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FACULDADE MUNICIPAL DE PALHOÇA Aluna : Suélen Ferreira Curso: Administração Perspectiva moral kantiana sobre "Batman e o Cavaleiro das Trevas" Na perspectiva kantiana, a corrupção é, em poucas linhas, a ausência da moral; máxima nao universalizável, portanto uma ação não permissível. Batman, em "O Cavaleiro das Trevas" luta contra tal, mas ao mesmo tempo em que esconde a verdade, adotando uma dupla identidade, com a simples intenção de deter o mal(o crime), e consequentemente, proporcionar um bem à sociedade. Batman faz o que faz, por um bom motivo, mas ainda assim infringe as regras morais absolutas, nas quais a verdade deve sempre prevalecer, não importam as consequências. Batman é confrontado não apenas fisicamente, mas também psicologicamente, por aquele que é um conjunto sarcástico de tudo o que o "heroi'' luta para deter, o Coringa. O vilão, já agindo contra as regras morais absolutas que regem o dever, ainda poe em risco os alicerces dessa estrutura moral, ameaçando a existência daqueles que a constrói (seres racionais são a encarnação da moral em si, já que a mesma provém da razão), e os usando como um meio de atingir seus objetivos. Mesmo que os objetivos do vilão fossem bons, no sentido de gerar boas consequências, ele jamais poderia usar como um meio, os seres humanos, cujo o valor está a cima de qualquer outro; a moralidade kantiana exige que tratemos as pessoas sempre como um fim e nunca apenas como um meio. Partindo de Kant mais uma vez, não devemos nem mesmo avaliar as consequências -- pois as ações morais são regidas pelo dever, e apenas pelo dever, sendo assim, absolutas, não importando as consequências. Como foi dito, Batman tem a melhor das intenções, combater o crime. As intenções com as quais se pratica uma ação, é o que determina se a mesma possui valor moral. No entanto, a única intenção convergente com a moral, é aquela regida pelo dever. Compaixão, interesse, entre outros, criam uma obrigação hipotética, ou seja, uma ação dotada de condição. Sendo assim, quando desaparecem tais aspectos condicionais, desaparece também a capacidade de se praticar uma boa ação, como por exemplo, ajudar ao próximo. Porém, sob a perspectiva kantiana, a ação de ajudar ao próximo é uma obrigação moral, portanto absoluta, não depende das circunstancias ou de condições. Batman age pelo dever. Por um lado se encontra na perfeição moral concebida por Kant, que ocorre quando adquirimos a moral através da liberdade -- que para ele consiste na capacidade dos seres racionais de determinar suas próprias regras de comportamento. O próprio Batman atribuiu a si, o dever de combater o crime, sua obrigação absoluta em ajudar ao próximo. Mas então, porque por um lado, o Batman transgride as leis morais? As leis morais devem ser absolutas. A verdade é uma lei moral, portanto absoluta, extremamente necessária. Batman age contra a moral, porque esconde sua verdade, divida em duas identidades. Porém, ele não é o único dupla personalidade da trama. Como qualquer outro vilão do "homem morcego", o Duas-Caras é como um espelho dos medos e anseios do "heroi", e este, durante o longa, percebe a necessidade de escolher entre os dois lados da moeda: combater o crime, como Batman, ou viver um amor, como Bruce -- amor esse, cujo o alvo (a promotora Rachel Dawes) é, em certa parte da trama, a causa do surgimento do tal vilão que reflete essa questão. O promotor Harvey Dent, antes de se tornar o Duas-Caras, é o meio de esperança da realização dos objetivos de Batman (que já não mais se considera capaz de proporcionar o bem à sociedade, que agora se vê dividida entre aceitá-lo como um heroi, ou como um vilão, já que ele tem sido a causa do aparecimento daqueles que querem se vingar por meio do sofrimento da população) e do seu aliadao, o chefe de polícia, James Gordon. Tais objetivos se definem basicamente em combater o crime organizado na cidade de Gotham, e o promotor é escolhido para desempenhar essa função, por conter um histórico moral exemplar, algo que o Batman não encontrava em si. Porém, em meio à luz no fim do túnel, surge aquele que escurece todos os planos de Batman, o Coringa. Uma personalidade que não apresenta uma origem concreta, e que até mesmo, confunde as pessoas sobre tal questão. É esse seu principal objetivo: causar confusão. Ele se diverte promovendo o caos, e fazendo "o circo pegar fogo''. Com a intenção de fazer Batman se entregar, ou seja, fazer com ele enfrente seu principal dilema, o Coringa lança um ultimato a população de Gotham: pessoas vão morrer todos dias até que o Batman revele sua verdadeira identidade. O palhaço nada mais é do que uma conseqüência das ações do morcego. Em meio aos planos do vilão, há a tentativa de assassinar o prefeito da cidade. Batman, percebendo a gravidade das ameaças do Coringa, resolve se entregar, porém Harvey Dent se entrega no lugar do justiceiro. O promotor mentiu para protejer a verdade, ou seja, numa perspectiva kantiana, ele foi contra a conduta moral duas vezes. Logo ele, considerado um exemplo ético, acabou agindo contra o imperativo categórico, no qual a verdade é uma lei absoluta e universalizável que rege o dever. Na busca incessante pela captura do Coringa, Batman coloca chips rastreadores nos celulares da populaçao de Gotham, e é alertado pelo mais correto e sensato personagem da trama, Lucius Fox (o homem que fornece os armamentos ao "heroi") sobre a falta de ética em invadir a privacidade das pessoas, mesmo que com uma boa intenção. Intenção essa, baseada numa consequencia, que mesmo que boa, não tem papel relevante na estrutura moral, como já foi dito aqui. Apenas o dever condiz com as normas morais absolutas, e o respeito pela privacidade de outrem é uma lei do dever. Outra lei que constitui a moral kantiana em relação ao respeito, é o ter pela vida humana, como também já foi dito aqui. Há uma parte na trama, que desta vez condiz com a perspectiva de Kant. O Coringa, depois de explodir um hospital(evacuado) em ameça ao Batman, leva um ônibus cheio de pessoas como reféns, e logo mais tarde, se descobre que o vilão havia implantado explosivos nas duas balsas sujeitas à evacuação, de civis em uma, e de criminosos em outra. O ultimato do Coringa foi, que havia somente uma chance, de uma das embarcações se salvar: uma poderia explodir a outra, desde que alguém simplesmente apertasse um botão, que salvaria suas vidas, mas acabaria com a daqueles que estivessem na outra embarcação. Nenhuma optou por destruir a outra. Nem mesmo os criminosos, nem os civis, que poderiam julgá-los, tiveram o ímpeto de apertar o botão que explodiria a outra embarcação. Está aí a ação da trama que converge com os valores morais kantianos, especificamente com o maior deles: a preservação da vida humana, acima de tudo. Porém, como aqui foi mostrado, a maior parte da trama leva à divergência com a moral kantiana. Por leis absolutas, o bem é correspondente ao imperativo categórico, é concedido e determinado pela razão. As ações humanas só são permissíveis se exercerem o certo, pelo dever. O fato de não haver distinção das fronteiras de atuação entre o bem e o mal na trama, é um exemplo que refuta a perspectiva moral de Kant, na qual o bem é absolutamente certo e necessário, e no filme, nem mesmo é definido. A questão da determinação de tais fronteiras, é refletida, entre outros aspectos do filme, na atuação do personagem Duas Caras, que usa uma moeda para decidir suas ações. Tal forma de atuação do personagem, mostra como ele se sente desconfortável em realizar sua vingança (despertada pela frustração com a morte de sua amada, Rachel Dawes, que ocorreu no momento em que teve sua própria vida poupada). Um lado da moeda representa o bem, uma vida poupada, e outro lado, representa o mal... Ao final do filme, aquele que seria o "salvador da pátria", Harvey Dent, corrompido pelo Coringa, se tornara um criminoso, incapaz de estabelecer a ordem e a paz em Gotham City, como Batman esperava. Como se não tivesse escolha, a não ser protejer os "ideiais morais" da sociedade, quelogo se decepcionaria com a verdade sobre a corrupção de Dent, Batman optou por mais uma vez transgredir as normas morais absolutas de Kant, mentindo ao assumir a culpa pelos crimes de Dent. Tanto foi forjada a culpa em Batman, que o chefe de polícia e aliado do "heroi", James Gordon, ordenou sua caçada, discursou no funeral de Harvey(morto pelo justiceiro, enquanto ameçava a família do policial) e destruiu o Bat Sinal, tudo com o convencimento do "heroi".