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GESTÃO DA ATENÇÃO EM GERONTOLOGIA AULA 2 Prof. Cristiano Caveião 2 CONVERSA INICIAL Com o envelhecimento populacional, os serviços de atenção ao idoso sofrem modificações, de modo que possa atender a diferentes demandas, principalmente aquelas relacionadas à promoção da qualidade de vida e do bem-estar, e esse é um grande desafio. Segundo a projeção demográfica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2025 o Brasil vai extrapolar a marca de 32 milhões de idosos, o que representará 15% da população total. O principal foco dos serviços de saúde e apoio a idosos é a preservação da capacidade física e mental juntamente com a família e a comunidade. Assim, as condições biológicas, psicológicas e sociais, de acordo com os modelos assistenciais ao idoso, têm como objetivo as alterações dos estilos de vida, o que apresenta, como consequência positiva, a diminuição do risco de adoecimento e morte. Os idosos na faixa etária acima de 75 anos acabam necessitando de cuidados que envolvem maior complexidade e ampla duração, principalmente para o controle/gerenciamento de doenças crônicas. Nesta aula, abordaremos algumas reflexões sobre a gestão dos serviços de atenção ao idoso. Estudaremos, agora, os seguintes tópicos: 1. Fundamentos da atenção em gerontologia; 2. Gerenciamento de condições crônicas em idosos; 3. Gestão de casos em gerontologia; 4. O gerontólogo como gestor do cuidado; 5. Linhas de cuidados para o idoso. TEMA 1 – FUNDAMENTOS DA ATENÇÃO EM GERONTOLOGIA Existem vários conceitos que definem a gestão da atenção em gerontologia; utilizaremos o seguinte: “um conjunto de ações proativas voltadas para a promoção da saúde física e mental, prevenção da fragilização e dos desfechos adversos em saúde, propiciando a maximização da independência, manutenção da autonomia e do bem-estar do idoso, da família e da comunidade” (Salmazo-Silva; Lima, 2012, p. 504-505). Ela ainda envolve, além dos serviços, a gestão de casos (para gestão do risco) e o gerenciamento de casos (recursos), sendo uma forma ampliada para a organização da atenção ao idoso, sempre levando em consideração o 3 compartilhamento entre as intervenções orientadas ao indivíduo, à família e às instituições de assistência. A gestão é pautada em três amplas dimensões: Fonte: Garcia, 2001. Juntas, essas três dimensões da gestão fornecem diferentes ferramentas necessárias para o objeto de intervenção, que é a gerontologia. O conceito de gestão em gerontologia engloba: o planejamento, o monitoramento, a implantação e a avaliação de resultados, todos estes relacionados por meio da visão generalista dos serviços e das próprias necessidades da população idosa. Para isso, ainda são necessários a interligação entre as ações e o consequente fortalecimento dos serviços de saúde e serviços sociais, reduzindo as fragmentações das necessidades e a desarticulação de todas as ações, o que favorece a melhoria da comunicação entre os profissionais de saúde, os idosos e a família e, consequentemente, melhora o acesso aos serviços. Isso faz com o que o idoso seja o pivô da atenção em relação ao seu plano de cuidado, auxiliando nos serviços e na realização de ações preventivas voltadas para a fragilização na velhice, bem como promovendo um envelhecimento ativo. A gestão da atenção ao idoso, baseada na atual situação de saúde no Brasil, em que a população apresenta uma carga elevada de doenças, a qual, associada às doenças crônicas, acaba ocasionando uma atenção subdividida, o que não favorece a assistência ao idoso. Destarte, é necessário que os serviços atuem de forma integral, priorizando a prevenção pela atenção primária, reduzindo, assim, as necessidades de atendimento na atenção terciária. Mendes (2010) sugere que as redes de atenção em saúde possam existir como modo alternativo para proporcionar modificações na organização e consequente gerenciamento dos sistemas de saúde. As redes englobam três elementos principais: a população (avaliação relacionada às condições de saúde e de vida); a estrutura operacional (atenção 4 primária, secundária e terciária; os sistemas de apoio (as tecnologias e o gerenciamento da rede); e o modelo de atenção à saúde (desempenho das estruturas, baseado nas condições de saúde da população). Aliadas às redes, a utilização de geoprocessamento1 de condições de saúde e vida dos idosos auxilia na gestão dos programas assistenciais, proporcionando mais informações sobre as principais características da população. O estímulo para atualização constante dos dados e a sua interligação com a plataforma operacional fornecerá subsídios ao gestor no que diz respeito a quais pontos os indivíduos necessitam de ampla ou maior atenção, com base nos indicadores de interesse. Mas, afinal, o que é o geoprocessamento? O geoprocessamento pode ser definido como um conjunto de técnicas computacionais necessárias para manipular informações espacialmente referidas. Aplicado à Saúde Coletiva, permite o mapeamento de doenças, a avaliação de riscos, o planejamento de ações de saúde e também a avaliação das redes de atenção (Brasil, 2006). Ele auxilia no gerenciamento de doenças crônicas transmissíveis e não transmissíveis em idosos, sendo uma ferramenta importante para a vigilância, a prevenção e o controle dessas doenças, permitindo verificar a distribuição destas e, consequentemente, melhorando o processo de planejamento e de tomada de decisões. O gerenciamento de doenças crônicas pode ser definido por um conjunto de estratégias voltadas para um grupo de indivíduos com características específicas, que integra ações para a promoção da saúde e a prevenção de riscos e doenças em determinada faixa etária, ciclo de vida ou condição de risco determinada. TEMA 2 – GERENCIAMENTO DE CONDIÇÕES CRÔNICAS EM IDOSOS O envelhecimento populacional tem acarretado transformações na incidência e prevalência das doenças, e também tem aumentado os índices de óbitos causados pelas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Quase dois terços dos óbitos prematuros em adultos (entre 15 e 69 anos), estão relacionados às DCNT. Essa situação, quando estudada isoladamente no idoso, 1 Para saber mais sobre esse assunto, leia o material complementar: BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Abordagens espaciais na saúde pública: Série Capacitação e Atualização em Geoprocessamento em Saúde. Brasília: MS; 2006. 5 acaba agravando-se ainda mais. Portanto, elas contribuem para o principal problema de saúde pública e carecem de ações ou programas que possam atender a essas necessidades. As principais DCNT são a hipertensão arterial sistêmica e o diabetes mellitus, os quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardíacas, complicações renais e cerebrovasculares. Já as demais doenças – como câncer, doenças respiratórias e mentais – são em proporção reduzida. Hoje, o Ministério da Saúde desenvolve programas para atendimento à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus, porém estes não apresentam o desempenho esperado em razão das modificações que ocorrem a cada nova administração central. Dessa forma, surge a necessidade de atendimento adequado nos diversos níveis de assistência, com apoio das redes de atenção à saúde. Para que o funcionamento dessas redes seja adequado, a assistência primária precisa registrar os casos acompanhados pela estratégia de saúde da família, para que a vigilância epidemiológica possa elaborar as metas a serem atingidas em relação ao acompanhamento dos casos. Por tratar-se de doenças que podem gerar complicações e estas necessitarem de atendimento na atenção terciária, consequentemente há um aumento do custodos serviços de saúde, havendo necessidade de gerenciamento. Segundo a literatura, existem alguns modelos de atenção para o gerenciamento, além dos já citados, os quais serão apresentados no quadro a seguir. Quadro 1 – Modelos de atenção utilizados para o gerenciamento das condições crônicas de saúde em idosos Atenção interdisciplinar primária; Gerenciamento de caso; Gerenciamento de doenças; Visitas domiciliares; Avaliação geriátrica; Cuidado farmacêutico; Autogerenciamento das doenças crônicas; Reabilitação proativa; Suporte ao cuidador; Programa de cuidados na transição do hospital para o domicílio e vice-versa; Programas voltados para pacientes agudos tratados no domicílio, como hospital no domicílio e enfermaria no domicílio; Instituições de longa permanência; 6 Cuidados hospitalares, incluindo a prevenção e o gerenciamento do delirium, estado confusional agudo agenciado por drogas e enfermidades, e o cuidado hospitalar amplo, incluindo uma equipe interdisciplinar e sob a supervisão do profissional clínico geriatra Fonte: Boult, et al.; 2009. Outro fator que pode auxiliar no gerenciamento de DCNT e das suas complicações, são as ações psicoeducativas, desenvolvidas por equipes multiprofissionais e nos diversos campos de atuação. Essas ações promovem, aos idosos, o conhecimento dessas doenças, proporcionando autocuidado, modificações no estilo de vida e hábitos, além de fortalecer a comunicação entre os profissionais de saúde, o idoso e a família. As DCNT podem ser evitadas por meio de intervenções que promovam a saúde e a prevenção de agravos. 2.1 Gerenciamento de doenças crônicas pelo setor privado Além dos esforços do Ministério da Saúde, as operadoras de planos de saúde, por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)2, pautada na Resolução Normativa n. 265, estimula os usuários a participarem de programas de envelhecimento ativo, inclusive com a possibilidade de desconto nas mensalidades. Com base nos registros das operadoras na ANS, em relação aos programas desenvolvidos especificamente para o público idoso, denota-se que elas têm trabalhado com os seguintes programas: Hipertensão arterial; Diabetes mellitus; Doenças cardiovasculares; Alimentação saudável; Antitabagismo; Alcoolismo; Câncer de colón e de reto; Doença pulmonar obstrutiva crônica; Infecções sexualmente transmissíveis; Imunização; Atividade física; 2 Para saber mais sobre esse assunto leia o material complementar disponibilizado na disciplina: BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Cartilha para a modelagem de programas para promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças. Rio de Janeiro: ANS, 2011. 7 Osteoporose; Saúde bucal; Sobrepeso e obesidade. Cabe destacar que essas propostas das operadoras têm enfoque na doença, porém, pelo perfil dos idosos, não se deve centrar única e exclusivamente na doença, pois estes não apresentam somente uma patologia. É necessário considerar a forte influência dos determinantes sociais nas enfermidades que os afetam. Todas essas ações geradas pelas operadoras de saúde são consideradas gerenciamento de doenças crônicas. Nos idosos, uma vez instalada a doença, ela permanecerá com ele até o final da vida, portanto, a atenção requer que haja a estabilização das doenças, evitando o seu agravamento. O gerenciamento das doenças crônicas tem enfoque na doença, com a prestação dos cuidados de saúde em todas as suas etapas para que haja melhor relação entre o custo e a efetividade. O seu objetivo é identificar os usuários com maior risco assistencial; prevenindo as exacerbações e complicações das doenças; aumentando o envolvimento do paciente no seu próprio autocuidado e construindo uma base de dados sobre ele. TEMA 3 – GESTÃO DE CASOS EM GERONTOLOGIA A gestão de caso é definida como um processo cooperativo que diagnostica, planeja, implementa, coordena, monitora e avalia opções e serviços, de acordo com as necessidades de saúde de uma pessoa, por meio de recursos disponíveis e de comunicação para promover resultados custo/efetivos e de qualidade (Mendes, 2001). É uma metodologia originada e utilizada no modelo americano, a qual é denominada de Gerenciamento de Caso (GC) (Case Management), para revisão prospectiva e concorrente. Em muitas situações, um único profissional ficará responsável pela atenção ao paciente, e este faz julgamentos referentes à necessidade da atenção e sobre os serviços prescritos e recebidos. Ou seja, é responsável por defender as necessidades do paciente. Ela envolve a atenção por intermédio dos contínuos serviços, que compreendem a supervisão e o acompanhamento do paciente ao longo e durante todos os pontos de cuidado, por exemplo: hospitais, centros de 8 enfermagem, ambulatórios, atenção domiciliar, entre outros. Atua integrando os serviços para que haja comunicação interdisciplinar, promovendo a microgestão de todas as atividades clínicas e concebendo os sistemas integrados de saúde. Os principais objetivos da gestão de caso, segundo Mendes (2011), são: Na gestão de casos ocorre a identificação de problemas para os pacientes e familiares, sendo posteriormente realizado o planejamento, a identificação e a reunião de serviços, capazes de atender às necessidades. O papel da gestão de caso em gerontologia é auxiliar a equipe multidisciplinar a receber informações que estão fora da clínica. Tais informações permitem compreender e avaliar as complexidades das situações e encontrar soluções de forma rápida. Portanto, a gestão de caso é crucial para união de todos os serviços e consequente manutenção da qualidade de assistência. Para que a gestão de caso seja operacionalizada, esta segue o seguinte fluxo: Aumentar a satisfação das pessoas e dos familiares Estimular a adesão ao plano de cuidados e incrementar a autonomia Ajustar às necessidades de saúde aos serviços promovidos Assegurar a continuidade do cuidado Melhorar a comunicação entre os profissionais, pacientes e familiares Melhorar a qualidade de vida e a capacidade do autocuidado Monitorar o plano de cuidado e a qualidade da atenção 9 A seleção do caso de pessoas idosas pode ser baseada no enquadramento dos critérios seguintes: 1. portadores de comorbidades; 2. polifarmácia; 3. baixa adesão às intervenções prescritas; 4. nível de dependência física ou cognitiva; 5. receptores de tecnologias de alta densidade (ventilação mecânica, nutrição parenteral, oxigenoterapia domiciliar e outras); 6. incapacitados para o autocuidado; 7. graves problemas familiares; 8. graves problemas socioeconômicos; 9. desprovidos de redes de suporte social; 10. idosos frágeis que vivem só; 11. idosos com readmissões hospitalares frequentes; 12. portadores de distúrbios mentais graves; 13. idosos com evidências de algum tipo de abuso; 14. idosos moradores de rua; 15. idosos em situação de pobreza extrema. Na fase identificação do gestor de caso, pode ser escolhido um profissional isolado, que atuará no sistema hands-off (exercita a coordenação da atenção, da mobilização dos recursos, monitora os resultados sem envolvimento e prestação dos serviços; ou hands-on (o gestor do caso exerce a coordenação da atenção, cuida da mobilização dos recursos, monitora os resultados e se envolve diretamente na prestação dos serviços). Já a identificação do problema ocorre por meio de instrumento de coleta de dados com o paciente, familiares, cuidadores, amigos, vizinhos, membros da igreja; prontuário do paciente; exame físico; avaliação do autocuidado; análise do ambiente familiar e domiciliar (presença de escadas, telefone, equipamentos de utilidades domésticas, equipamentos médico). A elaboração e a implementação do cuidado são a definição dosobjetivos a serem atingidos pelo plano de cuidados. Nesse momento, é importante a participação do idoso, da família, dos cuidadores e dos profissionais de saúde. Estão contidos: o que necessita ser feito; como fazer o que se necessita; quem proverá os serviços necessários; quando os objetivos serão alcançados; onde e em que tempo os serviços serão prestados. A sua implementação ocorre por meio da coordenação do gestor de caso. O monitoramento do plano de cuidado pode ser feito de forma presencial, por telefone, por correio eletrônico, pelo prontuário eletrônico do paciente, ou pela utilização de mais de um meio desses descritos. Portanto, a gestão de caso visa melhorar e auxiliar os idosos nas devidas atividades diárias em relação às doenças crônicas, de modo a manter ou melhorar a sua capacidade funcional, estimulando uma vida saudável. O papel 10 do gestor de caso se resume em identificar as necessidades atuais e futuras do paciente, reunir e coordenar os serviços disponíveis e oferecidos, aconselhar pacientes e familiares, além de auxiliá-los e defendê-los como “consumidores” dos serviços. Portanto, o papel do tecnólogo em gerontologia é auxiliar nesse processo de gestão de caso, pois é o profissional que estuda o processo do envelhecimento e realiza promoção da saúde. TEMA 4 – O GERONTÓLOGO COMO GESTOR DO CUIDADO AO IDOSO O envelhecimento populacional está em expansão e, junto a ele o envelhecimento associado a doenças crônicas não transmissíveis, o que gera a necessidade do acompanhamento do idoso por diversos profissionais em seu domicílio e nos diferentes cenários de saúde. Assim, a equipe interprofissional atuará na assistência ao idoso. Essa equipe é composta por diversos profissionais da saúde: médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, técnicos e auxiliares de enfermagem, cuidadores de idosos, gerontólogos, entre outros. Nesse contexto, são necessários profissionais capacitados para atendimento à população idosa, com competência e habilidades para fazer parte da equipe de saúde, além de feeling para as necessidades de cuidado a saúde do idoso. Esse profissional deve ter a capacidade de atuar em situações de dependência ou debilidade, e também de idosos saudáveis, com vida ativa (para prevenção), pois apresenta conhecimentos em três grandes áreas: ciências sociais, humanas e saúde (Pereira et al., 2012). Ele desenvolverá ações relacionadas à promoção do envelhecimento saudável, ou seja, à gestão do atendimento ao idoso. A gestão gerontológica envolve: 11 Em decorrência das demandas relacionadas ao cuidado ao idoso, é preciso que o gerontólogo possa compreender, gerenciar, desenvolver e avaliar todas as alternativas de apoio ao idoso e os seus respectivos cuidadores (familiares ou profissionais), sempre considerando as necessidades biológicas, psicológicas e sociais do envelhecimento. Assim, esse profissional é um elo entre família, cuidador, profissionais de saúde e isodos, proporcionando a este último um cuidado adequado e administrado (Melo; Lima-Silva; Cachione, 2015). O tecnólogo em gerontologia será capaz de auxiliar o gerontólogo com as necessidades assistenciais junto à família e ao idoso, as quais se referem ao planejamento, ao acompanhamento e à avaliação dos resultados em relação ao cuidado, promovendo qualidade de vida ao idoso saudável ou doente. O cuidado não está delegado somente à enfermagem ou às áreas da saúde, ele também é de responsabilidade da família e/ou dos cuidadores. Porém, algumas famílias, mesmo presentes durante o envelhecimento, optam por designar aos profissionais cuidadores essas necessidades. Desse modo, o tecnólogo em gerontologia irá auxiliar na orientação e apoio à família, aspirando a redução dos desgastes emocionais, favorecendo que a família fique mais próxima de questões relacionadas ao processo de envelhecimento, de modo a contribuir para uma maior efetividade na resolução de problemas que apresentem relação com o atendimento. É importante relembrar que, com o envelhecimento, surgem as doenças crônicas capazes de levar os idosos a desenvolverem dificuldades funcionais. Estas se referem ao aumento do risco de acidentes e quedas e, consequentemente, reduzem a qualidade de vida do idoso. A adaptação do ambiente é necessária para favorecer a autonomia e também a independência do idoso. Como o tecnológo em gerontologia possui conhecimento sobre as necessidades de cuidado relacionadas ao envelhecimento e também à especificidade de cada idoso que atende, isso fortalece a modificação do ambiente, garantindo, assim, melhor qualidade de vida. A sua atuação não se restringe somente à participação na integração a equipes profissionais nos grupos de saúde ou de modo indireto, mas também no atendimento domiciliar, em que é possível ter uma proximidade maior com o idoso, com os familiares e com o ambiente no qual este está inserido. Portanto, esse profissional é responsável por gerenciar todas as demandas (saúde, 12 higiene, lazer, segurança, qualidade de vida e bem-estar) de necessidades referentes ao cuidado com o idoso. Além de assumir outras atividades que seriam da própria família, como o agendamento de consulta médica, de cabeleireiro etc. Todo o processo de gerenciamento do cuidado somente se inicia após a realização da avaliação gerontológica, na qual serão investigadas as demandas e os problemas nas áreas psicossocial, econômica, legal e de saúde, para traçar o plano de cuidado. TEMA 5 – LINHAS DE CUIDADOS PARA O IDOSO O processo de gerenciamento do cuidado somente se inicia após a realização da avaliação gerontológica, na qual serão investigados as demandas e problemas na área psicossocial, econômica, legal e de saúde, para realização do plano de cuidado, pois os idosos apresentam particularidades diferenciadas quando comparados aos adultos; aqueles possuem maior número de doenças crônicas e fragilidades. Atualmente, o sistema de saúde pública apresenta reduzidos pontos para atenção à saúde do idoso. O serviço funciona no formato de rede, em que, na maioria da vezes, o idoso ingressa no serviço em níveis mais avançados, por exemplo, na urgência e emergência. Contudo, a atenção necessita ser organizada de modo a integrar os cuidados que serão coordenados durante o percurso assistencial em uma lógica de rede. Assim, os modelos mais modernos para a atenção de saúde ao idoso são aqueles que têm uma proposta de linha de cuidados, promovendo atividades relacionadas à educação em saúde para que haja prevenção de doenças evitáveis, proporcione cuidado precoce e a reabilitação de agravos já instalados. Esse modelo tem como foco a identificação de riscos, priorizando a reabilitação precoce, ou seja, antes de o agravo ocorrer. O modelo ideal é composto de cinco níveis hierárquicos de cuidado: acolhimento; núcleo integrado de cuidado; ambulatório geriátrico; cuidados complexos de curta duração; cuidados complexos de longa duração. Os três primeiros fazem referência ao nível leve de cuidados e dois últimos ao mais pesados, de alto custo. Vamos detalhar, a seguir, um pouco de cada um desses níveis. 13 5.1 Nível 1: acolhimento Nesse nível, ocorre o acolhimento do idoso e de sua família no sistema, durante o qual são apresentados o serviço e o modelo de assistência. É importante deixar claro que as avaliações ocorrerão individualmente e os planos de cuidados serão traçados com base nas fragilidades do idoso, para que ele tenha cuidado integral, por meio da prevenção e promoção. 5.2 Nível 2: núcleo integrado de cuidado Esse nível envolve serviços ambulatoriais, centro de conveniência, suporte substitutivo, centro de convivência e centro dia. Para que haja uma organização de acesso em todos os níveis desse modelo, ocorre a triagem epidemiológica básica, com poucas perguntaspara permitir identificar características operacionais, priorizando o atendimento e utilizando os recursos adequadamente, por meio da aplicação de um instrumento que permita a identificação de risco. O ambulatório se refere ao atendimento de idosos com patologias de menor demanda. 5.3 Nível 3: ambulatório geriátrico Refere-se à atenção domiciliar ou em ambulatório, que pode ser especializada ou geriátrica, a fim de que ocoram os atendimentos de idosos fragilizados ou com síndromes geriátricas. Nesse momento, o atendimento é de maior complexidade e necessita de acompanhamento da equipe multidisciplinar em saúde. Ainda nesse nível ocorre a avaliação geriátrica multidimensional, favorecendo um diagnóstico efetivo, proporcionando um prognóstico e um julgamento clínico adequado. O atendimento domiciliar é considerado uma modalidade de atenção substitutiva ou ainda complementar àquelas já existentes. Visa à promoção de saúde, prevenção e tratamento de doenças, reabilitação em domicílio, sempre garantindo a continuidade e integração a redes de cuidados. A atenção domiciliar pode ocorrer de três formas diferentes: 1. Atendimento domiciliar nível 1: idosos com dificuldade de deambular, em que ocorre consulta em domicílio para que ele não fique sem assistência. 2. Atendimento domiciliar nível 2: procedimento que pode ser realizado no 14 domicílio, como reabilitação pós-fratura, tratamento de feridas e outras situações que demandam atenção após internação hospitalar. 3. Atendimento domiciliar nível 3: estrutura de internação em domicílio que requer tratamento de suporte. 5.4 Nível 4: cuidados complexos de curta duração Nesse nível, os serviços envolvidos são de emergência, hospital dia, unidade de cuidado paliativo e serviços hospitalares. Atua na lógica preventiva, reduzindo a progressão e as complicações de uma doença, proporcionando a reabilitação. Aqui enquadram-se também os Hospices para pacientes em fase terminal, com curto período de internação. 5.5 Nível 5: cuidados complexos de longa duração Nesse nível estão as instituições de longa permanência para idosos (ILPI), residência assistida e unidade de reabilitação. Saiba mais sobre esse tema lendo o material complementar: VERAS, R. Linha de cuidado para o idoso: detalhando o modelo. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 2016 v. 19, n. 6, p. 887-905. NA PRÁTICA Estudamos, aqui, conceitos relacionados à gestão em gerontologia. Para alicerçar os conteúdos teóricos com a prática: 1. Busque informações em seu município sobre grupos que formulam políticas públicas para idosos; 2. Procure saber como ocorre a coordenação do atendimento na atenção básica ao público idoso; 3. Identifique se o seu município possui programas para gerenciamento de condições crônicas em idosos; 4. Identifique, em seu município, a existência de linhas de cuidados para o idoso. 15 FINALIZANDO A atenção da gestão em gerontologia é complexa, pois requer que haja o entendimento e a compressão do envelhecimento, além de considerar as diferentes condições relacionadas ao aspecto social e de saúde de cada idoso. Os serviços de atenção ao idoso operam em formato de redes integradas. E nelas o gerenciamento de caso é fundamental no acompanhamento do tratamento e das necessidades de cuidado de cada indivíduo. Já na saúde suplementar, ela trabalha com o gerenciamento de doenças crônicas, em que sua perspectiva é na doença para redução dos agravos dela decorrentes. A gestão em gerontologia tem como enfoque ações para promoção do envelhecimento de forma ativa e promoção de saúde, reduzindo, assim, as probabilidades de dependência. Desse modo, o idoso terá maior autonomia para realização das suas atividades de vida diárias, e, consequentemente, maior qualidade de vida junto à sua família e comunidade. 16 REFERÊNCIAS BOULT, C. et al. Successful models of comprehensive care for older adults with chronic conditions: Evidence for the Institute of Medicine’s "Retooling for an Aging America" report. Journal of the American Geriatric Society, v. 57, p. 2328-2337, 2009. BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Cartilha para a modelagem de programas para promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças. Rio de Janeiro: ANS, 2011. _____. Resolução Normativa n. 265, de 19 de agosto de 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Abordagens espaciais na saúde pública: Série Capacitação e Atualização em Geoprocessamento em Saúde. Brasília: MS, 2006. BUSSCHE, H. V. D. et al. Which chronic diseases and disease combinations are specific to multimorbidity in the elderly? 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