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1 LETRAMENTO MATEMÁTICO 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Sumário LETRAMENTO MATEMÁTICO .......................................................................... 1 NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4 1.CONCEITOS BÁSICOS NO INÍCIO DE UM TRABALHO COM LETRAMENTO ................................................................................................... 5 1. LETRAMENTO: HISTÓRIA, CONCEPÇÕES E DEFINIÇÕES ................... 5 1.1 Prática social .......................................................................................... 11 2. LETRAMENTO MATEMÁTICO ................................................................. 12 3.1 Letramento ideológico e a linguagem matemática ........................... 16 3.1.1Competências ....................................................................................... 19 3.1.2 Conteúdo ............................................................................................. 22 3. HIPOTÉSES DE APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS .............................. 26 4.1 Exemplo I de Proposta Contagens e Brincadeiras.................................. 28 4.2 Exemplo II de Proposta Contagens e Brincadeiras................................. 29 4.3 Exemplo III de Proposta Aniversários e Calendários .............................. 31 4.4 Exemplo IV Proposta Aniversários e Calendários................................... 33 4. CONCLUSÃO ........................................................................................... 34 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 35 4 INTRODUÇÃO O conceito de letramento matemático está diretamente relacionado a uma determinada concepção de Educação Matemática e sua abordagem na escola. Defendemos que o conhecimento matemático, assim como o de outras áreas como as ciências naturais, não corresponde, de forma biunívoca, ao seu ensino. Dito de outro modo, Matemática e Educação Matemática são dois domínios diferentes, assim como, Física e Ensino de Física são diferentes, e assim por diante. Para nos aproximarmos do conceito de Letramento Matemático, faremos uma rápida exposição sobre a concepção de Educação Matemática com a qual comungamos. Não trataremos neste texto, sobre o conceito de Matemática enquanto área do conhecimento humano. (...) podemos explicitar nosso entendimento para "letramento matemático" como expressão da categoria que estamos a interpretar, como: um processo do sujeito que chega ao estudo da Matemática, visando aos conhecimentos e habilidades acerca dos sistemas notacionais da sua língua natural e da Matemática, aos conhecimentos conceituais e das operações, a adaptar-se ao raciocínio lógicoabstrativo he dedutivo, com o auxílio e por meio das práticas notacionais, como de perceber a Matemática na escrita convencionada com notabilidade para ser estudada, compreendida e construída com a aptidão desenvolvida para a sua leitura e para a sua escrita. (Machado, 2003, p.135) 5 1.CONCEITOS BÁSICOS NO INÍCIO DE UM TRABALHO COM LETRAMENTO Para desenvolver um trabalho na perspectiva do letramento é importante que o professor compreenda alguns conceitos que devem ser considerados para o planejamento da prática. Afinal, estudar sobre o letramento é compreender que ele se realiza em eventos e práticas mediados por textos escritos, tendo o professor e os alunos como agentes. Neste tópico, vemos alguns destes conceitos que ajudam no entendimento sobre o fenômeno do letramento. 1. LETRAMENTO: HISTÓRIA, CONCEPÇÕES E DEFINIÇÕES A discussão sobre a qualidade da educação em um país parte da reflexão sobre as taxas de analfabetismo, conferindo à alfabetização um símbolo de desenvolvimento e progresso. Falar sobre o tema da alfabetização é falar sobre questões escolares, políticas, econômicas e ideológicas, em outras palavras, o debate gira em torno de questões que vão desde o melhor método de ensino ao gerenciamento, investimento e valores sociais conferidos à educação. A alfabetização, então, ainda é um dos principais objetivos da escolarização. Mas, qual a relação desta com o letramento? O impacto gerado pelo uso intenso da escrita na sociedade fez surgir a necessidade de uma nova palavra que expressasse fielmente essa funcionalidade, que se concretizava mais e mais na vida das pessoas, foi então que surgiu o termo letramento. Mas nem todos os estudiosos concordaram com a “invenção” dessa nova palavra para se referir ao impacto social da escrita, pois defendem que a noção de alfabetização inclui não apenas a ideia de ler e escrever, mas também da utilização dessas habilidades em diferentes contextos e situações, pressupondo à aprendizagem da escrita escolar uma utilidade prática, uma funcionalidade social. Apesar dos debates sobre o significado e o uso do termo letramento, ele passou a fazer parte dos debates escolares. Isso porque o letramento foi associado quase que exclusivamente aos conceitos de alfabetização e 6 escolarização. Em muitas ocasiões, o sentido dessa palavra limitava-se à etimologia, que é a tradução exata da palavra inglesa literacy, que significa “condição de ser letrado”. Mortatti (2004), ao analisar o conceito de letramento apresentado em vários dicionários, de diferentes épocas, observa que os sentidos mantém semelhança à ideia de aquisição do código escrito, ou seja, o letramento com sentido de alfabetização, restringindo-o, assim, a capacidade(s) e/ou habilidade(s) de usos da escrita. Segundo o autor (MORTATTI, 2004) a maioria dos dicionários denota o sentido de erudição, intelectualidade, sabedoria literária, instrução. Dito de outra forma, letrado é posto como a condição de erudição, cultura de um indivíduo, condição esta que se relaciona ao domínio e compreensão da leitura e da interpretação de textos literários. Ao contrário do significado da palavra iletrado que, conforme Mortatti (2004), é relacionado quase que inerentemente ao termo analfabeto, ou seja, iletrado é aquele que não tem conhecimento das letras e da literatura. O letramento visto dessa forma limita-se ao conjunto de habilidades individuais relacionadas à leitura e à escrita, como a codificação e decodificação, apreendidas no contexto escolar. Posto neste sentido, o letramento pode ser medido em níveis. Esse entendimento parte do construto de que o ambiente escolar não é o único espaço em que ocorre o letramento e de que se trata de um fenômeno social, situado emúltiplo, portanto, deve ser considerado no plural. Nesta concepção, não se estabelece níveis de letramento, mas múltiplos letramentos. Ao contrário do que acontece com a proficiência em leitura e escrita, para a qual é possível alcançar níveis, realizar medições, pois estas são habilidades 7 incorporadas ao processo de letramento, e neste processo estamos em constante movimento. Esta noção de letramento(s) atenta-se para as especificidades histórico-sociais dos seus membros, suas práticas e suas relações com a leitura e a escrita, seja no ambiente escolar ou fora dele, pois o processo de letramento é associado à escolarização, mas não se limita a ela. Traçando minimamente um percurso histórico sobre o uso dessa palavra, conforme Soares (1998), ele começou a ser difundido por Kato (1986) no livro No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística; contudo, nessa obra, Kato não se debruça sobre o conceito, apenas explica que linguagem oral culta é consequência do letramento. Em 1988, o termo aparece mais uma vez na obra de Tfouni , que diferencia letramento de alfabetização. Desde então, os estudos crescem nos mais diversos campos de conhecimento. Em 1995, Angela Kleiman organizou o livro Os significados do letramento, que trata sobre o impacto social ocasionado pelo uso da escrita; segundo ela, esse impacto é a principal razão para o surgimento da palavra letramento, pois o termo possui um sentido que objetiva expressar os efeitos produzidos pela aquisição da escrita numa sociedade grafocêntrica. 8 Ainda tratando sobre o percurso histórico da palavra letramento, não podemos deixar de destacar os escritos de Paulo Freire (1967; 1987; 1996). É importante frisarmos que o autor não utilizou o termo letramento, mas fez uso da palavra alfabetização com sentido daquilo que denominamos como letramento. Freire (1967) defende que o ato de alfabetizar não deve ser visto apenas como ensino de técnicas de decodificação, mas sim como algo fundamental para a liberdade e ação social. Santos (2012) explica que a alfabetização emancipatória de Freire é uma espécie de predição da concepção de letramento. Apesar de apresentar o conceito, os PCN não o explora, apenas cita o termo de forma superficial, mas enfatiza os usos e as funções da linguagem em seus diversos contextos. Já nos PCN dos anos iniciais, das áreas de matemática, ciências naturais, história e geografia, o termo não é citado, demonstrando que o estudo do letramento em diferentes áreas ainda é pouco explorado e, quando se trata desses documentos, orientadores da prática escolar, o letramento é citado apenas no âmbito do ensino da língua portuguesa. Por enfatizar os diversos contextos e práticas sociais em que se insere o letramento, e não restringindo apenas à língua portuguesa, destacamos então, a importância desta investigação. O letramento se faz presente em diversos campos de pesquisa e conhecimento, dialogando com diferentes áreas, mesmo que de modo pouco explorado, a pesquisa associada ao letramento também se encontra na Filosofia da linguagem, Tecnologia, História, Linguística. Nesse ínterim, alguns construtos se formaram se expandiram por meio da mídia e constituíram o que Kleiman (1995, p. 35-36) denomina de mitos do letramento, ou seja, crenças positivas com relação às possíveis potencialidades causadas pela difusão do letramento, a exemplo da percepção do letramento como a principal solução para problemas sociais, educacionais e políticos. Os mitos supervalorizam uma das principais práticas de letramento, que é a alfabetização, pois conferem à aquisição da leitura e escrita relação direta com vários fatores de desenvolvimento social. Essa associação proposta pelos mitos também apresenta à alfabetização um valor ideológico, político e econômico. São eles: 9 É certo que na sociedade tecnológica na qual estamos inseridos, o domínio da escrita colabora para assumir determinadas funções e participar de certas atividades, mas não é a solução principal para os problemas sociais, como subtende os mitos do letramento, pois colocam esse domínio como principal fator para o desenvolvimento de uma sociedade. Ao relacionar o letramento à manutenção das características das espécies, Kleiman (1995, p. 34) apresenta trechos de jornais brasileiros que indicam a escrita como importante instrumento de comunicação, sendo assim, conforme este mito, a manutenção por meio do registro escrito das características da espécie humana é prejudicada porque subtende a ideia de que um analfabeto utilizará principalmente a oralidade, conferindo à escrita um maior prestígio. O mito da modernidade traz subjacente que ler e escrever possibilitará a participação igualitária de todos nas diversas situações sociais em que a escrita se faz presente, ou seja, segundo esse mito, qualquer cidadão alfabetizado participará efetivamente de atividades básicas do 10 cotidiano. Com relação ao mito da ascensão social, Kleiman (1995, p. 35) exemplifica, por meio de uma reportagem de jornal, a ideia promovida pela mídia de que a mobilidade social é consequência direta da alfabetização, ou seja, um cidadão ascenderá socialmente à medida que souber ler e escrever, pois essa condição o ajudará na tomada de decisões. O mito do desenvolvimento econômico concebe o analfabetismo como fator preponderante nas possíveis dificuldades financeiras de uma nação. Para exemplificar a ideia positiva dos desdobramentos da aquisição da leitura e escrita, Kleiman (1995, p. 35) apresenta uma reportagem de jornal informando que a área mais industrializada na Europa no Século XIX era a região que possuía menos analfabetos, a reportagem difunde ainda mais o pensamento de que desenvolvimento econômico, social e intelectual de uma nação relaciona-se com a aquisição da escrita, conforme o trecho de jornal exemplificado por Kleiman (1995, p.36), quanto maior a quantidade de alfabetizados menor serão os índices de pobreza. Quanto ao mito do aumento da produtividade, a relação com o letramento diz respeito à ampliação de conhecimentos adquiridos por um trabalhador ao desenvolver a leitura e escrita, pois por possibilitar o acesso a informações técnicas, a leitura e escrita tornam-se práticas aliadas à melhoria da produção. Os mitos ainda apresentam as práticas de leitura e escrita como razões no processo de emancipação da mulher, que durante muito tempo não pôde frequentar a instituição escolar. Desta forma, o acesso ao ambiente escolar possibilitou às mulheres a oportunidade de serem alfabetizadas, de construírem suas carreiras profissionais com autonomia. Os mitos do letramento também se relacionam ao aspecto espiritual porque, segundo o mito religioso, a leitura de escritos bíblicos fomenta os alfabetizados a seguirem uma religião, permitindo que os fieis acompanhem os ensinamentos religiosos. A alfabetização como uma das principais soluções para problemas sociais, econômicos e políticos é denominada como mito, pois segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2010, p. 510), em uma das suas definições, mito é uma “[...] ideia falsa, que distorce a realidade e não corresponde a ela”, desta forma, concluímos que a alfabetização, como uma das principais práticas de letramento, é essencial para que o cidadão exerça atividades básicas na sociedade, contudo, como já foi explicado anteriormente, não é a solução principal para problemas como, por exemplo, o desenvolvimento econômico de uma nação. Os mitos fazem parte de 11 uma abordagem utilitarista de leitura. De acordo com Freire e Macedo (2011, p. 178) essa abordagem “[...] encara a alfabetização como algo que atende às exigências básicas de leitura de uma sociedade industrializada”, ou seja, a leitura e escrita são vistas como meras habilidadesfuncionais. Contudo, Freire e Macedo (p. 50) defendem que “[...] a alfabetização não representa nem garante automaticamente a liberdade social, política e econômica” (FREIRE e MACEDO, 2011, p. 50). Para o autor, a alfabetização precisa ser emancipatória, com foco além da aquisição de habilidades, de modo que possibilite ao educando ser sujeito e não apenas objeto de aprendizagem, Essa perspectiva de alfabetização promove a criticidade dos alunos para que os mesmos utilizem a leitura e escrita como práticas sociais. 1.1 Prática social A expressão “práticas sociais” é utilizada nos estudos do letramento de forma contundente. Citando Fairclough (2003)4 , Bonini (2007, p. 62) define prática social como a “articulação de elementos sociais (alguns não discursivos), a saber: a ação e a interação, relações sociais, pessoas (com crenças, atitudes, histórias, etc.), o mundo material e o discurso”. Em outras palavras, uma prática social é uma atividade realizada por indivíduos em conjunto com uma série de fatores que proferem algum tipo de discursivo, uma ação cultural e ideológica. 12 De acordo com o apontamento de Oliveira (2008), o letramento pode ser definido como uma prática social, pois sua natureza é predominantemente situada, isto é, para cada domínio em que o letramento acontece, há uma diferenciação que o caracteriza, dando-lhe singularidade a partir do contexto em que ocorre, podendo acontecer de múltiplas formas: o que constitui o chamado letramento(s). É reflexivo, o indivíduo aciona suas capacidades cognitivas ao ler e escrever. Pensa, reflete, questiona sobre o que faz, interage discursivamente. É enredado, pois não existe uma prática pura, ela está em rede colaborativa com outros domínios, se remete a outras práticas, outras instituições e outros contextos anteriores e liga-se a outras ações posteriores, num movimento de ação e reação. É ideológico, por carregar consigo valores e ideologias socioculturais. E é multissemiótico, possui diversos modos de representação de linguagem (OLIVEIRA, 2008). O letramento se vincula ao vários elementos contextuais que o cercam, incluindo ideologias, processos cognitivos e histórico- sociais, numa dissociação de ação e palavra, permitindo a percepção da concretude da linguagem (OLIVEIRA, 2008). 2. LETRAMENTO MATEMÁTICO O letramento matemático refere-se à capacidade de identificar e compreender o papel da Matemática no mundo moderno, de tal forma a fazer julgamentos bem-embasados e a utilizar e envolver-se com a Matemática, com o objetivo de atender às necessidades do indivíduo no cumprimento de seu papel de cidadão consciente, crítico e construtivo. O letramento matemático, não se limita ao conhecimento da terminologia, dos dados e dos procedimentos matemáticos, ainda que os inclua, nem tampouco se limita às destrezas para realizar certas operações e cumprir com certos métodos. As competências matemáticas implicam na combinação desses elementos para satisfazer as necessidades da vida real dos indivíduos na sociedade. A (re)significação do ensino da leitura e escrita em matemática ainda é considerada um desafio, tanto pelas práticas cristalizadas focadas no algoritmo como pela dificuldade na formação do professor. Então, nossa proposta é um passo inicial para um ensino da matemática com foco nas práticas sociais. 13 Adotar essa perspectiva implica primeiramente entender a matemática e a língua portuguesa como complementares, em segundo plano, compreender que assim como a escrita em língua materna está presente em grande parte das interações, a escrita matemática também é necessária para diversas ações. A compreensão dos fatores citados implica em uma prática interdisciplinar, com foco na práxis do aluno, isto é, numa prática transformadora. O letramento matemático com base na práxis transformadora caracteriza-se por priorizar o sentido do que se lê e se escreve, sendo assim, não basta apenas o aluno codificar, decodificar ou saber o algoritmo, mas proceder e significar seu procedimento, justificando-o. Então, o que é preciso saber para desenvolver um trabalho em sala de aula na perspectiva do letramento? Com relação ao aspecto teóricometodológico, construímos o seguinte quadro que demonstra a caracterização do letramento matemático. Conforme o quadro , o planejamento é dinâmico, pois se modifica de acordo com o andamento das aulas. Um elemento chave para essa flexibilidade é a consideração da postura agentiva do aluno, ou seja, o planejamento se altera com as sugestões dos docentes nas atividades, ou na percepção de alguma dificuldade, tem-se a liberdade de alterar o plano para que as metas sejam cumpridas de modo efetivo, dando oportunidade ao aluno de agir, opinar, discordar, considerando-o como participante do processo de ensino- aprendizagem. A natureza do planejamento na perspectiva do letramento 14 matemático é a problematização, pois o plano promove a reflexão e o pensamento crítico por meio de discussões e debates levantados a partir de temáticas sociais em que a matemática esteja inserida. O planejamento é feito tendo como ponto de partida não um conteúdo, mas uma situaçãoproblema, em que cada parte do planejado insere-se no processo de resolução. Com relação aos conteúdos, eles se dão de acordo com os modos de agir para a resolução do problema. Dessa forma, a seleção dos conteúdos não segue um pré-requisito fixo de acordo com a progressão estabelecida pelo currículo ou livro didático, por exemplo, mas são combinados de modo a se relacionarem com a temática, priorizando não apenas conceitos, mas também práticas e atitudes. Os conteúdos ainda se relacionam com outras áreas de conhecimento, pois como partimos de práticas sociais, os conteúdos se caracterizam por uma amplitude no sentido de não se restringirem nem ao âmbito escolar e nem a uma disciplina específica. A metodologia caracteriza-se pela diversidade, pois considera diferentes métodos de abordagem do conteúdo a fim de proporcionar aos estudantes variadas possibilidades de visualização do que foi trabalhado. É um conjunto de propostas diferenciadas como o uso de jogos e as atividades em grupo. Nesse processo há a inclusão de atividades literárias em conjunto com a matemática, num continuum onde língua materna e matemática se complementam através dos gêneros textuais. Com relação à avaliação, ela é realizada continuamente por meio de diversos instrumentos. A participação oral dos alunos por meio de perguntas, sugestões, discussões é considerada uma ferramenta avaliativa, tanto quanto os registros escritos. Na avaliação, as especificidades de cada um são analisadas, os aspectos qualitativos são priorizados e os avanços e dificuldades observados a fim de ajudar os alunos a avançarem na aprendizagem. Os aspectos teórico-metodológicos são 15 caracterizados conforme o quadro por possuírem total relação com a postura dos sujeitos envolvidos, que são professor, aluno e comunidade escolar. Quanto aos participantes, a postura do professor é de ouvir o aluno, questionar, promover discussões. É um profissional reflexivo, que melhora sua prática com o fim de ajudar os alunos, para isso, necessita de tempo, dedicação e disposição. É colaborativo e cooperador, segundo Fiorentini e Lorenzato (2012, p. 115) “Na cooperação, alguns ajudam os outros, executando tarefas cujas finalidades não resultam de negociação conjunta do grupo [...], na colaboração, todos trabalham conjuntamente [...] visando atingir objetivos negociados coletivamente pelo grupo”. Ou seja, o professor tanto colabora no sentido de ajudar em atividades escolares já estabelecidas, sendo um gerenciador mais experiente, orientando as crianças numa tarefa previamente planejada por ele. Como também, o educador colabora no sentido de auxiliar os alunos em decisões não estabelecidas previamente,sendo sugeridas e debatidas pelo grupo. Ainda segundo o quadro , cabe ao professor, possuir conhecimentos didáticos e teórico-metodológicos diversificados, relacionando o saber com outras áreas de conhecimento. O aluno é considerado participante ativo do processo, com uma postura agentiva, intervencionista. Assim como o professor, o estudante coopera e colabora em atividades sugeridas de modo coletivo ou não. E da comunidade escolar, ou seja, pais, alunos, professores, direção, coordenação e circunvizinhança são agentes de letramento, parceiros no 16 processo de letramento. De modo que apoiam o desenvolvimento do projeto como apoio pedagógico, seja pela disponibilidade em auxiliar com materiais didáticos, é o caso da direção e coordenação, como pelo apoio pedagógico no que diz respeito a aprendizagem, é o caso dos pais, que precisam se comprometer a oferecer tal suporte. O termo agencia pressupõe justamente a ação dos mesmos, que devem praticar ações que promovam o ensino e a aprendizagem. Atentar para os fatores citados permitirá a ênfase numa concepção da matemática, da sua escrita e seus elementos como parte de nossa vida, percebendo a relação entre os modos de ser e de agir através dos conhecimentos matemáticos. Nesse sentido, as contribuições das práticas do projeto de letramento para o desenvolvimento da leitura e escrita em matemática se dão no sentido de promover o crescimento do foco da matemática do cotidiano dentro do universo escolar. A inserção do projeto de letramento em sala de aula ocasiona reflexões acerca de práticas pedagógicas cristalizadas, como a de um planejamento voltado para o desenvolvimento de habilidades e competências com fins avaliativos, restritos ao ambiente escolar, sem relação com o social. No letramento, planejar é bem mais do que pensar atividades de treino e fixação do conteúdo, é utilizar o conhecimento apreendido na escola como forma de agir socialmente 3.1 Letramento ideológico e a linguagem matemática No que concerne à relação entre a perspectiva do letramento ideológico e a linguagem matemática, é primordial compreendermos o que significa essa linguagem. Klusener (2006, p. 183) a caracteriza como “expressão da linguagem simbólica” e que apresenta dois níveis: o semântico, que diz respeito aos significados e aos sentidos atribuídos a símbolos, sinais e notações matemáticas. E o sintático, que corresponde a “regras, propriedades e estruturas que podem ser operadas sem referência direta a nenhum significado” (KLUSENER, 2006, p. 183). Gómez-Granell (1998) afirma que a simbologia matemática também apresenta dois principais significados: um diz respeito à formalidade e o cumprimento de regras; o outro está ligado às situações reais, em que os símbolos são utilizados para resolver problemas. 17 Nesse sentido, Lima (2012, p. 39-40), ao refletir sobre a linguagem matemática, coloca que a mesma possui uma simbologia específica, isto é, um “[...] conjunto de símbolos detentor de regras e propriedades próprias, responsável por algoritmos específicos e unívocos e que [...] possui seus próprios registros orais e escritos”. Essa simbologia objetiva colaborar no desenvolvimento do conhecimento matemático, bem como na sua expansão e comunicação. Lima (2012) ainda postula que a natureza da comunicação nas aulas de Matemática influi diretamente na aprendizagem dos alunos, ou seja, o foco ou a comunicação de natureza simbólica, abstrata, sem auxílio de outras linguagens, torna a Matemática uma disciplina difícil de ser compreendida. Partimos do pressuposto de que linguagem e símbolos matemáticos, mesmo quando dizem respeito à aplicação de regras, precisam ser compreendidos e não apenas aplicados mecanicamente. Nossa experiência como docente dos anos iniciais nos fez perceber que a problemática que envolve o ensino da Matemática é justamente esta: o privilégio aos aspectos sintáticos, formais. Além disso, existe a dificuldade que os professores sentem em inovar suas práticas pedagógicas, pois acabam seguindo os modelos já conhecidos, isto é, seguem as mesmas metodologias que seus professores ensinaram há anos. 18 Dito de outro modo, a aprendizagem efetiva da linguagem materna desdobra-se na aprendizagem da linguagem matemática, ambos possuem uma relação de completude no que diz respeito ao processo de construção de sentidos (MACHADO, 2001). A leitura proficiente na linguagem materna é um fator imprescindível para o desenvolvimento da proficiência na leitura e na escrita da linguagem matemática. Isto por que, como a criança poderá ter domínio em situações-problema sem antes compreender o que lê? Ela até poderá utilizar o algoritmo corretamente, mas será que consegue compreender o que faz? Será que consegue explicar o porquê se procede daquela forma? Ler e escrever a simbologia matemática na perspectiva do letramento ideológico vai além de procedimentos fixos, é, então, construir significados (CARRASCO, 2006). Carrasco (2006) aponta que um dos modos de colaborar com os alunos na compreensão de conceitos matemáticos é a utilização de diversas formas de linguagem, como a visual, a oral, a geográfica, a pictórica, a materna, a gráfica, etc. Dessa forma, o foco não deve ser a simbologia e o formalismo matemático, mas que essa simbologia seja desenvolvida em conjunto com outras. A autora ainda explica que, para o aluno saber proceder com a formalidade matemática, é necessário que compreenda a essência do conceito estudado, de forma que consiga “falar e escrever sobre este conceito, na sua linguagem usual, para só depois, fazê-lo na linguagem simbólica” (CARRASCO, 2006, p. 202). Vasco (1994) aponta que a Matemática é subdividida em três principais ramos: a Matemática realmente existente – do cotidiano, a Matemática escolar e a Matemática de investigação. A do cotidiano é considerada pelo autor como autônoma, ou seja, é independente da Matemática escolar e da Matemática investigativa, isso porque se realiza nas atividades do dia-a-dia, como na conferência de números de telefone, datas no calendário, direções, temperaturas, horas, códigos, contagem de dinheiro, etc. A Matemática escolar é aquela em que predominam as práticas pedagógicas voltadas para o ensino-aprendizagem dessa disciplina e que tem no aluno e no professor seus principais atores. A investigativa se volta para questões de pesquisa, a chamada “Matemática de ponta”, que pode 19 retroalimentar a Matemática escolar e a cotidiana, num ciclo de contribuições de saberes. O letramento ideológico em Matemática tem como ponto de partida a perspectiva do cotidiano, nesse sentido, a aprendizagem da leitura e da escrita matemática parte do pressuposto da prática social e não de um conteúdo formalmente escolarizado. Dito de outra forma, na vertente do letramento ideológico, a escola utiliza a prática cotidiana a fim de que o conceito matemático, implícito ou explícito, daquela situação possa apresentar significado para o aluno. É papel da escola contribuir para que o educando aja socialmente e participe de modo ativo de determinada situação em que são necessários conhecimentos relacionados à linguagem escrita, tanto em Matemática como em língua materna. 3.1.1Competências Em cada um dos três grandes blocos em que as competências matemáticas são agrupadas, o aluno deve demonstrar, em maior ou menor grau, capacidades de: raciocínio; argumentação; comunicação; modelagem; 20 colocação e solução de problemas; representação; uso de linguagem simbólica, formal e técnica; uso de ferramentas matemáticas. Reprodução Este tipo de processo compreende a reprodução de conhecimentos já praticados, a representação e o reconhecimento de equivalências, a memorização de objetos e propriedades matemáticas, o desenvolvimentode procedimentos de rotina, a aplicação de algoritmos padronizados e o desenvolvimento de algumas habilidades técnicas. O pensamento matemático neste processo faz perguntas do tipo: “Existe(m)...? Se é assim, quantos?, Como achamos?”. Conhecer os tipos de respostas que a matemática oferece a tais perguntas; distinguir entre vários tipos de afirmações (definições, teoremas, conjecturas, hipóteses, exemplos, afirmações condicionadas); compreender e manejar a extensão e os limites dos conceitos matemáticos básicos são tarefas que os estudantes devem ser capazes de desempenhar nesse nível de competência. Conexão 21 Para resolver problemas simples são integradas informações e estabelecidas conexões entre os diferentes ramos e campos da matemática. Apesar de se supor que os problemas não são rotineiros, estes ainda requerem graus de conceituação ou de matematização relativamente baixos neste tipo de competência. Espera-se que os estudantes lidem com diferentes métodos de representação, de acordo com a situação e o objetivo. O estabelecimento de conexões requer, também, que os estudantes sejam capazes de distinguir e relacionar diferentes definições, exemplos, afirmações condicionadas e demonstrações. Devem decodificar e interpretar a linguagem simbólica e formal, assim como entender suas relações. Os problemas desse tipo se estabelecem frequentemente dentro de um contexto e obrigam os estudantes a tomar decisões matemáticas. Reflexão Nas competências deste agrupamento, espera-se que o estudante saiba o que é uma demonstração matemática e em que esta difere de outros tipos de raciocínio matemático; que compreenda e avalie cadeias de diferentes tipos de raciocínio matemático; que possua um certo sentido heurístico (o que pode acontecer e por quê) e que consiga criar argumentos matemáticos. Neste tipo de competência, espera-se que os estudantes matematizem ou conceituem situações, ou seja, reconheçam e extraiam a matemática incluída na situação e empreguem-na para desenvolver seus próprios modelos e estratégias, assim como para apresentar argumentos matemáticos que incluam demonstrações e generalizações. Estes processos exigem pensamento crítico, análise e reflexão. Os estudantes devem ser capazes não apenas de resolver problemas, mas também de propor, expressar adequadamente as soluções e conhecer a natureza da matemática como ciência. Não utiliza perguntas para avaliar separadamente as habilidades anteriores dos estudantes. Quando “realmente se aplica a matemática”, é necessário usar simultaneamente muitas dessas habilidades. 22 3.1.2 Conteúdo Quantidade Esta ideia estruturadora focaliza a necessidade de quantificação para organizar o mundo. Aspectos importantes englobam a compreensão de tamanho relativo, reconhecimento de padrões numéricos e utilização de números para representar quantidades e atributos quantificáveis de objetos do mundo real (contagens e mensurações). Além disso, quantidade trata do processamento e da compreensão de números que nos são apresentados de diversas formas. Um aspecto importante ao tratar de quantidade é o raciocínio quantitativo. São componentes essenciais do raciocínio quantitativo o senso numérico, a representação de números de várias formas, a compreensão do significado das operações, intuição sobre a magnitude de números, computações matemáticas elegantes, aritmética e estimativas mentais. 23 Espaço e Forma Em toda parte encontram-se padrões: em palavras faladas, música, vídeo, trânsito, construção de edifícios e arte. Formas podem ser consideradas como padrões: casas, prédios de escritórios, pontes, estrelas do mar, flocos de neve, planos de cidades, trevos rodoviários, cristais e sombras. Para compreender o espaço e a forma, os estudantes precisam buscar semelhanças e diferenças na análise dos componentes da estrutura e no reconhecimento das formas em diferentes representações e dimensões. Isto significa ser capaz de entender a posição relativa dos objetos. Ter consciência de como vemos as coisas e por que as vemos assim. Aprender a mover-se através do espaço e através das construções e das formas. Isto significa, também, compreender as relações entre formas e imagens ou representações visuais, tal como entre uma cidade real e fotografias ou mapas dessa cidade. Inclui, ainda, a compreensão de como é possível representar objetos tridimensionais em duas dimensões, de como se formam e como devem ser interpretadas as sombras, o que é perspectiva e como funciona. 24 Mudança e Relações Todo fenômeno natural é uma manifestação de mudança. Exemplos disso são as mudanças dos organismos à medida que crescem, o ciclo das estações, o avanço e o recuo das marés, ciclos de desemprego, mudanças climáticas e índices da bolsa de valores. Alguns desses processos de mudança envolvem funções matemáticas diretas: funções lineares, exponenciais, periódicas ou logísticas, sejam discretas ou contínuas. Mas muitas relações caem em categorias diferentes e a análise dos dados é imprescindível. Avalia a capacidade para representar mudanças de uma forma compreensível; compreender os tipos fundamentais de mudanças; reconhecer os tipos de mudanças concretas quando elas ocorrem; aplicar essas técnicas no mundo exterior; e controlar um universo em mudança para o nosso benefício. Indeterminação ou probabilidade A atual “sociedade da informação” oferece uma abundância de informações, frequentemente apresentadas como sendo precisas, científicas e 25 com alto grau de certeza. No entanto, na vida diária nos defrontamos com resultados eleitorais incertos, pontes que caem, quebras das bolsas de valores, previsões meteorológicas pouco confiáveis, predições ineficazes de crescimento populacional, modelos econômicos que não se ajustam e muitas outras demonstrações das incertezas de nosso mundo. A indeterminação visa a sugerir dois tópicos relacionados: dados e possibilidade. Esses fenômenos são objeto, respectivamente, do estudo matemático de estatística e de probabilidade. As recentes recomendações relativas aos currículos escolares são unânimes em sugerir que estatística e probabilidade devem ocupar um espaço mais importante do que ocorreu até agora. Atividades e conceitos matemáticos importantes nessa área são a coleta de dados, a análise e apresentação/visualização de dados, a probabilidade e a inferência. Contexto ou Situação A intuição e a compreensão matemáticas dos estudantes devem ser avaliadas em diferentes situações. Pode-se pensar que uma situação está a uma certa distância dos estudantes. A mais próxima é a vida pessoal, depois, depois a vida na escola (educacional) e o trabalho (ocupacional), seguida pela vida na 26 comunidade local e na sociedade (pública). Situações científicas estão mais distantes. Assegura-se que as tarefas estejam baseadas em contextos reais. Se a educação matemática deve servir para formar os estudantes como cidadãos ativos e informados, deve-se trabalhar com contextos “reais”, tais como os problemas de economia e o crescimento da população. Isto não exclui contextos fictícios baseados em representações esquemáticas de problemas, assim como o problema do tráfico em uma cidade inexistente. 3. HIPOTÉSES DE APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS Um dos enfoques mais arraigados sobre o ensino de números toma por base que estes devem ser ensinados de forma fragmentária, aos poucos, um a um. Ou seja, só deve ser ensinado um número após o ensino do seu antecedente. Nesse enfoque, uma atividade fundamental é a escrita do número, sendo as atividades propostas pelo professor baseadas em cópias, recortes e desenhos de algarismos. A concepção de ensino por trás desse modo de ver é que, primeiro se ensina e depois se aplica, ouseja, é preciso ensinar primeiro a escrita convencional dos números para depois utilizá-los em outras situações. Nessa perspectiva, a concepção de aprendizagem é que se aprende treinando, por meio de repetição e memorização de noções matemáticas. Outro enfoque dado no ensino dos números, decorrente do Movimento Matemática Moderna, é o ensino do número de cinco cachorros, cinco gatos, cinco carros, etc.,para que se ache, por meio de correspondência termo a termo, a propriedade comum aos conjuntos, ou seja, o número que indica a quantidade de elementos que é comum em todos esses conjuntos. Isso se baseia no fato de que as crianças aprendem por observação de objetos ou desenhos deles. A noção de número, nessa concepção, envolve a síntese entre as operações de classificação e seriação. Supõe-se que as crianças, por meio dessas atividades lógicas, apropriem-se dos conhecimentos necessários anteriores à aprendizagem de números. Dessa forma, o conhecimento matemático decorreria de relações 27 lógicas entre conjuntos. No entanto, quando se realizam atividades de classificação e de seriação, se estabelecem relação qualitativas e não quantitativas sobre objetos; não aparecem como objeto do conhecimento nem o número, nem sua denominação, nem os diferentes contextos em que ele é utilizado, nem a regularidade e organização do sistema numérico. Isso não significa que não devem ser apresentadas situação de classificação e seriação na escola, mas devemos ter clareza de que esse tipo de atividade não é pré- requisito para o ensino dos números. As atividades permitem ao professor identificar os saberes dos seus alunos sobre os números, seus usos, quais números reconhecem, quais sabem ler, quais sabem escrever e que intervenções são necessárias para que as crianças ampliem seus conhecimentos. Alguns recursos que possibilitam a exploração de atividades envolvendo números, como o calendário, materiais de contagem, etc., foram utilizados. A mediação do professor deve ser feita durante toda a execução das atividades para que as crianças avancem na compreensão de características e de regularidades do sistema de numeração decimal; isso vai sendo construído por meio de problematizações das hipóteses dos alunos. As atividades envolvem dois tipos de contagens, tanto a oral, por meio de recitação, quanto a que se dá mediante o apoio de objetos ou desenhos de objetos. Ao longo de atividades de contagens com apoio, as crianças percebem 28 a associação entre cada nome de número que enunciam e cada objeto da coleção que estão contando. Incentive-as a fazer outras contagens orais, sem apoio de objetos, a partir do 1, bem como a contar a partir de um determinado número. Proponha também outras contagens com apoio de objetos. De acordo com os estudos de Lerner e Sadovsky (1996), é importante fazer um levantamento do que os alunos já sabem sobre as escritas dos números. Isso pode ser feito propondo atividades de leitura e escrita, comparação e ordenação de notações numéricas. Essas atividades devem ser tomadas como ponto de partida, utilizando os números que as crianças já conhecem e ampliadas por outras, elaboradas para este propósito (contagem, atividades com calculadora, atividades que tragam os números como função de código, etc.). Mediante tais atividades, os alunos podem colocar suas hipóteses em jogo e têm oportunidade de confrontá-las, permitindo aflorar seus conhecimentos e também ampliá-los. 4.1 Exemplo I de Proposta Contagens e Brincadeiras Conversa inicial Comente com as crianças que elas conhecem muitos números e pergunte: — Que números vocês conhecem? — Qual é o menor número que vocês conhecem? — Qual é o maior número que vocês conhecem? Faça anotações na lousa com os números que as crianças dizem conhecer, à medida que elas forem respondendo, para que se aproximem das escritas convencionais dos números. Problematização Diga aos alunos que um colega encontrou alguns números em uma revista, recortou-os, colou-os em um quadro numa folha de caderno e que agora eles irão analisar esses números, dizendo quais deles já conhecem. Pergunte 29 quem sabe ler esses números em voz alta e combine que eles vão copiá-los no quadro de registro do aluno. Observação/Intervenção Esta atividade permite que você verifique se as crianças conhecem os números de 0 a 9. Pergunte se as crianças conhecem esses números, se sabem recitar oralmente a sequência de 0 a 9, antes de pedir que copiem a sequência. Para complementar a atividade, confeccione cartões com os símbolos numéricos e faça brincadeiras ao longo da semana, como pedir que alguns alunos sorteiem cartelas e digam qual número está registrado nela. É fundamental garantir que todos os alunos saibam identificar esses símbolos. Atenção especial deve ser dada no sentido de apoiar as crianças quanto à leitura dos textos do material e quanto à realização das tarefas solicitadas. É importante que o trabalho com a Matemática seja feito de forma articulada e concomitante com o trabalho de alfabetização em Língua Portuguesa 4.2 Exemplo II de Proposta Contagens e Brincadeiras Conversa Inicial Pergunte às crianças se sabem contar e até que número sabem fazê-lo. Promova uma roda de contagem a partir do 1 e observe até que número conseguem contar, auxiliando aquelas que necessitem. 30 Explore as contagens orais das crianças, incentivando-as, indicando o último número da contagem de uma das crianças, perguntando que número viria depois, para incentivar a ampliação da contagem. Problematização Explique às crianças que vão fazer atividades de contagem, vão contar bolinhas de gude e depois colocar o resultado no local reservado para a resposta. Esclareça que irão contar, primeiramente, as bolinhas coloridas e, depois, as azuis. Observação/Intervenção No início da escolarização, as crianças possuem conhecimentos sobre a sequência numérica oral. Esses conhecimentos não são os mesmos para todos os alunos de uma mesma classe. Diferem, não apenas na extensão do intervalo numérico conhecido, mas também na complexidade da tarefa, por exemplo, contar a partir do 1 e parar quando não souber mais tem uma complexidade diferente do que contar a partir do 1 intercalando palavras (um livro, dois livros, etc.); ou, ainda, contar a partir de um número qualquer diferente de 1. Verifique como é a situação de seus alunos em relação ao conhecimento da recitação oral da sequência numérica e faça anotações que possibilitem melhor intervenção. Ao recitar a sequência, muitas crianças mostram que conhecem parte da regularidade e da organização do sistema numérico, por exemplo, quando dizem: nove, dez, dez e um, dez e dois,...Nesse caso, não sabem os nomes dos números 11, 12, mas os nomeiam na ordem, indicando conhecer a sequência numérica sem pular nenhum número. Outro exemplo é quando, na recitação oral a partir do 1, param após o dezenove por desconhecer o nome do próximo número, mas, se o professor fizer a intervenção falando vinte, imediatamente a criança completa vinte e um, vinte e dois, vinte e três, etc. Ou seja, pode desconhecer a denominação de algumas dezenas “cheias” (20, 30, 40, etc.), mas continua a contagem agregando, consecutivamente, os números 1, 2, 3, etc. Verifique se há crianças em alguma das situações apresentadas neste texto. Faça anotações e intervenções que possibilitem o avanço delas. 31 Entretanto, saber recitar a sequência numérica não é a mesma coisa que saber contar elementos de um conjunto. Ou seja, uma criança pode recitar oralmente uma sequência numérica até um determinado número, mas nem sempre utiliza esse conhecimento na hora de contar objetos ou desenhos de objetos. Para contar, a criança precisa atribuir a cada objeto (ou desenho dele) um único nome de um número, respeitando a ordemda sequência numérica. Algumas vezes, a criança aponta para o objeto (ou seu desenho) mais rapidamente (ou menos rapidamente) do que pronuncia o nome do número, isto é, não faz a correspondência termo a termo entre o objeto e o número, resultando em uma contagem inexata. Outras vezes, pode acontecer de a criança repetir a sequência numérica 1, 2, 3, .... 12 ao responder quantas bolinhas verdes há desenhadas, em vez de responder 12. Isto pode significar que a criança não reconhece que o último número enunciado na contagem corresponde ao total de bolinhas desenhadas (princípio da cardinalidade) e acredita que a pergunta “quanto há?” se responde repetindo a recitação completa utilizada na contagem. Verifique se em sua classe há crianças que contam em ritmo diferente do que apontam para os objetos (ou desenho deles) e ajude-as a construir um ritmo que permita sincronizar a contagem com o nome do número que indica o objeto contado. Observe se há crianças que ainda repetem a sequência numérica para dizer quantos elementos há em um conjunto e ajude-as a reconhecer que o último número da sequência indica o total de objetos contados. 4.3 Exemplo III de Proposta Aniversários e Calendários Conversa inicial Comente com a turma que, na aula de hoje,vamos explorar informações a respeito de cada um, como nome, idade, mês de nascimento e outros e que essas informações serão registradas em uma ficha. Apresente às crianças a ficha constante da atividade. Comente como deve ser feito o preenchimento, dizendo que, se não souberem alguma informação, você poderá ajudá-las. 32 Problematização Pergunte às crianças se já viram uma tabela com informações. Mostre a elas as linhas e as colunas da tabela. Explique que cada linha apresenta informações. Na primeira linha, por exemplo, é solicitado o nome da criança e, na segunda, a idade. Leia com elas, solicitando que preencham as informações. Após o preenchimento, convide algumas crianças para lerem as informações solicitadas, como, por exemplo, a terceira linha; para outro aluno, ler a quinta linha, etc. Observação/Intervenção Socialize as informações inseridas nas tabelas e faça um cartaz com a compatibilização dos dados comuns, por exemplo, quantas crianças têm apenas 1 irmão, quantas têm dois, quantas têm 3 e quantas têm mais de 3 irmãos. Repita o processo para as idades das crianças. Identifique com as crianças, quantas têm 6 anos, quantas têm 7 anos e quantas têm mais de 7 anos. Essas informações serão úteis na atividade 2.3. Embora, na Sequência 1, tenham sido trabalhados os números de 0 a 9, destacamos a importância de 33 se identificar os conhecimentos das crianças sobre números maiores. Esta atividade dá oportunidade ao professor de perceber se a criança escreve o número de sua casa e se sabe fazer a leitura desse número. A socialização desses números permite que outras crianças façam novas descobertas sobre as escritas numéricas. Também dá oportunidade de identificar números na ordem das dezenas, quando quantificam o total de alunos de cada idade. Se os alunos desconhecem a leitura do número de crianças com uma determinada idade, você pode oferecer pistas, fazendo a contagem coletivamente a partir do 1, dar o nome do número que vem antes ou depois; ou então, dizer que o número está num determinado intervalo, por exemplo, entre o 15 e o 17, etc. A proposta para leitura das informações já preenchidas poderá ser feita, não necessariamente, seguindo a primeira linha, a segunda, etc. Dessa forma, explora-se a função ordinal do número. 4.4 Exemplo IV Proposta Aniversários e Calendários Conversa inicial Pergunte às crianças como gostam de comemorar o aniversário e se costumam comemorá-lo apagando velinhas colocadas num bolo. Como podemos saber a idade do aniversariante? Diga que, na atividade que vão resolver, devem desenhar as velinhas nos bolos de acordo com as idades indicadas. Problematização Indague às crianças se costumam apagar uma única velinha com um número que indica a idade ou se apagam várias velinhas, uma para cada ano de idade. Combine com a classe que vão desenhar uma velinha para cada ano de idade em cada bolo da atividade. 34 Observação/Intervenção Esta atividade retoma o número em sua função cardinal, à medida que os números que representam as idades possibilitam identificar a quantidade de velas em cada bolo. As crianças o número do enunciado e desenham a quantidade de velas indicadas por ele, colocando em prática o aspecto cardinal do número, o número como memória de quantidade. 4. CONCLUSÃO Desenvolver um trabalho na perspectiva do letramento é de fato um desafio para o professor que ensina Matemática. São várias as justificativas para isso, mas destacamos aqui o fato de que, frequentemente, na formação para atuação na docência na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, os estudos do letramento são apresentados como prática didática ligada a aprendizagem da letras e ao trabalho textual ligado ao ensino da Língua Portuguesa; na formação do licenciado em matemática, por sua vez, estes estudos se quer são tratados, a medida que, para muitos formadores, letrar é papel do professor da área da linguagem. Entretanto, partimos do princípio de que ler e escrever são práticas sociais intrínsecas à formação de qualquer cidadão crítico e atuante na sociedade. Portanto, estes aspectos da linguagem, não competem apenas ao ensino de Língua Portuguesa, mas permeiam a construção do indivíduo, nos mais diversos aspectos da sua formação. Sem um desenvolvimento amplo das habilidades de ler e escrever, nas mais diferentes linguagens, entre ela a matemática, o indivíduo vê-se impossibilitado de atribuir significados consistentes ao mundo do qual faz parte e no qual necessita atuar e ajudar a construir. 35 REFERÊNCIAS AZEVEDO, Claudinéia B.; TARDELLI, Marlete C. Escrevendo e falando na sala de aula. In: CHIAPPINI, Lígia (Coord. Geral); GERALDI, João Wanderley; CITELLI, Beatriz (Coords.). Aprender e ensinar com textos de alunos. São Paulo: Cortez, 2001. Coleção Aprender e ensinar com textos, v.1. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1988. BONINI, Adair. A relação entre prática social e gênero textual: questão de pesquisa e ensino. Veredas on line – ensino – 2/2007, p. 58-77 – ppg lingüística/ufjf – juiz de fora - issn 1982 - Disponível em: <http://2243www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/artigo041.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2014. BRAIT, Beth.(org.). Bakhtin: conceitos-chave. 5 ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013.7 São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. Coordenadoria de gestão da Educação básica. Departamento de Desenvolvimento Curricular e de gestão da Educação básica. Centro de Ensino Fundamental dos Anos Iniciais. EMAI: educação matemática nos anos iniciais do ensino fundamental; organização dos trabalhos em sala de aula, material do professor - primeiro ano / Secretaria da Educação. Centro de Ensino Fundamental dos Anos Iniciais. - São Paulo : SE, 2013. v. 1, 128 p. ; il. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação 36 Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: 1997. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf >. Acesso em: 25 mar. 2010. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: 1997. BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Jogos na Alfabetização Matemática / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2014. Disponível em:https://download.inep.gov.br/download/internacional/pisa/2010/letramento_matematico.pdf <Acesso em 20/10/2014>