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2011 AssessoriA e ConsuLtoriA em proGrAmAs e proJetos soCiAis Prof.ª Lecticia Rodrigues Souza Copyright © UNIASSELVI 2011 Elaboração: Prof.ª Lecticia Rodrigues Souza Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 361.3 S729a Souza, Lecticia Rodrigues Assessoria e consultoria em programas e projetos sociais. Lecticia Rodrigues Souza. Indaial : Uniasselvi, 2011. 224 p. : il. Inclui bibliografi a. ISBN 978-85-7830-475-1 1. Serviço social - Projetos. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci III ApresentAção Caro(a) acadêmico(a)! Bem-vindo(a) à disciplina de Assessoria e Consultoria em Programas e Projetos Sociais. Entraremos no mundo intrínseco da assessoria e consultoria, conhecendo suas definições e seus princípios norteadores, no qual trabalharemos a questão dos processos de assessoramento e consulta, tanto no âmbito público como nas esferas privadas e não governamentais. Portanto, esta disciplina aborda a compreensão dos significados das dimensões teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política, contidas nos processos de assessoria e consultoria na perspectiva de intervenção profissional do assistente social, além de propiciar o conhecimento sobre esta possibilidade de inserção no mundo do trabalho e promover uma reflexão e uma discussão sobre o papel do profissional de Serviço Social frente a esta nova tendência. Também trabalharemos, neste Caderno de Estudos, a questão da administração pública, correlacionando seus princípios, instrumentos administrativos e formas de controle, com a responsabilidade desta ante os direitos sociais e as políticas públicas, legalmente garantidas para sua materialização. Finalizando os nossos estudos, propomos uma reflexão sobre a importância do monitoramento e avaliação, como processos indispensáveis na atividade de Assessoria e Consultoria de Programas e Projetos Sociais. Na primeira unidade você discutirá questões em torno da assessoria e consultoria enquanto processos interventivos, no intuito de compreender seus conceitos básicos, diferenciando-os e identificando a possibilidade de inserção do assistente social no mundo do trabalho nesta perspectiva. Será capaz também de reconhecer as diferentes formas de intervenção no campo da assessoria e consultoria, tanto nas organizações não governamentais como nas empresas. Na segunda unidade você conhecerá os princípios norteadores da administração pública, podendo refletir e discutir sobre eles na perspectiva da transparência. Serão apresentados a você os instrumentos administrativos básicos pelos quais a administração pública materializa as políticas sociais, bem como as responsabilidades legalmente estabelecidas quanto aos direitos sociais. Também serão abordadas, para o seu aprofundamento nos estudos, as formas de controle, ou seja, de fiscalização, utilizadas para a garantia da efetivação destas políticas públicas. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Na terceira e última unidade você compreenderá a importância dos processos de monitoramento e avaliação nos programas e projetos sociais. Estudaremos a relevância e o significado da avaliação, bem como seus tipos e modalidades. Além disso, veremos o monitoramento enquanto processo indispensável na busca da efetividade, apresentando aí a construção de indicadores para poder mensurá-la. Prontos para começar a compreender o significado da Assessoria e Consultoria em Programas e Projetos Sociais? Bons estudos! Prof.ª Lecticia Rodrigues Souza V VI VII UNIDADE 1: ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS .. 1 TÓPICO 1: CONCEITOS BÁSICOS DE ASSESSORIA E CONSULTORIA .............................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O QUE É ASSESSORIA ....................................................................................................................... 3 3 O QUE É CONSULTORIA .................................................................................................................. 7 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 13 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17 TÓPICO 2: O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL COMO ASSESSOR E CONSULTOR ........ 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 A LEI DE REGULAMENTAÇÂO DA PROFISSÂO ...................................................................... 20 3 NOVAS PERSPECTIVAS DE INTERVENÇÃO E INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO........................................................................................................................................... 22 3.1 FOCANDO A DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA ...................................................... 24 3.2 FOCANDO A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA ................................................................. 26 3.3 FOCANDO A DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA ........................................................................... 28 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 33 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 35 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 37 TÓPICO 3: ASSESSORANDO ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS (ONGs) ..... 39 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39 2 QUE ORGANIZAÇÕES SÃO ESTAS? ............................................................................................. 40 3 O QUE AS ONGs ESPERAM DE UM CONSULTOR/ASSESSOR? ..........................................43 3.1 CAPTAÇÃO DE RECURSOS ....................................................................................................... 45 3.1.1 Alguns parceiros importantes ............................................................................................... 48 3.2 ACOMPANHAMENTO E CONTROLE ....................................................................................... 49 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 51 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 53 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 55 TÓPICO 4: ASSESSORANDO EMPRESAS ...................................................................................... 57 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 57 2 O QUE AS EMPRESAS ESPERAM DE UM CONSULTOR/ASSESSOR? ................................. 58 3 RESPONSABILIDADE SOCIAL: MODISMO OU NECESSIDADE? ....................................... 59 3.1 DIAGNÓSTICO COMO CONDIÇÃO .......................................................................................... 62 3.2 PARTICIPAÇÃO, INTERDISCIPLINARIEDADE E ÉTICA POR PRINCÍPIO ....................... 65 3.3 QUALIDADE DE VIDA COMO META ....................................................................................... 70 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 74 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 76 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 78 sumário VIII UNIDADE 2: COMPREENDENDO A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ......................................79 TÓPICO 1: PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: DA TRANSPARÊNCIA À EFICIÊNCIA ......................................................................................................................81 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................81 2 O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ..................................................................................................82 3 O PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE ........................................................................................83 4 O PRINCÍPIO DA MORALIDADE ................................................................................................84 5 O PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE .................................................................................................85 6 O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ......................................................................................................87 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................90 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................92 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................93 TÓPICO 2: INSTRUMENTOS ADMINISTRATIVOS .................................................................95 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................95 2 A LEI ORGÂNICA MUNICIPAL ....................................................................................................96 3 O PLANO PLURIANUAL .................................................................................................................101 4 A LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS ...............................................................................104 5 A LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL E O ORÇAMENTO ............................................................106 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................111 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................114 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................116 TÓPICO 3: FORMAS DE CONTROLE INTERNO E EXTERNO ................................................117 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................117 2 A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL ....................................................................................118 2.1 O TRIBUNAL DE CONTAS ........................................................................................................120 2.2 O CONTROLE INTERNO ............................................................................................................124 3 O CONTROLE LEGISLATIVO ........................................................................................................126 4 O CONTROLE SOCIAL ....................................................................................................................128 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................134 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................................138 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140 TÓPICO 4: RESPONSABILIDADE PÚBLICA COM OS DIREITOS E A ORDEM SOCIAL ............................................................................................................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 DIREITOS CONSTITUCIONAIS ...................................................................................................142 2.1 EDUCAÇÃO ..................................................................................................................................143 2.2 SAÚDE ............................................................................................................................................144 2.3 PREVIDÊNCIA SOCIAL.............................................................................................................. 145 2.4 ASSISTÊNCIA SOCIAL ............................................................................................................... 146 2.5 TRABALHO ................................................................................................................................... 147 2.6 MORADIA ..................................................................................................................................... 148 2.7 LAZER ............................................................................................................................................ 149 2.8 SEGURANÇA ................................................................................................................................ 150 2.9 PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA .................................................................. 150 3 O ESPECIAL RESPEITO À ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO ÍNDIO ...................................... 151 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................154RESUMO DO TÓPICO 4 .......................................................................................................................157 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................159 IX UNIDADE 3: PROGRAMAS E PROJETOS SOCIAIS ................................................................ 161 TÓPICO 1: DA CONCEPÇÃO DE GASTO PARA INVESTIMENTO....................................... 163 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 163 2 UM BREVE HISTÓRICO ................................................................................................................. 164 3 A CONCEPÇÃO ATUAL: REALIDADE OU UFANISMO ........................................................ 167 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 171 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 176 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 178 TÓPICO 2: O MONITORAMENTO ................................................................................................ 179 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 179 2 O MONITORAMENTO ENQUANTO PROCESSO .................................................................. 180 3 A CONSTRUÇÃO DE INDICADORES ........................................................................................ 181 3.1 INDICADORES QUALITATIVOS ............................................................................................ 184 3.2 INDICADORES QUANTITATIVOS .......................................................................................... 187 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 189 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 191 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 193 TÓPICO 3: A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO CONSTANTE .............................................. 195 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 195 2 A AVALIAÇÃO ENQUANTO PESQUISA ................................................................................... 197 3 POR QUE AVALIAR? ........................................................................................................................ 197 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 200 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 203 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 204 TÓPICO 4: TIPOS E MODALIDADES DE AVALIAÇÃO .......................................................... 205 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 205 2 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ................................................................................................. 206 3 AVALIAÇÃO DE IMPACTO ........................................................................................................... 208 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................211 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................213 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................215 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................217 X 1 UNIDADE 1 ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • compreender os conceitos básicos de assessoria e consultoria e sua aplica- bilidade enquanto intervenção profissional do assistente social; • aprofundar a discussão sobre as competências teórico-metodológica, téc- nico-operativa e ético-política do profissional de serviço social, na posição de consultor ou assessor; • identificar a possibilidade de inserção do assistente social no mundo do trabalho nos processos de assessoria e consultoria, tanto em organizações não governamentais como em empresas. Esta unidade está dividida em quatro tópicos e, ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos, realizando as atividades propostas. TÓPICO 1 – CONCEITOS BÁSICOS DE ASSESSORIA E CONSULTORIA TÓPICO 2 – O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL COMO ASSESSOR E CONSULTOR TÓPICO 3 – ASSESSORANDO ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS (ONGS) TÓPICO 4 – ASSESSORANDO EMPRESAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS DE ASSESSORIA E CONSULTORIA 1 INTRODUÇÃO “A boa sorte sempre é um dom dos deuses... a aprovação dos antigos deuses não se ganha sendo bom, mas sendo audaz.” (ANITA BROOKNER, 2005) Os termos assessoria e consultoria têm sido bastante usados em vários meios de comunicação. A atividade está em foco em muitas publicações contemporâneas, em especial na área de administração. O que ocorre, muitas vezes, é uma certa confusão na utilização dos termos, e até mesmo uma banalização das funções de consultor e assessor. Neste tópico você terá a possibilidade de compreender os conceitos atuais de assessoria e consultoria, diferenciando-os entre si. Poderá compreender as diferenças e similitudes entre o consultor, o assessor e o gerente. Procuramos trazer para você uma compreensão básica sobre estas intervenções profissionais, para que, na sequência, você possa compreender os processos de assessoria e consultoria relacionados ao fazer profissional do assistente social. No final do tópico fazemos algumas indicações bibliográficas que vão conduzi-lo ao aprofundamento do assunto. Agora é com você. Concentre-se e bons estudos!! 2 O QUE É ASSESSORIA Para compreender o que é assessoria, comecemos por um conceito bem básico, que pode ser encontrado na maioria dos dicionários de Língua Portuguesa. Segundo Luft (2009), asssessor é o adjunto, ajudante, assistente, auxiliar. Portanto, a assessoria é uma atividade que tem o objetivo de ajudar e auxiliar as organizações (empresas-clientes) a obterem melhorias no seu desempenho. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 4 A assessoria é uma atividade-meio que vem sendo cada vez mais difundida no mundo do trabalho. Este serviço é prestado por empresa especializada em assessoria, com uma equipe multiprofissional, ou por um assessor independente. Em ambos os casos é necessário que o assessor possua grande qualificação profissional e expressiva experiência nos assuntos envolvidos, conhecimento técnico e habilidade para orientar e estimular as ações a serem desenvolvidas. Sendo assim, esta atividade deve estar sempre atenta para a utilização de um instrumental capaz de proporcionar níveis mais elevados de eficiência, eficácia e efetividade. Lembrando que, de acordo com Valarelli (2001), a eficiência diz respeito à boa utilização dos recursos em relação às atividadese resultados atingidos, a eficácia observa se as ações realizadas permitiram alcançar os objetivos previstos e a efetividade examina em que medida os resultados estão incorporados de modo permanente à realidade da população-alvo da ação/projeto. O assessoramento é um processo pelo qual a empresa contratante espera resultados do profissional contratado. A expectativa é que, através da assessoria, o profissional disponibilize o seu saber por um tempo determinado e em espaços profissionais específicos. Segundo a empresa lucrativa especializada em assessoria, normalmente os assessores são contratados por uma das seguintes razões: POR QUE AS EMPRESAS CONTRATAM ASSESSORIA? Para que forneçam conhecimentos e capacidades: quando a empresa não possui pessoa capaz de enfrentar problemas que exigem técnicas ou métodos específicos. Quando precisam de ajuda intensiva e temporária: um exame profundo dos problemas principais da empresa exigiria plena atenção dos diretores, pessoas que normalmente têm pouco tempo disponível, pois estão envolvidas com a direção do dia a dia. Assim, os assessores só intervêm pelo tempo necessário e deixam a empresa quando o trabalho estiver terminado. Para obter um ponto de vista independente e imparcial: os membros de uma empresa podem estar muito influenciados por suas experiências, interesses, tradições ou hábitos para conseguirem propor soluções viáveis ou tomar decisões corretas. Por outro lado, graças à sua independência, o assessor pode ser imparcial em situações em que nenhuma pessoa que trabalha na empresa conseguiria. Quando há necessidade de um especialista: alguns trabalhos são muito especializados para que seja necessário à empresa manter um elemento contratado permanentemente. Nestes casos, os assessores podem atender às necessidades sem onerar o quadro de pessoal da empresa; TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS DE ASSESSORIA E CONSULTORIA 5 Para fornecer argumentos à direção: um diretor pode saber exatamente o que deseja e qual será sua decisão, mas às vezes prefere ou precisa das informações e argumentos de um assessor para fundamentar e justificar sua decisão. Quando há inovações e modernizações a serem implantadas: algumas atividades exigem acréscimos de conhecimento e métodos. O assessor pode assumir provisoriamente a atividade nova e, posteriormente, transferir as técnicas necessárias a alguém do quadro permanente da empresa. Em casos urgentes: determinadas providências não podem esperar para serem adotadas quando houver gente da empresa disponível para atendê-las. Treinamento de pessoal: muitas empresas não têm departamento de treinamento. Estas podem recorrer à assessoria para que elabore e aplique programas de capacitação do pessoal. Análises e avaliações com os diretores: o assessor pode assessorar os executivos da empresa para a avaliação de projetos, processos ou análise de dados estratégicos. FONTE: Disponível em: <http://www.lucrativa.com.br/asessoriaempresarial.asp->. Acesso em: 30 mar. 2011. O assessor deve estar em constante atualização e jamais perder de vista que não conquistará nada sozinho. Ele acompanha processos de trabalho da instituição (empresa/organização), apontando as possibilidades, os limites e as alternativas de ação no projeto pretendido, sempre em interação com os demais atores envolvidos. O assessor tem por atribuição estimular a troca de experiência entre os diversos saberes profissionais e articulá-los para os bons resultados pretendidos. Cabe a ele despertar o espírito de superação numa perspectiva de interdisciplinariedade. Compreendendo que “o que caracteriza a atitude interdisciplinar é a ousadia da busca, da pesquisa, é a transformação da insegurança num exercício de pensar, num construir” (FAZENDA, 2006, p. 79). UNI Caro(a) acadêmico(a), no próximo tópico aprofundaremos a discussão sobre interssetorialidade, onde você terá mais elementos para compreender o que ela representa. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 6 Ao referirmos bons resultados pretendidos, lembramos que, como em qualquer outra intervenção profissional, a chance de termos uma ação bem-sucedida começa pelo planejamento. Com a atividade e assessoria não é diferente, ela requer minucioso planejamento. Você já deve ter estudado, em outras diciplinas, a importância do planejamento, por isto não vamos aprofundar a discussão, mas chamamos atenção para sua indispensabilidade e pontuamos o diagnóstico como um momento de especial dedicação no planejamento na atividade de assessoria. Mas, afinal de contas, o que significa um diagnóstico neste processo de planejamento em assessoria? Pois bem, comecemos pelo PROCESSO. Diagnosticar significa dizer que precisamos ter conhecimento de todos os fatores envolvidos na situação que requer a assessoria, lembrando que estes fatores estão em processamento, ou seja, não são estanques, eles mudam e se transformam constantemente. Não é possível que um assessor chegue a uma instituição com um plano padrão, prometendo “milagres”, desconsiderando a história pregressa desta instituição, as pessoas que a compõem, suas subjetividades, a missão da instituição, os esforços e disponibilidades de cada colaborador para efetivar esta missão. Mais do que propostas infalíveis, o assessor precisa, em primeiro lugar, estar disponível para saber também das falhas, dos fracassos; precisa conhecer os sucessos e os motivos que os impulsionaram. É preciso observar comportamentos, ouvir depoimentos, analisar documentos antes de propor qualquer alternativa de ação. A assessoria só ocorre quando o assessor já conhece a realidade e se apropria dela juntamente com os demais atores sociais envolvidos. De acordo com Rivera (1992, p. 61), “o diagnóstico é um momento analítico. Para análise é necessário esmiuçar a realidade... Porém, o diagnóstico não pode se esgotar na análise, mas deve concluir com um momento integrador, de síntese das observações que compõem os diferentes níveis examinados”. Estaremos retomando a importância do diagnóstico durante todo o nosso Caderno de Estudos, dada a sua relevância, mas aqui estamos destacando que ele é o princípio de qualquer bom processo de assessoria que pretenda estar comprometido com a transformação da realidade social. Retomando, o diagnóstico é o primeiro passo passo o “sucesso” do planejamento. TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS DE ASSESSORIA E CONSULTORIA 7 3 O QUE É CONSULTORIA Vamos começar falando de consultoria da mesma forma que abordamos o conceito de assessoria, recorrendo ao dicionário. Luft (2009) nos aponta que consultor é aquele que dá conselhos, que apresenta sua opinião ou parecer sobre algum assunto. Vejamos então no que se diferencia a função de assessor da função de consultor. O consultor está diretamente ligado à ação cotidiana, sendo que o mesmo estará presente como um braço externo, pronto para emitir parecer sobre determinadas questões que estão afetas à organização-instituição que lhe pretende consultar. Segundo Oliveira (2007, p. 4), “consultoria é um processo interativo de um agente de mudanças externo à empresa, o qual assume a responsabilidade de auxiliar os executivos e profissionais da referida empresa nas tomadas de decisões, não tendo, entretanto, o controle direto da situação”. É importante destacar que estamos tratando aqui da figura do consultor externo, aquele representado por um profissional autônomo ou por uma empresa de consultoria. Contudo, cabe esclarecer que existe a possibilidade de um consultor interno, “representado por um funcionário da empresa-cliente, o qual realiza serviços para áreas diversas da referida empresa” (OLIVEIRA, 2007, p. 52). Consultores são profissionais especializados em determinada área que auxiliam na identificação de oportunidades de melhoria e na implantação de novas metodologias e sistemas. O consultor, por estar “do lado de fora”, percebe com mais facilidade alguns “maus hábitos”,não mais percebidos na pressão do dia a dia. O consultor ajuda a identificar e corrigir estes “desvios”. Precisamos diferenciar ainda a figura do consultor e a figura do gerente. De acordo com Block (1993, p. 3), “um consultor é uma pessoa que está em posição de ter alguma influência sobre um indivíduo, um grupo ou uma organização, mas que não tem o poder direto de produzir mudanças ou programas de implementação. Um gerente é alguém que tem controle direto sobre a ação”. O autor destaca ainda que o objetivo do consultor é estar envolvido em intervenções bem-sucedidas. Block (1993) aponta três tipos de HABILIDADES para desempenhar um bom papel de CONSULTOR: Habilidades Técnicas: estas habilidades dizem respeito à especialização. É necessário que o consultor seja especialista em alguma área, que ele saiba profundamente do assunto que vai prestar consultoria. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 8 Habilidades Interpessoais: estas habilidades dizem respeito à capacidade de relacionamento com as pessoas, a forma de expressão, de saber ouvir, discutir e opinar. Estas habilidades interpessoais estão voltadas ao relacionamento afetivo que será estabelecido no processo de consultoria. Ela envolve vários elementos, como responsabilidade, sentimentos, confiança e, até mesmo, as próprias necessidades do consultor. Habilidades de Consultoria: estas habilidades nos remetem às fases essenciais do trabalho de consultoria. Fases estas compreendidas como um processo que deve ser seguido sequencialmente para garantir um bom trabalho. São cinco as fases a seguir: o contato; a coleta de dados e diagnósticos; feedback e decisão de agir; implementação e, finalmente, a extensão, reciclagem ou término. Certamente, você acaba de identificar estas fases, como também etapas de planejamento, e você tem razão: elas compõem o processo de planejamento dentro da atividade de consultoria. Como já falamos anteriormente no significado do diagnóstico, vamos citar agora a importância do feedback, que é, na sequência, a complementaridade do diagnóstico. O feedback é a fase de analisar o diagnóstico com o cliente. Neste momento de análise serão estabelecidas as metas de ação, escolhidos os melhores passos de intervenção para atender à necessidade estabelecida no objetivo. A partir daí a próxima fase será a de implementação das ações propriamente dita, aquelas estabelecidas no feedback serão postas em prática. A última fase, tão importante como as demais, é a fase de término; nela será estabelecido se a consultoria está encerrada momentaneamente por ali, se ela vai ser estendida por mais tempo ou se será realizada periodicamente, sob forma de reciclagem. Assim como a assessoria, a consultoria também é prestada por empresa especializada ou por profissional autônomo especialista em determinado assunto. O fundamental é que o profissional consultor tenha vasta experiência na área onde vai atuar. Surge aí o dilema entre a teoria e a prática. UNI Desde o início do curso, você já ouviu várias vezes a frase “NÂO BASTA SABER, É PRECISO SABER FAZER”. Pois bem, aí está sua aplicação na prática. Não basta ao consultor ser um PHD no assunto. Se não desenvolver experiência na área, se não praticar estes conhecimentos, não saberá o valor real e prático dos mesmos. Vejamos mais sobre isto! TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS DE ASSESSORIA E CONSULTORIA 9 Muitas vezes, imaginamos que a prática cotidiana nos habilita a enfrentar as inúmeras situações que se apresentam e, de forma complexa, vão se transformando numa velocidade que somente a “correria” do dia a dia é capaz de entendê-la e formar-lhe respostas. Acreditamos que a nossa experiência vivida, o que chamamos de conhecimento empírico, é suficiente para nos qualificar como um bom profissional “sabedor” das suas competências. Outras vezes, nos debruçamos a estudar um imenso compêndio sobre determinado assunto, aprofundando nosso saber teórico, nas mais variadas literaturas sobre o tema – o que chamamos de conhecimento científico -, e nos tornamos “peritos” a partir da literatura, acreditando que somos capazes de interpretar qualquer situação cotidiana e apontar-lhe soluções pragmáticas. Grande equívoco se faz em ambas as percepções. O saber é construído a partir da práxis, ou seja, a ação refletida a partir de uma teoria impulsiona uma nova ação (ação/reflexão/ação), e assim sucessivamente. Desta forma, vamos construindo um saber que consegue unir o conhecimento empírico e o conhecimento científico. Seria inútil todo conhecimento teórico de algum assunto, se não repousasse na prática o seu sentido de ser. O conhecimento só tem sentido quando é posto à disposição para melhorar a condição de vida humana. Por outro lado, se perderia no tempo e no espaço o conhecimento adquirido na experimentação, se não fosse refletido e sistematizado. Esta combinação teoria e prática é uma das molas propulsoras para o desenvolvimento do conhecimento. Poderia ilustrar esta relação com um exemplo de nossa prática profissional: Em cerca ocasião, trabalhávamos com uma comunidade rural um projeto de saneamento básico. Através de reuniões com o clube de mães da localidade, fomos apresentando “teorias” sobre a importância do consumo de água em quantidade suficiente e qualidade adequada, pontuando as doenças transmitidas através da água contaminada. Foram seguidos encontros sobre o tema, até abordarmos especificamente a importância da limpeza do reservatório (caixa d’água), destacando desde as consequências da falta de limpeza até as formas adequadas de realização da limpeza do reservatório. Neste caso, além de utilizarmos o instrumental específico do Serviço Social, utilizamos teorias da área da saúde, portanto, nossa ação era movida por teorias. Mas poderíamos nos perguntar: em que momento esta teoria fez total sentido na realidade? Foi a própria comunidade quem nos fez compreender este sentido. Na semana seguinte, na abordagem do tema limpeza do reservatório, chegamos ao local e horário da reunião e não havia ninguém aguardando. Foi quando um senhor nos trouxe um recado. Dizia ele que as mulheres do clube de mães estavam todas na escola da comunidade. Fomos até a escola e, quando lá chegamos, tivemos uma grata surpresa. As mulheres haviam organizado um mutirão comunitário para a limpeza da caixa d’água da escola. Além delas, alguns de seus maridos estavam envolvidos com a atividade. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 10 Para as famílias, a teoria fez sentido quando puderam traduzir para algo concreto que compreendessem. Para nós, pudemos refletir a prática e redirecionar nossa ação sempre pontuando com questões concretas que, efetivamente, tivessem significado para a comunidade, e refletimos também sobre a própria organização da comunidade como exercício de cidadania e participação, uma vez que esta participação traz consigo a possibilidade real de concretização de ideias. Através da participação sabemos que: [...] a população organiza formas de sobrevivência e nelas ganham sentido a solidariedade, a iniciativa e a criatividade como elementos que dão força à sua organização de classe. E seria na sua organização como classe, nas formas próprias de encaminhamento aos seus interesses, onde poderiam germinar as condicionantes de superação do modelo de desenvolvimento brasileiro (KOIKE, 1980, p. 71). Da mesma forma, um consultor não pode apenas basear-se nas teorias para realizar sua intervenção, ele precisa de muita experiência prática. Não imagine você que, ao sair dos bancos acadêmicos e continuar estudando exaustivamente teorias sobre determinada questão, estará habilitado para ser um excelente consultor. Você vai precisar vivenciar as teorias, experimentá-las e praticá-las. Pavan (2011) afirma que para se tornar um consultor é necessário ter domínio do assunto/área em que se pretende dar consultoria. Para que isto seja possível são necessáriosanos de experiência profissional. Para ela, um bom consultor reúne domínio profissional e escolaridade, ambos em equilíbrio. A autora destaca ainda três características em um bom consultor. Ele deve ser criativo, inovador e, sobretudo, saber ouvir. Você está se lembrando destes conceitos? Sim, você já ouviu falar nisso algumas vezes. Em especial, quando falamos em espírito empreendedor e liderança. Isto mesmo, o consultor é um empreendedor, é um líder e, como tal, deve estar sempre à frente do seu tempo, deve ser previdente, estratégico. Oliveira (2007) também destaca algumas características importantes no comportamento do consultor. Para ele, o consultor deve ter atitude interativa, ter diálogo amplo, ser negociador, obter comprometimento das pessoas, estabelecer confiança e lealdade. NOTA Caro(a) acadêmico(a), lembre-se: a linguagem do consultor deve ser descritiva, centrada, específica, curta e simples. Evite a linguagem avaliativa, global, estereotipada, longa e complicada. TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS DE ASSESSORIA E CONSULTORIA 11 Falando um pouco mais da postura do consultor enquanto líder, podemos lembrar que “os líderes se sobressaem por serem diferentes. Eles questionam as hipóteses e suspeitam da tradição. Eles procuram a verdade e tomam decisões baseados no fato, não no preconceito. Eles têm preferência pela inovação” (PRIOR, apud FENTON, 1992, p. 153). Você constatou que, assim como o assessor, o consultor também trabalha à base de planejamento, e este deve ser realizado, minuciosamente, a partir de um bom diagnóstico, que mostrará o retrato da realidade onde pretende atuar. Será seguido por fases sequenciais, sempre comprometidas com os objetivos propostos e a missão da organização. O consultor também não conquista sucesso sozinho, ele deve ter sempre presente o espírito de equipe. UNI Você já conseguiu fazer várias ligações entre o conteúdo estudado anteriormente e o que estamos vendo agora. Isto é ótimo, sinal de que você está construindo seu conhecimento! UNI Para um aprofundamento destes temas, sugiro que você leia os seguintes livros: OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Manual de consultoria empresarial. São Paulo: Atlas, 2007. BLOCK, Peter. Consultoria, o desafio da liberdade. São Paulo: Makronbook, 1993. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 12 UNI INDICAÇÃO DE filme: FILME: VIRANDO O JOGO Dados técnicos Título no Brasil: Virando o Jogo. Título original: The Replacements. País de origem: EUA. Gênero: drama. Tempo de duração: 118 minutos. Ano de lançamento: 2000. Site oficial: Estúdio/Distrib.: Warner Bros. Direção: Howard Deutch. TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS DE ASSESSORIA E CONSULTORIA 13 LEITURA COMPLEMENTAR TRABALHANDO NA ERA DO NÃO EMPREGO Dino Mocsányi Por vários milênios, em nossa civilização, ninguém tinha um “emprego fixo” da maneira como temos hoje este conceito, aliás, em lenta, porém franca, extinção. O trabalho então era desenvolvido de forma autônoma por quem sabia fazê-lo, dando origem aos artesãos, mestres e, posteriormente, às corporações de ofício da Idade Média. Eu sei que você não tem tanta idade assim para lembrar-se de todos estes detalhes com precisão, mas assim foi até o início da Revolução Industrial (que saudade de minhas aulas de História...). Surgiram e cresceram então, assim, as primeiras grandes empresas, absorvendo os camponeses emigrados para as cidades, expulsos pela falta de trabalho decorrente da mecanização agrícola. Esta trajetória ocorreu em muitos lugares do mundo civilizado, no Brasil inclusive, ainda que por aqui com algum atraso, já pelo meio do século 20. Na crença de que uns só serviam para o trabalho braçal, enquanto outros, mais privilegiados, deveriam administrar os primeiros, empilharam-se caixinhas e mais caixinhas organizacionais sobre os níveis operacionais. Surgiram, assim, as grandes e inflexíveis estruturas hierárquicas, e as noções de “trabalho” e de “emprego” se confundiram. Trabalhar significava estar empregado (note o tempo de verbo no passado...). Em um futuro bem próximo, sem dúvida iremos relembrar o final do século passado e este nosso século 20 como a “Era do Emprego”. O QUE OCORRE HOJE A moda agora é dizer que os empregos estão indo embora. Você já ouviu isto em algum lugar, não é mesmo? No entanto, pessoas ainda são empregadas, e sempre o serão. O que ocorre é que o trabalho que elas estão sendo solicitadas a realizar encaixa-se cada dia menos no modelo que nós conhecemos como “aquele bom emprego”. O que está acontecendo? Neste nosso mundo globalizado, do qual fazemos parte agora, e que muda durante cada mal dormida noite de sono, surge nova pressão, por contínua e acelerada readequação da força de trabalho, seja ela operacional, técnica ou executiva. E isto precisa se processar, no mínimo, na velocidade com que cenários, mercados e tecnologia mudam, senão mais rapidamente, se as organizações e pessoas quiserem se antecipar às mudanças, sobreviver e prosperar. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 14 Do ponto de vista dos recursos humanos, a questão básica que atinge as organizações não está associada tanto às situações econômicas contingenciais, mas à necessidade destas organizações mudarem mais agilmente do que jamais necessitaram fazer antes. Estruturas organizacionais e empregos tradicionais, na maneira como nós os conhecemos, com horário e local de trabalho fixos, descrição de cargo clara e relação direta e hierárquica entre chefe e empregados, revelaram-se uma maneira bastante inflexível para se realizar o trabalho requerido. Além do surgimento do estilo “coaching” de administração, empresas do futuro terão como forte característica serem “sem empregados”, e muitas que são proativas já estão assumindo este novo modelo. Na prática, o que ocorre é que continua existindo muito trabalho para ser feito, certamente até mais do que em saudosos tempos mais plácidos, mas as estruturas de cargos e de relação de comando vertical estão rapidamente desaparecendo. O trabalho passa, cada dia mais, a ser realizado pela categoria de “profissionais sem emprego” (por favor: não confunda com “desempregados”!), que estejam em condições de oferecer instantaneamente o conhecimento e habilidades necessárias, pelo tempo em que estas forem requeridas pelas organizações. Assim, “empregos” tradicionais estão rapidamente se transformando em história passada, e o trabalho é cada vez mais realizado por pessoas que não fazem parte do quadro fixo das empresas. Este é o caso, por exemplo, dos profissionais que saem (ou “são saídos”...) das empresas e continuam prestando serviços em tempo parcial, como subcontratados. Dos mais tradicionais níveis operacionais, até os executivos temporários para direção de projetos e empreendimentos, esta também é a situação dos profissionais temporários ou por contrato, forma que já se torna usual em vários segmentos empresariais, como a indústria sob encomenda e bens de capital, imobiliário e construção civil, telecomunicações e infraestrutura em geral, em responsabilidades como Marketing, Finanças e Tecnologia da Informação, para mencionar algumas. Esta forma de vínculo temporário e parcial inclui os consultores e profissionais independentes, os terceirizados e até mesmo os membros de times interfuncionais, nos quais ninguém mais tem uma função ou descrição de cargo clara e permanente. O vínculo do próximo século deverá ser com o trabalho que cada um sabe fazer, e não mais com o emprego ou com um empregador. Ter um bom currículo, ou um longo tempo de casa, não garante mais coisa nenhuma neste mundo novo, tão dinâmico e instável. Empresas e organizações em geral só sobreviverão se puderem contar com os melhores recursos humanos disponíveis a cada momento, dentro de um cenário de demandas que mudam com velocidade inédita. TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS DE ASSESSORIA E CONSULTORIA 15 A questão que colocopara reflexão é que as organizações só vêm mudando de maneira superficial: elas ainda empregam pessoas, pagam a elas para fazer o trabalho que seu emprego exige, as avaliam pela performance no emprego e as promovem para um novo cargo se elas forem bem-sucedidas. Organizações tradicionais são constituídas por empregados, da mesma forma que paredes são, lentamente, construídas com tijolos. Mas o ritmo de mudanças que ocorre hoje exige formas construtivas muito mais dinâmicas e ágeis, que possam ser adaptadas muito mais rapidamente. Vejo, com clareza absoluta, que na virada do milênio já mergulhamos de cabeça na “Era do não emprego”, cujas consequências mal começam a ser compreendidas por trabalhadores, empresas e governos. FONTE: MOCSÁNYI, Dino. Trabalhando na era do não emprego. Disponível em: <http://www. consultores.com.br/artigos.asp?cod_artigo=23>. Acesso em: 11 abr. 2011 16 Neste tópico pudemos observar uma discussão acerca do significado da assessoria e consultoria, no qual foram abordados os seguintes itens: A assessoria é uma atividade que tem por objetivo ajudar e auxiliar as organizações a obterem melhorias no seu desempenho. A assessoria deve estar sempre atenta para a utilização de um instrumental capaz de proporcionar níveis mais elevados de eficiência, eficácia e efetividade. O assessor disponibiliza o seu saber profissional por um determinado tempo, numa postura de interdisciplinariedade, com os demais profissionais envolvidos. O assessor trabalha sempre numa perspectiva de planejamento, entendendo o diagnóstico como momento de fundamental importância. A consultoria externa é um processo interativo, no qual um agente externo assume a responsabilidade de auxiliar a empresa nas tomadas de decisões, não tendo, entretanto, o controle direto da situação. A linguagem do consultor deve ser descritiva, centrada, específica, curta e simples. O consultor é um profissional especializado em determinada área que auxilia na identificação de oportunidades de melhoria e na implantação de novas metodologias e sistemas. O consultor deve atrelar experiência e escolaridade, equilibrando teoria e prática. O consultor deve ter sempre atitude proativa e empreendedora. O consultor reúne as habilidades técnicas, interpessoais e de consultoria. A consultoria está baseada no planejamento, onde a fase do feedback, precedida do diagnóstico, é fundamental para estabelecer as melhores ações a serem realizadas e dar continuidade às fases seqüentes, que são de implementação e término. RESUMO DO TÓPICO 1 17 A partir dos conteúdos estudados neste tópico, para exercitar sua construção do conhecimento e aproveitar para estudar para as avaliações, responda às seguintes questões. 1 Como você diferencia assessoria de consultoria? 2 Qual a importância do diagnótico nos processos de assessoria e consultoria? 3 O que significa dizer que o saber é construído a partir da práxis profissional ? 4 Quais são os tipos de habilidades apontadas por Block para desempenhar um bom papel de consultor? AUTOATIVIDADE 18 19 TÓPICO 2 O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL COMO ASSESSOR E CONSULTOR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Nunca acreditei que pudéssemos transformar o mundo, mas acho que todos os dias as coisas podem ser transformadas. (FRANÇOISE GIRAUD, 2005) No tópico anterior falamos em assessoria e consultoria. A atividade está em foco em várias publicações contemporâneas, em especial na área de administração. O que você deve estar se perguntando é o que esta tal de assessoria e consultoria tem a ver com o Serviço Social; afinal de contas, como o assistente social se encaixa nesta atividade? Não é novidade, para você, que a profissão de assistente social vem sendo construída historicamente e o objeto da ação profissional são as expressões da questão social que se apresentam no cotidiano. Então, se o cotidiano vai sendo modificado e estas expressões se manifestam de outra forma, nada mais natural que a profissão esteja atenta a estas mudanças e pense na possibilidade de intervenção a partir delas. Neste tópico você terá a possibilidade de repensar os conceitos atuais de assessoria e consultoria, fazendo um gancho de como se direcionam ao fazer profissional do assistente social. Mais especificamente, estamos falando de Assessoria e Consultoria em Programas e Projetos Sociais, retomando o que você já vem apreendendo sobre as competências teórico-metodológica, técnico- operativa e ético-política. Entretanto, lembre-se sempre: os conteúdos aqui abordados não são finalistas em si mesmos, objetivam o despertar do assunto. Você terá indicações bibliográficas e de outras fontes de pesquisa que o auxiliarão no aprofundamento do tema. Afinal, um bom assessor ou consultor é aquele que conhece profundamente o assunto que se dispõe a trabalhar! Agora é com você! Acomode-se em um bom lugar para estudar, olhos no livro e mente concentrada. Bons estudos! UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 20 2 A LEI DE REGULAMENTAÇÂO DA PROFISSÂO Os processos de assessoria, além de contribuírem para a reafirmação profissional no projeto ético-político, reforçando a viabilização na garantia dos direitos dos usuários e no acesso aos bens e serviços e às políticas públicas, apontam também para a importância da cientificidade no Serviço Social e do assistente social como profissional detentor de conhecimentos relevantes a serem discutidos com outros sujeitos sociais e profissionais (BRAVO; MATTOS, 2006, p. 30). A partir desta citação, podemos realizar uma reflexão sobre o papel do assistente social nos processos de assessoria e consultoria de programas e projetos sociais, refletindo sobre o caráter do projeto ético-político e sobre a questão da cientificidade. Em relação ao caráter ético-político, é importante lembrar que o assistente social comprometido com a garantia de acesso aos direitos legalmente estabelecidos é, também, um cidadão de direitos. Traz consigo o dever da lealdade profissional e, ao mesmo tempo, a vivência de um trabalhador inserido no mundo do trabalho regido pelo neoliberalismo, que lhe envolve na trama da contradição capital-trabalho. Trama profícua na acumulação de capital e concentração de renda e inscrita nas relações institucionais, onde a reestruturação de um novo padrão administrativo é marcada por estratégias de redução de gastos, sendo as gerências das instituições assumidas por assessores. Neste tipo de assessoria é necessário cautela, pois “...o convite ao Serviço Social para assessorar gerências vem acompanhado do deslocamento funcional deste profissional... e o atendimento formal, abstrato e mercantil é o que tem sobrado para os usuários nestas instituições” (BRAVO; MATTOS, 2006, p. 56). Quanto à cientificidade, já pontuamos a importância da práxis profissional, da relevância do diagnóstico, da dualidade e complementariedade da teoria e da prática. Todos estes aspectos estão relacionados ao fortalecimento do Serviço Social como ciência. Porém, neste processo de cientificidade é mister que o assistente social assuma uma atitude proativa. É eminente que sistematize o conhecimento. O conhecimento advindo do processo de assessoria e consultoria deve ser organizado através de textos, de relatórios, para que possam ser socializados, a fim de serem criticados, refletidos, para que promovam uma nova intervenção, assim melhorada. “A atividade de assessoria prevê, portanto, uma permanente capacitação do assessor, uma leitura continuada de conjuntura e a capacidade de apresentar – claramente – as suas proposições” (BRAVO; MATTOS, 2006, p. 57). TÓPICO 2 | O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL COMO ASSESSOR E CONSULTOR 21 A Lei Federal nº 8.662/93, publicada no Diário Oficial da União em 8/07/1993, que regulamenta a profissão de assistente social, traz também, no seu corpo, indicativos para a ação profissional voltada nestes dois sentidos. Vejamos: Art. 4º Constituemcompetências do assistente social: I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; VI - planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo; IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; X - planejamento, organização e administração de serviços sociais e de Unidade de Serviço Social; XI - realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades. Art. 5º Constituem atribuições privativas do assistente social: I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III - assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social. (Lei Federal nº 8.662/93, publicada no Diário Oficial da União em 8/07/1993). FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8662.htm>. Acesso em: 20 mar. 2011. Como vimos, a própria lei de regulamentação da profissão traz, no seu bojo, a possibilidade do assistente social estar inserido nos processos de assessoria e consultoria, tanto em órgãos públicos como em movimentos sociais e empresas privadas. Vejamos, a seguir, como esta inserção pode ser materializada no mercado de trabalho atual. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 22 3 NOVAS PERSPECTIVAS DE INTERVENÇÃO E INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO É recente a inclusão dos processos de assessoria e consultoria enquanto possibilidade de intervenção profissional do assistente social, ao menos em nível de produção bibliográfica. Bravo e Mattos (2006) afirmam que, ao analisarem o material publicado sobre o assunto, não é possível encontrar mais de duas dezenas de teses, livros ou capítulos de livros. Segundo as mesmas autoras, somente a partir dos anos 80 é que o Serviço Social ganha crédito para assessorar inúmeras experiências no campo das políticas sociais, não somente pela capacidade profissional, mas também pela realidade conjuntural. Realidade esta inscrita pela descentralização das políticas públicas. Você deve estar se perguntando: que capacidade profissional é esta? A capacidade profissional que está pautada pelo seu currículo acadêmico, que leva você a compreender desde a gênese das instituições sociais, da concepção mais remota de cidadania, até a legislação atual sobre o tema. Da imensa variedade de conteúdos das diversas áreas do saber, que lhe proporcionam uma generalidade sem igual na construção do seu conhecimento, abrangendo psicologia, direito, sociologia, saúde, administração, entre outros. Esta capacidade profissional na qual poderíamos dizer que sua especialidade é a generalidade. Não queremos, aqui, fazer um discurso corporativista e romântico da profissão, tampouco parecer demasiadamente simplória sua definição. Queremos trazer para reflexão a riqueza destes conhecimentos e a certeza empírica de que o profissional de Serviço Social é o que consegue “enxergar” o ser humano com todas as suas facetas, submerso no turbilhão do cotidiano, e fazer uma análise de conjuntura relacionada às subjetividades deste cidadão. Consegue ainda neste cenário, o assistente social, criar espaços que favoreçam a reflexão, a democratização de informações, a organização e o fortalecimento da garantia de acesso aos direitos. A própria Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), nas diretrizes curriculares para o curso de Serviço Social, Resolução nº 15, de 13 de março de 2002, ao tratar sobre o perfil dos formandos (1999), refere que o assistente social é um profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e implementando propostas de intervenção para seu enfrentamento, com capacidade de promover o exercício pleno da cidadania e a inserção criativa e propositiva dos usuários do Serviço Social no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho. Como vimos no tópico anterior, o assessor ou o consultor são profissionais especializados em determinada área, então você poderá estar se perguntando agora: como fica o assistente social frente a esta “especialização”? Repousa aí TÓPICO 2 | O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL COMO ASSESSOR E CONSULTOR 23 uma grande vantagem do profissional de Serviço Social: poderá ele escolher sua especialidade num imenso universo de possibilidades. Não precisa estar limitado a uma só escolha, ou a uma só área de conhecimento. Caro(a) acadêmico(a), você tem o privilégio de transitar por vários saberes e de experienciar alguns deles na prática supervisionada. O assistente social, na postura de assessor ou consultor, poderá, por exemplo, atuar na área de saúde mental, ou na área da justiça, com crianças e adolescentes, ou na área escolar, com famílias, ou na área de habitação popular, ou ainda na área de esporte, lazer e cultura, como forma de inclusão social. Todas estas possibilidades estão afetas a programas e projetos sociais e são objeto de ação do assistente social. Enfim, toda e qualquer expressão da questão social pode ser vista como especialidade em programas e projetos sociais, nos quais o assistente pode realizar sua intervenção profissional como assessor ou consultor. Bravo e Mattos (2006, p. 45), neste sentido, afirmam que “os assistentes sociais vêm sendo requeridos a prestarem assessoria à gestão/formulação de políticas sociais públicas e privadas e aos movimentos sociais. Esta não é uma prerrogativa exclusiva da profissão, entretanto, o Serviço Social vem sendo identificado como sujeito produtor e propositor nestes assuntos.” Agora que já falamos da capacidade profissional, vamos falar um pouco da realidade conjuntural, em especial da descentralização das políticas públicas. A realidade conjuntural reforça a lógica capitalista de que, cada vez mais, o mundo globalizado “vende” a ideia de que o mais importante para ser feliz é “TER”. Que o consumo de bens e serviços, exclui paulatinamente as camadas menos favorecidas economicamente. Uma realidade conjuntural perversa, onde as políticas compensatórias (as que dão o peixe) ainda são mais marcantes do que as emancipatórias (as que ensinam a pescar). E neste lócus, onde o assistente social é parte, é preciso ter cautela e vigilância permanente, pois ele próprio não está imune e pode ser manipulado ou manipulador na lógica capitalista. Na contraditória sociedade capitalista faz-se necessário revelar os caminhos da prática, visto que os assistentes sociais podem estar favorecendo a organização social vigente, participando do processo de repressão da classe trabalhadora - ou favorecendo os diferentes segmentos de trabalhadores –, reforçando seu processo de mobilização, organização e controle social (VASCONCELOS apud BRAVO, 2006, p. 11). Sobre a questão da descentralização das políticas públicas, destacamos sua relevância como uma forma de materialização da Constituição Cidadã de 1988. Esta descentralização estabelece-se quando as ações governamentais deixam de ser exclusivamente exercidas no âmbito do GovernoFederal. Ela se consolida com a democracia, onde o poder é partilhado não somente entre as esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal), mas também com os cidadãos. Neste cenário está inserido o controle social, através dos conselhos municipais paritários e deliberativos. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 24 UNI Caro(a) acadêmico(a), sobre o controle social, estaremos aprofundando mais nossa explanação na próxima unidade, quando estivermos compreendendo a administração pública. Muito bem, já identificamos dois fatores que justificam a inserção do assistente social no mundo do trabalho, a partir da assessoria e da consultoria, sendo eles a capacidade profissional e a atual conjuntura de descentralização das políticas públicas. O que você deve estar se perguntando agora é: como se faz esta intervenção? De que forma ela se processa? Este é o assunto que vamos ver agora, enfocando o fazer profissional através de três dimensões que devem estar definidas na prática do assistente social. Dimensões estas que se perpassam e complementam, formatando assim a intervenção profissional. 3.1 FOCANDO A DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA Esta dimensão define a prática profissional, à medida que responde quais são as teorias que norteiam a ação profissional, ou seja, qual é o arcabouço teórico utilizado pelo assistente social para compreender a realidade social. Mais do que isto, em que concepções teóricas está baseada sua intervenção profissional e qual a metodologia que utiliza para isto. É através dela que determinamos o PORQUÊ CONHECER a realidade. É um instrumento de ruptura com o senso comum. UNI Certamente, já nesta fase do curso você compreende do que estamos falando. Hoje, você já não pensa mais da forma como pensava quando ingressou no curso. Agora você questiona mais a realidade, compreende melhor os “fenômenos sociais”. Não aceita mais as coisas como determinadas e acabadas ou imutáveis. Isso se deve à imensa bagagem teórica que você já recebeu. Esta é a ruptura com o senso comum! TÓPICO 2 | O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL COMO ASSESSOR E CONSULTOR 25 Aqui, devemos trazer à tona duas discussões que já realizamos no decorrer deste caderno. A primeira diz respeito à relação entre teoria e prática, e a segunda relaciona-se à capacidade profissional. Sobre a relação TEORIA E PRÁTICA, vamos relembrar que teoria e prática se complementam. A teoria é processo de reflexão da prática, que é sistematizada e ressignificada. Portanto, a teoria baseia-se na realidade, e como esta é dinâmica, consequentemente a teoria também vai sendo transformada historicamente. TEORIA E PRÁTICA não são estanques, elas se alteram e se constroem no devir da realidade. Poderíamos nos perguntar, então, qual é o papel da teoria? O papel da teoria é de iluminar as estruturas e as dinâmicas dos processos sociais, as determinações contraditórias dos fatores e fenômenos, dissolver a positividade dos fatos pela sua negação, mas não oferece, nem se propõe a isso, uma pauta acerca de instrumentos de intervenção sobre a realidade social (GUERRA apud LAZZARINI e ZANLUCA, 2010, p. 35). Neste caso, você estará sendo convidado a pensar sobre quais as teorias que irão embasar a sua intervenção enquanto assessor e consultor. Lembrando que o Serviço Social se vale de saberes diversos de outras ciências. “O Serviço Social não tem teoria própria. Baseia-se em concepções extraídas das ciências sociais ou da tradição marxista e um conjunto de procedimentos técnico-instrumentais, muitas vezes recriados pelos profissionais para responder à sua funcionalidade” (GUERRA apud LAZZARINI e ZANLUCA, 2010, p. 39). Surge então a discussão sobre a capacidade profissional. Já vimos anteriormente que esta capacidade diz respeito à generalidade na formação acadêmica do profissional de Serviço Social. Queremos, no entanto, reforçar aqui que, em relação à dimensão teórico-metodológica, esta capacidade volta-se no sentido de estabelecer um caminho na escolha destes referenciais - UM MÉTODO. Neste caso, mais que a simples aplicação de instrumentos de ação, o método é “o COMO FAZER e a SISTEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA, enquanto caminho analítico, advindo de uma análise teórica da realidade cotidiana e vivencial da questão social a ser trabalhada” (LAZZARINI; ZANLUCA, 2010, p. 35). Você percebeu que novamente estamos relacionando teoria e prática, pensamento e ação. Ambas fazem parte de um movimento dialético e contraditório, o que reforça a ideia de que são complementares, precisam uma da outra para se perpetuarem e adquirirem significação. Vasconcelos (1998, p. 123) contribui neste sentido, afirmando que: dentre as estratégias possíveis para enfrentar a fratura entre o pensar e o agir no Serviço Social, indicamos os processos de assessoria e consultoria. Diante da complexidade das situações vivenciadas pela categoria necessárias, possíveis e viáveis, ainda que reconheçamos que não sejam suficientes. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 26 Quando falamos em estratégias de enfrentamento da “fratura” entre o pensar e o agir, estamos falando de metodologia. Metodologia esta, não como algo estanque ou mero conjunto de técnicas e instrumentos, mas como uma rede complexa de conhecimentos de ordem prática e teórica, que se completam e se contrapõem no jogo da realidade, onde a reflexão contínua permite sempre o surgimento do novo repensado e ressignificado. A metodologia deve ser compreendida como forma de ação organizada, por isto a chamamos de metodologia de ação, pois ela pretende ser interventiva e comprometida com a transformação social. “A metodologia é aqui pensada como um software, programa e estratégia flexível de ação na articulação do específico da profissão num contexto determinado” (FALEIROS, 1985, p. 118). NOTA Para melhor compreender este assunto e realizar uma interação com o que você vem construindo, sugiro que dê uma olhada no Caderno de Estudos de Estratégias, Técnicas e Instrumentos da Ação Profissional II. Na Unidade 1 você verá mais argumentos sobre método e metodologia. 3.2 FOCANDO A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA Esta dimensão aponta no sentido do instrumental, ou seja, traduz o COMO INTERVIR na realidade social. Através desta dimensão é que estaremos definindo o conjunto de técnicas, estratégias, instrumentos e procedimentos de ação no real. Para falar desta dimensão é preciso que falemos da instrumentalidade no processo de trabalho do assistente social. A instrumentalidade é compreendida como um conjunto de habilidades e competências que, aliadas a técnicas e instrumentos de ação, estarão imprimindo identidade na intervenção profissional. A instrumentalidade contém os instrumentos e os conhecimentos teórico- metodológicos produzidos na área e socializados a fim de alcançar os objetivos de transformação da realidade social perseguidos pela categoria profissional. Sendo assim, é fundamental destacar que não se reduz ao conjunto de instrumentos utilizados no cotidiano (SPEROTTO, 2009, p. 17). TÓPICO 2 | O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL COMO ASSESSOR E CONSULTOR 27 Considerando então que a utilização deste instrumental de intervenção objetiva a transformação de uma dada realidade, e sabendo que a realidade é subjetiva e objetiva, além de dinâmica, é óbvio concluir que, para cada realidade, ou ainda, para cada intervenção, será necessário repensar o instrumental? Isso mesmo, não é possível que haja um manual de instruções que defina os passos de ação com técnicas e instrumentos, de forma regular e idêntica, para intervenção profissional em qualquer situação. Não existe um “manual de sobrevivência”. Cada vez que formos intervir na realidade é preciso (mais uma vez chamamos a atenção para a importância do diagnóstico) conhecer suas nuances, compreender como ela se processa. Para cada forma de manifestação das questões sociais, para cada expressão da questão social, haverá uma forma peculiarde intervenção. O assistente social, ao fazer a “leitura da realidade”, estará apto para definir o seu cabedal técnico-operativo. A partir deste conhecimento da realidade, ele poderá decidir quais são os melhores instrumentos e técnicas para responder às demandas daquela realidade. “É no dia a dia profissional que se desenvolve a competência técnico- operativa do assistente social, permeada por toda esta complexidade interventiva do cotidiano profissional do Serviço Social e suas habilidades de interpretação cotidiana da realidade social” (LAZZARINI e ZANLUCA, 2010, p. 60). A prática profissional, como afirma Sperotto (2009, p. 14), “é um conjunto de todo o processo de trabalho, que envolve procedimentos técnicos e institucionais, organização de materiais, planejamento, eleição de instrumentos, pesquisa, análise de conjuntura”. Precisamos ter claro também que a escolha deste instrumental tem relação direta com a escolha teórica que fizemos. A forma como interpretamos a realidade será determinante sobre a forma como vamos agir sobre ela. O exercício da profissão exige, portanto, um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e atribuições profissionais. Requer ir além das rotinas institucionais para buscar apreender, no movimento da realidade, as tendências e possibilidades, ali presentes, passíveis de serem apropriadas pelo profissional, desenvolvidas e transformadas em projetos de trabalho (IAMAMOTO, 2000, p. 12). O profissional deve estar atento às possibilidades de inserção na realidade que sejam próprias para alavancar não somente as expectativas da população, mas também fortalecer o próprio papel profissional. Sem perder de vista a melhora na organização onde está inserido. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 28 Significa dizer que jamais poderá o assistente social estar “acomodado”, como se pudesse repetir inúmeras vezes a mesma técnica de intervenção, com a mesma intensidade. O profissional, pelo contrário, cria e recria sua prática no cotidiano à medida que reflete e ressignifica sua intervenção junto aos usuários e à instituição a quem presta serviço. O COMO FAZER será definido à medida que for desenvolvendo a prática, já que vai conhecendo a realidade de maneira dinâmica e continuada. Apesar de realizar o diagnóstico, as tramas do real são processuais e a cada dia apresentam uma nova possibilidade e um novo desafio. Estas possibilidades e limites não podem ser ignorados, pelo contrário, devem ser considerados como riquezas que fortalecem o caráter histórico das relações sociais. Devem ser compreendidos à luz da contradição dialética que move a sociedade e impulsiona o próprio movimento do real. O instrumental utilizado pelo assistente social será criativo, à mediada que admite a utilização de conhecimentos e técnicas de outras disciplinas profissionais que possam estar a serviço dos objetivos claramente estabelecidos para cada intervenção. Desta forma, o profissional imprime sua instrumentalidade criativa na prática, modifica a realidade social. Para tanto, utiliza todo o aparato técnico, teórico e metodológico, onde as ações são portadoras de instrumentalidade. Acabamos de ver, então, que o instrumental a ser utilizado nos processos de assessoria e consultoria não está dado a priori, ele precisa ser construído, planejado. Mas lembre-se de que o assessor e o consultor nunca trabalham sozinhos, estão sempre na perspectiva de ação participativa, imbuídos de um espírito de equipe e de cooperação. 3.3 FOCANDO A DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA Esta dimensão traz consigo o sentido explícito da ação. Ela nos dirá PARA QUE agir. Está contida nesta dimensão toda intencionalidade ética e ideológica da intervenção. Aqui estará presente o projeto de sociedade que almejamos. Quando falamos nas dimensões teórico-metodológica e técnico- operativa, já ressaltamos as diversas possibilidades de intervenção e suas formas de racionalidade. Vimos também que o assistente social, enquanto assessor e consultor, estará vivenciando uma prática interventiva que busca resultados para a organização que o contratou. Agora precisamos clarear quais são as intenções do profissional nestas intervenções e com estes resultados. A serviço de que o assistente social vai disponibilizar o seu saber. TÓPICO 2 | O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL COMO ASSESSOR E CONSULTOR 29 O projeto ético-político da profissão está calcado na garantia do acesso aos direitos fundamentais, no respeito à individualidade e à liberdade. Almejamos justiça e igualdade social. Mas será que na prática é tão simples assim, será que todos os profissionais vivenciam isto no seu cotidiano? O Serviço Social latino-americano está reconstruindo uma face acadêmica, profissional e social renovada, cujas origens remontam ao movimento de reconceituação - voltada à defesa dos direitos de cidadania e dos valores democráticos, na perspectiva da liberdade, da equidade e da justiça social. Na contramão dos dogmas oficiais, segmentos dos assistentes sociais têm buscado um compromisso efetivo com os interesses públicos, atuando na defesa dos direitos sociais dos cidadãos e cidadãs e na sua viabilização junto aos segmentos majoritários da população, o que coloca a centralidade da questão social para o trabalho e a formação profissional no contexto latino-americano (IAMAMOTO, 2000, p. 6). Os profissionais de Serviço Social desenvolvem uma ação de cunho socioeducativo na prestação de serviços sociais, intencionando viabilizar o acesso aos direitos e aos meios de exercê-los, junto aos sujeitos de direitos. Esta prática contribui para que necessidades e interesses dos sujeitos de direitos adquiram visibilidade na cena pública e possam, de fato, ser reconhecidos. Assim sendo, os assistentes sociais reafirmam o compromisso ético- político da profissão com os direitos e interesses dos usuários, na defesa da qualidade dos serviços prestados, em contraposição à herança conservadora de um passado paternalista e de caráter filantrópico. Certamente este compromisso, reafirmado na atividade cotidiana, não ecoa com grande fluidez, uma vez que ainda são inúmeras as estruturas institucionais que repetem e remontam a condição histórica de caridade e favor para com os “pobres e necessitados”, e tantas outras que confundem solidariedade com clientelismo. A própria população ainda não se apropriou desta perspectiva democrática de direitos e deveres. Habituados a uma história de subalternidade e assistencialismo, que por séculos reforçou esta condição de insuperação da divisão de classes, os sujeitos de direitos, cidadãos, carecem de espaços de descoberta de si mesmos enquanto agentes sociais e sujeitos de sua própria história. O assistente social tem como compromisso profissional proporcionar estes espaços de convívio e de descoberta. Não esquecendo, no entanto, que o assistente social é também um cidadão de direitos que se encontra submerso nas mesmas tramas históricas da realidade na qual pretende intervir. A lógica capitalista na qual vivemos impulsiona a fragmentação da ação e do pensamento, fazendo assim com que, muitas vezes, o profissional seja engolido pela condição de vendedor de sua força de trabalho, sem poder ter clareza e refletir sobre ela. Esta mesma lógica tende a constranger as práticas que intencionam romper com sua perpetuação. UNIDADE 1 | ASSESSORIA E CONSULTORIA COMO PROCESSOS INTERVENTIVOS 30 Isto ocorre porque todas as relações sociais, inscritas nas expressões da questão social, são relações políticas, ou seja, elas são mediadas pelo poder. É necessário, pois, esclarecer que política diz respeito, segundo Demo (1988), ao relacionamento do homem com a natureza, através do trabalho e da tecnologia, que são formas humanas de intervenção, onde está presente, inevitavelmente, o horizonte ideológico e prático. Diz
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