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Transtorno de Ansiedade: Desafios e perspectivas actuais NELITO ZINENDA __________________________________ Licenciado em saúde pública Mestre em saúde pública PhDc in Education Sciences nelito.boventura@gmail.com 1 RESUMO Introdução: Ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. Em crianças, o desenvolvimento emocional influi sobre as causas e a maneira como se manifestam os medos e as preocupações tanto normais quanto patológicos. Diferentemente dos adultos, crianças podem não reconhecer seus medos como exagerados ou irracionais, especialmente as menores. A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do que se observa como norma naquela faixa etária e interferem com a qualidade de vida, o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo. Tais reações exageradas ao estímulo ansiogênico se desenvolvem, mais comumente, em indivíduos com uma predisposição neurobiológica herdada. A maneira prática de se diferenciar ansiedade normal de ansiedade patológica é basicamente avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, autolimitada e relacionada ao estímulo do momento ou não. Objectivo Geral: Descrever os desafios e perspectivas actuais de Transtorno de Ansiedade. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo e exploratório com uma abordagem qualitativa através de revisão bibliográfica não sistemática. A colecta de dados foi realizada através do banco de dados do scientific electroniclibraryonline (Scielo) usando como descritores: Transtorno de Ansiedade. Resultados: Os transtornos ansiosos são quadros clínicos em que esses sintomas são primários, ou seja, não são derivados de outras condições psiquiátricas (depressões, psicoses, transtornos do desenvolvimento, transtorno hipercinético, etc.). Sintomas ansiosos (e não os transtornos propriamente) são freqüentes em outros transtornos psiquiátricos. É uma ansiedade que se explica pelos sintomas do transtorno primário (exemplos: a ansiedade do início do surto esquizofrênico; o medo da separação dos pais numa criança com depressão maior) e não constitui um conjunto de sintomas que determina um transtorno ansioso típico. Conclusão: conclui-se que, A ansiedade e os transtornos de ansiedade são um conjunto de doenças psiquiátricas marcadas pela preocupação excessiva ou constante de que algo negativo vai acontecer. PALAVRAS- CHAVE: Ansiedade; Factores Associados; Transtorno. mailto:nelito.boventura@gmail.com 2 ABSTRAT Introduction: Anxiety is a vague and unpleasant feeling of fear, apprehension, characterized by tension or discomfort derived from the anticipation of danger, something unknown or strange. In children, emotional development influences the causes and the way in which both normal and pathological fears and worries are expressed. Unlike adults, children may not recognize their fears as exaggerated or irrational, especially younger ones. Anxiety and fear are recognized as pathological when they are exaggerated, disproportionate to the stimulus, or qualitatively different from what is observed as the norm for that age group and interfere with the individual's quality of life, emotional comfort or daily performance . Such exaggerated reactions to anxiogenic stimulus most commonly develop in individuals with an inherited neurobiological predisposition. The practical way to differentiate normal anxiety from pathological anxiety is basically to assess whether the anxious reaction is short-lived, self-limited, and related to the stimulus of the moment or not. General Objective: Describe Anxiety Disorder. Methodology: This is a descriptive and exploratory study with a qualitative approach through a non- systematic literature review. Data collection was performed using the scientific electroniclibraryonline (Scielo) database using the following descriptors: Anxiety Disorder. Results: Anxiety disorders are clinical conditions in which these symptoms are primary, that is, they are not derived from other psychiatric conditions (depression, psychosis, developmental disorders, hyperkinetic disorder, etc.). Anxiety symptoms (and not the disorders themselves) are frequent in other psychiatric disorders. It is an anxiety that is explained by the symptoms of the primary disorder (examples: anxiety at the beginning of the schizophrenic episode; the fear of parental separation in a child with major depression) and is not a set of symptoms that determine a typical anxiety disorder. Conclusion: it is concluded that, Anxiety and anxiety disorders are a set of psychiatric illnesses marked by excessive or constant worry that something negative will happen. KEYWORDS: Anxiety; Associated Factors; Disorder. 3 1. INTRODUÇÃO 1.1.Contextualização O presente Artigo científico, propõe abordar acerca de “Transtorno de Ansiedade ” visto que, A ansiedade é uma sensação de nervosismo, preocupação ou desconforto, sendo uma experiência humana normal. Ela também está presente em uma ampla gama de transtornos psiquiátricos, incluindo o transtorno de ansiedade generalizada, a síndrome do pânico e fobias. Apesar de essas doenças serem diferentes entre si, todas elas apresentam angústia e disfunção especificamente relacionadas à ansiedade e ao medo. Além de ansiedade, muitas vezes a pessoa também tem sintomas físicos, incluindo falta de ar, tontura, sudorese, batimentos cardíacos rápidos e/ou tremor. Com frequência, os transtornos de ansiedade modificam de maneira significativa o comportamento diário, incluindo fazer com que a pessoa evite determinadas coisas e situações. Esses transtornos são diagnosticados com base em critérios específicos definidos.A maioria das pessoas pode ser substancialmente beneficiada por tratamentos medicamentosos, psicoterápicos ou ambos. A ansiedade é uma reação normal a uma ameaça ou a um estresse psicológico. A ansiedade normal tem sua raiz no medo e desempenha um importante papel na sobrevivência. Quando uma pessoa se vê perante uma situação perigosa, a ansiedade desencadeia uma resposta de luta ou fuga. Com essa resposta, entra em curso uma variedade de alterações físicas, como uma maior irrigação sanguínea para o coração e para os músculos para proporcionar ao corpo a energia e a força necessárias para enfrentar situações de risco à vida, como fugir de um animal agressivo ou enfrentar um agressor. Diante do exposto, este estudo tem como objetivo descrever os Desafios e perspectivas actuais do transtorno de Ansiedade. 4 2. METODOLÓGIA O presente estudo teve como metodologia realizar uma revisão bibliográfica não sistemática de publicações e artigos do banco de dados do site scientific electroniclibrary online (Scielo), relacionados com Transtorno de Ansiedade. Como critério de inclusão considerar-se as publicações entre os anos de 2010 a 2020, relacionados com o tema em questão, na forma de artigo (ensaio, revisão, pesquisa, relato de experiência e estudo de caso), independente da formação profissional do autor. Na primeira avaliação do material bibliográfico foi realizada a leitura dos resumos para separarem-se os que não atendam aos objectivos do estudo. Foi possível identificar 41 publicações; destas, apenas 18 preenchiam os critérios de inclusão, tratando-se destas a amostra final para a análise. Na etapa seguinte os artigos foram lidos na íntegra e minuciosamente com o objectivo de ordenar e sistematizar as informações necessárias para o preenchimento do instrumento de colecta de dados com os seguintes tópicos: fonte de levantamento, dados de identificação, descritores, temática central, abordagem metodológica, instrumentosde colecta de dados e conclusões/considerações finais. A análise dos dados foi realizada através da análise de conteúdo, onde buscamos estabelecer os principais temas encontrados. Como resultados da pesquisa com os descritores Transtorno de Ansiedade obtiveram 41 artigos, o maior número de publicações são do ano de 2008 (10 artigos), e todos os periódicos são da área de Psicologia Clínica. Da amostra encontrada 22 artigos foram excluídos por não se enquadrarem nos critérios de inclusão da pesquisa. Os estudos não apresentaram um padrão homogêneo e, devido a sua heterogeneidade, optou-se por categorizá-los. 5 3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 3.1.Ansiedade A ansiedade é um estado normal no indivíduo que resulta de uma reacção normal a algo específico como um sistema de alarme. O que diferencia o estado normal do patológico é a intensidade da ansiedade (Bauer, 2020). 3.2. Ansiedade generalizada A ansiedade generalizada pode ser definida como um estado de inquietação e tensão sem a presença de um objecto (situação ou indivíduo) específico que poderão originar queixas somáticas como dores de estômago ou cefaleias sem qualquer etiologia físic (Braconnier, 2017). A ansiedade generalizada é um quadro diagnóstico que se caracteriza por um estado persistente de ansiedade ainda que possa ser flutuante (Ruiloba, 2012). Os sintomas na ansiedade generalizada não se manifestam de forma crítica e os sintomas autónomos como sejam, por exemplo, os cardiovasculares e respiratórios, são menos frequentes e severos. Os sintomas podem ser agrupados de forma sintética em quatro categorias básicas (DSM-IV): I. TENSÃO MOTORA - Tremores, inquietação, tensão, dores musculares, fadiga. II. II. HIPERACTIVIDADE AUTÓNOMA - Palpitações, dor pré-cordial, dispneia, náuseas, poliúria, sudorese, dores abdominais, diarreia, sensação de sufoco. III. III. EXPECTATIVAS APREENSIVAS - Inquietação interna, desassossego, sensação de ameaça, tremores difusos, insegurança, dissociação do EU, humor ansioso. IV. IV. VIGILÂNCIA E ALERTA - Nervosismo, impaciência, irritabilidade, falta de atenção e concentração, hipervigilância, insónia, pesadelos. A ansiedade generalizada é vista como uma condição autónoma, de evolução crónica, com uma forte componente no desenvolvimento de um temperamento ansioso. O carácter multifacetado dos sintomas faz com que, a maioria dos indivíduos, procurem ajuda profissional em áreas diferenciadas deixando a psiquiatria em última opção (Ramos, 2017). A ansiedade pode ser um factor de risco para outras doenças – hipertensão, doenças cardiovasculares – como exacerbar sintomas somáticos como arritmias ou distonias. 3.3.Ansiedade em excesso 6 A ansiedade em excesso é uma reacção emocional desagradável produzida por um estímulo externo considerado pelo indivíduo como ameaçador produzindo alterações fisiológicas e comportamentais. É um sentimento de receio perante algo difuso, vago, incorrecto, mesmo indefinido e impreciso, surgindo assim como uma reacção emocional que se produz perante situações que são interpretadas como ameaça. 3.4. Caracterização da ansiedade A ansiedade geralmente caracteriza-se por uma grande variedade de sintomas somáticos – tremores, hipotonia muscular, hiperventilação, sudorese, palpitações – e sintomas cognitivos – apreensão, inquietação, distractibilidade, perda de concentração, insónias. 3.5.Diferença da ansiedade e medo A ansiedade difere do medo pois neste o perigo ou ameaça é externa, real e, geralmente, de origem não conflituosa (Brandtner, 2019) enquanto na ansiedade há um sentimento que acompanha uma sensação eminente de perigo que adverte o indivíduo que existe algo a temer (Batista e Oliveira, 2015). As respostas a este sentimento varia de indivíduo para indivíduo: uns tendem a superestimar o nível e a probabilidade do perigo de uma determinada situação; outros, pelo contrário, tendem a substituir a sua capacidade de enfrentamento dessa situação, o que faz com que surjam os sintomas fisiológicos (Kaplan, Sadock e Grebb, 2017). A ansiedade, como sintoma, tem uma prevalência alta (18%) na população geral (Epstein, 2011). Fazendo parte natural da vida do indivíduo, a ansiedade é propulsor de mudanças e alterações experimentadas ao longo da vida que quando não desproporcionada pode ajudar o desenvolvimento e desempenho do indivíduo, promovendo criatividade e estimulando a cooperação interpessoal (Cabrera e Sponholz, 2012). 3.6. Ansiedade patológica A ansiedade patológica é caracterizada por um conjunto de respostas ou reacções desajustadas a uma percepção ou a um estímulo, podendo interferir no desenvolvimento normal do indivíduo, interferindo na autoestima, na interacção com os outros, na aquisição de conhecimentos e na memória, predispor para uma maior vulnerabilidade com perda de defesas físicas e psíquicas (Cabrera e Sponholz, 2012). 3.7.Diferença da ansiedade patológica e ansiedade normal 7 A ansiedade patológica pode ser diferenciada da normal pelos seguintes critérios (Cabrera e Sponholz, 2012): a) Autonomia – quando a ansiedade ocorre sem causa aparente ou, se existe um estímulo, a reacção é desproporcional; b) Intensidade – quando elevada está relacionada com alto nível de sofrimento ou com uma baixa capacidade de tolerância; c) Duração – persistente ou recorrente d) Comportamento – disfuncional, com prejuízo global do funcionamento. A ansiedade é, assim, uma resposta temporária normal e esperada perante situações de tensão e pode ser considerado um estímulo necessário à adaptação e ao enfrentar de situações inesperadas. Uma ansiedade moderada e situacional geralmente resolve-se com o desaparecer do factor desencadeante ou com a adaptação, por parte do indivíduo, à situação. 3.8. A diferença da ansiedade exógena e ansiedade endógena. A ansiedade exógena surge como resultado de conflitos externos, pessoais ou psicossociais, estando ligada à ansiedade generalizada. Por outro lado, a ansiedade endógena, com características autónomas e relativamente independentes dos estímulos ambientais, surgem por perturbações em indivíduos com vulnerabilidade genética e/ou antecedentes familiares, sendo responsável por crises de angústia, pânico e quadros fóbicos (Ruiloba, 2012). 3.9.Ansiedade Traço e Ansiedade-Estado A ansiedade pode ser distinguida em ansiedade traço e ansiedade-estado. Segundo Silva (2016) estudos de investigação acerca da avaliação da ansiedade permitiram perceber que surgiam repetidamente dois constructos: estado e traço. A ansiedade traço é explicada como uma situação provisória que envolve sentimentos desagradáveis de tensão e pensamentos apreensivos; a ansiedade-estado é explicada como uma reacção episódica ou situacional, ou seja, um estado emocional transitório (Batista et al, 2015). 8 A ansiedade traço é uma estrutura relativamente estável e permanente no indivíduo (Telles- Correia e Barbosa, 2009) ou seja, representa um modo habitual de resposta por parte do individuo, o que faz com que seja uma diferença individual relativamente estável quanto à tendência para a manifestação da ansiedade (Silva, 2016). A ansiedade-estado pode ser observada como um corte transversal e temporal na vida do indivíduo, passando a manifestar sentimentos subjectivos de tensão, apreensão, nervosismo e preocupação, podendo ser uma característica da personalidade estável (Barlow, 2012), precocemente presente no indivíduo e, em última instância, existente na organização biológica do ser humano (Frasquilho, 2009) e que explicam, de certa forma, o seu comportamento. A ansiedade traço permite ao indivíduo avaliar a sensação de perigo e, por norma, os indivíduos com um traço de ansiedade mais elevado são mais vulneráveis a acontecimentos externos (Silva, 2016).9 4. CONCLUSÃO Conclui-se que, os transtornos de ansiedade são o tipo mais frequente de transtorno de saúde mental e atingem aproximadamente 15% dos adultos em Moçambique. A ansiedade significativa pode persistir vários anos e a pessoa com a ansiedade começa a acreditar que isso é normal. Por essa e outras razões, os transtornos de ansiedade muitas vezes não são diagnosticados ou tratados. As causas dos transtornos de ansiedade não são completamente conhecidas, mas pode haver o envolvimento dos seguintes fatores: Fatores genéticos (incluindo histórico familiar de transtorno de ansiedade); Ambiente (por exemplo, vivenciar um evento traumático ou estresse); Constituição psicológica; Uma doença física. Um transtorno de ansiedade pode ser iniciado por estresses causados pelo meio, como o fim de um relacionamento importante ou a exposição a um desastre com risco à vida. Um transtorno de ansiedade pode se desenvolver quando situações estressantes provocam respostas inadequadas, ou quando a pessoa é subjugada pelos acontecimentos. Por exemplo, algumas pessoas entendem que discursar em público é uma atividade estimulante. Outras, no entanto, odeiam essa atividade e ficam ansiosas, tendo sintomas como sudorese, medo, aumento da frequência cardíaca e tremores. Pessoas sujeitas a essas reações podem evitar falar mesmo diante de um grupo pequeno. A ansiedade tende a ser hereditária. Os médicos acreditam que algumas dessas tendências podem ser hereditárias, mas algumas são provavelmente adquiridas pela convivência com pessoas ansiosas. 10 5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFIAS Abreu, K. et al (2010). Comportamento suicida: factores de risco e intervenções preventivas. Revista Electrónica de Enfermagem (online), 12(9), 195-200. Retrieved from http://www.fen.ufg.br/revista/v12/n1/v12/n1a24.htm. American College Health Association-National College Health Assessment (ACHANCHA) (2012). Reference group executive summary Spring 2012. American College Health Association, 17. Retrieved from www.acha.org. American College Health Association-National College Health Assessment (ACHANCHA). (2016). Spring 2014 Reference Group data report (abridged). 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