, no qual
as reais relações desiguais de poder são mascaradas pelo processo
produtivo. Neste processo, as relações sociais aparecem como relações
entre mercadorias, ou seja, relações de produção e reprodução, ocultando
a realidade das relações de classes sociais antagônicas (IAMAMOTO;
CARVALHO, 1988).
VOCÊ SABIA?
Figura 2 - As relações de poder em geral são mascaradas por aparentes igualdade e ordem social, por isso
é necessário desvelar este processo e pensar sobre ele na prática profissional
Fonte: solarseven, Shutterstock, 2021.
#PraCegoVer
Na figura, temos a fotografia da mão de uma
pessoa ampliada com cordas amarradas em
seus dedos e, em conjunto, nos membros de
uma pessoa que está embaixo, como se esse
indivíduo fosse um fantoche.
Ao se confrontar re�exivamente com a realidade político-social dos usuários, o
assistente social também se confronta, dialeticamente, com a própria
construção de poder que perpassa a sociedade. Nesse sentido, ao buscar
compreender a realidade do usuário, o assistente social está, ao mesmo tempo,
entrevendo as pressões e os condicionamentos sociais que geram as demandas
nas quais os usuários se encontram. 
A metodologia a ser empregada na intervenção tem de contemplar esse
entendimento, não �cando alienada às pressões sociais que se mostram
latentes. Indicamos que este processo é dialético, pois, ao reconhecer as
relações sociais concretas que geram as demandas e as relações de poder, o
pro�ssional re�ete sobre sua intervenção não como arrefecimento das
consequências sofridas pelo usuário, mas antes como ação direta em tais
relações.
A esse respeito, a�rma Faleiros (1993, p. 91-92):
 “O Serviço Social na contemporaneidade”, de Marilda V. Iamamoto, é uma
obra essencial para se vislumbrar os desa�os e possibilidades do
pro�ssional do Serviço Social no atual quadro político-social. Neste livro a
autora trata, no primeiro momento, da questão do trabalho pro�ssional
diante das transformações vividas pela sociedade na contemporaneidade;
no segundo momento, ela direciona a discussão para a temática da
formação do pro�ssional, mantendo a mesma preocupação em entender
como as mudanças societárias in�uenciam estes dois momentos da vida
do assistente social (IAMAMOTO, 2009).
VOCÊ QUER LER?
Do ponto de vista dialético, a metodologia não é um conjunto
de regras, mas uma consciência dos processos globais
historicamente dados numa relação contraditória e
globalizadora. O método deve adequar-se ao objeto e não o
Em vista dessa compreensão, entender as demandas de forma restrita, fechadas
em seus espaços ocupacionais, não contribui para uma ação re�exiva que
aprofunde tanto o planejamento quanto o próprio aprimoramento da
intervenção. Esse direcionamento é de extrema importância ao se pensar a ação
interventiva do assistente social na modalidade de assessoria, seja ela privada,
pública ou prestada para instituições e movimentos sociais.
O caráter re�exivo da intervenção no processo de assessoria não se esgota no
planejamento de ações e projetos que visam o cumprimento técnico de medidas
que não lidem com as relações de poder envolvidas no contexto sociopolítico
dos usuários atendidos.
O �lósofo alemão G. W. F. Hegel (1770-1831) foi um dos mais in�uentes
pensadores do século XIX, in�uenciando autores e �lósofos como Karl
Marx, por exemplo. Uma das teorias mais difundidas de Hegel é a da
dialética: segundo ele, em determinada realidade, a relação antagônica,
contrária, entre duas forças faz surgir uma nova realidade, na qual uma
das forças é aglutinada pela outra. A força aglutinada não é extinta, mas
passa a existir como obsoleta, ultrapassada, subjugada pela força
aglutinadora. Segundo Hegel, este processo é um movimento de
progresso no qual o resultado é um estágio mais aprimorado. Essa
�loso�a foi adaptada e fartamente utilizada na teoria política e em outras
áreas das ciências humanas (INWOOD, 1997). 
VOCÊ O CONHECE?
objeto ao método. A relação linear e causal entre variáveis e
setores é uma forma apenas de controle imediato, enquanto
que a dialética supõe a construção de categorias que
permitam uma articulação global do particular ao geral do
geral ao particular.
É extremamente delicada a posição do assistente social neste processo, uma
vez que sua atuação sofre a pressão advinda da condição de prestador de
serviço ao contratante, e da posição de orientador do usuário no decurso do
reconhecimento de sua realidade e na tomada de consciência de seus direitos.
Nesse sentido, é necessário um direcionamento embasado no estrito emprego
dos princípios ético-políticos que dão autonomia à ação do pro�ssional, valendo-
se de todos os instrumentos técnico-operativos que se mostram necessários
diante da metodologia escolhida para enfrentamento das demandas.
Para se empreender uma intervenção com este caráter re�exivo, dialético, que
compreenda as pressões sociais envolvidas na relação de poder existente nos
espaços ocupacionais, a segurança teórica e a prática devem ser trabalhadas
em todos os momentos da vida pro�ssional. 
Figura 3 - A jornada de uma profissão é um caminho de desafios e conquistas, e desde sua formação o
profissional deve ter recursos e subsídios para embasar sua autonomia
Fonte: alphaspirit, Shutterstock, 2021.
#PraCegoVer
Na figura, temos a fotografia de um profissional
de costas, andando no meio de uma estrada
deserta. Há uma paisagem ao fundo.
No entanto, a solidi�cação dessa segurança, da autonomia do assistente social,
começa no próprio período de formação do pro�ssional, tanto em vista de sua
percepção do contexto social quanto do aporte teórico-prático obtido na
formação acadêmica.
Diante dessa necessidade, no próximo tópico apresentaremos alguns aspectos
da formação do pro�ssional e a importância de se trabalhar os conceitos
teóricos em �na sintonia com a prática.
De acordo com o que estudamos anteriormente, podemos concluir que a
formação do assistente social não se dá apenas no período que compreende o
processo acadêmico de ensino.
Emuma perspectiva construtivista, a formação é um processo inacabado, que
se constrói em todos os momentos da vida pro�ssional. Contudo, a constituição
de uma base sólida, bem fundamentada e amparada em conceitos e práticas,
prepara o pro�ssional para uma realidade que lhe exige não só conhecimento,
mas capacidade crítica e autônoma.
De acordo com Iamamoto (2009), o pro�ssional precisa entender seu papel,
compreender o que faz, buscando uma clareza que lhe permita perceber que não
basta dar explicações sobre os contextos sociais, mas vivenciá-los em sua
prática.
3.1.3 Teoria e prática na formação do assistente social
Figura 4 - O profissional deve enxergar teoria e prática em conjunto na vivência de sua atuação,
conhecendo e interagindo com a realidade que o cerca
Fonte: kurhan, Shutterstock, 2021.
#PraCegoVer
Na figura, temos a fotografia de uma mulher
estudando. Ela está sentada de frente para a
câmera, diante de uma mesa com diversos itens
em cima, como pastas e fichários à esquerda,
óculos, post-its, calculadora e um notebook
aberto à direita. Ao fundo, há profissionais de
diferentes áreas desfocados.
As modi�cações e reformulações no processo de formação do assistente social
devem surgir de maneira alinhada às novas perspectivas e aos desa�os que se
colocam diante da prática pro�ssional. Não apenas no campo do Serviço Social
e de suas construções teóricas, mas no diálogo com as demais Ciências Sociais
e, principalmente, em consonância às mudanças sociais e políticas que afetam a
organização da sociedade.
O assistente social não pode constituir- se como um
pro�ssional que se fecha em seu âmbito de atuação, sem
articular saberes e práticas com outras Ciências Sociais e
A intervenção do pro�ssional, enquanto agir concreto, é ao mesmo tempo um
rever constante de sua própria base teórica. Em outros termos, ao exercer sua
prática, a partir de uma ação interventiva engajada, re�exiva e crítica, o
assistente social está dialeticamente revendo, reavaliando, repensando os
fundamentos teóricos que lhe dão suporte. Todo esse movimento de construção
teórica, intervenção crítica, reavaliação crítica, gera um aprimoramento tanto
prático quanto teórico na pro�ssão como um todo.
É necessário, no entanto, articular esse movimento dialético em termos de um
planejamento que signi�que ganho para a prática de atuação do assistente
social e ganho para os indivíduos que serão atendidos em suas demandas. Um
pro�ssional bem preparado constrói planejamentos mais condizentes às reais
demandas dos usuários dos seus serviços. Nesse sentido, no próximo tópico
nos ocuparemos da discussão acerca do processo de planejamento e suas
etapas.
Humanas. Nesse sentido, a construção teórica que se
desenvolve nos diversos espaços de atuação do pro�ssional
surge como produto de sua própria prática.
Por esse prisma, pode-se compreender que o assistente social
possui uma vivência pro�ssional que o possibilita ter
experiência direta com fenômenos e mecanismos sociais, o
que muitas vezes não é possível a outros pro�ssionais.
Neste tópico nos deteremos à questão do planejamento de ações interventivas,
buscando alinhar essa temática ao que discutimos até o momento. É uma
diferença sutil, mas importante, a que separa a preparação de projetos da
3.2 Planejamento em Serviço Social
preparação de planejamento; em geral, um planejamento pode conter mais de
um projeto, ou direcionar-se para mais de uma área de execução.
Dessa maneira, focaremos nas modalidades de consultoria e assessoria, não
deixando passar ao largo o caráter crítico da intervenção no âmbito do Serviço
Social. Essa temática precisa ser desenvolvida em uma esfera de discussão que
posicione a ação do assistente social dentro de um contexto pro�ssional
delimitado e bem embasado. Assim, no primeiro item trataremos da consultoria
e planejamento, e no segundo abordaremos a assessoria e a intervenção.
Para manter a coerência do que tem sido tratado até aqui, é necessário
compreender o processo de consultoria como ação mais ampla, direcionada a
uma visão geral de determinado problema ou realidade, fundamentando, assim,
ações futuras mais incisivas e diretas. Mesmo que uma consultoria esteja
direcionada para determinada área, seja de uma instituição privada, pública ou
da sociedade civil, o caráter de planejamento impresso por ela tem uma
abrangência que permite a construção de vários projetos.
O planejamento pode ser tomado como a delimitação de metas e objetivos a
serem alcançados a longo, médio ou curto prazo. Essas metas e objetivos
podem ser identi�cados frente a um problema, a uma carência ou falha em
determinado processo de organização, bem como pela necessidade de
implantação de rotinas e processos ainda não existentes.
Dentro do Serviço Social podemos encontrar inúmeros processos de
planejamento que permitem vislumbrar as possibilidades de construção de
ações interventivas. No entanto, tomemos como diretriz o indicativo de Baptista
(2000), segundo a qual todo processo de planejamento comporta um
movimento de re�exão/decisão/ação/re�exão.
3.2.1 Consultoria e planejamento
Figura 5 - O planejamento é um processo no qual a reavaliação de metas e a reflexão sobre a metodologia
utilizada podem ser feitas em todas as etapas de seu desenvolvimento
Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2021.
#PraCegoVer
Na figura, temos a fotografia de um profissional
"escrevendo" em uma parede. Ele está de costas
e com roupas sociais. Na parede, encontramos
um ciclo de mudança, envolvendo modificação,
transformação, reorientação, ajuste e novidade.
Há ilustrações caracterizando cada etapa.
Nesse modelo indicado por Baptista (2000), o planejamento de intervenção, seja
como consultoria ou como trabalho contínuo em qualquer instituição, deve
comportar:
As etapas de conhecimento da situação enfrentada.
A de�nição de metas e objetivos prioritários frente às
alternativas.
Trata-se de um processo re�exivo que deve ser pensado em vista de admitir a
possibilidade de alterações, adequações, ajustes e reavaliação das ações. Como
já salientado diversas vezes neste estudo, a prática do assistente social não
resulta de simples aplicação de instrumentos técnicos, nem se orienta por uma
compreensão mecanicista das relações sociais.
Em diversos momentos o planejamento é erroneamente confundido com um
tipo de plani�cação da realidade trabalhada, ou seja, tenta-se moldar a realidade
de acordo com algo que se projeta como ideal para o futuro, mantendo, para
isso, forte controle de metas, de gastos e de prazos. No entanto, como
A implementação de ações em vista dos objetivos.
A avaliação de resultados em vista da situação
primariamente posta.
A ideia de uma compreensão mecanicista da sociedade na Modernidade,
aplicada à ideia de governo, foi primeiro proposta de forma mais
sistemática pelo �lósofo e pensador político inglês Thomas Hobbes
(1588-1679). Hobbes fazia uma interpretação mecanicista das relações
entre os indivíduos, na qual a mecânica individual transporta-se para a
mecânica social. Em sua visão, era necessário um governo absoluto que
centralizasse o poder e desse equilíbrio às interações entre os indivíduos.
Essa concepção absolutista foi amplamente criticada na
Contemporaneidade, principalmente por pensadores republicanos e
socialistas (POLIN, 1992).
VOCÊ SABIA?
buscamos ressaltar até aqui, o planejamento é algo que se constrói em vista da
realidade, primeiro como conhecimento desta, não como ação ideal que busca
moldar as relações concretas sociais.
Para Iamamoto (2009), o código de ética da pro�ssão requer um pro�ssional que
rompa com o teoricismo estéril e o pragmatismo do fazer por fazer. Essa visão
se coaduna à ideia de planejamento que expressamos em nossa discussão, a de
não tornar a intervenção do assistente social uma mera consultoria técnica (no
caso do âmbito privado), nem um mero assistencialismo (no caso do âmbito
público).
Sendo assim, o processo de re�exão/decisão/ação/re�exão é um movimento
duplo, uma vez que ao mesmo tempo em que projeta ações para a realidadeexterior à qual trabalha, projeta para si mesmo um autoconhecimento que
aprimora e atualiza. Essa disposição é a garantia de que as ações propostas
serão uma resposta e�caz às demandas identi�cadas, tendo sempre os usuários
como foco e sendo, também, a possibilidade de ampliação da crítica da própria
prática pro�ssional.
Fundamentados nesses conhecimentos, a seguir abordaremos os
desdobramentos do planejamento de ações interventivas no processo de
assessoria.
O processo de assessoria tem sido de�nido, ao longo de nossa discussão, como
conjunto de ações no contexto de determinado espaço ocupacional, instituição
ou organização. Da mesma forma temos direcionado o entendimento do que
seja intervenção e suas diretrizes.
Neste item, nos voltaremos para a possibilidade da assessoria como
intervenção, ou seja, como ação direta em demandas, carências, falhas e
propostas identi�cadas no planejamento de consultoria. Para tal, partiremos da
seguinte questão posta por Freire (2010, p. 171): “Por que se assessoram
apenas os dominantes (gestores, dirigentes, gerentes) e os pares (pro�ssionais)
e não os sujeitos usuários dos programas, aos quais apenas se ‘orienta’ e
educa?”.
Quando tratamos da consultoria como planejamento, indicamos o modelo
defendido por Baptista (2000), baseado no aprofundamento do conhecimento da
realidade, na análise de meios necessários para a execução, na ação direta e na
re�exão sobre os resultados e crítica do processo. No entanto, no processo de
intervenção, seja como assessoria ou trabalho contínuo em qualquer instituição
pública ou privada, o foco está na ação direta de intervir, como o próprio termo
indica, em determinada realidade.
3.2.2 Assessoria e intervenção
Esta diretriz não precisa ser entendida como uma in�exão, no sentido de que
toda intervenção é ação coordenada que só pode ser reavaliada no seu �nal. O
processo de assessoria comporta pouco tempo para alterações no decorrer das
ações ou projetos, por isso a fase de consultoria, no planejamento, dever ser
muito bem estruturada.
O ponto central da assessoria como intervenção, mesmo que em alguns casos
não se dê no trato direto com os usuários, mas voltando-se primordialmente
para suas demandas, é que o direcionamento das ações e dos projetos está
dado pelo resultado das relações de força existentes na realidade trabalhada,
identi�cadas na consultoria.
A esse respeito, segundo Faleiros (1993, p. 129):
O assistente social, ao prestar assessoria para uma empresa privada, mesmo
que não tenha contato com os funcionários, está intervindo diretamente na
realidade deles. Sua função como assessor, auxiliando o contratante na
resolução de carências, de demandas ou de falhas identi�cadas – em geral por
consultoria na área que toca as competências do Serviço Social –, está
diretamente ligada à realidade dos trabalhadores.
A ação social não é um assunto de um especialista
“competente” perante um cliente de tal agência para
atribuição de um recurso ou modificação de um
comportamento, mas sim uma relação de forças, onde o saber
e o poder se articulam, e os problemas e sua solução
dependem da relação de forças historicamente dada e não de
uma lógica abstrata e mecanicista. “As soluções” imediatas
podem transformar-se por sua vez em mediações para uma
acumulação de forças.
De acordo com Joos e Pereira (1998), os pro�ssionais muitas vezes não dão
importância ou não conseguem identi�car dados presentes na imediatidade
cotidiana da instituição na qual prestam assessoria, o que os impede de ter
maior clareza – na realidade mais ampla – do que fazer, quando fazer e como
fazer.
A questão é que o pro�ssional pode se enxergar distante do usuário – do
trabalhador (no caso de uma empresa), ou de um indivíduo atendido por uma
instituição pública ou movimento social –, se ele entender que o processo de
assessoria se limita a auxiliar o contratante de forma administrativa. De acordo
com Matos (2010, p. 32): “[...] Ao contrário, a assessoria a ser desenvolvia
pelos(as) assistentes sociais, inexoravelmente, vai expressar uma concepção de
pro�ssão e de mundo”.
Nesse sentido, não se pode perder a concepção de que toda ação proposta,
atividade, projeto, incidirão diretamente na realidade dos usuários.
A construção de qualquer projeto prevê um alvo, um objetivo a ser alcançado,
portanto, faz-se necessário estabelecer um norte a ser seguido. Elaborar um
projeto envolve algumas etapas que se intrincam e culminam em uma projeção
para o futuro. Dessa forma, projetar é conhecer as condições dadas no presente
e estipular modos de agir sobre elas no futuro.
Em vista disso, neste tópico buscaremos delimitar as etapas de um projeto de
intervenção, tendo como ambiente os diversos espaços ocupacionais nos quais
o assistente social atual. Cabe ressaltar, mais uma vez, que a intervenção no
Serviço Social não é um estado de simples aplicação prática de conceitos, mas a
oportunidade de agir/interagir diretamente na realidade social dos indivíduos
atendidos.
Parece clara a ideia de que todo projeto parte de um problema que instiga à
pesquisa e à intervenção, algo a ser enfrentado como propósito, ou seja, que
ainda não existe no mundo concreto, mas pode ser estruturado, pensado,
estabelecido previamente na razão dos indivíduos que o projetam.
3.3 Elementos para elaboração de projeto de
intervenção
3.3.1 Etapas de um projeto
Karl Marx (2013), no capítulo VII do livro 1 de “O Capital”, faz uma interessante
comparação entre a aranha e o artesão, bem como entre a abelha e o arquiteto:
tanto a aranha quanto a abelha executam trabalhos elaborados, mas a melhor
delas não se compara ao pior dos arquitetos. O artesão e o arquiteto planejam
antes suas construções, ou seja, projetam primeiro em suas mentes o que será
feito; os insetos, por sua vez, agem por instinto.
Figura 6 - Projetar é basicamente pensar uma realidade possível a partir da realidade percebida: apenas
pensar é imaginação, apenas perceber é conhecimento; um projeto une as duas coisas
Fonte: alphaspirit, Shutterstock, 2021.
#PraCegoVer
Na figura, temos a fotografia de alguns
profissionais de roupas sociais de pé, formando
um círculo. Eles estão no que parece uma
cobertura, sendo possível avistar a cidade ao
fundo em um cenário noturno. Essas pessoas
estão olhando para cima, no centro, pois há uma
ilustração com a palavra "plano" no centro e
alguns desenhos ao redor.
Como salientado anteriormente, projetar é perceber o presente e conceber o
futuro. Nesse sentido, a base do projeto são sempre as condições percebidas
pelo indivíduo e, a partir delas, seu objetivo futuro.
Considerando esse entendimento, podemos indicar minimamente as etapas
principais de um projeto, as quais seriam: coleta de dados e informações;
de�nição da capacidade de realização do projeto (estrutural, organizacional e
�nanceira); escolha da metodologia a ser aplicada; de�nição de objetivos e
metas. “Para que haja uma ação efetiva sobre uma situação, é preciso conhecê-
la como uma totalidade que tem diferentes dimensões e se relaciona com
totalidades maiores” (BAPTISTA, 2000, p. 46).
O processo de coleta de dados é empírico, partindo de análise direta de
informações disponíveis ou do direcionamento de informações que devem ser
obtidas. Nesse sentido, dados estatísticos (formulários e �chas de entrevista) e
socioeconômicos (de institutos de pesquisa) são fontes valiosas para se traçar
um quadro geral de determinada área social.
Contudo, essa primeira etapa não pode ser puramente analítica; ao contrário,
deve ser o momento de análise crítica. Em outras palavras, não basta ter apenas
uma percepção empírica, a qual é somente a base de dados, pois o foco é o
conhecimento crítico da realidade.
Para entender melhor, vejamos o exemplo descrito no caso a seguir.
Tendo um conhecimento crítico e embasado da realidade social na qual se agirá,
é possível avaliar os meios disponíveis para se pensar a ação. A etapa de se
avaliar as condições materiais para a execução do projeto é muito importante,
não se pode criar um projeto “utópico”no qual as condições existentes são
insu�cientes. Isto acaba gerando frustração e descrédito em um projeto que
poderia ser válido.
Dessa maneira, é necessário ter conhecimento de aspectos como estrutura
física, recursos disponíveis para execução, viabilidade organizacional, entre
outros. Não é possível a leitura discrepante entre a realidade de execução de um
projeto e a indicação de objetivos e metas inalcançáveis.
Eduarda, uma experiente assistente social, foi contratada por uma
empresa pública para assessorar a criação e a implementação de um
projeto social junto à comunidade no entorno da empresa. De início, a
proposta da empresa era criar um centro integrado de cultura que
promovesse o�cina de capacitação com jovens, inclusão digital com
adultos, cursos de arte etc. Eduarda começou a coletar os dados
necessários para traçar um per�l socioeconômico dos indivíduos da
comunidade. No entanto, por meio de visitas domiciliares, formulários
socioeconômicos e outras formas de coleta de informação, Eduarda
percebeu que não era possível a implantação do projeto nos moldes
iniciais, pois identi�cou-se que 36% dos jovens em idade escolar estavam
fora da escola, 25% dos adultos eram analfabetos funcionais e 22% dos
jovens do sexo masculinos tiveram problemas com o uso de
entorpecentes. Diante disso, ela criou um projeto que vinculava a arte à
alfabetização, bem como um trabalho em conjunto com os colégios
públicos da comunidade para reinserção dos jovens em idade escolar.
Ainda dentro do projeto, foram criadas o�cinas de arte em parceria com
organizações não-governamentais (ONGs) que desenvolviam um trabalho
de conscientização e reabilitação do uso de drogas.
ESTUDO DE CASO
De acordo com a opinião de Joos e Pereira (1998), os projetos de intervenção do
Serviço Social se apresentam como recortes críticos de realidades que serão
perpassadas por outras áreas, por isso, não podem apresentar objetivos e
estratégias de ação sem um estudo de sua viabilidade e limitações. Por esta
razão, a metodologia a ser indicada no projeto deve permitir uma ação �exível,
embasada em princípios éticos e políticos, mas que permita a interação com as
demais áreas envolvidas na execução.
Os objetivos e metas a serem alcançados são norteadores que fundamentam a
escolha da metodologia, mas que re�etem o conhecimento concreto da
realidade envolvida e das capacidades de execução. Com base nesse
entendimento, no próximo item nos deteremos aos aspectos que moldam um
projeto de intervenção.
O Serviço Social guarda inúmeras particularidades teóricas e práticas,
principalmente em seu caráter crítico de compreensão da realidade social e em
sua atuação sempre direcionada à necessidade do usuário, independentemente
do espaço ocupacional. Essas diretrizes estão alinhadas ao projeto ético-político
da pro�ssão, não apenas em seu código de ética ou em seus instrumentos
técnico-operativos, mas na relação do pro�ssional com os diversos agentes
sociais com os quais ele lida (NETTO, 2015; CFESS, 2012).
Por este entendimento, podemos a�rmar que qualquer projeto desenvolvido no
campo do Serviço Social tem um objetivo �xo, norteador: o de atender às
demandas dos indivíduos que se encontram em situação de vulnerabilidade ou
risco social.
3.3.2 O projeto de intervenção no Serviço Social
A obra “Planejamento social: intencionalidade e instrumentação”, de
Myrian Veras Baptista, traz uma importante abordagem sobre o
planejamento de ações interventivas dentro da área de atuação do
Serviço Social. Sua visão ampla da temática, aliada à descrição
minuciosa de conceitos e instrumentos, contribui para a clara
compreensão dos elementos envolvidos no processo de planejamento e
intervenção (BAPTISTA, 2000).
VOCÊ QUER LER?
Como salientado diversas vezes, as diretrizes de crítica do assistente social
sobre a realidade social são fundadas em uma compreensão histórico-material
das relações de força no contexto da sociedade. Nesse sentido,
independentemente do espaço ocupacional, sempre teremos aqueles indivíduos
que sofrem a pressão das desigualdades sociais, seja no trabalho, nas
instituições privadas, nas instituições públicas ou no acesso aos direitos sociais.
Em contraponto, tem-se também as forças que se colocam como
pressionadoras, opressoras, detentoras de uma força desigual em relação às
forças daqueles indivíduos que se encontram socialmente vulneráveis.
Figura 7 - Relações de forças desiguais dentro do contexto social criam relações de poder responsáveis
pela desigualdade social, deixando uma maioria sob a pressão de uma minoria
Fonte: Jirsak, Shutterstock, 2021.
#PraCegoVer
Na figura, temos a fotografia de um profissional
com roupas sociais. Aparece apenas do seu
pescoço até a cintura. Ele está à direita e tem as
mãos como se estivesse segurando algo à sua
frente. No meio de suas mãos, há a ilustração
com diversos perfis.
Pode parecer reducionista pensarmos as pressões sociais como fruto da luta
entre estas duas forças, mas na realidade é um processo dialético no qual a
balança pende desigualmente para o lado mais forte. Em vista desta
compreensão, o assistente social tem como principal diretriz a tomada de lado,
ou seja, seu objetivo é sempre a busca da emancipação e tomada de
consciência por parte dos indivíduos que sofrem as pressões sociais.
Temos aí dois caminhos, alinhar-se de forma acrítica às forças que sufocam e
pressionam o indivíduo vulnerável socialmente, ou alinhar-se à luta deste
indivíduo e contribuir para sua emancipação. Como bem colocam Iamamoto e
Carvalho (1988, p. 96), sobre o caminho que o pro�ssional pode tomar:
Abordamos esta perspectiva de leitura da realidade social em vista de deixar
bem claro que o projeto de intervenção no Serviço Social não é meramente
projetar no futuro, não se limita a propor ações que reforcem, ou simplesmente
arrefeçam, condições sociais de desigualdade.
Por este prisma, entende-se que as etapas de projeto são mantidas, é necessário
um conhecimento da realidade que será trabalhada; um conhecimento realista
dos recursos viabilizados; uma metodologia clara e alinhada aos princípios
ético-políticos da pro�ssão; e principalmente, objetivos e metas que se
direcionem ao atendimento das demandas identi�cadas dos usuários.
Apoiando-nos nestas diretrizes, a seguir abordaremos a questão do
planejamento de ações interventivas.
Pode tornar-se intelectual orgânico a serviço da burguesia ou
das forças populares emergentes; pode orientar a sua atuação
reforçando a legitimação da situação vigente ou reforçando
um projeto político alternativo, apoiando e assessorando a
organização dos trabalhadores, colocando-se a serviço de
suas propostas e objetivos.
Dentro do âmbito de atuação do assistente social, a temática dos projetos
sociais está sempre presente, principalmente por ser um modo de atuação que
permite grande interação com os usuários. Dessa maneira, é necessário
compreender a forma de construção deste meio de intervenção e pensá-lo
visando sua execução e avaliação.
Em vista disto, neste tópico nos centraremos na análise do processo de
construção dos projetos sociais no sentido de atuação pro�ssional, buscando
compreender esta temática em todas as suas etapas.
No atual cenário político-econômico é possível identi�car inúmeras ações
sociais vindas de diversas esferas da sociedade. Esse movimento pode ser
percebido em vista das atividades com enfoque social empreendidas pelo setor
privado, pelo terceiro setor e, inclusive, por instituições públicas.
Dessa situação, podemos intuir duas questões.
3.4 Serviço Social e gestão de projetos sociais
3.4.1 Os projetos sociais e a atuação profissional
1
A primeira é o reconhecimento notório de que o
Estado, ou seja, o poder público, não tem
conseguido vencer o desa�o da questão social.
As inúmeras mazelas da desigualdade social
têm acrescido cada vez mais os problemas
decorrentes da pobreza e da violência. Neste
sentido, os projetos sociais advindos dos
setores já mencionados ocupam um espaço
que se encontra fragilizado pela inoperância do
poderpúblico.
Na perspectiva que buscamos abordar, o projeto social deve ser entendido como
um processo de intervenção que se dá em vista do atendimento de demandas
especí�cas. Por esse prisma, é preciso compreender que a primeira tarefa que
se coloca ao pro�ssional é ter um total conhecimento da realidade social na qual
se trabalhará. Como todo projeto, conforme já discutimos anteriormente, o
projeto social deve ser construído em vista de uma alteração em um quadro
problemático.
Projetar é construir uma possibilidade de melhora à situação da realidade
experimentada no momento. Por exemplo, a construção de um projeto social
que altere a realidade de uma comunidade que apresenta altos índices de
evasão escolar e de criminalidade entre indivíduos jovens. Nesse sentido, o
projeto deve ser pensado para incentivar a educação, prevenir o envolvimento
dos jovens no crime e atender às necessidades básicas que favoreçam esse tipo
de questão social, buscando projetar uma realidade na qual esses objetivos
sejam alcançáveis.
Assumindo essa visão, podemos entender, juntamente com Matos (2010), que o
pro�ssional deve ter um caráter crítico, analisando a realidade na qual atua e
projeta; ser criativo, desenvolvendo estratégias, ações e novas abordagens; e
comprometido, re�etindo os princípios da pro�ssão e o caráter social que marca
sua atuação.
2
A segunda questão é a necessidade de
direcionar esses projetos e ações sociais para
que visem atender alguma parcela da
sociedade que se encontre vulnerável. Nesse
caso, o Serviço Social é a pro�ssão que atende
a esta demanda, sendo seu pro�ssional o mais
capaz e preparado para a construção e gestão
de projetos sociais. No entanto, em vista da
primeira questão, o pro�ssional deve lançar um
olhar crítico em relação à construção, execução
e avaliação de um projeto social.
Dessa forma, o projeto social – que é uma intervenção em todos os seus
sentidos – deve visar o atendimento das demandas identi�cadas. Essa assertiva
nos leva a defender a ideia de que o projeto social não é apenas uma ação
paliativa, momentânea ou baseada em iniciativas ideológicas ou de �ns
meramente proselitistas. O projeto social, enquanto ação concreta de
intervenção na realidade direta dos indivíduos atendidos, deve por princípio ter
caráter crítico e transformador, sendo esta a marca da atuação pro�ssional
frente à intervenção em projetos sociais.
Buscando quali�car melhor essa discussão, na sequência nos voltaremos para a
necessidade de se avaliar e analisar os projetos sociais de forma crítica e
objetiva.
Pode-se imaginar que o processo de avaliação se dá simplesmente em vista de
objetivos preestabelecidos e metas alcançadas. No entanto, no caso da atuação
do assistente social na construção e gestão de projetos sociais, a avaliação se
dá em vista dos parâmetros ético-políticos re�etidos pela pro�ssão e pela
natureza dos objetivos alcançados conforme a real demanda dos indivíduos.
Como já salientamos anteriormente, diversas parcelas da sociedade promovem
projetos sociais, principalmente o terceiro setor, em vista de amparar outras
parcelas que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Porém, em
muitos casos, as instituições que promovem esses projetos sociais possuem
seus princípios e ideologias, sendo que em muitos casos elas tendem a buscar
resultados pautados nesses princípios.
No caso de projetos sociais fomentados por ONGs ou instituições �lantrópicas,
o contexto pode se tornar apenas uma maneira de arrefecer os males causados
pela extrema desigualdade social. No entanto, o assistente social engajado no
projeto político da pro�ssão entende que não é su�ciente uma ação
conservadora, super�cialmente assistencialista; é necessário uma atuação que
permita a tomada de consciência por parte dos indivíduos, o reconhecimento de
sua realidade e o acesso aos seus direitos sociais.
Esta diretriz não pode ser perdida no processo de construção de projetos
sociais, muito menos no processo de avaliação e análise. Os projetos sociais,
mesmo que construídos para se estenderem por um longo período, devem
expressar a real resposta à demanda dos usuários dentro do contexto global de
sua realidade socioeconômica. Neste sentido, a avaliação dos objetivos
alcançados, e a serem alcançados, deve passar pelo crivo dos princípios que
baseiam a própria atuação do pro�ssional.
3.4.2 Avaliação e análise crítica dos projetos sociais
Ao construir, executar e gerir um projeto social, o assistente social efetua sua
atuação pro�ssional de forma independente, por vias de seu conhecimento
teórico e prático e por seu engajamento ético, bem como de forma articulada
com a instituição ou organização na qual está atuando. Esse delicado arranjo
deve ser gerido a �m de fortalecer, sempre, os indivíduos atendidos e os
mecanismos que permitam maior possibilidade para responder a suas
demandas. “A articulação entre o trabalhador pro�ssional contratado para a
manipulação de recursos imediatos, o relacionamento psico-social e o
fortalecimento das organizações populares é o grande desa�o que hoje se
coloca aos trabalhadores sociais.” (FALEIROS, 1993, p. 27).
Os projetos sociais não podem constituir-se em meras
reproduções assistencialistas que se inserem em uma ação
super�cial de determinadas esferas da sociedade. Diante
disso, a análise crítica empreendida pelo pro�ssional não pode
se limitar ao âmbito meramente técnico de andamento e
execução do projeto social. Mesmo que sua atuação seja
viabilizada em vista de seu conhecimento teórico-prático, de
sua capacidade técnica, o que deve prevalecer em sua análise
é seu princípio ético-político.
Por esse viés, a atuação do assistente social dentro dos
projetos sociais, que – como já colocamos diversas vezes –
se trata de intervenção, deve ser pautada pela busca de
alargamento das possibilidades de acesso dos indivíduos
atendidos aos seus direitos sociais. Mesmo que a área
trabalhada pelo projeto não seja diretamente relacionada a
algum direito social especí�co, a exemplo do direito ao
trabalho, à saúde, à educação e à moradia, a perspectiva de
fortalecimento dos populares deve ser buscada.
Por �m, considerando os conhecimentos expostos neste estudo, e com base nas
discussões empreendidas no decorrer do capítulo, acreditamos ter esclarecido
os pontos gerais da temática relativa ao planejamento e à gestão de ações
interventivas dos projetos sociais.
Concluímos este estudo, no qual abordamos os modos de pensar a intervenção
pro�ssional nos diferentes espaços ocupacionais. A partir da discussão
proposta, tendo ainda como base sua opinião a respeito desta temática,
esperamos que você esteja apto a re�etir sobre sua prática pro�ssional,
aplicando os conceitos apreendidos em sua área de atuação.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
CONCLUSÃO
conhecer os instrumentos técnico-operativos, dentro de
uma perspectiva de intervenção como re�exão;
entender a importância da formação prática, apoiada em
conceitos bem de�nidos desde a formação do
pro�ssional;
direcionar a formação pro�ssional para a tomada de
consciência de sua atuação;
identi�car as etapas e as características da construção de
projetos;
compreender a importância da intervenção e da
ampliação das formas de ação do assistente social;
entender a importância e as diretrizes para o processo de
planejamento em vista de ações interventivas que
permitam um aprimoramento da própria prática e do
campo de atuação da pro�ssão.
Clique para baixar conteúdo deste tema.
BAPTISTA, M. V. Planejamento social: intencionalidade e instrumentação.
São Paulo: Veras Editora; Lisboa: CPIHTS, 2000.
BURIOLLA, M. A. F. Supervisão em Serviço Social: o supervisor, sua
relação e seus papéis. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
CAPITALISMO – uma história de amor. Direção: Michael Moore.
Produção: Dog Eat Dog Productions; The Weinstein Company. EUA, 2009,
documentário, 126 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
time_continue=9&v=UgstIm2Ee-o (https://www.youtube.com/watch?
time_continue=9&v=UgstIm2Ee-o). Acesso em:27 jul. 2021.
CFESS – Conselho Federal do Serviço Social. Código de Ética do/a
Assistente Social – Lei n. 8.662/93 de regulamentação da pro�ssão. 10.
ed. rev. e atual. Brasília: CFESS, 2012. Disponível em:
http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf
(http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf). Acesso em: 27
jul. 2021.
FALEIROS, V. de P. Saber pro�ssional e poder institucional. 4. ed. São
Paulo: Cortez, 1993.
FRANCO, C. A. G. dos S. et al. OSCE para competências de comunicação
clínica e pro�ssionalismo: relato de experiência e meta-avaliação. Revista
Brasileira de Educação Médica, v. 39, n. 3, p. 433-441, 2015. Disponível
Referências
https://www.youtube.com/watch?time_continue=9&v=UgstIm2Ee-o
http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf
em: http://www.scielo.br/pdf/rbem/v39n3/1981-5271-rbem-39-3-
0433.pdf (http://www.scielo.br/pdf/rbem/v39n3/1981-5271-rbem-39-3-
0433.pdf). Acesso em: 27 jul. 2021.
FREIRE, L. M. B. Assessoria e consultoria a gestores e trabalhadores
como trabalho do assistente social. In: BRAVO, M. I. S.; MATOS, M. C. de
(Orgs.). Assessoria, Consultoria & Serviço Social. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2010.
GUERRA, Y. A instrumentalidade do Serviço Social. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1999.
IAMAMOTO, M.; CARVALHO, R. de. O Serviço Social na
contemporaneidade: trabalho e formação pro�ssional. 17. ed. São Paulo:
Cortez, 2009.
IAMAMOTO, M.; CARVALHO, R. de. Relações sociais e Serviço Social no
Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 6. ed. São
Paulo: Cortez, 1988.
INWOOD, M. Dicionário Hegel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 
JOOS, M.; PEREIRA, S. do V. (Orgs.). Assessoria: inovações e avanços da
prática do Serviço Social. Porto Alegre: Dacasa/SESI-SC, 1998.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política – livro 1: o processo de
produção do capital. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2013.
MATOS, M. C. de. Assessoria e consultoria: re�exões para o Serviço
Social. In: BRAVO, M. I. S.; MATOS, M. C. de (Orgs.). Assessoria,
Consultoria & Serviço Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
NETTO, J. P. O Projeto Ético-Político Pro�ssional do Serviço Social
brasileiro. In: Lusíada – Intervenção Social, Lisboa, n. 42/45, 2015.
Disponível em:
http://revistas.lis.ulusiada.pt/index.php/is/article/view/2201
(http://revistas.lis.ulusiada.pt/index.php/is/article/view/2201). Acesso
em: 27 jul. 2021.
POLIN, R. O mecanismo social no Estado civil. In: QUIRINO, C. G.; SOUZA,
M. T. S. R. (Orgs.). O pensamento político clássico: Maquiavel, Hobbes,
Locke, Montesquieu, Rousseau. São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 1992.
http://www.scielo.br/pdf/rbem/v39n3/1981-5271-rbem-39-3-0433.pdf
http://revistas.lis.ulusiada.pt/index.php/is/article/view/2201

Mais conteúdos dessa disciplina