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VIVIANE DE PAULA Olá. Meu nome é Viviane de Paula. Sou formada em Letras, especializada em Revisão e Preparação Textual, com uma experiência técnico-profissional na área de docência e também na área de educação a distância, possuindo mais de oito anos de experiência nesses campos. Passei por empresas como a Kroton Educacional, na qual atuei na área de EaD, e no Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), em parceria com a Fundação Roberto Marinho, atuando como Instrutora de Aprendizagem Multidisciplinar para jovens e adultos. Sou apaixonada pela Educação e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nessa fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! A AUTORA Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: ICONOGRÁFICOS INTRODUÇÃO: para o início do desen- volvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessida- de de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações es- critas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e inda- gações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoaprendi- zagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Compreendendo os fundamentos epistemológicos, históricos e metodológicos ............................................. 12 Panorama histórico do ensino de Língua Portuguesa ........ 12 Transformações na metodologia de ensino de Língua Portuguesa ....................................................................... 15 Refletindo sobre o aprender e o ensinar na escola ........ 17 Texto como unidade de ensino: como utilizá-lo? .............. 18 Analisando os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas em língua portuguesa .................................... 21 Educação Infantil: objetivos, conteúdos e orientações didáticas ........................................................................... 21 Tratamento didático dos conteúdos pelo professor de Língua Portuguesa ....................................................................... 28 Processo de avaliação de aprendizagem para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental ............ 31 Panorama histórico da avaliação ...................................... 31 O que significa avaliar? ................................................... 34 O processo avaliativo na Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental .................................................... 37 Avaliação e os tipos de função ......................................... 40 Viviane de Paula .............................................................. 46 Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa ................. 46 Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 9 UNIDADE 01 FUNDAMENTOS DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa10 É de suma importância para aqueles que atuam nas escolas considerarem de forma contínua a reflexão de sua atuação docente para que suas práticas sejam aprimoradas e desenvolvidas. Esta disciplina se preocupa em compreender os Fundamentos do Ensino de Língua Portuguesa e procura abrir caminhos para novas alternativas e formas de se pensar e fazer. Assim, vamos abordar os fundamentos epistemológicos, históricos e metodológicos, além de refletir sobre o aprender e o ensinar na escola, abordando os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas em língua portuguesa para a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental. Por fim, vamos ver o processo de avaliação de aprendizagem para a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 11 Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 1, nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender os fundamentos epistemológicos, históricos e metodológicos; 2. Refletir sobre o aprender e o ensinar na escola; 3. Analisar os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas em língua portuguesa para a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental; 4. Abordar o processo de avaliação de aprendizagem para a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental. Então? Preparado para adquirir conhecimento sobre um assunto fascinante e inovador como esse? Vamos lá! OBJETIVOS Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa12 Compreendendo os fundamentos epistemológicos, históricos e metodológicos Podemos perceber que no Brasil, em suma, é priorizado o ensino da língua materna a partir da gramática tradicional, ou seja, da norma culta. Não é raro ouvirmos afirmações de que saber a gramática é dominar completamente a Língua Portuguesa, isto é, comunicar-se efetivamente nas mais diversas esferas comunicativas. Bentes e Mussalim (1997) denominam essas práticas que privilegiam a gramática de visão formalista da língua, aquela que se atém aos aspectos normativos e como eles se relacionam entre isso. Essa priorização da gramática pode ser como uma tradição história, que está embasada em uma concepção de caráter clássico da língua, que muitas vezes desconsidera as interações comunicativas e a diversidade linguística que possuímos em nosso país. Essa concepção de que saber português se dá pelo domínio da gramática tem seu cerne estabelecido com a chegada dos jesuítas no Brasil. EXPLICANDO MELHOR: A priorização da gramática no ensino brasileiro teve sua base fundamentada com a chegada dos jesuítas, que propuseram em seu ensino o aperfeiçoamento do português que encontraram entre os índios que habitavam nossas terras. Assim, permitiam somente que professores que tivessem aprendido e tivessem completo domínio da gramática normativa, apenas ensinassem gramática, completando, assim, uma tradição normativa com poucas perspectivas de mudanças. Panorama histórico do ensino de Língua Portuguesa A exaltação da gramática no ensino brasileiro foi sendo reforçada por algumas normas legislativas no decorrer dos tempos. Lima (1985) Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 13 cita que, por exemplo, em 1959 tivemos a portaria 36, do Ministério da Educação e Cultura (MEC) que, em suma, disciplina a adoção da Nomenclatura Gramatical Brasileira, bem como recomendava que esta fosse usada em um ensino de caráter programático, como também previa exercícios constantes de verificação da aprendizagem. Figura 1 Fonte: Pixabay A exaltação da gramática no ensino brasileiro foi sendo reforçada por algumas normas legislativas no decorrer dos tempos. Lima (1985) cita que, por exemplo, em 1959 tivemos a portaria 36, do Ministério da Educação e Cultura (MEC) que, em suma, disciplina a adoção da Nomenclatura Gramatical Brasileira, bem como recomendava que esta fosse usada em um ensino de caráter programático, como também previa exercícios constantes de verificação da aprendizagem.Ainda segundo esse estudioso, a Portaria 36 concebia grande relevância à revisão da doutrina gramatical com, por exemplo, exercícios de repetição; e também à realização de pesquisas constantemente, para verificar os equívocos mais recorrentes em relação ao uso da gramática realizado pelos discentes. Nesse sentido, podemos perceber que não havia espaço para variação e diversidade linguística, sendo considerado plausível aquele aluno que meramente fizesse bom uso das regras e normas gramaticais; práticas essas bastante comuns no ensino tradicional. Essa portaria reforça, portanto, a importância da gramática em detrimento de outras Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa14 práticas pedagógicos que considerassem o aluno em sua totalidade linguística. Já a Lei 5.692/71, apesar de ter apresentado uma pequena evolução no quadro da legislação, também reproduzia uma situação bastante paradoxal do ensino da Língua Portuguesa. Em síntese, segundo Lima (1985, p. 2), “a legislação assume a posição de distinguir um ensino centrado no uso da língua de um ensino a respeito da língua”. Isso fica muito evidente na leitura do parecer 853/71. Vejamos o que Lima (1985, p. 2) nos afirma: O artigo 5º desse Parecer afirma que nas séries iniciais, sem ultrapassar a quinta, a língua será desenvolvida sob a forma de Comunicação e Expressão, tratada predominantemente como atividade; em seguida, até o fim desse grau, sob a forma de Comunicação em Língua Portuguesa, tratada predominantemente como área de estudo; no ensino do 2º grau, sob a forma de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, tratada predominantemente como disciplina (LIMA, 1985, p. 2). O estudioso também cita o artigo 4º que define que as atividades deveriam propor que os discentes atingissem a sistematização do conteúdo e nas disciplinas a aprendizagem se desenvolveria de forma predominante sobre conhecimentos sistemáticos. EXPLICANDO MELHOR: Esses fatores, como podemos perceber, dificultavam os avanços na metodologia do ensino da Língua Portuguesa, devido, principalmente, à exclusividade da gramática em detrimento de outras práticas pedagógicas. Uma característica bastante marcante dessa época, impulsionada pelo processo de industrialização, era a apresentação de alunos prontos para o mercado de trabalho, com bastante foco na memorização de informações e conteúdos ao invés de saber empregá-los de forma correta e agir em relação a eles. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 15 Era característica dessa época a apresentação de produtos feitos e acabados, assim como a memorização. Surgiram, então, as transformações sociais decorrentes da industrialização. Seus valores começaram a passar pelo crivo de uma forte e contínua crítica e muita rejeição. Transformações na metodologia de ensino de Língua Portuguesa Com as transformações sociais no decorrer dos tempos, devido aos processos que decorreram da industrialização, começaram, então, a emergir fortes críticas e rejeição a essa modelo focado puramente no ensino da gramática. Nesse novo modelo, o professor teria a tarefa de mediador de conhecimentos, levando a criança a saber questionar, criticar, pensar e criar novos modelos, partilhando conhecimento de uma forma constante e aberta, aceitando opiniões e diversas formas de pensar e falar. Figura 2 Fonte: a autora A escola ganha uma nova roupagem e, sobretudo, um novo sentido. A leitura também surge com um novo enfoque, passando a ser um instrumento que liberta, possibilita o conhecimento, a consciência crítica, a reflexão e a formação do discente enquanto cidadão. É importante refletirmos como a leitura pode nos tornar pensadores, já que essa é uma forma de instrumentalizar-nos a compreender de uma maneira a sociedade na qual estamos inseridos, bem como entendermos como outras sociedades – diferentes das nossas – comportam-se e modificam-se com o passar dos anos. As Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa16 sociedades são vivas, por isso estão em constante mudança, assim como a língua que vive e altera-se no decorrer dos anos. Portanto, uma língua que não muda é uma língua morta. Podemos dizer que à escola foi concebido um novo olhar, no qual o professor já não é a única fonte imutável de informações, ele atua como mediador e gera a aprendizagem de seus alunos, suscitando dúvidas e levantando questionamentos, buscando construir e desenvolver a criticidade inerente ao ser humano. O professor de língua portuguesa passa a ter novo papel, principalmente em decorrência do massivo recebimento e compartilhamento de informações, possibilitado pela globalização e informatização. Hoje, mais do que nunca o professor deve prover ferramentas e recursos necessários para que o discente não seja um mero receptor passivo de informações, mas deve refletir sobre o que lê, vê e escuta, construindo o conhecimento que nunca estará pronto, mas em processo constante de aprimoramento. Figura 3 Fonte: Pixabay Assim, o aluno não será um produto acabado, mas um cidadão em construção de seus conhecimentos e, nesse sentido, o professor de Língua Portuguesa é uma peça fundamental. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 17 Fonte: Pixabay Fonte: a autora Refletindo sobre o aprender e o ensinar na escola Como podemos notar, o ensino-aprendizagem não deve se prender somente ao ensino da gramática tradicional ou memorização de conteúdos. O professor de Língua Portuguesa deve compreender que o ensino não deve ser somente pautado na gramática normativa e que o seu domínio não é suficiente para determinar se um aluno tem conhecimentos suficientes para o domínio da Língua Portuguesa e seus usos nas mais diversas esferas comunicativas. Figura 6 Figura 5 Assim, segundo Lima (1985), o ensino de Língua Portuguesa deve estar pautado em dois principais aspectos. Vejamos a seguir: Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa18 EXEMPLO: Um exemplo bastante claro que o professor de Língua Portuguesa pode utilizar é exemplificar o uso das habilidades linguísticas em uma entrevista de emprego, na qual necessita ser mais formal, normalmente, com um vocabulário mais rebuscado e o emprego adequado da norma culta. Por outro lado, em uma conversa com amigos há espaço para informalidades, dialetos e gírias, já que esse é um contexto comunicativo que existe maior proximidade com o receptor. Texto como unidade de ensino: como utilizá-lo? Figura 7 Fonte: Pixabay Os Parâmetros Nacionais Curriculares – PCNs (1997) afirmam que o ensino da Língua Portuguesa tem sido marcado, sobretudo, por uma sequência de conteúdos que buscam fazer com que o aluno saiba juntar letras ou sílabas para formar palavras e, por sua vez, juntar palavras para formar sentenças. Por fim, agrupa-se as sentenças para se formar um texto. Essa abordagem meramente sistemática levou à concepção do texto apenas com um pretexto para se ensinar, no entanto, sem que o aluno tenha compreensão e aprofundamento significativo no que está lendo ou escrevendo. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 19 Assim, caso o professor de Língua Portuguesa tenha como objetivo promover a interpretação de texto, não deve tomar como unidade básica de ensino a letra, sílaba, palavra ou frase, pois estas sem serem empregadas em um contexto de ensino não se atém à competência discursiva, que aqui é a peça principal. O professor não deve focalizar a leitura do texto em palavras ou situações didáticas que possam emergir, mas considerar o texto como unidade de ensino a ser trabalhada em sua totalidade, sendo complementar à escrita, como podemos ver neste excerto dos PCNs (1997): Apesar de apresentadas como dois sub-blocos, é necessário que se compreenda que leitura e escrita são práticas complementares, fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no processo de letramento — a escrita transforma a fala(a constituição da “fala letrada”) e a fala influencia a escrita (o aparecimento de “traços da oralidade” nos textos escritos). São práticas que permitem ao aluno construir seu conhecimento sobre os diferentes gêneros, sobre os procedimentos mais adequados para lê-los e escrevê-los e sobre as circunstâncias de uso da escrita (BRASIL, 1997, p. 41). Precisamos também ressaltar que, muitas vezes, os professores tendem a facilitar demais os textos, com sentenças curtas e poucos parágrafos, desconsiderando as habilidades de seus alunos. Logo, os PCNs (1997) mostram que é um grande equívoco por parte dos docentes de Língua Portuguesa tentarem aproximar os textos dos alunos, isto é, simplificando e negando as suas capacidades. Ao contrário, deve-se aproximar esses discentes aos textos de qualidades, já que não formam leitores assíduos – aqueles que leem fora do ambiente escolar –, somente oferecendo textos simplificados ou empobrecidos, que não têm a qualidade e a capacidade de instigar a formação de leitores. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa20 Figura 8 Fonte: Pixabay Dessa forma, os professores acabam insistindo em textos pouco interessantes, que se tornam cansativos e diminuem a experiência de leitura satisfatório dos discentes, fazendo com que eles vejam a leitura como uma obrigação e não como uma atividade prazerosa, lúdica e relaxante. Assim, é importante investir e atentar-se à iniciação da criança no mundo da leitura e da escrita, já que será nessa fase que ela construirá seus gostos e suas preferências. Nesse sentido, o professor de Língua Portuguesa que traz aos seus alunos textos interessantes, tem maior probabilidade de formar leitores críticos e assíduos. O trabalho com o texto literário permite que sejam construídas capacidades de crítica e de reflexão, devendo ser incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, e não somente como um pretexto para ensinar. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 21 Figura 9 Analisando os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas em língua portuguesa Tanto na Educação Infantil quanto nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a participação dos professores em atuação contínua com outros profissionais e instituição, bem como com a participação da sociedade, é fundamental para que os objetivos sejam atingidos, os conteúdos sejam transmitidos de forma assertiva e significativa para o processo de ensino-aprendizagem e para que as orientações didáticas estejam em consonância com os objetivos gerais e específicos propostos. Educação Infantil: objetivos, conteúdos e orientações didáticas Para iniciarmos os nossos estudos, é de suma importância destacarmos que, segundo os Parâmetros de Qualidade para Educação Infantil (2006), existem alguns aspectos que os professores de Língua Portuguesa devem se atentar em relação às crianças na Educação Infantil. Vamos conferir cada um deles? Fonte: a autora Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa22 Bentes e Mussalim (1997) afirmam que estudos em relação ao modo que as crianças aprendem e adquirem a linguagem apenas se deram recentemente. Denominam, assim, a aquisição da linguagem como uma área “híbrida, heterogênea ou multidisciplinar” (BENTES; MUSSALIM; 1997, p. 205). Ainda antes de se expressarem por meio da linguagem verbal, as crianças já são capazes de interagir por outros meios, tais como: utilizando gestos, músicas, expressão do corpo e brincadeiras, por exemplo, desde que assistidas por parceiros mais experientes. Nesse sentido, Castilho revela que a linguagem é uma forma de comunicação que vai muito além do campo verbal. Assim, a linguagem pode ser a comunicação por sinais, a comunicação por movimentos corporais e gestos. Figura 10 Fonte: Pixabay De acordo os Parâmetros de Qualidade para Educação Infantil (2006), existem algumas formas com as quais os professores podem contribuir de maneira bastante significativa para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. Vamos conhecer cada uma delas? • Organização em pequenos grupos: as crianças, quando estão em parceria com outras, atuam de maneira mais assertiva, aumentando Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 23 a autoestima, motivação e autonomia. Pertencer a um grupo também é importante para a Educação Infantil. • Incentivar a brincadeira: jogos, atividades e brincadeiras lúdicas podem contribuir bastante para o ensino-aprendizagem da criança, pois possibilita um elo entre o brincar, o aprender e o ensinar. • Estimular a troca entre os parceiros: em atividades em grupos, é importante que o professor sempre possibilite e permita o compartilhamento de ideias. Nesse estágio, a troca é um elemento essencial, que leva as crianças a se identificarem com as atividades e situações propostas pelo professor. • Estipular tempo para o desenvolvimento das atividades: é importante que o professor estabeleça previamente um tempo máximo para a realização de determinada tarefa. Assim, é possível desenvolver nas crianças senso de gestão de tempo e de responsabilidade, que utilizarão não somente na escola, mas também em seu cotidiano fora dela. • Oferecer diferentes tipos de materiais em função dos objetivos que se deseja alcançar: as crianças tendem a se entediar e perder o foco constantemente, por isso é importante que o professor ofereça diferentes tipos de materiais para incentivá-las e evitar que a aula seja desestimulante ou cansativa. Essas simples estratégias permitem que a criança comece a respeitar e levar em consideração a opinião do outro, aprendendo a ouvir e aceitar diferentes pontos de vista. Assim, permite-se uma maior circulação de ideias e minimiza a resistências às iniciativas e opiniões de outros colegas. A oposição, quando bem gerida pelo professor, é bastante saudável e enriquecedora, pois instiga a capacidade argumentativa, desenvolve a organização de ideias e pensamentos e incita o recuo reflexivo das crianças. É importante também destacar que a Educação Infantil, que atende crianças de 0 a 5 anos, é a primeira etapa da Educação Básica, tendo todos os direitos, bem como as diretrizes que são voltadas para a educação de uma forma geral. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa24 VOCÊ SABIA? Até a década de 1980, era utilizada no Brasil a expressão pré-escolar, no entanto, esse termo levava ao entendimento de que a Educação Infantil era uma etapa anterior, isto é, uma etapa que estava fora do eixo da educação formal. No entanto, somente em 1996, com a promulgação da LDB, a Educação Infantil passou a ser finalmente considerada como parte da Educação Básica, assim como o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Há seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento que asseguram a aprendizagem das crianças para que elas possam agir ativamente em sociedade. Vamos conhecê-los melhor? Figura 11 Fonte: A autora Ensino Fundamental: objetivos, conteúdos e orientações didáticas Primeiramente, é importante observar que o Ensino Fundamental tem nove anos de duração, sendo essa a etapa mais longa da Educação básica e compreende os discentes entre 6 e 14 anos. Nesse estágio, percebemos que os alunos passam por mudanças – referentes a aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais e emocionais – que são bastante perceptíveis e acentuadas, por isso é uma etapa que demanda grande atenção e suporte do professor de Língua Portuguesa. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 25 Figura 12 A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais valoriza situações lúdicas para o desenvolvimento do aluno, apontando para uma necessidade de articulação com as experiências que foram vividas pelo discente na Educação Infantil. Essa articulação, portanto, precisa ter uma progressiva sistematização das experiências e do desenvolvimento do aluno dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Fonte: Pixabay É necessário queo professor de Língua Portuguesa proporcione ao aluno novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e de formular respostas, testá-las, refutá-las, agir sobre elas, elaborar suas próprias conclusões, agindo ativamente para construção e reconstrução constante de seu conhecimento. A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais aponta que, nesse momento, é crucial a atenção do professor de Língua Portuguesa, pois os alunos estão passando por um processo de mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento. Essas mudanças, por sua vez, refletem na relação consigo mesmas e com a sociedade. Segundo o documento, há também alguns desafios para esse docente, como podemos ler a seguir: Ampliam-se também as experiências para o desenvolvimento da oralidade e dos processos de percepção, compreensão e representação, elementos importantes para a apropriação Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa26 do sistema de escrita alfabética e de outros sistemas de representação, como os signos matemáticos, os registros artísticos, midiáticos e científicos e as formas de representação do tempo e do espaço. Os alunos se deparam com uma variedade de situações que envolvem conceitos e fazeres científicos, desenvolvendo observações, análises, argumentações e potencializando descobertas (BRASIL, p. 2, 2018). É importante também frisarmos que nos primeiros dois anos do Ensino Fundamental a ação pedagógica deve se focar na alfabetização, a fim de proporcionar oportunidades para que os alunos consigam realizar a apropriação do sistema de escrita alfabética em harmonia com o desenvolvimento de outras habilidades, tais como a leitura e a escrita. Isso irá proporcionar também o envolvimento em práticas diversificadas de letramento importantes para essa etapa da aprendizagem. Os PCNs (1997) dissertam sobre a importância do diagnóstico para o ensino-aprendizagem da criança dos anos iniciais do Ensino Fundamental, detectando aquilo que o aluno já sabe: Os conhecimentos linguísticos construídos por uma criança que inicia o primeiro ciclo serão tanto mais aprofundados e amplos quanto o permitirem as práticas sociais mediadas pela linguagem das quais tenha participado até então. É pela mediação da linguagem que a criança aprende os sentidos atribuídos pela cultura às coisas, ao mundo e às pessoas; é usando a linguagem que constrói sentidos sobre a vida, sobre si mesma, sobre a própria linguagem. Essas são as principais razões para, da perspectiva didática, tomar como ponto de partida os usos que o aluno já faz da língua ao chegar à escola, para ensinar-lhe aqueles que ainda não conhece (BRASIL, 1997, p. 67). Assim, podemos dizer que, nessa fase de aprendizagem, são objetivos da instituição escolar ao aluno: Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 27 • Estimular a reflexão e a análise de forma profunda e que contribua para o estudante atingir uma visão crítica da sociedade que o cerca; • Compreender e estimular as novas linguagens e como estas funcionam; • Educar para o uso das tecnologias para uma participação consciente e ativa em meios digitais; • Propiciar a formação integral do aluno, conforme os princípios dos Direitos Humanos e princípios democráticos. A respeito das habilidades que se espera que o aluno atinja ao longo de sua passagem pelo Ensino Fundamental, temos como objetivos do professor de Língua Portuguesa os seguintes aspectos: • Expandir o uso da linguagem; • Usar diferentes registros, sabendo adequá-los a situações distintas; • Conhecer e respeitar as variações linguísticas; • Capacidade de interpretação e inferência; • Valorização da leitura como fonte de informação e conhecimento; • Utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo como buscar, discernir e agir sobre as informações que se tem acesso; • Conhecer as possibilidades de uso da linguagem, bem como a capacidade de análise crítica daquilo que se tem acesso; • Fazer uso da linguagem para melhorar as suas relações pessoais; • Ser capaz de refletir e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia. É essencial que essas habilidades sejam utilizadas de forma articulada, então, o currículo deve ser organizado de maneira que favoreça a aprendizagem e que esta seja ainda mais aprimorada e significativa para o aluno. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa28 Tratamento didático dos conteúdos pelo professor de Língua Portuguesa A respeito do tratamento didático que se dá ao conteúdo, é importante deixar claro que quando se pretende que o aluno construa um conhecimento, a principal questão que surge para o professor de Língua Portuguesa é qual tratamento deve ser dado à informação que se deseja oferecer. Muitos professores, ao contrário, gastam muito tempo refletindo sobre qual informação apresentar aos discentes, esquecendo-se de que o mais importante nesses casos é como essa informação será levada à turma. Por isso, o docente deve pensar sobre as seguintes questões: • O que os alunos sabem sobre isso? Quais são seus conhecimentos de mundo? • Essa informação é relevante para essa turma? • Quais objetivos almejo alcançar com essa informação? • Esse conteúdo faz parte do contexto sociocultural dos alunos? • Qual é a forma mais relevante de oferecer essa informação? Pensando nesses questionamentos e procurando respondê-los, o professor de Língua Portuguesa irá ter como foco a aprendizagem do aluno, tornando essa experiência mais significativa e satisfatória. O docente de Língua Portuguesa também deve buscar ser modelo para seus discentes. Além de ser aquele que ensina e gera os conteúdos, é papel do professor ensinar o valor que a língua tem. Muitas vezes, especialmente em comunidades pouco letradas, o hábito de leitura é realmente bastante escasso. Logo, talvez o professor seja o único modelo de leitor que o aluno terá durante o seu processo de formação. Assim, o professor atua como exemplo para os seus alunos, motivando-os e instigando-os em suas práticas. EXEMPLO: Se o professor é apaixonado por uma série policial de literatura, é importante que esse docente compartilhe com a sala o seu gosto. Para isso, pode apresentar a sua coleção à turma, comentar constantemente sobre suas leituras, demonstrar como é interessante o hábito de ler. Dessa forma, os alunos verão esse professor como um Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 29 modelo de leitor a seguir, inspirando-se nele pela representatividade que possui. Vamos, então, nos aprofundar em relação ao conceito de leitura? A leitura é um processo ativo de construção de um texto, a partir da construção de significados, que se dá a partir do conhecimento do leitor, de aspetos como o conhecimento do gênero, do autor, da obra e de suas referências, do sistema de escrita, entre outros. O processo de leitura não se trata de meramente extrair uma informação, decodificando letra por letra. Ao contrário, o processo de leitura envolve uma construção de significados constantes. Nesse processo, o leitor age ativamente em relação ao que está sendo lido, sendo um equívoco acreditar que o que se lê está pronto e acabado, ou seja, uma verdade imutável. Dessa forma, podemos dizer que o processo de leitura começa muito antes do texto começar a ser lido. Assim, é importante destacar que a leitura envolve uma série de outras estratégias, tais como: • Seleção; • Antecipação; • Inferência; • Verificação. Com esses procedimentos, o leitor conseguirá controlar aquilo que está sendo lido e agir ativamente sobre o texto, procurando tomar decisões em relação à compreensão de trechos difíceis, arriscar-se diante de um termo que se desconhece, buscar no texto a comprovação – ou não – de suas inferências. IMPORTANTE: Um leitor competente, portanto, será aquele que possui autonomiapara se ter iniciativa própria. Esse indivíduo será capaz de usar estratégias de leituras adequadas e buscar textos que se adequem às suas necessidades – dentre tantos que circulam socialmente. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa30 Com o tratamento adequado dos conteúdos, é possível que o professor forme um leitor competente, que será capaz de ler nas entrelinhas, compreender suas inferências, criticar o que está sendo lido, construir novos sentidos, estabelecer relações entre o texto que está sendo lido e aquele que já se leu, localizar e analisar elementos discursos, entre outras habilidades. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 31 Processo de avaliação de aprendizagem para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental Muitas vezes, percebemos que a avaliação é vista somente como uma forma de classificar ou selecionar as crianças com base naquilo que foi aprendido, por isso, em geral, esse momento é visto pelos alunos como uma etapa em que serão criticados e julgados. O professor de Língua Portuguesa deve transparecer em sala de aula que o processo avaliativo não deve ser visto como um monstro de sete cabeças e que as críticas, quando construtivas e bem empregadas, fazem parte do processo de formação, tanto do aluno como do professor. Panorama histórico da avaliação Figura 13 Fonte: Pixabay Vamos discutir um pouco sobre a história da avaliação no decorrer dos séculos? A avaliação da aprendizagem tem o seu cerne da Psicologia e, nesse sentido, as primeiras décadas do século XX tiveram bastante presente no desenvolvimento de testes padronizados que buscavam a melhora das habilidades e aptidões. Podemos considerar a avaliação uma disciplina ainda nova e que se encontra em desenvolvimento contínuo. Cada vez mais estudiosos das mais diversas áreas têm dedicado seus estudos a essa área. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa32 No primeiro período, entre os últimos anos do século XIX e as primeiras décadas do século XX, a avaliação era tida somente como uma forma de quantificar os conhecimentos dos alunos. Naquela época, não havia a preocupação com a formação de um currículo ou com o estabelecimento de objetivos que mensurassem o que deveria ser aprendido pelos alunos. Assim, nessa fase, podemos dizer que a avaliação não tinha objetivos claros e palpáveis, sendo praticada sem intencionalidades. Dessa forma, a avaliação era feita por meio de aplicação de testes que buscavam meramente verificar e quantificar a aprendizagem, sobretudo por meio de números e outras classificações similares. Vamos à segunda geração? A segunda geração compreende as décadas de 1934 a 1945 e, nessa fase, a avaliação tinha como se focalizar nos objetivos educacionais que eram formulados com antecedência. O estudioso Tyle é tido como o grande precursor da avaliação educacional, sendo aquele que proporcionou maior visibilidade para avaliação no campo educacional. Na concepção desse teórico, objetivos educacionais e processo avaliativo deveriam caminhar juntos para que a aprendizagem do aluno fosse significativa. SAIBA MAIS: Ralph W. Tyler (1902-1994) foi um educador norte-americano essencial no campo da avaliação. Tyler participou do aconselhamento de diversos órgãos e ministérios que auxiliaram a definir diretrizes para o gasto com fundos federais. Ele também teve grande influência na política subjacente da Lei do Ensino Fundamental e Secundário no ano de 1965. Ainda na segunda geração houve um grande aumento da tecnologia em relação à produção de testes. Estudiosos e teóricos dessa fase acreditavam que os testes eram a única forma de definir com êxito as habilidades e o que os alunos tinham aprendido ou não. Já conhecemos o primeiro e o segundo período e vimos como a avaliação começou a mudar. Vamos, agora, aprender um pouco sobre o terceiro período? Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 33 De 1946 a 1957, décadas que compreendem o terceiro período, os procedimentos avaliativos perderam a sua importância de forma gradativamente. A relevância que foi dada para a avaliação nas épocas anteriores não permaneceu no nesse período. No entanto, no quarto período (1958-1972), a importância da avaliação cresce de uma forma surpreendente e passa a ser considerada como uma das práticas mandatórias no currículo escolar. Essa mudança teve como precursor Robert Kennedy, ex-senador dos Estados Unidos. Vamos conferir o que muda nesse quarto período da história da avaliação? • Houve a necessidade de se avaliar a escola como um todo, incluindo, professores, metodologias, gestão, alunos, etc.; • O enfoque quantitativo perde espaço e dá lugar a um caráter qualitativo. No quinto período (1973), denominado de período da profissionalização da avaliação, tivemos teorias mais consistentes em relação a essa área de estudo. Nessa época, foram criados novos modelos de avaliação, buscando uma consolidação também da produção científica nesse ramo. Também no quinto período, podemos dizer que houve um maior enfoque para o desenvolvimento dos avaliadores, que passaram a ser qualificados, o que foi inédito na história da avaliação até então. A avaliação, dessa forma, começa a ter um enfoque formativo, buscando acompanhar o processo de ensino-aprendizagem do aluno, realizando intervenções para que ele alcance os objetivos propostos. Nesse período, ainda que a avaliação ganhe um novo enfoque, percebemos que ainda consideravam a aplicação de testes como a única forma de controle e fiscalização dos discentes. A partir de 1980, a avaliação passou a ser vista como uma forma bastante importante de se contribuir para formação, tanto do aluno quanto do professor. A instituição escolar começou a perceber que a avaliação não é somente classificar, medir e apurar dados e não acontece somente no final do semestre por meio de uma prova com dezenas de questões. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa34 O que significa avaliar? Figura 14 Fonte: Pixabay É importante que os professores de Língua Portuguesa reflitam sobre os seus processos avaliativos, de forma que estes sejam menos frustrantes e tensos para o aluno. Primeiramente, o que é avaliar? O ato de avaliar significar apreciar, reconhecer e atribuir valor. Assim, avaliar não é meramente descrever e mensurar a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem, mas diz respeito, sobretudo, aos mecanismos de gestão de formação de professores. Outro ponto importante sobre a avaliação é que o ato de avaliar é, sobretudo, acolher o aluno. Luckesi (2000) aponta que, antes de mais nada, avaliar implica acolher. O estudioso afirma que é preciso acolher o educando, conhecê-lo e, a partir disso, decidir o que fazer. A habilidade de acolher deve estar no avaliador, isto é, nos professores. O estudioso explica que não é possível avaliar de forma satisfatória uma pessoa ou ação caso ela seja recusada desde o início ou julgada previamente. Para isso, Luckesi (2000) utiliza exemplos cotidianos para nos mostrar como acolher é um ato importante. Vejamos: Imaginemos um médico que não tenha a disposição para acolher o seu cliente, no estado em que está; um empresário que não tenha a disposição para acolher a sua empresa na situação em que está; um pai ou uma mãe que não tenha a disposição para acolher um filho ou uma filha em alguma Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 35 situação embaraçosa em que se encontra. Ou imaginemos cada um de nós, sem disposição para nos acolhermos a nós mesmos no estado em que estamos (LUCKESI, 2000, p. 1). Antes de avaliar um aluno, é necessário acolhê-lo. Isso vale para qualquer prática avaliativa. Assim, professores de Língua Portuguesa não devem julgar os seus alunos previamente, antes de conhecê-los, pois essa prática exclui e afasta, sendo completamente aposta à ideia de acolhimento à qual devem se ater em suas práticas educativas.A habilidade de acolher – como qualquer outra habilidade – pode ser desenvolvida com o tempo, já que os professores não nascem com ela, mas a desenvolvem no decorrer de sua prática docente. No entanto, é importante que, para ocorrer essa mudança, o professor reflita sobre as suas práticas, a fim de perceber se está ou não acolhendo o seu lado. REFLITA: Pense em suas práticas enquanto indivíduo – não somente enquanto profissional – e tente perceber se em seu cotidiano costuma julgar de forma positiva ou negativa automaticamente algo que você escuta ou vê. Caso você possua esses hábitos, ainda não é capaz de acolher, pois a prática do acolhimento se afasta de quaisquer pré-julgamentos. Luckesi (2000) ainda aponta que o ato de avaliar implica diagnosticar e, sobretudo, decidir. Vamos explicar melhor! Para se avaliar, além da habilidade acolhedora do educador, é preciso de meios eficazes para diagnosticar as principais dificuldades do aluno e aquilo que ele já sabe. No entanto, o que o professor deve fazer com os resultados obtidos? Apenas usá-los para classificar os discentes com média 5,0 ou com nota 10,0? A avaliação vai muito além disso. Vamos entender o porquê! A prática avaliativa presume muito mais do usar as notas em uma reunião de pais ou para mostrar aos alunos o quanto eles são bons ou medíocres a partir de uma numeração. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa36 Assim, quando se qualifica algo – um objeto, uma ação ou um aluno – deve-se tomar uma decisão sobre os resultados que se obteve. Por isso, é importante dizer que a avaliação não acaba no momento em que os alunos entregam as provas e o professor soma as notas e decide qual irá atribuir àquele aluno. A avaliação é um instrumento fundamental para que o professor avalie as suas práticas e decida o que pode mudar, o que funciona melhor para aquele aluno, como melhorar as suas ações em sala de aula, para quais conteúdos deve conceber maior atenção, etc. É um processo de tomada de decisões que se dá a partir de critérios e objetivos estabelecidos que buscam prioritariamente uma melhor experiência de ensino-aprendizagem. Figura 15 Fonte: Pixabay O principal objetivo da avaliação, ao contrário do que se pensa, é desenvolver o processo educacional como um todo, isto é, em todos os seus aspectos. Também é um equívoco afirmar que se o aluno não aprendeu a culpa é do professor por não ter ensinado direito. A avaliação não é uma forma de constatação, que atribui uma nota positiva ou negativa àquele que está sendo avaliado. Quando a avaliação é somente aplicada no final do processo, de forma descontextualizada, não existe uma contribuição significativa para formação do aluno. Logo, precisamos ter nas escolas um modelo de avaliação contínua, que leve em conta o desenvolvimento das competências do aluno. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 37 EXEMPLO: Se o professor consegue perceber durante o processo de ensino que os alunos não conseguiram atingir alguns dos objetivos propostos, esse é o momento de analisar as suas práticas e redirecionar as suas ações para que os objetivos sejam alcançados de forma satisfatória. Podemos notar que o professor possui papel fundamental no processo de avaliação dos alunos, pois é ele quem está mais próximo, acompanhando e analisando o seu desenvolvimento em sala de aula. É imprescindível que o docente faça registros regulares. Vejamos a seguir alguns dos fatores que devem ser periodicamente observados: • As particularidades de cada aluno; • Sua participação em jogos, brincadeiras e atividades; • Seu empenho e grau de autonomia; • Seus potenciais e suas dificuldades; • Seu comportamento em grupo; • Sua relação com outros colegas e professores; • Sua forma de reagir diante de conquistas e adversidades; • Sua reação a conflitos; • Seu desenvolvimento em sala de aula. Outras situações que o professor deve considerar pertinentes podem ser registradas e anotadas para que sejam utilizadas no processo de avaliação. Com essas práticas implementadas no processo de avaliação, o docente será capaz de conhecer melhor o seu aluno e, a partir disso, definir estratégias e novos caminhos para que os discentes se sintam mais motivados e para que seus objetivos sejam alcançados com êxito. O processo avaliativo na Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental Geralmente, quando chega a etapa de testes, os alunos começam a ficar nervosos, sendo gerado na sala de aula um enorme clima de insatisfação que pode comprometer diretamente o ensino- aprendizagem. Isso acontece porque, na maioria das vezes, o aluno só é avaliado no fim do semestre, ou seja, a avaliação não tem o caráter formativo que deveria ter. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa38 Figura 16 Fonte: Pixabay O professor de Língua Portuguesa da Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental deve ter em mente que registros são necessários ao longo de todo o semestre. Assim, jogos, atividades e brincadeiras devem ser registros de forma contínua para que o professor tenha subsídios suficientes para avaliar com propriedade as competências de determinado aluno. A avalição é dominada meramente pelo uso de instrumentos normativos que são direcionados para a identificação das deficiências das crianças, não se atentando aos aspectos que mais importam nessas fases: os componentes sociais, culturais e interativos do processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, percebemos que os professores precisam abandonar práticas avaliativas descontextualizadas e que ignoram o fato de que cada criança possui sua individualidade. Assim, a instituição escolar deve buscar incluir em seu currículo práticas mais saudáveis e menos traumatizantes de se avaliar, considerando a unicidade e autenticidade de cada aluno e o seu desenvolvimento. Os indivíduos não aprendem da mesma forma ou no mesmo ritmo. Os estímulos e fatores motivacionais também são totalmente distintos, por isso existem diversos fatores que precisam ser considerados no processo avaliativo. A utilização de instrumentos de avaliação que não levam em conta as particularidades do ser humano não cumpre com êxito o principal objetivo da avaliação, que é o de desenvolver competências. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 39 O caráter classificatório que, às vezes, as avaliações também têm podem desmotivar os alunos, pois acabam negando outros avanços que eles podem ter tido. Dessa forma, as crianças que estão sempre em contextos de provas podem não se sentir integradas à escola, devido à tensão gerada no ambiente e também por conta da sensação de fracasso predominante. O ideal é que a gestão escolar se atente à construção de um modelo avaliativo que considere o processo educacional como um todo, e não como uma prática isolada somente no final do semestre. Esse modelo avaliativo deve ter como base principal a coleta de informações registradas por meio de atividades que levem em consideração aquilo que os discentes sabem e não puramente o que ainda não possuem domínio. O Projeto Político-Pedagógico (PPP) da instituição de Educação Infantil e Ensino Fundamental nos anos iniciais deve pensar formas de promover situações que motivem e desafiem os seus alunos, possibilitando que estes se apropriem de linguagens e saberes distintos, valorizando tanto produções e atividades individuais quanto coletivas. O processo avaliativo deve, portanto, contemplar a avaliação e, por meio dela, promover uma recepção constante em relação aos resultados alcançados, visando analisar se estes foram realmente satisfatórios e, caso não, o que se deve mudar ou alterar. Para que a ação pedagógica favoreça os alunos no processo avaliativo, esta deve: • Ser planejada; • Aplicada na prática; • Avaliada; • Replanejada. É importante conversar com os alunos sempre que houver uma avaliação, explicaro que será feito, os critérios a serem analisados e garantir que esse seja um momento saudável para que eles se desenvolvam da melhor forma possível e para que o professor avalie as suas práticas. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa40 Assim, contribui-se para práticas que não tentem encontrar culpados e julgar os erros, mas que a avaliação seja um momento para que haja transformação e melhora do trabalho do docente. A avaliação na visão tradicional acaba assustando os discentes e, muitas vezes, não consegue avaliar de forma significativa o que foi aprendido, pois em situações de apreensão e tensão diversos alunos acabam esquecendo conceitos, devido à pressão psicológica. Para ser adequada, a avaliação deve suscitar a autonomia do aluno, levando à reflexão de suas práticas e ser um caminho para que reveja os seus pontos de dificuldades e potencialize os seus pontos fortes. Vejamos, a seguir, um quadro que mostra as principais diferenças entre as características de uma avaliação que causa medo e nervosismo e uma avaliação que leva em conta as especificidades do aluno, sendo um processo natural do aprendizado. Figura 17 Fonte: A autora Avaliação e os tipos de função Antes de avaliar os alunos, é extremamente importante que o professor defina de forma adequada os objetivos que se deseja atingir. O ato de avaliar é algo permanente em nossas vidas e, desde os primórdios, as formas de avaliar já estavam em nossa sociedade. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 41 Figura 18 Fonte: Pixabay Caso os objetivos não sejam atingidos, devem ser retomados e propostos novos caminhos para que o ensino-aprendizagem seja significativo, por isso podemos dizer que a avaliação é também uma maneira do professor repensar as suas práticas. Para o professor, a avaliação é o seu ponto de parada, é um modo de refletir sobre suas ações, suscitando questões como: • Quais são os meus objetivos e o que estou fazendo para que eles sejam alcançados? • Quais crianças precisam mais de minha atenção? • Como posso cativar mais meus alunos? • Quais estratégias posso utilizar? Assim, segundo Bloom (1993), o processo avaliativo tem três funções imprescindíveis para o processo de ensino-aprendizagem, que são diagnosticar, controlar e classificar. O estudioso divide o processo avaliativo em: • Função diagnóstica (analítica); • Função formativa (controladora); • Função somativa (classificatória). A função diagnóstica tem como principais objetivos identificar e analisar as causas das dificuldades recorrentes entre os discentes. Assim, busca orientar o aluno em suas práticas, diagnosticando quais aspectos podem ser mais dificultosos para determinado aluno. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa42 EXEMPLO: Na medicina, por exemplo, médicos e pacientes se reúnem para realizar um diagnóstico de uma possível doença e/ou complicação. Essa prática é realizada para que problemas futuros com a saúde do paciente sejam minimizados e ele possua um tratamento mais eficaz. Na sala de aula não é diferente. Os professores de Língua Portuguesa precisam diagnosticar as maiores dificuldades dos alunos para que estas não se tornem um empecilho para o ensino-aprendizagem. A avaliação diagnóstica deve sempre ocorrer antes de qualquer processo educativo, com objetivo de reconhecer se a metodologia a ser utilizada é a mais adequada para o aprendizado do discente. Assim, em síntese, podemos afirmar que a avaliação diagnóstica busca: • Organizar a aprendizagem; • Detectar os pontos fracos e os potenciais dos alunos; • Focalizar naquilo que os alunos conseguem produzir antes de começar qualquer tipo de formação. Já o caráter formativo da avaliação busca encontrar e apontar as principais deficiências, verificando se os instrumentos estão de acordo com os objetivos que o professor deseja alcançar. A avaliação formativa está sempre ligada à relação pedagógica com o aluno. Podemos dizer que acompanha todo o seu percurso, de forma contínua e constante, buscando encontrar métodos para que o aluno esteja sempre em progresso e melhora de suas competências. Objetiva também que o discente tenha consciência de sua aprendizagem e de como atingir os objetivos propostos. A avaliação formativa tem como principal foco as atividades desenvolvidas, buscando sempre facilitar a aprendizagem por meio da adequação de estratégias. VOCÊ SABIA? A avaliação formativa tem um caráter regulador que busca reforçar, corrigir e adequar a jornada de aprendizagem do aluno, considerando que estes estarão sempre em um processo constante de evolução. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 43 A respeito da função somativa, podemos citar o papel de problematizador do professor, que deve levantar questionamentos ao aluno para que ele construa o seu próprio conhecimento. Para isso, devemos buscar adequar o conteúdo que está sendo aprendido ao contexto social, histórico e cultural no qual o discente está inserido. Vamos conhecer um pouco mais a fundo as características da avaliação somativa? A avaliação é somativa porque apresenta a função de certificar, ou seja, verificar e qualificar aquilo que os alunos apreenderam. Tem uma certa similaridade com a avaliação diagnóstica, pois também se atém àquilo que os alunos são capazes de produzir. No entanto, a avaliação diagnóstica, como dissemos, está no começo do processo educativo; já a avaliação somativa localiza-se no final deste. Podemos dizer que a avaliação somativa classifica os discentes, colocando-os em posições distintas a depender do resultado obtido. REFLITA: Hoje em dia, ainda percebemos que muitas instituições escolares continuam buscando em sala de aula um modelo de avaliação cansativo e que não motiva os alunos, ao contrário, acaba gerando frustrações e ansiedade. Basta citar o termo “prova” que muitos alunos já começam a arrancar os cabelos. É muito comum os professores de Língua Portuguesa buscarem que seus alunos decorem normas, classes gramaticais e infinitivas regras de acentuação, entendendo que o sucesso deve ser totalmente baseado no domínio desses aspectos. Você acredita que a avaliação deve continuar focada em erros e acertos, não focalizando aquilo que o aluno aprendeu durante todo o processo? Segundo Bloom (1993), essas três funções que citamos, diagnóstica, formativa e somativa, devem estar presentes no processo de avaliação para garantir a sua eficácia. É também importante lembrar que, para um processo avaliativo significativo, professores e alunos aprendem, trocam experiências e constroem conhecimento de forma Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa44 mútua. Não devemos nos ater à concepção de que o docente é o detentor do saber. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “O que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem?” Cipriano Carlos Luckesi de Luckesi. Disponível em: https://bit.ly/3gZdLLV. Acesso em: 8 mar. 2019. https://bit.ly/3gZdLLV. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 45 BIBLIOGRAFIA BENTES, A. C.; MUSSALIM, F. Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo, 2007. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental (1997). Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa/Brasília: Secretaria de Educação Fundamental. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf. Acesso em: 10 mar. 2019. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil. 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/base/o-que. Acesso em: 10 mar. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf. Acesso em: 3 mar. 2019. LIMA, R. P. O ensino da Língua Portuguesa: aspectos metodológicose linguísticos. Educar em Revista. n. 4. Curitiba jan./dez. 1985. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010440601985000100002. Acesso em: 8 mar. 2019. LUCKESI, C. C. O que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem? Revista Pátio 12. 2000. 6-11. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/ biblioteca/imagem/2511.pdf. Acesso em: 8 mar. 2019. XAVIER, A. Carlos & CORTEZ, S. (orgs.). Conversas com linguistas: virtudes e controvérsias da linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2003, pp. 13 - 24. DÉBORA LUIZA DA SILVA Olá. Meu nome é Débora Luiza da Silva. Sou formada em Letras (Habilitação Português) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos e Especialista em Educação a Distância: Gestão e Docência pela mesma instituição, com uma experiência técnico-profissional na área da docência e elaboração de conteúdos pedagógicos para cursos da modalidade a distância. Passei por diferentes instituições, dentre elas o Governo do Estado do Rio Grande do Sul e outras privadas, tais como a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), a UniRitter e a Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs), ambas do Grupo Laureate International Universities, nas quais já atuei como analista acadêmica de EAD, professora-tutora, designer educacional e docente de EAD. Atualmente sou professora de Língua Portuguesa e Literatura da EJA EAD do Serviço Social da Indústria (SESI/RS). Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida, bem como contribuir com o aprendizado daqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! A AUTORA Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: ICONOGRÁFICOS INTRODUÇÃO: para o início do desen- volvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessida- de de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações es- critas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e inda- gações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoaprendi- zagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Analisando o funcionamento da fala e da leitura .........10 Como a fala funciona ........................................................11 Como a leitura funciona ....................................................12 Compreendendo os fenômenos da variação linguística e os processos da fonologia .....................................................15 Variação linguística no contexto escolar ............................16 Processos fonológicos na escola .......................................18 Reconhecendo as características dos diferentes tipos de leitura...............................................................................20 Gêneros e tipos textuais: Identificando as diferenças .........20 Textos orais ..............................................................23 Textos escritos ..........................................................24 Demonstrando o funcionamento da leitura na escola ....26 Prática da leitura ...............................................................26 Atividades de escuta de textos orais .........................28 Atividades de leitura de textos escritos .....................29 Atividades de leitura de textos literários ...................31 Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 7 UNIDADE 02 LIVRO DIDÁTICO DIGITAL Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa8 Nos últimos anos, as concepções de ensino de Língua Portuguesa, voltadas à prática da leitura, da escrita e da oralidade, foram se ampliando, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Por isso, a prática docente exige que o profissional da área educacional, e aqui, em especial, da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, busque alternativas para desenvolver habilidades e competências por parte dos alunos. Nesta Unidade, analisaremos o funcionamento da fala e da leitura na escola, buscaremos compreender os fenômenos da variação linguística e os processos da fonologia, reconheceremos as características dos diferentes tipos de leitura e, por fim, demonstraremos como as atividades de leitura funcionam no ambiente escolar. Além de nos basearmos no que dispõem os PCNs (1997), utilizaremos como ponto de partida as teorias de estudiosos do campo da linguística e da educação. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 9 Olá. Seja muito bem-vindo à nossa Unidade 2, nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Analisar o funcionamento da fala e da leitura; 2. Compreender os fenômenos da variação linguística e da fonologia; 3. Reconhecer as características dos diferentes tipos de leitura; 4. Demonstrar como funciona a leitura na escola. Então? Preparado para adquirir conhecimento sobre um assunto fascinante e inovador como esse? Vamos lá! OBJETIVOS Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa10 Analisando o funcionamento da fala e da leitura Há algumas décadas, o ensino de Língua Portuguesa vem sendo apontado como um dos responsáveis pelos altos índices de reprovação e da necessidade de melhorar a educação brasileira. Essa realidade, portanto, está diretamente ligada às práticas de leitura e escrita desenvolvidas nas escolas. REFLITA: Pense nas suas práticas individuais enquanto leitor, não apenas como estudante de nível superior e futuro profissional da educação. Reflita se você tem um bom relacionamento com a Língua Portuguesa, especialmente no que se refere à leitura e à escrita. Você costuma praticá-las fora do ambiente de ensino? Esse processo se dá a partir dos primeiros anos do Ensino Fundamental, especialmente após a alfabetização, mas permanece durante toda a trajetória de ensino, cujos alunos do ensino superior também demonstram grandes dificuldades nas competências de leitura e escrita. Atualmente, através do ensino de Língua Portuguesa, espera- se que os alunos adquiram ao longo dos anos na escola competências que possibilitem a resolução de problemas cotidianos, por meio da linguagem. No que se refere à fala, esta não está entre os papéis da escola, devido ao fato de que a criança a desenvolve muito antes da idade escolar. Mas, com o planejamento de atividades que contemplem a produção oral, é possível desenvolvê-las, de maneira a articular os textos orais e escritos. Quanto à leitura, esta ainda é um desafio para muitos professores do cenário educacional brasileiro, visto que a principal fonte de leitura dos estudantes durante o período da escola passa a ser por um longo período, apenas por meio do livro didático. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 11 Assim, segundo os PCNs: Quando se afirma, portanto, que a finalidade do ensino de Língua Portuguesa é a expansão do uso da linguagem, assume-se que as capacidadesa serem desenvolvidas estão relacionadas a quatro habilidades básicas: falar, escutar, ler e escrever (BRASIL, 1997, p. 35). Dessa forma, ao longo desta Unidade de estudos, verificaremos como cada uma dessas habilidades é desenvolvida nas instituições de ensino do nosso país. Figura 1: Leitura na escola Fonte: Pixabay Como a fala funciona Até a chegada da escola, as crianças reproduzem a fala em ambientes conhecidos e privados, geralmente relacionados ao seu contexto familiar. Nesse sentido, o papel da escola não é ensinar ao aluno o que ele já sabe, mas garantir espaços de fala, escuta e compreensão da língua. De acordo com Vigotski (1993) o desenvolvimento da fala e da escrita não se desenvolve da mesma maneira. Ambas se diferenciam tanto na estrutura, quanto no funcionamento, entretanto, fala e escrita estão fortemente ligadas, pois é através da fala que se expressa de maneira escrita aquilo que está em nosso pensamento. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa12 Quando falamos estamos praticando ações, ordenamos, questionamos, lamentamos, julgamos, entre outras. O ato de se expressar por meio da oralidade requer ao falante da língua agir com confiança, pois ao mesmo tempo que não se ensina a falar na escola, se corrige o “falar errado” do aluno. Por essa razão, a escola deve ensinar o uso adequado da língua e, ao mesmo tempo, respeitar e acolher o modo como cada sujeito se expressa. Além desse acolhimento, é fundamental propiciar instrumentos que colaborem para o desenvolvimento da linguagem oral de maneira competente. Porém, cabe ao professor pensar em atividades que contemplem as práticas sociais dos alunos. De acordo com os PCNs (1997), ao adotar as práticas sociais como ponto de partida do trabalho escolar, promove-se o desenvolvimento de competências básicas para a ação. Isso contribui para que o aluno possa se colocar como produtor de conhecimento, de sujeito ativo e protagonista do seu meio social. REFLITA: Quando a prática social é adotada como ponto de partida do trabalho escolar, é possível desenvolver competências básicas para que o aluno se torne produtor do seu conhecimento. Nesse sentido, ele levará para a sala de aula as experiências da sua própria vida, e as conciliará com conhecimentos reais de uso da língua. Por isso, além da produção, é preciso proporcionar espaços de contextualização. Como sugerem os PCNs (1997), essas atividades devem contribuir com a compreensão, com o ato de ficar quieto, esperar a oportunidade de fala e para o respeito pela fala do outro, como algo natural e necessário e não apenas por uma exigência do professor. Como a leitura funciona A leitura não pode ser compreendida apenas como um processo de decodificação de letras, a fim de transformá-las em sons, mas deve Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 13 proporcionar ao indivíduo a capacidade de compreender as informações dispostas nos textos e, a partir deles, se tornar um sujeito crítico. Nesse sentido, a leitura não pode funcionar como um produto final, mas pode ser utilizada como um meio, pois quem lê pode utilizá- la com inúmeros objetivos. Entretanto, para a formação de leitores competentes, é preciso criar condições para que os alunos se tornem bons leitores. Por isso, a escola necessitará de mecanismos que motivem internamente os alunos para que pratiquem a leitura. Figura 2: Funcionamento da leitura Fonte: Pixabay Segundo os PCNs (1997), algumas condições contribuem para que esse processo seja realizado de maneira satisfatória: • Dispor de uma biblioteca de qualidade na escola; • Disponibilizar, desde os anos iniciais, de um acervo com livros e outros materiais de leitura; • Organizar momentos de leitura também realizadas pelo professor, para que todos estejam envolvidos nessa prática; • Propor que a leitura ganhe a mesma importância das demais atividades diárias; • Possibilitar que os alunos possam escolher suas leituras em alguns momentos; • Garantir que os alunos não sejam incomodados nos seus momentos de leitura; • Abrir espaços para que os alunos também sugiram títulos a serem adquiridos pela escola; Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa14 • Proporcionar a maior diversidade possível de títulos disponíveis na escola; • Propor espaços de discussão para que toda a comunidade escolar de envolva na prática da leitura. Contudo, sabemos que essa realidade nem sempre é possível em algumas regiões do Brasil. Assim, as famílias, bem como toda a comunidade escolar, também exercem um papel muito importante na formação de leitores. Em momento especial desta Unidade, ampliar nosso enfoque no que se refere à leitura. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 15 Compreendendo os fenômenos da variação linguística e os processos da fonologia A variedade linguística é uma realidade dos falantes da Língua Portuguesa, visto que aspectos geográficos e sociais interferem nas diferentes formas da oralidade. Por esse motivo, o preconceito linguístico ainda é muito comum na sociedade brasileira. Quando não são bem compreendidas e direcionadas de maneira adequada, as variedades dialetais podem causar preconceito e discriminação. Por isso, é fundamental explicitar aos alunos que as variações de dialeto ocorrem em outras línguas e que isso não é apenas uma particularidade do português. EXPLICANDO MELHOR: Variedades dialetais ou dialetos são compreendidos como os diferentes falares regionais presentes numa dada sociedade, num dado momento histórico (BRASIL, 1997, p. 26). Figura 3: Aspectos geográficos que interferem na oralidade do português brasileiro Fonte: Pixabay Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa16 De acordo com os PCNs: Toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça necessidades pessoais — que podem estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, à transmissão e busca de informação, ao exercício da reflexão (BRASIL, 1997, p. 25). Nesse sentido, veremos a seguir o que compete à escola ensinar quando se trata de níveis de fala distintos. Variação linguística no contexto escolar Dominar uma língua possibilita aos indivíduos o poder de fazer parte de uma sociedade de maneira ativa, a fim de se comunicar, se informar, defender seus direitos e seu ponto de vista. Conforme já abordamos, a fala não é objeto de ensino da escola. Quando se tentou ensiná-la, foi de maneira inadequada, tentando consertar o “erro” por parte do estudante, reforçou-se ainda mais o preconceito com os indivíduos que falavam diferente à variedade linguística prestigiada (BRASIL, 1997). Mas é dever da educação proporcionar estratégias de combate às diferenças, cujo respeito seja privilegiado nesses espaços. No que se refere ao ensino da Língua Portuguesa, a escola deve agir de maneira a se livrar dos paradigmas de falar certo ou errado, pois haverá sempre o seguinte questionamento: O falar correto deveria ser embasado no modo correto de escrever? Para isso, caberá ao professor considerar o contexto da comunicação. Ele será o responsável por balizar o falar e como fazê- lo, para quem fazê-lo. Assim, não nos restringiremos a um modelo educacional que visa apenas o ato de corrigir, mas capaz de demonstrar a adequação das circunstâncias de comunicação. Seguindo o que dispõem os PCNs (1997), em suma, a utilização eficaz da linguagem ocorre quando falar bem e adequadamente é produzir o efeito pretendido. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 17 Ao longo dos anos, o aluno deverá desenvolver capacidades que o possibilitem o conhecimento de diferentes manifestações culturais. Com isso, espera-se que ele seja capaz de se posicionar, compreender, aplicar e transformar cada uma delas de acordo com a necessidade de utilizá-las. Dessa maneira, ao entrarem contato com a gama de diversidade de uma sala de aula, será possível torná-la em um espaço multicultural. O que caberá à escola ensinar no âmbito da oralidade é demonstrar que os grupos sociais fazem diferentes usos da linguagem, como preparar o aluno para perceber a importância da fala adequada ao contexto, principalmente em situações formais, que ocorrerão ao longo da sua vida, tais como entrevista de emprego, seminários, debates, entre outras. Até a chegada dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação, pouco se discutia sobre as concepções de ensino de língua nas escolas brasileiras, no que tange à diversidade linguística que abrange todo o território brasileiro. Figura 4: Diferentes aspectos das variações linguísticas Fonte: Elaborado pela autora Variações linguísticas Variação regional: a língua varia de região para região, como o sotaque e os termos usados nas diferentes regiões do Brasil Variação social: as marcas socioculturais ocorrem em decorrência das diferenças a nível de escolarização, entre outros fatores, tais como: diferença de idade, raça, profissão, posição social, etc. Variação temporal: manifesta-se através das marcas linguísticas que variam de uma época a outra, observadas ao longo do tempo. Variação situacional: é observada nas situações de comunicação distintas, tais como: a língua falada e a língua escrita, língua usual e literária, entre outras. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa18 É inevitável que o ensino de Língua Portuguesa seja realizado a partir da gramática normativa. Todavia, o preconceito proveniente da diversidade linguística deve ser combatido na escola. Nesse sentido, cabe ressaltar que são inúmeras as causas do preconceito linguístico, pois são diversas as variações, sejam elas sociais, regionais, profissionais, de gênero, entre outros fatores. Há de se considerar que para qualquer brasileiro, torna-se um grande esforço escrever de acordo com a norma padrão, uma vez que na oralidade utiliza-se a linguagem coloquial. Geralmente, é do professor de língua materna o papel de identificar e corrigir as incoerências dos processos fonológicos dos alunos e, por isso, considera-se a tarefa como árdua e de difícil execução. REFLITA: Pense no cenário educacional brasileiro no que se refere à seguinte questão: Você acredita que é somente dos professores de anos iniciais e, posteriormente, dos professores de Língua Portuguesa a responsabilidade de trabalhar e cobrar as incoerências do uso da língua? Como podemos mudar esta situação? Posto isso, optar pelo modo mais adequado de falar é compreender a situação comunicativa, a qual se está inserido. O professor então deve tornar legítimo o ensino da língua sem discriminar os dialetos, mas também sem excluir o ensino da norma culta da língua. Processos fonológicos na escola No ambiente escolar é possível observar inúmeros processos fonológicos decorrentes do uso do português brasileiro. Considera-se que na nossa língua o domínio fonológico ocorre por volta dos 5 anos de idade. Contudo, algumas crianças podem apresentar dificuldades e desvios nesse processo. Entretanto, faz parte que cada criança vá se desenvolvendo e superando as falhas durante o seu crescimento, pois são inúmeros os fatores que contribuem para que algumas não sejam Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 19 capazes de corrigi-los. Nesse contexto, o professor poderá criar estratégias para auxiliar os alunos a repararem seus desvios fonológicos, que mais tarde poderão se tornar também desvios ortográficos na escrita. Atividades como ditados e “trava-línguas”, por exemplo, contribuem para o desenvolvimento da língua materna em sala de aula. IMPORTANTE: A Fonologia é parte da linguística que estuda o sistema sonoro dos idiomas, além dos sons das línguas, sua organização e classificação. Neste sentido, o principal objeto de estudo dessa área são os fonemas, considerados a menor unidade de som das palavras. É necessário, sobretudo, que a sociedade entenda que é possível conviver e aceitar as diversas variações da língua na escola, mas ao professor caberá a tarefa de sanar os problemas decorrentes desses fenômenos, principalmente por serem tão comuns às práticas de preconceito no que se refere à variação linguística do território brasileiro, porém não somente o educador deveria fazer parte desse processo. Outros setores, tais como o poder público e os profissionais da saúde contribuem ativamente para que não ocorra o agravamento desses problemas. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa20 Reconhecendo as características dos diferentes tipos de leitura Quando pensamos na palavra “texto”, imaginamos que se trata de um conjunto de palavras organizado em formato de frases ou parágrafos. Entretanto, cabe ressaltar que os textos não necessariamente se organizam apenas dessa forma. Além disso, eles não podem ser considerados apenas como elementos verbais e escritos, mas também podem ser não verbais e orais. Figura 5: Reconhecendo os diversos tipos de leitura Fonte: Pixabay Conforme Coseriu (1979), o texto é uma unidade linguística concreta, tomada pelos usuários de uma determinada língua, em situações de interação comunicativa específica. Em suma, os textos precisam apresentar sentido completo, bem como devem garantir uma intenção comunicativa definida. Gêneros e tipos textuais: Identificando as diferenças Partiremos do conceito de gênero para entender os diversos tipos de texto e, consequentemente, os diferentes tipos de leitura. Segundos Marchuschi (2006, p. 25) “Todas as nossas manifestações verbais mediante a língua se dão como textos e não como elementos linguísticos isolados”, por isso é impossível comunicar-se a não ser por Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 21 Fonte: Pixabay algum gênero, bem como é impossível comunicar-se a não ser por algum texto. IMPORTANTE: Os gêneros textuais podem ser entendidos como realizações linguísticas concretas, definidas por propriedades sociocomunicativas. O autor afirma que “em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção” (MARCUSCHI, 2006). Se os tipos textuais são considerados poucos, os gêneros textuais são inúmeros. Em resumo, os textos se organizam dentro de determinados gêneros, dadas as intenções comunicativas (KOCH, 2004). Figura 6: Diferentes formas de comunicação através dos textos Com a incorporação dos PCNs de Língua Portuguesa, entre os anos de 1997 e 1998, passou-se a dar importância tanto para a produção quanto para a circulação de textos. Com isso, ao trabalhar com a ideia de gêneros e não tipos textuais, o professor favorece o ensino de leitura e produção de textos, tanto orais quanto escritos. Para Marcuschi (2013, p. 19), Já se tornou trivial a ideia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa22 e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia. São entidades sociodiscursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. Figura 7: Gêneros e tipos textuais Fonte: Elaborado pela autora Tipos textuais – Função social ou propósito comunicativo Gêneros textuais – Alguns exemplos Narração Piada, novela, romance, crônica, conto, lenda, etc. Argumentação Carta do leitor, artigo de opinião, editorial, etc. Injunção Receita de bolo, bula de remédio, manual de instruções, etc. Informação Notícia, reportagem, verbete de dicionário, etc. Descrição Biografia e autobiografia, diário, cardápio, anúncio de classificado, etc. Exposição Entrevista de emprego, palestra, conferência. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos
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