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W BA 01 96 _V 2. 0 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 2 Fabio Konishi São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Miriane de Almeida Fernandes Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) _______________________________________________________________________________________ Konishi, Fabio K82a Administração financeira / Fabio Konishi, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 202. 43 p. ISBN 978-65-89881-27-8 1. Administração financeira. 2. Planejamento financeiro. 3. Índices financeiros. I. Título. CDD 658.15 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO A administração financeira e o ambiente de negócio _________ 05 Os indicadores de desempenho e as relações com o mercado _ 17 Planejamento financeiro e administração do capital _________ 32 Demonstrações financeiras e indicadores de desempenho __ 45 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 5 A administração financeira e o ambiente de negócio Autoria: Fábio Konishi Leitura crítica: Miriane de Almeida Fernandes Objetivos • Reconhecer os conceitos essenciais de administração financeira. • Identificar as atribuições do profissional de finanças e a sua importância para as organizações. • Reconhecer as influências de macro e microambientes e seus stakeholders. 6 1. Introdução às finanças Ao iniciar os estudos em administração financeira, é importante ter em mente algumas questões: o que são finanças e qual seu papel nas organizações? Quais são as influências dos ambientes interno e externo das empresas e as atribuições do administrador financeiro? Quais são os impactos das decisões? Além disso, quem são os interessados na organização? Se você pensar, algumas questões, como a aquisição de um imóvel ou de um carro, ou seja, uma decisão importante que causará um impacto no seu caixa de longo prazo, devem ser analisadas com base em informações corretas. Sabemos que há muitas questões, e aqui traremos um pouco de conhecimento e reflexão sobre o assunto. A área de conhecimento é extensa, com inúmeros assuntos a serem explorados, então neste Tema falaremos dos mais relevantes. Lembre- se de que o universo das finanças não se limita ao que será tratado aqui, uma vez que ele passa por constantes atualizações, diante da dinâmica do mercado, mas será o necessário para a compreensão do tema. 2. Finanças O tema finanças tem um aspecto singular por tratar-se de um modo geral de dinheiro. A sobrevivência das empresas está baseada no quanto de resultado financeiro suas operações geram, seja com lucro ou prejuízo. Segundo Gitman (2010, p. 3), “finanças é a arte e a ciência de administrar dinheiro”. Portanto, vamos entender melhor este conceito. Como ciência e arte, as finanças são um conhecimento que passou por um processo de observação sistematizada, a qual determinou técnicas de que o administrador financeiro deve fazer uso para tomar decisões. Os relatórios gerenciais, como o balanço patrimonial, o demonstrativo 7 de resultado do exercício e o fluxo de caixa, são exemplos de estudos que foram analisados e desenvolvidos para gerar informações para a administração financeira. Sendo arte, está relacionada à aplicação dos conhecimentos desenvolvidos e às habilidades necessárias para a interpretação e aplicação de técnicas, além do lado humano que se faz presente. Quando falamos de finanças empresariais, estamos nos referindo a um conjunto de processos sistematizados que envolvem a administração financeira de uma empresa, planejando, organizando, executando e controlando todos os processos que envolvem o dinheiro e a empresa como um todo. Em outras palavras, a administração financeira está relacionada às atribuições e funções do administrador financeiro. Figura 1 – Funções da administração financeira Fonte: adaptada de Maximiano (2015, p. 10). 8 3. O administrador financeiro A responsabilidade da administração financeira de uma empresa, independentemente do segmento de negócio e do porte, é atribuída ao administrador financeiro. Gitman (2010) ressalta que o gestor financeiro é o responsável pelos negócios sob a ótica financeira, realizando todas as atividades pertinentes ao cargo e à função e desempenhando papel nos planos estratégico, tático e operacional. É claro que suas funções não se restringem a analisar números e indicadores financeiros ou elaborar cálculos. Ele deve ter um conjunto de competências técnicas específicas da área, aliado a uma visão sistêmica sobre o todo, como também do ambiente em que está posicionado o negócio. O administrador financeiro deve ter uma visão sistêmica da empresa. Dessa forma, deve dominar os processos que envolvem o conjunto de departamentos que se interrelacionam e que também interagem com o meio externo, como: administração, contabilidade, serviços, marketing, gestão de pessoas, operações, sistemas de informação, entre outros, com objetivo comum de promover a perenidade da organização. É importante ressaltar aqui que o profissional de finanças tem um campo de atuação que não se limita a trabalhar dentro das organizações, sejam elas públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos. Ele poderá também atuar de forma autônoma como consultor de finanças empresariais em bancos, instituições de crédito e cobrança, e pessoais, e com educação financeira, investimentos, seguros, patrimônio, entre outros. 4. Ambiente empresarial Inteirar-se do ambiente empresarial é de extrema importância para a organização. Para o gestor financeiro, compreender as interrelações 9 possibilitará avaliar com mais assertividade a dinâmica do mercado: tendências do consumidor, novas tecnologias, economia e legislação. Acompanhar o ambiente de negócios, abrangido pela empresa e por suas relações externas, é uma tarefa que envolve toda uma estrutura organizacional e ocorre em todos os níveis hierárquicos. Porém, cabe ao administrador financeiro estar atento a tudo. As mudanças processadas no círculo empresarial (ambientes interno e externo) e seus impactos podem ser compreendidos como oportunidades ou ameaças. O aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), por exemplo, pode trazer impactos no preço final de um produto, uma vez que seus custos incorrerão no preço final; em contrapartida, a queda do preço do barril do petróleo pode reduzir o preço dos combustíveis e consequentemente o valor do frete. Assim, no caso do ICMS, o aumento representa uma possível ameaça, uma vez que o valor será repassado integralmente ao consumidor, elevando o preço do produto. No caso do petróleo, uma redução do preço do barril teoricamente gera uma redução no preço dos combustíveis, como gasolina e diesel, e para uma empresade transportes de cargas gera uma oportunidade de redução do valor do frete. Em ambos os casos, houve uma interferência externa, seja para aumento ou para diminuição dos custos de produção ou de processos. E são essas questões que devem ser avaliadas para verificar os efeitos externos dentro da empresa. 4.1 Macroambiente empresarial O macroambiente empresarial são todos os fatores externos à empresa e que de certa forma impossibilitam o total controle do negócio, visto que os gestores não têm poder de decisão sobre eles. Nesse caso, o administrador financeiro deve manter-se atualizado e em frequente 10 monitoramento, visto que esses fatores podem representar tanto uma certa ameaça quanto uma oportunidade de negócio, são eles: • Economia. • Política. • Cultura. • Comportamento. • Tecnologia. • Demografia. • Outros. O macroambiente empresarial assume o papel de forças externas à empresa e por isso cabe aos gestores administrar os efeitos positivos (geração de receita/ redução de custos e despesas) ou negativos (redução de receitas/ aumento de custos e despesas) para que haja a adaptação ao meio para sobrevivência do negócio. Sem sombra de dúvidas, a tecnologia é um dos fatores a que a empresa mais necessita estar atenta, visto que nos últimos anos os aplicativos tomaram conta do mundo dos negócios, e a empresa, conforme segmento de atuação, precisa adaptar-se ao modelo de negócio digital. Por isso a importância do monitoramento contínuo e a eventual necessidade de revisão dos planos financeiros continuamente, aplicando investimentos para a adequação ao que o mercado sinaliza. 4.2 Microambiente empresarial O microambiente são todos os fatores que estão dentro do círculo empresarial e que, de certa forma, podem influenciar o negócio. São eles: • Fornecedores. 11 • Prestadores de serviços. • Clientes. • Concorrentes. • Distribuidores. • Demais fatores próximos à empresa. Por estar próximo à empresa, o microambiente pode ser monitorado, e, com isso, é possível prever situações que possam causar algum prejuízo ao negócio, minimizando o seu impacto. Por exemplo, um fornecedor que deixa de entregar um insumo afeta o processo produtivo. Então, se os gestores trabalham apenas com esse fornecedor, o impacto será enorme: a não entrega do produto pode acarretar perda de cientes. Porém, se a empresa tem outros fornecedores, pode reverter essa situação em curto prazo comprando o insumo de outro fornecedor. 4.3 Ambiente interno O ambiente interno está relacionado com todas as atividades sobre as quais os administradores têm conhecimento e controle dos processos específicos e dos integrados da empresa. Na maioria dos casos, é possível ter um controle quase que total dos procedimentos, o que permite identificar as potencialidades e os pontos de vulnerabilidade (pontos fortes e fracos). O ambiente interno nada mais é do que as diversas áreas de uma organização: • Contabilidade e finanças. • Marketing e vendas. • Gestão de pessoas. • Serviços. 12 • Produção. • Outras áreas internas da empresa. Além das áreas com suas respectivas funções, o ambiente organizacional interno possui outros elementos que devem ser observados, como a cultura organizacional, as políticas da empresa, as lideranças, a tecnologia, entre outros. Alguns destes nem sempre são tangíveis, mas fazem parte do ambiente interno. Figura 2 – Ambiente empresarial Fonte: elaborada pelo autor. 5. Os stakeholders e a empresa O termo stakeholders de certa forma é recente e sua tradução no sentido literal significa acionistas. Na literatura, você poderá encontrá- lo conceitualmente como partes interessadas, públicos de interesse, 13 público estratégico ou atores envolvidos. Para Rocha e Goldschimidt (2010), são grupos que têm algum tipo de interesse pela organização e que de alguma forma são afetados por suas atividades. Refletindo sob a ótica das organizações empresariais, estamos tratando de todos aqueles que têm um interesse ou algum tipo de preocupação com a empresa, estando envolvidos direta ou indiretamente no negócio. Nesse sentido, são eles: proprietários; colaboradores (pagamento de salários); parceiros de negócios (fornecedores, distribuidores, terceirizados e clientes); comunidade local ou regional; governo (tributos) e a sociedade civil (ética, meio ambiente com o descarte inadequado de rejeitos industriais); ou outras partes externas que têm algum tipo de interesse. Os interesses são diversos e cada uma das partes quer ou deseja algum tipo de benefício, vantagem ou privilégio, ou simplesmente que a empresa tenha uma conduta ética e de transparência em suas ações. Figura 3 – Stakeholders Fonte: elaborada pelo autor. 14 Ao compreender a importância do papel dos stakeholders, a empresa consegue obter uma visão ampla e estratégica de todos os envolvidos, minimizando eventuais riscos nas decisões de curto e longo prazos. Além disso, pode avaliar eventuais impactos para si, sendo possível trabalhar com investimentos com menor risco. Outra dimensão importante que tem sido perseguida pelas organizações é a sustentabilidade. Na tentativa de reduzir os conflitos de interesse, as empresas de grande porte prestam contas aos stakeholders, publicando relatórios gerenciais operacionais e financeiros. Atualmente, os Relatórios de Sustentabilidade também estão sendo revelados seguindo a metodologia de publicação internacional da Global Report Iniciative (GRI). É importante notar eu a sustentabilidade não se limita apenas aos resultados financeiros, mais dois outros grupos a integram em uma empresa. Figura 4 – Sustentabilidade organizacional Fonte: adaptada de Barbieri e Cajazeira (2017, p. 77). O pilar social (capital humano) refere-se às questões humanas de um empreendimento ou de uma sociedade. Salários justos e Equipamento de Proteção Individual (EPIs) não são os únicos aspectos a serem observados, pois também é imprescindível um ambiente condizente e agradável, com um clima organizacional favorável. Além disso, existem 15 os aspectos externos da comunidade local, ou seja, se a atividade econômica da empresa a afeta ou não. O pilar ambiental é o capital natural do negócio e da sociedade que se refere aos recursos naturais do planeta que são utilizados. Grande parte das atividades econômicas tem um impacto ambiental, como a indústria de transformação, o extrativismo, a agricultura e a atividade local de subsistência. Assim, a empresa e a sociedade devem buscar formas de minimização desses impactos no planeta. O pilar econômico possui um conceito mais amplo quando buscamos o seu significado, indo além das questões empresariais, pois em sua origem tem significado de organização financeira e material de uma casa. Assim, a economia para as questões de sustentabilidade está ligada aos aspectos de produção e consumo no sistema econômico entre empresa, sociedade e governo. Em resumo, a ideia principal é que a empresa se desenvolva dentro desses três pilares de forma sustentável, propondo uma interação harmoniosa, ou seja, suas ações devem conjugar os objetivos propostos e as partes interessadas. 6. Fechamento do Tema Neste Tema, você conheceu os principais conceitos de finanças, administração financeira e sua importância para as empresas, além do papel do administrador financeiro, suas competências e habilidades necessárias. Tais habilidades são imprescindíveis para que esse profissional possa, com base em seu conhecimento técnico, ter competência para tomar as melhores decisões no ambiente de negócios ou fora dele. 16 O ambiente empresarial gera desafios constantes, visto que são muitas atividades e procedimentos que devem ser analisados constantemente. Os ambientes macro e micro fazem parte do círculo da organização, interferindo e influenciando as decisões dos gestores. Por isso, é importante que o administrador financeiro esteja atualizado e preparado para decidir sobre o que é melhor para aempresa, a curto, médio e longo prazos. Referências BARBIERI, José Carlos; CAJAZEIRA, Jorge Emanuel Reis. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. GITMAN, Lawrence. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010. MATIAS, Alberto B. (coord.). Finanças Corporativas de Curto Prazo: a gestão do valor do capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014. v. 1. MAXIMIANO, Antonio Cesar. Fundamentos da administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. ROCHA, Thelma; GOLDSCHIMIDT, Andrea. (coord.) Gestão dos stakeholders: como gerenciar o relacionamento e a comunicação entre a empresa e seus públicos de interesse. São Paulo: Saraiva, 2010. 17 Os indicadores de desempenho e as relações com o mercado Autoria: Fábio Konishi Leitura crítica: Miriane de Almeida Fernandes Objetivos • Identificar e compreender os objetivos empresariais na administração financeira. • Reconhecer os agentes e a sistemática do mercado financeiro. • Reconhecer a importância dos índices financeiros. 18 1. Introdução Neste tema, serão abordadas a importância do reconhecimento e a compreensão dos objetivos organizacionais e sua relação com a administração financeira, para que sejam direcionadas as melhores decisões. Além disso, será apresentada a estrutura básica do Sistema Financeiro Nacional (SFN), bem como sua composição, os órgãos normativos e reguladores e as instituições que o compõe. Será demonstrado especificamente o mercado financeiro com as operações que são negociadas na B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), denominada como Bolsa de Valores. Para finalizar, serão explicados os principais índices contábeis-financeiros, e os impactos nas decisões por meio da análise dos resultados. 2. Objetivos empresariais Quando tratamos de objetivos empresariais, estamos relacionando o termo aos resultados que a empresa deseja alcançar com seu negócio, dentro de um determinado período, considerando os possíveis cenários. Segundo o dicionário Michaelis [s.d.], objetivo é o “resultado ou meta que se quer atingir numa ação; alvo, fim, finalidade, objeto, propósito”. Nesse sentido, a finalidade da empresa vai além de conseguir somente ótimos rendimentos financeiros, podendo seus resultados serem quantitativos (financeiros) e qualitativos (atendimento, entrega no prazo), a fim de garantir a perenidade da empresa. Dessa forma, parte-se do princípio de que o administrador financeiro não está apenas se empenhando para alcançar resultados financeiros, pois, se assim fosse, bastaria apresentar estudos técnicos e considerar a opção que traga o melhor retorno monetário. Em outras palavras, ele tem outros objetivos em seu escopo de trabalho. 19 Uma das razões de se estabelecerem objetivos específicos por setor ou departamento é garantir que toda a estrutura da empresa caminhe para a mesma direção, ou seja, a partir da definição de critérios para onde se deseja chegar, a empresa irá percorrer o mesmo rumo em busca dos resultados que foram previamente determinados. Figura 1 – Objetivos empresariais Fonte: elaborada pelo autor. É fato que muitos objetivos são comuns às empresas, como: gerar lucro, reduzindo custos de operação; aumentar a qualidade dos produtos; assegurar a satisfação dos clientes; ampliar o market share (participação do mercado); entre outros. Por outro lado, é importante a adequação correta, dentro das possibilidades e condizente com suas limitações, seja pelos processos, pelos fornecedores, pelos clientes ou pela distribuição e naturalmente pelo tipo de negócio. Na administração financeira, os objetivos estão centrados em rentabilidade, lucratividade, valor, lucro por ação; porém, Gitman (2010) ressalta que esta não é uma condição única. Quando se gera a maximização de riqueza dos proprietários, amplia-se o foco e inclui os stakaholders, o enfoque passa a ser a preservação do “bem-estar” 20 da empresa, evitando, assim, medidas que prejudiquem, por alguma decisão equivocada, também as partes interessadas. 3. Instituições e mercado financeiro Segundo Sandroni (2005), o Sistema Financeiro Nacional (SFN) é um conjunto de instituições financeiras que comandam a gestão da política monetária, ou seja, são instituições ou órgãos reguladores, fiscalizadores e executores das operações de moeda, crédito, capitais, câmbio, seguros e previdência. • Órgãos normativos: o Conselho Monetário Nacional (CMN) para moeda, crédito, capitais e câmbio; o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), para seguros privados; e o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), para previdência privada. • Órgãos supervisores: o Banco Central do Brasil (BACEN); a Comissão de Valores Mobiliários (CVM); a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); e Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC). • São consideradas entidades executoras ou operadoras os bancos (comerciais, de investimento e múltiplos); as caixas econômicas; as cooperativas de crédito; os administradores de consórcios; as instituições de pagamento; as corretoras; as distribuidoras; a bolsa de valores; a bolsa de mercadorias e futuros; as seguradoras e resseguradoras; as entidades abertas de previdência; a sociedades de capitalização; as entidades fechadas de previdência complementas; e as demais instituições financeiras regulamentadas. O SFN é uma rede de participantes interdependentes que têm como objetivo comum a intermediação entre tomadores e investidores, e poupança e investimento, possibilitando maior eficiência ao setor 21 produtivo. Ele busca a manutenção do equilíbrio para a promoção do desenvolvimento econômico e social, promovendo o crescimento entre os setores, além de fiscalizar as operações de crédito e de circulação da moeda. 3.1 Mercado financeiro O mercado financeiro é o ambiente de troca no qual são negociados (compras e vendas) produtos financeiros, como: ações, títulos públicos, fundos de investimentos, moedas estrangeiras e de mercadorias. Ele é regulado pela CVM, cujo papel é fiscalizar as operações. Por sua vez, as operações são supervisionadas pelo BACEN, que cumpre a função de depositário do Tesouro Nacional, além das funções de controle e regulação das reservas cambiais e moeda estrangeira; emissão e controle de moeda nacional; regulação das taxas de juros; e monitoramento do sistema para a garantia do equilíbrio do mercado. O mercado financeiro é subdividido conforme a Figura 2. Figura 2 – Mercado financeiro Fonte: elaborada pelo autor. 22 Desde 2017, as operações do mercado financeiro são realizadas pela B3, que é a fusão da BMF&FBOVESPA (Bolsa de Mercadorias & Futuros e Bolsa de Valores do Estado de São Paulo), ocorrida em 26 de março de 2008, e pela Central de Custódia e de Liquidação Financeira (CETIP). É uma plataforma de negociação, sendo considerada uma das principais empresas de infraestrutura de mercado financeiro no mundo, com sede na cidade de São Paulo. Figura 3 – Negócios na B3 Fonte: elaborada pelo autor. 4. Índices financeiros Os índices financeiros são indicadores que apresentam dados e informações em forma numérica e são obtidos de relatórios emitidos pelas empresas, em conformidade com a Lei n. 11.638/07 (Lei das Sociedades por Ações) (BRASIL, 2007). São eles: • Balanço Patrimonial (BP). • Demonstrações das Mutações Patrimoniais ou Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados (DMPL). • Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). • Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). • Demonstração do Valor Acumulado (DVA). 23 Com base nas informações contábeis, fiscais e financeiras, os gestores podem avaliar a atual situação patrimonial a curto, médio e longo prazos. Além disso, podem reavaliar o que não está adequado, implementando correções, e se apoiar nesses indicativos para tomar decisões mais assertivas. Além das cinco demonstrações, aempresa ainda divulga uma complementação pelas Notas Explicativas, por outros quadros analíticos, pelo Relatório de Administração e pelo Balanço Social. No Brasil, a CVM é responsável pela normatização e padronização das informações apresentadas pelas empresas de capital aberto. Os demonstrativos, relatórios e índices financeiros são necessários para que a empresa divulgue aos seus stakeholders sua situação e de seu negócio. Os acionistas e proprietários desejam saber sobre a relação retorno-risco em que ela pode incorrer em determinado investimento, uma vez que isso pode comprometer o preço da ação. Já os credores estão interessados na liquidez de curto prazo para avaliar se a empresa tem capacidade financeira de honrar com as suas obrigações, ou seja, desejam saber se receberão pelos produtos vendidos, serviços prestados ou empréstimos. Tanto os acionistas quanto os colaboradores têm a preocupação com todos os aspectos financeiros da empresa: garantia de retorno do investimento, pagamento dos salários e longevidade da empresa. Os principais índices financeiros são classificados em quatro categorias (liquidez, de atividade, endividamento e rentabilidade) e cada uma propõe acompanhar a situação financeira, econômica e patrimonial das empresas. É uma forma de avaliar, comparando com o conjunto de contas contábeis e seus indicativos históricos. 4.1 Índice de liquidez Os indicadores de liquidez são um conjunto de índices financeiros que medem a capacidade da empresa em saldar suas obrigações com 24 terceiros. Eles, então, medem o grau de solvência, que é a capacidade financeira de pagar as despesas e os custos organizacionais. O índice de Liquidez Corrente mede a capacidade da empresa de pagar suas obrigações de curto prazo. Liquidez Corrente = Ativo Circulante Passivo Circulante O Ativo Circulante (AC) representa o total de direitos e o Passivo Circulante (PC), a soma das obrigações. Se o valor do AC for maior que o valor do PC, indica que a empresa tem capacidade financeira para cumprir suas obrigações com terceiros (fornecedores, empréstimos). O indicativo é medido pelo produto da equação, demonstrada anteriormente, cuja análise é baseada sempre em 1. • Acima de 1: a empresa tem capital circulante ou capital de giro suficiente para o cumprimento de suas obrigações. • Igual a 1: a empresa tem recursos suficientes apenas para quitar suas obrigações, não podendo planejar em investir. • Abaixo de 1: as obrigações (dívidas) são maiores do que os direitos (recebimentos), revelando uma situação crítica. A Liquidez Seca é similar ao índice de Liquidez Corrente; entretanto, por não ser considerado de liquidez imediata, o saldo da conta Estoques é excluído da operação. Com isso, os gestores têm dois indicadores importantes que medem a solvência: a primeira abrange os itens do Caixa, Banco e Estoques; e a segunda apenas o que a empresa tem de saldo específico em dinheiro. Liquidez Seca = Ativo Circulante - Estoques Passivo Circulante 25 Da mesma forma, o valor aceitável é igual ou maior que 1, pois o entendimento é o mesmo. Ressalta-se que uma análise pode ser realizada comparando os valores obtidos nos índices com aqueles obtidos por empresas do mesmo segmento de negócios. Com isso, é possível avaliar se é uma situação específica ou do mercado. Por exemplo, é aceitável para uma empresa de serviços públicos apresentar um índice igual a 1; por outro lado, para uma empresa no segmento farmacêutico, esse resultado não seria bem-visto pelos stakeholders. 4.2 Índice de Atividade O índice de atividade tem como finalidade medir os processos do ciclo empresarial. Na indústria, por exemplo, esse ciclo é medido desde a compra dos insumos de produção até a venda do produto, integrando nesse período o método de pagamento, se à vista ou a prazo. Acompanhar a atividade de uma empresa é essencial para garantir a otimização de processos que contemplam o giro de estoque e os prazos médios entre receber dos clientes e pagar fornecedores (capital de giro). O Giro do Estoque mede a capacidade da empresa de administrar com eficiência a liquidez de seus estoques. A fórmula para se apurar é: Giro de Estoque = Custo das Mercadorias Vendidas Giro de Estoque O Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) é um dado importante para a empresa, no qual estão contidos todos os custos que envolvem o produto, incluindo aquisição e armazenagem. Por isso, conhecer a relação entre o CMV e o Estoque (giro) é relevante para a gestão. O Giro de Estoque, também conhecido como Prazo Médio de Estocagem (PME), aponta a circulação das mercadorias (quantas vezes foram vendidas e as repostas) e evidencia o equilíbrio entre compras e vendas de produtos. Como no índice de liquidez, a empresa deve se 26 comparar com organizações do mesmo segmento e com o histórico dos indicadores. Para um supermercado, por exemplo, um indicador de 25 é aceitável, enquanto para uma fábrica de tratores é alto. Neste caso, quanto mais baixo, melhor. Conhecendo o prazo médio de estocagem, a empresa pode também apurar a média para saber o tempo em que os produtos ficam armazenados. Esse cálculo pode considerar qualquer período: dias, semana, mês, trimestre ou ano. A fórmula a seguir considera a média do estoque em dias: Média do Estoque = 365 Giro do Estoque Outra informação importante é o Prazo Médio de Recebimento (PMR), que averigua o tempo médio entre a efetivação da venda e o recebimento pelo cliente; isto é, em quanto tempo, em média, a empresa receberá após as vendas. Com essa informação, ela pode administrar pagamentos e propor investimentos de curto prazo. Prazo Médio de Recebimento = Contas a receber de clientes Valor diário médio das vendas Em que: Valor diário médio das vendas = Vendas anuais 365 O PMR leva em consideração a política de vendas e de crédito da empresa (vendas a prazo). Se ela possui uma política de recebimentos de longo prazo, deve ficar atenta às entradas de caixa para honrar suas obrigações, não prejudicando o capital de giro. 27 Enquanto o PMR avalia o tempo entre a venda e o recebimento, o Prazo Médio de Pagamento (PMP) indica o tempo entre as compras e o pagamento aos fornecedores. As fórmulas são idênticas. Prazo Médio de Pagamento = Fornecedores Valor diário médio das compras Em que: Valor diário médio das compras = Compras anuais 365 Com essas duas informações, os gestores podem decidir sobre investimentos, reposição de estoque, promoções de venda, entre outras oportunidades de alavancagem da receita. Em outras palavras, conhecer as médias de prazos de compra e de vendas propicia uma gestão eficiente dos recursos. O ideal para uma empresa seria receber dos clientes antes de vencerem os prazos para pagamento das faturas dos fornecedores, ou seja, utilizar recursos de terceiros para quitar as obrigações. Há uma certa dificuldade no cálculo do PMP em razão de os valores não estarem explicitados nos demonstrativos, uma vez que as compras são estimadas em um percentual do CMV. Dessa forma, atribui-se esse percentual e obtém-se um valor, conforme política de custos da empresa. O Giro do Ativo Total apresenta uma comparação entre as vendas e o total de seus ativos, ou seja, o quanto a empresa consegue vender com base em seus ativos. Giro do Ativo Total = Vendas Ativo Total Quanto maior o valor do Giro do Ativo significa que a empresa tem sido mais eficiente gerando renda sobre os ativos. Por exemplo, se o Giro do 28 Ativo for de 0,90, significa que ela produz esse valor para cada real de ativos que possui. 4.3 Índice de Endividamento O Índice de Endividamento Geral (EG) representa o quanto dos ativos da empresa está financiado por terceiros. O Passivo Total representa as obrigações como os fornecedores, investidores, sócios, impostos e contribuições; já o Ativo Total reflete os lançamentos dos bens e direitos, como dinheiro, estoque, recebimento de clientes, imóveis, entre outros. Ao apurar o endividamento,os gestores conseguem saber se os recursos são suficientes para quitar todas as obrigações. Um exemplo de fácil entendimento é de uma empresa que vai encerrar suas atividades em seis meses. Se ela tiver um ativo maior do que o passivo, a resposta é positiva: se ela vender todos os bens (imóveis, estoques) e receber dos clientes, vai conseguir pagar todas as dívidas, inclusive os sócios-proprietários e os investidores. Índice de Endividamento Geral = Passivo Total Ativo Total A situação pode ser analisada pela ótica de seu grau de endividamento e pela sua capacidade de honrar suas obrigações. Nesse caso, relaciona-se com a quantidade de capital de terceiros envolvida na operação para a geração de lucros. 4.4 Índice de Rentabilidade Existem diversas medidas de rentabilidade, mas neste tópico serão apresentadas as mais relevantes. Em uma visão ampliada, esses indicadores permitem demonstrar o quanto de rendimento um determinado investimento gerou para a empresa. Assim, apurar as margens de lucro permite aos gestores acompanhar se a empresa está 29 operando com efetividade, mantendo equilibrados os bens, os direitos e as obrigações. Os indicadores de margem de lucro fazem uma relação entre lucro, mercado, retorno e eficiência da empresa. São eles: • Margem de Lucro Bruto: é expressa em percentual e mede a relação entre as vendas e o lucro bruto (sem dedução do imposto de renda). Permite saber com quanto do lucro as receitas de vendas (já deduzidos os custos) contribuem. No Brasil, a Receita Federal estabelece que a margem pode variar entre 20% e 40%, dependendo do setor econômico do negócio; de maneira direta, quanto maior, melhor. Margem de Lucro Bruto = Lucro Bruto Receita de vendas Em que: Lucro Bruto=Receita de vendas-CMV • Margem de Lucro Operacional: também expressa em percentual, mede o valor de dinheiro (lucro/prejuízo) que fica na empresa após as deduções de custos e de despesas relacionados à operação. Margem de Lucro Operacional = Lucro Operacional Receita de vendas • Margem de Lucro Líquido: expressa em percentual e conceitualmente similar às demais margens, inclui todas as deduções da margem operacional, mais juros, impostos e dividendos. Da mesma forma, quanto maior o valor, melhor para a empresa. É o rendimento real de uma empresa. Margem de Lucro Líquido = Lucro disponível para os acionistas ordinários Receita de vendas • Lucro por Ação (LPA): representa basicamente o lucro de cada ação em um determinado período, para cada ação em circulação. 30 Lucro por ação = Lucro disponível para os acionistas ordinários Número de ações ordinárias em circulação • Retorno sobre Ativo Total ou ROA (em inglês Return on Assets): também chamado de Retorno sobre o Investimento (ROI), representa a eficácia da empresa na geração de lucros pelos seus ativos disponíveis. Quanto mais elevado esse indicador, melhor para a empresa. Retorno sobre ativo total = Lucro disponível para os acionistas ordinários Ativo total 5. Fechamento do Tema Neste Tema, você conheceu um pouco mais sobre os objetivos empresariais e sua relação com a administração financeira, considerando a sua importância para o sucesso do negócio em uma visão sistêmica entre a empresa e o meio em que atua. Além disso, conheceu a estrutura do sistema financeiro nacional, sua configuração, sua estrutura, seus participantes e as funções de cada um deles. Ainda dentro desse tópico, especificamos um pouco mais sobre o mercado financeiro e a atuação na bolsa de valores. Concluímos apresentando os principais indicadores financeiros, que são essenciais para a tomada de decisões na condição de investidor, na aquisição de ações, como proprietário no acompanhamento dos indicadores da empresa ou como qualquer outros stakeholder. Referências ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2021. 31 ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro: exercícios e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019. BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976 [...]. Brasília: Presidência da República, 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/ l11638.htm. Acesso em: 11 maio 2021. BRUNI, Adriano L.; FAMÁ, Rubens. As decisões de investimento: com aplicações na HP 12C e Excel. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017. GIMENES, Cristiano M. Matemática Financeira com HP12C e Excel: uma abordagem descomplicada. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2009. GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010. HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MATIAS, Alberto B. (coord.). Finanças Corporativas de Curto Prazo: a gestão do valor do capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014. v.1. MICHAELIS. Objetivo. [s.d.]. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno- portugues/busca/portugues-brasileiro/objetivo%20/. Acesso em: 11 maio 2021. ROSS, Stephen et al. Fundamentos de administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005. 32 Planejamento financeiro e administração do capital Autoria: Fábio Konishi Leitura crítica: Miriane de Almeida Fernandes Objetivos • Compreender o processo de planejamento financeiro e de caixa. • Entender as definições de capital de giro e seus impactos na administração de caixa. • Reconhecer os elementos do ciclo operacional da empresa e sua importância na administração financeira de curto prazo. 33 1. Introdução Neste Tema, serão abordadas a importância do planejamanto financeiro para a empresa e a sua relação com as demais áreas para o desenvolvimento de um plano unificado com foco nos objetivos empresariais. A partir das definições de capital de giro, compreenderemos a administração financeira de curto prazo e a essencial administração do circulante para solvência da empresa, ou seja, se irá conseguir pagar suas contas. Além disso, serão apresentados o ciclo operacional da empresa, bem como sua estrutura e as informações necessárias para análise e tomada de decisões no controle do caixa, e a administração dos recursos sob a ótica financeira. 2. Planejamento financeiro A palavra planejamento vem de planejar, que significa elaborar um plano, programar-se, projetar algo futuro; ou seja, é a determinação de um conjunto de procedimentos para a consecução de objetivos em um determinado tempo futuro. É uma importante tarefa da administração que visa à organização e à estruturação de um ou vários objetivos empresariais. A estratégia financeira é derivada do planejamento empresarial, que tem como fonte os demonstrativos financeiros ou contábeis e os orçamentos de caixa, que propiciam um direcionamento aos objetivos financeiros da empresa. Dessa forma, o planejamento financeiro requer do administrador um amplo conhecimento do negócio e do 34 ambiente organizacional, considerando que a área não trabalha isoladamente. É um processo que envolve aspectos de sustentabilidade econômica da empresa, permitindo a realização de seus objetivos, uma vez que fornece uma espécie de mapa ou roteiro que deve ser seguindo, a fim de dirigir, coordenar e controlá-la por meio de indicadores financeiros, além de outras ferramentas e análises. Para isso, Gitman (2010) ressalta a necessidade do planejamento de caixa, que envolve a elaboração do orçamento de caixa da empresa e do planejamento de lucro, que é a elaboração de demonstrativos financeiros projetados, os quais são comumente utilizados para acompanhamento interno (relatórios gerenciais). Planos financeiros de longo prazo são ações e projeções, geralmente durante um período entre 2 anos e 10 anos, sendo revisados periodicamente de acordo com novas informações disponíveis e que de alguma forma possamimpactar a empresa ou o negócio. São considerados estratégicos por serem integrados ao plano empresarial e envolverem outras áreas da empresa, como produção, marketing e demais setores. Esses planos apresentam as atividades de pesquisa, desenvolvimento de novos produtos, ampliação de processo produtivo, ações de marketing, fontes de financiamento, estrutura de capital e demais desembolsos necessários para a sua execução. Os planos financeiros de curto prazo, ou operacionais, são ações financeiras planejadas que cobrem um período de até dois anos, com possibilidade de previsão de seus reflexos financeiros. A base de informações para subsídio dos relatórios são as previsões de vendas (receitas), os dados operacionais de processos produtivos (gestão), a aquisição de insumos (custos) e os relatórios financeiros. 35 Figura 1 – Planejamanto financeiro de curto prazo Fonte: adaptada de Gitman (2010, p. 107). O ponto de partida para a confecção de um plano financeiro são as projeções de vendas e os planos de produção, que são a base de informações a serem refletidas nos demonstrativos financeiros, incluindo o balanço patrimonial e o orçamento de caixa. Além disso, análises do balanço patrimonial do exercício anterior e do corrente e dos planos de investimento e financiamentos de longo prazo auxiliam no desenvolvimento da estratégia financeira. 36 Figura 2 – Informações para a projeção de vendas Fonte: elaborada pelo autor. Partindo-se do planejamento financeiro, é possível a confecção do orçamento empresarial. Essa é uma prática necessária para as empresas públicas ou privadas e visa à elaboração de uma projeção de todas as despesas e receitas da empresa em um determinado período, incluindo as projeções de lucro que se deseja alcançar. Entre os objetivos do orçamento empresarial, está assegurar um controle financeiro da empresa, uma competência dos administradores dos setores que envolvem suas operações. Além disso, há o apoio na tomada de decisões das operações diárias e dos projetos de investimento e nas estratégias de preços de seus produtos e serviços. Nesse sentido, monitora, analisa e avalia os custos, os lucros e os resultados em um período preestabelecido (ou exercício fiscal). O orçamento empresarial anual também é conhecido como budget, que em tradução literal significa orçamento, também chamado de metas financeiras. Esse termo é um jargão muito conhecido quando queremos falar do tema orçamento. Outro termo muito utilizado é forecast, que significa previsão. No sentido de planejamento orçamentário, é o orçamento ajustado, ou 37 seja, uma vez estabelecido onde se deseja chegar, é importante que no decorrer de um determinado período a empresa realize ajustes, a fim de chegar ao resultado estipulado. Assim, enquanto o budget é o orçamento estático, o forecast é o ajustado. O orçamento empresarial nada mais é do que o conjunto dos diversos objetivos empresariais para que sejam estabelecidos o controle e o monitoramento dos resultados estipulados, tanto gerais (ou genéricos) como setoriais. Tais objetivos são norteados por oportunidades e possíveis ameaças provenientes do ambiente empresarial. Várias são as técnicas para realizar as análises para a confecção do orçamento empresarial, entre as quais as mais usuais são aquelas que utilizam o valor de dinheiro no tempo para análise dos retornos e dos riscos envolvidos, além de projeções de cenários nas possíveis situações do micro e macroambientes empresariais. Diante dessa situação, é importante que a empresa envolva todas as áreas para possibilitar um comprometimento dos gestores responsáveis, além de serem estabelecidas metas factíveis e realísticas, considerando as potencialidades e limitações de cada setor da empresa. 3. Administração do capital de giro A administração financeira de curto prazo tem como um de seus principais objetivos gerenciar e controlar as contas do ativo e passivo circulante. Os elementos que compõem o ativo circulante são: estoques, contas a receber, caixa e títulos, ou seja, são os bens que a empresa consegue transformar em dinheiro no curto prazo. Já o passivo circulante representa as obrigações de curto prazo assumidas pela empresa: contas a pagar a fornecedores, despesas com salários, impostos a recolher e empréstimos bancários a pagar. 38 O ativo circulante, que comumente é chamado de capital de giro ou capital circulante, corresponde a uma parcela de capital aplicada pela empresa em seu ciclo operacional, caracteristicamente de curto prazo, a qual assume diversas formas ao longo de seu processo produtivo e de venda. (ASSAF NETO, 2021, p. 395) Em outras palavras, é o capital que circula dentro da empresa e suporta todos os gatos com a sua operação. Capital de Giro (ou circulante) líquido = Ativo Circulante – Passivo Circulante Imagine a seguinte situação: uma empresa fabricante de calçados possui R$ 500 mil em ativo circulante e R$ 350 mil em passivo circulante. Nessa condição, temos o seguinte: Capital de Giro Líquido (CGL) = 500 mil – 350 mil = 150 mil Figura 3 – CGL Positivo Balanço Patrimonial Ativo Passivo Circulante Circulante Não circulante Não circulante Fonte: elaborada pelo autor. Nessa situação, a empresa apresenta um capital de giro positivo no valor de R$150 mil, ou seja, está com disponibilidade suficiente de recursos para quitar as obrigações com vencimentos de curto prazo. No entanto, se o passivo circulante for de R$ 600 mil: 39 CGL = R$ 500 mil – R$ 600 mil = – R$ 100 mil Figura 4 – CGL Negativo Balanço Patrimonial Ativo Passivo Circulante Circulante Não circulante Não circulante Fonte: elaborada pelo autor. Nesse caso, a empresa apresentou um saldo negativo, o que significa que necessita de R$ 100 mil para repor o seu capital de giro. Em outras palavras, ela está parcialmente insolvente nessa condição e vai precisar buscar uma solução para honrar todos os compromissos. Quanto maior o Capital de Giro Líquido, melhor será a capacidade financeira para pagamentos de curto prazo. Dessa forma, a empresa consegue efetuar os pagamentos existentes e ainda pode assumir novos compromissos ou investir. Ou seja, quanto maior o capital de giro, menor o risco e menor a probabilidade de insolvência para as obrigações de curto prazo. Em contrapartida, um valor baixo de capital de giro apresenta a probabilidade de a empresa não conseguir pagar suas contas nos prazos, que é um risco maior associado a esse resultado. 4. Ciclo de conversão de caixa O administrador financeiro deve entender o ciclo de conversão de caixa, ou ciclo de caixa de uma empresa, pois este fornece as informações básicas para compreensão do ativo circulante. Em outras palavras, apresenta de forma sucinta os ciclos entre o pagamento de 40 fornecedores até o recebimento dos valores pelas vendas de seus produtos, considerando a data de seu pagamento. O Ciclo de Conversão de Caixa (CCC), ou simplesmente Ciclo de Caixa, refere-se ao tempo entre o pagamento de fornecedores (insumos adquiridos para a operação) e a data de recebimento das vendas dos produtos acabados. Grosso modo, é a movimentação do dinheiro na empresa entre pagamento e recebimento, sendo também conhecido como Ciclo Financeiro por alguns autores. Para o cálculo do CCC temos a seguinte expressão: CCC = Ciclo Operacional – Prazo Médio de Pagamento Considerando uma situação hipotética em que uma empresa tem um Ciclo Operacional de 90 dias e um Prazo Médio de Pagamento de 60 dias, temos: CCC = 90 – 60 = 30 dias Nessa condição, o CCC de 30 dias aparentemente apresenta um resultado satisfatório, uma vez que a empresa possui um tempo relativamente grande para pagar seus compromissos e recebe em um tempo equivalente à metade dos dias. Por outro lado, é importante ressaltar que a análise deve considerar o tipo de negócio e os ciclos de seus concorrentes para que seja possível afirmar que o resultado é bom. Na prática, quanto menor o CCC, maior ogiro de seus estoques, o que representa que a empresa consegue transformar sua matéria-prima em produtos acabados rapidamente. O Ciclo Operacional (CO) são as atividades básicas e cotidianas da empresa que envolvem o tempo, que vai desde a aquisição de matéria- prima, estoques, processo de produção e venda até as atividades de pagamento de fornecedores e o recebimento das vendas realizadas. 41 Para entender melhor, imagine que a empresa Sapato Leve S/A, fabricante de calçados de plástico, tem suas vendas anuais no valor de R$ 10 milhões; um Custo da Mercadoria Vendida (CMV) de 75% das vendas, e compras que representam 60% do CMV. Considerando um ano de 365 dias, a empresa tem o seguinte Ciclo Financeiro Operacional: Figura 5 – Ciclo operacional da Sapato Leve S/A Fonte: elaborada pelo autor. A empresa Sapato Leve S/A tem um (CO) total de 90 dias, considerando desde a entrada da matéria-prima (MP) em estoque até o recebimento das vendas. Já a Idade Média do Estoque (IME) considera desde a entrada da matéria-prima até a venda dos produtos acabados; o Prazo Médio de Pagamento (PMP) vai da entrada da MP até o seu pagamento; e o Prazo Médio de Recebimento vai da data de venda até o recebimento das vendas. O Ciclo Financeiro (CF), ou Ciclo de Conversão de Caixa (CCC), é o período entre o momento em que a empresa efetua o pagamento das compras e o recebimento das vendas. Assim, temos os seguintes dados: 42 • CO = 90 dias. • IME = 50 dias. • PMP = 30 dias. • PMR = 40 dias. • CF ou CCC = 60 dias. Transcrevendo para as fórmulas, temos: CO = IME + PMR CO = 50 + 40 = 90 dias CF = CO – PMP CF = 90 – 30 = 60 dias CF = IME + PMR – PMP CF = 50 + 40 – 30 = 60 dias Em valores, temos: Estoques (R$ 10.000.000,00 x 0,75) x 60/365 = R$ 1.232.877,00 (+) Contas a receber (R$ 10.000.000,00 x 40/365) = R$ 1.095.890,41 (-) Contas a pagar fornecedores (R$ 10.000.000,00 x 0,75 x 0,60) x (30/365) = R$ 369.863,01 Recursos Aplicados = R$ 1.058.904,40 43 O resultado apresenta um valor correspondente a R$ 1.058.904,40, que representa os recursos aplicados no ciclo operacional da empresa. Caso ela faça uma opção de redução no PMP em dez dias, conseguirá reduzir em R$ 273.972,60 [R$ 10.000.000,000 x (10/365)] em recursos aplicados no Ciclo Operacional. A partir das informações do Ciclo Operacional, é possível desenvolver diversas ações com o objetivo de monitorar e gerenciar todos os intervalos de maneira que o caixa sempre fique positivo para a sustentação dos ativos operacionais. Em termos gerais, deve-se reduzir o Ciclo Financeiro, que possibilita a minimização dos passivos negociados por meio de algumas estratégias: • Maior giro do estoque. • Vendas com menor prazo de pagamento. • Prazos de pagamento maiores, sem afetar o crédito da empresa. • Gestão das contas a receber, sem perda dos clientes. Todas essas ações em conjunto favorecem a gestão eficiente do capital de giro da empresa, possibilitando a garantia de redução dos riscos pelo não cumprimento das obrigações e o recebimento dos valores a receber. 5. Considerações finais Neste tema, você compreendeu a importância da integração entre as áreas da empresa na formatação do planejamento financeiro, que é derivado do planejamento empresarial, cujas fontes de informação são os diversos demonstrativos financeiros, as projeções de vendas, os planos de produção e as questões relacionadas ao ambiente 44 empresarial. A partir desse entendimento, é possível elaborar o orçamento empresarial. Para a confecção do orçamento empresarial, vimos que as projeções futuras são possíveis com as operações do presente. Além disso, identificamos a importância das operações de curto prazo e de uma correta gestão do capital de giro da empresa no ativo e no passivo circulante. Fechamos o assunto com o reconhecimento das etapas do ciclo operacional e do ciclo de conversão de caixa (ou ciclo financeiro) e da importância na gestão desse processo, uma vez que se trata de operações cotidianas da empresa que envolvem a administração do dinheiro que entra e que sai, ou seja, estamos falando de pagamentos e recebimento. Um eventual atraso no recebimento pode comprometer a compra de insumos e a disponibilidade para o pagamento desses insumos. Referências ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2021. BRUNI, Adriano L.; FAMÁ, Rubens. As decisões de investimento: com aplicações na HP 12C e Excel. 4. ed. São Paulo: Gen/Atlas, 2017. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010. HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MATIAS, Alberto B. (coord.). Finanças Corporativas de Curto Prazo: a gestão do valor do capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014. v.1. 45 Demonstrações financeiras e indicadores de desempenho Autoria: Fábio Konishi Leitura crítica: Miriane de Almeida Fernandes Objetivos • Identificar as demonstrações financeiras sob a ótica da legislação brasileira. • Compreender a importância das informações para as decisões financeiras e do negócio. • Reconhecer os índices de rentabilidade e o valor de mercado da empresa e das ações. 46 1. Introdução Neste Tema, será abordada a importância dos relatórios gerenciais, especificamente os demonstrativos financeiros regulamentados pela legislação brasileira e internacional. Sua compreensão é de grande importância, pois os dados coletados pelas diversas áreas da empresa são traduzidos em números, ou melhor, em valores, que são contabilizados em um determinado periodo ou exercicio social, apresentando um diagnóstico financeiro da empresa em seus negócios e nos segmentos em que atua. A partir desses relatórios, é possivel ainda diagnosticar aspectos relevantes sobre a saúde financeira e identificar como a empresa tem demandado seus recursos, de curto ou de longo prazo. É possível também avaliar a rentabilidade, já que todo administrador e investidor quer saber se a empresa está gerando lucro ou prejuízo em sua operação. 2. Demonstrações contábeis ou financeiras As demonstrações contábeis ou financeiras são relatórios gerenciais obrigatórios, regidos pela Lei n. 6.404/76 (BRASIL, 1976) e atualizados pelas Leis n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007) e n. 11.941/09 (BRASIL, 2009), que estabelecem critérios, normas e procedimentos para apresentação. São um conjunto de dados coletados pela contabilidade e apresentados de forma regular, geralmente ao fim de um exercício social (anual) ou periódico (mensal, trimestral, semestral), de acordo com as necessidades dos interessados e usuários (stakeholders). Nesse contexto, a legislação atual estabelece a obrigatoriedade de divulgação e publicação de cinco demonstrativos para todas as empresas sociedades anônimas (as SAs) de capital aberto (empresas com ações na 47 bolsa de valores) e as de capital fechado e limitadas com ativos de mais de R$ 240 milhões ou receita anual de R$ 300 milhões; em ambos os casos, devem ser assinados por auditores independentes. É importante destacar que existe um conjunto de procedimentos e normas para a publicação e divulgação desses demonstrativos financeiros. Figura 1 – Demonstrações financeiras Fonte: elaborada pelo autor. O Balanço Patrimonial (BP) é um relatório gerado pala contabilidade e tem como premissa a identificação da saúde econômica e financeira da empresa em um determinado exercício social ou em um determinado período. Figura 2 – Estrutura do BP Balanço Patrimonial Ativo Passivo Circulante Circulante Não Circulante Não Circulante Patrimônio Líquido Fonte: elaborada pelo autor. 48 Para a apresentação, são considerados todos os movimentos das contas que compõem os ativos (bens e direitos) e passivos (obrigações). É considerada uma das mais importantes demonstrações apresentadas pela contabilidade, fornecendoas informações necessárias para a administração da empresa. O BP demonstra a movimentação que afeta o patrimônio da organização. A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido ou Mutações Patrimoniais (DMPL) apresenta a conciliação entre os saldos iniciais e os finais de um exercício social das contas do Patrimônio Líquido (PL), evidenciando as movimentações internas sem alteração e as contas que podem afetá-lo. O PL representa o resultado dos saldos das contas do Ativo (-) e das contas do Passivo PL = Ativo–Passivo. Assim, se a soma do Ativo for de R$ 125 mil e a do Passivo de R$ 95 mil, o PL será de R$ 30 mil. A partir de 1º de janeiro de 2008, pela Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007), o PL tem a seguinte composição: • Capital social. • Reservas de capital. • Ajuste de avaliação patrimonial (+/-). • Reservas de lucro. • Ações em tesouraria (-). • Prejuízo acumulado (-). Para melhor compreensão, Assaf Neto (2021) apresenta algumas operações que podem afetar o PL: • Resultado líquido do exercício (lucro ou prejuízo). • Pagamento de dividendos ou juros sobre o capital próprio (reduz PL). • Subscrição e integralização de novas ações (aumenta o PL). 49 • Aquisição de ações da própria companhia etc. Operações que não modificam o PL, segundo Assaf Neto (2021): • Aumento de capital pela utilização de reservas patrimoniais. • Compensação de prejuízos acumulados utilizando saldo de Reservas. • Reversão de Reservas Patrimoniais etc. A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é uma espécie de resumo ordenado que tem como finalidade apurar o resultado (lucro ou prejuízo) de forma simplificada, a partir dos valores das receitas e das despesas de um exercício social. Quadro 1 – DRE Demonstração de Resultado do Exercício (=) Receita Bruta (-) Impostos (-) Devoluções, Descontos Comerciais, Abatimentos (=) Receita Líquida (-) Custo de Produtos e/ou Serviços Vendidos (=) Lucro Bruto (-) Despesas com Vendas (-) Despesas Gerais e Administrativas (+/-) Outras Despesas ou Receitas (+/-) Resultado de Equivalência Patrimonial (=) Resultado Antes das Receitas e Despesas Financeiras (+) Receita Financeira (-) Despesa Financeira (=) Lucro antes de Juros e IR (LAJIR) (-) Tributos sobre Lucro (=) Resultado Líquido do Exercício Fonte: elaborado pelo autor. O DRE é um relatório que demonstra as operações realizadas pela empresa de forma resumida, especificamente das contas de receitas, 50 despesas e custos, chegando ao resultado líquido de um determinado período. A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é elaborada a partir dos saldos das contas do Caixa ou equivalentes ao Caixa, que são recursos com disponibilidade relativamente imediata: conta caixa, conta Bancos e investimentos a curto prazo (aplicações com características de liquidez imediata). Auxilia na análise da capacidade de uma empresa ao fazer um encontro de contas entre os recebimentos e os pagamentos. A construção do DFC é derivada do BP e da DRE, com acréscimo de informações específicas de movimentação a partir de caixa e equivalentes de caixa, que são os recursos de liquidez imediata, classificadas em três grandes grupos, com apresentado no Quadro 2. Quadro 2 – DFC Demonstração dos Fluxos de Caixa Atividades Operacionais: (=) Lucro Líquido (+/-) São as operações relacionadas à atividade/negócio da empresa Atividades de Financiamento: (+/-) São os recebimentos e os pagamentos dos credores e investidores da empresa. São as movimentações no capital social e no capital de terceiros para endividamento. Atividades de Investimento: (+/-) São as compras e vendas de ativos não circulantes (permanentes) e outros tipos de investimento em imobilizado, ações, entre outros. (+) Saldo existente em 31.12.X1 (=) Saldo Existente em 31.12.X2 Fonte: elaborado pelo autor. 51 A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é o quanto a empresa está gerando de valor pela sua atividade econômica ou por seus negócios, e quais foram os elementos que contribuíram para sua formação, como credores, governo, colaboradores, acionistas, investimentos, entre outros. Assaf Neto (2021) apresenta uma estrutura básica do DVA: Quadro 3 – DVA Demonstração do Valor Adicionado 1. Receitas Receitas de vendas Previsão p/ Devedores Duvidosos 2. Insumos de Terceiros Matérias-primas Consumidas Materiais, Energia, Serviços de Terceiro etc. 3. Valor Adicionado Bruto 4. Valores Retidos Depreciação, Amortização e Exaustão 5. Valor Adicionado Líquido (3–4) 6. Valor Adicionado Recebido Resultado de Equivalência Patrimonial 7. Valor Adicionado a Distribuir 8. Distribuição do Valor Adicionado Pessoal e encargos Dividendos Impostos, Taxas e Contribuições Juros e Aluguéis Lucros/Prejuízos do Exercício Fonte: adaptado de Assaf Neto (2021, p. 73). Os demonstrativos são complementados pelas Notas Explicativas, que fornecem informações necessárias ao esclarecimento da situação patrimonial, detalhando movimentações, investimentos, dívidas de longo prazo, ajustes de exercícios anteriores e fatos relevantes aos investidores. São obrigatórias por lei para as empresas que publicam e apresentam os demonstrativos financeiros. 52 Ainda compõe como fonte de informação das empresas de capital aberto, mas sem a obrigatoriedade, o Relatório de Administração, que é um documento corporativo e oficial divulgado ao final de um exercício, em conjunto com as demonstrações financeiras. Nele são apresentadas de forma detalhada as ações da empresa em seus vários segmentos de negócio e a atuação da administração. O Balanço Social tem como premissa a informação de um conjunto de atividades patrocinadas ou promovidas pela empresa que são revertidas à sociedade, divulgando as ações econômico-sociais e o relacionamento da empresa com a comunidade local. São os resultados das ações de responsabilidade social da empresa. Cabe destacar que a partir da Lei 11.638/07 (BRASIL, 2007), o Brasil passa a alinhar-se aos processos de internacionalização da contabilidade, seguindo o padrão das IFRS (International Financial Reporting Standard), que é regulado pelo IASB (International Accounting Standards Board). Com base na exigência internacional, novos relatórios foram incorporados e outros foram suprimidos, bem como a sua extensão de apresentação, não sendo obrigatórios somente para empresas de capital aberto. Atualmente, as empresas incorporaram todos os procedimentos para a apresentação dos relatórios, além de estarem preparadas para novas atualizações regulamentadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Conforme regulamentação específica da Comissão de Valores Mobiliários (CMV), todas as companhias abertas são obrigadas, por força de lei, a publicar suas demonstrações financeiras com o parecer dos auditores independentes, consoante às Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). Por meio do parecer, o auditor expressa de forma clara e objetiva uma avaliação em relação às demonstrações financeiras apresentadas pela companhia quando do fechamento de um exercício social. 53 3. Índices de rentabilidade Os índices de rentabilidade de uma empresa são apurados com base nos relatórios contábeis e financeiros, possibilitando avaliar a situação financeira e os resultados auferidos em um determinado período ou exercício social. A base para essa análise são os saldos das contas denominadas de “resultado”: apuração de receitas e despesas. Esses indicadores identificam análises sob a ótica financeira em relação às decisões tomadas e, consequentemente, seus reflexos na estrutura financeira da empresa. É importante destacar que esses índices exercem uma forte influência nas decisões dos administradores, bem como dos investidores externos; porém, ressalta-se que a análise não se limita exclusivamente a esses indicadores. O Retorno sobre o Investimento, em inglês Returno on Investment (ROI), é a razão entre o ganho ou o lucro líquido menos o valordo investimento e o investimento efetuado em determinado período, apresentando como resultado o percentual de retorno. ROI = Ganho Obtido - Investimento x 10 Investimento O ROI é uma forma de medir quanto a empresa ganhou com um investimento em termos percentuais ao valor dele. Considerando uma situação hipotética em que a empresa Alfa S/A investiu em um determinado projeto durante cinco anos o valor de R$ 500 mil e nesse período obteve um ganho de R$ 700 mil, aplicando os valores diretamente na fórmula, obtemos o resultado: ROI = 700 mil - 500 mil x 100 = 40% 500 mil O Retorno sobre o Patrimônio Líquido, do inglês Return On Equity (ROE), mede o retorno dos investimentos ou recursos aplicados pelos 54 investidores (proprietários, acionistas), que advêm do capital próprio da empresa. É uma forma de medir o quanto os acionistas auferem do lucro da empresa. ROE = Lucro Líquido x 100 Patrimônio Líquido Considere os seguintes dados da empresa Beta S/A em um determinado período: • PL líquido médio R$ 450 mil. • Lucro líquido (após IR) R$ 64,5 mil. ROE = 64,5 mil x 100 = 14,33% 450 mil Nessa condição, os acionistas tiveram um retorno de 14,33% sobre o capital aplicado na empresa. Em valores, representa que, para cada R$ 1,00 investido, houve um retorno de R$ 0,1433. A Rentabilidade das Vendas mensura a eficiência de cada unidade monetária vendida que se transforma em lucro, podendo ser apurada em termos operacionais e líquidos: Margem Operacional = Lucro Operacional x 100 Vendas Líquidas Margem Líquida = Lucro Líquido x 100 Vendas Líquidas Considere uma empresa com receita de vendas total de R$ 3,85 milhões, lucro operacional de R$ 515 mil e lucro líquido de R$ 230 mil. Assim, obtemos os seguintes resultados: Margem Operacional = R$ 515 mil x 100 = 13,38% R$ 3,85 milhões 55 Esse resultado indica que a empresa tem uma margem operacional líquida de 13,38% (margem de lucro operacional). Margem Líquida = R$ 230 mil x 100 = 5,97% R$ 3,85 milhões Esse resultado indica que a empresa tem uma margem líquida de 5,97% (margem de lucro líquido). É importante destacar que a margem operacional está relacionada com o lucro operacional, que é basicamente a receita líquida deduzidos os custos de produção antes dos juros e dos impostos. Já a margem líquida está relacionada com o lucro líquido, ou seja, o resultado após todas as deduções e antes da distribuição aos acionistas. De maneira geral os indicadores econômico-financeiros são de extrema relevância para uma análise mais conclusiva em relação aos fatos gerados. As análises em demonstrações, que revelam o passado, devem servir de base para ações futuras em relação aos negócios da empresa. Nesse sentido, é importante destacar alguns fatores importantes na análise de índices. Figura 3 – Análise dos indicadores Fonte: elaborada pelo autor. 56 4. Índice de valor de mercado O Índice de Valor de Mercado, ou Índice de Mercado, é um indicador utilizado para apresentar o desempenho das ações de uma empresa no mercado. A análise pode ser efetuada pelos valores passados e atuais, auxiliando nas decisões de investimento presente e futuro. O Índice preço/lucro (P/L) avalia como os proprietários e investidores visualizam o preço da ação. Índice Preço Lucro = Preço de mercado por ação ordinária Lucro por ação O Lucro por Ação (LPA) é um indicador obtido pela relação entre o lucro líquido da empresa em um determinado período ou exercício social e o número total de ações emitidas em bolsa de valores. Em uma situação hipotética, em que o preço da ação é de R$ 45,00 e o LPA é de R$ 5,70, temos o resultado de R$ 7,89, ou seja, a empresa está pagando R$ 7,89 para cada R$ 1,00 de lucro. Porém, é importante que os valores sejam comparados com o setor em que atua. O Índice de Valor de Mercado/Valor Patrimonial (VM/VP) apresenta valores de como os investidores avaliam o desempenho da empresa em relação aos valores das ações e ao valor patrimonial da companhia. Para se chegar aos valores, calcula-se o valor patrimonial da ação ordinária pela fórmula: Valor patrimonial por ação ordinária = PL Ordinário N.de ações ordinárias Índice VM/VP = Preço de mercado por ação ordinária Valor contábil por ação ordinária A análise segue o mesmo raciocínio do índice anterior, ou seja, a empresa está pagando X reais para cada Y de valor patrimonial. 57 5. Fechamento Neste tema, você conheceu os demonstrativos financeiros regulamentados e obrigatórios por lei no Brasil e que estão em conformidade com os padrões internacionais. Ademais, compreendeu cada um dos demonstrativos e o seu grau de importância para o administrador, nas diversas decisões que envolvem os recursos da empresa em relação a seus bens, seus direitos e suas obrigações. Além dos relatórios obrigatórios por lei, a empresa apresenta aos grupos de interesse outros relatórios que compõem as atividades gerenciais e sociais que ela desenvolveu durante o exercício social. A partir da compreensão dos demonstrativos financeiros e dos demais relatórios, é possível analisar, ainda pelos indicadores de rentabilidade, com maiores detalhes, o desempenho da empresa em seu negócio. Referências ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2021. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Brasília: Presidência da República, 1976. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 11 maio 2021. BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976 [...]. Brasília: Presidência da República, 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/ l11638.htm. Acesso em: 11 maio 2021. BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a legislação tributária federal relativa ao parcelamento ordinário de débitos tributários [...]. Brasília: Presidência da República, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2009/lei/l11941.htm. Acesso em: 11 maio 2021. BRUNI, Adriano L.; FAMÁ, Rubens. As decisões de investimento: com aplicações na HP 12C e Excel. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 58 GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010. HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 59 BONS ESTUDOS!
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