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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Eixo Hipotálamo-hipófise-gônadas.................... 3 3. Fisiologia do Ciclo Menstrual ................................. 6 Referências Bibliográficas ........................................20 3CICLO MENSTRUAL 1. INTRODUÇÃO Define-se ciclo menstrual normal como aquele com 28 ± 7 dias, fluxo durando 4 ± 2 dias, e perda média de 20 a 60 mL de sangue. Por conven- ção, o primeiro dia de sangramento vaginal é considerado o primeiro dia do ciclo menstrual. Os intervalos en- tre ciclos menstruais variam entre as mulheres e, com frequência, em uma mesma mulher em épocas diferentes de sua vida reprodutiva. O ciclo mens- trual varia menos entre 20 e 40 anos de idade. Quando observado sob a perspectiva da função ovariana, o ciclo menstrual pode ser definido em fase folicular pré-ovulatória e fase lútea pós-ovulatória. As fases correspon- dentes no endométrio denominam-se fase proliferativa e fase secretora. Para a maioria das mulheres, a fase lútea do ciclo menstrual é estável, durando en- tre 13 e 14 dias. Consequentemente, variações no período do ciclo normal geralmente resultam de variações na duração da fase folicular. 2. EIXO HIPOTÁLAMO- HIPÓFISE-GÔNADAS O clico menstrual é consequência da interação entre três entidades ana- tômicas: hipotálamo, hipófise, ovário e útero. Embora seja evidente que o hipotálamo desempenha um papel central na iniciação do ciclo mens- trual, está igualmente claro que a ci- clicidade endócrina é consequência da relação de feedback entre a secre- ção ovariana e o eixo hipotálamo-hi- pófise. O útero desempenha um pa- pel eminentemente passivo, apesar de sua importância na concepção. Hipotálamo O hipotálamo encontra-se na base do cérebro, imediatamente acima da junção dos nervos ópticos. Seus neurônios são especialmente impor- tantes na produção dos hormônios: hormônio liberador de gonadotrofi- nas (GnRH), hormônio liberador do hormônio de crescimento (GHRH), hormônio liberador de corticotrofinas (CRF), hormônio liberador de tireotro- finas (TRH). Em relação à produção do GnRH, O hipotálamo é influenciado tanto por sinais extrínsecos e intrín- secos ao SNC, quanto pelo controle do ovário. A influência exercida pela secreção ovariana sobre o hipotála- mo é denominada de feedback, sen- do este positivo quando os esteroides ovarianos estimulam a produção do GnRH, e negativo quando a secreção ovariana inibe a produção do GnRH. Além disso, o próprio GnRH controla sua produção, agindo diretamente no hipotálamo, então quando está dispo- nível em grande quantidade ele atua reduzindo sua produção, já quando está presente em níveis baixos, age estimulando sua liberação. O hormônio liberador de gonadotrofi- nas (GnRH), produzido no hipotálamo, 4CICLO MENSTRUAL exerce papel obrigatório no controle da secreção de gonadotrofinas, como o próprio nome indica. Sendo respon- sável pela indução da liberação des- tas substâncias pela hipófise anterior. O hipotálamo apresenta ciclos carac- terísticos de liberação de seus produ- tos (GnRH, TRH, ACTH etc.) devido a centros tipo marcapasso. Algumas dessas substâncias são liberadas pe- riodicamente. Outras, em ciclos circa- dianos, que podem estar relaciona- dos a situações fisiológicas, como o ciclo do sono ou ingestão de alimen- tos, entre outros estímulos. Quanto à função reprodutiva, o GnRH é o principal hormônio. Na mulher, ele é liberado de uma forma pulsátil, sendo sua periodicidade e amplitude críticas para determinar a liberação correta e fisiológica do FSH e LH (produzidos na adenohipófise). Na menina, o centro hipotalâmico encontra-se bloqueado até o período da puberdade, quando ocorre sua liberação por razões ainda não bem estabelecidas, supondo-se haver a participação de fatores am- bientais, dos opióides endógenos, do peso corporal e da quantidade de gor- dura corporal, entre outros. Hipófise É uma glândula neuroendócrina si- tuada na sela túrcica, e é dividida em adeno-hipófise e neuro-hipófi- se. A adeno-hipófise é responsável pela secreção dos hormônios folícu- lo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH), hormônio estimulante da tireoi- de (TSH), hormônio adrenocortico- trófico (ACTH), hormônio de cresci- mento (GH) e prolactina (PRL). Já a neuro-hipófise secreta ocitocina e vasopressina. O GnRH age nas células gonadotró- ficas da hipófise anterior (adeno-hi- pófise), estimulando-as a sintetizar e secretar na corrente sanguínea tanto o FSH quanto o LH. No entanto, a se- creção de LH é, essencialmente, ca- racterizada por um pico no meio do ciclo menstrual. Já a secreção de FSH caracteriza-se por um aumento na fase folicular inicial, um platô na fase lútea e acentuada elevação na fase lú- tea tardia. Ou seja, as gonadotrofinas são secretadas de forma pulsátil, com frequência e amplitude que variam de acordo com a fase do ciclo. Os hor- mônios esteroides, como o estradiol e a progesterona, ou fatores ovarianos não-esteroides, como a inibida, são os moduladores da secreção de LH e FSH. SE LIGA! O padrão pulsátil de liberação das gonadotrofinas é diretamente rela- cionado à secreção pulsátil de GnRH, mas a modulação da amplitude e da fre- quência são consequências do feedback dos esteroides ovarianos no hipotálamo e na hipófise. 5CICLO MENSTRUAL Ovários O ovário em funcionamento normal sintetiza e secreta hormônios este- roides sexuais – estrogênios, andro- gênios e progesterona – com padrão de controle preciso que, em parte, é determinado pelas gonadotrofinas hipofisárias, FSH e LH. Os produtos secretórios mais importantes da bios- síntese de esteroides pelos ovários são a progesterona e o estradiol. En- tretanto, o ovário também secreta estrona, androstenediona e 17a−hi- droxiprogesterona. Os hormônios esteroides sexuais desempenham papel importante no ciclo menstrual preparando o útero para implantação do óvulo fertilizado. Se a implantação não ocorrer, a esteroidogênese ova- riana declina, o endométrio degenera e ocorre a menstruação. FLUXOGRAMA DO CONTROLE HORMONAL Hipotálamo GnRH Hipófise LH FSH Ovários Estrogênio Progesterona 6CICLO MENSTRUAL Útero A parede uterina consiste em três ca- madas: serosa, a camada mais exter- na; miométrio, constituído de múscu- lo liso; e endométrio, a camada mais interna, subdividida em estroma e glândulas. As alterações cíclicas, in- duzidas pelos hormônios ovarianos, só se manifestam na camada mais superficial endométrio. O endométrio é composto por epitélio glandular, cuja estrutura varia de acordo com as fases do ciclo menstrual O miométrio é composto por músculo liso Tecido conectivo extremo Artéria uterina Figura 1. Estrutura do útero. Fonte: SILVER- THORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017. 3. FISIOLOGIA DO CICLO MENSTRUAL Podemos dividir, de uma forma di- dática, o ciclo menstrual em dois ci- clos que interagem e são interde- pendentes: ovariano e endometrial (menstrual). Ciclo Ovariano O ciclo ovariano pode ser dividido em três fases: fase folicular, fase ovulató- ria e fase lútea. 7CICLO MENSTRUAL Fase Folicular A fase folicular, ou proliferativa, é a primeira fase do ciclo menstrual, e ocorre do primeiro dia da menstrua- ção até o dia do pico de LH. Durante esta fase, ocorre uma sequência or- denada de eventos, que assegura que um número apropriado de folículos se desenvolva e esteja pronto para a ovulação. O resultado final desse de- senvolvimento folicular é, comumen- te, um único folículo maduro viável, o qual passará pelos estágios de folícu- lo primordial, folículo primário, folícu- lo pré-antral, antral e pré-ovulatório. Este processo ocorre ao longo de 10 a 14 dias. SE LIGA! A duração do ciclo menstrual é determinada pela variação na duração da fase folicular, ou seja, o tempo neces- sário para que o folículo se desenvolva e atinja sua maturidade. O sinal parao recrutamento folicular inicia-se na fase lútea do ciclo ante- rior, com a diminuição da progestero- na, do estradiol e da inibina A. Como consequência, o feedback negativo sobre o FSH é liberado, observa-se então seu aumento nos primeiros dias da fase folicular. Este aumento é o sinal para o recrutamento folicular. Aproximadamente 15 ou mais folícu- los são recrutados a cada ciclo. Desenvolvimento Folicular: O de- senvolvimento folicular inicia-se com os folículos primordiais gerados du- rante a vida fetal. Esses folículos nada mais são que oócitos suspensos na primeira divisão meiótica, circunda- dos por uma camada única de células granulosas achatadas. São separados do estroma por uma membrana basal delgada. Os folículos pré-ovulatórios são avasculares. Consequentemen- te, são criticamente dependentes da difusão e, no final do seu desenvolvi- mento, de junções comunicantes para obtenção de nutrientes e eliminação de excretas metabólicas. A difusão também permite a passagem dos precursores de esteroides da camada de células tecais para a camada de células da granulosa. No estágio seguinte do desenvol- vimento, as células da granulosa se tornam cuboides e aumentam em número para formar uma camada pseudoestratificada. Nesse momen- to, o folículo é denominado folículo primário. Uma importante mudança que ocorre nesta fase é a diferencia- ção das células do estroma em teca interna e teca externa, que independe da estimulação pelas gonadotrofinas. Há um padrão de crescimento limita- do, que pode ser rapidamente segui- do de atresia. Esse padrão só é inter- rompido se, a partir deste estágio, o grupo de folículos responder a uma elevação do FSH e ser incentivado ao crescimento. A cada ciclo mens- trual, na fase lútea do ciclo preceden- te, a diminuição da progesterona, do 8CICLO MENSTRUAL estradiol e da inibina A, resultante da regressão do corpo lúteo, possibilita a elevação do FSH por feedback ne- gativo, alguns dias antes da menstru- ação, o que permite o recrutamento folicular. Quando ocorre um crescimento fo- licular final e aumento significativo no número de células da granulo- sa, incentivado pelo FSH, surge o folículo secundário ou pré-antral. Caracteristicamente, nesse está- gio, células da granulosa tornam-se cuboidais e apresentam-se em várias camadas. Secretam uma matriz glico- proteica, chamada de zona pelúcida. As células da granulosa do folículo pré-antral são capazes de sintetizar todas as três classes de esteroides, no entanto, são produzidos significa- tivamente mais estrogênios. SAIBA MAIS! A produção de estrogênio pelo folículo pré-antral é explicada pelo sistema de duas células, duas gonadotrofinas. Nos folículos pré-antrais e antrais, os receptores para o LH estão pre- sentes apenas nas células da teca, e os receptores para o FSH apenas nas células da granu- losa. As células da teca, a partir da entrada do colesterol induzida pelo LH, são capazes de produzir androgênios, que são transportados às células da granulosa e lá são convertidos em estrogênios, através da aromatização induzida pelo FSH. Com o desenvolvimento em curso, e sob a influência sinérgica do estrogê- nio e do FSH, ocorre um aumento na produção do líquido folicular, que co- meça a se acumular entre as células da granulosa, que posteriormente se une, formando uma cavidade cheia de líquido rico em estrogênios produ- zidos pelas células da granulosa, esta cavidade é conhecida como antro. O folículo passa então a ser denomi- nado folículo terciário ou antral. As células da granulosa que circundam os oócitos passam a ser chamadas de cumulus ooforus. O folículo que possui a maior taxa de proliferação da granulosa, contém concentra- ções de estrogênio mais elevadas e, consequentemente, possui oócitos de melhor qualidade. Na presença de FSH, o estrogênio pas- sa a ser o elemento dominante no lí- quido folicular. Na ausência de FSH, o androgênio predomina. E um microam- biente androgênico opõe-se à prolife- ração da granulosa e acarreta degene- ração do oócito, gerando a atresia. SE LIGA! Os estágios iniciais do desen- volvimento (até o folículo secundário) não exigem estimulação de gonadotrofi- nas e, por isso, são ditos “independentes de gonadotrofinas”. A maturação folicu- lar final exige a presença de quantidades adequadas de LH e FSH na circulação e, portanto, diz-se que é “dependente de gonadotrofinas”. 9CICLO MENSTRUAL Dias a partir do pico de LH U I/ L No estágio final do desenvolvimen- to folicular, as células da granulosa tornam-se maiores e as da teca ri- camente vascularizadas, e folículo é então denominado de pré-ovulató- rio. Aproximando-se da maturação, o folículo pré-ovulatório produz quan- tidades cada vez maiores de estro- gênio. Durante a fase folicular tardia, o estrogênio eleva-se rapidamente, atingindo seu pico cerca de três dias antes da ovulação. O início do pico de LH ocorre um dia depois que o pico de estrogênio é atingido. É importante salientar que a concen- tração e o tempo de duração da ele- vação do estradiol são determinantes para a liberação do LH. Para tanto, a concentração de estradiol deve ser maior do que 200 pg/ml, que deve persistir por aproximadamente 50 horas. Figura 2. Alterações nos níveis de gonadotrofinas em um ciclo mens- trual normal. Fonte: Ginecologia de Williams, 2014. Atuando através de seus recepto- res, o LH promove luteinização das células da granulosa no folículo do- minante, resultando na produção de progesterona. Há, então, um pequeno aumento na produção de progestero- na que começa a ser detectado 12 horas antes da ovulação, e receptores para este esteroide começam a surgir nas células da granulosa. A progesterona facilita o feedback positivo do estrogênio, agindo dire- tamente na hipófise e contribuindo para a elevação do FSH e do LH, ob- servada no meio do ciclo menstrual. As células da teca dos folículos em atresia, sob ação do LH, aumentam a produção de androgênio, elevando os níveis deste no plasma. 10CICLO MENSTRUAL ESTÁGIO FOLÍCULO PROMOR- DIAL FOLÍCULO PRIMÁRIO FOLÍCULO SECUNDÁRIO FOLÍCULO TERCIÁRIO FOLÍCULO PRÉ-OVULATÓRIO SELECIONADO (FOLÍCULO DOMINANTE) Atividade Repouso Crescimento Crescimento, pré-antral Crescimento, antral Crescimento rápido Tamanho ≈ 0,03 mm ≈ 0,04 – 0,1 mm ≈ 0,01 – 0,2 mm ≈ 0,2 – 2 mm ≈ 5 mm até 20-30 mm Ovócito Pequeno ovócito pri- mário (DNA 4n) Ovócito primá- rio aumentado Ovócito primá- rio aumentado Ovócito primário aumentado A meiose completa-se para formar o ovócito secundário (2n) e o corpúsculo polar (2n) Zona pelúcida* Aparece Presente Presente Presente Células da granulosa Células precursoras Camada única. O nº de células aumenta 3-6 camadas Múltiplas camadas Aumento no número de células Antro Desenvolve-se no interior da camada de células da granulosa e é preenchido com líquido Aumento do tamanho Lâmina basal Presente Presente Presente Presente Presente Teca Aparece e co- meça a formar duas camadas Camada interna: células secretoras e pequenos vasos sanguíneos Camada externa: teci- do conectivo, músculo liso, grandes vasos sanguíneos Vascularização Aparece Vasos sanguíneos na teca Aumenta * A zona pelúcida é uma capa de glicoproteínas que protege o ovócito Tabela 1. Desenvolvimento folicular até a ovulação. Adaptado de SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017. 11CICLO MENSTRUAL Fase Ovulatória A ovulação acontece como consequ- ência da ação simultânea de diversos mecanismos que ocorrem no folículo dominante, estimulando sua matura- ção e induzindo a rotura folicular. So- mente o folículo que atinge seu está- gio final de maturação é capaz de se romper. O marcador fisiológico mais importante da aproximação da ovula- ção é o pico do LH no meio do ciclo, o qual é precedido por aumento acele- rado do nível de estrogênio. Sabe-se que o folículo pré-ovulatórioproduz, com a síntese crescente de estradiol, seu próprio estímulo ovu- latório. O pico de estradiol estimula o pico de LH e, consequentemente, a ovulação. O início do pico de LH ocor- re 32 a 36 horas antes da ovulação. No momento da ovulação, dentro do microambiente do folículo dominante, ocorrem três fenômenos principais: • Recomeço da Meiose: O oócito permanece em meiose I até a onda de LH, quando ocorre a retoma- da da meiose e o oócito torna-se apto para fertilização. Portanto, o pico de LH faz o oócito reassumir a meiose, estimula a síntese de pros- taglandinas e luteiniza as células da granulosa que, por sua vez, sin- tetizam a progesterona. Este pro- cesso de retomada da meiose é mais uma interrupção da inibição do que propriamente um fenôme- no estimulado. O oócito reassume a maturação nuclear, acontece a transição da prófase I para a me- táfase I e a extrusão do primeiro corpúsculo polar na metáfase II. Estes fatos ocorrem em sincronia com a maturação citoplasmática e da zona pelúcida no preparo para a fecundação. A meiose só se com- pleta após a penetração do esper- matozoide e a liberação do segun- do corpúsculo polar. • Luteinização: Um pequeno au- mento da progesterona ocorre 12 a 24 horas antes da ovulação. Este aumento da progesterona antes da ovulação tem importância na indução da onda de FSH e LH, pelo aumento do feedback positivo do estradiol na ação desses hormô- nios. O pico do FSH acompanha- do do LH não ocorre sem um au- mento pré-ovulatório nos níveis da progesterona. Por outro lado, a elevação progressiva na progeste- rona pode atuar de modo a termi- nar o pico de LH, pois, sob concen- trações mais elevadas, é exercido um efeito de feedback negativo. Além de seus efeitos centrais, a progesterona aumenta a distensi- bilidade da parede folicular. A pa- rede torna-se delgada e estirada, e a expulsão do oócito ocorre após a ação de enzimas proteolíticas que digerem o colágeno. A pro- dução dessas enzimas é induzida pela ação das gonadotrofinas (LH e FSH) e da progesterona. 12CICLO MENSTRUAL • Ovulação: O processo de ovula- ção é comparado a uma reação inflamatória, na medida em que ambos envolvem componentes, como neutrófilos, histamina, bradi- cinina, enzimas e citocinas. Desde a fase folicular, sob ação das gona- dotrofinas no folículo, há acúmulo de prostaglandinas E e F e produ- ção de grande quantidade de fator ativador de plasminogênio, con- sequentemente plasmina e outras proteases, as quais ativam a cola- genase que irá digerir o colágeno presente na parede do folículo, o que facilita a liberação do oócito. O FSH e LH estimulam também a pro- dução e o depósito de ácido hialurô- nico em volta do oócito e dentro da coroa radiada, dispersam e separam o complexo cúmulo-oóforo da mem- brana da granulosa. Sob ação sinér- gica das prostaglandinas E e F e do LH, acontece contração das células musculares da parede folicular, já enfraquecida, com extrusão do oócito, ocorrendo, dessa forma, a ovulação. Paralelamente às mudanças estrutu- rais que ocorrem durante o processo ovulatório, que envolvem a ação das proteases, ocorrem modificações im- portantes no fluxo sanguíneo do ová- rio. Vários mediadores produzidos e liberados pelo ovário após o pico pré-ovulatório de LH, como as pros- taglandinas, a histamina, os neuro- peptídios e o óxido nítrico, exercem um efeito sobre o sistema vascular do folículo. Observa-se, então, um au- mento do fluxo sanguíneo intrafolicu- lar, além de um aumento na perme- abilidade capilar. A rotura folicular se acompanhar de eliminação do óvulo e do líquido folicular para a cavidade peritoneal. Pode haver uma irritação local e, consequentemente, a dor ab- dominal referida por algumas mulhe- res. Tão logo isso ocorra, o óvulo é apreendido pelas fímbrias tubárias, e fica à mercê dos movimentos das tu- bas e do epitélio ciliar. SAIBA MAIS! Estudos ultrassonográficos realizados em mulheres demonstraram que a ovulação não ocor- re em lados alternados, mas ocorre aleatoriamente em qualquer ovário (Baird, 1987). 13CICLO MENSTRUAL Fase Lútea ESTÁGIO CORPO LÚTEO CORPO AL- BICANTE PÓS-LUTEAL Atividade Secreta hormônios Nenhuma Tamanho Ovócito Nenhum Nenhum Zona pelúcida* Nenhuma Nenhuma Células da granulosa Convertidas em células lúteas As células lúteas degeneram Antro Preenchido com células migratórias Nenhum Lâmina basal Desaparece Teca Convertidas em células lúteas As células lúteas degeneram Vascularização Aumenta Desaparece * A zona pelúcida é uma capa de glicoproteínas que protege o ovócito Tabela 2. Fase lútea. Adaptado de SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem inte- grada. 7. ed. Porto Alegre. 2017. Uma vez liberado o oócito, a estru- tura dominante passa a se chamar corpo lúteo. Antes da ruptura do fo- lículo e liberação do óvulo, as células da granulosa começam a aumentar de tamanho e assumem um aspecto caracteristicamente vacuolado, as- sociado ao acúmulo de um pigmento amarelado, a luteína. O aumento na vascularização local favorece o aporte do LDL-coleste- rol, substrato importante na síntese de progesterona. Sob influência de fatores que induzem a angiogênese, os capilares penetram na granulosa, atingem a cavidade central e, usual- mente, preenchem-na com sangue. O funcionamento lúteo normal re- quer um desenvolvimento folicular pré-ovulatório adequado, sobretu- do um estímulo apropriado de FSH e um ininterrupto apoio tônico do LH, o que resulta em síntese e secreção adequada de estradiol e progestero- na. Sabe-se da necessidade de es- trogênio para a síntese de receptores de progesterona no endométrio. O estrogênio da fase lútea é necessário para que ocorram as alterações indu- zidas pela progesterona no endomé- trio após a ovulação. Uma quantidade inadequada de receptores de proges- terona pode levar a uma preparação inadequada do endométrio, e repre- sentar, portanto, uma possível causa de abortamento precoce. 14CICLO MENSTRUAL A cada pulso de LH existe um aumen- to na concentração de progesterona. A progesterona atua tanto central- mente quanto no interior do ovário, na supressão de novos crescimentos foliculares. Estes pulsos de LH são maiores no início da fase lútea e di- minuem gradativamente até valores baixos na fase lútea tardia, que favo- rece a atuação de fatores que levam à luteólise. Como consequência, o cor- po lúteo entra em processo de dege- neração. Caso ocorra gravidez, o hCG mantém o funcionamento lúteo até que a esteroidogênese placentária se estabeleça plenamente. As fases de desenvolvimento folicular são abordadas na imagem seguinte: Figura 3. Anatomia ovariana e fases de desenvolvimento folicular. Fonte: Ginecologia de Williams, 2014. 15CICLO MENSTRUAL (a) Fase folicular inicial Baixos níveis de estrogênio exercem retroalimentação negativa sobre GnRH, o FSH e o LH. O estrogênio promove maior secreção de estrogênio pelo folículo. O AMH previne que mais folículos de desenvolvam. (a) Fase folicular tardia e ovulação Níveis elevados de estrogênio somados ao nível crescente de progesterona causam o pico de LH. O FSH é suprimido pela inibina. (a) Fase lútea inicial A combinação de estrogênio e progesterona inibe o FSH e o LH. (a) Fase lútea tardia O estrogênio e a progesterona decaem quando o corpo lúteo degenera. As gonadotrofinas iniciam o desenvolvimento de um novo ciclo. MAPA MENTAL: CICLO OVARIANO Recomeço da meiose Luteinização Ovulação Folículo primordial Folículo primário Folículo pré-antral Folículo antral Folículo pré-ovulatório Ciclo ovariano Fase Folicular Fase Ovulatória Fase Lútea Desenvolvimento folicular Ovulação a partir do pico de LH Dominação do corpo lúteo após a liberação do oócito Figura 4. Controle hor- monal do ciclo mens- trual. AMH - Hormônio Antimulleriano. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia hu- mana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017. 16CICLO MENSTRUALCiclo Endometrial Em um ciclo menstrual ovulatório ocorrem alterações anatômicas e fun- cionais específicas nos componentes glandulares, vasculares e estromais do endométrio. O endométrio pode ser dividido, do ponto de vista morfológico, na ca- mada funcional, que compreende os dois terços superiores, e na camada basal, que compreende o terço infe- rior. A finalidade da camada funcional é preparar-se para a implantação do embrião em fase de blastocisto. SE LIGA! Na fase proliferativa do ciclo menstrual, a produção aumentada de estrógenos provoca a reconstrução e o crescimento do endométrio. Na fase an- terior, a descamação menstrual provo- cará a perda tecidual que será reconsti- tuída nesta fase. As glândulas representam a por- ção mais responsiva do endométrio à ação estrogênica. A princípio, elas são estreitas e tubulares, revestidas por células de epitélio colunar baixo. Mitoses tornam-se proeminentes e observa-se a pseudo-estratificação, as glândulas tornam-se alongadas e um pouco tortuosas. Um revestimen- to epitelial contínuo é formado de face para a cavidade endometrial. O componente estromal evolui a par- tir de sua condição menstrual atra- vés de um breve período de edema para um estado final semelhante a um sincício frouxo. As arteríolas es- piraladas tornam-se finas. Todos os componentes tissulares demonstram proliferação, com pico nos dias 8 a 10 do ciclo. Esta proliferação é marcada por aumento da atividade mitótica. O ciclo endometrial pode ser dividido em três fases histológicas, determi- nadas pelos diferentes estímulos dos hormônios produzidos pelos ovários: endométrio menstrual, endométrio proliferativo, endométrio secretor. O endométrio menstrual caracte- riza-se por uma ruptura irregular do endométrio, que ocorre pela interrup- ção da secreção das glândulas en- dometriais na ausência de implanta- ção embrionária. Esta sequência de eventos ocorre devido ao término da vida funcional do corpo lúteo, o que ocasiona a redução da produção de estrogênio e progesterona. A dimi- nuição dos níveis desses hormônios leva a reações vasomotoras, à perda decidual e à menstruação. Os espas- mos vasculares levam à isquemia e à perda de tecido. Há também ruptura de lisossomas e liberação de enzimas proteolíticas que provocam destrui- ção local adicional de tecido. Prostaglandinas são produzidas du- rante todo o ciclo menstrual, mas apresentam maior concentração no período menstrual. A PGF2alfa é um potente vasoconstrictor que intensi- fica os espasmos arteriolares, causa isquemia adicional do endométrio e 17CICLO MENSTRUAL leva à ocorrência de contrações mio- metriais. Estas contrações podem servir para expelir fisicamente o te- cido endometrial que descama do útero. SE LIGA! O fluxo menstrual é um resul- tado dos efeitos combinados da vaso- constricção prolongada, colapso tecidu- al, estase vascular e reparação induzida pela ação estrogênica. A camada basal do endométrio permanece intacta, e pode assim iniciar a reparação da cama- da funcional. O endométrio proliferativo corres- ponde à fase folicular no ovário. Após três a quatro dias de menstruação, o endométrio inicia sua regeneração, e cresce rapidamente em respos- ta ao estímulo estrogênico. No início, as glândulas endometriais são pe- quenas, tubulares e curtas. No final desta fase, tornam-se alongadas e tortuosas. O estroma é denso. Outra característica importante é o aumen- to das células ciliadas e microvilosas, importantes para a fase seguinte do endométrio, a fase secretora. O endométrio secretor corresponde à fase lútea no ovário. Caracteriza-se pela atuação da progesterona produ- zida pelo corpo lúteo em contraposi- ção à ação estrogênica. As glândulas endometriais se encontram em pro- cesso progressivo de dilatação, tor- nando-se cada vez mais tortuosas. O estroma é edemaciado. Os vasos sanguíneos apresentam-se espira- lados. As células das glândulas en- dometriais formam vacúolos carac- terísticos, contendo glicogênio. No início, estes vacúolos aparecem sob o núcleo e depois seguem em direção à luz glandular. O estroma permane- ce inalterado até o sétimo dia após a ovulação, quando se inicia edema progressivo do tecido. Nesse mes- mo período, a atividade secretora das glândulas costuma ser máxima e o endométrio já se encontra preparado para a implantação do blastocisto. SAIBA MAIS! A expressão de receptores de estrogênio e progesterona também varia durante o ciclo mens- trual. A concentração de Receptores de Estrogênio é alta na fase proliferativa e diminui após a ovulação, o que reflete a ação supressiva da progesterona sobre estes receptores. A con- centração de Receptores de Progesterona é máxima durante a fase ovulatória, o que reflete a indução desses receptores pelo estradiol. Eles reduzem muito nas glândulas na fase lútea, mas continuam presentes no estroma. 18CICLO MENSTRUAL A imagem abaixo resume as fa- ses do ciclo ovariano ocorren- do em concomitância com o ciclo MAPA MENTAL: CICLO ENDOMETRIAL Ciclo Endometrial Endométrio Menstrual Endométrio Proliferativo Endométrio Secretor Descamação irregular do endométrio devido a redução de estrógeno e progesterona Regeneração do endométrio após a descamação Preparação para que o embrião possa se implantar. endometrial, controlado pelos hormô- nios gonadotróficos: Figura 5. Controle gonadotrófico dos ciclos ovariano e endometrial. Fonte: Ginecologia de Williams, 2014 19CICLO MENSTRUAL MAPA MENTAL GERAL GnRH FSH e LH Ciclo endometrial Corresponde à fase lútea no ovário Vasos sanguíneos apresentam-se espiralados Inibem FSH e LH Diminuição da secreção de estrogênio e progesterona Pré-ovulatório Mais estrogênios Estrogênio, progesterona, estrona, androstenediona e 17a−hidroxiprogesterona Aumento acelerado do nível de estrogênio Prostaglan- dinas + LH Contração das células musculares da parede folicular Aumento da progesterona 12 a 24 H antes da ovulação Onda de FSH e LH Pico do LH 32 a 36H antes da ovulação Folículo primordial Folículo primário Folículo pré-antral Primeira fase do ciclo menstrual Dura cerca de 10 a 14 dias Ocorre do primeiro dia da menstruação até o dia do pico de LH Células da granulosa tornam-se maiores Células da teca ricamente vascularizadas Produz quantidades cada vez maiores de estrogênio Fase Folicular Cavidade cheia de líquido Possui a maior taxa de proliferação da granulosa Rico em estrogê- nios produzi- dos pelas células da granu- losa Antral Aumento significativo no número de células da granulosa Aumento na produção do líquido folicular Avasculares Células granulosas achatadas Gerados durante a vida fetal Fisiologia Hipotálamo Hipófise Ovários Primeiro dia da menstruação = primeiro dia do ciclo Duração aprox. 28 dias. Regulação endócrina Glândulas endometriais são pequenas, tubulares e curtas Glândulas endometriais tornam-se alongadas e tortuosas Fase Ovulatória Recomeço da Meiose Luteinização Ovulação Células da teca e da granulosa são convertidas em células lúteas Aumento da secreção de estrogênio, progesterona e inibina Fase Lútea tardiaFase Lútea Ciclo ovariano Células da granulosa tornam- se cuboidais e apresentam-se em várias camadas São capazes de sintetizar todas as três classes de esteroides Oócitos suspensos na 1ª divisão meiótica Células da granulosa cuboides e + numerosas Diferenciação da teca interna e teca externa Endométrio Proliferativo Início Final Endométrio Secretor Corresponde à fase folicular no ovário O endométrio cresce rapidamente em resposta ao estímulo estrogênico Há aumento das células ciliadas e microvilosas Glândulas endometriais → progressivo de dilatação, tornando-se cada vez mais tortuosas Atuação da progesterona produzida pelo corpo lúteo em contraposição à ação estrogênica Atividade secretora máxima Ausência de implantação embrionária Redução da pro-dução de estrogênio e progesterona Maior produção de prostaglandinas Interrupção da secreção das glândulas endometriais Ruptura irregular do endométrio Vasoconstricção Isquemia adicional do endométrio e leva à ocorrência de contrações miometriais Endométrio Menstrual 20CICLO MENSTRUAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Hoffman et al. Ginecologia de Williams. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. CAMARGOS, Aroldo Fernando; MELO, Victor Hugo de. Ginecologia ambulatorial. 2.ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2008. SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Por- to Alegre. 2017. 21CICLO MENSTRUAL
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