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Monografia II_ Mikesamper Silva Gaspar

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA
UNIDADE DESCENTRALIZADA DE IGUATU – UDI
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
MIKESAMPER SILVA GASPAR
OS EFEITOS DA PANDEMIA DA COVID-19 NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS BRASILEIRAS
IGUATU- CE
2023
MIKESAMPER SILVA GASPAR
OS EFEITOS DA PANDEMIA DA COVID-19 NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS BRASILEIRAS
Trabalho apresentado ao Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus de Iguatu, como pré-requisito para aprovação na disciplina de Monografia II, sob a orientação da Professora: Me. Cícera Edna da Silva.
IGUATU- CE
2023
MIKESAMPER SILVA GASPAR
OS EFEITOS DA PANDEMIA DA COVID-19 NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS BRASILEIRAS
Aprovado em: _______/_______/_______
______________________________________________________________________
Profa. Me. Cícera Edna da Silva 
(Presidente da banca)
Universidade Regional do Cariri (URCA)
______________________________________________________________________
 Prof. Me. Yure Emanuel de Melo Feitosa Araújo (Avaliador I)
Universidade Regional do Cariri (URCA)
______________________________________________________________________
 Prof. Me. Otácio Pereira Gomes
 (Avaliador II)
Universidade Regional do Cariri (URCA)
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Classificação SEBRAE - Número de empregados	13
Quadro 2 - Medidas de Apoio às Micro e Pequenas Empresas	45
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Nível e Crescimento de Renda Individual do Trabalho de Mulheres e Homens – Entre 1º e 2º trimestre de 2020 (%)	34
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Jornada Efetiva de Trabalho por Gênero (em horas semanais)	34
Gráfico 2 - Subutilização da Força de Trabalho no Brasil	36
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Mapa do desemprego no Brasil - Taxa	35
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	12
1.1 - OBJETIVOS	14
1.1.1 - Objetivo Geral	14
1.1.2 - Objetivos Específicos	14
2 METODOLOGIA	15
2.1 Tipo de estudo	15
2.2 Coleta de dados	15
2.3 Análise dos dados	15
3 AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS	16
3.1 As Micro e Pequenas empresas no Brasil	16
3.2 A importância das Micro e Pequenas empresas para o desenvolvimento econômico	23
3.2.1 Gestão das Micro e Pequenas empresas	25
4 O CONTEXTO DE CRISE GERADO PELA PANDEMIA DA COVID-19 NA ECONOMIA MUNDIAL E OS EFEITOS SOCIOECONÔMICOS NO BRASIL	28
4.1 A Pandemia da Covid-19: impactos socioeconômicos	30
4.1.1 Economia Brasileira Pós-Pandemia	32
4.1.2 Pandemia e os efeitos na renda dos Brasileiros	34
4.1.3 A crise e a informalidade	40
5 OS EFEITOS DA PANDEMIA DA COVID-19 NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS	47
5.1 A Pandemia da Covid-19 e seus impactos nas micro e pequenas empresas	47
5.2 As medidas do governo relativas às micro e pequenas empresas	49
5.2.1 As MPEs e a Lei da Falência - Flexibilidade durante a Pandemia	52
CONSIDERAÇÕES FINAIS	56
REFERÊNCIAS	58
 
RESUMO
A pandemia de Covid-19 trouxe diversos problemas, principalmente no campo da saúde e da economia. No Brasil, não diferente de todos os outros países que sofreram com a queda de suas receitas, devido à necessidade de paralização de atividades econômicas e pelos custos com o cuidado com a saúde da população, entrou em uma crise econômica complexa e que ainda está em passos curtos rumo à recuperação total. No campo econômico, as micro e pequenas empresas sofreram muito mais, devido à sua estruturação econômica e organizacional, deixando de gerar emprego e renda num período complexo para o país. Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, explorar os efeitos da pandemia da COVID-19 nas micro e pequenas empresas brasileiras. Para isso, adotou-se como método a revisão bibliográfica, trazendo fatos, notícias e discussões de diferentes autores acerca do que há em relação à discussão sobre as influencias da pandemia sob as MPEs. Com isso, evidencia-se nesse estudo que as MPEs são um braço forte de nossa economia, que gera emprego e renda a milhares de pessoas e que corresponde a uma boa fatia do nosso PIB, porém, com a pandemia, sofreu para manter-se funcionando. Diversas medidas foram tomadas para a manutenção das MPEs e dos empregos dos brasileiros, porém, observa-se que mesmo com medidas de manutenção de empregos e distribuição de renda para continuidade da roda de consumo no país, muitas das MPEs foram à falência e muitos brasileiros se viram na necessidade de recorrer a informalidade ou inadimplência, o que também gera perdas para a economia. Conclui-se assim que, embora houvesse um esforço por parte do governo, não foi possível manter tantos negócios, até já saturados pela economia já instalada, de pé, o que levou muitos brasileiros a voltar à fila do desemprego e muitas famílias estarem de volta à linha da pobreza estrema. Os impactos da pandemia são notórios, porém, as projeções pós pandemias são favoráveis, o que é positivo em relação à retomada da economia e a minimização da pobreza e fome no país. 
Palavras-Chave: Covid-19; Micro e Pequenas empresas; Economia Brasileira
ABSTRACT
The Covid-19 pandemic brought several problems, mainly in the field of health and the economy. In Brazil, not unlike all other countries that suffered from the drop in their revenues, due to the need to paralyze economic activities and the costs of caring for the health of the population, it entered into a complex economic crisis that is still in progress. short steps towards full recovery. In the economic field, micro and small companies suffered much more, due to their economic and organizational structure, failing to generate employment and income in a complex period for the country. In view of this, the present study aims to explore the effects of the COVID-19 pandemic on Brazilian micro and small companies. For this, a bibliographic review was adopted as a method, bringing facts, news and discussions from different authors about what is in relation to the discussion about the influences of the pandemic on MSEs. With this, it is evident in this study that MSEs are a strong arm of our economy, which generate jobs and income for thousands of people and which corresponds to a good slice of our GDP, however, with the pandemic, it suffered to remain working. Several measures were taken to maintain MSEs and Brazilian jobs, however, it is observed that even with measures to maintain jobs and income distribution to continue the consumption wheel in the country, many of the MSEs went bankrupt and many Brazilians found themselves in the need to resort to informality or default, which also generates losses for the economy. It is therefore concluded that, although there was an effort on the part of the government, it was not possible to keep so many businesses, which had already been saturated by the already installed economy, standing, which led many Brazilians to return to the unemployment queue and many families to be back to the extreme poverty line. The impacts of the pandemic are notorious, however, post-pandemic projections are favorable, which is positive in relation to the recovery of the economy and the minimization of poverty and hunger in the country.
Keywords: Covid-19; Micro and Small companies; Brazilian economy
1 INTRODUÇÃO
	
O mundo se encontra em uma crise sanitária e econômica, algo que só foi visto em filmes e livros, isto é difícil de acreditar, principalmente com o que está sendo vivido pela humanidade nos dias atuais, com o chamado século da tecnologia, que trouxe a quebra de barreiras geográficas, científicas, linguísticas e culturais. Porém nossas vidas são frágeis, pois um simples momento de instabilidade pode causar perdas irreparáveis (SALOMÉ et al., 2021). A crise é causada pelo vírus Sars-Cov-2, que foi descoberta em Wuhan, na província de Hubei, na China, devido ao seu grau elevado de contágio, este vírus levou o cenário mundial a uma pandemia, provocando assim impactos surpreendentes tanto na saúde como na economia, sendo denominado como COVID-19, pela World Health Organization (DUARTE et al., 2020).Para minimizar a disseminação e combater o crescimento da curva de contaminação, foi colocado em prática o lockdown, com a proposta de fechamento de grande parte dos setores produtivos e de atividades que não eram essenciais para evitar aglomerações (REZENDE; MARCELINO; MIYAJI, 2020). O fechamento do comércio, teve impacto direto na economia, especialmente nos pequenos negócios e em todos os setores econômicos brasileiros, cerca de 10,1 milhões de negócios tiveram seu funcionamento interrompidos, sendo que 8 milhões foi determinado pelo governo, 602 mil empresas (3,5%) tiveram que fechar permanentemente suas portas (SEBRAE, 2020). Houve aumento dos pedidos de seguro desemprego, o PIB tinha uma projeção de queda de 8 % devido à queda na produção industrial, nas vendas do comércio e no volume de serviços prestados (WORLD BANK, 2020).
O governo, para manter as atividades e manutenção das empresas, adotaram medidas de proteção e manutenção de empregos com a opção de suspensão de contrato e redução da jornada de trabalho. Foi disponibilizado R$ 40 bilhões para pagamentos dos salários de pequenas e médias empresas, com o prazo de até 30 meses. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) expandiu a oferta de capital de giro, para negócios com faturamento anual de R$ 300 Milhões, além disso R$ 5 bilhões estão disponíveis para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), com benefícios de taxas de juros menores e prazos de pagamentos maiores (SILVA, 2020).
	Diante do exposto, esta pesquisa buscou resposta para o seguinte questionamento: Quais os efeitos da Covid-19 nas micro e pequenas empresas brasileiras? A partir dessa questão, o presente estudo se propôs a averiguar os efeitos da Pandemia da Covid-19 nas micro e pequenas empresas brasileiras. Sendo objetivos específicos deste contextualizar as micro e pequenas empresas brasileiras; descrever a importância das Micro e Pequenas empresas para o desenvolvimento econômico do Brasil; explorar o contexto da crise da Pandemia da Covid-19 na economia mundial e os efeitos socioeconômicos no Brasil e identificar as medidas econômicas adotadas pelo Governo para diminuir os efeitos da crise provocada pela Pandemia da Covid-19 nas micro e pequenas empresas brasileiras.
	Para alcançar esses objetivos, a metodologia será embasada em pesquisas bibliográficas, que será feita através da busca de dados e informações de artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso, notícias e sites, utilizando informações de autores conhecedores sobre o tema. Segundo Gil (2002), inicialmente, deve-se escolher um tema de pesquisa bem delimitado, para que se possa formular um problema de pesquisa. 
	Este trabalho se justifica pela necessidade de uma compreensão da extensão dos danos nas micro e pequenas empresas, que teve como causa principal, a Pandemia da COVID-19. A compreensão dos impactos é uma ferramenta importante aos gestores e microempresários para a criação de estratégias que possibilitem um gerenciamento mais centrado na correção desses impactos, permitindo assim que empresas de pequeno porte, crie planos estratégicos que viabilizem sua continuidade e sucesso, superando as dificuldades trazidas pela pandemia, recuperando seus negócios para uma retomada econômica mais rápida e eficiente.
	Além dessa seção introdutória, esse trabalho apresenta cinco partes. Na primeira sessão apresenta-se a metodologia utilizada para esse trabalho. Na segunda parte, é realizado um apanhado acerca da conceituação e importância das Micro e Pequenas empresas para o Brasil. No terceiro capítulo, será contextualizada a crise econômica que se espalhou no país causada pela Pandemia e no quinto capítulo, qual o impacto que essa crise causada pela pandemia atingiu as Micro e Pequenas Empresas brasileiras. Segue-se após estes capítulos, as considerações finais e as referências utilizadas para dar base a este estudo.
2 METODOLOGIA
 
Nessa seção, serão mostrados os procedimentos metodológicos utilizados para a realização da pesquisa. Segundo Gil (2002), a pesquisa é desenvolvida mediante a utilização de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos e pelos conhecimentos disponíveis, de forma a proporcionar respostas para o problema apresentado.
	
2.1 Tipo de estudo 
O cunho da pesquisa se baseia na exploração de dados fundamentada em pesquisa de artigos científicos, que associam a chegada da Covid-19 e seus efeitos nas estruturas das micro e pequenas empresas. Esse presente estudo possui natureza bibliográfica descritiva, utilizando o instrumento de informação de autores conhecedores sobre o tema, com a intenção de verificar e expor a importância desse assunto e servir de esclarecimento sobre a situação das empresas e dos seus administradores em meio à crise.
Para verificar os objetivos pré-definidos foi utilizada a metodologia de Revisão Bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é feita através da busca por dados e informações que foram apresentadas em referenciais teóricos publicados em artigos científicos e sites. Segundo Gil (2002), inicialmente, deve-se escolher um tema de pesquisa bem delimitado, para que se possa formular um problema de pesquisa.
2.2 Coleta de dados 
	A coleta de dados deu-se a partir de pesquisas no Google Acadêmico e Scielo (Scientific Electronic Library Online) usando as palavras chaves selecionadas anteriormente, além de termos de busca de informações estatísticas apresentadas ao longo desse projeto. 
	 
2.3 Análise dos dados
A análise de dados deu-se a partir dos textos selecionados, buscando contextualizar as micro e pequenas empresas no contexto da crise da Pandemia da Covid-19 no Brasil, bem como explorar os efeitos da pandemia da Covid-19 nas micro e pequenas empresas brasileiras, citando estudos que retratem esse cenário e que dê base para uma discussão ampla e direta. 
2
3 AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS 
Nesse capítulo será apresentado um panorama acerca das micro e pequenas empresas no Brasil, bem como a importância dessas empresas para a economia, Estes dois tópicos são importantes para que seja possível observar não apenas os aspectos históricos e econômicos cuja atuação das micro e pequenas empresas proporcionam grande influência, mas também para compreender o cenário onde essas empresas se inserem.
3.1 AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS BRASILEIRAS 
Prado Jr (1945) descreve que as pequenas empresas no Brasil começaram no setor agrícola. Sua provável origem étnica são os índios brasileiros, dedicados à agricultura de subsistência, que teriam sido pequenos fornecedores de alimentos nos centros urbanos. Ainda segundo os autores supracitados, o crescimento das atividades produtivas e da agricultura de subsistência em pequenas propriedades privadas durante o período colonial deu origem a uma série de pequenos negócios ao longo dos anos. 
	Prado Jr (1945) também observa que as micro e pequenas empresas originaram-se nas cidades de Santos e São Vicente, no estado de São Paulo, com empresários atuando na indústria, transporte, serviços, agricultura e comércio. Com a Proclamação da República, promoveu o desenvolvimento da produção brasileira, principalmente nas áreas de café e borracha, diversificando os produtos que compõem a economia brasileira, impulsionando o crescimento econômico e gerando divisas para o país. 
O Brasil tomou a primeira medida para enfatizar as micro e pequenas empresas em sua Constituição Federal de 1988. O país está 30 anos atrás das principais economias do mundo, que desde a década de 1950 atribuem tratamento diferenciado aos maiores geradores de empregos (SEBRAE, 2022). 
Segundo Banterli e Manolescu (2017), as MPE’s surgiram da necessidade de desburocratizar objetivando agilizar o processo de realização de negócios para pequenas empresas, originada em 1979 por meio da Lei n. 7.256/84, agora regido pela Lei n. 9.841, de 5 de outubro de 1999, para dar apoio às microempresas, promovendo a situação nas áreas administrativa, financeira, trabalhista e tributária. 
Os artigos 170 e 179 da Constituição de 1988 estabeleceram quea Federação, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios concederiam tratamento jurídico diferenciado as MEs e EPPs, além da simplificação, redução ou eliminação de encargos administrativos, tributários, previdenciários e de crédito aos encorajá-los (SEBRAE, 2022). 
A criação do Simples Federal pela Lei 9.317/1996 é o primeiro dispositivo dos artigos 170 e 179 da CF/1988. O Simples Federal tem como objetivo simplificar a arrecadação de impostos e contribuições federais e compensar estados e municípios devidos por meio de convênio. A segunda iniciativa de regulamentação dos artigos 170 e 179 foi o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte aprovada pela Lei nº 9.841 de 1999, que dispõe sobre benefícios administrativos, trabalhistas, de crédito e de desenvolvimento empresarial. No entanto, como o Estatuto é feito por Lei Ordinária Federal e não tem poder legislativo sobre estados e municípios, seus benefícios ficam, portanto, limitados ao âmbito de atuação do Governo Federal (SEBRAE, 2022). 
Desde 2003, os esforços para criar um ambiente mais favorável para as MEs e EPPs tornaram-se mais eficazes. A Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, definida como Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte e suas alterações posteriores, dispõe sobre o tratamento diferenciado e simplificado das micro e pequenas empresas nas licitações públicas visando promover o desenvolvimento econômico e social, melhorar a eficiência das políticas públicas e incentivo à inovação tecnológica (BRASIL, 2006). 
Para promover uma equidade na concorrência, possibilitando as MPEs concorrerem a licitações e vendas diretas ao governo, os artigos 42 e 43 do Estatuto das MPEs autorizam os concorrentes que se qualifiquem como microempresas ou empresas de pequeno porte a fornecer prova de regularidade fiscal com o único objetivo de celebrar um contrato. Os documentos correspondentes devem ser apresentados, mesmo que contenham algumas restrições, pois essas empresas concederão um prazo de cinco dias úteis, com possibilidade de prorrogação do mesmo prazo, a critério da autoridade competente, para facilitar o saneamento de certificados com restrições (BRASIL, 2006). 
Por outro lado, o artigo 46 estabelece que as microempresas e empresas de pequeno porte titulares de direitos creditórios decorrentes de compromissos de liquidação de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios que não efetuarem o pagamento no prazo de 30 dias contados da data de liquidação poderão emitir nota de crédito para microempresas. O instrumento de crédito micro empresarial é um instrumento de crédito, ou seja, regido pela legislação de um instrumento de crédito comercial lastreado em compromisso do poder público (BRASIL, 2006). 
Segundo Tavares, Ferreira e Lima (2009), o mercado brasileiro é dinâmico e o ritmo de mudança exige constante adaptação, exigindo, portanto, constante inovação. As mudanças no ambiente afetam a todos, e também é algo que as organizações precisam enfrentar. As MPE’s apresentam uma estrutura organizacional simples e pode se adaptar rapidamente ao ambiente, por isso tem mais flexibilidade para responder às modificações. Como tal, desempenham um papel importante no desenvolvimento económico e tecnológico. 
Para o SEBRAE (2021), para formalizar os pequenos negócios, os microempresários precisam começar a pagar impostos por meio do Simples Nacional, o que inclui a arrecadação e fiscalização do imposto, possibilitando aos empreendedores o faturamento de seus negócios, tendo como base a Lei nº 123 de 14 de dezembro de 2006. O pagamento desses impostos varia de acordo com o tamanho da empresa, o número de funcionários que ela emprega e suas contas, e somente uma análise baseada nelas pode orientar o que a empresa deve pagar. 
As Microempresas (ME's) são empresas de pequeno porte cujos empreendedores possuem um CNPJ, que confere os mesmos direitos e obrigações das pessoas jurídicas. Nesse caso, como obrigação, o empresário tem que pagar o Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS-MEI), garantindo assim direitos como aposentadoria, auxílio-doença e licença-maternidade. Uma empresa desse porte, com faturamento anual de até R$ 81 mil, pode empregar apenas um funcionário cujo tipo de atividade deve constar do rol de atividades previstas na legislação. Para as Microempresas, sua renda anual pode chegar a R$ 360 mil, sua tributação é através do Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real, registrada como pessoa jurídica em cartório. Com esse tipo de porte, uma empresa deve exercer controle regulatório sobre suas contas para que seus lucros não ultrapassem o limite da Microempresa definido pela Lei Complementar nº 123/2006. Nas empresas de pequeno porte, com faturamento anual regulamentado de até R$ 4,8 milhões, sua tributação também é feita pelo Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real, conforme disposto na Lei 123/2006 (SEBRAE, 2021). 
De acordo com o SEBRAE (2018), as Micro e Pequenas Empresas (MPE's) desempenham um papel importante na economia brasileira e o crescimento no número de novas empresas tende a ter um impacto significativo na economia brasileira quando combinado com o aumento da competitividade, devido à sua presença em papel econômico na geração de renda e emprego contribui para a estabilidade social e política. A maioria delas são empresas familiares com gestão centrada no proprietário, que têm em comum a proximidade com o cliente, a estrutura mais enxuta e a agilidade na exploração de nichos de mercado. 
Conforme Neto e Teixeira (2011), embora as micro e pequenas empresas desempenhem um papel importante, elas não possuem um padrão universalmente aceito para defini-las. Diversos indicadores podem ser utilizados na economia brasileira para classificar as micro e pequenas empresas, que são definidas por diferentes instituições de duas formas: a primeira pelo valor da receita bruta anual, e a segunda pelo número de pessoas ocupadas. 
Quanto ao número de profissionais que compõem essas empresas, o SEBRAE descreve as pequenas empresas da seguinte maneira: 
Quadro 1 - Classificação SEBRAE - Número de empregados
	Porte
	Número de Empregados
	
	Comércio e Serviço
	Indústria
	Micro (ME)
	Até 09 empregados
	Até 19 empregados
	Pequena (EPP)
	De 10 a 49 empregados
	De 20 a 99 empregados
	Média
	De 50 a 99 empregados
	De 100 a 499 empregados
	Grande
	Acima de 100 empregados
	Acima de 500 empregados
Fonte: SEBRAE (2018)
Há ainda um segundo critério correspondente ao faturamento bruto anual, conforme se depreende do conceito legal que trata das microempresas ou pequenas empresas de acordo com a Lei 123/2006 e sua alteração (Lei 155/2016), conhecido como Estatuto das Micro e Pequenas Empresas, segundo o seguinte dispositivo: 
· Microempreendedores individuais - renda anual de até R$ 81.000;
· Microempresas – até R$ 360 mil de faturamento anual;
· Pequena empresa - faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 4,8 milhões;
· Pequenos Produtores Rurais - Propriedade com no máximo 4 módulos fiscais ou renda anual de até R$ 4,8 milhões. 
As micro e pequenas empresas contribuem significativamente para a geração de riqueza e renda da economia brasileira. Santos, Kerin e Calixtre (2012) destacam que, por seu número e abrangência, desempenham um papel fundamental na expansão econômica dos países, sendo, assim, impulsionadores da geração de empregos, da inclusão social e de outros benefícios que fortalecem as economias nacionais. Zica e Martins (2008) comentam que se assemelham aos maiores no sentido de que também envolvem pessoas, desempenham funções específicas e se organizam de acordo com o conhecimento adquirido. 
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE (2017), há muito se sabe da importância das micro e pequenas empresas para o país, que geraram 6,1 milhões de empregos entre 2005 e 2015. 
Existem três entidades brasileiras que classificam o tamanho da empresa com base no critério do número de funcionários. São eleso Ministério do Trabalho e Emprego, através do Inventário Anual de Informações Sociais (RAIS); o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Quanto à definição do porte da empresa por receita, essa classificação é baseada no faturamento anual total da empresa, o que é útil tanto para a tributação quanto para a classificação das instituições financeiras (ZICA; MARTINS, 2008). 
Conforme o Sebrae (2020), existem 6,4 milhões de empresas no Brasil. Destas, 99% são Micro e Pequenas Empresas (MPE’s). As micro e pequenas empresas respondem por 52% (16,1 milhões) dos empregos formais do setor privado. 
As micro e pequenas empresas são consideradas um dos principais pilares da economia brasileira, pois vêm contribuindo para o desenvolvimento regional, sendo uma importante ferramenta de estabilidade social e afetam na distribuição de renda do país (SARAIVA et al., 2020). 
De acordo com o Ministério da Economia (BRASIL, 2022), no primeiro quadrimestre de 2022 foram registrados mais de 1,3 milhões de novas empresas no país. Ainda de acordo com o mesmo órgão, 99% das empresas brasileiras ativas, sendo responsáveis por 62% dos empregos gerados e por 27% do PIB (Produto Interno Bruto). Outro dado destacado é em relação ao perfil do empreendedor, destacando-se uma presença importante das mulheres empreendedoras, responsáveis por 40% dos registros de Microempreendedor Individual (MEI). 
Corsini (2022) destaca que no Brasil, a criação de pequenos negócios traz benefícios aos brasileiros, superando inclusive países como Reino Unido, França, Argentina e África do Sul. O autor ainda destaca que as MPE’s são as empresas que mais crescem e criam empregos no país. Até março de 2022, 88,9% das vagas de emprego no Brasil serão criadas por essas empresas, ou nove em cada dez empregos. Mais de 1 milhão de pessoas foram contratadas e 955.088 demitidas, gerando um saldo positivo de 121 mil postos de trabalho no setor de pequenos negócios. 
Pelissari, Gonzales e Vanalle (2011) destacam que, embora as micro e pequenas empresas tenham um papel importante na economia brasileira, sua gestão permanece um mistério, pois seguem padrões próprios e focam a gestão em seu proprietário individual. Dessa maneira, o processo de formulação de uma estratégia se dá com base nos valores e conhecimento de seu gestor, que pode não ter conhecimento técnico suficiente para desenvolver esse processo, ou seja, a estratégia é formada e guiada pela percepção contextual de o proprietário-gerente. Isso pode prejudicar o desenvolvimento da competitividade organizacional.
Antes mesmo de iniciar suas atividades, o empresário se depara com um monte de papelada e burocracia para conseguir registrar sua empresa junto aos órgãos competentes, órgãos públicos, como prefeitura e estado da cidade onde irá funcionar, receita federal e previdência privada (CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DE SERGIPE, 2010). De acordo com o Doing Business (2020), o Brasil ocupa a 138ª posição entre 190 países pesquisados ​​na categoria “tempo para abrir um negócio”. Em comparação com os 3 primeiros países, o atraso é muito: Canadá (3º) em média 1,5 dia, Geórgia (2º) em média 1 dia, 1º Nova Zelândia em média 0,5 dia. No Brasil leva em média 15 dias. 
Outra dificuldade inicial das MPEs tem a ver com a imagem do empresário, que muitas vezes abre um negócio por necessidade, que, após perder o emprego, na dor de se sustentar de alguma forma, torna-se empresário. No entanto, ele não sabe que encontrará alguns obstáculos ao longo do caminho, como falta de qualificação e planejamento de gestão adequado, dificuldade de entender o mercado em que se insere (MORAIS; CARNEIRO, 2017). Em um estudo de Hermann (2011), os fatores que afetam a sobrevivência das MPEs foram: falta de experiência empresarial anterior e competência empresarial. Isso mostra que, embora a pesquisa tenha ocorrido há mais de 20 anos, os problemas enfrentados ainda são semelhantes no caso dos empreendedores. 
Na maioria das vezes, a gestão das MPE’s é feita por empresários com pouca formação em gestão estratégica, razão pela qual se observa um uso muito limitado de técnicas especializadas de gestão. Sua gestão é baseada principalmente na intuição e na experiência desses gestores, além de projetos de médio prazo, para que a tomada de decisão seja mais intuitiva (JARDON; MARTOS, 2014). 
Para Degen (1989), a maioria das micro e pequenas empresas falha não apenas por falta de habilidades gerenciais, mas também por má gestão financeira, mercadológica e técnica dos empreendedores. Conforme o mesmo autor, esta falta de competências manifesta-se mais frequentemente através dos seguintes problemas: falta de experiência de gestão por parte dos empresários; insuficiente conhecimento do mercado; insuficiência de fundos disponíveis para iniciar o capital de risco; problemas com a qualidade do produto, etc. Outros fatores que dificultam a sobrevivência das micro e pequenas empresas são: baixo volume de capital empregado, grande número de proprietários, sócios e empregados com vínculos familiares, alta concentração do poder de decisão, indistinção entre proprietários pessoas físicas e pessoas jurídicas, inclusive equilíbrio em balanços contábeis, registros contábeis inadequados, dificuldades na obtenção de financiamento para capital de giro, dificuldades na determinação dos custos fixos e altos índices de evasão fiscal (CEZARINO; CAMPOMAR, 2004). 
Conforme o SEBRAE (2014) os principais motivos da morte de empresas nos primeiros cinco anos de vida, além da falta de planejamento prévio como levantamento de informações sobre o mercado, falta de gestão empresarial eficaz e perfil empreendedor. Aqueles que buscam sincronizar com o mercado, buscar empresas com produtos e serviços inovadores tendem a sobreviver melhor no mercado. Outro fator importante para a sobrevivência de uma empresa é o desenvolvimento de uma estratégia de diferenciação para fornecer produtos e serviços diferenciados para tornar a empresa mais competitiva e sobreviver no mercado com maiores vantagens. 
Devido da pandemia, há mais dificuldades. As micro e pequenas empresas enfrentam algumas dificuldades comuns há mais de 20 anos, e esta pandemia não é exceção: mais de 73% das empresas estavam com baixo desempenho antes da crise, sendo o replanejamento e a agilidade na tomada de decisões uma das principais dificuldades (SEBRAE, 2020). Segundo pesquisa realizada pelo Sebrae (2020), mais de 10,1 milhões de empresas foram afetadas negativamente, interrompendo temporariamente as operações, e poucas empresas não sentiram os efeitos desse novo ambiente; os quatro setores mais afetados são: construção civil, alimentação fora de casa, varejo e moda.
Num novo contexto, nesta crise agravada pela pandemia, a sobrevivência enfrenta novos desafios, pois estamos agora numa era totalmente digital onde a grande maioria do público se encontra em ambiente virtual. As dificuldades mais citadas pelas MPE incluem: manter vendas e faturamento, pagar dívidas, aluguel, fornecedores e salários (SEBRAE, 2020). Pesquisa realizada pela Resultados Digitais (2020) exemplifica essas dificuldades, pois 77,7% das empresas tiveram impacto negativo em suas receitas no início da crise, e tiveram que tomar diversas decisões incertas, que as levaram a rever seus planos anuais, tiveram que demitir pessoas, fechar as portas e revisitar sua filosofia de negócios para inovar nas vendas. Em resumo, a partir desta revisão, foram identificadas as seguintes dificuldades que podem afetar as micro e pequenas empresas durante a pandemia: falta de experiência e conhecimento anterior do negócio, dificuldades com capital de giro e finanças em geral, falta de controles contábeis e dificuldades com a gestão de vendas. 
3.2 A IMPORTÂNCIA DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
As microempresas e empresas de pequeno porte são muito importantes em qualquer economia do mundo. Essas empresas são as únicas capazes de fornecer bense prestar serviços para atender às necessidades individuais ou coletivas de qualquer cidadão, dos lugares mais próximos aos mais remotos (EVERTON JÚNIOR, 2017). 
Além disso, segundo Everton Júnior (2017), o número de microempresas no país passou de 2,65 milhões em 2009 para 4,14 milhões em 2017 e deve chegar a 4,66 milhões até 2022. Durante este período de 23 anos ocorreu um crescimento de 75,5%, e a taxa média de crescimento anual foi de 2,47%. As MEs e EPPs concentram-se principalmente na região Sudeste, respondendo por cerca de 48,8% do total de MEs e 52,3% do total de EPPs. O Estado de São Paulo responde por 29,1% das MEs e 31,4% das EPPs do Brasil (SEBRAE, 2018). 
Os administradores públicos têm vários motivos para incentivar a expansão das compras governamentais de MPEs. Licitações para micro e pequenas empresas fazem parte do dia a dia em concursos realizados em todo o país. As MEs e EPPs fornecem cerca de 51% dos empregos formais do país, mas ainda respondem por 25% do PIB (ARAÚJO, ZANETTI, 2020). 
Segundo o SEBRAE (2014) e Fernandes (2017), ME e EPP cresceram em importância no país nos últimos 30 anos, pois são inquestionáveis ​​os relevantes papéis socioeconômicos desempenhados por essas empresas. Os privilégios concedidos às micro e pequenas empresas visam promover o desenvolvimento econômico e social nos níveis local e regional, aumentar a eficiência das políticas públicas e estimular a inovação tecnológica (BRASIL, 2015). 
Vieira (2007) descreve que no Brasil, é significativa a importância das MPES. Elas têm o poder de gerar empregos nas pequenas, médias e grandes cidades, ao mesmo tempo em que possibilitam o desenvolvimento do interior do país. As pequenas e microempresas promovem a movimentação de capital, a criação de renda através dos salários, através dos empregos gerados, e incentivando a criação de novos negócios e desenvolvimento de novos produtos e serviços, dinamizando assim, as economias locais e regionais (VIEIRA, 2007).
A maioria das MPES, atuam na comercialização de produtos e prestações de serviços de necessidades básicas, levam para o interior o desenvolvimento e dinâmica econômica dos pequenos municípios, além de também contribuir nos fatores sociais, como a redução da pobreza da população (VIEIRA, 2007).
Um dos principais problemas enfrentados pelas MPES no Brasil é a ocorrência de mortalidade dos empreendimentos. Uma pesquisa feita pelo SEBRAE (2010) com dois mil e oito ex-empreendedores e proprietários de MPES de São Paulo abertas entre 2003 e 2007 mostraram que 27 % das empresas não atingem um ano de atividade, 37 % não chega aos dois anos, 43 % fecha antes dos três anos, 50 % dos comércios antes dos quatro anos e 58 % não conseguem completar cinco anos de atividades.
Com esse cenário, o prejuízo social foi elevado devido ao grande número de empregos que foram perdidos em função da mortalidade precoce dessas empresas, além do prejuízo de capital e uma estimativa de faturamento de R$19,6 bilhões (SEBRAE-SP, 2010).
As MPEs podem ser classificadas em micro e pequenas empresas, e elas variam de acordo com sua constituição, ela se enquadra em duas vertentes, o número de colaboradores e a receita bruta. Segundo o SEBRAE (2014), as empresas com o status de Microempresa pode ter até 9 pessoas, tanto para serviços como comércio, já para a indústria esse número pode alcançar até 19 pessoas, as Pequenas Empresas o comércio e serviços podem ter de 10 a 49 pessoas ou 20 a 99 para a indústria, nas Empresas Média a área de serviços e comércio varia entre 50 a 99 pessoas ou 100 a 499 para a indústria e as Grande Empresas de serviços e comércio acima de 100 pessoas ou acima de 500 para a indústria. As microempresas possuem uma receita bruta anual inferior a R$360 mil e as Pequenas Empresas variam entre R$360 mil e R$4,8 milhões (SEBRAE, 2014).
As micro e pequenas empresas são as principais geradoras de riqueza no Comércio no Brasil, elas correspondem 53,4% do PIB deste setor. No PIB da Indústria, a participação das micro e pequenas é de 22,5%, já se aproximando das empresas médias com 24,5%. E no setor de Serviços, mais de um terço da produção nacional, com um índice de 36,3%, têm origem nos pequenos negócios (SEBRAE, 2011).
As micro e pequenas empresas atualmente possuem uma grande expressividade na economia brasileira, se tornando o maior responsável por gerar empregos formais com um índice de 54 % de todo o país e com 44 % de toda a massa salarial (SEBRAE, 2019). Nos últimos tempos as MPEs têm apresentado um número otimista, com aspectos de modernização e avanço mundial.
Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) em dezembro de 2019, os pequenos negócios geraram um saldo de empregos maior do que nos últimos 5 anos. Um estudo feito em março de 2020, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o SEBRAE, afirma que os pequenos negócios já atingiram a marca de 30 % do PIB brasileiro. Ressaltando que o setor de minimercados em 2016 era o segundo maior setor de pequenos negócios, com 415 mil estabelecimentos, com uma representatividade de 0,6% do PIB do Brasil (SEBRAE, 2016).
Segundo o SEBRAE (2019) a estimativa era de 15,4 milhões de pequenos negócios em 2019, onde 5 % está localizada na região Norte, 18 % no Nordeste, 9 % no Centro-Oeste, 51% no Sudeste e 18 % no Sul. O nicho que concentra a maior parte das MPEs é o comércio com 41 %. Em 2017, ela correspondeu a receita operacional líquida de R$3,4 trilhões do comércio nacional, contra 44,6% dos setores atacadistas e 9,9% do comércio de transporte. O Brasil registra 7,3 milhões de mulheres com carteira de trabalho assinada nos MPEs, sendo que 53% estão empregadas na área de serviços (SEBRAE, 2019).
3.2.1 Gestão das Micro e Pequenas empresas 
A gestão financeira pode ser interpretada como um conjunto de ações e processos administrativos que se baseia na análise, planejamento e controle da gestão dos fluxos monetários utilizados nas atividades operacionais da empresa. Ela tem como objetivo tentar encontrar o equilíbrio entre a rentabilidade e a liquidez, que é a maximização dos retornos dos proprietários e a capacidade da empresa em cumprir com as suas despesas e custos. Isso mostra a necessidade de a gestão financeira buscar o equilíbrio para gerar lucros e manter saudável o caixa da empresa (SILVA, 2011).
Com o mercado financeiro se tornando cada vez mais complexo e competitivo, onde as empresas precisam se adaptar e se desenvolver, o gestor financeiro tem um papel cada vez mais importante dentro da empresa, principalmente nas empresas de pequeno e médio porte. A gestão é como processos administrativos que influenciam no controle, decisão e execução de qualquer trabalho ou atividade. A gestão financeira se divide em duas vertentes: gestão operacional e gestão estratégica (MORAES, 2011).
A gestão operacional atua na área de controle monetário da empresa, regulando a entrada e saída de recursos. Na gestão estratégica é a união das informações da gestão operacional com a intenção de analisar os números que a empresa apresenta com a finalidade de melhorar o desempenho desejado da empresa (MORAES, 2011).
As empresas não percebem a importância do departamento financeiro para o sucesso da empresa. Um estudo realizado pelo SEBRAE (2006), feito sobre a taxa de mortalidade das empresas paulistas, sobre os fatores que ocasionaram o fechamento ou a dificuldade de negócios apresentou o balanço entre receitas e despesas como o principal fator. Entre os que fecharam as portas 35 % apontaram falta de sincronismo como principal dificuldade, os que ainda estavam em atividade essa margem ficou em 28.
Esses dados mostram que as empresas têm competência técnica, porém a sua administração, apesar de todas as opções de orientação de gestão, é falho não dando tanta importância. Para alcançar uma gestão financeira eficiente, a contabilidade tem uma grande importância no auxílio das necessidades da empresa. Nesse sentido, as MPES não diferem das grandes empresas quanto à necessidade de acompanhamento econtrole de informações (PRIETO, 2013).
O equilíbrio entre os setores de compras, comercial, contas a pagar e receber e o controle de produção e estoque tem uma grande importância sobre o desenvolvimento e controle financeiro da empresa. Para obter sucesso, existem pontos fundamentais, mas o de suma importância é o planejamento e uma gestão de finanças organizada. Através da organização financeira, o empreendedor sabe da saúde pessoal e empresarial, assim tornando mais fácil a tomada de decisão para aumento do lucro líquido e manter a empresa saudável financeiramente. As ferramentas para ligar os setores são o fluxo de caixa e o demonstrativo de resultados (BARBOSA, 2016).
O fluxo de caixa é o resumo das atividades monetárias realizadas pela empresa em um determinado período, nele estão todos os registros de despesas e receitas. Existem vários tipos de fluxos de caixa que podem ser utilizados por setores, porém é preciso disciplina e conhecimento para a construção do fluxo. Cada empresa tem sua especificidade, com isso os fluxos monetários diferentes, fazendo com que cada uma tenha seu próprio modelo, tornando impossível importações de outros resultados, com isso é importante o conhecimento de todo o ciclo financeiro da empresa, tanto das receitas como despesas, para assim formar seu próprio fluxo de caixa (MORAES, 2011).
Segundo Ferreira (2005), para uma administração eficiente dos fluxos de caixa, deve-se conhecer o ciclo operacional e o ciclo de caixa. No ciclo operacional corresponde à relação da compra de matérias-primas e o pagamento de venda dos produtos acabados. O ciclo de caixa é o período de tempo onde há comprometimento dos recursos entre o pagamento dos insumos e o recebimento pela venda do produto acabado (MORAES, 2011). Em resumo, o prazo para pagamento dos compromissos da empresa deve ser maior do que os de recebimentos. 
O fluxo de caixa opera sobre o índice entre superávit e déficit. Quando o fluxo se mantém em déficit, os empreendedores tem que analisar onde está ocorrendo o problema, aí está a importância da gestão estratégica, ler e interpretar os números. 
Segundo Morais (2011), à primeira vista podemos entender o DRE como uma simples ferramenta da contabilidade, entretanto ela é uma ferramenta fundamental para a gestão financeira, uma vez que, através dela avaliamos se a empresa projeta lucro ou prejuízo. Com ela pode ser analisado o comportamento financeiro da empresa e de cada setor. A DRE mostra a contribuição de diversas partes da empresa para a realização de lucro ou prejuízo, assim pode ser diagnosticada possíveis falhas na gestão dos departamentos ou setores (MORAES, 2011).
Com o fluxo de caixa e o demonstrativo de resultados, requer conhecimento e atenção, não pela complexidade da elaboração, mas pela necessidade do levantamento de informações obtidas dos setores. O trabalho mais difícil é a análise dos dados obtidos, com essa leitura consciente dos dados o empresário pode prever prejuízos e tomadas de decisões sobre investimento para a empresa, essa pode levar a empresa ao sucesso em um mercado competitivo (MORAES, 2011).
Segundo o estudo sobre o desenvolvimento local apresentando os Projeto Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local (2005-2006), citado por Han (2009) existem oito principais barreiras na prática do desenvolvimento local: financiamento e comercialização, tecnologia, desenvolvimento institucional, informação, comunicação, educação e capacitação, trabalho, emprego e renda e sustentabilidade ambiental. A interação entre os agentes da sociedade, é fundamental para superar estes obstáculos.
De acordo com Agostini (2015) o desenvolvimento da região acaba acarretando valores e alterações na função do Estado e da sociedade organizada em transformar a democracia participativa, levando em conta as diversidades socioculturais, a região poderia promover cada vez mais a cultura democrata.
O desenvolvimento local parte da ideia de que vários aspectos, como o governo, as empresas e os cidadãos de determinada localidade se interligam e formam um conjunto de características econômicas da região, que propõem para contribuir para a distribuição da renda e também para a geração de empregos, diante a aplicação de incentivos fiscais e realização de investimentos, tornando o município com melhores condições socioeconômicas, tanto no médio como no longo prazo (HEMING, 2016).
4 O CONTEXTO DE CRISE GERADO PELA PANDEMIA DA COVID-19 NA ECONOMIA MUNDIAL E OS EFEITOS SOCIOECONÔMICOS NO BRASIL 
Desde a década de 60 as infecções por Coronavírus são conhecidas pela comunidade de pesquisa científica, dentro desse grupo existem sete principais tipos de coronavírus, sendo quatro causadores de 5 a 10 % das crises de respiração agudas leves. São eles: HCoV-OC43, HCoV-HKU1, HCoV-229E e HCoV-NL63. Entre os responsáveis pela capacidade de provocar síndromes respiratórias graves são o MERS-CoV (Middle East Respiratory Syndrome), o SARS-CoV e o SARS-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome) (RUSSO et al, 2020).
	No ano de 2019, foi detectado um novo CoV humano com poder de infecção maior do que o SARS-CoV e MERS-CoV, esse coronavírus zoonótico cruzou várias espécies até o estágio de contaminação humana. Provisoriamente chamado de 2019-nCov, foi encontrado pela primeira vez em Wuhan, na atual província de Hubei na China, em pessoas que estavam em um mercado de frutos do mar e de animais vivos (LIMA, SOUSA, LIMA, 2020).
	O 2019-nCov apresenta semelhanças com as infecções do SARS que é um vírus que saltou de morcegos para pangolins e destes para as pessoas em 2002 e com o MERS-Cov que saltou de morcegos para os camelos e destes para os seres humanos em 2012, esse fato mostra como o Sars-cov-2 tem uma característica parecidas tanto de transmissão como de origem evolutiva com esses vírus (NOGUEIRA, SILVA, 2020).
	 Devido às semelhanças com o Sars-Cov, ele passou a ser nomeado de Sars-Cov-2 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de fevereiro de 2020, ela passou a ser denominada Cov-Doença-19 (Covid-19), assim o Sars-Cov-2 se tornou o responsável pelo terceiro surto de Cov da história da humanidade (LIMA, SOUSA, LIMA, 2020).
	 Após 5 meses do alerta do vírus, ele já tinha se espalhado pela Ásia, Europa, Américas, África e Oceania, a doença chegou em 188 países e já era responsável por centenas de milhares de mortes. Tentando buscar soluções para conter o avanço dos efeitos do vírus, diversas nações adotaram o isolamento social como medida de controle, dentro dessa medida ocorreu o fechamento de fronteiras e de estabelecimentos, uma intensificação com a saúde, quarentenas, restrições de viagens e triagem em aeroportos, e o impedimento de aglomerações de pessoas (SOUTO, 2020).
	No Brasil, as medidas implementadas pelo governo federal foram a restrição da entrada de estrangeiros e à determinação para que pessoas com mais de sessenta anos de idade aderir o distanciamento social, além dessas, o Ministério da Saúde publicou um plano de ação em 14 de março de 2020, com recomendações para as secretarias de saúde de todos os estado e municípios avaliassem a adoção de medidas não farmacológicas para o controle do Covid-19, de acordo com as fases de contágio da doença (SILVA et al, 2020).
	Como as medidas adotadas pelo governo foram poucas, o Superior Tribunal Federal concedeu aos estados e ao Distrito Federal o poder de decisão sobre a implementação de medidas de distanciamento social para controlar e diminuir o contágio da Covid-19, assim os Estados implementaram várias medidas, que segundo evidências, apresentavam maior eficácia no controle da Covid-19. Uma implementação foi a paralisação total ou parcial de atividades econômicas não essenciais que tinham sido adotadas por diversos países (SILVA et al, 2020).
	Apesar da China, Japão e Taiwan terem demonstrado mais preparo e terem conseguido controlar de forma rápida a disseminação da doença, eles também sofreram impactos econômicos e sociais. As medidas adotadas foram semelhantes em vários países, porém mostrou resultados diferentes devidoao fato de acesso de saúde pública e proteção de renda com outros que a população opta por trabalhar para manter o sustento. Essa distinção ocorre devido às diferenças sociais, econômicas, demográficas e culturais existentes no mundo (EIGENSTUHLER et al,2021).
Com as medidas necessárias de isolamento social, a Covid-19 produz impactos econômicos tanto sobre a oferta quanto na demanda, e esse fato levou a economia mundial a uma rápida desaceleração que se tornou uma das piores recessão da história. Essa desaceleração se deve a três fatores: as exportações, o consumo das famílias e os investimentos (ROCHA, 2020).
	Todos os países sofreram com o impacto das medidas de contenção do vírus em sua economia, como o produto interno bruto, situação fiscal, mercado de trabalho, pobreza, transporte. As estruturas econômicas de cada país é o fator determinante para a proporção do impacto do vírus. (NETO, 2020). Assim, países desenvolvidos, devido às melhores condições, têm maiores chances de se recuperar da crise em relação aos subdesenvolvidos, que aumenta os níveis de desemprego e eleva o nível da pobreza, de acordo com os dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL, 2020).
	Entre todos os países, o primeiro a sentir o impacto foi o setor de transporte aéreo de passageiros, houve uma forte redução do fluxo de passageiros, a Organização Mundial do Comércio (OMC) estimou uma redução de 13 a 32 %. O próximo afetado foi o setor de serviço e indústria, esses setores representam 30 a 40 % da atividade econômica dos países. Nos países com maior dependência da agricultura e extração mineral, os produtos internos teriam uma queda de aproximadamente 25% (NETO, 2020).
	O avanço do Covid-19 aumentou o receio dos investidores em relação ao mercado ao redor do mundo e isso impacta a economia global. As bolsas de valores afetaram as rendas variáveis, em março, período no qual várias bolsas ocidentais estabeleceram o potencial efeito da pandemia, as empresas que compõem o índice de mercado perderam aproximadamente 30 % de seu valor, no Brasil a queda alcançou 31,5 % (AVELAR et al, 2021).
	A China com a segunda maior economia do mundo fechou fábricas e centros comerciais, com isso seu Produto Interno Bruto (PIB) registrou o menor índice em mais de quarenta anos e um crescimento de apenas 2,3 % em 2020, isso acabou reduzindo o consumo e as atividades econômicas dos chineses e nos países que mantêm relações. Para MATTI e HEIMEM (2020), o impacto econômico gerado pela pandemia já é maior que a crise financeira de 2008. Em 2020 o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos se contraiu em torno de 3,5 %, registrando o pior desempenho desde 1946. Isso marcou o primeiro declínio desde a Grande Recessão de 2017, mesmo após um crescimento de 2,2 % em 2019.
	No Brasil, comércios e fábricas fecharam as portas, grande maioria decretou lockdown, com isso o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 4,1 % em 2020, essa queda interrompeu o crescimento de três anos seguidos (2017 a 2019) com 4,6 % (BBC-ECONOMIA-UOL, 2021). Influenciada pelo distanciamento social o consumo das famílias teve uma retração de 5,5 % em relação ao consumo do governo teve uma diminuição de 4,7 % devido à limitação das ofertas de vários serviços públicos, a queda do setor de serviços teve uma retração de 5,5 %. Pelo lado da demanda, o principal índice de queda foi a retração do consumo das famílias, e do lado da oferta, foi liderada pelo setor de serviços (BASTOS, DOURADO, 2021).
O Covid-19 provocou perda de renda e trabalho em todo o mundo. A perda de horas trabalhadas em 2020 no segundo trimestre foi de 17,3 %, esse valor se refere a 495 milhões de empregos, nas américas a queda da renda foi de 12,1 %. A paralisação da economia pode erradicar aproximadamente 25 milhões de empregos em todo mundo. No Brasil o efeito da crise agravou mais o índice de empregos que foi de 11,6 % para 12,2 % (LIMA, COELHO, 2021).
4.1 A PANDEMIA DA COVID-19: IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS
Com a adoção do isolamento social, que determinava o encerramento de todas as atividades tanto econômicas e sociais que provoca aglomeração de pessoas contrasta com a estrutura racional do capitalismo no qual é constituído na ideia de aumento e volume do comércio de bens e serviços através do estímulo do consumismo da sociedade (SEBRAE, 2020). Com o fechamento dos estabelecimentos, a tentativa de alavancamento das vendas, a geração de empregos, a renda e os investimentos acabam se tornando uma barreira para o desenvolvimento dessas MPEs. 
Muitos projetos devido à crise, tanto pessoal como profissional, acabaram sendo encerrados, não apenas no curto prazo, mas dependendo do projeto, no longo e médio prazo. Com o encerramento obrigatório das atividades não essenciais para os agentes governamentais, muitas empresas já funcionavam no limite da sua condição financeira, devido ao período da crise financeira de 2014 a 2017, já não podiam operar e honrar seus compromissos com os fornecedores e seus funcionários, ocasionando o encerramento das operações (BARBOSA FILHO, 2017).
Os empreendedores que tinham capital de giro ou reservas financeiras conseguiram negociar com seus funcionários com redução de carga horária, concessão de férias, lay-off, acabaram se deparando com a restrição de funcionamento, com apenas um percentual do funcionamento máximo e normas instituídas pelos agentes governamentais para evitar uma nova onda de contágio do COVID-19. Essa reabertura dos negócios foi adotada baseada na ação da maioria dos países do mundo (BRASIL, 2020; BOTELHO; GUISSONI, 2016).
O SEBRAE (2020) realizou uma análise ocasionado pela COVID-19 nos pequenos negócios no mês de março de 2020, na mesma época que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou alerta de pandemia e o contágio no Brasil ficou evidente. Os resultados mostraram que 12 milhões de negócios foram afetados, atingindo cerca de 46,6 milhões de pessoas. Nessa pesquisa foi identificado que a receita do comércio varejista teve queda de 29 %, com os pequenos empreendedores registrando uma queda de 69 % no faturamento neste período em relação a uma semana normal de vendas, esse índice foi acompanhado por um aumento da taxa de desemprego e procura por empréstimos. Dentro dessa pesquisa foi destacado que as pequenas empresas brasileiras são as mais expostas, visto a imprevisibilidade da situação de crise, que ocasiona mudanças nos hábitos de consumo de seus clientes e as restrições impostas para barrar a disseminação do vírus. 
Segundo o SEBRAE (2020), de 17,2 milhões empresas a pandemia modificou o funcionamento de 5,3 milhões, mostrando a evolução da atuação dos pequenos negócios. Entre as empresas, 41,9% realizam entregas via online, 41,2 % optaram por horário reduzido, 21,6% utilizaram o teletrabalho (home office), 15,3% por rodízio de funcionários e 5,9% pelo Drive thru. 
De acordo com a pesquisa, 10,1 milhões de empresas pararam seu funcionamento temporariamente, sendo que 21 % foram por decisão própria e 79% por determinação do governo. 3,5 % das empresas encerraram suas atividades definitivamente, enquanto 6,6% das empresas mantiveram suas formas de funcionamento (SEBRAE, 2020). Antes da pandemia 73,4% das empresas estavam com as condições financeiras razoáveis ou ruins, 49% em estado razoável e 24,4 % ruim, com o início da pandemia 15 milhões de negócios tiveram redução do seu faturamento, a queda registra 47%. 7,2 % das empresas não sabiam ou não quiseram responder e 2,4% aumento o faturamento (SEBRAE, 2020).
Os empresários também falaram que houve 67,2% no consumo de matéria-prima, mesmo com o aumento do insumo 50,3 % das empresas tiveram dificuldades em encontrar matérias-primas. Com custo de pessoal teve aumento de 57,1%, mesmo assim durante a pesquisa somente 18,1% das empresas tiveram que efetuar demissão em média 3 funcionários para manter a saúde da empresa. Mesmo com várias medidas de auxílio governamental, 46,8% das empresas não tomou nenhuma medida em relação à mão-de-obra (SEBRAE,2020).
Das 17,2 milhões de empresas, 9,4 milhõesde empreendedores precisaram de empréstimos para manutenção da empresa e da folha salarial dos funcionários. Apenas 567 mil conseguiram empréstimos, enquanto 1,5 milhões ainda esperam a resposta e mais de 3 milhões de empresas não conseguiram o auxílio. 
4.1.1 Economia Brasileira Pós-Pandemia
O período de agosto de 2020 a 2021 é caracterizado pela retomada da atividade econômica. Apesar de um estado de calamidade pública sem necessidade de cumprimento do resultado fiscal até ao final de 2020, os recursos para o combate à pandemia ascendem a cerca de 5,55% do PIB do país, à semelhança do pacote adotado por várias economias avançadas. No entanto, devido a diferentes aspectos estruturais, os resultados também podem ser diferentes. Em contraste, a economia dos EUA tem US$ 2 trilhões em pagamentos diretos aos trabalhadores (10% do PIB dos EUA), além de US$ 19 bilhões em pagamentos diretos e compras do governo para apoiar a agricultura (TÁVORA, 2020). 
Ainda em 2020, a economia pode ser estimulada através de política monetária e fiscal (ampliação de benefícios e transferências de renda, renegociação de dívidas com estados e municípios, garantia de recursos de saúde para acesso e aplicação de exames, acesso a leitos, contratação de mais colaboradores, recursos para vacina e pesquisa de medicamentos) e crédito (estendendo crédito e ampliando prazos de amortização de dívidas para pessoas físicas e jurídicas) (INSTITUTO DE ECONOMIA DA UFRJ – IE, 2020). 
As propostas da equipe de governo de Bolsonaro até 2021 são para impulsionar a atividade econômica em uma agenda de reformas focada na consolidação fiscal e no combate à má alocação de recursos. Visa promover a abertura econômica, privatizações e concessões, reforma tributária, revisão de isenções e subsídios públicos, aprovação de contas básicas de saúde, promoção de energia mais eficiente, desburocratização, redução do desemprego e da pobreza através da criação de corporações, etc. (CARRANÇA, 2020). 
Essas reformas são necessárias porque a relação dívida líquida do setor público/PIB se aproximará de 55% até o final de 2021 (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2020a, d). Vale destacar que a dívida total do governo federal foi de 77,2% do PIB em 2018, a maior proporção entre os países emergentes e os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) (TRIBUNAL DE CONTAS DA ONU – TCU, 2018). 
De acordo com a previsão do Ministério da Economia (2020d), espera-se suprimir ou mesmo reduzir a taxa de inflação a partir de 2021, e manter as taxas de juros (Selic e de longo prazo) em um nível baixo, e a taxa de câmbio de juros (R$/US$) desvalorizou em relação aos anos anteriores. Além disso, o mercado de crédito deve crescer 8,11% até 2024. A previsão do PIB para 2021 é de crescimento de 2,2% (WORD BANK, 2020). 
McKibbin e Fernando (2020) examinaram sete cenários possíveis de como a pandemia pode evoluir, com base em um modelo de equilíbrio geral misto. Se a pandemia for controlada, pode haver efeitos negativos consideráveis ​​no curto prazo. Além disso, o estudo aponta para a necessidade de maior investimento nos sistemas públicos de saúde, principalmente nos países menos desenvolvidos, que já se encontram fragilizados e com alta demanda devido à alta densidade populacional. 
Acrescenta-se que outros fatores culturais/institucionais como corrupção de recursos (superfaturamento de equipamentos de aquisição e fraude licitatória) que deveriam ter sido combatidos, juntamente ao combate do coronavírus, deixando claro a falta de vínculos claros entre órgãos governamentais e órgãos como o Ministério da Saúde em pequeno período de tempo, atrasam ainda mais a superação da pandemia e, consequentemente, causam impacto negativo na economia (AGÊNCIA BRASIL, 2020a). 
Com isso, acredita-se que a informalidade do trabalho aumente e a pobreza e a desigualdade de renda também cresçam, o que poderia reacender uma onda de protestos sociais. A tensão entre a manutenção do completo isolamento social e o aumento das perdas econômicas podem levar a perdas sociais irreparáveis ​​e aumentar o número de infecções e mortes no Brasil (AGÊNCIA BRASIL, 2020b; BANCO MUNDIAL, 2020). Derrotar o coronavírus e sustentar a economia devem ser entendidos como questões complementares e diretamente relacionadas, e não antagônicas. 
Enquanto outros países têm sido eficientes com testes de aplicativos, distanciamento social e medidas de bloqueio, no Brasil o coronavírus se espalhou mais rapidamente. Diante de uma situação de pandemia, o distanciamento social, o uso de máscaras faciais e a autorização de funcionamento dos serviços são essenciais como medidas viáveis ​​de higiene de curto prazo devido à insuficiência de equipamentos de segurança, insuficiência de pessoal e impossibilidade de testagem em massa (TÁVORA, 2020). 
A situação é ainda pior no Brasil, onde 75% da população não tem plano de saúde e enfrenta outras epidemias, como dengue e sarampo. As regiões mais afetadas serão Nordeste, Norte e Centro-Oeste, pois essas regiões não possuem pelo menos um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para cada 10.000 habitantes (MELLO et al., 2020). A próxima seção resgata as implicações e reflexões discutidas neste artigo.
4.1.2 Pandemia e os efeitos na renda dos Brasileiros
	
A pandemia de COVID-19 teve um impacto significativo na economia do Brasil e na renda dos brasileiros, especialmente na primeira onda em 2020 e estendendo-se por todo ano de 2021 e 2022. Aqui estão alguns dos efeitos mais notáveis de acordo com o Banco Mundial (2022):
· Desemprego: A pandemia resultou em uma onda de demissões e cortes de horas trabalhadas, levando a um declínio do desemprego e uma queda na renda dos trabalhadores.
· Queda na economia: A pandemia resultou em uma queda significativa no PIB do Brasil, bem como na renda per capita e no consumo das famílias.
· Incerteza econômica: A pandemia criou uma reflexão econômica, o que levou a uma retração do investimento e uma desaceleração do crescimento econômico.
· Desigualdade: A pandemia agravou a desigualdade econômica e social no Brasil, já que as famílias de baixa renda foram as mais protegidas pela queda da renda e pelo aumento do desemprego.
· Aumento da dívida: A pandemia resultou em um aumento significativo da dívida pública e privada, o que pode ter consequências negativas na economia no futuro.
Segundo a definição do relatório do Banco Mundial (2022) "Pobreza e Equidade no Brasil – Mirando o Futuro Após Duas Crises", pessoas com renda per capita inferior a 499 reais por mês estão abaixo da linha da pobreza. O relatório mostra que esses percentuais mudaram pouco desde 2012 (33% e 7,4%, respectivamente), o primeiro ano para o qual dados comparáveis ​​estavam disponíveis. Sem pacotes fiscais e transferências diretas de renda para 68 milhões de pessoas, a pandemia poderia aumentar significativamente a pobreza no Brasil. 
Depois de cair drasticamente em 2020, a taxa de pobreza aumentou acentuadamente com a redução da ajuda do governo, mostrando como as famílias brasileiras dependem do apoio do Estado diante das terríveis condições do mercado de trabalho. Portanto, estima-se que a taxa de pobreza em 2021 será mais de 1 ponto percentual menor do que em 2019. 
O programa Auxílio Emergencial do governo federal em resposta ao COVID-19 em 2020 ajudou a conter o aumento da pobreza naquele ano. A ajuda financeira representa quase metade da renda familiar na base da pirâmide social. No entanto, as projeções de pobreza para 2021 mostram que as reduções na cobertura do programa e nos valores dos benefícios não foram acompanhadas por melhorias no mercado de trabalho para muitas famílias desfavorecidas – tudo em um cenário de aceleração da inflação. Estima-se que isso leve a taxas de pobreza e desigualdade mais altas em 2021 do que em 2020, e que esses indicadores estagnem em 2022. Embora a economia como um todo tenha crescido 1,2% em termos reais entre 2019 e 2022, espera-se que as taxas de pobreza sejam ligeiramente inferiores aos níveis pré-pandêmicos (BANCO MUNDIAL, 2022). 
Conformeo relatório, os grupos pobres e vulneráveis ​​do Brasil sofrerão mais com o impacto econômico negativo da pandemia. A deterioração do mercado de trabalho reduziu a renda das famílias, sendo os 40% mais vulneráveis ​​da população os mais atingidos. Os pobres têm acesso limitado à tecnologia e ao capital humano, o que limita sua capacidade de adaptação ao ambiente de trabalho criado pela COVID-19. A participação das mulheres na força de trabalho diminuiu significativamente mais do que a dos homens, em grande parte devido aos papéis tradicionais de gênero que aumentam o trabalho doméstico não remunerado das mulheres e a carga educacional das crianças durante o fechamento das escolas. Entre os jovens, os menos escolarizados, os afro-brasileiros e os residentes do Norte e Nordeste têm maior probabilidade de ficar desempregados devido à pandemia (BANCO MUNDIAL, 2022). 
A pandemia também desferiu um duro golpe na acumulação de capital humano de longo prazo e ampliou as lacunas de desigualdade. Em novembro de 2020, 27,8% das crianças das regiões Norte e Nordeste, regiões mais pobres do país, estavam fora da escola ou impossibilitadas de participar das atividades escolares. As crianças que vivem em áreas rurais também têm taxas de matrícula mais baixas. Em meados de 2021, a participação nas atividades escolares ainda é afetada de forma desigual pela epidemia. Os dados do relatório mostram que apenas metade das crianças nos 20% mais pobres da população frequenta a escola (pessoalmente ou virtualmente) semanalmente, em comparação com três quartos das crianças nos lares mais ricos, como o World As afirmado no relatório elaborado pelo Banco Mundial (2022). 
O relatório mostra que, apesar do progresso nas últimas décadas, as profundas divisões socioeconômicas do país são um problema histórico. De 2001 a 2012, a taxa média anual de crescimento real do PIB do Brasil foi de 2,6%, a desigualdade de renda diminuiu significativamente e a taxa de pobreza geral do Brasil caiu significativamente em 16 pontos percentuais. No entanto, persistem disparidades na população brasileira: quase três em cada dez pobres são mulheres afro-brasileiras que vivem em áreas urbanas, enquanto três quartos de todas as crianças que vivem em áreas rurais são pobres (BANCO MUNDIAL, 2022). 
Para ilustrar de maneira eficiente os impactos da pandemia na economia, é importante lembrar que com o mercado de trabalho em queda, com milhares de pessoas perdendo o emprego e suas rendas, também serviu para aumentar o número de brasileiros que resolveram empreender e gerar sua renda a partir de um pequeno negócio, muitas vezes informal. 
O estudo de Neri (2020) traz um panorama da desigualdade causada pela pandemia. Segundo o autor, no primeiro trimestre completo do surto da pandemia, a renda pessoal do trabalho dos brasileiros, incluindo os setores formais, informais e desempregados, caiu em média 20,1%, enquanto a desigualdade, medida pelo índice de Gini, aumentou 2,82%. Os níveis e variações de ambas as variáveis ​​constituem recordes negativos para suas respectivas séries históricas a partir de 2012. A renda do trabalho da metade mais pobre da distribuição caiu 27,9%, enquanto a dos 10% mais ricos caiu 17,5%. Os principais grupos sociais mais atingidos pela crise são os indígenas (-28,6%), os analfabetos (-27,4%) e os jovens de 20 a 24 anos (-26%). 
Todas as Unidades da Federação pesquisadas por Neri (2020), assim como suas respectivas capitais apresentaram quedas nos rendimentos do trabalho. Pernambuco e Recife são as regiões mais afetadas pelo mercado de trabalho. O rendimento médio caiu 20,1%, em grande parte devido à redução de 14,34% nas horas médias trabalhadas, enquanto a taxa de ocupação caiu 9,9%. O exercício contrafactual mostra que a ocupação cairia 22,8% se a jornada de trabalho fosse mantida constante. O efeito salvador da redução da jornada de trabalho socializa a perda e evita cicatrizes mais permanentes no mercado de trabalho. O fato de esse efeito ser maior entre as mulheres, assim como entre os empregados formais privados mais pobres, é consistente com a suspensão parcial dos contratos de trabalho implementada após o início da pandemia. 
Ainda segundo a pesquisa de Neri (2020), enquanto o mercado de trabalho brasileiro sofreu uma perda média de renda pessoal de 20,1% nos primeiros 3 meses da pandemia, a metade mais pobre da população perdeu 27,9% (de R$ 199 para R$ 144) , os 10% mais ricos perderam 17,5% (de R$ 5.428 para R$ 4.476). Em comparação com o grupo base da distribuição, a diferença é de pouco mais de 10 pontos percentuais. Em outras palavras, é uma recessão excludente, com a renda de todos caindo, mas mais ainda entre os mais pobres. 
Em resumo, Neri (2020) descreve que, no início da crise, o principal fator para a queda do rendimento médio foi a redução de 14,34% na jornada de trabalho (de 35,9 para 30,76 horas de trabalho efetivo por semana). A segunda queda mais significativa deveu-se à queda de 8,6 pontos percentuais na taxa de participação da força de trabalho, de 49,75% para 45,47%. Esse efeito contracionista na oferta de trabalho, combinado com uma queda de 1,42% na taxa de emprego da população economicamente ativa (PEA), de 86,12% para 84,9%,1 resultou em uma queda de 9,9% na taxa de emprego da população em idade produtiva. Isso é destacado na análise sobre o impacto imediato da pandemia. No entanto, o efeito de viagem é quantitativamente superior. A decomposição atual fornece uma conta contrafactual do que aconteceria com a ocupação se o dia da semana permanecesse constante: nesse caso, a queda seria de 22,81%, ao invés dos 9,99% observados. 
O estudo de Neri (2020) também mostrou que os rendimentos do trabalho em geral caíram um pouco mais para as mulheres do que para os homens (-20,54% vs. -19,56%) no início da pandemia, conforme mostra a tabela abaixo. Embora sua taxa de desemprego (-11,1%) seja superior à taxa de desemprego (-8,8%), devido ao alto desemprego e menos oportunidades de trabalho para cada grupo. O mesmo exercício contrafactual mostra que os ajustes de turno impediram uma queda maior da ocupação entre eles (-27,1%) do que entre eles (-19,8%). A diferença entre as taxas contrafactuais simuladas e observadas corresponde aos efeitos da redução da jornada de trabalho, por exemplo, devido a dupla jornada para tarefas domésticas e creches quando as escolas estão fechadas, o que parece proteger mais os empregos das mulheres. O impacto da redução da jornada de trabalho é o principal fator, principalmente para as mulheres, e sua oscilação ao longo do tempo pode ser observada no gráfico 1 da Tabela 1 a seguir. 
Tabela 1 - Nível e Crescimento de Renda Individual do Trabalho de Mulheres e Homens – Entre 1º e 2º trimestre de 2020 (%)
Fonte: Neri (2020)
Gráfico 1 - Jornada Efetiva de Trabalho por Gênero (em horas semanais)
Fonte: Neri (2020)
Para corroborar esses números, o IBGE (2020) apresenta a taxa de desemprego do país para novembro. No mapa abaixo é possível determinar os níveis percentuais para cada estado. 
Diante disso, observou-se que muitos indivíduos tentam se manter ativos, mesmo que informalmente, no mercado de trabalho devido à quebra na continuidade da renda. 
Mapa 1 - Mapa do desemprego no Brasil - Taxa
Fonte: IBGE (2020)
Nesta situação de crise, além da taxa de desemprego, há um grande número de pessoas que não procuram trabalho. Segundo o IBGE (2020), essa inatividade se deve à pandemia e à falta de oportunidade nas áreas onde vivem. Diante desses desafios, o Brasil precisa urgentemente investir em políticas de proteção social que garantam uma renda mínima aos mais vulneráveis ​​e protejam as relações de trabalho. O instituto apontou que entre 20 de setembro de 2020 e 26 de setembro de 2020, 15,3 milhões de brasileiros ficaram sem trabalho nessa situação: 
Gráfico 2 - Subutilização da Força de Trabalho no Brasil
Fonte: Subutilização da Força de trabalho/IBGE (2020)
Em Nota Técnica publicada em setembro de 2020 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), observa-se quea crise causada pela pandemia está afetando os mercados de trabalho por meio de perdas líquidas de empregos, deterioração do emprego e redução ou desaparecimento da renda dos trabalhadores e suas famílias (OIT, 2020). Refira-se que a responsável por isso é a taxa de desemprego, referente aos trabalhadores que perderam o emprego devido a restrições e medidas de distanciamento social, bem como à falta de oportunidades de emprego. Por outro lado, a redução do trabalho informal, mesmo sem regulamentação, tem levado ao aumento do desemprego, à implementação de políticas sociais e econômicas de resposta à crise e à proteção do emprego. 
4.1.3 A crise e a informalidade
O emprego formal é uma atividade profissional regulamentada pelo Estado, formalizada pela CLT (Consolidação das leis de trabalho), de modo que os trabalhadores que possui sua carteira assinada estão protegidos e amparados pela legislação trabalhista brasileira conquista principalmente após a primeira legislação trabalhista criada por Getúlio Vargas no ano de 1934 e após a criação da já citada CLT no ano de 1943 através da lei 5.452 (TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO, 2013). Já no trabalho informal, os profissionais não possuem esse vínculo e, portanto, não possuem benefícios trabalhistas como férias, aposentadoria, seguro-desemprego, etc. 
Araújo e Brandão (2021) citam que o desemprego (estrutural ou conjuntural) são os principais causadores da informalidade, uma vez que muitos trabalhadores, ao perderem seus empregos formais, não retornam de imediato para o mercado e assim, muitos não estão adaptados para as necessidades das empresas, sendo muitas vezes substituídos por mão-de-obra mais barata, ou mais qualificada (dependendo do cargo). A falta de qualificação e desenvolvimento desses profissionais acabam por deixa-lo de fora do mercado. 
Políticas flexíveis beneficiam as empresas, enquanto o emprego formal com regulamentação “estável” tende a diminuir ou até desaparecer. Não é do interesse do capital criar empregos, mas, ao mesmo tempo, não pode sobreviver sem mão-de-obra para a execução do trabalho. Assim, dadas as leis do mercado, os trabalhadores obedecem às propostas que vão surgindo e, portanto, um número crescente de desempregados indica não só a fragilidade da regulamentação trabalhista, mas também o aumento da informalidade. Dado que a maioria dos trabalhadores não tem acesso ao mercado de trabalho, a economia informal apresenta-se como o mundo moderno do trabalho e é assim vista como uma solução para o desemprego. Dado que formas de trabalho cada vez mais precárias são extremamente úteis para a reprodução do capital, o discurso autônomo agregado a essa prática ajuda a ocultar sua função para o sistema (ARAÚJO; BRANDÃO, 2021). 
Dessa maneira, a informalidade se manifesta mais em pequenas ou microempresas do que em empregos, economizando dinheiro com a legalização do trabalho e gerando maiores lucros para o capital. Esse novo caráter da informalidade é produto da flexibilização do trabalho, traduzido em relações igualitárias na sociedade como parte das relações comerciais normais pertencentes ao mundo do trabalho, mascarando relações de exploração. 
No que diz respeito à informalidade, Tavares (2002) argumenta que ela faz parte do processo de produção capitalista ou, mais recentemente, é resultado de processos de terceirização. Para a autora, os mecanismos de flexibilização permitem que o capital transforme as relações formais em informais, levando ao deslocamento do emprego. 
A realocação, que se traduz como independente, cria a ilusão de autonomia do trabalhador, já que ele não está dentro da empresa que é supervisionada diretamente pelo empregador. Ainda de acordo com a autora, trata-se de uma falsa autonomia, pois o trabalho é realizado sob rígidas exigências de resultados, caracterizadas por baixos salários e precarização, onde permanecem decisivas as jornadas de trabalho socialmente necessárias. O objetivo do capital é, portanto, fazer com que o trabalhador produza mais-valia, ou seja, fazer com que sua produção contenha o máximo de trabalho não pago (TAVARES, 2002). 
Nesse sentido, Tavares (2002) busca elementos que liguem o trabalho informal à lei do valor, para demonstrar como a informalidade decorrente da flexibilização do trabalho se espalha socialmente por sua função sobre o capital, pelo que entendemos controle sobre a produção de riqueza. 
A lei do valor é inviolável por mais que se manifeste, e é também o ponto de partida para revelar as funções das organizações contemporâneas de assistência social. Segundo este entendimento, a economia informal contém mais trabalho do que o socialmente necessário, implicando um elevado grau de exploração da mão-de-obra, o que desmistifica a autonomia e independência prenunciadas (TAVARES, 2002). 
Em uma análise específica da realidade brasileira, Antunes (2014) observa que o impulso inicial para o processo de reorganização da produção e dessas novas formas de organização do trabalho social ocorreu na década de 1980, mas se intensificou a partir da década de 1990. Desregulamentação do poder, terceirização e novas formas de gestão da força de trabalho. 
Para Araújo e Brandão (2021), o crescimento da desregulamentação das relações de trabalho produziu um grande número de trabalhadores que passaram da condição de “estáveis”, assalariados, para trabalhadores sem carteira assinada, especialmente na década de 1990. Na década seguinte à década de 1980 houve um aumento significativo no número de empresas terceirizadas e na necessidade de trabalhadores temporários sem vínculo empregatício ou registro formal. 
Antunes (2014) defende que estas mutações que inserem a racionalidade comercial aumentam a competitividade no trabalho e dividem a classe trabalhadora, levando os autores a afirmar que apesar de uma era de acumulação informatizada e digital do trabalho, assistimos a uma era de informalização do trabalho, caracteriza-se precisamente pela expansão da terceirização, subcontratação, tempo parcial, trabalhadores flexíveis. 
Para Antunes (2014), essa informalidade está presente no Brasil de certas formas que indicam contratos contínuos sem estabilidade, sem regulamentação, dentro e fora da empresa, contratos temporários e outros contratos em situação de desemprego. 
A primeira abordagem apontada pelo autor, refere-se aos trabalhadores informais tradicionais. São pessoas com baixa senioridade, que exercem atividades de baixa capitalização, e são as “pessoas menos instáveis”. Este campo inclui, por exemplo, pedreiros, costureiras, empregados domésticos, vendedores ambulantes, jardineiros, entre outros. Os mais precários são aqueles que são recrutados temporariamente para trabalhos temporários com baixa qualificação e esforço físico, como porteiros, caminhoneiros, trabalhadores de serviços gerais de rua. Eles podem ser subempregados até mesmo pelas pessoas mais "estáveis". Aqui, Antunes inclui também os trabalhadores ocasionais que, estando desempregados, passam a trabalhar na informalidade, os chamados biscates de baixa remuneração (vendedores de produtos, faxineiros, saleiros, datilógrafos, entre outros) (ANTUNES, 2014). 
A segunda forma apresentada por Antunes (2014), refere-se aos trabalhadores assalariados informais não registrados. Para os assalariados sem carteira assinada, essas pessoas perdem as condições de se tornarem trabalhadores terceirizados por meio de carteira assinada. Esta é uma tendência em algumas indústrias, refletindo a flexibilidade do trabalho na criação e recriação de novas relações de trabalho, onde o formal assume o lado informal. 
A terceira, segundo Antunes (2014), forma mencionada são os autônomos informais, definidos como simples produtores de commodities que utilizam mão de obra própria e de familiares. 
A formulação de Antunes (2014) permite observar a grande heterogeneidade dos trabalhadores informais no contexto brasileiro, bem como seus vínculos existentes com o capital. Dispostos dessa maneira, eles facilitam a circulação de mercadorias produzidas

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