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Ciclo Menstrual SUMÁRIO 1. Introdução ..........................................................................................................3 2. Eixo hipotálamo-hipófise-gônadas ......................................................................3 Hipotálamo .................................................................................................................. 3 Hipófise ......................................................................................................................... 4 Ovários .......................................................................................................................... 5 Útero .............................................................................................................................. 6 3. Fisiologia do ciclo menstrual ..............................................................................7 Ciclo ovariano ............................................................................................................... 7 Fase lútea .................................................................................................................... 13 Ciclo endometrial ....................................................................................................... 16 Referências ..................................................................................................... 20 Ciclo Menstrual 3 1. INTRODUÇÃO Define-se ciclo menstrual normal como aquele com 28 ± 7 dias, fluxo durando 4 ± 2 dias, e perda média de 20 a 60 mL de sangue. Por convenção, o primeiro dia de san- gramento vaginal é considerado o primeiro dia do ciclo menstrual. Os intervalos entre ciclos menstruais variam entre as mulheres e, com frequência, em uma mesma mulher em épocas diferentes de sua vida reprodutiva. O ciclo menstrual varia menos entre 20 e 40 anos de idade. Quando observado sob a perspectiva da função ovariana, o ciclo menstrual pode ser definido em fase folicular pré-ovulatória e fase lútea pós-ovulatória. As fases correspondentes no endométrio denominam-se fase proliferativa e fase se- cretora. Para a maioria das mulheres, a fase lútea do ciclo menstrual é estável, durando entre 13 e 14 dias. Consequentemente, variações no período do ciclo normal geralmen- te resultam de variações na duração da fase folicular. 2. EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-GÔNADAS O clico menstrual é consequência da interação entre três entidades anatômicas: hipotálamo, hipófise, ovário e útero. Embora seja evidente que o hipotálamo desem- penhe um papel central na iniciação do ciclo menstrual, está igualmente claro que a ciclicidade endócrina é consequência da relação de feedback entre a secreção ova- riana e o eixo hipotálamo-hipófise. O útero desempenha um papel eminentemente passivo, apesar de sua importância na concepção. Hipotálamo O hipotálamo encontra-se na base do cérebro, imediatamente acima da junção dos nervos ópticos. Seus neurônios são especialmente importantes na produção dos hormônios: hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), hormônio liberador do hor- mônio de crescimento (GHRH), hormônio liberador de corticotrofinas (CRF), hormô- nio liberador de tireotrofinas (TRH). Em relação à produção do GnRH, O hipotálamo é influenciado tanto por sinais extrínsecos e intrínsecos ao SNC, quanto pelo controle do ovário. A influência exercida pela secreção ovariana sobre o hipotálamo é deno- minada de feedback, sendo este positivo quando os esteroides ovarianos estimulam a produção do GnRH, e negativo quando a secreção ovariana inibe a produção do GnRH. Além disso, o próprio GnRH controla sua produção, agindo diretamente no hipotálamo, então quando está disponível em grande quantidade ele atua reduzin- do sua produção, já quando está presente em níveis baixos, age estimulando sua liberação. Ciclo Menstrual 4 O hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), produzido no hipotálamo, exerce papel obrigatório no controle da secreção de gonadotrofinas, como o próprio nome indica. É responsável pela indução da liberação destas substâncias pela hipófise anterior. O hipotálamo apresenta ciclos característicos de liberação de seus produtos (GnRH, TRH, ACTH etc.) devido a centros tipo marca-passo. Algumas dessas subs- tâncias são liberadas periodicamente. Outras, em ciclos circadianos, que podem estar relacionados a situações fisiológicas, como o ciclo do sono ou ingestão de ali- mentos, entre outros estímulos. Quanto à função reprodutiva, o GnRH é o principal hormônio. Na mulher, ele é libe- rado de uma forma pulsátil, sendo sua periodicidade e amplitude críticas para deter- minar a liberação correta e fisiológica do FSH e LH (produzidos na adenohipófise). Na menina, o centro hipotalâmico encontra-se bloqueado até o período da puberdade, quando ocorre sua liberação por razões ainda não bem estabelecidas, supondo-se ha- ver a participação de fatores ambientais, dos opioides endógenos, do peso corporal e da quantidade de gordura corporal, entre outros. Hipófise É uma glândula neuroendócrina situada na sela túrcica, e é dividida em adeno-hi- pófise e neuro-hipófise. A adeno-hipófise é responsável pela secreção dos hormô- nios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH), hormônio estimulante da tireoide (TSH), hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), hormônio de crescimento (GH) e pro- lactina (PRL). Já a neuro-hipófise secreta ocitocina e vasopressina. O GnRH age nas células gonadotróficas da hipófise anterior (adeno-hipófise), es- timulando-as a sintetizar e secretar na corrente sanguínea tanto o FSH quanto o LH. No entanto, a secreção de LH é, essencialmente, caracterizada por um pico no meio do ciclo menstrual. Já a secreção de FSH caracteriza-se por um aumento na fase folicular inicial, um platô na fase lútea e acentuada elevação na fase lútea tardia. Ou seja, as gonadotrofinas são secretadas de forma pulsátil, com frequência e amplitu- de que variam de acordo com a fase do ciclo. Os hormônios esteroides, como o es- tradiol e a progesterona, ou fatores ovarianos não esteroides, como a inibida, são os moduladores da secreção de LH e FSH. Se liga! O padrão pulsátil de liberação das gonadotrofinas é direta- mente relacionado à secreção pulsátil de GnRH, mas a modulação da amplitu- de e da frequência são consequências do feedback dos esteroides ovarianos no hipotálamo e na hipófise. Ciclo Menstrual 5 Ovários O ovário em funcionamento normal sintetiza e secreta hormônios esteroides se- xuais – estrogênios, androgênios e progesterona – com padrão de controle preciso que, em parte, é determinado pelas gonadotrofinas hipofisárias, FSH e LH. Os produ- tos secretórios mais importantes da biossíntese de esteroides pelos ovários são a progesterona e o estradiol. Entretanto, o ovário também secreta estrona, androstene- diona e 17a−hidroxiprogesterona. Os hormônios esteroides sexuais desempenham papel importante no ciclo menstrual preparando o útero para implantação do óvulo fertilizado. Se a implantação não ocorrer, a esteroidogênese ovariana declina, o en- dométrio degenera e ocorre a menstruação. FLUXOGRAMA DO CONTROLE HORMONAL Hipotálamo Hipófise Ovários GnRH LH Estrogênio FSH Progesterona Fonte: Elaborado pelo autor Ciclo Menstrual 6 Útero A parede uterina consiste em três camadas: serosa, a camada mais externa; miométrio, constituído de músculo liso; e endométrio, a camada mais interna, sub- dividida em estroma e glândulas. As alterações cíclicas, induzidas pelos hormônios ovarianos, só se manifestam na camada mais superficial endométrio. Figura 1: Estrutura do útero. Fonte: Autoria própria Ciclo Menstrual 7 3. FISIOLOGIA DO CICLO MENSTRUAL Podemos dividir, de uma forma didática, o ciclo menstrual em dois ciclos que inte- ragem e são interdependentes: ovariano e endometrial (menstrual). Ciclo Ovariano O ciclo ovariano pode ser dividido em três fases: fase folicular, fase ovulatória e fase lútea. Fase Folicular A fase folicular, ou proliferativa,é a primeira fase do ciclo menstrual, e ocorre do primeiro dia da menstruação até o dia do pico de LH. Durante essa fase, ocorre uma sequência ordenada de eventos, que assegura que um número apropriado de folí- culos se desenvolva e esteja pronto para a ovulação. O resultado final desse desen- volvimento folicular é, comumente, um único folículo maduro viável, o qual passará pelos estágios de folículo primordial, folículo primário, folículo pré-antral, antral e pré -ovulatório. Esse processo ocorre ao longo de 10 a 14 dias. Se liga! A duração do ciclo menstrual é determinada pela variação na duração da fase folicular, ou seja, o tempo necessário para que o folículo se desenvolva e atinja sua maturidade. O sinal para o recrutamento folicular inicia-se na fase lútea do ciclo anterior, com a diminuição da progesterona, do estradiol e da inibina A. Como consequência, o feedback negativo sobre o FSH é liberado, observa-se então seu aumento nos pri- meiros dias da fase folicular. Esse aumento é o sinal para o recrutamento folicular. Aproximadamente 15 ou mais folículos são recrutados a cada ciclo. Desenvolvimento Folicular: O desenvolvimento folicular inicia-se com os folículos primordiais gerados durante a vida fetal. Esses folículos nada mais são que oócitos suspensos na primeira divisão meiótica, circundados por uma camada única de cé- lulas granulosas achatadas. São separados do estroma por uma membrana basal delgada. Os folículos pré-ovulatórios são avasculares. Consequentemente, são cri- ticamente dependentes da difusão e, no final do seu desenvolvimento, de junções comunicantes para obtenção de nutrientes e eliminação de excretas metabólicas. A difusão também permite a passagem dos precursores de esteroides da camada de células tecais para a camada de células da granulosa. Ciclo Menstrual 8 No estágio seguinte do desenvolvimento, as células da granulosa se tornam cuboides e aumentam em número para formar uma camada pseudoestratificada. Nesse momento, o folículo é denominado folículo primário. Uma importante mudan- ça que ocorre nessa fase é a diferenciação das células do estroma em teca interna e teca externa, que independe da estimulação pelas gonadotrofinas. Há um padrão de crescimento limitado, que pode ser rapidamente seguido de atresia. Esse padrão só é interrompido se, a partir deste estágio, o grupo de folículos responder a uma elevação do FSH e ser incentivado ao crescimento. A cada ciclo menstrual, na fase lútea do ciclo precedente, a diminuição da progesterona, do estradiol e da inibina A, resultante da regressão do corpo lúteo, possibilita a elevação do FSH por feedback negativo, alguns dias antes da menstruação, o que permite o recrutamento folicular. Quando ocorre um crescimento folicular final e aumento significativo no núme- ro de células da granulosa, incentivado pelo FSH, surge o folículo secundário ou pré-antral. Caracteristicamente, nesse estágio, células da granulosa tornam-se cuboidais e apresentam-se em várias camadas. Secretam uma matriz glicoproteica, chamada de zona pelúcida. As células da granulosa do folículo pré-antral são capa- zes de sintetizar todas as três classes de esteroides, no entanto, são produzidos sig- nificativamente mais estrogênios. Saiba mais! A produção de estrogênio pelo folículo pré-antral é explicada pelo sistema de duas células, duas gonadotrofinas. Nos folículos pré -antrais e antrais, os receptores para o LH estão presentes apenas nas células da teca, e os receptores para o FSH apenas nas células da granulosa. As célu- las da teca, a partir da entrada do colesterol induzida pelo LH, são capazes de produzir androgênios, que são transportados às células da granulosa e lá são convertidos em estrogênios, através da aromatização induzida pelo FSH. Com o desenvolvimento em curso, e sob a influência sinérgica do estrogênio e do FSH, ocorre um aumento na produção do líquido folicular, que começa a se acumular entre as células da granulosa, que posteriormente se une, formando uma cavidade cheia de líquido rico em estrogênios produzidos pelas células da granulosa, essa cavidade é conhecida como antro. O folículo passa então a ser denominado folículo terciário ou antral. As células da granulosa que circundam os oócitos passam a ser chamadas de cumulus ooforus. O folículo que possui a maior taxa de proliferação da granulosa, contém concentrações de estrogênio mais elevadas e, consequentemen- te, possui oócitos de melhor qualidade. Na presença de FSH, o estrogênio passa a ser o elemento dominante no líquido foli- cular. Na ausência de FSH, o androgênio predomina. E um microambiente androgênico opõe-se à proliferação da granulosa e acarreta degeneração do oócito, gerando a atresia. Ciclo Menstrual 9 Se liga! Os estágios iniciais do desenvolvimento (até o folículo se- cundário) não exigem estimulação de gonadotrofinas e, por isso, são ditos “in- dependentes de gonadotrofinas”. A maturação folicular final exige a presença de quantidades adequadas de LH e FSH na circulação e, portanto, diz-se que é “dependente de gonadotrofinas”. No estágio final do desenvolvimento folicular, as células da granulosa tornam-se maiores e as da teca ricamente vascularizadas, e folículo é então denominado de pré-ovulatório. Aproximando-se da maturação, o folículo pré-ovulatório produz quan- tidades cada vez maiores de estrogênio. Durante a fase folicular tardia, o estrogênio eleva-se rapidamente, atingindo seu pico cerca de três dias antes da ovulação. O iní- cio do pico de LH ocorre um dia depois que o pico de estrogênio é atingido. É importante salientar que a concentração e o tempo de duração da elevação do estradiol são determinantes para a liberação do LH. Para tanto, a concentração de estradiol deve ser maior do que 200 pg/ml, que deve persistir por aproximadamente 50 horas. Atuando através de seus receptores, o LH promove luteinização das células da granulosa no folículo dominante, resultando na produção de progesterona. Há, então, um pequeno aumento na produção de progesterona que começa a ser detectado 12 horas antes da ovulação, e receptores para esse esteroide começam a surgir nas cé- lulas da granulosa. A progesterona facilita o feedback positivo do estrogênio, agindo diretamente na hipófise e contribuindo para a elevação do FSH e do LH, observada no meio do ciclo menstrual. As células da teca dos folículos em atresia, sob ação do LH, aumentam a produção de androgênio, elevando os níveis deste no plasma. Desenvolvimento folicular até a ovulação ESTÁGIO FOLÍCULO PROMORDIAL FOLÍCULO PRIMÁRIO FOLÍCULO SECUNDÁRIO FOLÍCULO TERCIÁRIO FOLÍCULO PRÉ- OVULATÓRIO SELECIONADO (Folículo dominante) Atividade Repouso Crescimento Crescimento, pré-antral Crescimento, antral Crescimento rápido Tamanho ≈ 0,03 mm ≈ 0,04 – 0,1 mm ≈ 0,01 – 0,2 mm ≈ 0,2 – 2 mm ≈ 5 mm até 20-30 mm Ciclo Menstrual 10 ESTÁGIO FOLÍCULO PROMORDIAL FOLÍCULO PRIMÁRIO FOLÍCULO SECUNDÁRIO FOLÍCULO TERCIÁRIO FOLÍCULO PRÉ- OVULATÓRIO SELECIONADO (Folículo dominante) Ovócito Pequeno ovó- cito primário (DNA 4n) Ovócito primá- rio aumentado Ovócito primá- rio aumentado Ovócito primá- rio aumentado A meiose com- pleta-se para formar o ovóci- to secundário (2n) e o corpús- culo polar (2n) Zona pelúcida* Aparece Presente Presente Presente Células da granulosa Células precursoras Camada única. O nº de células aumenta 3-6 camadas Múltiplas camadas Aumento no número de células Antro Desenvolve-se no interior da camada de células da gra- nulosa e é pre- enchido com líquido Aumento do tamanho Lâmina basal Presente Presente Presente Presente Presente Teca Aparece e co- meça a formar duas camadas Camada in- terna: células secretoras e pequenos va- sos sanguíneos Camada ex- terna: tecido conectivo, músculo liso, grandes vasos sanguíneos Vascularização Aparece Vasos sanguí- neos na teca Aumenta* A zona pelúcida é uma capa de glicoproteínas que protege o ovócito. Fonte: Adaptado de SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017. Ciclo Menstrual 11 Fase Ovulatória A ovulação acontece como consequência da ação simultânea de diversos meca- nismos que ocorrem no folículo dominante, estimulando sua maturação e induzindo a rotura folicular. Somente o folículo que atinge seu estágio final de maturação é capaz de se romper. O marcador fisiológico mais importante da aproximação da ovu- lação é o pico do LH no meio do ciclo, o qual é precedido por aumento acelerado do nível de estrogênio. Sabe-se que o folículo pré-ovulatório produz, com a síntese crescente de estra- diol, seu próprio estímulo ovulatório. O pico de estradiol estimula o pico de LH e, consequentemente, a ovulação. O início do pico de LH ocorre 32 a 36 horas antes da ovulação. No momento da ovulação, dentro do microambiente do folículo dominante, ocor- rem três fenômenos principais: • Recomeço da Meiose: O oócito permanece em meiose I até a onda de LH, quando ocorre a retomada da meiose e o oócito torna-se apto para fertilização. Portanto, o pico de LH faz o oócito reassumir a meiose, estimula a síntese de prostaglandinas e luteiniza as células da granulosa que, por sua vez, sintetizam a progesterona. Esse processo de retomada da meiose é mais uma interrupção da inibição do que propriamente um fenômeno estimulado. O oócito reassume a maturação nuclear, acontece a transição da prófase I para a metáfase I e a extrusão do primeiro corpúsculo polar na metáfase II. Esses fatos ocorrem em sincronia com a maturação citoplasmática e da zona pelúcida no preparo para a fecundação. A meiose só se completa após a penetração do espermatozoide e a liberação do segundo corpúsculo polar. • Luteinização: Um pequeno aumento da progesterona ocorre 12 a 24 horas an- tes da ovulação. Esse aumento da progesterona antes da ovulação tem impor- tância na indução da onda de FSH e LH, pelo aumento do feedback positivo do estradiol na ação desses hormônios. O pico do FSH acompanhado do LH não ocorre sem um aumento pré-ovulatório nos níveis da progesterona. Por outro lado, a elevação progressiva na progesterona pode atuar de modo a terminar o pico de LH, pois, sob concentrações mais elevadas, é exercido um efeito de feedback negativo. Além de seus efeitos centrais, a progesterona aumenta a distensibilidade da parede folicular. A parede torna-se delgada e estirada, e a expulsão do oócito ocorre após a ação de enzimas proteolíticas que digerem o colágeno. A produção dessas enzimas é induzida pela ação das gonadotrofinas (LH e FSH) e da progesterona. Ciclo Menstrual 12 • Ovulação: O processo de ovulação é comparado a uma reação inflamatória, na medida em que ambos envolvem componentes, como neutrófilos, histamina, bradicinina, enzimas e citocinas. Desde a fase folicular, sob ação das gonado- trofinas no folículo, há acúmulo de prostaglandinas E e F e produção de grande quantidade de fator ativador de plasminogênio, consequentemente plasmina e outras proteases, as quais ativam a colagenase que irá digerir o colágeno pre- sente na parede do folículo, o que facilita a liberação do oócito. O FSH e LH estimulam também a produção e o depósito de ácido hialurônico em volta do oócito e dentro da coroa radiada, dispersam e separam o complexo cúmulo -oóforo da membrana da granulosa. Sob ação sinérgica das prostaglandinas E e F e do LH, acontece contração das células musculares da parede folicular, já enfraqueci- da, com extrusão do oócito, ocorrendo, dessa forma, a ovulação. Paralelamente às mudanças estruturais que ocorrem durante o processo ovulató- rio, que envolvem a ação das proteases, ocorrem modificações importantes no fluxo sanguíneo do ovário. Vários mediadores produzidos e liberados pelo ovário após o pico pré-ovulatório de LH, como as prostaglandinas, a histamina, os neuropeptídios e o óxido nítrico, exercem um efeito sobre o sistema vascular do folículo. Observa-se, então, um aumento do fluxo sanguíneo intrafolicular, além de um aumento na perme- abilidade capilar. A rotura folicular se acompanha de eliminação do óvulo e do líquido folicular para a cavidade peritoneal. Pode haver uma irritação local e, consequente- mente, a dor abdominal referida por algumas mulheres. Tão logo isso ocorra, o óvulo é apreendido pelas fímbrias tubárias, e fica à mercê dos movimentos das tubas e do epitélio ciliar. Estudos ultrassonográficos realizados em mulheres demonstraram que a ovula- ção não ocorre em lados alternados, mas ocorre aleatoriamente em qualquer ovário (Baird, 1987). Ciclo Menstrual 13 Fase Lútea Fase lútea ESTÁGIO CORPO LÚTEO CORPO ALBICANTE PÓS-LUTEAL Atividade Secreta hormônios Nenhuma Tamanho Ovócito Nenhum Nenhum Zona pelúcida* Nenhuma Nenhuma Células da granulosa Convertidas em células lúteas As células lúteas degeneram Antro Preenchido com células migratórias Nenhum Lâmina basal Desaparece Teca Convertidas em células lúteas As células lúteas degeneram Vascularização Aumenta Desaparece * A zona pelúcida é uma capa de glicoproteínas que protege o ovócito. Fonte: Adaptado de SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017. Uma vez liberado o oócito, a estrutura dominante passa a se chamar corpo lúteo. Antes da ruptura do folículo e liberação do óvulo, as células da granulosa começam a aumentar de tamanho e assumem um aspecto caracteristicamente vacuolado, as- sociado ao acúmulo de um pigmento amarelado, a luteína. O aumento na vascularização local favorece o aporte do LDL-colesterol, substrato importante na síntese de progesterona. Sob influência de fatores que induzem a an- giogênese, os capilares penetram na granulosa, atingem a cavidade central e, usual- mente, preenchem-na com sangue. O funcionamento lúteo normal requer um desenvolvimento folicular pré-ovulatório adequado, sobretudo um estímulo apropriado de FSH e um ininterrupto apoio tônico do LH, o que resulta em síntese e secreção adequada de estradiol e progesterona. Sabe-se da necessidade de estrogênio para a síntese de receptores de progesterona no endométrio. O estrogênio da fase lútea é necessário para que ocorram as altera- ções induzidas pela progesterona no endométrio após a ovulação. Uma quantidade Ciclo Menstrual 14 inadequada de receptores de progesterona pode levar a uma preparação inadequada do endométrio, e representar, portanto, uma possível causa de abortamento precoce. A cada pulso de LH existe um aumento na concentração de progesterona. A pro- gesterona atua tanto centralmente quanto no interior do ovário, na supressão de no- vos crescimentos foliculares. Esses pulsos de LH são maiores no início da fase lútea e diminuem gradativamente até valores baixos na fase lútea tardia, que favorece a atuação de fatores que levam à luteólise. Como consequência, o corpo lúteo entra em processo de degeneração. Caso ocorra gravidez, o hCG mantém o funcionamen- to lúteo até que a esteroidogênese placentária se estabeleça plenamente. As fases de desenvolvimento folicular são abordadas na imagem seguinte: Figura 3: Anatomia ovariana e fases de desenvolvimento folicular. Fonte: udaix/Shutterstock.com Ciclo Menstrual 15 Figura 4: Controle hormonal do ciclo menstrual. AMH - Hormônio Antimulleriano. Fonte: Autoria própria MAPA MENTAL: CICLO OVARIANO Ciclo ovariano Fase LúteaFase Folicular Fase Ovulatória Folículo primordial Folículo pré-antral Folículo primário Folículo antral Folículo pré-ovulatório Desenvolvimento folicular Dominação do corpo lúteo após a liberação do oócito Ovulação a partir do pico de LH Recomeço da meiose Luteinização Ovulação Fonte: Elaborado pelo autor Ciclo Menstrual 16 Ciclo Endometrial Em um ciclo menstrual ovulatório ocorrem alterações anatômicas e funcionais específicas nos componentes glandulares, vasculares e estromais doendométrio. O endométrio pode ser dividido, do ponto de vista morfológico, na camada funcio- nal, que compreende os dois terços superiores, e na camada basal, que compreende o terço inferior. A finalidade da camada funcional é preparar-se para a implantação do embrião em fase de blastocisto. Se liga! Na fase proliferativa do ciclo menstrual, a produção aumen- tada de estrógenos provoca a reconstrução e o crescimento do endométrio. Na fase anterior, a descamação menstrual provocará a perda tecidual que será reconstituída nesta fase. As glândulas representam a porção mais responsiva do endométrio à ação estro- gênica. A princípio, elas são estreitas e tubulares, revestidas por células de epitélio colunar baixo. Mitoses tornam-se proeminentes e observa-se a pseudo-estratifica- ção, as glândulas tornam-se alongadas e um pouco tortuosas. Um revestimento epi- telial contínuo é formado de face para a cavidade endometrial. O componente estromal evolui a partir de sua condição menstrual através de um breve período de edema para um estado final semelhante a um sincício frouxo. As ar- teríolas espiraladas tornam-se finas. Todos os componentes tissulares demonstram proliferação, com pico nos dias 8 a 10 do ciclo. Essa proliferação é marcada por au- mento da atividade mitótica. O ciclo endometrial pode ser dividido em três fases histológicas, determinadas pelos diferentes estímulos dos hormônios produzidos pelos ovários: endométrio menstrual, endométrio proliferativo, endométrio secretor. O endométrio menstrual caracteriza-se por uma ruptura irregular do endométrio, que ocorre pela interrupção da secreção das glândulas endometriais na ausência de implantação embrionária. Essa sequência de eventos ocorre devido ao término da vida funcional do corpo lúteo, o que ocasiona a redução da produção de estrogênio e progesterona. A diminuição dos níveis desses hormônios leva a reações vasomoto- ras, à perda decidual e à menstruação. Os espasmos vasculares levam à isquemia e à perda de tecido. Há também ruptura de lisossomas e liberação de enzimas proteo- líticas que provocam destruição local adicional de tecido. Prostaglandinas são produzidas durante todo o ciclo menstrual, mas apresentam maior concentração no período menstrual. A PGF2alfa é um potente vasoconstrictor que intensifica os espasmos arteriolares, causa isquemia adicional do endométrio Ciclo Menstrual 17 e leva à ocorrência de contrações miometriais. Essas contrações podem servir para expelir fisicamente o tecido endometrial que descama do útero. Se liga! O fluxo menstrual é um resultado dos efeitos combinados da vasoconstricção prolongada, colapso tecidual, estase vascular e reparação induzida pela ação estrogênica. A camada basal do endométrio permanece in- tacta, e pode assim iniciar a reparação da camada funcional. O endométrio proliferativo corresponde à fase folicular no ovário. Após três a qua- tro dias de menstruação, o endométrio inicia sua regeneração, e cresce rapidamente em resposta ao estímulo estrogênico. No início, as glândulas endometriais são pe- quenas, tubulares e curtas. No final dessa fase, tornam-se alongadas e tortuosas. O estroma é denso. Outra característica importante é o aumento das células ciliadas e microvilosas, importantes para a fase seguinte do endométrio, a fase secretora. O endométrio secretor corresponde à fase lútea no ovário. Caracteriza-se pela atuação da progesterona produzida pelo corpo lúteo em contraposição à ação es- trogênica. As glândulas endometriais se encontram em processo progressivo de dilatação, tornando-se cada vez mais tortuosas. O estroma é edemaciado. Os va- sos sanguíneos apresentam-se espiralados. As células das glândulas endometriais formam vacúolos característicos, contendo glicogênio. No início, esses vacúolos aparecem sob o núcleo e depois seguem em direção à luz glandular. O estroma permanece inalterado até o sétimo dia após a ovulação, quando se inicia edema progressivo do tecido. Nesse mesmo período, a atividade secretora das glândulas costuma ser máxima e o endométrio já se encontra preparado para a implantação do blastocisto. Saiba mais! A expressão de receptores de estrogênio e progeste- rona também varia durante o ciclo menstrual. A concentração de Receptores de Estrogênio é alta na fase proliferativa e diminui após a ovulação, o que reflete a ação supressiva da progesterona sobre estes receptores. A concentração de Receptores de Progesterona é máxima durante a fase ovulatória, o que reflete a indução desses receptores pelo estradiol. Eles reduzem muito nas glândulas na fase lútea, mas continuam presentes no estroma. A imagem abaixo resume as fases do ciclo ovariano ocorrendo em concomitância com o ciclo endometrial, controlado pelos hormônios gonadotróficos: Ciclo Menstrual 18 Figura 5: Controle gonadotrófico dos ciclos ovariano e endometrial. Fonte: Slave SPB/shutterstock.com MAPA MENTAL: CICLO ENDOMETRIAL Ciclo Endometrial Endométrio ProliferativoEndométrio Menstrual Endométrio Secretor Descamação irregular do endométrio devido a redução de estrógeno e progesterona Regeneração do endométrio após a descamação Preparação para que o embrião possa se implantar. Fonte: Elaborado pelo autor Ciclo Menstrual 19 MAPA MENTAL GERAL Fisiologia Primeiro dia da menstruação = primeiro dia do cicloRegulação endócrina Duração aprox. 28 dias. GnRH FSH e LH Estrogênio, progesterona, estrona, androstenediona e 17a−hidroxiprogesterona Hipófise Ovários Hipotálamo Atividade secretora máxima Atuação da progesterona produzida pelo corpo lúteo em contraposição à ação estrogênica Maior produção de prostaglandinas Vasos sanguíneos apresentam-se espiraladosAusência de implantação embrionária Redução da pro- dução de estrogênio e progesterona Glândulas endometriais → progressivo de dilatação, tornando-se cada vez mais tortuosas Corresponde à fase lútea no ovário Endométrio ProliferativoEndométrio SecretorEndométrio Menstrual Ciclo endometrial Isquemia adicional do endométrio e leva à ocorrência de contrações miometriais Vasoconstricção Interrupção da secreção das glândulas endometriais Ruptura irregular do endométrio Corresponde à fase folicular no ovário O endométrio cresce rapidamente em resposta ao estímulo estrogênico Há aumento das células ciliadas e microvilosas Glândulas endometriais são pequenas, tubulares e curtas Glândulas endometriais tornam-se alongadas e tortuosas Início Final Ciclo ovariano Fase Folicular Células da granulosa tornam- se cuboidais e apresentam- se em várias camadas São capazes de sintetizar todas as três classes de esteroides Mais estrogênios Inibem FSH e LH Aumento na produção do líquido folicular Aumento significativo no número de células da granulosa Células granulosas achatadas Dura cerca de 10 a 14 dias Rico em estrogênios produzidos pelas células da granulosa Possui a maior taxa de proliferação da granulosa Cavidade cheia de líquido Células da granulosa tornam- se maiores Células da teca ricamente vascularizadas Produz quantidades cada vez maiores de estrogênio Pré-ovulatório Folículo primário Ocorre do primeiro dia da menstruação até o dia do pico de LH Primeira fase do ciclo menstrual Antral Diferenciação da teca interna e teca externa Células da granulosa cuboides e + numerosas Avasculares Gerados durante a vida fetal Oócitos suspensos na 1ª divisão meiótica Folículo primordial Folículo pré-antral Fase Lútea Células da teca e da granulosa são convertidas em células lúteas Aumento da secreção de estrogênio, progesterona e inibina 12 a 24 H antes da ovulação Onda de FSH e LH 32 a 36H antes da ovulação Contração das células musculares da parede folicular Pico do LH Aumento da progesterona Prostaglan-dinas + LH Aumento acelerado do nível de estrogênio Luteinização Recomeço da Meiose Ovulação Fase Ovulatória Fase Lútea tardia Diminuiçãoda secreção de estrogênio e progesterona Fonte: Elaborado pelo autor Ciclo Menstrual 20 REFERÊNCIAS Hoffman BL, Schorge JO, Schaffer JI. Ginecologia de Williams. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. Camargos AF, Melo VH de. Ginecologia ambulatorial. 2. ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2008. Silverthorn DU. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Por to Alegre. 2017. sanarflix.com.br Copyright © SanarFlix. Todos os direitos reservados. Sanar Rua Alceu Amoroso Lima, 172, 3º andar, Salvador-BA, 41820-770
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