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GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA AULA 1 Prof. Rafael Zamodzki 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula desejamos apresentar a estrutura e o funcionamento das usinas hidrelétricas. A partir desses conhecimentos, será possível identificar componentes de uma usina hidrelétrica, definir as funções de cada um dos componentes apresentados e classificar as usinas de acordo com características específicas. Neste contexto, esta aula está organizada em cinco temas, distribuídos da seguinte forma: Tema 1 – Classificação de usinas hidrelétricas quanto à potência, queda e fator de capacidade; Tema 2 – Barragem e conduto forçado; Tema 3 – Comportas; Tema 4 – Vertedouro; Tema 5 – Casa de força. TEMA 1 – CLASSIFICAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS QUANTO À POTÊNCIA, QUEDA E FATOR DE CAPACIDADE A geração de energia elétrica, tendo como fonte primária a energia potencial e cinética que a água pode fornecer, envolve alguns processos, como o armazenamento da água, a conversão da energia potencial da água em energia cinética por turbinas e a conversão da energia mecânica das turbinas em energia elétrica por meio de um gerador (Grigsby, 2012). Os cinco maiores produtores de energia elétrica a partir da utilização da água como fonte primária são: China, Brasil, Estados Unidos da América, Canadá e Rússia (World Energy Council, 2013). A matriz energética do Brasil é muito diversificada, porém a maior parte das usinas instaladas em território brasileiro utiliza a água como fonte primária para geração de energia elétrica (ONS, S.d.; Aneel, S.d.). Além das classificações que serão vistas ao longo deste capítulo, há uma classificação inicial que pode ser dada às usinas. Pode–se dizer que existem basicamente quatro topologias de usinas hidrelétricas quanto a sua forma construtiva (World Energy Council, 2013): 3 1. Usina a fio d’água: são aquelas que não possuem reservatório de água ou o têm em dimensões menores do que poderiam. Algumas dessas usinas possuem um pequeno reservatório para represar água durante as horas que não são de pico, utilizando a porção reservada no horário de pico do mesmo dia. Neste modelo, o curso natural do rio é preservado. 2. Usina com reservatório de acumulação: estas usinas possuem reservatórios com tamanho suficiente para acumular água na época das cheias para uso na época de estiagem. Normalmente, estão localizadas a montante das demais hidrelétricas, regulando, dessa forma, a vazão da água que irá fluir para elas. 3. Usina reversível (bombeamento): são usinas que podem gerar energia elétrica por meio da água de um reservatório localizado a montante para outro a jusante ou armazenar água em um nível mais elevado, por meio do bombeamento da água de um reservatório a jusante para outro a montante. 4. Usinas localizadas no mar: estas usinas também utilizam a água como fonte primária, porém em vez de estarem localizadas no leito de rios, localizam-se em ambientes marítimos. São mais conhecidas como usinas maremotrizes e undielétricas. A partir deste texto introdutório, deseja–se agora apresentar outros tipos de classificações das usinas: quanto à potência, quanto à queda d’água e quanto ao fator de capacidade. 1.1 Classificação quanto à potência A potência instalada de uma usina pode ser definida como a soma aritmética simples das potências das unidades geradoras que a compõem. Pode-se citar, por exemplo, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, que possui em sua composição 20 unidades geradoras de 700 MW cada, totalizando uma potência instalada (ou capacidade instalada) de 14.000 MW ou 14 GW (Itaipu [S.d.]). É possível classificar os empreendimentos de geração hidrelétricos quanto à potência instalada. Essa classificação define se a usina é de grande, médio ou pequeno porte. Para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), existem três nomenclaturas que podem ser dadas às usinas hidrelétricas, de acordo com a potência instalada. Essas nomenclaturas são (Brasil, 2015): 4 1. Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH): usinas com até 3 MW de potência instalada; 2. Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH): usinas com potência instalada entre 3 e 30 MW de potência instalada; 3. Usina Hidrelétrica de Energia (UHE): usinas com potência instalada acima de 30 MW. 1.2 Classificação quanto à queda As usinas também podem receber classificação quanto à altura da queda d’água, diferenciando-se pelas classificações: baixíssima, baixa, média e alta. Essas alturas são definidas da seguinte forma: Baixíssima: possuem altura de queda d’água menor do que 10 metros; Baixa: possuem altura de queda d’água entre 10 e 50 metros; Média: essas usinas têm altura de queda d’água entre 50 e 250 metros; Alta: são usinas que possuem altura da queda d’água maior do que 250 metros. 1.3 Classificação quanto ao fator de capacidade Apesar de as usinas hidrelétricas possuírem determinada capacidade nominal de geração, as unidades geradoras não possuem eficiência de 100%, apresentando perdas no processo de conversão da energia mecânica para energia elétrica. O fator de capacidade de uma usina hidrelétrica é definido como a razão entre a energia efetivamente gerada pela usina e a máxima energia possível de ser gerada em um determinado período de tempo, conforme apresentado a seguir (Grigsby, 2012): gerada máx E FC E Na fórmula acima, Egerada é a energia efetivamente gerada; Emáx é a máxima energia possível de ser gerada. 5 Por exemplo, se a energia produzida em um dia por uma turbina de 500 MW for de 9,6 GWh, sendo que sua capacidade nominal de produção é de 12 GWh, então o fator de capacidade dessa turbina é de 0,8 (9,6/12). Dessa forma, já é possível presumir que o fator de capacidade será sempre menor que 1, pois a energia efetivamente gerada (com as tecnologias de geradores disponíveis atualmente) nunca será igual à máxima energia possível de ser gerada. As usinas hidrelétricas, quando comparadas com outros tipos de usinas geradoras de energia elétrica, como eólica e solar fotovoltaica, tendem a possuir um fator de capacidade mais elevado, pois o fluxo de água tende a ser menos variável do que a velocidade do vento ou a insolação. Afirma-se que para usinas a fio d’água, o fator de capacidade deve ser de pelo menos 50% (Grigsby, 2012). Considerando todos os tipos de usinas hidrelétricas, pode-se dizer que um fator de capacidade de 40% é bastante aceitável. Fatores de capacidade abaixo de 40% podem ser considerados baixos, enquanto fatores de capacidade acima de 40% podem ser considerados altos (Prado Junior; Berg, 2013). TEMA 2 – BARRAGEM E CONDUTO FORÇADO Uma usina hidrelétrica é composta por diversos componentes, abrangendo conceitos de diversas áreas das engenharias civil, elétrica, mecânica, além de aspectos relacionados à tecnologia da informação. Basicamente, os componentes de maior dimensão e que são extremamente essenciais para o funcionamento da usina são: Barragem; Conduto forçado; Comportas; Vertedouro; Casa de força; Tomada d’água; Chaminé de equilíbrio; Turbina; Gerador. 6 Na Figura 1, apresenta-se um diagrama esquemático de uma usina, mostrando de forma ilustrativa cada um dos componentes citados (exceto comportas, chaminé de equilíbrio e vertedouro, que serão apresentados posteriormente). Figura 1 – Esquema ilustrativo de uma usina hidrelétrica Créditos: Andrea Danti/Shutterstock. Os cinco primeiros componentes serão abordados de forma mais específica ainda nesta aula. Descreve-se a seguir um pouco a respeito dos quatro últimos componentes apresentados: 1. Tomada d’água: pode ser definida como o ponto onde se inicia a condução da água entre o reservatório e as turbinas. A tomada d’água deve ser estruturada de tal forma queimpeça a entrada de corpos estranhos e que se possa fechar a entrada da água quando for necessário (Ribeiro, 2003). 2. Chaminé de equilíbrio: é uma estrutura com construção vertical e superfície livre, destinada a amortecer os golpes de aríete num conduto forçado, ou seja, evitar sobrepressão (Ribeiro, 2003). 7 3. Turbina: dispositivo com pás que recebe a água do conduto forçado com uma pressão suficiente para que a sua inércia seja vencida. Esse dispositivo é acoplado ao gerador. 4. Gerador: dispositivo acoplado à turbina e que possui a função de converter a energia cinética transmitida pela turbina em energia elétrica para ser transmitida aos consumidores. Na Figura 2, apresenta-se a vista aérea de uma usina hidrelétrica, na qual pode-se perceber de forma clara o reservatório, a barragem, os condutos forçados e o vertedouro. Figura 2 – Vista aérea de uma usina hidrelétrica Crédito: aSuruwataRi/Shutterstock. Nas seções seguintes, serão descritos com maiores detalhes os demais componentes que foram citados. Deve-se lembrar que a usina hidrelétrica não se limita aos componentes apresentados neste documento. 2.1 Barragem Pode-se definir a barragem de uma usina hidrelétrica como uma estrutura que serve para bloquear a passagem do rio, formando assim um reservatório acumulador de água. Dessa forma, é possível que o nível da água seja elevado, 8 criando um desnível que auxilia na queda da água que é conduzida por meio do conduto forçado. As barragens podem ser constituídas por concreto, terra, rochas ou podem ser mistas (mistura de concreto com os outros materiais). Cada um destes tipos de barragem é descrito com mais detalhes a seguir (Eletrobrás, 2003; Schreiber, 1978): Barragens de terra e rochas: a terra é a camada mais superficial do solo e constitui–se de sedimentos e pedaços menores de rochas. Quando a barragem é composta por rochas (enrocamento), são utilizadas as rochas maiores e não apenas os sedimentos. Tanto nas barragens de terra quanto nas barragens de rochas utilizam-se materiais localizados nas proximidades de onde a obra está sendo realizada. Tanto a terra quanto as rochas devem ser compactadas na construção da barragem. Nas barragens de terra pode-se utilizar material com as mesmas características ao longo de toda a construção, caracterizando-a como homogênea. Quando várias camadas são utilizadas, caracteriza-se como barragem zoneada. Barragens de terra podem sofrer com erosão e, por este motivo, é necessário que sejam utilizadas rochas no lado da barragem que está em contato com a água. Na Figura 3, uma barragem constituída por rochas é apresentada. Figura 3 – Barragem de enrocamento Créditos: M–ken/Shutterstock. 9 Barragens de concreto: as barragens constituídas por concreto podem ser construídas de diferentes formas, que são descritas a seguir: Barragem de gravidade: é aquela que possui a estabilidade garantida pelo seu próprio peso. O perfil transversal dessa barragem possui característica triangular, enquanto o topo da barragem é retangular. Na Figura 4, é apresentada uma barragem de gravidade. Figura 4 – Barragem de gravidade Créditos: Rodphothong Mr.Patchara/Shutterstock. Barragem de arco: nesta configuração de barragem, é estabelecida uma pequena curvatura em virtude da topografia e também visando a utilização de uma menor quantidade de concreto. Neste tipo de construção, é necessário que a rocha de fundação tenha condições muito favoráveis. Um exemplo de barragem de arco é apresentado na Figura 5. Figura 5 – Barragem de arco Créditos: Matej Hudovernik/Shutterstock. 10 Barragem de contrafortes: neste tipo de barragem, são utilizados contrafortes construídos de forma perpendicular ao eixo da barragem. Com a construção estabelecida dessa forma, os esforços são divididos nos contrafortes. O custo deste tipo de barragem geralmente é mais elevado quando comparado ao custo dos demais, além de uma maior complexidade. Na Figura 6, apresenta-se uma barragem de contraforte. Figura 6 – Barragem de contraforte Créditos: Eder/Shutterstock. 2.2 Conduto forçado O conduto forçado nada mais é do que o canal utilizado para levar a água desde o reservatório até as turbinas. Quando o conduto é forçado, toda a sua face interna está em contato com o fluido em movimento. Nenhuma superfície está livre desse contato. Dessa forma, a pressão interna do conduto é diferente da pressão atmosférica. Na Figura 7, pode-se visualizar um grupo de condutos forçados em uma usina hidrelétrica. 11 Figura 7 – Condutos forçados Créditos: LittileGallery/Shutterstock. É importante lembrar que além dos condutos forçados, existem os condutos livres, nos quais uma porção da face interna não está em contato com o fluido. Na superfície livre do fluido, a pressão é igual à pressão atmosférica. Ainda pode-se classificar os condutos em: Enterrado; A céu aberto. Para a instalação dos tubos enterrados, deve–se abrir uma vala na qual o tubo possa ser inserido. Após essa inserção, o tubo deve ser enterrado com o material da escavação adequadamente compactado. Este tipo de instalação dos condutos forçados protege a tubulação contra as intempéries do clima e contra as variações bruscas de temperatura. Também não é necessário nenhum tipo de ancoragem, pois a tubulação já está apoiada no solo utilizado no aterramento. Uma desvantagem é a manutenção, que se torna mais difícil devido ao acesso limitado ao tubo. Deve-se utilizar tintas especiais para proteger a tubulação contra a umidade e acidez do solo. Este tipo de instalação é realizado apenas em usinas hidrelétricas que usam tubulações de pequeno diâmetro. A tubulação também pode ser embutida no concreto da barragem (Schreiber, 1978). Nas tubulações instaladas ao ar livre, deve-se utilizar ancoragens, pois quando a água que flui dentro do conduto sofre mudanças de direção, as tubulações sofrem grandes esforços. Esses esforços devem ser transmitidos 12 para um bloco de concreto e posteriormente para o subsolo. Pode-se utilizar tubulações contínuas ou subdivididas em trechos (Schreiber, 1978). Na Figura 8, é possível visualizar em detalhe os condutos forçados instalados ao ar livre em uma usina hidrelétrica. Figura 8 – Condutos forçados instalados ao ar livre Créditos: AppleZoomZoom/Shutterstock. Na Figura 9, é possível ver uma barragem na qual não se vê condutos ao ar livre, pois estão embutidos no concreto. Figura 9 – Barragem com conduto instalado embutido no concreto Créditos: Makoto_Honda/Shutterstock. 13 TEMA 3 – COMPORTAS Nas usinas hidrelétricas, as comportas são utilizadas para que seja possível realizar a isolação entre a água do reservatório e o sistema turbina- gerador. Dessa forma, é possível realizar a manutenção das máquinas e de outros componentes que estão presentes neste trecho da usina. As comportas podem ser chapas curvas com braços radiais, como apresentado na Figura 10, ou podem ser chapas retas utilizadas em emergência por meio da utilização de vigas pescadoras, como mostrado na Figura 11 (Ribeiro, 2003). Figura 10 – Comporta constituída por chapa de aço curva Crédito: jtclendenen/Shutterstock. Figura 11 – Comporta de chapa retilínea acionada por viga pescadora Créditos: shirmanov aleksey / Shutterstock. 14 TEMA 4 – VERTEDOURO Outro sistema extremamente importante que está presente em uma usina hidrelétrica é o vertedouro. Esta construção específica possui a função de evitar que o reservatório de água transborde em um período de chuvas mais intensas na região da usina. O vertedouro é utilizado para passar a porção excedente do fluido diretamente para o lado a jusante da usina (Ribeiro, 2003). O projeto do vertedouro deve ser realizado de forma que garanta a segurança da barrageme que não ofereça perturbações de níveis que prejudiquem a operação ordinária da usina. As dimensões e a configuração do vertedouro vão depender de uma análise econômica, pois a construção pode ser realizada com ou sem comportas. Caso se escolha a opção com comportas, elas também devem ser dimensionadas, considerando-se a utilização de pelo menos duas comportas (Eletrobrás, 2003). Geralmente a inclinação da rampa de concreto que constitui o vertedouro é de aproximadamente 10% (Ribeiro, 2003). Na Figura 12, apresenta-se o vertedouro da Usina Hidrelétrica de Itaipu com as comportas fechadas. Na Figura 13, o mesmo vertedouro é mostrado, porém agora com as comportas abertas. Figura 12 – Vertedouro com as comportas fechadas Créditos: Angelica Flores Cezar/Shutterstock. 15 Figura 13 – Vertedouro com as comportas abertas Crédito: Patricia Peceguini Viana/Shutterstock. TEMA 5 – CASA DE FORÇA A função da casa de força em uma usina hidrelétrica é abrigar todas as máquinas e equipamentos a fim de tornar possível a sua montagem, desmontagem, operação e manutenção (Schreiber, 1978). A casa de força pode ter as configurações a céu aberto ou subterrânea. Na configuração a céu aberto, ela pode ter uma superestrutura para suportar o teto e as vigas para os trilhos das pontes rolantes ou pode ser construída sem a superestrutura e com guindaste-pórtico no lugar das pontes rolantes. A configuração subterrânea pode ser em caverna ou aterrada (Schreiber, 1978). O tamanho da casa de força é determinado pelas dimensões das máquinas e dos equipamentos que serão instalados em seu interior, sendo que o projetista deve sempre considerar uma margem além das dimensões mínimas estabelecidas pelo tamanho dos equipamentos (Schreiber, 1978). Na Figura 14, pode-se observar uma casa de força presente em uma usina hidrelétrica nos Estados Unidos. É possível perceber a presença do transformador de potência na entrada da casa de força. 16 Figura 14 – Casa de força de uma usina hidrelétrica Fonte: Pi–Lens/Shutterstock. FINALIZANDO Foram aqui abordados cinco temas principais a respeito da operação de usinas hidrelétricas e dos conceitos relacionados aos principais dispositivos e construções presentes nestas usinas. No primeiro tema, apresentou-se a classificação das usinas hidrelétricas, considerando suas diferentes características: potência instalada, altura da queda d’água e fator de capacidade. Uma introdução a respeito do funcionamento das usinas foi apresentada, e cada uma das características citadas foi aprofundada, mostrando-se a classificação que é realizada considerando cada uma delas. A partir do segundo tema, alguns dos equipamentos e construções presentes em uma usina foram expostos de forma mais específica para ilustrar a principal função e as características de cada um deles. Imagens foram apresentadas para caracterizar visualmente esses componentes no escopo da usina. Os primeiros componentes exibidos foram o conduto forçado e a barragem. As comportas foram vistas no terceiro tema. Abordou-se as principais configurações e aspectos construtivos e apresentou-se imagens, exemplificando comportas com braço radial e comportas acionadas a partir de vigas pescadoras. 17 No quarto tema, o vertedouro foi abordado. Foi possível conhecer a sua função dentro do sistema da usina hidrelétrica bem como as formas como ele pode ser concebido (com ou sem comportas). Algumas especificações construtivas normalmente utilizadas também foram vistas. Além disso, foi possível observar imagens do vertedouro da Usina Hidrelétrica de Itaipu, com as comportas abertas e fechadas. O quinto tema tratou a respeito da casa de força, que está presente na usina hidrelétrica e exerce um papel extremamente importante no funcionamento e na operação normal da usina. É na casa de força que se concentram os equipamentos necessários para que a energia elétrica seja efetivamente gerada e adequada para ser transmitida posteriormente ao consumidor final. 18 REFERÊNCIAS ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Capacidade de geração do Brasil. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/c apacidadebrasil.cfm>. Acesso em: 24 set. 2019. BRASIL. Ministério de Minas e Energia. ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução Normativa n. 673, de 4 de agosto de 2015. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 2 set. 2015. Disponível em: <http://www.in.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/32826272/do1-2015-09-02- resolucao-normativa-n-673-de-4-de-agosto-de-2015-32826263>. Acesso em: 24 set. 2019. ELETROBRÁS – Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003. Disponível em: <https://eletrobras.com/pt/Area sdeAtuacao/geracao/Manuais%20para%20Estudos%20e%20Projetos%20de% 20Gera%C3%A7%C3%A3o%20de%20Energia/Crit%C3%A9rios%20de%20Pro jetos.pdf>. Acesso em: 24 set. 2019. GRIGSBY, L. L. The Electric Power Engineering Handbook: Electric Power Generation, Transmission, and Distribution. 3. ed. Boca Raton: CRC Press, 2012. ITAIPU. Perguntas frequentes. Disponível em: <https://www.itaipu.gov.br/sala– de–imprensa/perguntas–frequentes>. Acesso em: 24 set. 2019. ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico. Sobre o SIN: o sistema em números. Disponível em: <http://www.ons.org.br/paginas/sobre–o–sin/o– sistema–em–numeros>. Acesso em: 24 set. 2019. PRADO JUNIOR, F. A. P.; BERG, S. V. Capacity factors of Brazilian hydroelectric power plants: Implications for cost effectiveness. University of Florida, 2013. Disponível em: <https://pdfs.semanticscholar.org/7a56/8b5ec79b 2ff8b9cc9266791b72eb14135c61.pdf>. Acesso em: 24 set. 2019. RIBEIRO, F. M. Inventário de ciclo de vida da geração hidrelétrica no Brasil: Usina de Itaipu – primeira aproximação. 2003 Dissertação (Mestrado em Energia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. SCHREIBER, G. P. Usinas hidrelétricas. São Paulo: Blucher, 1978. 19 WORLD ENERGY COUNCIL. World Energy Resources: 2013 Survey. London: World Energy Council, 2013. GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA AULA 2 Prof. Rafael Zamodzki 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, deseja-se que o aluno: Conheça os tipos de turbinas hidráulicas utilizados nas usinas hidrelétricas; Conheça os tipos de geradores utilizados nas usinas e as principais características do estator e do rotor desses geradores. Com base nesse conhecimento, será possível identificar as características de turbinas de ação e de reação, entender como selecionar turbinas de acordo com a topologia da usina hidrelétrica, reconhecer os tipos de geradores elétricos e suas características, bem como seus componentes internos, como rotor e estator. Esta aula está organizada em cinco temas, distribuídos da seguinte forma: Tema 1 – Turbina de ação e reação; Tema 2 – Seleção de turbinas; Tema 3 – Tipos de gerador; Tema 4 – Características elétricas e componentes do estator; Tema 5 – Características elétricas e componentes do rotor. TEMA 1 – TURBINA DE AÇÃO E REAÇÃO Segundo a ABNT, turbina de ação é a “turbina em que a energia mecânica é obtida pela transformação da energia cinética do fluxo d’água por meio do rotor” (2016). O mesmo documento define turbina de reação como a “turbina em que a energia mecânica é obtida pela transformação das energias cinética e de pressão do fluxo d’água, através do rotor”. As turbinas de reação são dotadas de dispositivo regulador da admissão da água, possuindo a capacidade de distribuí-la igualmente por todas as entradas do rotor. Possuem também um tubo de sucção. Já nas turbinas de ação, um ou mais jatos são descarregados na direção das conchas do rotor. São dotadas de dispositivopara regular a descarga da água (Schreiber, 1978). As turbinas de reação são divididas em dois tipos: 3 Francis; Kaplan. Já as turbinas de ação são as do tipo Pelton (ABNT, 2016; Schreiber, 1978). Nas seções a seguir, cada um desses tipos de turbina será descrito com mais detalhes. 1.1 Turbina Francis A NBR 6445:2016 define turbina Francis como “turbina de reação, na qual o fluxo d’água penetra radialmente no distribuidor e no rotor, no qual as pás são fixas”. O rotor das turbinas de reação, como é o caso da turbina Francis, gira dentro da corrente d’água. Dessa forma, a jusante do rotor, pode ser que haja pressão negativa, algo que deve ser considerado no projeto da turbina (Schreiber, 1978). O rotor Francis é definido pela NBR 6445:2016 como “elemento rotativo fixado ao eixo, constituído por certo número de pás de curvatura adequada, fixadas ao cubo e à cinta”. O cubo e a cinta são os elementos do rotor em que estão fixadas as bordas superiores e inferiores das pás, respectivamente. A Figura 1 apresenta um exemplo de turbina Francis. Figura 1 – Aspecto construtivo da turbina Francis Fonte: Mariusz Hajdarowicz/Shutterstock. A água que sai do conduto forçado é conduzida ao rotor utilizando uma caixa de aço em forma de espiral, como mostra a Figura 2. A turbina deve estar bem fixada à estrutura da caixa espiral para que a água seja orientada corretamente ao rotor. Em usinas de baixa queda, a caixa está ligada 4 diretamente à tomada d’água (e não ao conduto forçado), sendo construída em concreto (e não em aço) e de forma semiespiral. As turbinas Francis são projetadas para quedas entre 20 m e 600 m (Schreiber, 1978). Figura 2 – Caixa espiral de aço Fonte: Emel82/Shutterstock. Outro aspecto construtivo que podemos destacar é com relação ao distribuidor (ou anel de aletas ajustáveis), que se encontra em frente à entrada do rotor. Com esse dispositivo, é possível controlar a descarga pois, após o anel receber o comando para regular o fluxo de água, esse comando é transmitido para os mecanismos de acionamento das aletas (Schreiber, 1978). 1.2 Turbina Kaplan A turbina Kaplan é uma turbina de reação, como a Francis, porém, em vez de pás e aletas, tem hélices. A NBR 6445:2016 a define como “turbina de reação, na qual o fluxo d’água tem direção radial no distribuidor, aproximadamente axial na entrada do rotor, analogamente à turbina-hélice, porém no qual as pás têm passo regulável em funcionamento”. As turbinas com hélices surgiram depois que se notou a dificuldade de operação de turbinas Francis em baixas quedas (abaixo de 20 m). Existem outros tipos de turbinas de hélices além das Kaplan. A diferença é que estas têm pás ajustáveis, permitindo o controle do ângulo dessas pás com o sistema em 5 funcionamento. Já as turbinas-hélice (chamadas assim de forma genérica) possuem pás fixas em funcionamento, permitindo ajustes na angulação somente com o sistema fora de operação (Schreiber, 1978). As turbinas com pás fixas raramente são utilizadas, pois possuem curvas de rendimento que variam muito com a variação da carga. Já as turbinas com pás ajustáveis (Kaplan) corrigem esse problema, ajustando a curva de rendimento e otimizando a operação (Schreiber, 1978). A Figura 3 apresenta uma turbina Kaplan. Figura 3 – Turbina Kaplan Fonte: Nos acalmamos/Shutterstock. O rotor da turbina Kaplan possui de 4 a 8 pás, parâmetro que influencia diretamente na sua velocidade de rotação. As pás são ajustadas pelas manivelas, bielas e uma cruzeta; esta, por sua vez, é movimentada por um servomotor, geralmente alojado na ogiva do cubo do rotor (parte inferior da turbina mostrada na Figura 3). Apresenta-se, na Figura 4, o corte de uma turbina Kaplan instalada dentro de uma estrutura metálica. 6 Figura 4 – Corte de turbina Kaplan em estrutura metálica Fonte: Karel Gallas/Shutterstock. 1.3 Turbina Pelton A definição de turbina Pelton para a NBR 6445:2016 é “turbina de ação na qual o fluxo d’água incide sob a forma de jato sobre o rotor possuindo pás em forma de duas conchas. A direção dos jatos é paralela em relação ao plano do rotor”. Dessa forma, diferente das turbinas Francis e Kaplan, a Pelton é uma turbina de ação, e não de reação, e sua rotação é feita pelos jatos lançados em suas conchas. Na Figura 5, apresenta-se uma turbina Pelton. 7 Figura 5 – Turbina Pelton Fonte: Satakorn/Shutterstock. Dentre as turbinas já citadas, as Pelton são as projetadas para as maiores quedas d’água, chegando a 1000 m, por exemplo. A turbina é construída de forma que um ou vários jatos de água são orientados contra as conchas do rotor da turbina. As rotações do rotor dependem da altura da queda e do seu diâmetro. Já a potência da turbina depende do diâmetro do jato (Schreiber, 1978). Para o projeto de turbinas Pelton, deve-se considerar o diâmetro do jato, as dimensões da concha e o número de injetores. Na prática, convenciona-se que a relação entre o diâmetro do rotor (D, medido do centro do jato ao centro do eixo da turbina) e o diâmetro do jato (d) não deve ser menor que 10, conforme (1) (Schreiber, 1978). D 10 d (1) Outro componente da turbina Pelton é a agulha, a qual tem a função de regular a vazão que passa pelos injetores e a potência da turbina. As agulhas podem se fechar totalmente com a abertura do injetor, sendo movimentadas por hastes e servomotores. Outro dispositivo presente nessas turbinas é o defletor, que desvia o rotor do jato d’água (Schreiber, 1978). As Figuras 6 e 7 apresentam, respectivamente, as conchas da turbina Pelton em detalhe e um injetor utilizado em turbinas Pelton. 8 Figura 6 – Detalhe das conchas da turbina Pelton Fonte: Satakorn/Shutterstock. Figura 7 – Detalhe de um injetor usado em turbinas Pelton Fonte: David Hajes Hajek/Shutterstock. TEMA 2 – SELEÇÃO DE TURBINAS Para selecionar o tipo de turbina a ser utilizado em uma usina, deve-se levar em conta a queda líquida, medida em metros, e a vazão de projeto por turbina, em m³/s. A Figura 8 apresenta a relação entre os parâmetros citados, em que discharge (eixo vertical) corresponde à vazão, e head (eixo horizontal), à altura da queda. 9 Figura 8 – Parâmetros utilizados para determinar o tipo de turbina Fonte: Hidroenergia, 2018. Percebe-se que as turbinas Kaplan são utilizadas para quedas d’água entre 2 e 50 m e para vazões entre 0,5 e 100 m³/s. As turbinas Francis são mais aplicadas nos casos em que a queda d’água vai de 7 a 300 m, e a vazão, de 0,2 a 40 m³/s. As turbinas Pelton, por sua vez, são aplicadas para quedas d’água de 60 a 1000 m e vazões de 0,02 a 9 m³/s. Nota-se que há sobreposição de aplicação entre a turbina Francis e os outros dois tipos. Por isso, fatores como custo e local de instalação devem ser considerados para definir qual tipo de turbina será utilizado. Questões relacionadas ao transporte das peças das turbinas também influenciam na escolha. A turbina Kaplan pode ser transportada em várias partes, enquanto o rotor de uma turbina Francis deve ser transportado sem ser desmontado (Schreiber, 1978). 10 TEMA 3 – TIPOS DE GERADOR A energia elétrica não é gerada apenas por turbinas. A energia potencial da água contida no reservatório é convertida em energia cinética quando desce pelo conduto forçado. Quando atinge as pás da turbina esta energia cinética é convertida em energia mecânica permitindo a rotação do rotor. A interação eletromagnética entre o rotor em movimento e o estator gerará a energia elétrica. Na maioria das usinas hidrelétricas, o tipo de gerador utilizado é o síncrono, que tem uma vantagem sobre outros geradores de corrente alternada: operar com fator de potência indutivo, capacitivo e resistivo (Bim, 2012). Pode-se dividir os geradores síncronosem “geradores de polos lisos” e “geradores de polos salientes”, de acordo com o aspecto construtivo do seu rotor. Aqueles operam com velocidade bem maior do que estes, e são aplicados em usinas termelétricas, nas quais as turbinas são movidas a vapor com a queima de combustíveis fósseis (carvão, gás, óleo etc.). Nesse caso, são utilizados poucos polos, geralmente geradores de dois e quatro polos. Já os geradores de polos salientes são aplicados nas usinas hidrelétricas, operando em velocidade menor, e o número de polos pode chegar a 78 (Bim, 2012). Neste tema serão apresentadas as principais características dos geradores de polos lisos e de polos salientes. 3.1 Geradores de polos lisos São amplamente utilizados nas usinas termelétricas, podendo atingir potências de até 1500 MW por unidade geradora. Atingem velocidades mais altas do que os geradores de polos salientes, podendo chegar a 3600 rpm. Também podem ser chamados de “turbogeradores”, possuindo rotores com diâmetro de até 1,5 m, comprimento superior a 8 m e peso em torno de 120 toneladas (Moreira, 2017). A Figura 9 apresenta um exemplo de gerador de polos lisos. 11 Figura 9 – Gerador síncrono de polos liso Fonte: Arrogante/Shutterstock. Juntamente à estrutura robusta de um gerador, existem outros subsistemas necessários para garantir sua operação adequada. É importante considerar aspectos ligados à termodinâmica e à mecânica. A relação D/L (D = diâmetro do rotor; L = comprimento axial do rotor) nos geradores de polos lisos é, geralmente, inferior a 0,2 com eixo horizontal. Esses geradores podem ser utilizados também em pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) (Moreira, 2017). 3.2 Geradores de polos salientes São amplamente utilizados nas usinas hidrelétricas, devido às suas características de elevado número de polos e baixa velocidade de rotação (72 a 180 rpm). As unidades geradoras nas hidrelétricas chegam a atingir 800 MW de potência. Quando aplicados nas hidrelétricas, são conhecidos como “hidrogeradores” (Moreira, 2017). Nesse caso, a razão D/L é geralmente maior que 4 para eixo vertical, e o diâmetro do rotor pode atingir 18 m e pesar 1700 toneladas. Na Figura 10, apresenta-se um gerador síncrono de polos salientes. A imagem em primeiro plano é do estator da máquina e, em segundo plano, do rotor (Moreira, 2017). 12 Figura 10 – Gerador síncrono de polos salientes Fonte: Angelo Modesti/Shutterstock. Esses geradores não se limitam às usinas hidrelétricas; também são utilizados em usinas térmicas de pequeno e médio porte, de até 25 MW. Quando usados nessas usinas, apresentam características diferentes das usadas nas hidrelétricas. O número de polos é reduzido para valores entre 4 e 8, e as rotações elevam-se para 900 a 1800 rpm. A relação D/L cai para valores entre 0,5 e 1 (Moreira, 2017). TEMA 4 – CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS E COMPONENTES DO ESTATOR Uma máquina síncrona é composta basicamente por dois componentes: estator e rotor, que formam sua parte ativa, ou seja, a porção do gerador que promove a conversão eletromecânica de energia. A característica do estator não 13 depende de o rotor ser composto por polos lisos ou salientes; segue sempre os mesmos padrões construtivos (Moreira, 2017). Esse estator é representado pela Figura 11. Figura 11 – Estator do gerador síncrono Fonte: Moreira, 2017. O estator é uma das partes essenciais da máquina síncrona, justamente porque é a porção da máquina na qual a energia é produzida e posteriormente fornecida para o sistema elétrico (Moreira, 2017). Ele é formado por um núcleo ferromagnético e possui formato cilíndrico. Esse núcleo é composto por chapas de aço silicioso de espessura muito pequena, isoladas umas das outras e prensadas axialmente. Como nos transformadores elétricos, a construção com chapas metálicas é feita com o objetivo de limitar as perdas no ferro, devido à variação no tempo do campo magnético estabelecido no núcleo (Moreira, 2017). As bobinas do estator ficam presas às ranhuras feitas na parte interna do cilindro do núcleo, e são distribuídas ao longo de todo o perímetro do estator. Elas constituem o que podemos chamar de “enrolamento do estator”, sendo compostas por condutores de cobre isolados entre si por um verniz isolante. Também podemos chamá-las de “enrolamento de armadura” (Moreira, 2017). Entre o estator e o rotor da máquina, existe um pequeno espaço chamado “entreferro”, no qual o campo magnético varia, induzindo uma tensão na bobina do estator. Essa tensão gerada possui ordem de 6,6 a 24 kV e, posteriormente, será elevada com um transformador para os níveis adequados de transmissão de energia (Moreira, 2017). 14 TEMA 5 – CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS E COMPONENTES DO ROTOR O rotor, diferentemente do estator, é a parte rotativa da máquina, que interage com o estator para converter a energia cinética transmitida ao gerador pela turbina em energia elétrica (por meio do eixo que conecta a turbina ao gerador). O rotor possui a função de produzir um campo magnético variável no entreferro da máquina, para que a tensão seja induzida no enrolamento de armadura (bobinas do estator) (Moreira, 2017). Neste capítulo será possível entender quais são as características elétricas e os componentes dos rotores de polos salientes e de polos lisos. 5.1 Rotor de polos salientes Possui poucos polos (4 ou 6) e é construído em peça única, obtida pela estampagem de chapas de elevada espessura ou pela usinagem de um cilindro forjado em aço. O aspecto construtivo de um rotor de polos salientes é apresentado na Figura 12. Figura 12 – Rotor de polos salientes Fonte: Moreira, 2017. O núcleo do rotor, diferentemente do estator, pode ser constituído de aço carbono maciço ou laminação espessa, já que o fluxo magnético no rotor é invariante no tempo, fazendo com que não haja perdas no ferro. Ao redor de cada um dos polos, existem os enrolamentos de excitação, chamados também de “enrolamentos de campo”. Estes recebem alimentação em corrente contínua 15 (CC) de uma fonte externa à máquina. Essa corrente de excitação é transmitida ao enrolamento de campo pelos anéis coletores e pelas escovas de contato (Moreira, 2017). Nas superfícies das sapatas polares existem pequenas ranhuras, cujas extremidades são usadas, no processo de fabricação, para inserir barras condutoras curto-circuitadas. Essa estrutura é chamada de “enrolamento amortecedor” e possui uma importante função: ajudar a garantir a estabilidade do gerador frente às perturbações que ocorrem no sistema elétrico (Moreira, 2017). Quando as máquinas síncronas de polos salientes possuem muitos polos, não é possível construir o núcleo do rotor em peça única. Dessa forma, é necessário que os polos sejam construídos individualmente e, posteriormente, sejam conectados por um anel rotativo ligado ao eixo. Nesses casos, os polos são construídos com lâminas espessas de aço carbono sobrepostas, que formam um conjunto sólido sobre o qual são montadas as bobinas de excitação (Moreira, 2017). A Figura 13 ilustra esse tipo de estrutura. Figura 13 – Rotor de polos salientes com número elevado de polos Fonte: Moreira, 2017. Pode-se perceber na Figura 13 uma estrutura chamada “roda polar”, que se caracteriza pelo conjunto de polos e pelo anel de fixação. Essa roda é conectada ao eixo por meio de braços ou nervuras (Moreira, 2017). No rotor de polos salientes, a abertura entre as sapatas polares tem um tamanho bastante considerável se comparada à distância ocupada por um polo magnético. Assim, pode-se dizer que, do ponto de vista do estator, esse tipo de 16 máquina possui uma permeância magnética elevada na direção do eixo dos polos, chamado de “eixo direto” (E.D.), e uma permeância bem menor na linha estabelecida entre os polos, chamada de “eixoem quadratura” (E.Q.). A estrutura é chamada de “saliente” justamente por essa diferença de permeância entre os eixos magnéticos (Moreira, 2017). 5.2 Rotor de polos lisos Possui pequena diferença de permeância entre os eixos magnéticos, pois nesse caso, diferentemente do rotor de polos salientes, as aberturas entre os polos são menores, fazendo com que a estrutura magnética seja praticamente invariante com a posição (Moreira, 2017). A Figura 14 apresenta o rotor de polos lisos. Figura 14 – Rotor de polos lisos Fonte: Moreira, 2017. Nas grandes máquinas síncronas de polos lisos, o núcleo é fabricado com uma peça única forjada em aço, na qual são realizadas as ranhuras. As bobinas do enrolamento de excitação ficam alojadas nelas, como apresenta a Figura 14. Quando se utiliza o método construtivo com uma só peça, a porção metálica na superfície do rotor se comporta como um enrolamento amortecedor. Dessa forma, não é necessário inserir barras curto-circuitadas, como no caso do rotor de polos salientes (Moreira, 2017). A transmissão da corrente contínua da fonte externa para o enrolamento de campo é realizada de forma similar ao rotor de polos salientes, utilizando-se anéis coletores e escovas (Moreira, 2017). 17 A Figura 15 apresenta mais alguns exemplos de geradores de polos lisos e de polos salientes. Figura 15 – Máquinas de polos salientes (esquerda) e máquinas de polos lisos (direita) Fonte: Moreira, 2017. Pode-se perceber que as diferenças construtivas são claras. Os geradores de polos salientes geralmente possuem diâmetro maior e comprimento menor, com relação ao de polos lisos, e seus polos possuem uma divisão bem clara a olho nu. Esses geradores operam em velocidades mais baixas e são mais aplicados nas usinas hidrelétricas. Já os geradores de polos lisos possuem um comprimento mais elevado e diâmetros pequenos. Ao observar o rotor do gerador, muitas vezes é difícil perceber a divisão entre os polos. Esse tipo é mais empregado quando se trabalha com velocidades de rotação mais altas, geralmente usinas termelétricas (Moreira, 2017). FINALIZANDO Nesta aula, foram abordados cinco temas principais, divididos em subitens para uma melhor organização do documento. 18 Tratou-se inicialmente do conceito de turbinas de ação e reação, diferenciando-o das definições apresentadas na NBR 6445:2016 e em literaturas da área. Com base nessas definições, foi possível aprofundar os conceitos e conhecer as principais turbinas de ação e reação utilizadas nas usinas geradoras de energia elétrica: Francis, Kaplan e Pelton. Cada uma delas foi detalhada em suas características construtivas e operacionais. No segundo tema, vimos como selecionar uma turbina nas usinas hidrelétricas de acordo com características como altura da queda d’água e vazão disponível para a turbina. Foi possível perceber que cada caso é muito específico e particular, sendo necessária uma análise detalhada para fazer a melhor escolha. O terceiro tema tratou dos tipos de geradores utilizados para gerar energia elétrica. O gerador abordado foi o síncrono, pois é a tecnologia mais utilizada atualmente no mercado. Abordamos duas variações com relação à construção do rotor desse tipo de máquina: o rotor de polos lisos e o de polos salientes. Cada tipo foi detalhado em suas características e principais aplicações. Os temas quatro e cinco continuaram a tratar das unidades geradoras, levando em conta especificamente as características relacionadas ao estator e ao rotor das máquinas, respectivamente. O estator das máquinas síncronas foi detalhado em seus aspectos construtivos e em suas funções dentro da máquina, no que concerne à geração de energia elétrica. Da mesma forma, o rotor também foi detalhado, novamente dividindo-se a análise em rotor de polos lisos e de polos salientes. Foi possível perceber claramente as diferenças nos detalhes construtivos de cada tipo de rotor e o quanto isso influencia na sua utilização. 19 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6445: turbinas hidráulicas, turbinas-bombas e bombas de acumulação. Rio de Janeiro: ABNT: mar. 2016. BIM, E. Máquinas elétricas e acionamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. HIDROENERGIA. Tipos de turbinas hidráulicas. 21 jun. 2018. Disponível em: <https://www.hidroenergia.com.br/tipos-de-turbinas-hidraulicas/>. Acesso em: 3 out. 2019. MOREIRA, J. R. S. Energias renováveis, geração distribuída e eficiência energética. Rio de Janeiro: LTC, 2017. SCHREIBER, G. P. Usinas hidrelétricas. São Paulo: Edgard Blucher; Engevix, 1978. https://www.hidroenergia.com.br/tipos-de-turbinas-hidraulicas/ GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA AULA 3 Prof. Rafael Zamodzki 2 CONVERSA INICIAL O foco desta aula será a regulação, ou o controle de tensão, potência e frequência dos geradores presentes nas usinas geradoras de energia, que se localizam no início do Sistema Elétrico de Potência (SEP), mas que possuem um efeito altamente significativo no comportamento do restante do sistema. Com isso, objetiva-se que o aluno compreenda como são feitos os controles de potência, tensão e frequência de geradores. Com esses conhecimentos, será possível analisar as malhas de controle presentes nos sistemas de geração, avaliando e conhecendo a função de cada uma das variáveis que fazem parte dessas malhas. TEMA 1 – REGULADOR DE VELOCIDADE ISÓCRONO Neste tema, será feita uma introdução a respeito da regulação de frequência nos Sistemas Elétricos de Potência (SEPs) e será abordada a primeira topologia de regulador, o regulador de velocidade isócrono. 1.1 Introdução Os Sistemas Elétricos de Potência são sistemas complexos que atuam de forma interligada (geração, transmissão e distribuição) e sincronizada com várias unidades geradoras conectadas em paralelo para alimentar uma carga em uma frequência determinada (Eremia; Shahidehpour, 2013). Todos os equipamentos que são utilizados pelos consumidores operam em valores padronizados de frequência, determinando, dessa forma, que a energia seja entregue ao consumidor final com valores de frequência dentro de limites aceitáveis por esses equipamentos, para que não sofram avarias. Para que a frequência no SEP permaneça dentro dos limites estabelecidos pelas normas regulamentadoras, é necessário que sempre exista um balanço entre carga (energia que está sendo consumida) e geração (energia que está sendo gerada). Caso haja um desequilíbrio grande nesses parâmetros, a frequência do sistema irá variar, causando problemas em todas as instâncias do SEP. Os desequilíbrios de frequência serão pequenos, caso as variações de carga-geração sejam pequenas (variações aleatórias de cargas), e serão grandes, caso as variações de carga-geração sejam grandes (desconexão de 3 um gerador ou desconexão de uma grande quantidade de cargas) (Eremia; Shahidehpour, 2013). No Brasil, os limites de variação de frequência são estabelecidos pelo Módulo 8 dos Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (Prodist). No item 7 desse documento, estabelece-se que: 7.1 O sistema de distribuição e as instalações de geração conectadas ao mesmo devem, em condições normais de operação e em regime permanente, operar dentro dos limites de frequência situados entre 59,9 Hz e 60,1 Hz. 7.2 Quando da ocorrência de distúrbios no sistema de distribuição, as instalações de geração devem garantir que a frequência retorne, no intervalo de tempo de 30 (trinta) segundos após a transgressão, para a faixa de 59,5 Hz a 60,5 Hz, para permitir a recuperação do equilíbrio carga-geração. 7.3 Havendo necessidade de corte de geração ou de carga para permitir a recuperação do equilíbrio carga-geração,durante os distúrbios no sistema de distribuição, a frequência: a) não pode exceder 66 Hz ou ser inferior a 56,5 Hz em condições extremas; b) pode permanecer acima de 62 Hz por no máximo 30 (trinta) segundos e acima de 63,5 Hz por no máximo 10 (dez) segundos; c) pode permanecer abaixo de 58,5 Hz por no máximo 10 (dez) segundos e abaixo de 57,5 Hz por no máximo 05 (cinco) segundos. (Aneel, 2018) Dentro dos SEPs, a regulação de frequência pode ser realizada utilizando- se um, dois ou três estágios, que são chamados de regulação primária (controle de velocidade), secundária (controle automático da geração (CAG) e terciária de frequência. Nesta aula serão tratados apenas os aspectos relacionados à regulação primária de velocidade e às topologias de reguladores utilizadas para a realização dessa correção nos valores da frequência. É importante citar que, caso haja variações significativas sucessivas de frequência, pode ser que apenas a regulação primária não seja suficiente, pois, nestes casos, apenas a atuação desse primeiro estágio tende a deixar um erro de frequência em regime permanente, exigindo, assim, a atuação do controle secundário para correção desse erro. 1.2 Regulador de velocidade isócrono Esse regulador trabalha com velocidade constante, como o próprio nome sugere, operando de acordo com uma malha de controle fechada, ajustando a admissão da turbina (a vapor ou hidráulica) para fazer com que a frequência do sistema retorne ao seu valor nominal (Kundur, 1994). 4 Figura 1 – Diagrama de blocos de um regulador isócrono Fonte: Adaptado de Kundur, 1994. A operação desse sistema em malha fechada ocorre da seguinte maneira: a velocidade medida do rotor ωr é comparada com uma velocidade de referência ω0. O sinal de erro Δωr é multiplicado por um ganho K, passando posteriormente por um integrador. O sinal de saída ΔY é o sinal de controle que é enviado para a válvula, no caso de uma turbina a vapor ou para a comporta, no caso de uma turbina hidráulica. As potências identificadas como Pm e Pe são, respectivamente, a potência mecânica, no eixo entre a turbina e o gerador e a potência elétrica na saída do gerador (Kundur, 1994). A resposta de um sistema isócrono ao longo do tempo é apresentada na Figura 2. Essa resposta corresponde ao comportamento do regulador isócrono quando há um aumento na carga, ou seja, a potência elétrica demandada torna- se maior, fazendo com que a frequência caia a uma taxa determinada pela inércia do rotor da máquina (Kundur, 1994). Figura 2 – Resposta do regulador isócrono a um aumento na carga Fonte: Adaptado de Kundur, 1994. 5 Observando a Figura 2, percebe-se que à medida que a velocidade cai, a potência mecânica da turbina começa a subir, fazendo com que haja uma redução na taxa de redução da velocidade. Quando a potência mecânica da turbina ultrapassa a variação de carga ΔPL, a velocidade começa a aumentar. A velocidade retorna então para o valor de referência e a potência mecânica assume um novo ponto de equilíbrio, ou seja, em regime permanente, o valor anterior de Pm foi incrementado por um valor ΔPm igual à potência adicional da carga ΔPL (Kundur, 1994). Os reguladores isócronos são aplicáveis apenas em sistemas em que um gerador alimenta uma carga isolada ou quando apenas um gerador, em um sistema com várias máquinas, é responsável por responder às mudanças na carga. Quando várias máquinas alimentam cargas interconectadas (compartilhamento de carga) e são responsáveis por responder às variações de carga, torna-se necessária a utilização de reguladores com velocidade variável, como os que serão discutidos a seguir: o regulador com queda de velocidade e o regulador com estatismo transitório (Kundur, 1994). TEMA 2 – REGULADOR COM QUEDA DE VELOCIDADE O regulador isócrono não pode ser utilizado quando duas ou mais unidades estão alimentando as mesmas cargas, pois, se fosse empregado dessa forma, seria necessário que todas as máquinas trabalhassem exatamente na mesma velocidade, tornando a operação inviável, porque os geradores iriam entrar em conflito, sendo que cada um tentaria controlar a frequência do sistema individualmente, podendo levar o sistema à instabilidade (Kundur, 1994). Para que a divisão de carga seja realizada de forma estável entre duas ou mais unidades, é necessário utilizar o regulador com queda de velocidade. A malha de controle desse regulador é apresentada na Figura 3 (Kundur, 1994). 6 Figura 3 – Diagrama de blocos do regulador com queda de velocidade Fonte: Adaptado de Kundur, 1994. Pode-se perceber que a diferença dessa malha com relação à malha de controle do regulador isócrono resume-se na adição de uma realimentação ao redor do integrador. A constante R que aparece na realimentação é chamada de estatismo e consiste na relação entre a variação de frequência e a variação de potência de saída. O estatismo basicamente determina o quanto de potência ativa cada máquina irá gerar para corrigir o desequilíbrio entre a potência gerada e a carga. Além disso, também determina o valor final da frequência do sistema. Pode-se dizer que quanto menor o estatismo, menor será o desvio de frequência em condições de regime permanente. Ademais, valores muito baixos de estatismo podem gerar uma resposta oscilatória ou até mesmo instabilizar o sistema. Valores elevados, por sua vez, fazem com que a unidade geradora não contribua de forma efetiva na regulação da frequência do sistema (Kundur, 1994). Na Figura 4, apresenta-se um gráfico da frequência (ou velocidade) versus a potência de saída (ou posição da válvula/comporta). 7 Figura 4 – Representação do estatismo em um regulador com queda de velocidade Fonte: Adaptado de Kundur, 1994. Na Figura 4, ωNL é a velocidade em regime permanente sem carga, ωFL é a velocidade em regime permanente com carga nominal e ω0 é a velocidade nominal ou de referência. O estatismo pode ser determinado utilizando-se (1) (Kundur, 1994). f R P (1) Tipicamente, o estatismo utilizado é de 5%, o que significa que uma variação de 5% na frequência causa uma variação de 100% na posição das comportas ou válvulas (ou potência de saída) (Kundur, 1994). 2.1 Compartilhamento de carga – unidades em paralelo Se duas ou mais unidades geradoras estão operando em paralelo no mesmo sistema e possuem regulador com queda de velocidade, cada uma assumirá uma parcela da carga para efetuar a regulação de frequência. Considerando duas unidades (Figura 5) que estão inicialmente operando na frequência nominal f0, com potências de saída P1 e P2, quando a carga aumenta, as unidades perdem velocidade e os reguladores de frequência aumentam a saída até que seja atingida uma nova frequência f’ (Kundur, 1994). 8 Figura 5 – Compartilhamento de carga entre duas unidades com valores diferentes de estatismo Fonte: Adaptado de Kundur, 1994. Cada unidade vai assumir uma quantidade de carga de acordo com (2) e (3) (Kundur, 1994). ' 1 1 1 1 f P P P R (2) ' 2 2 2 2 f P P P R (3) As unidades com menor estatismo assumem mais potência. Na Figura 6, apresenta-se a resposta no tempo de uma unidade de geração com regulador com queda de velocidade. 9 Figura 6 – Resposta no tempo de uma unidade com regulador com queda de velocidade Fonte: Adaptado de Kundur, 1994. Quando a unidade é submetida a uma variação de carga, comporta-se como mostrado na Figura 6, apresentando um desvio na frequência ou velocidade em regime permanente (Δωss), devido à característica de queda de velocidade (Kundur, 1994). TEMA 3 – REGULADOR COM ESTATISMO TRANSITÓRIO Devido à inércia da água, as turbinas hidráulicas possuem uma resposta peculiar na regulação de velocidade, pois uma mudança na posição da comporta produz uma variação na potênciada turbina, que é oposta àquela solicitada. Desta forma, para que haja uma operação estável do controle, um estatismo transitório com um longo tempo de restabelecimento é necessário (Kundur, 1994). Isto é implementado utilizando-se uma realimentação de compensação na malha de controle que atua na abertura ou fechamento das comportas. Esse tipo de malha com estatismo transitório é apresentado na Figura 7. 10 Figura 7 – Malha de controle do regulador de velocidade com estatismo transitório Fonte: Adaptado de Kundur, 1994. Na Figura 7, RP é o estatismo permanente, RT é o estatismo temporário (transitório) e TR é o tempo de restabelecimento (Kundur, 1994). Essa compensação adicionada à realimentação retarda ou limita o movimento da comporta até que o fluxo de água e a potência de saída se equilibrem. Desta forma, um alto estatismo (e baixo ganho) surge para rápidos desequilíbrios de velocidade, e um baixo estatismo (e alto ganho) é estabelecido em regime permanente (Kundur, 1994). TEMA 4 – REGULADOR DE TENSÃO ANALÓGICO O regulador automático de tensão (AVR, do inglês Automatic Voltage Regulator) é utilizado para regular a tensão terminal do gerador por meio do controle da corrente que é fornecida ao enrolamento de campo do gerador pela excitatriz (Machowski; Bialek; Bumby, 2008). 4.1 Introdução Além das malhas de controle utilizadas para regulação da frequência do sistema, existem outras malhas que estão presentes no sistema de geração, como a malha utilizada para regulação automática de tensão. O controle de tensão é obtido por um AVR, baseado na medição e no monitoramento da tensão, com o objetivo de manter a tensão em um valor de referência, corrigindo- a automaticamente com constantes de tempo entre pequenas centenas de milissegundos até um segundo, dependendo das características da excitatriz utilizada (Eremia; Shahidehpour, 2013). 11 O diagrama de blocos geral do AVR é apresentado na Figura 8. Figura 8 – Diagrama de blocos geral do AVR Fonte: Adaptado de Machowski; Bialek, Bumby, 2018. Os transdutores medem a corrente, a potência, a tensão terminal e a frequência do gerador síncrono. A tensão terminal Vg é compensada pela corrente da carga, Ig, e comparada com a tensão de referência Vref, produzindo o erro de tensão ΔV. Esse erro, por sua vez, é amplificado e utilizado para alterar a saída da excitatriz e, consequentemente, a corrente de campo do gerador, para que o erro de tensão seja eliminado. O sinal de realimentação retirado da saída do amplificador é utilizado para estabilizar o processo de controle (Machowski; Bialek; Bumby, 2008). O sistema do AVR inclui, também, alguns limitadores que possuem a função de proteger o próprio sistema regulador, a excitatriz e o gerador contra tensões e correntes que possam danificar seus componentes. Além disso, um estabilizador do sistema de potência (PSS, do inglês Power System Stabilizer) também pode ser adicionado à malha do AVR para ajudar a amortecer oscilações presentes no sistema. O PSS geralmente é composto por elementos diferenciadores e elementos que corrigem desvios de fase (Machowski; Bialek; Bumby, 2008). Os reguladores de tensão podem ser implementados de forma analógica ou utilizando microprocessadores, trabalhando de forma digital. Ambas as topologias possuem vantagens e desvantagens e serão abordadas de forma mais aprofundada nas próximas seções. 12 4.2 Regulador analógico Os primeiros reguladores de tensão que surgiram eram totalmente analógicos e manuais. A operação de um regulador desse tipo é baseada na observação de um operador e consiste no ajuste da corrente de campo do gerador síncrono, utilizando resistências e reatâncias indutivas ajustáveis, como elementos de compensação. Com isso, usando esta impedância e a corrente de armadura do gerador síncrono (corrente de saída), uma queda de tensão é computada e utilizada para regular a tensão terminal do gerador (Kundur, 1994) (Anderson; Fouad, 2003). Figura 9 – Diagrama geral de um sistema com AVR analógico Fonte: Adaptado de Kundur, 1994. A magnitude da tensão de saída do compensador, que é a entrada do AVR (bloco Regulador de Tensão), é definida por (4) (Kundur, 1994). c t C C tV E R jX I (4) Com RC e XC positivos, a queda de tensão no compensador é adicionada à tensão terminal e o compensador regula a tensão em um ponto dentro do gerador. Essa estratégia é utilizada para garantir o compartilhamento de potência reativa entre os geradores que estão conectados ao mesmo barramento e que compartilham o mesmo transformador elevador. É um arranjo tipicamente utilizado em unidades hidráulicas de geração e em unidades térmicas de alta e baixa pressão. O compensador atua como um compensador de corrente reativa, criando um acoplamento artificial entre os geradores e 13 permitindo que a geração de reativos fique equilibrada entre as máquinas (Kundur, 1994). Com RC e XC negativos, a compensação ocorre em um ponto além dos terminais da máquina. Utiliza-se esse tipo de compensação para compensar a queda de tensão no transformador elevador, quando duas ou mais unidades de geração estão conectadas em transformadores individuais. Esse tipo de regulação é comumente chamado de compensação por queda de tensão (LDC, do inglês Line Drop Compensation) (Kundur, 1994). Com a evolução das tecnologias relacionadas aos sistemas de controle, os AVRs foram sofrendo mudanças ao longo do tempo, fazendo com que os controles analógicos fossem sendo substituídos por controles digitais microprocessados. Esse tipo de regulador de tensão será tratado a seguir. TEMA 5 – REGULADOR DE TENSÃO MICROPROCESSADO Os reguladores de tensão microprocessados têm sido implementados por oferecerem uma série de vantagens com relação aos analógicos, principalmente com relação à estabilidade e à precisão com que os ajustes de tensão são realizados. Uma lista de outras vantagens é apresentada a seguir (Cigré-Brasil, 2011): Possibilidade de ajustes idênticos para várias unidades de uma mesma usina Precisão e estabilidade nos ajustes Maior facilidade para projeto, devido à lógica do sistema de regulação ser realizada por software amigável Menor quantidade de componentes ativos, diminuindo a possibilidade de falhas e a necessidade de ajustes, tais como potenciômetros, botões de comando, medidores, reostatos etc. Menor tempo de entrega de equipamentos pelos fabricantes devido à montagem do sistema de excitação ser facilitada pela menor quantidade de fiação e componentes Menor tempo de teste, comissionamento e start-up devido ao software de detecção de defeitos e a não necessidade de trocas de componentes para ajustes de parâmetros 14 Interfaces de comunicação bastante robustas, no sentido de suportar operação, ensaios etc. Maior disponibilidade de recursos para atendimento pelo fabricante das funcionalidades colocadas na Especificação Técnica Funcional do cliente Simplificação e maior confiabilidade nas operações de rastreamento e transferências entre os modos de operação do regulador Além dessas vantagens, os sistemas microprocessados geralmente vêm equipados com sistemas de comunicação robustos e com alta conectividade, utilizando protocolos de comunicação desenvolvidos para sistemas de geração de energia, como IEC61870, DNP 3.0, Modbus TCP e Serial, IEC61850, entre outros (Cigré-Brasil, 2011). Os reguladores também devem ser providos de recursos que facilitem os ensaios e testes para avaliação de seu desempenho e de sua dinâmica de operação. Alguns recursos desejáveis são (Cigré-Brasil, 2011): a. Degrau – Aplicação de degrau nas referências de suas malhas de controle em qualquer condição operativa, propiciando, assim, a verificação da dinâmica da malha de controle. b. Comando direto – Permitir o comandodireto de malhas de controle intermediárias e de atuação direta do conversor de potência. A facilidade de abrir a malha de controle permite diagnosticar problemas intermediários e outras análises. c. Supervisão de sinais – Permitir a supervisão de sinais por meio de interface de conectividade, possibilitando, desse modo, monitorar e supervisionar todos os sinais do sistema de regulação e excitação, inclusive os sinais intermediários das malhas de controle. d. Forçamento de sinais – Permitir o forçamento de sinais de entrada e saída no controlador do sistema de excitação e regulação de tensão por meio de comandos lógicos. e. Registrador de sinais analógicos e digitais – Os sistemas de regulação de tensão deverão possuir a capacidade de gerar registros internos de sinais. Tais registros devem ser programáveis e permitir uma série de combinações para o diagnóstico do sistema de excitação e regulação de tensão, da unidade geradora e do comportamento dinâmico do sistema. 15 O registrador interno de sinais deve permitir o registro de sinais analógicos (contínuos) ou sinais digitais (discretos) ou mesmo a combinação dos dois. Todos são programados por meio de software de edição de configurações e carregados na CPU para uso conforme cada necessidade. Deve ser possível programar o número de sinais que se deseja registrar (analógicos ou digitais), o tempo de registro, a cor do sinal, dar nome ao registro, dar nome ao sinal registrado, converter o sinal para um valor absoluto ou percentual, o disparo do registro, o nome do disparo. O registro de sinais deve possuir informações básicas para suporte e análise, tais como: Nome unidade de origem; Identificação da unidade de origem; Descrição do Registro; Condição/Motivo do disparo; Data e Hora do Registro; Desvios; Frequência da linha. A estampa da base de tempo do controlador em cada registro deverá ser igualmente registrada, mesmo que a base de tempo seja sincronizada por relógio externo. A taxa de aquisição do registro deve ser a mesma do controle, uma vez que o sinal é obtido dentro do controlador. Os registros devem possuir as seguintes características básicas: 1. Tempo de pré-falta: configurável (em passos de 100 ms) e menor que o tempo total do registro. 2. Taxa de amostragem: conforme taxa da tarefa em que o sinal estiver sendo processado (em geral ao redor de 10 ms). 3. Duração do registro: até que o parâmetro, usado como trigger, volte ao normal. 4. Tempo de pós falta: configurável em passos de 100 ms. O ajuste típico é de 120 segundos 5. Estampa de Tempo: o relógio interno do controlador (CPU) pode ser sincronizado a um sinal de externo de tempo, tal como GPS. 6. Disparo de Trigger: o disparo, em geral, deve ser programado para os seguintes sinais: Partida; Parada; Fechamento do Disjuntor; Abertura do Disjuntor; Falha do Regulador; Degrau Aplicado no Regulador; Disparo Manual. Contudo o disparo pode ser programado e utilizar qualquer sinal ou combinações de sinais. 7. Armazenamento: os registros devem ser armazenados em memória não volátil, e a capacidade de armazenamento deve ser maior ou igual a 32 Mbytes 16 8. Apagamento dos registros: os registros memorizados poderão ser apagados, quando for esgotada a capacidade de memória e caso haja a necessidade de memorizar novos dados. Nesse caso, os novos dados são gravados sobre os registros mais antigos. 9. Capacidade: o regulador deverá permitir até 50 registros armazenados, sendo que, essa fila de registros, poderá ser circular ou limitada, configurada por escolha do usuário. Registrador de eventos – deverá ser capaz de gerar registros de eventos, tais como ações de comando, ações operativas e toda e qualquer sinalização discreta do equipamento, bem como suas entradas e saídas discretas associadas ao controle e proteção da unidade. Deve estar associada à base de tempo amostrada em ano, mês, dia, hora, minuto, segundo e milissegundo. O regulador deverá ser capaz de registrar sinais e eventos simultaneamente a fim de fornecer dados para análise e manutenção do equipamento. FINALIZANDO Nesta aula abordamos cinco temas principais, tratando das malhas de controle situadas nos sistemas de geração das usinas presentes nos SEPs. Foram abordadas malhas de controle de velocidade e malhas de controle de tensão. É importante recordar os objetivos da aula para que o aluno verifique se realmente conseguiu absorver todo o conteúdo apresentado. O objetivo aqui era que o aluno compreendesse como são feitos os controles de potência, tensão e frequência de geradores. No primeiro tema, abordou-se aspectos relacionados à regulação de frequência, utilizando o regulador isócrono. Percebeu-se que esse tipo de regulador trabalha apenas com velocidade constante, possui uma malha de controle com realimentação simples e não pode ser utilizado em sistemas em que duas ou mais unidades alimentam as mesmas cargas, pois isso pode gerar a instabilidade do sistema. Apresentou-se a resposta desse tipo de regulador no tempo, considerando variações de carga e observando as variações na velocidade e na potência de saída. 17 O segundo tipo de regulador abordado foi o regulador com queda de velocidade. Nesse regulador, foi possível perceber que a velocidade é variável e que a malha de controle possui duas realimentações. Um fator importante que surgiu nesse segundo tipo de regulador foi o estatismo, que é o ganho que define quanta potência cada uma das máquinas vai assumir para que a regulação de frequência seja realizada com eficiência. Foi possível analisar o comportamento das máquinas quando é utilizado um baixo estatismo e quando um valor alto é configurado para este parâmetro. A resposta no tempo deste tipo de regulador também foi apresentada, sendo possível verificar como comportam-se a velocidade e a potência de saída das máquinas frente às variações de carga do sistema. O terceiro tema tratou a respeito da regulação de frequência, utilizando regulador com estatismo transitório. Esse tipo de regulador favorece a regulação de frequência em unidades geradoras hidráulicas, pois permite um atraso na abertura da comporta para não causar um efeito reverso no momento da regulação. Assim, alguns termos foram adicionados à malha de controle do regulador com queda de velocidade, tornando o regulador um pouco mais complexo. A resposta no tempo também foi apresentada para esse caso e foi possível perceber que existe um erro de frequência em regime permanente para esse tipo de regulador. No quarto tema, iniciou-se a abordagem sobre os reguladores automáticos de tensão (AVRs). Primeiramente foi apresentada uma introdução a respeito desses dispositivos, em que foi possível perceber a extrema importância desse elemento em um sistema de geração de energia elétrica. O AVR auxilia na regulação de tensão nos terminais do gerador, contribuindo desde a geração para a qualidade da energia transmitida e entregue ao consumidor final. O primeiro tipo de regulador abordado foi o analógico. Foi apresentado um diagrama de blocos mostrando onde se situa o regulador automático de tensão dentro do sistema. O último tema abordou aspectos relacionados ao regulador de tensão microprocessado. Foi possível perceber que o cenário da geração está sendo alterado com a evolução da tecnologia. Passou-se de ajustes manuais de operadores para ajustes automáticos por meio de microprocessadores. Apontou- se diversas vantagens da utilização desse tipo de controle e também diversos aspectos relacionados a guias e normas que indicam os itens que são 18 necessários na composição de um sistema de regulação de tensão microprocessado, pensando nos ensaios, testes, operação, comissionamento, identificação e diagnóstico de problemas e manutenção. 19 REFERÊNCIAS ANDERSON,P. M.; FOUAD, A. A. Power System Control and Stability. 2nd ed. Wiley: IEEE Press, 2003. ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Procedimentos de distribuição de energia elétrica no sistema elétrico nacional – PRODIST. Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica, 2018. CIGRÉ-Brasil. Força Tarefa C2.11. Guia para especificação de sistemas de excitação de máquinas síncronas, 2011. EREMIA, M.; SHAHIDEHPOUR, M. Handbook of Electrical Power System Dynamics: Modeling, Stability and Control. Wiley: IEEE Press, 2013. KUNDUR, P. Power System Stability and Control. USA: McGraw-Hill, 1994. MACHOWSKI, J.; BIALEK, J. W.; BUMBY, J. R. Power System Dynamics: Stability and Control. 2nd ed. United Kingdom: Wiley, 2008. GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA AULA 4 Prof. Rafael Zamodzki CONVERSA INICIAL Nesta aula, serão trabalhados os tópicos relacionados às linhas de transmissão. Os temas abordarão desde aspectos de modelagem das linhas, passando pelo cálculo dos parâmetros de linha e dos parâmetros elétricos (potência, corrente, tensão) até aspectos práticos relacionados aos esforços aos quais as linhas e torres estão submetidas e aos aspectos de projeto dos sistemas de transmissão. Ao final desta aula, deseja-se que o aluno: • Compreenda o funcionamento de linhas de transmissão • Saiba analisar projetos de linhas de transmissão • Compreenda a representação de linhas de transmissão Utilizando esses conhecimentos, o aluno poderá realizar a análise do fluxo de potência de qualquer Sistema Elétrico de Potência (SEP), bem como avaliar e realizar o projeto de linhas de transmissão. Será possível também modelar e simular o comportamento de sistemas de transmissão para analisar contingências dentro do sistema e efetuar tomadas de decisão conforme o problema apresentado. A aula está dividida em cinco temas, que são descritos a seguir: • Tema 1 – Modelos de linhas longas, médias e curtas • Tema 2 – Cálculo de tensões, correntes, potências, regulação e perdas • Tema 3 – Esforços nas estruturas e cabos • Tema 4 – Equação de mudança de estados • Tema 5 – Parâmetros de projeto de linhas de transmissão TEMA 1 – MODELOS DE LINHAS LONGAS, MÉDIAS E CURTAS As linhas de transmissão são necessárias dentro do Sistema Elétrico de Potência (SEP) porque muitas vezes a energia elétrica é gerada em áreas geograficamente distantes dos centros de consumo. Sendo assim, a principal função destas linhas é conduzir a energia produzida nos sistemas de geração até os sistemas de distribuição, localizados próximos aos centros consumidores de energia (Mohan, 2012). 3 Os sistemas de transmissão devem ser robustos, prover uma alta confiabilidade e exercer sua função com o mínimo de perdas possível para que o sistema opere de forma estável com o mínimo custo possível (Mohan, 2012). A maioria dos sistemas de transmissão opera em corrente alternada (CA) e é formada por redes aéreas, porém a transmissão de energia também pode ser realizada em corrente contínua (CC) através dos sistemas de transmissão de alta tensão em corrente contínua (HVDC, do inglês High-Voltage Direct Current). Os sistemas de transmissão CC exigem conversores de potência no início e no fim da linha de transmissão (Mohan, 2012). Esta aula discutirá apenas os sistemas em CA, pois os detalhes dos sistemas CC saem do nosso escopo. 1.1 Modelo de linhas longas com parâmetros distribuídos Qualquer trecho da linha de transmissão, por menor que seja, apresentará quatro parâmetros, que podem ser divididos em (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000): • Parâmetros série ou longitudinais o Resistência (R) – com a passagem da corrente, favorece a perda de potência ativa; o Indutância (L) – com a passagem da corrente, favorece a presença de campos magnéticos. • Parâmetros shunt ou transversais o Capacitância (C) – com a diferença de potencial, favorece a presença de campos elétricos; o Condutância (G) – favorece a presença de correntes de fuga. Todos esses parâmetros são calculados por unidade de comprimento e estão distribuídos ao longo da linha de transmissão. Para iniciar a modelagem, considera-se o circuito apresentado na Figura 1. 4 Figura 1 – Circuito equivalente de uma linha de transmissão longa Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). A modelagem da linha longa será realizada considerando-se um trecho diferencial Δx. Como os parâmetros da linha são calculados por unidade de comprimento, deve-se considerar que zΔx é a impedância série do trecho diferencial e yΔx é a admitância shunt do trecho diferencial. A corrente pela impedância série pode ser determinada por (1) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) médio I I I II I 2 2 + + ∆ ∆ = = + (1) Já a tensão na admitância shunt é dada pela média das tensões no início e no fim do trecho diferencial e é determinada por (2) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) médio V V V VV V 2 2 + + ∆ ∆ = = + (2) A tensão no fim do trecho diferencial é definida pela diferença entre a tensão do início do trecho e a queda de tensão nos parâmetros série, como pode ser visto em (3) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). médioV V V z x I IV z x I z I x 2 + ∆ = − ⋅∆ ⋅ ∆ ∆ = − ⋅∆ ⋅ + = − ⋅ ⋅∆ (3) Analogamente, a diferença de corrente entre o início e o fim do trecho se deve ao desvio de uma parte da corrente pelos parâmetros shunt. Essa relação é definida por (4) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 5 médioI I I y x V VI y x V y V x 2 + ∆ = − ⋅∆ ⋅ ∆ ∆ = − ⋅∆ ⋅ + = − ⋅ ⋅∆ (4) Os produtos dos termos diferenciais são desprezados, pois não possuem um valor significativo. Isolando os termos diferenciais em (3) e (4) e fazendo Δx tender a zero, pela definição de derivada, obtêm-se (5) e (6) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). dV z I dx = − ⋅ (5) dI y V dx = − ⋅ (6) Derivar (5) e (6) mais uma vez em relação a x resulta em (7) e (8) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 2 2 d V dIz dx dx = − ⋅ (7) 2 2 d I dVy dx dx = − ⋅ (8) Substituindo (6) em (7) e (5) em (8), obtemos (9) e (10) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 2 2 d V z y V dx = ⋅ ⋅ (9) 2 2 d I z y I dx = ⋅ ⋅ (10) Que podem ser reescritas como (11) e (12) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) 2 2 2 d V x V x dx γ= ⋅ (11) ( ) ( ) 2 2 2 d I x I x dx γ= ⋅ (12) A solução das equações diferenciais (11) e (12) possui a forma de (13) e (14) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( )V x A cosh x B senh xγ γ= + (13) 6 ( )I x Ccosh x D senh xγ γ= + (14) Supondo que são conhecidas a tensão e a corrente no início da linha (x = 0), encontram-se as constantes A e C, pois senh (0) = 0 e cosh (0) = 1 (Stevenson, 1986, Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) A V 0 C I 0 = = (15) Para encontrar as constantes B e D, substituem-se (13) e (14) em (5) e (6) e aplicam-se as derivadas, obtendo-se (16) e (17) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( )A senh x B cosh x z Ccosh x D senh xγ γ γ γ γ+ = − + (16) ( ) ( )C senh x D cosh x y A cosh x B senh xγ γ γ γ γ+ = − + (17) Resolve-se para x = 0 e encontram-se (18) e (19) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( )B zC zI 0γ = − = − (18) ( )D yA yV 0γ = − = − (19) Por fim, encontram-se as constantes B e D, apresentadas em (20) e (21) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) ( )c z zB I 0 I 0 Z I 0 yγ = − = − = − (20) ( ) ( ) ( ) c y y 1D V 0 V 0 V 0 z Zγ = − = − = − (21) 7 O termo Zc é a impedância característica da linha, que é a impedância a ser colocada no final da linha para que se tenha a máxima transferência de potência entre geração e carga (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). Finalmente,encontra-se a solução do problema, mostrada em (22) e (23). ( ) ( ) ( )cV x V 0 cosh x Z I 0 senh xγ γ= − (22) ( ) ( ) ( ) c 1I x I 0 cosh x V 0 senh x Z γ γ= − (23) E, caso sejam conhecidas a corrente e a tensão no fim da linha, ao invés do início, as equações tornam-se iguais a (24) e (25) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) R c RV x V cosh x Z I senh xγ γ= + (24) ( ) R R c 1I x I cosh x V senh x Z γ γ= + (25) Nesta modelagem, I (0) = IS é a corrente na fonte (início da linha) e V (0) = VS é a tensão na fonte. Além disso, γ é a constante de propagação da linha. 1.2 Modelo de linhas longas com parâmetros concentrados A primeira modelagem foi realizada considerando-se parâmetros distribuídos ao longo da linha, porém, em geral, tem-se interesse apenas nas grandezas nos extremos da linha, possibilitando que se negligencie o restante dos parâmetros ao longo da linha, pois na maioria das vezes esses parâmetros não geram alterações significativas nos cálculos. Na prática, considera-se que uma linha de transmissão longa é aquela que possui um comprimento maior do que 240 km. Essa linha pode ser representada pelo modelo π equivalente, com parâmetros distribuídos, como mostra a Figura 2 (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 8 Figura 2 - Modelo π equivalente de uma linha de transmissão Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). O comprimento total desta linha é l, e aplicando-se as Leis de Kirchhoff no circuito da Figura 2, obtêm-se (26) e (27) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) ( ) ( )1V V 0 Z I 0 Y V 0 = − − (26) ( ) ( ) ( ) ( )1 2I I 0 Y V 0 Y V= − − (27) Substituindo-se (26) em (27), encontra-se (28) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )1 2 2 1I I 0 Y V 0 Y V 0 ZY I 0 Y V 0 = − − + − (28) Agrupando-se os termos com impedância e admitância, obtemos (29) e (30). ( ) ( ) ( ) ( )1V 1 ZY V 0 Z I 0= + − (29) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )1 2 1 2 2I Y Y Y Y Z V 0 1 ZY I 0= − + + + + (30) Comparando (29) e (30) com (22) e (23), encontra-se Z, mostrado em (31) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). cZ Z senh xγ= (31) Além disso, pode-se concluir que (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000) 1 21 ZY 1 ZY cosh xγ+ = + = (32) Isolando Y1, encontra-se (33). 9 1 c cosh x 1 cosh x 1Y Z Z senh x γ γ γ − − = = (33) É necessário recordar que x x x xe e e ecosh x e senh x 2 2 γ γ γ γ γ γ − −+ − = = (34) E, finalmente, substituindo (34) em (33) e realizando as manipulações matemáticas necessárias, encontra-se (35) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 1 2 c 1 xY tanh Y Z 2 γ = = (35) Portanto, o modelo π equivalente para uma linha de comprimento l é representado pelo circuito mostrado na Figura 3 (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). Figura 3 – Modelo π equivalente para uma linha de comprimento l Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). 1.3 Modelo de linhas médias As linhas médias possuem comprimentos acima de 80 km e abaixo de 240 km. Para essa modelagem, algumas simplificações podem ser realizadas. Desenvolvendo-se os termos exponenciais de (34) em série de Taylor, obtém- se (36) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 10 ( ) ( ) 2 x 2 x x e 1 x 2! x e 1 x 2! γ γ γ γ γ γ− ≈ + + ≈ − + (36) Substituindo (36) em (34), é possível fazer algumas simplificações e obter (37). ( )2 senh cosh 1 2 tanh 2 2 γ γ γ γ γ γ ≈ ≈ + ≈ (37) Desta forma, substituindo (37) em (31) e (35), encontram-se (38) e (39) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). ( )c c zZ Z senh Z zy z R j L y γ γ ω= ≈ = ⋅ ⋅ = = + (38) ( )1 2 c c 1 1 yY Y tanh zy y G j C Z 2 Z 2 z 2 2 2 γ γ ω= = ≈ = ⋅ ⋅ = ⋅ = + (39) Após encontrar os parâmetros, pode-se desenhar o circuito resultante. Este circuito é apresentado na Figura 4 e é chamado de modelo π nominal (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). Figura 4 – Modelo π nominal de uma linha de transmissão de comprimento l Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). O modelo ainda pode ser redesenhado, como mostra a Figura 5. 11 Figura 5 – Circuito pi nominal de uma linha de transmissão média Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). Dessa forma, as equações de tensão e corrente da fonte são definidas por (40) e (41) (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). S R R ZYV 1 V ZI 2 = + + (40) S R R ZY ZYI V Y 1 1 I 4 2 = + + + (41) Praticamente todas as linhas de transmissão são modeladas utilizando- se o modelo π nominal. Quando a linha é longa, costuma-se utilizar vários circuitos π nominal em cascata. Quando se necessita de maior precisão na modelagem, utiliza-se o modelo com parâmetros distribuídos ou o modelo π equivalente, tomando as equações de onda para a modelagem (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 1.4 Modelo de linhas curtas As linhas curtas são aquelas que possuem um comprimento de até 80 quilômetros. Nestas linhas, as capacitâncias shunt podem ser desprezadas. Dessa forma, o modelo de linhas curtas pode ser determinado utilizando-se o circuito da Figura 6 (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). 12 Figura 6 – Circuito utilizado para modelagem de linhas curtas Fonte: Adaptado de Stevenson (1986). A corrente é a mesma nas duas extremidades da linha, portanto (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000) S RI I= (42) E a tensão na barra transmissora é (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000) S R RV V I Z= + (43) onde Z possui o valor zl ou (R+jωL)l, que é a impedância total da linha. TEMA 2 – CÁLCULO DE TENSÕES, CORRENTES, POTÊNCIAS, REGULAÇÃO E PERDAS Neste tema, serão apresentadas as formas de cálculo de variáveis importantes dentro de um sistema de transmissão, como tensões, correntes e potências, e também será possível entender como se calcula a regulação de tensão necessária em uma linha e como determinar as perdas de potência ativa e reativa nas linhas de transmissão. 13 2.1 Cálculo de tensões e correntes Como o cálculo das tensões e correntes já foi apresentado na modelagem, no primeiro tema, aqui as formas de cálculo serão apenas relembradas para cada comprimento de linha (Stevenson, 1986; Bergen, Vittal, 2000). • Para linhas curtas, utilizam-se (44) e (45). S RI I= (44) S R RV V I Z= + (45) • Para linhas médias, as equações são (46) e (47). S R R ZYV 1 V ZI 2 = + + (46) S R R ZY ZYI V Y 1 1 I 4 2 = + + + (47) • Para linhas longas, utilizam-se (48) e (49). ( ) ( ) ( )cV x V 0 cosh x Z I 0 senh xγ γ= − (48) ( ) ( ) ( ) c 1I x I 0 cosh x V 0 senh x Z γ γ= − (49) 2.2 Cálculo de potências Para o cálculo do fluxo de potência ativa e reativa em uma linha de transmissão, deve-se levar em conta os parâmetros série e shunt que estão presentes nesta linha, as correntes que fluem por ela e as tensões nas barras envolvidas. Para esta modelagem, parte-se de um diagrama genérico apresentado na Figura 7 (Monticelli, 1983). 14 Figura 7 – Sistema genérico com duas barras e uma linha de transmissão Fonte: Adaptado de Monticelli (1983). Define-se a impedância série como (Monticelli, 1983) km km kmz r jx= + (50) E a admitância série como (Monticelli, 1983) km km km km 1y g jb z = = + (51) onde gkm é a condutância série e bkm é a susceptância série. A corrente saindo da barra k é definida como (Monticelli, 1983) ( ) shkm km k m km kI y E E jb E= − + (52) O fluxo de potência complexa saindo da barra k é definido por (53) (Monticelli, 1983). * * km km km k kmS P jQ E I= − = (53) Substituindo (52) em (53), realizando as manipulações necessárias, considerando que Vk e Vm são as magnitudes das tensões nas barras k e m, respectivamente, e que θk e θm são os ângulos das tensões nas barrask e m, respectivamente, obtém-se (54) (Monticelli, 1983) ( ) ( ) ( )* sh 2km km km km k km km k m km kmS g jb jb V g jb V V cos jsenθ θ= + + − + − (54) Separando as partes real e imaginária, encontram-se as potências ativa e reativa (Monticelli, 1983). ( )2km km k k m km km km kmP g V V V g cos b senθ θ= − + (55) 15 ( ) ( )sh 2km km km k k m km km km kmQ b b V V V g sen b cosθ θ= − + − − (56) Da mesma forma, o fluxo da barra m para a barra k pode ser determinado por (57) e (58) (Monticelli, 1983). ( )2mk km m k m km km km kmP g V V V g cos b senθ θ= − − (57) ( ) ( )sh 2mk km km m k m km km km kmQ b b V V V g sen b cosθ θ= − + + + (58) 2.3 Regulação A regulação de tensão em uma linha de transmissão é o aumento de tensão na barra receptora, dado em percentagem da tensão de plena carga, quando toda a carga, a um determinado fator de potênciam é retirada da linha, mantendo constante a tensão da barra transmissora (Mohan, 2012). Pode-se definir a regulação de tensão para linhas curtas e para linhas médias/longas. Para linhas curtas, define-se a regulação como apresentado em (59) (Stevenson, 1986). ( ) R, NL R, FL R, FL V V Regulação % 100 V − = ⋅ (59) onde |VR, NL| é a amplitude da tensão em vazio na barra receptora e |VR, FL| é a tensão a plena carga na mesma barra, com a tensão da barra transmissora |VS| constante. Para linhas médias e longas, define-se a regulação de tensão como em (60) (Stevenson, 1986). ( ) s R, FL R, FL V A V Regulação % 100 V − = ⋅ (60) onde A é a razão VS/VR em vazio. 2.4 Perdas As potências ativa e reativa que saem de uma barra não são as mesmas que chegam na barra receptora em um sistema de transmissão. As perdas de potência ativa e reativa ocorrem ao longo das linhas devido aos elementos série e shunt presentes. Deseja-se sempre ter o mínimo de perdas possível, para que a maior parte da energia transmitida chegue na barra receptora. 16 As perdas de potência ativa e reativa são calculadas levando-se em conta as equações definidas em (55) a (58) e obtendo-se (61) e (62) (Stevenson, 1986). perdas km mk 2 perdas km k m P P P P g E E = + = − (61) ( ) perdas km mk 2sh 2 2 perdas km k m km k m Q Q Q Q b V V b E E = + = − + − − (62) TEMA 3 – ESFORÇOS NAS ESTRUTURAS E CABOS A NBR 5422 de 1985 trata do projeto de linhas aéreas de transmissão de energia elétrica, trazendo os requisitos necessários a respeito das estruturas, dos isoladores e ferragens, suportes e fundações, esforços mecânicos aos quais os elementos estão submetidos, aterramento, distâncias de segurança, travessias, faixas de segurança, etc (ABNT, 1985). Com relação aos esforços aos quais os isoladores e as ferragens estão submetidos, a norma estabelece no seu item 6 que: 6.2 Os isoladores rígidos e respectivos acessórios não devem ser submetidos a um esforço superior a 40% de sua carga nominal de ruptura. 6.3 Os isoladores para cadeias e seus acessórios não devem ser submetidos a um esforço de tração superior a 40% da carga nominal de ruptura para cargas de duração prolongada, a 50% para cargas de montagem ou de manutenção e a 60% para cargas de curta duração. (ABNT, 1985). No item 8, a norma estabelece os tipos de esforços mecânicos aos quais os suportes estão sujeitos: São os seguintes os esforços a que o suporte está sujeito: a) cargas de vento: aquelas atuantes sobre os suportes, cadeias de isoladores e cabos devido à ação do vento; b) cargas permanentes: aquelas que praticamente não variam durante a vida da linha, como por exemplo: peso dos cabos e ferragens e esforço transversal (sem vento) devido aos cabos em suportes de ângulo e de ancoragem; c) cargas especiais: aquelas que ocorrem especificamente durante a construção e manutenção da linha, levando em consideração a presença simultânea de homens para estas atividades. Consideram-se também como especiais as cargas para prevenção do fenômeno de cascata (queda sucessiva dos suportes), quando da ocorrência de falha de algum componente da linha (ABNT, 1985). 17 É possível calcular os esforços aos quais os suportes, isoladores e cabos estarão submetidos após a concepção da linha de transmissão. A NBR 5422 traz todos esses equacionamentos em seu conteúdo. TEMA 4 – EQUAÇÃO DE MUDANÇA DE ESTADOS A equação de mudança de estados está totalmente ligada às variações de temperatura às quais a linha de transmissão está submetida em cada instante. As variações de temperatura que ocorrem no ambiente das linhas de transmissão podem ser bastante acentuadas, por exemplo, em diferentes estações do ano, com a temperatura ambiente podendo variar até 40 ºC ao longo dos meses. Além disso, os condutores estão sujeitos ao aquecimento devido ao efeito Joule, pela passagem de corrente. É difícil determinar com exatidão toda a faixa de temperaturas na qual as linhas de transmissão irão trabalhar, pois são diversas as variáveis envolvidas no processo. Determina-se, portanto, de forma estatística, considerando probabilidades e modelos meteorológicos da região onde a linha será instalada (Labegalini et al., 1992). É de extrema importância levar em conta a variação de temperatura no projeto de linhas de transmissão, pois com a elevação da temperatura ocorre a dilatação dos cabos e estruturas e, com a queda da temperatura, ocorre a contração desses elementos. Isso faz com que a tração e a flecha variem juntamente com a variação da temperatura. Quando há uma elevação da temperatura, a flecha tende a aumentar e a tração, a diminuir. Quando há uma queda na temperatura, a tendência é ocorrer o contrário (Labegalini et al., 1992). Para calcular todas essas variações, utiliza-se a equação de mudança de estados. A equação de mudança de estados devido à variação de temperatura é definida em (63) (Labegalini et al., 1992). ( ) 2 2 2 2 3 2 02 02 t 2 1 012 01 DSp Y DSp YT T DS t t T 24T 24 α + + − − = (62) onde: T01 e T02 são as trações horizontais nos estados 1 e 2 [N]; D é o módulo de elasticidade [N/mm²]; S é a seção do condutor [mm²]; αt é o coeficiente de dilatação térmica [1/ºC]; p é o peso linear do cabo [N/m]; 18 t1 e t2 são as temperaturas nos estados 1 e 2 [ºC]. TEMA 5 – PARÂMETROS DE PROJETO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO O projeto de linhas de transmissão é um empreendimento bastante complexo, pois envolve diversas variáveis que englobam conceitos das engenharias elétrica, civil e mecânica. A ideia deste tema não é esgotar o assunto, mas sim dar uma ideia geral ao leitor de quais são os principais parâmetros que devem ser levados em conta no momento de se projetar uma linha de transmissão. Além de todos os estudos elétricos já apontados nesta aula, levando em conta a modelagem das linhas de transmissão, é necessário considerar aspectos relacionados aos esforços mecânicos das estruturas, à escolha dos cabos, isoladores e demais componentes do sistema, à topografia do relevo onde serão instaladas as torres, entre outros. A seguir, cita-se uma lista de parâmetros de projeto que devem ser considerados no projeto completo de uma linha de transmissão aérea (Villas, 2015): a. Seleção da tensão de transmissão b. Topografia da linha de transmissão c. Tipo de vão entre as estruturas d. Tipos de estruturas e. Custo da linha de transmissão f. Cargas que atuam sobre as estruturas g. Ângulo de balanço na cadeia de isoladores h. Cálculo do peso das estruturas i. Projeto mecânico das linhas de transmissão j. Faixa de servidão k. Distâncias verticais mínimas l. Cálculo das características térmicas e elétricas dos condutores m. Níveis de isolamento n. Proteções nas linhas de transmissão o. Escolha dos isoladores p. Ferragens na cadeia de isoladores q. Aterramento das torres 19 r. Vibração dos condutores s. Parâmetros meteorológicos e correções FINALIZANDO Nestaaula, buscou-se abordar de forma geral todos os aspectos relacionados às linhas de transmissão. Abordaram-se desde a modelagem até aspectos de projeto das linhas de transmissão, fornecendo ao aluno a capacidade de entender como uma linha de transmissão funciona, qual sua importância e sua função dentro do SEP e como determinar os principais parâmetros elétricos relacionados a este elemento do sistema. No primeiro tema, abordou-se a modelagem detalhada de linhas curtas, médias e longas, levando-se em consideração os diferentes modelos que podem ser construídos, dependendo da precisão que se deseja ter com os cálculos das variáveis elétricas. O segundo tópico abordou os aspectos relacionados ao cálculo das correntes, tensões, potências, regulação de tensão e perdas nas linhas de transmissão. As equações de correntes e tensões já haviam sido determinadas no primeiro tema, portanto definiu-se, nesse capítulo, as equações de potência ativa e reativa, levando em conta o fluxo de potência entre duas barras de um sistema genérico, as equações de regulação de tensão, levando em conta as tensões na barra transmissora e na barra receptora em cenários de operação a plena carga e a vazio e também as equações das perdas de potência ativa e reativa na rede, utilizando as equações já definidas no fluxo de potência. A parte três desta aula tratou a respeito dos esforços aos quais as estruturas e os cabos estão submetidos em uma linha de transmissão. Foram abordados principalmente os aspectos que estão dispostos na NBR-5422:1985, que estabelece os principais elementos de projeto de linhas de transmissão aéreas e traz vários conceitos relacionados aos esforços que são aplicados sobre as estruturas e cabos que fazem parte do sistema de transmissão. No quarto tema, apresentou-se a equação de mudança de estados que leva em conta as variações de temperatura que podem ocorrer no ambiente no qual a linha de transmissão está instalada, mostrando que a equação leva em consideração a influência da variação da temperatura na flecha e na tração dos cabos da linha de transmissão, aspectos que estão intimamente ligados entre si. 20 O último tema trouxe aspectos relacionados ao projeto de linhas de transmissão. Este assunto é extremamente longo e relativamente complexo e exigiria várias aulas para abrir e aprofundar cada um dos parâmetros apontados no quinto tema. Portanto, foi dada apenas uma ideia geral a respeito de aspectos que devem ser considerados no projeto das linhas de transmissão, abordando conceitos das engenharias elétrica, civil e mecânica. 21 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR-5422 – Projeto de Linhas Aéreas de Transmissão de Energia Elétrica. Brasil, 1985. BERGEN, A. R.; VITTAL, V. Power System Analysis. 2nd Edition, Prentice Hall: USA, 2000. LABEGALINI, P. R.; LABEGALINI, J. A.; FUCHS, R. D.; ALMEIDA, M. T. Projetos Mecânicos das Linhas Aéreas de Transmissão. 2a ed., Edgard Blücher: São Paulo, 1992. MOHAN, N. Electric Power Systems – A first Course. Wiley: USA, 2012. MONTICELLI, A. J. Fluxo de Carga em Redes de Energia Elétrica. Edgard Blücher: São Paulo, 1983. STEVENSON JR., W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência. 2ª ed., McGraw-Hill.: São Paulo, 1986. VILLAS, J. E. T. Linhas de Transmissão II – Projeto Mecânico. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ): Rio de Janeiro, 2015. 1 GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA AULA 5 Prof. Rafael Zamodzki 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, deseja-se que o aluno conheça as redes de distribuição primária e secundária. A partir desses conhecimentos, será possível entender quais são os tipos de postes utilizados nas redes de distribuição, como são constituídas as redes primárias e secundárias de distribuição, como se divide a carga nos transformadores instalados ao longo da rede, como se dá a instalação da iluminação pública no posteamento e como são montadas as redes primárias e secundárias nas estruturas da rede. TEMA 1 – POSTEAMENTOS UTILIZADOS EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO As redes de energia elétrica são necessárias para a transmissão e a distribuição da energia elétrica gerada nas usinas. Para que o transporte de energia seja realizado de forma segura e robusta, é necessário contar com um conjunto de estruturas (isoladores, cabos, torres, postes, transformadores etc.) que viabilizem o processo. O sistema de distribuição está particularmente inserido na estrutura das cidades e na área residencial rural, pois é por meio dele que a energia chega ao consumidor final, seja em caráter residencial, comercial ou industrial. A tensão presente nos sistemas de distribuição pode ser baixa, média ou alta, dependendo do tipo de instalação que irá alimentar e do ponto do sistema em que está sendo realizada a análise. Tensões de 69 kV e 138 kV são considerados níveis de subtransmissão. Redes de distribuição com tensões de 44 kV, 34,5 kV, 13,8 kV e 2,3 kV são chamadas de redes primárias de distribuição. Já as redes com baixa tensão (abaixo de 1 kV) são chamadas de redes secundárias de distribuição. Normalmente, a divisão do cabeamento nas redes de distribuição se dá da maneira mostrada na Figura 1. Os três cabos localizados na parte superior do poste correspondem às três fases da rede primária. Os quatro cabos fixados mais abaixo no poste correspondem às três fases e ao neutro da rede secundária de distribuição. 3 Figura 1 – Exemplo de configuração de rede de distribuição Crédito: Noemie Coudray/Shutterstock. Além da classificação em primárias e secundárias, as redes de distribuição também podem ser classificadas como aérea convencional, aérea compacta, aérea isolada e subterrânea. • Aérea convencional: neste tipo de rede, utiliza-se condutores nus, ou seja, esses condutores não apresentam cobertura externa. Este tipo de rede tem maior propensão a apresentar de defeitos, justamente pelo fato de os cabos não terem cobertura. É a configuração apresentada na Figura 1. • Aérea compacta: recebe este nome porque a área que os condutores ocupam é menor em comparação à rede aérea convencional. Além disso, os condutores são cobertos com uma camada de proteção. Na Figura 2, é possível ver a disposição dos cabos na rede compacta. Os cabos na parte superior do poste são cobertos e apresentam uma configuração geométrica diferente da configuração de aérea convencional. Na Figura 3, pode ser visto em detalhe o espaçador utilizado na rede compacta, para garantir a distância entre os cabos e a geometria da rede. 4 Figura 2 – Exemplo de rede aérea compacta Crédito: LEY.corner/Shutterstock. Figura 3 – Detalhe do espaçador utilizado em rede compacta Crédito: khak/Shutterstock. • Aérea isolada: para este tipo de rede, são utilizados cabos isolados. A isolação é suficiente para que seja possível trançar os cabos. Apresenta custo mais elevado em comparação a outras configurações aéreas. • Subterrânea: tem um custo mais elevado de implantação, porém, apresenta vantagens com relação à questão estética e também à confiabilidade. Os cabos utilizados são isolados e estão menos expostos a intempéries. Por isso, são mais confiáveis do que as aéreas. Para que as redes aéreas de distribuição sejam concebidas, é necessário contar com estruturas capazes de sustentar os cabos condutores utilizados para o transporte da energia. As estruturas utilizadas para esse fim são os postes. 5 1.1 Poste circular Para que os cabos e demais componentes das redes de distribuição aéreas sejam sustentados e fixados, é necessário que existam estruturas capazes de realizar tal função. Tais estruturas são os postes, na maior parte das vezes fabricados em concreto armado, e algumas vezesem madeira. A NBR 8451 (dividida em várias partes) traz aspectos relacionados aos tipos de postes de concreto armado utilizados nas redes de distribuição, como geometria do poste, padronização dos postes para redes de distribuição, ensaios que devem ser realizados pelos fabricantes etc. (ABNT, 2012a; 2012b; 2013a; 2013b). Quanto à simbologia, cada concessionária utiliza um padrão para os projetos em sua área de concessão. Na Figura 4, vemos alguns modelos de símbolos utilizados pela Copel (Companhia Paranaense de Energia) para representar os postes circulares nos projetos de rede. Figura 4 – Exemplo de simbologia de postes com seção circular utilizada pela Copel Fonte: Copel, 2003. Na Figura 5, apresentamos uma vista geral do poste de seção circular, retirada da NBR 8451-2:2013 (ABNT, 2013a). 6 Figura 5 – Poste de seção circular Fonte: ABNT, 2013a. 1.2 Poste quadrado Os postes de seção quadrada também são utilizados em redes de distribuição. A simbologia utilizada pela Copel para representação deste tipo de poste é apresentada na Figura 6. 7 Figura 6 – Simbologia utilizada pela Copel para representação do poste com seção quadrada Fonte: Copel, 2003. 1.3 Poste duplo T O terceiro tipo de poste utilizado em redes de distribuição é o poste duplo T. Alguns exemplos de símbolos utilizados pela Copel para este tipo de poste são apresentados na Figura 7. Figura 7 – Exemplo de simbologia utilizada pela Copel para o poste com seção duplo T Fonte: Copel, 2003. Este poste leva o nome de duplo T, porque a vista da sua base realmente se assemelha com duas letras T conectadas, como pode ser visto no detalhe C da Figura 8. Na mesma figura, é possível ver o detalhamento do poste duplo T apresentado pela NBR 8451-2:2013 (ABNT, 2013a). 8 Figura 8 – Poste de seção duplo T Fonte: ABNT, 2013a. 9 TEMA 2 – REDE PRIMÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO Segundo Bovolato (2004), pode-se definir rede primária de distribuição como “conjunto de alimentadores urbanos de distribuição e seus ramais que alimentam os transformadores de distribuição e os pontos de entrega na mesma tensão”. Assim, entende-se que os alimentadores que saem da subestação com direção aos centros de consumo, e que alimentam os transformadores de distribuição, ou diretamente uma indústria, são definidos como rede primária de distribuição. Recomenda-se os seguintes números de alimentadores para as cargas especificadas, por localidade (Bovolato, 2004): • Até 1000 kVA: 1 alimentador • De 1000 kVA a 3000 kVA: 2 alimentadores • De 3000 kVA a 6000 kVA: 3 alimentadores • De 6000 kVA a 10000 kVA: 4 alimentadores No traçado de alimentadores, deve-se obedecer o máximo possível alguns critérios (Bovolato, 2004): • aproveitamento máximo do sistema existente; • posicionamento o mais próximo possível das cargas (otimização de tensão); • evitar mudanças constantes de direção, perseguindo pequenas concentrações de carga; • desenvolvimento dos alimentadores coerentes com o sentido de desenvolvimento da cidade; • as ruas e avenidas escolhidas para o seu trajeto deverão estar bem definidas, e o traçado já aprovado pela prefeitura; • os ramais primários que derivam do alimentador devem ser, de forma geral, paralelos; • obedecer a seqüência das fases desde a subestação; • quando não for possível obedecer a seqüência de fase, por mudança de lado do posteamento, é preciso afixar placa indicativa em pontos estratégicos. 10 TEMA 3 – REDE SECUNDÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO A rede secundária de distribuição é definida como a porção da rede que deriva dos transformadores de distribuição (aqueles localizados nos postes), ou seja, após os níveis de tensão primária serem rebaixados. Esses níveis de tensão alimentam os consumidores finais de forma monofásica, bifásica ou trifásica, dependendo da carga do estabelecimento. Deve-se observar, na concepção da rede secundária, alguns itens essenciais (Bovolato, 2004): • largura do passeio; • sacadas ou marquises de casas e prédios, garagens, portas de lojas, anúncios luminosos, janelas (estudar as dimensões livres para não interferir com a rede); • galerias de águas pluviais, redes de água, gás, e esgotos subterrâneos que interfiram no projeto (manter contatos com a prefeitura quando impossível observar); • obstáculos existentes, árvores no eixo da rede, buracos causados por erosões e elevações ou abaixamento no terreno que influenciem na locação e/ou número de postes; • existência de rede telefônica e suas caixas muflas, assinalando pontos de interferência com a mesma; • existência de praças ou logradouros públicos, para evitar a localização de postes nas mesmas; • pontos de tomada de ramal de serviço primário (se há necessidade de alteração na entrada do consumidor ou na localização do poste); • existência de muflas, primárias e secundárias; • transferência do consumidor de alta tensão para baixa tensão. Neste caso verificar: o carga instalada; o existência de máquina de solda; o programa de aumento de carga do consumidor. • locação provável do transformador. Neste caso, verificar: o facilidade de instalação e retirada; o operação de chave fusível; 11 o local seguro e livre de qualquer interferência. • o melhor lado para localização do posteamento, considerando os futuros projetos que possam vir a ocorrer na área; • existência de postos de gasolina que interfiram na localização dos postes (contudo, somente essa interferência não justifica a alteração do projeto); • travessias a serem projetadas: analisar cuidadosamente os detalhes construtivos; • contatos com órgãos públicos sobre melhoramentos futuros no local. TEMA 4 – DIVISÃO DE CIRCUITOS: TRANSFORMADORES E ILUMINAÇÃO PÚBLICA Ao longo da rede de distribuição, estão localizadas as cargas que precisam ser alimentadas pela rede. Assim, é necessário calcular a potência total das cargas que serão alimentadas por um determinado transformador, para que ele não seja sub nem sobredimensionado. Geralmente, estabelece-se uma folga na capacidade do transformador, prevendo futuras expansões do sistema. Além disso, os equipamentos utilizados para a iluminação pública precisam ser alimentados pela rede de distribuição, constituindo, assim, mais uma categoria de cargas instaladas ao longo do sistema. Nas próximas seções, vamos estabelecer critérios para o cálculo da demanda dos transformadores da rede de distribuição. Também vamos tratar de aspectos relacionados ao funcionamento do sistema de iluminação pública. 4.1 Determinação da demanda dos transformadores Os transformadores utilizados em redes de distribuição apresentam valores de potência nominal padronizados: 15, 30, 45, 75 e 112,5 kVA. Os transformadores instalados na tensão de 13,8 kV pertencem à classe de 15 kV e rebaixam a tensão para os níveis de distribuição secundária (Bovolato, 2004). Deve-se procurar locar os transformadores de modo que o comprimento dos circuitos secundários não exceda 400 metros (Bovolato, 2004). Para determinar a demanda dos transformadores, deve-se considerar a demanda diversificada e a demanda de motores ao longo do trecho alimentado pelo transformador. 12 A demanda diversificada é calculada tomando como base o número de consumidores atendidos por um determinado transformador. Utiliza-se a Tabela 1 para este cálculo. Tabela 1 – Demanda diversificada em kVA Nº de consumidores no circuito Classe de consumidores Tipo C (baixa) Tipo B (média) Tipo A (alta) 1 a 5 0,300 0,600 3,000 6 a 10 0,235 0,435 1,600 11 a 15 0,225 0,370 1,160 16 a 20 0,215 0,345 0,940 21 a 25 0,210 0,330 0,870 26 a 30 0,205 0,320 0,720 31 a 40 0,205 0,315 0,640 41 ou + 0,200 0,300 0,600 Fonte: Bovolato, 2004. A demanda demotores, por sua vez, é determinada de acordo com a potência instalada e com a quantidade de motores utilizados. Para este cálculo, utilizamos as Tabelas 2 e 3. Tabela 2 – Demanda diversificada para motores Nº de consumidores Fator de redução para a demanda 1 1 2 0,92 3 0,86 4 0,82 5 0,79 6 0,77 7 0,75 8 0,74 9 0,73 10 0,72 11 0,72 12 0,72 13 0,72 14 0,71 15 0,71 16 0,71 17 0,71 18 0,71 19 0,71 20 0,7 13 21 0,7 22 ou mais 0,7 Fonte: Bovolato, 2004. Tabela 3 – Fator de simultaneidade Potência em CV Equivalência em kVA Demanda Individual (kVA) - Número de motores 1 2 3 a 5 Mais de 5 1/6 0,5 0,45 0,39 0,34 0,3 1/4 0,7 0,55 0,48 0,45 0,42 0,27 0,77 0,69 0,6 0,52 0,46 0,45 1 0,89 0,77 0,67 0,6 1/2 1,14 1,01 0,88 0,77 0,67 0,7 1,3 1,15 1 0,87 0,77 3/4 1,4 1,24 1,07 0,94 0,83 1 1,7 1,43 1,29 1,13 0,89 1,1 1,9 1,67 1,44 1,25 1,11 1,5 2,4 2,02 1,8 1,57 1,39 2 3,1 2,6 2,3 2 1,78 2,5 3,8 3,21 2,88 2,44 2,16 3 4,5 3,78 3,34 2,89 2,56 3,5 5,1 4,3 3,77 3,24 2,91 4 5,8 4,65 3,95 3,71 3,31 4,5 6,3 5 4,3 4 3,6 5 6,8 5,35 4,65 4,14 3,54 5,5 7,4 5,7 4,96 4,36 3,85 6 8 6,05 5,38 4,71 4,16 6,5 8,6 6,45 5,75 5,1 4,5 7 9,2 6,9 6,2 5,54 4,8 7,5 9,8 7,35 6,6 5,8 5,1 8 10,4 7,8 6,9 6,15 5,4 8,5 11 8,25 7,4 6,5 5,73 9 11,6 8,7 7,7 6,9 6,1 9,5 12,2 9,15 8 7,2 6,3 10 12,8 9,6 8,3 7,4 6,55 10,5 13,4 9,1 8,6 7,5 6,8 11 14 9,4 8,9 7,85 7 11,5 14,6 9,8 9,1 8,2 7,3 12 15,2 10,2 9,5 8,5 7,6 12,5 15,7 10,5 9,75 8,8 7,85 13 16,3 10,9 10 9,2 8,2 13,5 16,9 11,3 10,3 9,5 8,5 14 17,5 11,9 10,8 9,8 8,75 14,5 18,1 12,3 11,2 10,2 9 15 18,7 12,7 11,4 10,5 9,3 14 20 24,6 16,4 14,8 13,6 12,3 25 30 20,3 18,2 16,8 15,2 30 36 24,8 21,8 19,9 18 40 46 30,6 27,6 25,4 23 50 60 40 36 33,1 30 Fonte: Bovolato, 2004. 4.2 Iluminação pública Segundo a Copel (1998), pode-se classificar iluminação pública como “o fornecimento de energia elétrica para iluminação de ruas, praças, avenidas, jardins, vias, estradas e outros logradouros de domínio público, de uso comum e livre acesso, de responsabilidade de pessoa jurídica de direito público”. Para o projeto da iluminação pública, utiliza-se, além das normas das concessionárias, a NBR 5101:2018, que trata especificamente dos níveis de iluminação, de acordo com o tipo da via para a qual o sistema está sendo projetado. Pode-se conceituar e definir os tipos de vias de acordo com o exposto a seguir (Copel, 1998): COPEL. NTC 841050 • Classe A – Vias Rurais (Estradas): corresponde a locais que requerem a uma iluminação específica. É subdividida nos seguintes tipos: o Subclasse A1 – Vias Arteriais: são vias exclusivas para tráfego motorizado, que se caracterizam por grande volume e pouco acesso de tráfego, várias pistas, cruzamentos em dois planos, escoamento contínuo, elevada velocidade de operação e estacionamento proibido na pista. Geralmente, não existe ofuscamento pelo tráfego oposto, nem construções ao lado da via. O sistema arterial serve mais especificamente a grandes geradores de tráfego e viagens de longas distâncias; ocasionalmente, pode servir de tráfego local. o Subclasse A2 – Vias Coletoras: são vias exclusivas para tráfego motorizado, que se caracterizam por um volume de tráfego inferior e por um acesso de tráfego superior ao das vias arteriais. o Subclasse A3 – Vias Locais: são vias que permitem acesso às propriedades rurais, com grande acesso e pequeno volume de tráfego. 15 • Classe B – Vias de Ligação: são ligações de centros urbanos e suburbanos, não pertencendo ao grupo anterior. Geralmente, só têm importância para o tráfego local. • Classe C – Vias Urbanas: são aquelas caracterizadas pela existência de construções às suas margens e a presença de tráfego motorizado e de pedestres em maior ou menor escala. Apesar de apresentarem outros aspectos, além da intensidade de tráfego, com a devida influência nas características de iluminação, tal intensidade é o fator preponderante, e servirá como base dessa classificação. o Subclasse C1 – Vias Principais: são consideradas vias principais as avenidas e ruas asfaltadas ou calçadas, onde há predominância de construções comerciais, assim como trânsito de pedestres e de veículos. o Subclasse C2 – Vias Normais: são consideradas vias normais as avenidas e ruas asfaltadas ou calçadas, onde há predominância de construções residenciais, trânsito de veículos (não muito intenso) e de pedestres. o Subclasse C3 – Vias Secundárias: são consideradas vias secundárias as avenidas e ruas com ou sem calçamento ou revestimento asfáltico, onde há construções, e o trânsito de veículos e de pedestres não é intenso. o Subclasse C4 – Vias Irregulares: são passagens criadas pelos moradores, de largura, piso, declive e arruamento variáveis, que dão acesso a pedestres e, em raros casos a veículos, com traçado irregular, na maioria dos casos determinado pelos usuários do local ou pelas próprias construções, tais como vias de favelas. • Classe D – Vias Especiais: são considerados os acessos e/ou vias exclusivas de pedestres a jardins, parques, praças e calçadões. Para cada um destes tipos de vias, as normas estabelecem os aspectos necessários para proporcionar segurança de tráfegos a pedestres e a veículos (Bovolato, 2004): • iluminância média e tipo/potência da lâmpada; • fator de uniformidade de iluminância média; • ofuscamento; 16 • fonte de luz, luminária e suporte; • alimentação de energia elétrica; • altura do ponto de luz; • distância entre pontos de luz. TEMA 5 – MONTAGEM DE REDES PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS DE DISTRIBUIÇÃO Neste tema, vamos apresentar algumas configurações de montagem de redes de distribuição de aéreas primárias e secundárias. Tais montagens são baseadas nas normas da Energisa (2002; 2013), que trazem de forma clara imagens desses tipos de montagem. Inicia-se com as configurações de montagem para redes primárias: • Conexão fonte-carga com isoladores de pino (Figura 9). Figura 9 – Conexão fonte-carga com isolador de pino Fonte: Energisa, 2013. • Conexão com isolador de suspensão (Figura 10). 17 Figura 10 – Conexão fonte-carga com isolador de disco Fonte: Energisa, 2013. • Conexão com isolador de ancoragem e by-pass com isolador de pino (Figura 11). Figura 11 – Conexão com isolador de ancoragem e by-pass com isolador de pino Fonte: Energisa, 2013. • Derivação passando de isolador de ancoragem para isolador de pino (Figura 12). 18 Figura 12 – Derivação passando de isolador de ancoragem para isolador de pino Fonte: Energisa, 2013. • Conexão com chave fusível (Figura 13). Figura 13 – Conexão com chave fusível Fonte: Energisa, 2013. As configurações para montagem de redes secundárias apresentadas a seguir são realizadas com cabos multiplexados isolados e por isso podem ser trançados ao longo da rede. • Conexão do cabo multiplexado com cabo nu (Figura 14). 19 Figura 14 – Conexão do cabo multiplexado com cabo nu Fonte: Energisa, 2002. • Conexão passante utilizando isolador de roldana (Figura 15). Figura 15 – Conexão passante utilizando isolador de roldana Fonte: Energisa, 2002. • Conexão passante com derivação (Figura 16). 20 Figura 16 – Conexão passante com derivação Fonte: Energisa, 2002. • Conexão com ancoragem simples (Figura 17). Figura 17 – Conexão com ancoragem simples Fonte: Energisa, 2002. • Conexão passante com transformador (Figura 18). 21 Figura 18 – Conexão passante com transformador Fonte: Energisa, 2002. FINALIZANDO Nesta aula, nosso objetivo era levar o aluno a um entendimento maior a respeito dos conceitos relacionados às redes de distribuição primária e secundária, e a respeito da montagem prática desses sistemas. No primeiro tema,apresentamos os tipos de postes mais utilizados nos sistemas de distribuição: o poste com seção circular, o poste quadrado e o poste duplo T. Trabalhamos com desenhos esquemáticos dos tipos de postes e também, com a simbologia utilizada na norma de uma concessionária para representá-los. No segundo tema, tratamos a respeito das redes primárias de distribuição. Abordamos aspectos essenciais que devem ser levados em consideração no momento da concepção da rede primária. No terceiro tema, apresentamos aspectos relevantes relacionados às redes secundárias de distribuição. Da mesma forma que para as redes primárias, 22 apresentamos alguns aspectos mandatórios para que a rede secundária seja concebida. Em seguida, no quarto tema, trabalhamos a forma de divisão dos circuitos em um transformador de distribuição, e como a diversidade das cargas deve ser levada em consideração no momento de definir qual a potência nominal do equipamento que será instalado. Abordamos ainda aspectos relacionados à iluminação pública, considerando os diferentes tipos de vias que existem nas áreas urbanas ou rurais. Por fim, no quinto tema, apresentamos os principais tipos de montagem das redes de distribuição primárias e secundárias, considerando as estruturas presentes nesses tipos de rede, como isoladores, cruzetas, cabos nus e isolados, transformadores etc. 23 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8451-1 – Postes de concreto armado e protendido para redes de distribuição e de transmissão de energia elétrica. Parte 1: Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2012a. _____. NBR 8451-2 – Postes de concreto armado e protendido para redes de distribuição e de transmissão de energia elétrica. Parte 2: Padronização de postes para redes de distribuição de energia elétrica. Rio de Janeiro: ABNT, 2013a. _____. NBR 8451-5 – Postes de concreto armado e protendido para redes de distribuição e de transmissão de energia elétrica. Parte 5: Postes de concreto para entrada de serviço até 1 kV. Rio de Janeiro: ABNT, 2012b. _____. NBR 8451-6 – Postes de concreto armado e protendido para redes de distribuição e de transmissão de energia elétrica. Parte 6: Postes de concreto armado e protendido para linhas de transmissão e subestações de energia elétrica – Requisitos, padronização e ensaios. Rio de Janeiro: ABNT, 2013b. BOVOLATO, M C. Planejamento e projetos de sistemas de distribuição de energia elétrica. Ilha Solteira, São Paulo, 2004. Apostila do Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. COPEL – Companhia Paranaense de Energia. NTC 841005 – Desenho de redes de distribuição. 2 ed. Curitiba, 2003. _____. NTC 841050 – Projeto de iluminação pública. 3. ed. Curitiba, 1998. ENERGISA. NTD-12 – Montagem de redes aéreas secundárias isoladas com cabos multiplexados. Brasil, 2002. _____. NTD-16 – Montagem de redes de distribuição aérea urbana trifásica 13,8 e 34,5 kV. Brasil, 2013. GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA AULA 6 Prof. Rafael Zamodzki 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, abordaremos noções a respeito do projeto de redes de distribuição aéreas urbanas e rurais; e as características de redes subterrâneas. A partir desses conhecimentos, será possível entender quais são os critérios mandatórios considerados e utilizados na concepção de um projeto de rede de distribuição aérea no ambiente urbano ou no rural, compreender que existem normas que apontam os comprimentos dos vãos entre as estruturas presentes nas redes, visualizar como as concessionárias de energia organizam-se em relação ao compartilhamento dos postes com empresas de telecomunicações e, por fim, aprender a respeito de algumas características essencias de redes de distribuição subterrâneas. TEMA 1 – PROJETO DE REDES DE DISTRIBUIÇÃO URBANAS AÉREAS Para que um bom projeto de rede de distribuição seja realizado, é necessário seguir alguns critérios básicos a fim de garantir as condições técnicas, econômicas e de segurança necessárias para um fornecimento adequado de energia elétrica (Eletrobras, 2012). Cada concessionária de energia elétrica possui um manual próprio ou uma norma técnica com orientações para que o projeto seja realizado de acordo com as exigências de sua área de concessão. Nas seções a seguir, serão apresentadas as etapas da metodologia de projeto proposta por Eletrobras (2012), estabelecendo assim os requisitos básicos para um bom projeto de rede de distribuição aérea urbana. As etapas são divididas em: • Obtenção dos dados preliminares • Levantamento da carga e determinação de demandas • Locação dos postes • Dimensionamento elétrico • Dimensionamento mecânico • Relação de material e orçamento • Apresentação do projeto 1.1 Obtenção dos dados preliminares 3 Consiste na obtenção dos dados necessários à elaboração do projeto tais como determina Eletrobras (2012): 1.1.1 Objetivo do projeto a ser elaborado • Consiste em determinar o tipo de projeto a ser elaborado e sua finalidade, se ele é para expansão, reforma ou reforço. • Devem ser determinadas as principais necessidades do projeto, ou seja, se ele é relativo à correção dos níveis de tensão, melhoria de confiabilidade, melhoria da iluminação pública, atendimento a uma nova área etc. • Nessa etapa, deve ser verificado o estado atual da rede. 1.1.2 Obtenção da planta da área, com arruamento etc. • Devem ser verificadas, no sistema, as características do circuito, arruamento, edificações (edifícios públicos, igrejas, estádios etc.) e áreas ambientais da localização a ser atendida. • Se necessário, deve ser realizado um levantamento de campo complementar. • No caso de atendimento a novas áreas – por exemplo, um novo loteamento –, deve ser obtido uma planta georreferenciada, em escala adequada, junto ao responsável pelo empreendimento. 1.1.3 Estudo básico da área • Para novas áreas, deve ser feito um estudo básico considerando as condições do local, o grau e tipo de urbanização, tipo de arborização, dimensões dos lotes e características do local a ser atendido. • Para isso, deve ser verificada a existência de uma área de características semelhantes àquela que está sendo projetada, de forma a otimizar o investimento a ser realizado. • O projeto deve abranger uma expansão futura do atendimento identificado pelo planejamento, de forma compatível com as características de urbanização da região. • A realização de projeto para atendimento a ligações novas deve ser precedida de uma análise de viabilidade técnica pela área de 4 planejamento regional para verificação das condições técnicas da rede, caso a carga seja superior ao limite previamente estabelecido pelo planejamento. 1.1.4 Planos e projetos previamente existentes para a área • Devem ser levantados prováveis projetos anteriormente elaborados para a área abrangida, ainda não construídos ou em construção, e que possam ser considerados no projeto em elaboração. 1.2 Levantamento da carga e determinação de demandas Nessa etapa, deseja-se realizar o levantamento do consumo de energia dos consumidores já atendidos e também a previsão de consumo e demanda de novos consumidores. Desta forma, é possível dimensionar os transformadores e os condutores de média e baixa tensão. Os cálculos e dimensionamentos devem levar em consideração aspectos técnico-econômicos considerando um horizonte de dez anos (Eletrobras, 2012). Para ligação de novos consumidores à rede já existente, deve-se considerar os seguintes aspectos (Eletrobras, 2012): • Para redes de baixa tensão: as demandas dos consumidores existentes devem ser obtidas no sistema de gerenciamento de rede da respectiva concessionária. A quantidade de novos consumidores deve ser inserida, diferenciando se são do tipo residencial,comercial ou industrial. Pode-se utilizar a Tabela 1 como auxílio para este projeto. Tabela 1 – Demanda diversificada residencial (kVA) Fonte: Eletrobras (2012). Notas: 1 – Baixo: consumo de 0 a 75 kWh; 2 – Médio: consumo de 76 a 150 kWh; 3 – Alto: consumo de 151 a 300 kWh; 4 – Altíssimo: consumo superior a 300 kWh. 5 • Para redes de média tensão: no caso de consumidores individuais com potência instalada superior a 75 kW, atendidos em média tensão, a demanda máxima deve ser determinada pela aplicação das fórmulas presentes na norma da concessionária. • Para o projeto de redes novas, deve-se considerar os seguintes aspectos (Eletrobras, 2012): • Para redes de baixa tensão: deve-se projetar a rede a partir da quantidade de consumidores e da carga instalada individual por classe. Quando não for conhecida a carga, adota-se os valores máximos de carga instalada para cada tipo e faixa de consumidores, levando em conta o padrão de construção da área em questão. Para cálculo da provável demanda, considerar kVA igual a kW. • Para redes de média tensão: o cálculo é realizado por meio da soma das curvas de carga dos transformadores ligados à rede. Deve-se sempre considerar a previsão de crescimento de carga nos dimensionamentos. 1.3 Locação dos postes Essa etapa consiste na locação dos postes, observando os requisitos de espaçamento, segurança, iluminação pública desejável etc. Deve-se buscar sempre o melhor traçado para os alimentadores, conduzindo ao mínimo de alteração para atender as novas cargas (Eletrobras, 2012). A locação deve ser iniciada pelos pontos forçados, como esquinas e futuras derivações (Eletrobras, 2012). O posteamento deve ser realizado considerando os seguintes aspectos: • Evitar desmate de árvores e demais formas de vegetação em áreas de preservação permanente. • Procurar locar, sempre que possível, na divisa dos lotes. Na impossibilidade, locar no meio do lote. • Quando o eixo da rua estiver no sentido norte-sul, locar a rede no lado oeste. • Quando o eixo da rua estiver no sentido leste-oeste, locar a rede no lado norte. 6 • Procurar local prevendo futuras extensões da rede, para evitar remoções desnecessárias. • Evitar locação de postes em frente a portas, janelas, sacadas, garagens, marquises, anúncios luminosos etc. • Evitar que o posteamento passe do mesmo lado de praças, jardins, escolas, igrejas e templos, que ocupem grande parte da quadra. • Verificar, junto aos órgãos municipais, planos futuros de urbanização, incluindo a possibilidade de plantio de árvores. • Verificar a possibilidade de arrancamento em função do perfil da via. • Evitar possíveis interferências com tubulações subterrâneas de água, esgoto, gás, rede de telecomunicações, galerias de águas pluviais etc. • Quando não for possível a instalação de um único poste na esquina e visando manter os afastamentos mínimos de condutores, bem como evitar que haja cruzamento em terrenos particulares, instalar mais postes ou utilizar “cruzamento aéreo”. 1.4 Dimensionamento elétrico O dimensionamento elétrico da rede refere-se à definição da configuração do circuito, carregamento e seção transversal dos condutores da rede de média e baixa tensão, localização e dimensionamento de transformadores e proteção contra sobretensão (Eletrobras, 2012). Tanto para baixa quanto para média tensão, existem requisitos específicos que devem ser levados em consideração e são apresentados a seguir (Eletrobras, 2012): • Na rede de baixa tensão: nível de tensão; configuração básica da rede e faseamento; condutores (tipo e seção); dimensionamento (carregamento); transformadores (dimensionamento e localização); equilíbrio de carga; correção dos níveis de tensão; proteção contra sobretensões. • Na rede de média tensão: níveis de tensão; configuração básica, trajeto e faseamento; condutores (tipo e seção); equilíbrio de carga; compensação de reativos; interligação e seccionamento; proteção contra sobrecorrentes; proteção contra sobretensões; aplicação de para-raios; aterramento. 7 Cada um desses itens deve ser observado cuidadosamente, considerando os critérios e requisitos apresentados na norma da concessionária presente na área onde se está projetando a rede. 1.5 Dimensionamento mecânico Refere-se ao dimensionamento de postes e tipos de estruturas. Os aspectos mecânicos, da mesma forma que os elétricos, devem ser observados na norma específica da concessionária com a qual se está trabalhando. Os aspectos a serem levados em consideração são (Eletrobras, 2012): • Posteamento: tipo; comprimento; determinação dos esforços, estaiamento, resistência e engastamento. • Estruturas: largura do passeio; seção transversal do condutor; ângulo de deflexão horizontal e vertical da rede. 1.6 Relação de material e orçamento Nessa etapa, relaciona-se os materiais necessários para a construção da rede e elaboração do orçamento correspondente. Os custos e materiais devem ser considerados da seguinte forma (Eletrobras, 2012): • Custos de materiais e equipamentos: material a instalar; material salvado (são materiais que não foram reaproveitados na obra e que serão devolvidos ao almoxarifado). • Mão-de-obra: custos de serviços de terceiros. • Custos de mão de obra própria. • Custos de administração e logística. • Remuneração de mão-de-obra. • Projeto e orçamento em estrutura com uso mútuo. 1.7 Apresentação do projeto Consiste no conjunto de desenhos, memorial descritivo, cálculos, formulários que compõem o projeto e informações necessárias para atendimento às exigências legais em vigor (Eletrobras, 2012). TEMA 2 – NOÇÕES DE PROJETOS RURAIS 8 Da mesma forma que ocorre com os projetos de redes urbanas, os projetos de redes rurais precisam atender requisitos específicos estabelecidos pelas normas técnicas das concessionárias de energia. Vamos usar como referência a norma técnica 831001 da Copel (Companhia Paranaense de Energia) para balizar os principais pontos que devem estar presentes em um projeto de rede de distribuição rural. O procedimento completo compreende um anteprojeto e um projeto, dividindo-se da seguinte maneira (Copel, 2002): • Anteprojeto: obtenção dos dados preliminares (características do projeto, planejamento básico, planos e projetos existentes); obtenção dos dados de carga (levantamento de carga, determinação de demanda, exploração do traçado). • Projeto: rede primária (níveis de tensão, perfil da tensão, configuração básica da rede primária, dimensionamento de condutores da rede primária, proteção contra sobrecorrente, proteção contra sobretensão, seccionamento e manobra, aterramento, montagem do pilar no poste); rede secundária (níveis de tensão, transformadores de distribuição, dimensionamento de condutores da rede secundária, aterramento, levantamento topográfico, locação de estruturas no perfil, postes, cruzetas, distâncias verticais mínimas de segurança entre os cabos e o solo ou outros elementos, condutores primários, condutores secundários, estaiamento, apresentação do projeto). Na Figura 1, apresenta-se um exemplo de sistema de distribuição composto por várias áreas e subestações diferentes. 9 Figura 1 – Exemplo de sistema de distribuição Fonte: Copel (2002). Na Figura 2, apresenta-se a configuração básica de uma rede primária rural. Figura 2 – Configuração básica de uma rede primária rural Fonte: Copel (2002). TEMA 3 – VÃO ELÉTRICO E VÃO MECÂNICO Um aspecto muito importante que deve ser considerado no projeto de redes é o distanciamento entre os postes utilizados para sustentar o cabeamento e os equipamentos presentes no sistema. Essas distâncias são 10 chamadas de vãos. O projeto adequado do vão entre os postes garante a flecha correta dos cabos e garante que os esforços de tensão e compressão sofridospelas estruturas estejam dentro dos limites estabelecidos (Bauer; Freitas; Junior, 2017). A norma NBR 15688, de 2012, traz aspectos relacionados aos vãos que devem ser estabelecidos entre os postes. No item 4.17 da norma, estão as distâncias para circuitos primários e secundários: 4.17 Em redes urbanas e núcleos urbanos localizados em áreas rurais, são considerados normais os vãos primários de até 80 m e os secundários de até 40 m. Em projetos especiais, admitem-se vãos secundários de até 80 m, alterando-se convenientemente o espaçamento normal da rede secundária. (ABNT, 2013) Além da especificação dos vãos entre os postes, a norma também apresenta as distâncias mínimas entre a rede e outros obstáculos e construções presentes no ambiente urbano. Essas distâncias são apresentadas na Figura 3. Figura 3 – Distâncias mínimas entre a rede e as edificações Fonte: ABNT (2013). 11 TEMA 4 – COMPARTILHAMENTO DE POSTES COM EQUIPAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES As concessionárias de energia costumam estabelecer requisitos para que outras empresas acessem seus sistemas. Isso ocorre também com as empresas de telecomunicações, que precisam utilizar os postes para fixação de seus equipamentos e também precisam acessar a rede secundária da concessionária para alimentar seus dispositivos. A Copel estabelece esses requisitos na sua norma técnica 855901, de 2018. A concessionária especifica que “serão disponibilizados 4 (quatro) pontos de fixação dentro da faixa de ocupação na infraestrutura, destinados ao compartilhamento com agentes de telecomunicações, conforme análise da viabilidade técnica” (Copel, 2018). As distâncias mínimas dos cabos da empresa ocupante (da rede da concessionária) em relação ao solo devem ser (Copel, 2018): • 5000 mm sobre pistas de rolamento e cruzamento de ruas e avenidas • 4500 mm sobre entradas de prédios e passagem particular de veículos • 3000 mm sobre ruas e vias exclusivas a pedestres (urbana ou rural) • 7000 mm sobre pistas de rolamento de rodovias • 6000 mm sobre locais acessíveis ao trânsito de máquinas e equipamentos agrícolas e travessias sobre estradas particulares em áreas rurais Para um cabo que passa sob uma linha de transmissão, a distância vertical mínima é dada por (1) (Copel, 2018) D = 1,80 + 0,011 (DU – 35) (1) Onde D é a distância entre condutores em metros; DU é a distância em metros, numericamente igual à tensão da linha em kV, respeitando o mínimo de 1,80 m para tensões inferiores a 35 kV. A concessionária estabelece diversas outras regras que fogem do escopo desta aula. 12 A Figura 4 apresenta o esquema do poste, mostrando as distâncias estabelecidas pela concessionária para que sejam fixados equipamentos de telecomunicações nas suas estruturas. Figura 4 – Compartilhamento do poste com operadoras de telecomunicações Fonte: Copel (2018). 13 TEMA 5 – NOÇÕES DE REDES SUBTERRÂNEAS Neste tópico, usamos a norma ND-3.3, de 2014, da CEMIG Distribuição (Companhia Energética de Minas Gerais), que estabelece uma metodologia para projeto de redes subterrâneas de distribuição. A respeito de aspectos gerais, a norma traz uma série de fatores que devem ser atendidos para a concepção deste tipo de projeto (Cemig, 2014): • As redes de distribuição subterrâneas devem ser sempre trifásicas, no primário e no secundário. • O neutro das redes de distribuição subterrâneas deve ser multiaterrado e comum ao primário e secundário. • O projeto deve ser executado considerando o horizonte de carga de dez anos. • A tensão nominal do primário deve ser de 13,8 kV, para os sistemas de distribuição de tensão máxima de operação de 15 kV e 22 kV para os sistemas de 24,2 kV. • A tensão nominal do secundário deve ser de 220/127 V, para todos os tipos de rede. • A máxima queda de tensão permissível na rede secundária é de 4% (entre a bucha de BT do transformador e o último consumidor ligado à rede secundária), em condições normais de operação. • O cálculo de queda de tensão, no circuito secundário, deve ser feito tomando-se por base os dados referentes ao fator de potência de 0,92 das tabelas apresentadas na norma. • A demanda dos consumidores deve ser correspondente ao horizonte de dez anos. • As cargas trifásicas devem ser equilibradas. • O projeto deve ser desenvolvido considerando a interferência de outros serviços (telefone, TV a cabo, água, esgoto etc.). • A distância mínima entre os dutos de energia elétrica e os dutos de comunicação deve ser de 75 mm para as linhas de duto concretadas e de 300 mm para as linhas de dutos com terra compactada. Entre dutos de energia elétrica e redes de gás ou outros combustíveis deve ser de, no mínimo, 300 mm. (Essas distâncias estão de acordo com o National Electrical Safety Code (NESC) devido à inexistência de norma nacional). O roteiro estabelecido para o projeto das redes subterrâneas contempla os seguintes itens (Cemig, 2014): 14 • Obtenção dos dados preliminares: objetivo do projeto a ser elaborado; obtenção da planta da área com arruamento etc.; estudo básico da área; planos e projetos previamente existentes para a área; • Levantamento da carga e determinação de demandas; • Dimensionamento elétrico; • Dimensionamento civil e eletromecânico; • Automação; • Relação de material e orçamento; • Apresentação do projeto. As redes subterrâneas ainda não são muito difundidas no Brasil, onde os sistemas são majoritariamente aéreos. A estética urbana fica mais agradável com a utilização de redes subterrâneas, porém os custos envolvidos na concepção de uma rede desse tipo são maiores quando comparados com as redes aéreas tradicionais. Basicamente existem cinco tipos de redes subterrâneas (Cemig, 2014): 1. Rede mergulhada: utilizada quando solicitado o atendimento em áreas como praças, áreas turísticas, cidades históricas etc., onde a densidade de carga é baixa e o mergulho da rede justifica-se por aspectos estéticos. Nesse tipo de rede, o circuito secundário é subterrâneo, alimentado por transformador de distribuição instalado na Rede de Distribuição Aérea. 2. Anel aberto: possui um alimentador que atende uma chave de três vias, de onde derivam dois alimentadores primários. A chave é operada com uma das vias abertas e, no caso de defeito no alimentador primário após a chave, permite inverter o sentido da alimentação, garantindo flexibilidade e continuidade do fornecimento de energia elétrica. 3. Radial com recurso: possui dois alimentadores, originários de uma mesma subestação, garantindo maior flexibilidade e continuidade do fornecimento de energia elétrica. Interligando estes alimentadores deve existir uma chave instalada no centro de carga, que pode operar em condição normalmente aberta ou fechada, de acordo com as necessidades operativas. 4. Dupla alimentação: a alimentação é composta por um par de alimentadores derivados de uma subestação. Os transformadores têm a possibilidade de ser atendidos pelos dois alimentadores. 5. Reticulado: O sistema reticulado, ou network, é formado por uma malha de cabos de baixa tensão, derivados de vários transformadores ligados a 15 diversos alimentadores primários, que são instalados em paralelo pela conexão de cabos de baixa tensão. A perda de um alimentador ou transformador não provoca a interrupção do serviço de fornecimento de energia. FINALIZANDO Nesta aula, o objetivo era apresentar noções sobre projetos de redes aéreas urbanas e rurais e também sobre projetos de redes subterrâneas. Além disso, tratou-se também a respeito do compartilhamento das estruturas do sistema de distribuição com empresas de telecomunicações. No primeiro tema, apresentou-se os principais aspectos relacionados aos projetos de redes aéreas urbanas, levando em consideração cada tópico que deve obrigatoriamente estar presente em um projeto. No tema seguinte, abordou-se aspectosa respeito do projeto de redes rurais. Pôde-se perceber que tanto no projeto de redes urbanas quanto no de redes rurais, existem aspectos específicos e extremamente importantes que devem ser levados em consideração para que se obtenha um projeto confiável e robusto. O terceiro tema tratou a respeito dos vãos que devem ser projetados entre os postes presentes no sistema de distribuição. A importância dos vãos deve ser levada em consideração, pois é necessário atender às distâncias especificadas em norma com relação às edificações que estão presentes nos ambientes urbanos e rurais. No quarto tema, foi possível ter noção a respeito de como é realizado o compartilhamento de estruturas ao longo do sistema de distribuição, entre a concessionária de energia elétrica e as empresas de telecomunicações. As empresas de energia disponibilizam um número fixo de pontos para serem utilizados pelas empresas de telecomunicações, especificando em norma os critérios a serem atendidos. No último tema, tratou-se a respeito do projeto de redes subterrâneas de distribuição. Apesar de esse tipo de rede não ser muito difundido no Brasil, existem normas que regem seu projeto e sua execução. Foi possível ter uma noção a respeito de quais aspectos devem ser levados em consideração nesse tipo de projeto e o quanto ele se diferencia do projeto de redes de distribuição aéreas. 16 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15688: Redes de distribuição aérea de energia elétrica com condutores nus. Rio de Janeiro, 2013. BAUER, P. C.; FREITAS, S. C. L.; JUNIOR, A. M. Análise de redes de distribuição urbana considerando critérios de dimensionamento e locação de postes. In: SIMPÓSIO DE ESTUDOS EM ENGENHARIA ELÉTRICA DO TOCANTINS, 1., 2017, Palmas. Anais… Palmas: Universidade Federal do Tocantins, 2017. p. 92-99. CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais. ND – 3.3 – Manual de Distribuição – Projeto de redes de distribuição subterrâneas. Brasil, 2014. COPEL – Companhia Paranaense de Energia. Projeto de redes de distribuição rural – NTC 831001. 4 ed. Brasil, 2002. _____. Compartilhamento de infraestrutura de redes de distribuição – NTC 855901. Brasil, 2018. ELETROBRAS – Amazonas Energia. Manual de procedimentos de redes de distribuição – Projetos de redes de distribuição aéreas urbanas. Brasil, 2012. Conversa inicial Nesta aula, serão trabalhados os tópicos relacionados às linhas de transmissão. Os temas abordarão desde aspectos de modelagem das linhas, passando pelo cálculo dos parâmetros de linha e dos parâmetros elétricos (potência, corrente, tensão) até aspect... Compreenda o funcionamento de linhas de transmissão Saiba analisar projetos de linhas de transmissão Compreenda a representação de linhas de transmissão Tema 1 – Modelos de linhas longas, médias e curtas Tema 2 – Cálculo de tensões, correntes, potências, regulação e perdas Tema 3 – Esforços nas estruturas e cabos Tema 4 – Equação de mudança de estados Tema 5 – Parâmetros de projeto de linhas de transmissão FINALIZANDO REFERÊNCIAS Conversa inicial FINALIZANDO REFERÊNCIAS