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1 Disciplina: História dos direitos humanos Autora: M.e Cláudia Senra Caramez Revisão de Conteúdos: D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd Designer Instrucional: Vianeis Rodrigues Pereira Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Cláudia Senra Caramez História dos direitos humanos 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r Jefferson Zeferino / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd Parecerista Técnico Jefferson Zeferino / Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd Designer Instrucional Vianeis Rodrigues Pereira Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA CARAMEZ, Cláudia Senra. História dos direitos humanos / Cláudia Senra Caramez. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 46 p. ISBN: 978-85-5475-469-3 1. Constituição cidadã. 2. Direitos humanos. 3. Educação. Material didático da disciplina de História dos direitos humanos. – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz. 5 Sumário Prefácio ........................................................................................................... 06 Aula 1 - Perspectiva histórica dos Direitos Humanos ..................................... 07 Apresentação da aula 1................................................................................... 07 1.1 A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948..................................... 07 1.2 Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.................... 10 Conclusão da aula 1......................................................................................... 13 Aula 2 -Ditadura civil-militar no Brasil: violáveis dos Direitos Humanos.......... 14 Apresentação da aula 2................................................................................... 14 2.1 A Ditadura civil-militar no Brasil....................................................... 14 2.1.1 A Constituição Cidadã de 1988..................................................... 18 Conclusão da aula 2........................................................................................ 23 Aula 3 - Novos Direitos Humanos..................................................................... 24 Apresentação da aula 3.................................................................................... 24 3.1 Princípios Universais para o milênio................................................ 24 3.1.1 Direitos humanos, democracia e boa governança....................... 27 3.2 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).......................... 32 Conclusão da aula 3......................................................................................... 34 Aula 4 - Educação em Direitos Humanos......................................................... 35 Apresentação da aula 4................................................................................... 35 4.1 Relação da educação com os Direitos Humanos............................ 35 4.1.1 Como conceituar um sujeito de direito?....................................... 37 4.1.2 Promover uma cidadania ativa e participativa............................. 38 Conclusão da aula 4........................................................................................ 41 Índice Remissívo............................................................................................. 43 Referência....................................................................................................... 44 6 Prefácio Prezado(a) estudante. Neste material você encontrará um estudo sobre os antecedentes históricos da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e também irá analisar o texto desse documento. Continuaremos com as legislações nacionais que violaram vários desses direitos, durante o período da Ditadura Civil-militar no Brasil, passando pelas conquistas das liberdades fundamentais no contexto da Constituição Federal de 1988. Depois serão abordados temas contemporâneos ligados aos estudos dos Direitos Humanos, como a cidadania, dignidade humana e meio ambiente, fazendo também uma relação dessa temática com a educação. É importante lembrar que a concepção de dignidade humana está em constante transformação, assim, a discussão não se esgota, principalmente quando pensamos em termos de liberdade e igualdade. Nesse contexto, espera- se que o encantamento das conquistas dos Direitos Humanos seja capaz de cativá-lo(a) a discutir a necessidade da ampliação do debate sobre a defesa de direitos fundamentais concernentes à dignidade humana. Bons estudos! 7 Aula 1 – Perspectiva histórica dos Direitos Humanos Apresentação da aula 1 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à primeira aula! Abordaremos o histórico dos Direitos Humanos a partir da Revolução Francesa de 1789, devido à suposição de que existiriam direitos universais para a humanidade, dentre eles: o direito de expressão, pensamento e credo. Seguiremos com uma análise dos motivos que levaram à produção da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e seu próprio texto, demonstrando a atualidade e a necessidade da sua defesa. 1.1 A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 Viver na França do século XVIII não era fácil para a maior parte da população, pois o Antigo Regime impunha extrema injustiça social. Estamos falando de um período chamado de absolutismo, no qual o rei detinha os poderes absolutos sobre todos os setores da sociedade, fossem políticos, econômicosou sociais. A sociedade francesa daquele período era hierarquizada e estratificada em três Estados: o primeiro era composto pelo clero e ocupava o topo da pirâmide, o segundo era formado pela nobreza, que gozava de uma série de privilégios e de uma corte luxuosa, o terceiro era a base da pirâmide, composta por burgueses, trabalhadores urbanos e camponeses que sustentavam o primeiro e segundo Estados com o pagamento de impostos. A burguesia ainda conseguia manter alguma qualidade de vida, em contrapartida, a maior parte da população vivia em condições sub-humanas. Contudo, ambas não possuíam direitos políticos. A luta por melhores condições de vida para os trabalhadores e o direito de participação política dos comerciantes foi a mola propulsora da revolução que derrubou a Bastilha, em 14 de julho de 1789, um símbolo da monarquia absolutista. 8 Curiosidade A Bastilha era a prisão política para todos aqueles que fossem considerados inimigos dos poderes dos reis. A fortaleza construída em Paris no século XIV foi transformada em prisão no século XV e, desde então, foi cárcere de prisioneiros famosos como Foucquet, o homem da máscara de ferro, Duque de O’rleans e Voltaire (CARAMEZ, 2019, n.p). Em agosto de 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi aprovada pela Assembleia Constituinte, garantindo a igualdade de todos perante a lei. Já em 1792, os jacobinos assumem o controle da Assembleia e passam a defender mais direitos para os mais pobres, uma participação maior no governo, o fim da monarquia, a abolição da escravidão nas colônias francesas, educação para todos, fim dos privilégios, entre outros. DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO DE 1789. Os representantes do povo francês, constituídos em Assembleia Nacional, considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção dos Governos, resolveram expor em declaração solene os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, constantemente presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre sem cessar os seus direitos e os seus deveres; a fim de que os atos do Poder legislativo e do Poder executivo, a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reclamações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral. Por consequência, a Assembleia Nacional reconhece e declara, na presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão: Artigo 1º- Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum. Artigo 2º- O fim de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. Artigo 3º- O princípio de toda a soberania reside essencialmente na nação. Nenhuma corporação, nenhum indivíduo, pode exercer autoridade que aquela não emane expressamente. 9 Artigo 4º- A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão os que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Esses limites apenas podem ser determinados pela Lei. Artigo 5º- A Lei não proíbe senão as ações prejudiciais à sociedade. Tudo o que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. Artigo 6º- A Lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através dos seus representantes, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, quer se destine a proteger quer a punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Artigo 7º- Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela Lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser castigados; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da Lei deve obedecer imediatamente, senão torna-se culpado de resistência. Artigo 8º- A Lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias, e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Artigo 9º- Todo o acusado se presume inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor não necessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela Lei. Artigo 10º- Ninguém pode ser inquietado pelas suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, contando que a manifestação delas não perturbe a ordem pública estabelecida pela Lei. Artigo 11º- A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo o cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na Lei. Artigo 12º- A garantia dos direitos do homem e do cidadão carece de uma força pública; esta força é, pois, instituída para vantagem de todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada. Artigo 13º- Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração, é indispensável uma contribuição comum, que deve ser repartida entre os cidadãos de acordo com as suas possibilidades. Artigo 14º- Todos os cidadãos têm o direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, a necessidade da contribuição pública, de consenti-la 10 livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração. Artigo 15º- A sociedade tem o direito de pedir contas a todo o agente público pela sua administração. Artigo 16º- Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação dos poderes, não tem Constituição. Artigo 17º- Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir evidentemente e sob condição de justa e prévia indenização. Fonte: (SATIE, 2016 p.23 a 27), adaptado pelo DI (2019). O texto da Declaração dos Direitos do Homem nos apresenta uma concepção iluminista, na qual os ideais de liberdade, emancipação e autonomia destacam-se. Ideais que influenciaram lutas e insurreições por todo o mundo ocidental, como também a própria Constituição Francesa de 1791, que estabeleceu a divisão dos três poderes em executivo, legislativo e judiciário, além de promulgar a igualdade civil. Outra questão de grande importância reside na defesa da liberdade de expressão, que assegura o livre pensamento e o poder da argumentação, estimulando a importância da educação. Nessa mesma direção, estabelecem- se as bases da nossa discussão sobre o respeito à diversidade religiosa. Pode-se perceber que a Declaração dos Direitos do Homem foi um importante marco na concepção dos Direitos Humanos, uma base para as discussões que até hoje enfrentamos. Contudo, o próximo marco que estudaremos é ainda mais relevante para o aprofundamento do nosso debate: a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. 1.2 Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 “A Segunda Guerra Mundial foi uma das maiores catástrofes da humanidade e estimam-se entre 40 e 72 milhões de mortos. O conflito durou de 1939 a 1945 e trouxe sequelas até então inimagináveis para a humanidade”, (CARAMEZ, 2019, n.p). 11 À medida que as atrocidades nazistaseram denunciadas, a humanidade escandalizava-se e apavorava-se com a possibilidade de aqueles, até então, crimes inomináveis se repetirem. Nesse período, foram criados termos como “crime contra a humanidade” e “genocídio”, para explicar o requinte de crueldade dos nazifascistas e a enorme quantidade de pessoas atingidas por eles, o que também é conhecido por nós como Holocausto ou Shoá. Reflita Como seria possível impedir que crimes semelhantes acontecessem? Como poderia-se punir crimes em grande escala como aqueles? De acordo com Fábio Konder Comparato, no decorrer da sessão de 16 de fevereiro de 1946 do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, estabeleceu-se que deveria ser criada uma Comissão de Direitos Humanos responsável pela elaboração de uma declaração de direitos humanos, um tratado ou convenção internacional e mecanismos que possibilitassem assegurar que não houvesse desrespeito ou violação dos direitos humanos, (CARAMEZ, 2019, n.p). Infelizmente, a última etapa ainda não foi totalmente concluída devido ao fato de as reclamações à Comissão de Direitos Humanos estarem condicionadas a um protocolo facultativo, inserido no pacto sobre direitos civis e políticos. Saiba mais Contudo, tais problemas não diminuem a importância histórica na produção do documento que recobrava as ideias da Revolução Francesa de forma universal, propondo valores de liberdade, igualdade e fraternidade entre os seres humanos, o que fez com que a Declaração de 1948 chegasse ao ponto de se tornar uma referência básica de respeito e de dignidade humana para os textos jurídicos internacionais (CARAMEZ, 2019, n.p.). Como afirmado anteriormente, pode-se considerar que a Declaração é fruto de um dos episódios mais trágicos da história da humanidade, em que defendia-se a superioridade de uma raça sobre as outras, e que tamanho 12 sofrimento levou a humanidade à aclamação da igualdade como a essência do ser humano no que se refere à dignidade da pessoa, “independentemente das diferenças de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição, como se diz em seu artigo II.” (DUDH 2009, n.p). A partir de então, distinguiu-se que a ideia de superioridade de uma raça, classe social, cultura ou religião, sobre outras, põe em risco a própria sobrevivência da humanidade. Somente em 1966 ficou pronto o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que apresentava a cada Estado-nação os 53 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e, em seu preâmbulo, constava: Os Estados-partes no Presente Pacto, Considerando que, em conformidade com os princípios proclamados na Carta das Nações Unidas, o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade inerente à pessoa humana, Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o ideal do ser humano livre, no gozo das liberdades civis e políticas e liberto do temor e da miséria, não pode ser realizado, a menos que se criem as condições que permitam a cada um gozar de seus direitos civis e políticas, assim como de seus direitos econômicos, sociais e culturais, Considerando que a Carta das Nações Unidas impõe aos Estados a obrigação de promover o respeito universal e efetivo dos direitos e das liberdades da pessoa humana, Compreendendo que o indivíduo, por ter deveres para com seus semelhantes e para com a coletividade a que pertence, tem a obrigação de lutar pela promoção e observância dos direitos reconhecidos no presente Pacto, (ONU, 1966.n.p). A dignidade humana passa a ser associada totalmente ao conceito de liberdade, seja ela pessoal, política ou religiosa. Uma liberdade que precisa ser fruto da justiça e da paz no mundo e, portanto, associada ao dever da sua promoção e defesa, a fim de que cada ser humano seja capaz de atingi-la. As sedimentações desses conceitos como constituintes de uma moral universal dependiam, e ainda dependem, de um esforço metódico para se educar em Direitos Humanos. Sim, a educação é a grande essência para a 13 consolidação desses direitos. Sem ela, limita-se o conceito ao papel, deixando- se de lado sua aplicação na vida prática humana. Saiba mais Depois da II Guerra Mundial, que destruiu diversos países e tomou a vida de milhões de seres humanos, existia na comunidade internacional um sentimento generalizado de que era necessário encontrar uma forma de manter a paz entre os países. Porém, a ideia de criar a ONU não surgiu de uma hora para outra! Para saber mais, acesse o link: https://nacoesunidas.org/conheca/historia/ Conclusão da aula 1 Prezado estudante, chegamos ao final desta aula. Você conheceu um pouco do histórico das discussões sobre os Direitos Humanos, desde o período da Revolução Francesa, em 1789. Com esse estudo, foi possível aprender as relações entre os ideais iluministas, as reivindicações da sociedade francesa, o processo revolucionário e a elaboração da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Por fim, você pôde observar as discussões que antecederam e produziram a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 como uma forma de garantir que situações ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial jamais voltassem a ocorrer, o que acabou se tornando uma referência básica de respeito e de dignidade humana para os textos jurídicos internacionais. Atividades de aprendizagem 1. Após aprendermos sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos e sob quais circunstâncias ela foi elaborada, relacione sua construção com os ideais iluministas, as condições de vida da maior parte da população francesa e o processo revolucionário de 1789. 2. Sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, responda: que motivos levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) a escreverem a Declaração? https://nacoesunidas.org/conheca/historia/ 14 Aula 2 – Ditadura civil-militar no Brasil: violações dos Direitos Humanos Apresentação da aula 2 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à segunda aula desta disciplina, em que serão discutidas as violações aos Direitos Humanos ocorridas durante a Ditadura Civil-militar no Brasil, estabelecendo como fonte principal o Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade. Também serão apresentados alguns elementos de resistência às violações durante o período ditatorial e, no decorrer do processo de redemocratização, a promulgação da Constituição Cidadã de 1988. É importante lembrar que o foco da aula se encontra nos Direitos Humanos, dessa forma, não será aprofundada a História de toda a Ditadura Civil- militar, a resistência, nem o processo de redemocratização iniciado no final da década de 1970. 2.1 A Ditadura civil-militar no Brasil Na madrugada de 31 de março de 1964, dava-se início a um dos períodos mais sombrios da História do Brasil, que duraria mais de vinte anos: a Ditadura Civil-militar. Ela teve início com um golpe de Estado promovido pelos militares, apoiado pelo grande capital brasileiro e financiado pelos Estados Unidos da América (CARAMEZ, 2019, n.p). Já nos primeiros dias após o golpe, iniciou-se uma forte repressão a todos aqueles que, de alguma forma, eram ligados ao âmbito político de esquerda. Milhares de pessoas ligadas à UNE (União Nacional de Estudantes), à Ação Popular, Ligas Camponesas e à Juventude Universitária Católica (JUC), por exemplo, foram presas de forma irregular. Começava-se um período de retirada de direitos democráticos e humanos no país. Pode-se acrescentar vários casos de brutalidade e torturas contra civis e a prisão de mais de cinco mil pessoas. O primeiro Ato Institucional (AI)foi promulgado para justificar as práticas que se seguiram. O mês de abril de 1964 foi marcado pela abertura de centenas de Inquéritos Policiais-Militares (IPMs) que tinham o objetivo de apurar qualquer tipo de atividade considerada subversiva. 15 Curiosidade Atos Institucionais (AI’s) eram decretos de determinação presidencial que não eram discutidos por deputados e senadores que pudessem vetá-los ou reformá- los. Esses Atos se sobrepunham, inclusive, à Constituição. No mesmo ano, milhares de pessoas foram afetadas: funcionários públicos, civis e militares foram demitidos ou aposentados contra a sua vontade, cidadãos tiveram seus direitos políticos suspensos e parlamentares tiveram seus mandatos cassados. Dentre os parlamentares cassados estavam: Luís Carlos Prestes, Jânio Quadros, Miguel Arraes, Leonel Brizola e João Goulart. Com o Ato Institucional nº2 (AI-2), de 27 de outubro de 1965, ampliam-se os poderes dos militares no que se refere ao julgamento de Governadores, por exemplo, e estabelece-se que as eleições presidenciais serão realizadas de forma indireta, ou seja, retirou-se o direito democrático das eleições diretas para presidente e vice-presidente da República. O AI- 3, de 5 de fevereiro de 1966, estende as eleições indiretas para os cargos de Governador e vice-governador e acrescenta que prefeitos e vice- prefeitos passariam a ser indicados pelos governadores, desde que apreciados pela Assembleia Legislativa. Os diretos democráticos eram cada vez mais dilapidados. O AI-4, de 7 de dezembro de 1966, convoca o Congresso Nacional para discussão, votação e promulgação do Projeto de Constituição apresentado pelo Presidente da República. O mais violento ataque aos direitos democráticos e de liberdade (garantidos na Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948) ainda estava por vir, era o Ato Institucional nº5 (AI-5), de 13 de dezembro de 1968. A partir desse Ato, suspendia-se a garantia do habeas corpus para determinados crimes e dava- se os seguintes poderes ao Presidente da República: decretar estado de sítio, intervenção federal (sem os limites constitucionais), a suspensão de direitos políticos e restrição ao exercício de qualquer direito público ou privado, a cassação de mandatos eletivos, o fechamento do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, além de poder excluir https://pt.wikipedia.org/wiki/5_de_fevereiro https://pt.wikipedia.org/wiki/1966 16 da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos Complementares decorrentes. Com a suspensão do habeas corpus, interrompeu-se a possibilidade de se garantir a vida e a própria liberdade de diversos presos políticos. Uma das leis decorrentes do AI-5 extinguiu a necessidade de mandados de prisão ou busca e apreensão, bastava uma simples denúncia anônima de subversão para que se invadissem residências, empresas, qualquer lugar para buscar algo ou prender alguém. Vocabulário O habeas corpus: é uma ação judicial que tem como objetivo proteger o direito de liberdade de locomoção do lesado ou ameaçado por algum ato abusivo de autoridade. O cientista político Marcus Figueiredo realizou um levantamento que apresenta que, entre os anos de 1964 e 1973, 4.841 pessoas foram punidas “com perda de direitos políticos, cassação de mandato, aposentadoria e demissão”, dentre eles estavam senadores, deputados e vereadores, dirigentes sindicais, funcionários públicos, professores e pesquisadores. O relatório final da Comissão da Verdade acrescenta que cerca de 430 pessoas foram mortas ou estão desaparecidas. A Comissão Nacional da Verdade (CNV), de 18 de novembro de 2011, foi instituída para apurar e esclarecer publicamente as graves violações de Direitos Humanos praticadas no Brasil durante os anos de 1946 e 1988. Com ela, buscou-se assegurar o resgate da memória e da verdade sobre o período e fortalecer os valores do Estado Democrático de Direito e os Direitos Humanos. O primeiro volume do relatório categoriza os métodos e práticas nas graves violações de Direitos Humanos e suas vítimas da seguinte forma: A) Detenção (ou prisão) ilegal ou arbitrária; 17 B) Tortura (tortura em caso de detenção, em caso de violência sexual, tortura a familiares das vítimas de graves violações de direitos humanos, tortura praticada por funcionários públicos, especialmente médicos e médico-legais; C) Execução sumária, arbitrária ou extrajudicial, e outras mortes imputadas ao Estado; D) Desaparecimento forçado e ocultação de cadáver (CNV, 2014). Vale a pena ressaltar que o capítulo 9 do relatório demonstra que a tortura, praticada durante o regime militar, configurou a prática de crime contra a humanidade. Ainda no relatório, pode-se encontrar os resultados das investigações das violações sistêmicas de Direitos Humanos contra os povos indígenas, classificadas como omissões e ações diretas. São reconhecidas oficialmente 8.350 mortes de indígenas fruto das ações do governo ditatorial, mas considera- se a possibilidade desse número ser bem maior. A categorização das violações de Direitos Humanos dos povos indígenas divide-se em: o “esbulho de terras indígenas pela política fundiária posta em prática; a usurpação de trabalho indígena e o confinamento e abuso de poder”. (CNV, 2014, p.200). Pode-se destacar que as investigações revelaram um destaque para os atravessamentos da política territorial, em especial as remoções forçadas empreendidas contra várias comunidades indígenas. Vocabulário Esbulho: ato de roubo pelo qual uma pessoa é privada, ou espoliada, de coisa de que tenha propriedade ou posse. Usurpação: de acordo com o Direito Penal, crime de apoderamento ilícito de coisas, bens, títulos, estado, autoridade e entre outros. Inúmeras violações de direitos humanos, ocorridas durante o governo ditatorial, foram denunciadas tanto à imprensa quanto aos órgãos competentes, mas nunca chegavam ao conhecimento da população. A ausência de liberdade 18 de expressão e os órgãos responsáveis pela censura impediam isso. Não era raro o “desaparecimento” ou prisão de algum jornalista ou advogado mais insistente na defesa das liberdades democráticas. Mesmo assim, existiam grupos de resistência clandestinos e grupos de advogados que lutavam intensamente por um mínimo de garantias relacionadas aos direitos humanos e liberdades democráticas. “Foram esses grupos os responsáveis pela formação política de diversos operários que lutavam dentro e fora dos sindicatos, organizando os trabalhadores e trabalhadoras que participaram da onda de greves de 1978 e deram início ao processo de redemocratização do Brasil” (CARAMEZ, 2019, n.p). 2.1.1 A Constituição Cidadã de 1988 O governo de Ernesto Geisel (1974-1978) foi marcado pelo processo inicial de abertura política de forma “lenta, gradual e segura”. Era um período de profunda crise econômica, com altíssima inflação, o que levou a uma crise política expressa nos comércios, nas fábricas, levando a população a um gradual e silencioso descontentamento. A abertura do país substituiria mecanismos da ditadura, mas garantiria que a participação da população seria controlada. Os movimentos sociais tiveram participação importante ao exercerem pressão para a abertura política do país naquele momento, mas não conseguiram garantir que ela ocorreria de forma democrática, pois isso demandaria imensas reformas nos mecanismos políticos. A abertura política dependia da recomposição de algumas reconfigurações institucionais, dentre elas a reforma partidária, que se deu com o retorno do pluripartidarismo, mas isso, não significou a participação democrática da população nos pleitos eleitorais. A reforma tinha como objetivo principal a divisão da oposição, contudo, não foi o que aconteceu nas eleições de 1982para Governadores, pois ela fortaleceu a oposição à ditadura. No ano de 1983, surgem as primeiras mobilizações que deram origem ao movimento pelas “Diretas Já”, que, em 1984, mobilizou a população brasileira em imensos comícios por todo o país. Diversos artistas e redes de televisão apoiaram o movimento de eleições diretas para presidente. Infelizmente, tais eleições só aconteceriam em 1989. 19 Tancredo Neves vence as eleições indiretas para presidente de 1985, era a primeira vez em 20 anos que o Brasil voltava a ter um presidente civil, mas não chega a governar. Com o falecimento de Tancredo, assume José Sarney, que ficou responsável pela organização da Assembleia Constituinte. Diante desse cenário, criou-se uma esperança de que houvesse o avanço da democratização e, com ela, a conquista da cidadania livre e plena. Esse processo de emergência da sociedade civil e da transição para o modelo democrático culminou na Constituinte, a qual passou a ser vislumbrada como uma oportunidade, por diversos setores da sociedade, de expressarem suas concepções e visões de mundo, dando os contornos dos caminhos que a nação assumiria a partir de então. Em meio às mobilizações da sociedade civil e pelo surgimento de novos movimentos sociais, a esquerda enxergava na Constituinte a possibilidade de uma forma de refundação do país e, por outro lado, a direita almejava ou a permanência das coisas ou, ao menos, o mínimo de mudanças desde que conservassem o status quo sob uma roupagem mais moderna. O texto constitucional de 1988 é marcado pela defesa dos direitos fundamentais e humanos, no qual o homem se sobrepõe ao Estado. As garantias e os direitos fundamentais do cidadão são abordados nos primeiros artigos. Já em seu primeiro artigo é determinado o princípio da cidadania, da dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Promulgação da Constituição de 1988 Fonte:http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-10/referencia-da-historia- contemporanea-constituicao-completa-30-anos http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-10/referencia-da-historia-contemporanea-constituicao-completa-30-anos http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-10/referencia-da-historia-contemporanea-constituicao-completa-30-anos 20 Não é por acaso que a Constituição de 1988 é conhecida como Constituição Cidadã, pois direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais dos cidadãos estão em seu texto, colocando o Brasil como um dos países com o mais completo ordenamento jurídico em relação aos direitos humanos. Era preciso garantir que nunca mais o país sofreria com uma ditadura que violasse os direitos humanos como outrora. Segundo Flávia Piovesan, a Constituição de 1988 é a demarcação jurídica do processo de redemocratização do Estado brasileiro, ao consolidar, rompendo com o regime autoritário militar instalado em 1964, um novo código, que refizesse o pacto político-social: “A institucionalização dos direitos humanos no Brasil”. Insere, então, um grande avanço na concretização legislativa das garantias e direitos fundamentais, principalmente, no que se refere à proteção de setores vulneráveis da sociedade brasileira. A partir dela, os direitos humanos ganham uma amplitude espetacular. “Ao alargar consideravelmente o universo dos direitos fundamentais, a Carta de 1988 destaca-se como uma das Constituições mais avançadas do mundo, no que respeita à matéria” (PIOVESAN, 2018, p.20). A autora destaca que o próprio preâmbulo da Carta Magna esboça a consolidação de um Estado Democrático de Direito "destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem- estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos [...]" (BRASIL, 1988). Dentre seus preceitos como Estado Democrático de Direito estão a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia do desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, isso tudo no artigo 3º da Constituição de 1988. Ou seja, a Carta de 1988 elege como principal valor a ser defendido a dignidade humana. Piovesan também indica que a Carta de 1988, da mesma forma que consolida a extensão de titularidade de direitos, acenando à existência de novos sujeitos de direitos, também estabelece o aumento da quantidade de bens 21 merecedores de tutela, mediante a ampliação de direitos sociais, econômicos e culturais. Saiba mais O documento sobre a proteção dos Direitos Humanos no sistema constitucional brasileiro tem por objetivo demosntrar a proteção dos direitos humanos à luz da Constituição Brasileira de 1988, bem como o impacto das reformas constitucionais, no que tange ao constitucionalismo de direitos por ela introduzido. Disponível em: http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista5/5rev4.htm Acesso em: 19/09/2019. Constituição federal brasileira Fonte:https://media.gazetadopovo.com.br/2018/10/557814f13a9cfd21252d81c7470548 13-gpLarge.jpg Nessa direção, a Constituição de 1988, além de apresentar, no artigo 6º, que "são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados", ainda indica uma ordem social com um amplo espectro de http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista5/5rev4.htm 22 normas que discorrem sobre programas, tarefas, diretrizes e fins a serem observados pelo Estado e pela sociedade. Entre os deveres do Estado e direitos do cidadão, destaca-se a saúde (art. 196), a educação (art. 205), a cultura (art. 215), as práticas desportivas (art. 217), a ciência e a tecnologia (art. 218), dentre outros. Mas como a Carta Magna de 1988 assegura a proteção dos Direitos Humanos? O ponto de partida encontra-se nas ideias de universalidade e indivisibilidade desses direitos (CARAMEZ, 2019, n.p). No que se refere à universalidade dos direitos humanos, a Constituição Cidadã seleciona a dignidade humana como a concepção central do seu texto, sendo inerente à condição da pessoa, proibindo-se qualquer discriminação, ou seja, todos são iguais e devem ter a inviolabilidade dos direitos e garantias fundamentais asseguradas. Acrescente-se a isso que a afirmação da universalidade dos direitos humanos é de interesse da comunidade internacional e, portanto, ultrapassa as fronteiras do Estado brasileiro. O Brasil continua inovando na redação da Constituição ao alinhar-se ao contexto internacional não só com a centralidade na defesa dos direitos humanos, como também quando adota o repúdio ao racismo e ao terrorismo, além da concessão de asilo político e cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, (BRASIL, 1988, art. 4º, incs. VIII, IX, X). A opção da Carta é clara ao afirmar que os direitos sociais são direitos fundamentais, sendo, pois, inconcebível separar os valores liberdade (direitos civis e políticos) e igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais), assumindo a concepção contemporânea de direitos humanos no sentido da universalidade e a indivisibilidade desses direitos. Deve-se propagar a ideia de que os direitos sociais, econômicos e culturais são autênticos, verdadeiros e fundamentais e, por isso, devem ser reivindicados e compreendidos como direitos, e não como caridade ou generosidade. Mas como fazê-lo? Um dos caminhos mais importantes é por meio da educação, voltando-a para os direitos humanos e para o respeito à dignidade humana. Por fim, levanta-se a necessidadede se discutir uma ampliação aos órgãos de proteção dos direitos humanos, bem como a formalização das normas, 23 criminalizações e punições para aqueles que os infringirem. Acredita-se que essa medida é essencial para o combate da impunidade, mesmo que em muitas regiões do país as instituições locais mostram-se falhas, incapazes e omissas quanto ao dever de responder a casos de violação de direitos humanos. Conclusão da aula 2 Chegamos ao final desta aula e aprendemos sobre uma fase obscura da nossa história recente, na qual tivemos violações sistêmicas dos direitos humanos, em que houve muitos crimes contra a humanidade ocorridos durante a Ditadura Civil e militar. Nesse sentido, os traumas causados pelo governo ditatorial foram a mola propulsora para a construção de um texto constitucional que defenderia os direitos humanos como direitos intrínsecos à dignidade humana, respeitando os acordos internacionais e indo para além deles na defesa dos direitos humanos como parte integrante do Estado Democrático de Direito, criando-se uma Constituição Cidadã capaz de impedir que qualquer forma de ditadura voltasse a acontecer no Brasil. Atividade de aprendizagem Faça uma pesquisa sobre quem foram os “presidentes” na era militar no Brasil, diante disso, pesquise os contextos ocorridos durante os governos militares e faça uma síntese sobre a redemocratização brasileira. 24 Aula 3 – Novos direitos humanos Apresentação da aula 3 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à terceira aula desta disciplina. Neste momento, estudaremos um pouco sobre os “Novos Direitos Humanos” que surgiram, principalmente, a partir das discussões e reivindicações dos movimentos sociais no Brasil e no mundo. Vamos começar? 3.1 Princípios universais para o milênio A aula que se inicia baseia-se nos textos da Organização das Nações Unidas, que parte da visão de que os Direitos Humanos são próprios a toda mulher, homem e criança, sendo todos igualmente importantes e não podem ser colocados em uma hierarquia. Em outras palavras, nenhum direito humano pode ser realizado em sua plenitude sem levar em consideração todos os demais. Se um direito for negado, dificulta-se a apropriação dos outros. Em setembro do ano 2000, Chefes de Estado e de Governo reuniram-se, na sede da ONU, em Nova Iorque, para reafirmar seu apoio à Carta como instrumento fundamental para um mundo mais pacífico, próspero e justo. Durante a reunião, ratificaram-se os valores e princípios universais a serem defendidos no milênio que se iniciaria (CARAMEZ, 2019, n.p). Dentre eles, estava o reconhecimento da incumbência coletiva de respeitar e defender os princípios da dignidade humana, da igualdade, de modo mundial, principalmente com relação às crianças, que são o nosso futuro. Vocabulário Equidade: igualdade, simetria, retidão, imparcialidade, conformidade e a manifestação do senso de justiça. 25 Fonte:https://jornalatual.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Igualdade-e-Equidade- 1024x724.jpg Naquele contexto, reafirmaram-se as adesões às intenções da Carta das Nações Unidas no que se refere, essencialmente, à decisão de organizar uma paz justa e duradoura em todo o mundo, de acordo com os propósitos e princípios do documento (CARAMEZ, 2019, n.p). A finalidade disso era: Apoiar todas as tentativas que objetivam fazer respeitar a igualdade e soberania de todos os Estados e o respeito pela sua integridade territorial e independência política; A conclusão dos conflitos por meios pacíficos e em concordância com os princípios de justiça e do direito internacional; O direito à autodeterminação dos povos que permanecem sob domínio colonial e ocupação estrangeira; A não intervenção nos assuntos internos dos Estados; O respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais; O respeito pela igualdade de direitos de todos, sem distinções por motivo de raça, sexo, língua ou religião e a solidariedade internacional para superar os problemas internacionais de carácter econômico, social, cultural ou humanitário. Ressalta-se aqui a preocupação em não se sobrepor à soberania nacional dos Estados, sem a interferência em questões internas, desde que observados os princípios da dignidade humana e das liberdades fundamentais. Por conta 26 disso, é um grande desafio conseguir uma face mais humana para o processo de globalização, uma forma que faça com que os todos os povos e nações consigam ter acesso a uma distribuição mais justa dos benefícios alcançados por meio dela. Percebe-se que foi importante o reconhecimento de que os países em desenvolvimento e os países com economias em transição atravessam grandes dificuldades para resolver esse problema fundamental e que só se pode conseguir tais objetivos se as nações estiverem sob a concepção de uma condição humana comum, respeitando-se sua diversidade, podendo assim alcançar uma globalização que prime pela equidade e favoreça a inclusão. Para tanto, foram considerados alguns valores fundamentais para as relações internacionais no século XXI. Entre eles, encontram-se: A liberdade; A igualdade; A solidariedade; A tolerância; Respeito pela natureza. A liberdade refere-se ao direito de homens e mulheres viverem suas vidas e criarem seus filhos de forma digna, “livres da fome e livres do medo da violência, da opressão e da injustiça”. Considera-se que a forma mais eficaz de se garantirem esses direitos seja por intermédio de governos de democracia participativa eleitos democraticamente pelo povo. A igualdade defende que nenhuma pessoa ou nação pode ser desprovida da possibilidade de se beneficiar do desenvolvimento, ou seja, a igualdade de possibilidades entre homens e mulheres deve ser garantida. A solidariedade precisa estar em consonância com os princípios fundamentais da equidade e da justiça social, de forma que aqueles que sofrem, ou se beneficiam menos, precisam ser ajudados por aqueles que se beneficiam mais. A tolerância é concebida por meio do respeito mútuo entre os seres humanos, considerando-se sua diversidade de crenças, culturas e línguas. 27 Assim, não se é aceita nenhuma forma de repressão às diferenças dentro das sociedades, nem entre estas. As diversidades humanas precisam ser entendidas como bens preciosos de toda a humanidade, sendo dever de todos promover ativamente uma cultura de paz e diálogo entre todas as civilizações. O respeito pela natureza ancora-se no desenvolvimento sustentável, defendendo-se maneiras de conservação e proteção de todas as espécies e recursos naturais. Só por intermédio das mudanças nas formas atuais de produção e consumo que será possível a garantia do bem-estar de gerações futuras. 3.1.1 Direitos humanos, democracia e boa governança No que refere-se aos Direitos Humanos, à Democracia e à boa Governança, a ONU e as nações signatárias concordaram em centrar seus esforços para defender o respeito a todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, bem como o fortalecimento do estado de direito e o direito ao desenvolvimento. Assim decidiram: Respeitar e fazer aplicar integralmente a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esforçar-nos por conseguir a plena proteção e a promoção dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais de todas as pessoas, em todos os países. Aumentar, em todos os países, a capacidade de aplicar os princípios e as práticas democráticas e o respeito pelos direitos humanos, incluindo os direitos das minorias. Lutar contra todas as formas de violência contra a mulher e aplicar a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Adotar medidas para garantir o respeito e a proteção dos direitoshumanos dos migrantes, dos trabalhadores migrantes e das suas famílias, para acabar com os atos de racismo e xenofobia, cada vez mais frequentes em muitas sociedades, e para promover uma maior harmonia e tolerância em todas as sociedades. Trabalhar coletivamente para conseguir que os processos políticos sejam mais abrangentes, de modo a permitirem a participação efetiva de todos os cidadãos, em todos os países. Assegurar a liberdade dos meios de comunicação para cumprir a sua indispensável função e o direito do público de ter acesso à informação. (VON, 2003, p.111). 28 Vocabulário Nações signatárias: significa que tal nação subscreveu a algum tipo de manifesto, contrato, acordo, carta ou outro documento com o qual concorda com o conteúdo apresentado. Por exemplo, o Brasil é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O acordo firmado revela algumas das novas concepções de Direitos Humanos, como a promoção do aumento dos direitos civis, políticos, culturais e sociais, ampliação dos direitos das minorias, a luta pela eliminação de qualquer forma de discriminação contra as mulheres, acabar com o racismo e a xenofobia e defender os direitos dos migrantes, aumentando a harmonia e a tolerância entre os povos, a defesa de que os processos políticos tenham a participação de todos os cidadãos em seus países e garantir a liberdade dos meios de comunicação e acesso à informação. Curiosidade A Declaração Universal dos Direitos do Homem está no Guinness book como o documento mais traduzido do mundo, disponível em 512 idiomas, de abkhazia a zulu. Disponível em: https://nacoesunidas.org/onu-publica-textos-explicativos- sobre-cada-artigo-da-declaracao-universal-dos-direitos-humanos/ As áreas de ação da sociedade civil e do sistema dos Direitos Humanos das Nações Unidas integram-se de forma direta com a defesa das liberdades públicas, orientadas pelo princípio da não discriminação, sendo organizadas nas seguintes declarações e pactos: A Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigos 19, 20, 21); O Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos prevê os direitos de liberdade de opinião e expressão, de reunião pacífica e associação, assim como de participação na vida pública (artigos 19, 21, 22, 25); https://nacoesunidas.org/onu-publica-textos-explicativos-sobre-cada-artigo-da-declaracao-universal-dos-direitos-humanos/ https://nacoesunidas.org/onu-publica-textos-explicativos-sobre-cada-artigo-da-declaracao-universal-dos-direitos-humanos/ 29 O Pacto Internacional sobre os direitos econômicos, sociais e culturais prevê o direito de criar ou participar num sindicato e de participar na vida cultural (artigos 8, 15); A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher prevê o direito das mulheres de participarem na vida política, económica e cultural (artigo 3); A Convenção Internacional sobre a Eliminação da Discriminação Racial proíbe a discriminação em relação ao direito de expressão, de reunião pacífica e de associação, assim como na condução dos assuntos públicos (artigo 5); A Convenção sobre os Direitos da Criança prevê o direito às liberdades de expressão, reunião pacífica e associação (artigos 13, 15); A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência garante os direitos às liberdades de opinião e expressão, de acesso à informação, de participação na vida política, pública e cultural (artigos 21, 29, 30); A Convenção Internacional para a Proteção de todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados prevê o direito de formar e participar livremente em organizações e associações que visem contribuir para o estabelecimento das circunstâncias dos desaparecimentos forçados e do destino das pessoas desaparecidas, assim como de assistir as vítimas de desaparecimento forçados (artigo 24); A Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e seus Familiares prevê o direito de associação (artigo 26), (ONU, 2014, n.p). A Organização das Nações Unidas dá uma grande ênfase às liberdades de expressão, reunião pacífica e associação, como também ao direito de participar nos assuntos públicos, pois, na sua perspectiva, servem de condutores para o exercício de muitos outros direitos civis, culturais, econômicos, políticos e sociais, o que estimula a mobilização de mulheres, homens e crianças em atividades de promoção de transformações positivas da sociedade. A importância das liberdades de expressão, reunião pacífica e a participação nos assuntos públicos está no fato de serem estes os pilares dos Estados democráticos de direito. Em diferentes ditaduras, a humanidade teve a oportunidade de ver que os primeiros direitos a serem debelados são aqueles ligados à liberdade, e só há liberdade em Estados democráticos. Vocabulário Debelar: significa erradicar, jugular, reprimir, subjugar, sufocar. 30 A concepção de liberdade de expressão da ONU abrange o direito de procurar, receber e comunicar informações e ideias de todo o tipo. Sua aplicação relaciona-se às informações e ideias desenvolvidas nos discursos políticos ou religiosos, nos assuntos públicos, na área dos direitos humanos, assim como no domínio da expressão cultural e artística. Envolve formas de expressão que para a sociedade civil podem ser consideradas como profundamente ofensivas e suscetíveis de restrições, desde que não incitem o ódio e a violência, colocando em risco o Estado democrático de direito. Nesse sentido, todas e quaisquer formas de comunicação e os meios de difusão devem ser protegidos, por exemplo, linguagens orais, gestuais ou escritas e as formas de expressão não verbais (as imagens e os objetos de arte). Além disso, o diálogo também é possível por meio de livros, jornais, panfletos, cartazes, bandas desenhadas, bandeirolas, vestuário ou alegações de direito. A Liberdade de associação está compreendida como qualquer associação de grupo de indivíduos ou entidade formados para agir, exprimir, promover, prosseguir e defender coletivamente interesses comuns. Assim, a liberdade de associação pode revelar-se sob a forma de adesão e de participação, ou de não participação, “em organizações da sociedade civil, clubes, cooperativas, organizações não governamentais, associações religiosas, partidos políticos, sindicatos, fundações ou associações em espaço virtual”, (ONU, 2014, n.p). A capacidade de procurar, assegurar e utilizar recursos é fundamental para a existência e o funcionamento eficaz de qualquer associação, por mais pequena que seja. A liberdade de associação inclui a capacidade de solicitar, receber e utilizar recursos – humanos, materiais e financeiros – quer sejam de origem nacional, estrangeira ou internacional. (A/HRC/23/39, p. 8). “No que se refere à Liberdade de reunião pacífica, entende-se como um agrupamento temporário, não violento, em local público ou privado, com um objetivo específico, tais como: manifestações, greves, procissões, reuniões ou vigílias”, (CARAMEZ, 2019, n.p). As Nações Unidas também defendem o direito de participar nos assuntos públicos como uma forma de exercício do poder político, desde que se dê por 31 meio de eleições democráticas, nas quais a população tenha a possibilidade de escolher livremente seus representantes nas esferas governamentais. Além disso, o próprio direito à liberdade de associação e o direito de criar e de fazer parte de organizações e associações direcionadas à vida pública são colocados como elementos essenciais do direito de participar nos assuntos públicos. A totalidade dos direitos acima mencionados deve ser garantida, pelos países signatários, a todas as pessoas, sem qualquer tipo de distinção decorrente da raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política, identidade de gênero,origem nacional ou social, bens, nascimento ou qualquer outro estatuto. São direitos aplicáveis às mulheres, às crianças, aos povos indígenas, às pessoas com deficiência, às pessoas pertencentes a grupos minoritários, grupos em risco de marginalização ou de exclusão, às vítimas de discriminação devido à sua orientação sexual e à sua identidade de gênero, aos não nacionais, aos apátridas, aos refugiados ou aos migrantes, como também às associações e grupos não registados. Importante As normas internacionais destacadas aqui são aplicáveis a todas as esferas do Estado democrático de direito (executivo, legislativo e judiciário), da mesma forma que para as autoridades governamentais e da esfera pública, em todos os níveis (local, regional ou nacional). O Estado assume o encargo da proteção da pessoa humana contra os atos cometidos por indivíduos ou entidades privadas que possam prejudicar o usufruto dessas liberdades. É válido informar que os países signatários têm por principal responsabilidade a promoção e o exercício desses direitos. As liberdades de expressão, reunião pacífica e associação implicam responsabilidades e deveres específicos, pelo que o seu exercício pode ser sujeito a certas restrições. Qualquer restrição deve ser definida por lei e ser rigorosamente necessária para o cumprimento dos direitos ou da reputação de outrem, ou ainda para a salvaguarda da segurança nacional ou da ordem pública, da saúde ou da moralidade públicas. Estes motivos, não podem em caso algum, ser invocados para justificar o silenciamento da defesa da democracia multipartidária, dos valores democráticos e dos direitos humanos. (Comité dos Direitos Humanos, Comentário Geral n° 34, artigo 19: Liberdades de opinião e 32 expressão, CCPR/C/GC/34; e Comentário Geral n° 25, artigo 25: O direito de participar nos assuntos públicos, CCPR/C/21/Rev.1/Add.7. Relatórios do Relator Especial das Nações Unidas sobre os direitos das liberdades de reunião pacífica e associação, (A/HRC/20/27 e A/HRC/20/39). Por fim, a Organização das Nações Unidas preocupa-se em manter diálogo com os países em busca de novas ideias e instrumentos para garantir a dignidade da pessoa humana. Para tanto, indica a importância de compartilhar problemas e soluções para que se aprenda de forma mútua, além de enfatizar a necessidade de uma educação voltada para os Direitos Humanos como forma de conscientização e defesa dos Estados Democráticos. Sede da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque Fonte:https://lh3.googleusercontent.com/FGoDTPj8rp-jZ-_AmDcKbnq- 2HMd6pb5IHxpZzPywZf1WLl373YoCtRRtFkNzx8T3UyUJQ=s113 3.2 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou, em setembro de 2015, a Agenda 30, que é um novo compromisso universal, tendo em sua composição 169 metas distribuídas em 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Essas metas foram desenvolvidas com base nos objetivos de desenvolvimento do milênio e têm como objetivo central “concretizar os direitos 33 humanos de todos e alcançar a igualdade de gênero” até 2030, harmonizando os três pilares da sustentabilidade: economia, sociedade e meio ambiente. Observe, abaixo, os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares; 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável; 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades; 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos; 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas; 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos; 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos; 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles; 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis; 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos; 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável; 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade; 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis; 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável, (ONU, 2015, n.p). Como pode-se perceber, os objetivos fazem refletir, de uma forma mais profunda, sobre o problema da sustentabilidade, do respeito ao meio ambiente, até porque a humanidade só poderá gozar da plenitude da dignidade humana, por meio do respeito aos Direitos Humanos, se tiver um planeta para viver. Dessa forma, defender o planeta também faz parte da dignidade humana. 34 Conclusão da aula 3 Mais uma aula termina e desta vez com a ideia central de criarmos formas de defender os Direitos Humanos, objetivando a dignidade humana. Observamos como tem sido importante o papel da Organização das Nações Unidas como órgão que reúne nações que buscam colocar em prática os direitos da pessoa humana. Percebemos que, no decorrer do tempo e devido ao avanço em alguns aspectos sociais, surgiram das demandas dos movimentos sociais de todo o mundo novos Direitos Humanos, que precisamos defender e garantir, principalmente, aqueles relacionados à igualdade de gênero. Finalmente, em decorrência dos problemas climáticos e a previsão de escassez de recursos naturais, a humanidade coloca-se a pensar sobre uma atuação a longo prazo, visando à sustentabilidade do planeta, garantindo que a interação entre seres humanos e o meio ambiente preserve o planeta. Atividade de aprendizagem Escolha um dos objetivos abaixo e pesquise formas de atingi-lo em nosso país. Erradicação da pobreza; erradicação da fome; saúde de qualidade; educação de qualidade; igualdade de gênero; redução da desigualdade; paz e justiça; vida sobre a terra; vida debaixo da água; água limpa e saneamento; consumo responsável; inovação e infraestrutura; energias renováveis e mudanças climáticas 35 Aula 4 – Educação em Direitos Humanos Apresentação da aula 4 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à quarta aula desta disciplina. A partir de agora, você conhecerá um pouco mais sobre a relação da educação com os Direitos Humanos. 4.1 Relação da Educação com os Direitos Humanos Paulo Freire, um dos maiores educadores brasileiros, costumava defender que a educação é libertadora, ou seja, o ato de educar propicia àquele que aprende libertar-se por meio do conhecimento produzido ou adquirido. Isso não é exatamente o que foi estudado na aula anterior? Educar associando a liberdade à dignidade humana? Sendo o Brasil um dos signatários do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, desde 1992, cabe ao nosso Estado Nacional fomentar esforços no sentido de promover e defender tal pacto, e o principal método é a educação. Da mesma forma que os Direitos Humanos foramsofrendo transformações no decorrer do tempo, apresentando novas demandas relacionadas aos movimentos sociais, a discussão sobre a educação e os direitos da humanidade também sofre. Segundo Flávia Schilling (2014), conhecem-se três tipos de direitos associados à educação formal: o primeiro diz respeito à educação como um direito universal e que precisaria minimizar as diferenças sociais; o segundo trata da qualidade a ser garantida por meio do acesso intelectual e material à aprendizagem de todos e todas; o terceiro pauta-se nos estudos de Pierre Bourdieu e Jean Claude Fourquin sobre a cultura escolar, que levam em conta a diversidade cultural no ambiente escolar. Schilling acrescenta que tanto o primeiro quanto o segundo tipo de direito apresentam uma visão excludente da educação, pois não levam em conta as diferenças e tentam mascará-las quando possível, ou seja, não atingiriam a plenitude da dignidade humana defendida pelos Direitos Humanos. 36 Assim, não é possível conceber a educação para os Direitos Humanos desvinculada da ideia de respeito às diversidades culturais, intelectuais, socioeconômicas, de credo ou etnias. O processo educativo precisa estimular essa concepção de convívio e partilha entre os diferentes povos e culturas, assim como as diversidades encontradas no ambiente de escolarização. Os espaços de escolarização são locais privilegiados de transformação, por meio de métodos científicos, do senso comum em conhecimento científico na direção da construção de práticas escolares que respeitem a diversidade cultural, étnica, religiosa, de orientação sexual, política e assegurem a promoção dos Direitos Humanos, ou seja, necessita-se de atenção e de produção de conhecimentos no conjunto da escola, a partir do conjunto de saberes, experiências e vivências dos sujeitos. Dessa forma, praticar uma cultura marcada pelos Direitos Humanos pressupõe o desenvolvimento de processos de formação que propiciem mudanças de atitudes, comportamentos, valores e mentalidades dos diferentes sujeitos que deles participam. Na visão de Aida Monteiro e Selma Garrido Pimenta (2014), um outro aspecto significativo é que a concepção do(a) educador(a) como um agente sociocultural e político está conclamado a desenvolver uma “pedagogia do empoderamento”, ou seja, uma pedagogia crítica e democrática que vislumbre mudanças pessoais e sociais. Nesse contexto, o empoderamento é entendido como um processo de potencialização de pessoas ou grupos que detêm menos poder na sociedade e que estão silenciados, submetidos ou dominados em relações práticas da vida (sociais, políticas, econômicas, entre outras). Vê-se que o empoderamento realiza dois movimentos: um em relação à vida e outro em relação à sociedade. Esse prisma concebe a pessoa como um sujeito ativo, cooperativo e social. O cerne dessa perspectiva pedagógica é confrontar o crescimento individual à dinâmica social e à vida pública, construindo conhecimentos e práticas de questionamento crítico em relação às injustiças e desigualdades, às relações de poder, às discriminações e à mudança social. A pedagogia do empoderamento tem, por fim, a incumbência de encorajar atores, em diferentes esferas da sociedade mundial, a reconhecerem-se como sujeitos da sua própria história. Valorizar e reconhecer diferentes conhecimentos 37 e formas de saber e sua cultura de pertencimento carece de um trabalho ético de respeito ao outro. Assim, compreende-se que a educação em Direitos Humanos reconhece o outro como sujeito de direito e ator social. Uma das propriedades dessa proposta educacional é seu direcionamento para a transformação social e a formação de sujeitos de direitos, ou seja, uma educação libertadora, pois busca o empoderamento das pessoas e grupos sociais desfavorecidos, construindo uma cidadania ativa com a capacidade de reconhecer e reivindicar direitos e produzir uma sociedade democrática. 4.1.1 Como conceituar um sujeito de direito? Na perspectiva jurídica, o sujeito de direito é compreendido como a pessoa ou grupo capaz de usufruir de direitos e de cumprir com obrigações, principalmente, se for considerado o primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que diz: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, sendo assim, é correto afirmar que todas as pessoas são sujeitos de direitos. Você deve estar se perguntando como é possível trabalhar esse tipo de conceito com estudantes, empoderando-os em um país historicamente marcado por relações excludentes, que sempre inferiorizou índios, negros e mulheres, sendo esta uma sociedade patriarcal baseada em favorecimentos e apadrinhamentos, tais como no coronelismo? Muito bem. De acordo com Monteiro e Pimenta (2014), a simples afirmação de que todos são sujeitos de direitos pelo fato de serem humanos não é suficiente. Para se alcançar a dignidade, é necessário desenvolver quatro movimentos no processo educativo, de forma a desconstruir a mentalidade associada à visão do direito como favor. São eles: saber/conhecer os direitos, desenvolver uma autoestima positiva, promover a capacidade argumentativa e ser um(a) cidadão(ã) ativo(a) e participativo(a). Além disso, as autoras consideram esses quatro elementos fundamentais para a construção da democracia. Ao abordarem o primeiro movimento saber/conhecer os direitos, as autoras dizem que este pressupõe o trabalho com a dimensão histórico-crítica da conquista dos direitos, diretamente relacionada com as lutas de libertação de 38 determinados grupos sociais que vivenciam o sofrimento da violação de seus direitos. Para tanto, é necessário compreender que a produção de diferentes documentos e declarações, regionais ou universais, são fruto das lutas históricas daqueles que tiveram sua dignidade violada. Cabe ainda o desenvolvimento da ideia de que direitos políticos, civis, econômicos, sociais e culturais e suas dimensões individual, coletiva, dos povos e etnias e do mundo são articulados, pois, quando um direito é violado, toda a humanidade perde. Para isso, é importante valorizar os diferentes movimentos sociais e organizações que atuam em várias frentes na defesa de lutas e questões específicas. No que se refere a desenvolver uma autoestima positiva, é imprescindível adotar-se uma postura de empoderamento nos estudantes, ou seja, uma postura ativa de reconhecimentos de si e do outro como sujeitos históricos capazes de usufruir plenamente de seus direitos, assumir deveres e construir individual e coletivamente a dignidade humana. Dessa forma, Freire (1997, p. 38-41) coloca que os saberes necessários para esse tipo de prática educativa devem romper com o preconceito de qualquer tipo, já que este impede o avanço da sociedade democrática. No que refere à capacidade argumentativa, é fundamental que se desenvolva a competência de se angariar argumentos que sustentem a defesa e a construção dos Direitos Humanos. Nesse sentido, é necessário um trabalho árduo de compreensão da importância desses direitos, como também o exercício de uma boa retórica. Por conta disso, é preciso desenvolver uma capacidade de persuasão dos outros por meio das palavras e não da força. 4.1.2 Promover uma cidadania ativa e participativa Aqui é importante desenvolver a consciência do poder que cada indivíduo possui e, portanto, capaz de participar ativamente da construção de um Estado democrático que sustente a dignidade humana. A cidadania afinal de contas, é entendida como uma participação ativa tanto individual quanto coletiva na consolidação de políticas em todas as esperas públicas ou privadas. Assim, construir a consciência de ser sujeito de direito no Brasil depende de formas de educar que promovam as quatro dimensões abordadas acima: https://www.google.com/search?q=postura+de+empoderamento&spell=1&sa=X&ved=0ahUKEwjxjcTd6d_kAhXpIrkGHemIA4AQkeECCC0oAA&cshid=156899714303318339 A possibilidade de acesso à informação, ao conteúdo dos diferentes documentos e leis que definem os direitos; o desenvolvimento da autoestima positiva vislumbrando empoderamento; o poder argumentativo na denúncia das violações e na reivindicação e defesa dos direitos; como também ser capaz de exercer uma cidadania ativa e participativa no cotidiano, em todos os âmbitos, contribuindo para a consolidação da democracia. Um dos aspectos mais importantes para a perspectiva da educação em Direitos Humanos é a sua colaboração para a construção da democracia, principalmente nas sociedades contemporâneas marcadas pela exclusão e pelas violações sistemáticas dos direitos humanos, pela continuidade das desigualdades, preconceitos e discriminações. Nessa concepção, considera-se que os Direitos Humanos precisam ser o parâmetro ético de um paradigma educativo, que prime por uma educação libertadora e transformadora, construindo uma cidadania participativa, daí a importância do(a) educador(a) como agente sociopolítico e cultural. Educar para os direitos humanos é educar para exercício pleno da cidadania e, portanto, da própria democracia. Por esse viés compreendemos que o conhecimento é libertador de qualquer tipo de violação da dignidade humana. O conhecimento precisa explorar o passado, por meio da história, para que erros não sejam repetidos. Cabe aos estucadores educar para um conhecimento histórico capaz de perspectivar um futuro solidário e democrático, que defenda os direitos humanos no âmbito da dignidade humana. Nessa visão, a educação é entendida de forma emancipatória, reagindo em repúdio às formas de exclusão, desigualdade, opressão, subalternização e injustiça. A educação em Direitos Humanos está sempre em harmonia com o exercício da capacidade de indignação com o direito à esperança e admiração da vida, a partir do exercício da equidade que surge da articulação dos princípios de igualdade e diferença. Como disse Santos (2006. p. 462), “temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza”. A afirmação da unidade indivisível dos direitos (civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) é indispensável para a construção da democracia, desconstruindo a visão de que só a classe de direitos civis e 40 políticos merece reconhecimento e respeito, enfatizando que a classe de direitos sociais, econômicos, culturais, ambientais merece o mesmo respeito e valorização. Com isso, entende-se que todas as formas de direito são fundamentais para a construção do Estado democrático. Outro parâmetro importante da educação em Direitos Humanos para a efetivação e o esquadrinhamento da democracia é a afirmação do “nunca mais”. Educar para o “nunca mais” significa desenvolver o sentido histórico e recobrar a memória em lugar do esquecimento. É de importância crucial desenvolver essa perspectiva nos processos educativos, direcionado a favorecer a construção da cidadania e da vivência democrática. Deve-se quebrar a “cultura do silêncio” e da impunidade e formar para a participação, para a transformação e para a construção de sociedades democráticas, justas e solidárias. Para tanto, exige-se assegurar que permaneça presente a memória dos horrores das dominações, colonizações, ditaduras, autoritarismos, perseguição política, tortura, escravidão, genocídio, desaparecimentos, para que seja reconstruído conhecimento histórico, estimulando ideais de coragem, justiça, esperança e compromisso com o “nunca mais”, para o fortalecimento da dignidade humana. Uma educação em Direitos Humanos que promova o “nunca mais” precisa ver a história sob a perspectiva das minorias, daqueles que foram historicamente subjugados e que originaram os movimentos sociais populares que lutaram e lutam pelo reconhecimento e conquista de seus direitos e cidadania no cotidiano, suas resistências e suas concepções culturais. O estímulo do “nunca mais” como um dos parâmetros da educação em Direitos Humanos resulta também na realização de processos que desconstruam a memória. Como coloca Marilena Chauí (1987 p. 51), um trabalho de “desconstrução da memória, desvelando não só o modo como o vencedor produziu a representação de sua vitória, mas, sobretudo, como a própria prática dos vencidos participou dessa construção” (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1996, n.p). Para Monteiro e Pimenta, “na Educação em Direitos Humanos não se pode ignorar ou ocultar o passado, porque se não se reconhece o passado não é 41 possível construir o futuro nem ser sujeito ativo nessa construção. Não se pode impor o silêncio à memória de um grupo” (MONTEIRO; PIMENTA, 2014, n.p). Segundo o Ministério da Educação: Fomentar atividades educativas que ampliem tempos, espaços e oportunidades educativas, com vistas à inclusão de temas como direito de ir e vir, acesso à moradia, renda mínima, segurança alimentar, enfrentamento a preconceitos, relações desiguais de gênero, etnia, sexualidade, dentre outros, são elementos básicos para se educar e promover Direitos Humanos. O Campo dos Direitos Humanos deve estar articulado com os conhecimentos socialmente construídos e validados na escola. Ainda assim, consideramos crucial tratar de fatores culturais que tornam complexa a ideia de direito humano como algo universal, (MEC, 2013, p.14). Assim, os Direitos Humanos precisam estar imbicados com os conhecimentos socialmente construídos e validados em ambientes de escolarização. O próprio direito à educação de qualidade faz parte do amplo espectro de direitos humanos que compõem a dignidade humana, que precisa ser permanentemente ampliada, ressignificada por novas demandas oriundas de formas diversificadas e aprimoradas de preconceitos e discriminações. Reforça-se que a educação para os Direitos Humanos almeja uma ampla e profunda democracia que seja muito mais participativa e substantiva, sendo ancorada na noção de igualdade e diversidade. Os méritos como igualdade, liberdade e diversidade humana são conceitos em constante disputa e devem ser trabalhados como eixos articuladores na transformação das práticas educativas em direitos humanos, da mesma forma que formação política, ética e estética. Finalmente, é preciso rechaçar qualquer ideia que permita a defesa da indiferença. Pelo contrário, é imprescindível interligar a diferença e a igualdade, pois o respeito às diferenças está no cerne da democracia. Conclusão da aula 4 Mais uma aula termina e você teve oportunidade de aprender um pouco mais sobre a importância da educação em Direitos Humanos ancorada na pedagogia do empoderamento. 42 Essa maneira de educar busca a participação efetiva no Estado democrático de direito, partindo do respeito aos Direitos Humanos historicamente construídos e objetivando a dignidade humana em todas as esferas da sociedade. Provavelmente, a forma mais eficaz de lutar para o reconhecimento e defesa dos Direitos Humanos seja por meio da educação, pois ela empodera estudantes para a construção da cidadania plena e para um ideal universal de paz e sustentabilidade. Atividade de aprendizagem Após a compreensão teórica acerca da educação em Direitos Humanos, que tal você pesquisar na web atividades práticas para o desenvolvimento dessa perspectiva? 43 Índice Remissivo A Constituição Cidadã de 1988........................................................................ (Abertura política; crise econômica; crise política). 18 A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948......................................................................... (Antigo Regime; século XVIII; sociedade francesa). 07 A Ditadura civil-militar no Brasil........................................................................
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