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AULA 1 GESTÃO DE COMPLIANCE Prof. Alexandre Francisco de Andrade 2 TEMA 1 – HISTÓRICO DA ATIVIDADE Compliance é um termo ainda novo, se comparado a outras funções similares no meio organizacional, e está presente como um meio importante que controla e infunde uma cultura de gestão de risco, em qualquer organização. Observamos, cada vez mais, o aumento das regulamentações, a complexidade dos ambientes interno e externo e o aumento da conscientização de todos os responsáveis para que percebam determinados riscos recebidos; e, com isso, aumenta também a necessidade de haver controle interno sobre os processos que impactam nos negócios em vigor nas organizações. Esse processo de controle teve em sua origem, conforme observado por Veríssimo (2017), as convenções internacionais anticorrupção que abordaram a prevenção do delito nas organizações privadas; nesse ponto, entende-se que o Estado e seus agentes não seriam apenas os responsáveis por prevenir, apurar e punir os delitos, ou seja: as organizações privadas começariam a atuar, elaborar códigos de ética e desenvolver seus programas de compliance. Figura 1 – O que devem fazer os programas de compliance Um dos pontos de interesse para as organizações é a aplicação dos programas de compliance. O aumento de regulamentações e o custo de conformidade ainda são positivos e, com novos padrões crescentes, aparecem determinados impulsionadores. Primeiro, com riscos e regulamentações crescentes, ocorre uma configuração organizacional voltada para a função de compliance, que se tornou PROMOVER O CUMPRIMENTO DAS NORMAS POR PARTE DE SEUS ÓRGÃOS E EMPREGADOS INVESTIGAR AS IRREGULARIDADES PRATICADAS ADOTAR MEDIDAS CORRETIVAS ENTREGAR OS RESULTADOS ÀS AUTORIDADES COMPETENTES 3 uma escolha estratégica e impulsionada por uma abordagem consciente e equilibrada. Apresentam-se quatro pontos essenciais: 1. representar os papéis e responsabilidades do gestor responsável pelo programa, no conhecimento do propósito da unidade organizacional e das suas interações obrigatórias; 2. apresentar linhas claras, nos relatórios, que reportem à alta administração como atingir uma organização interna mais eficiente; 3. repensar a centralização e a descentralização nas direções horizontal e vertical, para a organização ser mais ágil; 4. aplicar ajuste fino na extensão do controle interno em termos de riscos gerenciados na execução das atividades. Segundo, os efeitos das forças de uma organização (clientes, tecnologias, acionistas e órgãos reguladores) pressionam os responsáveis pelo compliance para aumentar o controle sobre suas atividades e, muitas vezes, não podem aumentar o quadro de pessoas devido a restrições orçamentárias. Os programas de compliance devem necessariamente se equipar para rever sua abordagem metodológica, a fim de aumentar a eficácia e a eficiência das atividades sob seu controle, ou seja, promover a formulação de normas e procedimentos com o objetivo de salvaguardar a integridade das entidades (Veríssimo, 2017). Figura 2 – Etapas do gerenciamento de um compliance Essas três etapas representam um roteiro para se rever o gerenciamento de compliance nos processos de negócios, sem aumentar os custos da própria ETAPA 1 • Excelência nos processos principais ETAPA 2 • Mudança da mitigação de riscos para a prevenção de riscos ETAPA 3 • Infusão de cultura de conformidade em toda a empresa 4 atividade, incluindo os códigos de conduta, as boas práticas entre as empresas e as suas relações contratuais. Terceiro, deve-se buscar a melhoria da arquitetura organizacional e pensar no potencial inexplorado de inovação, pois os responsáveis pelo compliance devem prevalecer com a sua contínua obrigação e estarem atentos para a inovação que se apoia num modelo colaborativo, o que se observa nas oportunidades que as organizações buscam na automação de processos, na computação cognitiva que captura riscos e no controle de processos de forma eficaz. O principal desafio das organizações com a função de compliance é: como ser eficaz sem aumentar os custos com essa importante atividade. Uma das soluções seria a adoção de uma abordagem baseada em risco, para gerenciar as leis e regulamentos que podem influenciar significativamente os eventos de risco aos negócios da organização. Lembre-se que a exigência da adoção do compliance com normas penais foi introduzida em nosso país pela legislação que criminalizou a lavagem de dinheiro (Veríssimo, 2017). Outra solução seria uma revisão fundamental do modelo operacional da organização, nos processos e na tecnologia utilizada, evoluindo-se para um compliance mais colaborativo. E, definitivamente, uma solução atual é quanto ao investimento em inovação tecnológica, pois, com a robótica e a computação cognitiva, muitas organizações terão possibilidades de uma transformação mais rápida e isso é ter medidas eficazes para os mecanismos de controle. Para a autora Veríssimo (2017), as medidas consistem em controles contábeis internos para ajudar a prevenir e detectar os atos de corrupção, nas contas e no financeiro das organizações. Ultimamente, para manter essas medidas, as atividades de compliance, nas organizações, passam rapidamente por reformulações, conforme suas políticas internas, que estão configuradas em conformidade e com verificação das práticas no ambiente organizacional, por meio de controles em relação a um conjunto mais amplo de leis e regulamentações. O compliance está numa perspectiva moderna em seu papel como um meio proativo de vigilância destinada a prevenir, localizar e minimizar os riscos de não conformidade, para que as contas e o financeiro das organizações estejam à disposição dos procedimentos de auditoria e certificação (Veríssimo, 2017). 5 Nessa questão de compliance nas organizações, observa-se o perímetro das leis e regulamentos sob a responsabilidade das funções em cada setor, pois em vários países e nos diversos segmentos de negócios, em níveis federal e estadual, há uma tendência de expansão progressiva, com fontes juridicamente vinculativas. Para isso, como regra geral, a atividade de compliance deve estabelecer processos com políticas internas que garantam a conformidade da organização com leis e regulamentos, mantendo a transparência em relação aos clientes, informações e execução contratual. Saiba mais PREVENINDO com o compliance para não remediar com o caixa. Endeavor Brasil, 21 jul. 2015. Disponível em: <https://endeavor.org.br/pessoas/compliance/>. Acesso em: 26 jan. 2019. TEMA 2 – O GERENCIAMENTO DE COMPLIANCE E SEU CONCEITO No mundo dos negócios, há muitas formas de compliance que as organizações e seus funcionários devem procurar respeitar, pois o compliance refere-se a aderir às regras e toda organização precisa estar alinhada com a legislação e com quaisquer padrões internos ou externos exigidos. De acordo com Veríssimo (2017), as pessoas físicas e jurídicas sujeitas aos mecanismos de controle precisam identificar seus clientes e manter seus cadastros, registrar suas transações e comunicar operações financeiras suspeitas. As organizações que não se atêm à conformidade podem causar danos tanto internamente quanto aos seus clientes e parceiros. Dessa maneira, há necessidade de que os funcionários de uma organização trabalhem de maneira focada na proteção de dados dos clientes, para evitarem ques esses dados sejam roubados por um hacker, por exemplo. Como é o gerenciamento de compliance? Uma gestão ineficiente de compliance poderá apresentar consequências graves, pois não cumprir as leis, regulamentações e normas acarretará um custo potencial muito alto às organizações. Portanto, uma descrição simples seria: o gerenciamento de compliance é o processopelo qual os gestores planejam, organizam, controlam e conduzem atividades que garantem a conformidade de uma empresa com leis e padrões. Desenvolver e gerenciar um programa de compliance é uma atividade complexa, que exige capacitação técnica, referências normativas, engajamento 6 ético e compromisso da alta direção de uma organização (Neves, 2018). Essas atividades podem incluir o que está descrito na Figura 3. Figura 3 – As atividades pertinentes a um compliance Quais seriam as abordagens para se ter um gerenciamento de compliance efetivo? Uma organização precisa buscar um meio, como um benchmark (buscar comparar seu gerenciamento de compliance com os de organizações semelhantes), pois é necessário saber o que a lei determina e quais normas que abordam regras ou padrões de interesse para a organização. Dessa maneira, as organizações podem planejar, implementar e reforçar o seu compliance; e existem duas maneiras de se fazer isso, o que depende do tipo de problema levantado para o compliance. O primeiro tipo se dá quando a organização se certifica de que todos os seus funcionários conhecem a lei, que ali é aplicada de forma rigorosa; com uma forma de gerenciamento mais dura e com uma postura nada flexível. Em algum momento, essa pode ser uma abordagem correta. Por exemplo, se um funcionário colocar em perigo a segurança no local de trabalho, fazendo algo claramente incorreto, e a abordagem da gestão é impedi-lo de forma apropriada, sem comprometê-lo, outros funcionários que podem ser tentados a fazer a mesma coisa irão notar que a gestão leva a sério o compliance na organização. Quando, numa organização, um agente fraudador vê uma oportunidade ilícita que lhe pareça favorável e que lhe gerará vantagens econômicas diretas ou Audições internas Auditorias de terceiros Procedimentos e controle de segurança Preparação de relatórios e fornecimento de documentação de suporte Desenvolvimento e implementação de políticas e procedimentos para garantir a conformidade 7 indiretas, aquele planejará e executará ações para chegar a seu objetivo, causando um grave efeito na segurança da organização (Rocha Junior, 2018). O segundo tipo ocorre quando a organização reconhece que as leis não são negociáveis, mas que alguns padrões podem ser flexibilizados, em determinados momentos. Por exemplo, se vários padrões contradigam ou entrem em conflito uns com os outros e um gestor intercede sobre eles para tomar uma decisão, será necessário permitir que alguns da equipe abram exceção a algum dos padrões adotados, para que o processo possa ter andamento. Um exemplo básico de um efetivo gerenciamento de compliance que apresentaria um regulamento mais flexível: uma determinada organização elabora um contrato com seu fornecedor e preenche determinados formulários-padrões que especificam certos pontos do contrato legal, como: “Todos os pedidos serão entregues no local dentro de 24 horas”. Supondo que o fornecedor faça um pedido que deve ser entregue em um local cujo transporte terrestre demandará um tempo de 25 horas e a área de vendas da organização devesse, pois, rejeitar o pedido porque não pode entregá- lo conforme seu regulamento interno. Entretanto, a decisão da gestão, para não ser dura demais, aceita dar continuidade ao processo e essa ordem depois será informada à alta administração da organização, para que esta lhe responda sobre a questão do regulamento interno. Claro que, nesse exemplo, o responsável pela entrega deve ter a ordem de permissão por escrito, para evitar problemas, pois, quando os padrões contratuais aparecem, é importante verificar qual sentença é dada aos funcionários. Por isso, deve-se determinar quem está autorizado a fazê-lo, em que circunstâncias e de que maneira, para se garantir que o contrato permita as variações e flexibilidades necessárias. De acordo com Blok (2017), o compliance significa cumprir, executar, satisfazer, realizar o que é imposto a algum ente; a importância do compliance reforça a gestão de qualquer negócio. O compliance pode ser inegociável (legal) ou negociável (quando a norma não é uma lei). 8 Figura 4 – Pontos importantes a serem observados em um gerenciamento de compliance Estar em compliance é uma obrigação individual de cada integrante da organização, ou seja: é estar em conformidade com leis e regulamentos internos e externos (Blok, 2017). TEMA 3 – CONDUTA CORPORATIVA Os códigos de conduta corporativos referem-se às declarações de política das empresas que definem padrões éticos para sua conduta, e há uma grande variação nas maneiras como essas declarações são elaboradas, pois o código trata dos temas de compliance, como as diretrizes mais específicas sobre a Lei Anticorrupção, a Lei de Defesa da Concorrência, as leis ambientais, a lei sobre lavagem de dinheiro e outras (Blok, 2017). Códigos corporativos de conduta são meios voluntários, que podem ter certo número de formatos e resolver qualquer problema, no local de trabalho, Adquirir um compromisso crescente em total legalidade. Iniciar uma avaliação de risco baseada em compliance, para identificar o que deve estar na lista de verificação de compliance. Descubrir como organizações semelhantes lidam com os riscos na lista de verificação. Implementar partes externas para auxiliar com conhecimento especializado Fornecer treinamento de compliance para todos os funcionários- chave. Alocar responsabilidades e atacar incidentes imediatamente. Configurar um sistema para relatórios de conformidade e manutenção de registros. Realizar auditorias periódicas de compliance. 9 ligado aos direitos dos trabalhadores, pois a sua implementação depende totalmente da empresa em questão, ou seja, dos autores do código, que são: o fundador, o conselho de diretores, o chief executive officer (CEO), a alta administração, os departamentos jurídicos, os consultores e os representantes dos funcionários. Blok (2017) explica que um código de conduta precisa levar em conta a estrutura da empresa e as suas diretrizes institucionais, baseadas em padrões éticos alinhados com a filosofia da empresa e acessíveis a todos os funcionários. O código de conduta pode ser distribuído nos formatos de três categorias: códigos de compliance (diretrizes que orientam e proíbem certos tipos de conduta); créditos corporativos (declarações gerais de compromissos corporativos com missão, valores e objetivos de uma empresa); declarações de filosofia de gestão (enunciados formais da empresa ou modos de ela fazer negócios). Para Silveira (2018), os códigos de conduta são a base na construção de um sistema de compliance e vinculados à Lei Sarbanes-Oxley (SOX), sancionada em julho de 2002 com o objetivo definido de aprimorar a precisão e confiabilidade das informações divulgadas por uma empresa. Num código de conduta, devem constar os seguintes pontos: a estipulação da exclusão de conflitos de interesses; a menção à ocorrência de crimes como corrupção, estelionato, fraude; a menção ao respeito ao direito de concorrência; a observância dos direitos humanos; a ética e a proteção contra a discriminação; a confidencialidade e proteção de dados; a correção da contabilidade; a autenticidade das informações; os cumprimentos das exigências de proteção ambiental e de saúde; a regulação das denúncias internas de irregularidades. Esses documentos especiais (os códigos de conduta) descrevem valores, princípios e diretrizes nas diversas áreas de uma organização, pois são um meio que garantem uma declaração clara e pública do modo como são feitos os negócios com seus fornecedores, clientes, consumidores e acionistas. 10 Assim, encontramos cartas informando as políticas organizacionais sobre assuntos que respondem aos fornecedores, aos contratados e aos demais agentes; encontramos os certificadosde conformidade, que exigem dos fornecedores, dos contratados e dos demais agentes o cumprimento dos padrões estabelecidos; encontramos os documentos de obrigação contratual para com os fornecedores. Um código de conduta depende de sua credibilidade, pois depende do monitoramento, fiscalização e transparência, ou seja: até que ponto as demais organizações estão cientes da existência e do significado desse código de uma dada empresa? De acordo com Assi (2018), uma das principais cautelas quanto à mitigação dos riscos, em uma organização, está em reunir os seus principais atores para a elaboração de regras de conduta (um código de conduta). Figura 5 – O código de conduta Um código só será transparente mediante sua divulgação, por meio de treinamento sobre suas disposições, com monitoramento, que pode ser interno (por meio de um comitê ou ouvidoria) ou externo (por meio de auditoria externa ou consultoria). Por exemplo, as respostas a violações de funcionários, subsidiárias, fornecedores ou parceiros comerciais podem determinar: aplicação de multas ou penalidades monetárias, imposição de status probatório, demandas por ações corretivas, educação do infrator, cancelamento de um contrato individual e rescisão do vínculo empregatício ou comercial. Dessa maneira, a empresa transmite a todos a mensagem de que eventual prática que infrinja a legislação será considerada uma violação do referido código (Blok, 2017). Uma abordagem empresarial básica está em agir em total conformidade com todas as leis e regulamentos aplicáveis para cada setor e área de negócio; está em agir com as normas da sociedade, promovendo padrões éticos elevados; e fomentar a cultura corporativa para encorajar todos a contribuir para a melhoria contínua da organização. CÓDIGO DE CONDUTA NORMA INTERNA FUNDAMENTAL PROGRAMA DE COMPLIANCE E INTEGRIDADE NÃO É UMA NORMA JURÍDICA 11 Entendemos que um código de conduta é uma seleção escrita de regras, princípios, valores e expectativas, comportamentos e relacionamentos dos funcionários que uma organização considera como significativos e acredita serem fundamentais para o sucesso dos seus negócios, ou seja: ele busca, na prática, estabelecer padrões éticos alinhados com a filosofia da instituição (Blok, 2017). O código de conduta alinha os padrões e valores que permitem refletir a cultura organizacional; e serve como uma estrutura para a tomada de decisões éticas, pois é uma ferramenta de comunicação interna e externa que informa o que é valorizado por uma organização e seus funcionários. Figura 6 – O que abrange um código de conduta O código de conduta é escrito pelos responsáveis da área executiva; ou é desenvolvido por funcionários selecionados, de várias funções; ou é projetado pela área responsável pelo desenvolvimento da organização, comunicações corporativas, marketing, relações com fornecedores, recursos humanos, dependendo da organização e seu modo interno de operação e estilo de gerenciamento. Dessa maneira, alcançará plena implementação e integração de todos e se fortalecerá se mais partes interessadas estiverem envolvidas em sua criação. O seu cumprimento, para uma gestão mais eficiente, depende de se encontrar um estado de espírito de boa conduta que abranja a todos na organização e de se estar em compliance e tê-lo como uma meta, pois isso não se limita a dispor-se de um manual de compliance ou de um código de conduta (Blok, 2017). CÓDIGO DE CONDUTA CÓDIGO DE ÉTICA EMPRESARIAL CÓDIGO DE CONDUTA ÉTICA NOS NEGÓCIOS CÓDIGO DE ÉTICA E PADRÕES 12 TEMA 4 – ÉTICA Sempre é comum ouvir, no mundo das organizações, a palavra ética acompanhada da palavra compliance e vice-versa. E esses dois termos, às vezes, são usados de forma incorreta, pois ética e compliance têm significados diferentes e geralmente andam lado a lado. Então, as empresas têm diferentes maneiras de abordar suas questões de ética e compliance? Sim. Algumas empresas apresentam separados esses termos, em duas áreas de gestão, e em outras se combinam os dois numa área única de ética e compliance. Claro que, para as empresas, essa classificação é indiferente, pois a maioria dos conselhos corporativos reconhecem que a ética e o compliance têm uma forte influência na cultura corporativa. Entretanto, a cultura ética pode levar ao sucesso ou fracasso de uma organização. E, para isso, as empresas são desafiadas fortemente a desenvolver um programa de ética e compliance no local de trabalho e assim evitar a propagação de uma má conduta. A efetividade do compliance dependerá de três elementos: uma gestão ética dos negócios; com conformidade; e com cultura organizacional, pois o conceito de compliance vai além das leis e regulamentos, absorvendo princípios de integridade e conduta ética (Blok, 2017). Compliance tem uma definição muito simples, que significa seguir leis, regras ou políticas, pois toda empresa deve cumprir e estar em conformidade com seu governo, ou seja, todos numa corporação devem fazer as escolhas de maneira assertiva e consciente. Entendemos ética como estudo da conduta certa e da errada, e ela pode ser encontrada no âmbito de: decisões, escolhas, ações comportamentais que fazemos e que refletem nossos valores, ou seja, um conjunto de padrões de conduta que orienta as decisões e ações. E, como se define a ética? Ética significa fazer o que é certo, independentemente do que a lei diz; é uma escolha consciente e pessoal, que pode ser proativa; é um sistema de valores pessoais (de caráter e de princípios fundamentais), pois qualquer indivíduo sente um profundo sentimento de satisfação pessoal quando toma decisões e ações éticas. 13 Silva (2018) afirma que a ética corporativa nada mais é do que o somatório das éticas pessoais de todos os indivíduos que fazem parte da corporação, em qualquer nível, atuando em qualquer função, não importando qual seja. Em um ambiente corporativo, a ética seriamente aplicada leva a melhorar o moral dos funcionários, e podemos notar que, nas empresas com ótimos programas de ética e compliance, se desestimulam a prática da má conduta e se incentiva seus funcionários a comunicarem a má conduta de outros. Figura 7 – Os impactos da melhoria da cultura ética, em uma organização Esse fortalecimento da cultura ética é notável e promove sentimentos de valor próprio que se espalham por toda a empresa; ela melhora o ambiente interno de trabalho para a gestão e seus funcionários. O resultado positivo é combinado com a integridade de todos, levando uma empresa a ser lucrativa e a nutrir perspectivas de sustentabilidade operacional. Dessa maneira, o desenvolvimento de uma cultura ética competente assume um forte compromisso, ao longo do tempo, no ambiente interno, e impacta positivamente no orçamento empresarial. A implantação de uma cultura corporativa ética gera custos para as empresas? Não, pois ter um programa de ética e compliance na empresa estimula que haja ética no local de trabalho, e isso custa muito pouco. Assim, a cultura deve ser alinhada com valores e normas apropriados para uma gestão proativa, íntegra e compromissada com os valores de conformidade (Weber; Gerard, 2014). Para a organização, a criação de um programa de ética e compliance não sobrecarrega o orçamento corporativo e não requer recursos significativos para a sua implementação. Dessa maneira, falar de ética implica falar de integridade e, nesse caso, retrata a qualidade daquele que é íntegro (inteiro, que não se divide, não adota uma postura em público e outra na esfera privada), que tem a mesma atitude (Neves, 2018). MELHORIA DA CULTURA ÉTICA PLANEJAMENTO COMPROMISSO ACOMPANHAMENTO VÁRIOS BENEFÍCIOS 14 As diferenças entre ética e compliance são claras, e as organizações devem procurar saber como desenvolver um sólido programa de éticae compliance para evitar a má conduta no ambiente de trabalho. Com a aplicação eficaz de ambas as políticas, por uma organização, cada funcionário deve entender e aprender a tomar as decisões certas e fazer a coisa certa. A ética varia de uma empresa para a outra e significa aquilo que faz parte dos bons costumes; e compliance, conformidade com normas legais e diretrizes da empresa (Silveira, 2018). Uma das características das regras é desencorajar as oportunidades que os funcionários têm para violarem a lei; e isso leva todas as empresas a terem um programa de compliance sólido e eficaz. Os departamentos de ética e compliance devem trabalhar para combinar regras com sistemas e processos corporativos no intuito de reduzirem as oportunidades de conduta imprópria de algum indivíduo. Dessa forma, Silveira (2018, p. 12) nos esclarece que, “para agirmos de forma ética, devemos procurar compreender os impactos e potenciais prejuízos que podemos vir a causar sobre terceiros”. Dessa maneira, grande parte do foco em compliance depende do treinamento e da definição que a empresa dá aos seus procedimentos; as equipes de ética e compliance devem analisar os sistemas de negócios, os controles internos e os procedimentos de aprovação que são projetados pela instituição para evitar desvios de conduta. Silveira (2018, p. 148) reforça que “a boa conduta vai além da mera conformidade legal com as normas e, como resultado, a ética vai muito além do Compliance”. Assim, as organizações que ensinam a seus funcionários o comportamento ético descobrem que a maioria quer aprendê-lo e aceitá-lo. Essa ideia auxilia muitas empresas a treinarem seus funcionários para defender os seus valores, por meio de uma contínua formação sobre ética, integridade e fazer a coisa certa. A outra parte do processo é responsabilizar os funcionários quando eles não estão se comportando de maneira ética. Uma característica interessante está presente no efeito da pressão da gestão empresarial sobre a ética e o compliance, pois, negativamente, as empresas fazem com que seus funcionários se sintam pressionados a tomar determinadas ações e podem estar inclinados a adotar atalhos antiéticos, se não receberes instruções sobre as políticas de ética e compliance. Portanto, as empresas devem entender as diferenças entre ética e compliance, pois um dos principais objetivos dos departamentos de ética e 15 compliance é garantir que aqueles sejam comunicados de forma clara e contínua, em todos os aspectos da cultura corporativa, a todos os funcionários, reforçando a cultura ética em todas etapas de um negócio. TEMA 5 – CULTURA CORPORATIVA A importância da cultura corporativa no gerenciamento de compliance está conectado com as lições aprendidas com os escândalos e crises organizacionais que ocorreram nas empresas desde os anos 2000 e que deixaram uma mensagem bem clara sobre os problemas financeiros e prejuízos que podem afetar qualquer modelo de negócio. Podemos afirmar que, se a organização não criar uma cultura corporativa compatível com sua área de atuação, estará em total risco; por isso, a continuidade, com melhoria, nos processos faz com que a cultura passe por novas definições, medições e aprimoramento. Observamos, nas organizações, culturas fundamentadas em muitos elementos com alto nível de concordância e intensidade no que é valorizado em relação aos processos internos, ou seja: a longo prazo, uma cultura positiva e íntegra é a base para um programa eficaz de compliance. Essa base, se aplicada corretamente em uma organização, pode lhe criar uma enorme vantagem competitiva e servir como um ativo organizacional valioso. Para Blok (2017), a inserção do compliance é um valor fundamental (de importância) na cultura corporativa, a ser garantido mediante sua inclusão na agenda fixa dos órgãos da administração ou da pessoa responsável pelos negócios. E, como fica para os funcionários a sensibilização para a importância da cultura corporativa? Para os funcionários, não é apenas atender aos processos e executar as operações no dia a dia; trata-se do cumprimento do seu dever no local de trabalho; vai além de gostar do que se faz, ou seja, a sensibilização está em deixar a sua marca e acreditar na missão da empresa. O ambiente de trabalho deve apoiar e incentivar a cultura corporativa. Nesse ponto, a empresa deve reconhecer o potencial e recompensar os funcionários pela realização de um trabalho bem-feito, pois uma base sólida está sempre em construção numa cultura corporativa com regras de compliance, tendo como resultado uma cultura de conformidade. Figura 8 – A cultura corporativa 16 O que se observa nas empresas é a constituição de locais de trabalho mais saudáveis, motivadores e confiáveis, pois, onde prevalece um ambiente de compliance, se constrói um senso de pertencer fortalecido por uma conduta ética, que prepara uma corporação para superar os tempos de crise e turbulências. Teremos então alcançado um ambiente de trabalho com alto impacto sobre os funcionários, com produtividade e engajamento entre todos. E a peça-chave para isso são os líderes responsáveis pelas atividades de negócios da empresa, que garantem o fornecimento de recompensas aos funcionários. As pessoas são felizes e engajadas no trabalho quando são inspiradas em três elementos, conhecidos como motivações intrínsecas: autonomia, excelência e propósito (Chér, 2018). Dessa maneira, compreender as motivações e aspirações de carreira dos funcionários é fundamental para se criar um alto desempenho, em que se motivem as pessoas a fazerem o melhor trabalho possível. De acordo com Rocha Junior (2018), o programa de compliance objetiva influenciar o comportamento das pessoas [...] propiciando a implementação de uma cultura corporativa que valorize a ética nas relações interpessoais e institucionais, no âmbito interno e externo da organização, bem como promovendo condutas em conformidade com os regulamentos internos, externos e com as lieis, proporcionando maior credibilidade para a empresa perante seus stakeholdes (Rocha Junior, 2018, p. 129). Nas empresas, quanto ao compromisso com o cumprimento das obrigações, funcionários respeitados, que recebam um tratamento justo, são mais propensos a retribuir esse tratamento com um comportamento à altura, ou seja: uma empresa que opera de maneira justa, em seus processos, contará com funcionários que acreditam na legitimidade da autoridade e cujos valores correspondem aos valores da organização. Observamos que, no ambiente corporativo, com funcionários que cumprem as regras voluntariamente, o processo terá um resultado mais efetivo em compliance, diante das regras impostas; sendo desnecessário, por parte dos gestores, adotarem uma posição apoiada em risco de punição. Uma cultura respeito à legislaçãoincorporaCultura corporativa 17 corporativa sólida de compliance direciona o negócio empresarial ao sucesso, pois cada funcionário espera e almeja algo diferente em sua carreira profissional e, estando satisfeito com sua responsabilidade, isso o motiva a fazer um excelente trabalho. Essa é a construção para uma cultura de compliance. 18 REFERÊNCIAS ASSI, M. Compliance: como implementar. São Paulo: Trevisan Editora, 2018. BLOK, M. Compliance e governança corporativa: atualizado de acordo com a Lei Anticorrupção Brasileira (Lei 12.846) e o Decreto-Lei 8.421/2015. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2017. CHÉR, R. Engajamento: melhores práticas de liderança, cultura organizacional e felicidade no trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Alta Books Editora, 2018. NEVES, E. C. Compliance empresarial: o tom da liderança, estrutura e benefícios do programa. São Paulo: Trevisan Editora, 2018. ROCHA JUNIOR, F. de A. do R. M. Fraudes corporativas e programas de compliance. Curitiba: InterSaberes, 2018. SILVA, R.B. O que é o compliance. 1. ed. São Paulo: Albatroz, 2018. SILVEIRA, A. di M. Ética empresarial na prática: soluções para gestão e governança no século XXI. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018. SILVEIRA, R. de M. J. Compliance, direito penal e lei anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2015. VERÍSSIMO, C. Compliance: incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2017.
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