Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 1 plano terapêutiCo FonoaudiológiCo (ptF) para intervenção no transtorno FonológiCo – Modelo de CiClos adaptado Haydée Fiszbein Wertzner Luciana de Oliveira Pagan Neves i. ClassiFiCação estatístiCa internaCional de doenças e probleMas relaCionados à saúde (Cid 10) F 80 Transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem. F 80.0 Transtorno específico da articulação da fala. ii. prinCipais aChados 1. Criança com alteração no uso das regras fonológicas do Português Brasileiro. 2. Criança com presença de processos fonológicos não esperados para a idade. 3. Criança com presença de processos fonológicos com ocorrência superior a 25%. 4. Criança com inventário fonético incompleto. 5. Criança com dificuldade em discriminar auditivamente alguns sons da fala. 6. Criança com dificuldade em produzir alguns sons da fala. 7. Criança com dificuldades nas provas de consciência fonológica. iii. objetivos gerais 1. Organizar o sistema fonológico da criança. 2. Eliminar o uso de processos fonológicos. 3. Completar o inventário fonético. 4. Alcançar fala inteligível. 5.Desenvolver as habilidades metafonológicas. Planos TeraPêuTicos Fonoaudiológicos (PTFs) - Volume 2 2 iv. objetivos espeCíFiCos e respeCtivas intervenções terapêutiCas1 objetivo espeCíFiCo 1: avaliação da Fonologia da Criança. Intervenção terapêutica 1: aplicação da prova de fonologia que permite caracterizar todos os sons da língua materna da criança1. Intervenção terapêutica 2: verificação dos tipos de erro que a criança apresenta para cada som do inventário fonético: substituição, omissão e distorção2. Intervenção terapêutica 3: verificação dos sons ausentes do inventário fonético e cálculo do índice de estimulabilidade. Intervenção terapêutica 4: análise dos processos fonológicos apresentados2, elencando os três processos fonológicos com maior ocorrência. Intervenção terapêutica 5: seleção de um dos três processos fonológicos que será o alvo terapêutico inicial**. Intervenção terapêutica 6: identificação dos sons afetados no processo fonológico selecionado e escolha de apenas um som alvo. Exemplificando: se a criança apresentar o processo fonológico de ensurdecimento de fricativas com desvozeamento das três fricativas vozeadas /v, z, ʒ/, o fonoaudiólogo deverá selecionar apenas um deles para iniciar o primeiro ciclo terapêutico. objetivo espeCíFiCo 2: seleção do tipo de oposição eMpregada na abordageM dos pares MíniMos. Intervenção terapêutica 1: em função da avaliação fonológica, o fonoaudiólogo deve escolher o tipo de oposição aplicada na abordagem dos pares mínimos (oposição mínima ou máxima) que seja mais indicada para o caso3. Neste Capítulo, para facilitar a compreensão do leitor, os exemplos que serão fornecidos estão baseados na abordagem dos pares mínimos com oposição mínima. objetivo espeCíFiCo 3: estruturação de uM CiClo no Modelo de CiClos adaptado. Intervenção terapêutica 1: cada ciclo é composto por sete sessões de terapia com duração de 50 minutos. Intervenção 2: em cada ciclo apenas um som alvo deve ser trabalhado. Exemplo: se a criança apresentar o processo fonológico de ensurdecimento de fricativas com desvozeamento das três fricativas vozeadas /v, z, ʒ/, o fonoaudiólogo seleciona como primeiro som alvo para trabalhar o /v/, que será trabalhado nas sete sessões do ciclo. Intervenção 3: a partir do ciclo 2, há a introdução de um novo som alvo, porém, os pares mínimos trabalhados no ciclo anterior são mantidos em algumas atividades. 1. O modelo de ciclos foi apresentado por Hodson e Paden (1991), sendo sua proposta determinar prioridades para o tratamento com base nos processos fonológicos que a criança apresenta, na frequência de cada um destes processos fonológicos e nos impactos destes processos na habilidade comunicativa da criança, com ênfase no uso das pistas semânticas, tátil-cinestésicas, auditiva e visual como modo facilitador para o aprendizado de um novo som. Para isto, as autoras propõem que o tratamento seja feito em ciclos, sendo que cada ciclo é um período de tempo necessário para a criança eliminar cada um dos processos fonológicos que estiverem presentes em sua fala. A partir da proposta de Hodson e Paden (1991), elaboramos uma adaptação às necessidades de crianças falantes do Português Brasileiro e, ao longo dos últimos 10 anos, esse modelo de ciclos adaptado é aplicado em crianças com diagnóstico de transtorno fonológico no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Fonologia do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da USP, coordenado pela Professora Associada Haydée Fiszbein Wertzner. Na adaptação apresentada neste Capítulo, acrescenta-se ao modelo de ciclos a abordagem dos pares mínimos, que tem como intuito promover a generalização dos contrastes e diminuir a duração da intervenção terapêutica. 2. Para o Português Brasileiro, sugere-se o uso das provas de fonologia do ABFW-Teste de Linguagem Infantil nas áreas de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática (Andrade et al., 2004). 3. Para aprofundar o conhecimento acerca dos critérios de avaliação fonológica, verificação dos tipos de erro e dos processos fonológicos, bem como a hierarquização da seleção dos processos fonológicos e sons alvo, ler o Capítulo PTF para Seleção de Estímulos Alvo no Tratamento para a Seleção de Estímulos Alvo no Tratamento do Transtorno Fonológico deste livro. 3 PTF Para InTervenção no TransTorno FonológIco – Modelo de cIclos adaPTado objetivo espeCíFiCo 4: organização das sessões 1, 2 e 3 do CiClo 1 no Modelo de CiClos adaptado. Intervenção terapêutica 1: estimulação auditiva realizada por meio de bombardeamento auditivo. A primeira atividade a ser realizada é a estimulação auditiva, preferencialmente amplificada4. Para isto, o fonoaudiólogo deve gravar em áudio (antes da terapia) dez palavras que contenham o som alvo em posição inicial de palavra. No momento inicial da terapia, o fonoaudiólogo deve posicionar a criança em frente a um aparelho de áudio e reproduzir a lista de palavras numa intensidade aumentada (volume aumentado). É importante que a informação auditiva chegue ao mesmo tempo nas duas orelhas. A criança deve ser instruída a ouvir e prestar atenção às palavras. Nesta primeira atividade, o fonoaudiólogo não deve fazer nenhum questionamento em relação às palavras que são reproduzidas. Sua única preocupação deve ser para que a criança ouça atentamente às palavras, em intensidade aumentada. Intervenção terapêutica 2: colocação fonêmica. Nesta intervenção, o fonoaudiólogo deve fornecer pistas táteis, visuais e cinestésicas para que a criança entenda como produzir o som alvo. Seguindo o exemplo sugerido, para a colocação fonêmica do som /v/ que é produzido sem ou com pouco vozeamento, podem ser utilizadas algumas estratégias tais como: colocar a mão da criança sobre a região do pescoço onde está a cartilagem tireóidea do terapeuta enquanto o mesmo produz o som do /v/ prolongado (para que ela sinta a vibração das pregas vocais) e, em seguida, colocar a mão da criança sobre a região de sua própria cartilagem tireóidea, pedindo que ela sinta se é capaz de produzir a mesma vibração. Intervenção terapêutica 3: reforço articulatório do som alvo. Nesta etapa da terapia, o fonoaudiólogo deve realizar atividades que permitam o treino articulatório em situações de fala, como por exemplo, estratégias em que o som alvo seja repetido em sílabas isoladas, repetição de sílabas repetidas (reduplicação silábica), repetição do som alvo em posição inicial de palavras, e assim por diante. O terapeuta deve dificultar as estratégias à medida que a criança for capaz de produzir o som de maneira adequada. O uso de estratégias que associem a execução motora do gesto articulatório ao conhecimento sobre o uso efetivo desses gestos na fala é essencial na aplicação do modelo de ciclos adaptado. Intervenção terapêutica 4: apresentação dos pares mínimos com oposição mínimaconforme o exemplo citado na intervenção terapêutica 2 do objetivo específico 3. Nesta etapa do treino, o fonoaudiólogo apresenta à criança de três a cinco pares mínimos que já foram preparados previamente5. Para isto, o terapeuta deverá posicionar as figuras (uma a uma) ao lado de seus lábios e dizer o nome das palavras alvo. Ao final desta apresentação, o fonoaudiólogo poderá organizar as figuras numa pilha e pedir que a criança sorteie as figuras, dizendo o nome delas. Caso a criança não tenha ainda aprendido o nome da figura, o profissional deverá nomeá-la novamente, contextualizando-a para facilitar a memorização do nome de cada figura. O importante desta atividade não é que a criança adivinhe o nome da figura que queremos que ela produza e sim, que ela aprenda o que deve dizer quando vir a figura. Trata-se de uma atividade apenas de apresentação das figuras e de contextualização das mesmas, para que a criança seja capaz de, nas próximas atividades, reconhecer e nomear a figura de acordo com o que o fonoaudiólogo está propondo. Neste momento, o profissional pode ainda associar o som alvo ao par de figuras que for mais facilmente identificado pela criança. No caso da oposição /f / x /v/, os sons vozeados podem ser associados à figura da vaca e os sons desvozeados à figura da faca. O fonoaudiólogo deve criar duas colunas, uma ao lado da outra e em seguida, deverá novamente produzir o nome de cada figura, colocando-a na coluna da vaca ou na coluna da faca. Intervenção terapêutica 5: atividade de discriminação auditiva. Após apresentar o nome das figuras alvo, o fonoaudiólogo deve realizar uma atividade de discriminação auditiva entre as palavras dos pares mínimos com oposição mínima. Diversas estratégias podem ser adotadas como resposta: separar em duas colunas (como exemplificado na intervenção terapêutica 4), colar a figura da vaca em uma parede da sala e a da faca na parede oposta e pedir para a criança bater a mão (ou jogar uma bola) na figura da vaca, quando ouvir uma palavra que começa com o som do /v/ ou na da faca, quando a palavra começar com o som do /f/, pedir para a criança levantar quando ouvir o som do /v/ da vaca e abaixar quando ouvir o som do /f/ da faca, 4. Estudos demonstram que amplificar o som durante a terapia fonoaudiológica facilita a percepção e o reconhecimento auditivo do som alvo. 5. Para maiores detalhes sobre como selecionar os pares mínimos com oposição mínima para o uso terapêutico, ler o Capítulo PTF para Seleção de Estímulos Alvo no Tratamento para a Seleção de Estímulos Alvo no Tratamento do Transtorno Fonológico deste livro. Planos TeraPêuTicos Fonoaudiológicos (PTFs) - Volume 2 4 como a brincadeira “vivo e morto” (em que o vivo vai estar associado ao som vozeado e o morto ao som desvozeado); jogo de boliche (no qual a criança deve jogar a bola nos pinos vermelhos quando ouvir o som vozeado e nos pinos azuis quando ouvir o som desvozeado), entre outros. Os acertos devem ser enfatizados para a criança e os erros devem ser imediatamente corrigidos: o fonoaudiólogo deve produzir novamente o nome da figura, reforçando o contraste que distingue as palavras. Se a criança não for capaz de perceber esta diferença, o terapeuta deverá auxiliá-la, mostrando o som correto. No início da intervenção sugere-se que esta atividade seja realizada com o apoio visual que deverá ser retirado a critério do terapeuta, quando este perceber que a atividade já está sendo realizada sem dificuldade. Intervenção terapêutica 6: atividades com os pares mínimos. É muito importante que nestas primeiras sessões do ciclo o fonoaudiólogo explore somente as figuras dos pares mínimos que foram selecionados para o processo terapêutico. É a partir do uso dessas figuras que a criança irá construir a regra fonológica necessária para o conhecimento e, consequentemente, para a produção do som específico. Assim, nesta etapa, o fonoaudiólogo pode promover de duas a três atividades terapêuticas que utilizem os pares mínimos, como por exemplo, realizar um jogo da memória, no qual cada vez que a criança/terapeuta acertar o par correto, deverá produzir uma frase que contenha o nome da figura; jogos de adivinhação, em que a criança/terapeuta devem dar características da figura para o outro adivinhar, entre outras. Intervenção terapêutica 7: repetição da atividade de estimulação auditiva realizada por meio de bombardeamento auditivo. Esta atividade deve ser realizada da mesma maneira que a intervenção terapêutica 1. As mesmas palavras devem ser utilizadas para o bombardeamento auditivo. objetivo espeCíFiCo 5: organização das sessões 4, 5 e 6 do CiClo 1 no Modelo de CiClos adaptado. Intervenção terapêutica 1: estimulação auditiva realizada por meio de bombardeamento auditivo. Esta atividade deve continuar a ser realizada exatamente da mesma maneira como foi utilizada nas quatro primeiras sessões do ciclo. As palavras e a amplificação sonora devem permanecer iguais. Intervenção terapêutica 2: colocação fonêmica. Esta atividade somente será mantida nos casos em que a criança ainda não emite o som alvo, mesmo com todas as pistas oferecidas nas sessões anteriores. Nos demais casos, essa intervenção não precisa mais ser realizada a partir da quarta sessão do ciclo 1. Intervenção terapêutica 3: reforço articulatório do som alvo. Nesta atividade, o treino deverá acontecer em situações mais complexas de fala, como repetições do som alvo em diferentes posições silábicas nas palavras e em palavras inseridas em sentenças maiores. Intervenção terapêutica 4: atividade de discriminação auditiva. Nesta etapa do ciclo, o fonoaudiólogo trabalha a discriminação auditiva entre o som alvo e seu par cognato sem o auxílio da pista visual. Para isto, as mesmas atividades exemplificadas anteriormente (na intervenção terapêutica 5 do objetivo específico 4) podem ser adotadas porém, ao produzir o nome das figuras, o fonoaudiólogo deve tapar os lábios e não enfatizar a produção das pistas acústicas/ proprioceptivas do som alvo. A critério do fonoaudiólogo, caso a criança demonstre facilidade na execução da atividade, pode-se introduzir um ruído de fundo (ruído branco) enquanto fala o nome das figuras para a criança. Intervenção terapêutica 5: atividades com os pares mínimos. A partir da quarta sessão, o modelo terapêutico de ciclos deve enfatizar o trabalho de fortalecimento acerca do aprendizado da regra linguística e, por isso, esta se torna a principal atividade destas sessões que dão continuidade ao tratamento. Assim, o fonoaudiólogo deverá promover estratégias que enfatizem a produção e os diferentes contextos em que o som alvo pode ser utilizado. Incluir nestas atividades estratégias direcionadas às diferentes habilidades metafonológicas (das mais simples para as mais complexas) é essencial nesta etapa do modelo de ciclos. Ainda utilizando os pares, o terapeuta pode, por exemplo, realizar um jogo em que a criança deve separar as palavras dos pares em sílabas e identificar em qual sílaba está o som alvo ou ainda, após realizar a atividade de segmentação silábica, nomear outra palavra que possua a mesma sílaba inicial da figura. 5 PTF Para InTervenção no TransTorno FonológIco – Modelo de cIclos adaPTado Intervenção terapêutica 6: repetição da atividade de estimulação auditiva realizada por meio de bombardeamento auditivo. Esta atividade deve ser realizada da mesma maneira que a intervenção terapêutica 1. As mesmas palavras devem ser utilizadas para o bombardeamento auditivo. objetivo espeCíFiCo 6: organização da sessão 7 do CiClo 1 no Modelo de CiClos adaptado. Intervenção terapêutica 1: estimulação auditiva realizada por meio de bombardeamento auditivo. Esta atividade deve continuar a ser realizada exatamente da mesma maneira como foi utilizada nas quatro primeiras sessões do ciclo. As palavras e a amplificação devem permanecer iguais. Intervenção terapêutica 2: colocação fonêmica. Estaatividade só é aplicada na 7ª. sessão do ciclo 1 quando a criança ainda não produz o som. Caso a criança demonstre muita dificuldade em ajustar o ponto articulatório necessário para a produção do som alvo, como acontece para sons líquidos (/l, ɾ, ʎ/) ou para os sons plosivos velares (/k/ e /g/), as estratégias empregadas devem ser específicas, com o intuito de auxiliar a criança a superar a imprecisão articulatória observada na produção do som alvo. Intervenção terapêutica 3: reforço articulatório do som alvo. Nesta atividade, o treino deverá acontecer em situações mais complexas de fala, como repetições do som alvo em diferentes posições silábicas nas palavras e em palavras inseridas em sentenças maiores. Intervenção terapêutica 4: atividade de discriminação auditiva. Nesta etapa do ciclo, o fonoaudiólogo trabalha a discriminação auditiva entre o som alvo e seu par cognato sem o auxílio da pista visual. Para isto, as mesmas atividades exemplificadas anteriormente (na intervenção terapêutica 5 do objetivo específico 4) podem ser adotadas, porém, ao produzir o nome das figuras, o fonoaudiólogo deve tapar os lábios e não enfatizar a produção das pistas acústicas/ proprioceptivas do som alvo. Se o terapeuta notar que a atividade está muito simples, pode-se introduzir um ruído de fundo (ruído branco) enquanto fala o nome das figuras para a criança. Intervenção terapêutica 5: atividades com os pares mínimos. Manter as atividades propostas na intervenção terapêutica 5 do objetivo específico 5. Intervenção terapêutica 6: repetição da atividade de estimulação auditiva realizada por meio de bombardeamento auditivo. Esta atividade deve ser realizada da mesma maneira que a intervenção terapêutica 1. As mesmas palavras devem ser utilizadas para o bombardeamento auditivo. objetivo espeCíFiCo 7: apliCação da prova de veriFiCação na sessão 7 do CiClo 1. Intervenção terapêutica 1: prova de verificação. Na última sessão do ciclo 1, deve ser realizado uma verificação do progresso alcançado após sete sessões terapêuticas. A verificação possui dois objetivos principais: o primeiro é conferir se o desempenho da criança em relação ao som alvo atingiu 80% de acerto ou não, bem como se já ocorreu alguma generalização para outros sons da fala. O segundo objetivo é monitorar a evolução terapêutica da criança e mostrar aos pais o quanto (percentualmente) a criança melhorou na sua dificuldade de fala. Intervenção terapêutica 2: para a prova de verificação, o fonoaudiólogo deve selecionar 20 palavras, sendo sete com o som alvo em sílaba inicial de palavra, seis em sílaba medial e seis em sílaba final. A seleção das palavras deve dar preferência àquelas que não foram utilizadas na atividade de bombardeamento auditivo e que não foram inseridas como figuras representantes dos pares mínimos. Essas 20 palavras são separadas em dois grupos de dez palavras que serão empregadas em uma prova de nomeação de figuras em outra de imitação de palavras. Intervenção terapêutica 3: a aplicação da prova de verificação deve ser realizada, preferencialmente, com gravação em áudio e/ou vídeo. O fonoaudiólogo deve transcrever foneticamente a produção apresentada pela criança nas duas provas e contabilizar separadamente a porcentagem de acertos em cada uma delas (as distorções devem ser contabilizadas como erros). Intervenção terapêutica 4: quando o número de Planos TeraPêuTicos Fonoaudiológicos (PTFs) - Volume 2 6 acertos na prova de verificação corresponder a 80% ou mais, a criança inicia o ciclo 2 do modelo de ciclos adaptado. Se o desempenho foi abaixo de 79%, o ciclo 1 deve ser repetido. Intervenção terapêutica 5: caso a criança apresente acerto superior a 80% nas duas provas do reteste para o som alvo trabalhado /v/, o fonoaudiólogo deve testar (por meio de uma prova de nomeação de figuras e de outra de imitação de palavras) os outros sons que fazem parte do processo fonológico alvo. Exemplo: o fonoaudiólogo trabalhou um ciclo com o som alvo /v/ do processo fonológico de ensurdecimento de fricativas. Na prova de verificação, se a criança atingir índice superior a 80% para o som /v/, o fonoaudiólogo deve também testar os sons /z/ e //. A verificação desses outros sons é indicada, pois um dos objetivos primordiais do modelo de ciclos adaptado é promover a generalização para os sons não tratados, por meio de estratégias terapêuticas que possibilitem o conhecimento da regra fonológica e não somente do aprendizado da produção motora do som. Intervenção terapêutica 6: a verificação do demais sons envolvidos no processo fonológico alvo contribui para o direcionamento da seleção do próximo som alvo do ciclo 2. Por exemplo, se a criança atingiu 100% de acertos para o som /v/, 60% para o som /z/ e 10% para o som // - tanto na prova de nomeação de figuras quanto na de imitação de palavras - o fonoaudiólogo tem um indicativo de que o próximo ciclo deve ser trabalhado com o som /z/. Caso o reteste dos três sons alvo que fazem parte do processo fonológico de ensurdecimento de fricativas apresentem acertos superiores a 80%, o fonoaudiólogo deve selecionar o segundo processo fonológico de maior ocorrência (verificado a partir da avaliação da fonologia, conforme descrito na intervenção terapêutica 4 do objetivo específico 1) para ser trabalhado no ciclo 2. objetivo espeCíFiCo 8: organização da repetição do CiClo 1 do Modelo de CiClos adaptado. Intervenção terapêutica 1: a repetição do ciclo 1 do modelo de ciclos adaptado segue a mesma organização apresentada nos objetivos específicos 4, 5, 6 e 7. Intervenção terapêutica 2: destaca-se que os pares mínimos empregados no ciclo 1 devem ser os mesmos na repetição do ciclo 1. objetivo espeCíFiCo 9: organização das sessões do CiClo 2 no Modelo de CiClos adaptado. Intervenção terapêutica 1: as atividades que serão realizadas neste novo ciclo devem apresentar a mesma ordem de apresentação das que foram descritas na organização das sessões do ciclo 1 nos objetivos específicos 3, 4, 5, 6 e 7. Intervenção terapêutica 2: caso o som alvo do ciclo 2 seja outro som do mesmo processo fonológico abordado no ciclo 1, as intervenções terapêuticas devem ser aplicadas a esse novo som alvo. Da mesma forma, devem ser selecionados os pares mínimos para esse som alvo. Seguindo com o exemplo do processo fonológico de ensurdecimento de fricativas, no ciclo 2, todas as atividades detalhadas nas intervenções terapêuticas devem envolver a oposição mínima /s/ x /z/. Intervenção terapêutica 3: no ciclo 2 sugerimos que, em uma das atividades com os pares mínimos do novo som alvo (/s/ x /z/), em todas as sessões terapêuticas, sejam acrescentados os pares mínimos com a oposição /f/ x /v/ trabalhada no ciclo 1. Esta atividade com os pares mínimos trabalhados no ciclo 1 têm o intuito de reforçar o uso da regra fonológica que está se consolidando. Intervenção terapêutica 4: prova de verificação. Na última sessão do ciclo (sétima sessão), deve ser realizada uma verificação do progresso alcançado após as sete sessões terapêuticas do ciclo 2. Para isto, o terapeuta deve selecionar 20 palavras seguindo os mesmos critérios apresentados no objetivo específico 7. Desta vez, o som alvo /z/ e o som alvo // devem ser retestados. O mesmo critério deve ser aplicado para o direcionamento do tratamento. Caso o valor obtido no reteste do /z/ esteja aquém do esperado (abaixo de 79%), o mesmo ciclo de sete sessões (ciclo 2) deve ser repetido. Caso a criança apresente acerto superior a 80% nas duas provas de verificação para o som alvo /z/, o fonoaudiólogo deve verificar (por meio de uma prova de nomeação de figuras e de outra de imitação de palavras), o som //. Caso a verificação dos dois sons alvo que fazem parte do processo fonológico de ensurdecimento de fricativas apresentem acertos superiores a 80%, o fonoaudiólogo deve selecionar o segundo processo fonológico de maior 7 PTF Para InTervenção noTransTorno FonológIco – Modelo de cIclos adaPTado ocorrência (verificado a partir da avaliação da fonologia, conforme descrito na intervenção terapêutica 4 do objetivo específico 1) para ser trabalhado no ciclo 3. objetivo espeCíFiCo 10: organização das sessões do CiClo 3 no Modelo de CiClos adaptado. Intervenção terapêutica 1: as atividades que serão realizadas no ciclo 3 seguem a proposta nos objetivos devem apresentar a mesma ordem de apresentação das que foram descritas na organização das sessões do ciclo 1 nos objetivos específicos 3, 4, 5, 6 e 7. Intervenção terapêutica 2: o processo fonológico alvo e o som alvo dependem do resultado da prova de verificação aplicada no ciclo 2 para serem selecionados. Intervenção terapêutica 3: a prova de verificação a ser aplicada na sessão 7 do ciclo 3 deve conter tanto o som alvo como aqueles que possam ser previstos na generalização. O mesmo critério deve ser aplicado para o direcionamento do tratamento e para determinar o término do tratamento. Planos TeraPêuTicos Fonoaudiológicos (PTFs) - Volume 2 8 v. bibliograFia sugerida ao Fonoaudiólogo ClíniCo BARLOW, AJ; GIERUT, JA. Minimal pair approaches to phonological remediation. Seminars in Speech and Language, v. 23, n. 1, p. 57-67, 2002. BOWEN, C. Cycles phonological pattern approach (CPPA). Disponível em: <http://speech- language-therapy.com/index.php?option=com_ content&view=article&id=75: cycles&catid=11 :admin&Itemid=108>. Acesso em: 04 jun. 2014. HODSON, BW. Enhancing phonological patterns of young children with highly unintelligible speech. The ASHA Leader. Disponível em: <http://www.asha. org/Publications/leader/2011/110405/Enhancing- Phonological-Patterns-of-Young-Children-With-Highly- Unintelligible-Speech.htm>. Acesso em: 02 jun. 2014. HODSON, BW. Identifying phonological patterns and projecting remediation cycles: wxpediting intelligibility gains of a 7 year old Australian child. Advances in Speech-Language Pathology, v. 8, n. 3, p. 257-64, 2006. HODSON, BW; PADEN, EP. Targeting intelligible speech: a phonological approach to remediation, 2. ed. Austin (TX): Pro-Ed, 1991. PREZAS, RF; HODSON, BW. The cycles phonological remediation approach. In: WILLIAMS, AL; McLEOD, S; McCAULEY, RJ (Eds.). Interventions for speech sound disorders in children. Baltimore (MD): Paul H. Brookes Publishing Co, 2010. p. 137-57. WERTZNER, HF. Fonologia: desenvolvimento e alterações. In: FERNANDES, FDM; MENDES, BCA; NAVAS, ALPGP(Org.). Tratado de Fonoaudiologia. 2. ed. São Paulo: Roca, 2009. p. 281-90. WERTZNER, HF; PAGAN-NEVES, LO. A efetividade dos testes complementares no acompanhamento da intervenção terapêutica no transtorno fonológico. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 17, n. 4, p. 469-75, 2012. WILLIAMS, AL. A systematic perspective for assessment and intervention: A case study. Advances in Speech– Language Pathology, v. 8, n. 3, p. 245-56, 2006. WILLIAMS, AL; McLEOD, S; McCAULEY, RJ. Interventions for speech sound disorders in children. Paul H. Brookes Publishing Co, 2010. 644p. vi. bibliograFia sugerida ao paCiente ou responsável WERTZNER, HF. Pesquisa avalia desempenho de crianças com transtornos fonológicos. Revista Toque de Ciência da UNESP. Podcast. Disponível em: <http:// www2.faac.unesp.br/pesquisa/lecotec/projetos/toque/ podcasts.php?c=409>. Acesso em: 18 maio 2011. WERTZNER, HF. Soltando o verbo. Revista Pais e Filhos, São Paulo; Rio de Janeiro, p. 62-3, 03 jun. 2004. vii. bibliograFia utilizada neste Capítulo ANDRADE, CRF et al. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática. Carapicuíba: Pró-Fono, 2004. HODSON, BW; PADEN, EP. Targeting intelligible speech: a phonological approach to remediation, 2. ed. Austin (TX): Pro-Ed, 1991. WERTZNER, HF. Fonologia. In: ANDRADE, CRF et al. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática. Carapicuíba: Pró-Fono, 2004.
Compartilhar