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Nesta webaula, vamos conhecer os conteúdos relativos à história do ensino de Língua Portuguesa – focando no ensino baseado na gramática, na comunicação, no texto e no discurso. Historicamente (antes do século XX), o ensino de Língua Portuguesa para as séries iniciais (atual 1º ao 5º ano) ocorreu com base no que era estabelecido em cartilhas e textos dos livros de leitura. Para os anos subsequentes (atual 6º ao 9º ano e ensino médio), o ensino era focado na gramática e em trechos de textos literários de autores consagrados. Portanto, do ponto de vista dos materiais didáticos, o que circulava na escola para o ensino da leitura e da escrita, das regras gramaticais e da literatura eram: cartilhas, livros de leitura, gramáticas e antologias (ROJO; BUNZEN, 2008). Ressalta-se que, em grande parte do século XX, ainda que houvesse a presença dos livros de leitura, o ensino de Língua Portuguesa centrava-se na gramática normativa e na ortogra�a, visto que o foco era a “escrita correta” de palavras, frases e textos (MARCUSCHI, 2009). Década de 1950 e 1960 No que diz respeito ao ensino da produção de textos escritos, as propostas existentes do início do século XX até os anos 1950 privilegiavam os seguintes exercícios: composição com tema livre; produções com base em gravuras, reprodução de “trechos narrativos” e elaboração de “cartas. Soares (2004) a�rma que, a partir dos anos 1950, iniciou-se gradativamente a transformação do ensino de Língua Portuguesa. Nesse período iniciou-se a produção de novos materiais didáticos impressos - os primeiros livros didáticos - que passaram a conter em um único volume a gramática e os textos. Nos anos 1960, os livros passaram a ser organizados em unidades, contendo textos para a interpretação, tópico de gramática, além de atividades de composição ou de redação. Apesar da presença do ensino de leitura e interpretação de textos, a gramática nos anos 1950 e 1960 continuou tendo primazia sobre o trabalho com o texto. O ensino da gramática ocorria por meio de exemplos abstratos e descontextualizados, com frases soltas e construídas com a intenção de abordar os conceitos gramaticais simplesmente para exempli�cação ou para exercitação. Fonte: iStock Aprendizagem da Língua Portuguesa Príncipios e objeto da Língua Portuguesa Unidade 1 – Seção 1 Você sabia que seu material didático é interativo e multimídia? Isso signi�ca que você pode interagir com o conteúdo de diversas formas, a qualquer hora e lugar. Na versão impressa, porém, alguns conteúdos interativos �cam desabilitados. Por essa razão, �que atento: sempre que possível, opte pela versão digital. Bons estudos! Fonte: iStock Década de 1970 Estabeleceu-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 5.692/1971. Saiba Mais Para as séries iniciais do 1º grau (atual 1º ao 5º ano), a disciplina passou a ser denominada “Comunicação e Expressão”. Para o 2º grau, (atual ensino médio), “Literatura Portuguesa e Literatura Brasileira”. Para o 2º grau, (atual ensino médio), “Literatura Portuguesa e Literatura Brasileira”. A língua, do ponto de vista linguístico, passou a ser compreendida como instrumento de comunicação por in�uência da teoria da comunicação. A ideia era [...]desenvolver e aperfeiçoar os comportamentos do aluno como emissor e recebedor de mensagens, através da utilização e compreensão de códigos diversos, verbais e não verbais. Ou seja, já não se trata mais de estudo ‘sobre’ a língua ou de estudo ‘da’ língua, mas de desenvolvimento do ‘uso’ da língua. — SOARES, 2004, p. 168 - 169. “ ”A escolha dos textos para o trabalho na área deixou de ser feita exclusivamente por critérios literários. Sãointroduzidos, no período, “textos de jornais e revistas, histórias em quadrinho; amplia-se, assim, o conceito de ‘leitura’: não só a recepção e interpretação do texto verbal, mas também do texto não-verbal” (SOARES, 2004, p. 169). Rojo e Buzen (2008) a�rmam que os materiais didáticos sofreram acentuadas mudanças. Agora, em lugar das obras de referências - as antologias e as gramáticas – apareceu um novo livro didático que passou a interferir na autonomia do professor, em razão dos objetivos a que se propunha: [...] estruturar e facilitar o trabalho de um professor de ‘novo tipo’, apresentando não somente os conteúdos, mas também as atividades didáticas e organizando-se conforme a divisão do tempo escolar, em séries/volumes e meses ou bimestres/unidades, por exemplo. — ROJO; BUZEN, 2008, p. 79. “ ”O trabalho com a produção do texto escrito, incentivava os alunos a expressassem “suas ideias de modo criativo, em atividades denominadas ‘redação’, ‘redação livre’ e ‘redação criativa’”. Tratou-se de um período em que se consolidou a redação escolar como um gênero de texto constituído no interior da escola para o ensino da produção escrita. Década de 1980 A disciplina Comunicação e Expressão passou a se chamar Português. Com a divulgação de um conjunto de teorias linguísticas, sobretudo da linguística textual, passa-se a privilegiar o texto como objeto de estudo. A diversidade textual consolida-se nos livros didáticos, destacando-se os textos de grande circulação nas mídias e que passam a concorrer com os textos poéticos e literários. Apesar da intenção de se tomar o texto como objeto de estudo na disciplina de Língua Portuguesa, o que se observava na prática de sala de aula era que o foco não tomava o texto como produtor de sentido, mas sim para análises de aspectos gramaticais e textuais (ROJO, 2009). Do ponto de vista do trabalho com os aspectos textuais, algumas propriedades do texto passam a ser referências no ensino, em especial, os relativos à estrutura dos diferentes tipos de textos, como a narração, a descrição e a dissertação, e à textualidade de cada um deles. É preciso destacar a partir de Rojo (2008) que, em 1984, Geraldi trouxe para a discussão o conceito de que o ensino Língua Portuguesa deveria tomar como unidade de trabalho o texto e que o seu estudo deveria ocorrer de modo contextualizado, voltado para o uso em práticas de leitura e de produção, pois, para o autor, os modelos de textos produzidos pelos estudantes �cavam circunscritos ao interior da escola – as famosas redações escolares (foco no início, meio e �m). Assim, a perspectiva defendida pelo autor, à época, era que práticas de leitura e de produção de texto, a despeito dos limites impostos pela escola, deveriam possibilitar aos estudantes a aprendizagem efetiva da língua nas modalidades oral e escrita, para além do interior da escola e/ou da sala de aula. Década de 1990 Os estudos do teórico russo Mikhail Bakhtin, passaram a orientar as pesquisas de leitura e, em especial, de produção de textos, em uma perspectiva enunciativa-discursiva. Também indicaram que os textos em sala de aula deveriam ser abordados considerando o seu funcionamento e o seu contexto de produção, tanto para a leitura como para a produção. É sob in�uência desses estudos que os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNs) adotaram a perspectiva teórica enunciativa-discursiva como orientadora para a elaboração dos currículos de língua portuguesa em âmbito nacional, abrindo este caminho dentro das orientações curriculares, perspectiva mantida pela Base Nacional Comum Curricular. Conforme os PCNs, o ensino de língua portuguesa deve compreender a linguagem como “uma forma de ação interindividual orientada por uma �nalidade especí�ca; um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história” (BRASIL, 1997, p. 23; 24). [...] O discurso, quando produzido, manifesta-se linguisticamente por meio de textos. Assim, pode-se a�rmar que texto é o produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo signi�cativo e acabado, qualquer que seja sua extensão. — BRASIL, 1997, p. 25. “ ”Década de 2000 Conforme a Base Nacional ComumCurricular (BRASIL, 2017), o componente língua portuguesa da BNCC dialoga com documentos e orientações curriculares produzidos nas últimas décadas, buscando atualizá-los em relação às pesquisas recentes da área e às transformações das práticas de linguagem ocorridas neste século, devidas, em Saiba Mais grande parte, ao desenvolvimento das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC). Assume-se aqui a perspectiva enunciativo-discursiva de linguagem, já assumida em outros documentos, como nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), para os quais a linguagem é “uma forma de ação interindividual orientada para uma �nalidade especí�ca; um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes numa sociedade, nos distintos momentos de sua história” (BRASIL, 1998, p. 20) Assim os gêneros do discurso, concebidos como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 1997, p. 279) passaram a ser tomados como unidade de ensino e o texto como objeto de ensino. Para o autor, todas as esferas da atividade humana utilizam-se da língua por meio de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, os quais são de�nidos como gêneros do discurso. Três elementos os caracterizam: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Dada a diversidade de esferas da atividade humana, existe também uma riqueza e variedade de gênero, que abarca a totalidade da linguagem nas modalidades oral e escrita. Fonte: iStock É por meio da língua que o indivíduo “se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento” (BRASIL, 1997, p. 23), portanto, quanto maior o acesso e o domínio por parte dos alunos dos gêneros que circulam nas diferentes esferas, maior possibilidade terão de plena participação social. Assim, o ensino da língua portuguesa deve ocorrer tomando por base as práticas de uso da linguagem, de modo a permitir o desenvolvimento gradativo da competência discursiva dos estudantes para falar, escutar, ler e escrever nos diferentes contextos de interação social, em detrimento de um ensino focado apenas nos aspectos gramaticais descontextualizados e/ou apenas nos aspectos textuais que não respondem às dimensões da linguagem no contexto social.