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QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES AULA 4 Prof. Everton Vieira 2 CONVERSA INICIAL A realização do controle de qualidade com os itens comprados de fornecedores é muito útil para as empresas compradoras, para assegurar que os itens fornecidos atendam aos requisitos estipulados na contratação. Uma das maneiras de controlar a qualidade dos itens recebidos é através de inspeções de recebimento, onde antes dos itens dar entrada na empresa cliente, são avaliadas as suas características e especificações. Se forem aprovados podem ser recebidos e utilizados, caso contrário, podem ser devolvidos e o fornecedor tomar as providências necessárias para corrigir o erro e evitar sua reincidência. Nesta etapa estudaremos os seguintes assuntos: inspeção no recebimento de materiais; inspeção por variáveis e atributos; inspeção completa e por amostragem; planos de amostragem e inspeção por atributos; RNC – relatório de não conformidades. Bons estudos! TEMA 1 – INSPEÇÃO NO RECEBIMENTO DE MATERIAIS Para Santos (2001) o recebimento é a execução de um conjunto de operações que envolvem a identificação do material recebido, a conferência da nota fiscal com o pedido, a inspeção quantitativa, qualitativa e aceitação ou rejeição. O recebimento é uma rotina importante para gestão de estoques, verificando o cumprimento do acordo firmado entre o departamento de compras com o fornecedor. Crédito: Freedomz /Shutterstock. 3 Segundo Goudard (2012), a atividade de recebimento é intermediária entre a ação de compra e pagar o fornecedor, sendo responsável pela conferência dos itens comprados. O recebimento pode ser compreendido em quatro etapas: 1. Entrada de materiais; 2. Conferência quantitativa; 3. Conferência qualitativa; 4. Regularização. Na Figura 1 é possível observar o fluxo de recebimento de materiais em uma empresa. Figura 1 – Etapas do recebimento de materiais Crédito: Smile Ilustras. 4 As etapas do processo de recebimento vão da recepção, conferência quantitativa, conferência qualitativa e regularização, que serão explicados na sequência do material. 1.1 Entrega de materiais A primeira etapa diz respeito a entrada de materiais, representada pelo processo de recebimento, tendo como objetivo efetuar a recepção dos veículos de transporte, executar a triagem da documentação, lançar os dados no sistema conforme pedido de compra e liberar para descarga, se estiver tudo conforme. 1.2 Recepção Segundo Paoleschi (2009), a segunda etapa diz respeito a avaliação de avarias, para apontamento de responsabilidades. A existência de avarias é constatada por meio da análise de disposição de carga, analisando se as embalagens ou proteções estão intactas e invioláveis ou contenham sinais evidentes de quebra, umidade, amassados etc. A conferência de volumes é efetuada por meio do confronto dos dados da nota fiscal com a contagem física dos volumes. 1.3 Conferência quantitativa A terceira etapa compreende a conferência e contagem do material recebido, confrontando a quantidade informada na nota fiscal. Esta atividade verifica se a quantidade declarada pelo fornecedor na nota fiscal, corresponde efetivamente a recebida, sendo utilizado o método de contagem para verificação. Essa conferência de quantidade, pode ser realizado utilizando-se os seguintes métodos: • Manual: para situações de pequenas quantidades. • Por meio de cálculos: para casos que envolvem embalagens padronizadas com grandes quantidades. • Por meio de balanças contadoras pesadoras: para casos que envolvem grande quantidade de peças pequenas, como: parafusos, rebites, porcas, pregos. • Pesagem: para materiais de maior peso ou volume, a pesagem pode ser feita com o veículo transportador sobre balança rodoviárias ou 5 ferroviárias, casos em que o peso líquido será obtido por meio da diferença entre o peso bruto e a tara do veículo. • Medições: produtos são medidos, com o uso de trenas, no caso de controle por metros lineares. 1.4 Conferência qualitativa A quarta etapa consiste em uma atividade de inspeção técnica, sendo de alta importância no contexto do recebimento de materiais, visando garantir a adequação do material ao fim a que se destina. Esta análise é realizada por meio do confronto das especificações contratadas com o material recebido, de modo a garantir a qualidade dos produtos. Crédito: ALPA PROD /Shutterstock. Para Francischini e Gurgel (2002), existem três situações dentro de um armazém para produtos recebidos: • Material aprovado: todos os requisitos especificados foram aprovados, consequentemente, o material pode ser usado no produto final sem restrições; • Material aguardando inspeção: amostras enviadas para ensaios e com resultados ainda não disponíveis; 6 • Material reprovado: o lote não atendeu a todos requisitos especificados e não poderá ser utilizado para produção, devendo ser devolvido ao fornecedor e passar por procedimentos de bloqueio de pagamento. Em casos específicos, se pode recorrer a procedimentos alternativos para evitar prejuízos para o fornecedor e comprador: • Liberação urgente para a produção: usar o produto recebido sem o resultado da inspeção. Neste caso deve-se identificar e registrar o produto de maneira adequada, para que se possa recolher o mesmo imediatamente e substituí-lo em caso de não conformidade com as características especificadas; • Desvio: em caso de necessidade de alteração nas características originais do produto a ser entregue, o comprador faz uma autorização escrita ao fornecedor antes da produção dele; • Concessão: é um tipo de autorização do cliente para usar o material não conforme entregue pelo fornecedor. A situação do material recebido deve ser identificada pelos meios adequados, descritos em procedimentos da área de recebimento e qualidade da empresa compradora. É importante que exista um sistema de comunicação eficiente entre a área de compras, recebimento, qualidade e fornecedor, para que seja possível adotar as ações corretivas em produtos que não estão de acordo com os requisitos especificados, essas informações são de extrema importância para que os erros cometidos não se repitam. 1.5 Regularização Esta etapa consiste em uma atividade que é caracterizada pelo controle do processo de recebimento, pela comprovação da conferência quantitativa e qualitativa, com o uso de um laudo da inspeção técnica e das quantidades conferidas versus faturadas, respectivamente, para decisão de aceitar ou reprovar, e finalmente, pelo encerramento do processo. Limites permissíveis de aceitação de excessos entregues pelo fornecedor devem ser definidos pela empresa, conforme sua conveniência (Moraes, 1994). 7 1.6 Devolução ao fornecedor Quando os itens são reprovados nas inspeções de qualidade, será necessário providenciar a devolução dos materiais ao fornecedor, que devem ser acompanhados de uma nota fiscal de devolução e ter a ciência do fornecedor. Materiais que apresentam falhas prematuras, com via útil inferior a esperada, devem ser submetidos a estudos especiais para determinação das causas de tais falhas. Caso seja constatado que a falha é de responsabilidade do fornecedor, deverá ser acionado para reposição do material e se for o caso, realizar o ressarcimento dos prejuízos (Viana, 2000). TEMA 2 – INSPEÇÃO POR VARIÁVEIS E ATRIBUTOS Para Da Rosa (2016) a inspeção da qualidade é um processo que identifica se uma peça, amostra ou lote atende a determinadas especificações da qualidade. É sempre centrada em uma característica da qualidade, e de acordo com a importância desta característica para o funcionamento da peça avaliada, o resultado da inspeção pode levá-la a aprovação ou rejeição. Crédito: eamesBot/Shutterstock. 8 Quanto a sua execução, inspeção pode ser por variáveis, atributos, completaou por amostragem. Cada uma delas será explicada na sequência do material. A inspeção por variáveis é aquela segundo a qual uma característica de qualidade em uma unidade de produto é medida numa escala contínua, tal como: quilograma, metros, milímetros, polegadas etc. e o resultado de cada medição é anotado. Por exemplo, o diâmetro de um eixo de aço usinado. Crédito: Ingotr/Shutterstock. A inspeção por atributos é aquela segunda a qual a unidade de produto é classificada simplesmente como defeituosa ou não (ou o número de defeitos é contado), em relação a um dado requisito ou a um conjunto de requisitos. Por exemplo, uma embalagem de farinha pode estar furada e ser classificada como não-conforme em uma inspeção. Crédito: sunwart /Shutterstock. 9 São mais difíceis de interpretar, pois dependem da acuidade visual e, acima de tudo, bom senso. Diferentemente da inspeção por variáveis, as inspeções por atributos não têm números que possam direcionar e definir a aprovação ou reprovação do lote, por isso não são raras as vezes nas quais o fornecedor contesta a reprovação. 2.1 Classificação de defeitos É possível realizar a classificação dos possíveis defeitos segundo sua gravidade. Lembrando que, um defeito é a falta de conformidade a qualquer um dos requisitos especificados. As classes de defeitos são: • Crítico: é o tipo de defeito que pode produzir condições perigosas para o usuário, podendo impedir o funcionamento ou o desempenho de algumas das funções do produto. Exemplo: defeito no sistema de freios de um veículo, impossibilitando sua utilização. • Grave: é um tipo de defeito considerado não crítico, mas pode resultar em falhas ou reduzir a utilidade do produto para o fim ao qual se destina. Exemplo: Defeito na borracha da porta de um refrigerado, não vedando completamente. • Tolerável: este defeito não reduz substancialmente a utilidade do produto para o fim ao qual se destina, também não influencia substancialmente no seu uso efetivo ou operação. Exemplo: Pequeno risco na pintura na lateral inferior de um refrigerado. TEMA 3 – INSPEÇÃO COMPLETA 100% E INSPEÇÃO POR AMOSTRAGEM Quando todos os itens recebidos ou fabricados são inspecionados, denomina-se inspeção 100%, normalmente, adotada para itens ou produtos cuja falha não é tolerada por diversas razões. Como exemplo, pode-se citar o sistema de freios de um carro, que são inspecionados em 100% dos veículos para assegurar a qualidade, já que esse tipo de item pode colocar em risco a vida dos usuários. Aparentemente, a inspeção 100% de um produto ou item pode assegurar a conformidade dele. No entanto, sabe-se que uma pessoa que inspecione visualmente um produto ou item, pode, por exemplo, falhar ou deixar passar um produto não conforme pela fadiga que a atividade proporciona ao operador. 10 Então, a inspeção 100% de um produto ou item, que dependa do fator humano, pode não levar à garantia de qualidade. O guru da qualidade Deming, citava que depender da inspeção 100% é perigoso e não garante a qualidade. Vale observar ainda que ensaios destrutivos, aqueles em que a unidade precisa ser destruída para execução da avaliação, impedem que um produto ou item seja inspecionado 100%. Logo, é necessária uma forma de inspecionar as unidades de produtos que não sejam 100% delas. Uma alternativa a ineficiência e ineficácia da inspeção 100% pode ser a adoção de algum tipo de inspeção que não verifique a totalidade dos produtos ou itens, mas que permita elaborar um julgamento com custos menores e de forma mais rápida a partir de uma parte representativa da população (amostra). 3.1 Inspeção por amostragem A inspeção por amostragem é bastante difundida e aceita nas empresas pelo mundo, com normas estabelecidas para a definição de critérios de inspeção por amostragem para aceitação ajudou tal difusão. Na inspeção por amostragem utiliza-se a inferência estatística para verificação dos produtos, essa área da estatística possibilita fazer ilações sobre alguns parâmetros de uma população a partir de uma amostra. Para julgar a qualidade de um produto, são examinados lotes de produção, onde será retirada, seguindo um critério, uma amostra onde serão feitos os testes de qualidade para determinar se o lote será aprovado ou reprovado. Assim, a inspeção por amostragem pode ser feita com critérios estabelecidos a partir da inferência estatística que podem ter maior aceitação por parte dos produtos e compradores (Martins, 2002). Martins (2002) cita alguns aspectos são importantes na inspeção por amostragem: • O propósito não é estimar a qualidade de um lote, mas sim, julgá-la; • A inspeção por amostragem não fornece de uma forma direta de controle de qualidade, uma vez que o julgamento será aceitar ou rejeitar um lote. Se todos os lotes tiverem a mesma qualidade, alguns serão aceitos e outros serão rejeitados; 11 • O uso mais efetivo da inspeção por amostragem é como uma forma de auditoria que assegura determinado nível de conformidade da saída de um processo (itens ou produtos) de acordo com os requisitos. • O uso da inspeção por amostragem possui preferência quando: • O teste para verificar uma característica da qualidade é destrutivo; • O custo da inspeção 100% são extremamente alto; • A inspeção 100% não é tecnicamente executável ou requer muito tempo para ser feita; • Existem muitos itens ou produtos a serem inspecionados e a fadiga humana ou variação da máquina podem incorrer em erros. A Figura 2 mostra esquematicamente a inspeção por amostragem para aceitação, é importante observar que a ação de inspeção da qualidade do produto é sobre uma amostra das unidades e a decisão é relativa ao lote. Figura 2 – Esquema de inspeção por amostragem para aceitação Fonte: Vieira, 2022. A inspeção por amostragem pode ser realizada com critérios estabelecidos por meio da Inferências Estatística, quem podem ter facilidade de aceitação por fabricantes e consumidores. 12 Este tipo de inspeção pode ocorrer em diversas etapas do processo de produção de um produto: recebimento de materiais; processo de produção ou no final do processo antes do embarque dos produtos para os clientes. Para Martins (2002) as vantagens da inspeção por amostragem são: • Geralmente incorre em custos menores; • Exige manipulação de uma quantidade menor de produtos ou itens, o que reduz a ocorrência de danos; • Menor necessidade de inspetores; • Permite a utilização de testes destrutivos; • Reduz os erros de inspeção por fadiga; • Rejeição de lotes inteiros ao invés de unidades rejeitadas, o que incentiva ou pressiona o fornecedor a melhorar a qualidade. Algumas desvantagens da inspeção por amostragem: • Existe o risco de aceitar lotes “ruins” e rejeitar lotes “bons”; • Menor quantidade de informação é gerada sobre os itens ou produtos produzidos ou sobre o processo de produção que os produziu; • Normalmente requer mais planejamento e documentação que a inspeção 100%. A inspeção por amostragem é realizada com base em um plano de amostragem predeterminado de acordo com certos parâmetros dessas atividades de inspeção e as características do produto ou artigo a ser examinado. Tenha um plano de amostragem para avaliar as características de qualidade dos tipos de características e tipos de variáveis. Segundo Martins (2002) na inspeção por amostragem existe a possibilidade de um lote “bom” ser rejeitado e um lote “ruim” ser aceito, isso implica em riscos tanto para o fornecedor quanto para o comprador. TEMA 4 – PLANOS DE AMOSTRAGEM NA INSPEÇÃO POR ATRIBUTOS No processo de recebimento de materiais a empresa pode definir procedimentos de inspeção por amostragem, para guiar estes procedimentos existem normas específicas para planos de amostragem: • ABNT NBR 5426 – Planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos;13 • ABNT NBR 5427 – Guia para utilização da norma NBR 5426 – Planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos. Quando a empresa cliente utilizar essas normas no recebimento de materiais, deve citar nos contratos, procedimentos, instruções de trabalho e outros documentos, e as determinações estabelecidas devem ser cumpridas. Os planos de amostragem podem ser utilizados para inspeções de: produtos acabados, componentes e matéria-prima, operações, materiais em processo, materiais estocados, operações de manutenção, procedimentos administrativos e dados. No Quadro 1 são apresentadas as operações para definição de planos de amostragem, conforme a norma ABNT NBR 5426. Quadro 1 – Sequência de operações no procedimento de amostragem Operações Explicação 1. Determinar o tamanho do lote Tamanho do lote, estabelecido pelos critérios de formação do lote, contidos nos documentos de aquisição, ou conforme acordo entre produtor e consumidor 2. Escolher o nível de inspeção No início do contrato ou produção é aconselhável usar nível II. Podem ser usados outros níveis de inspeção, se o histórico da qualidade assim o indicar 3. Determinar o código literal do tamanho da amostra É encontrado na Tabela I da NBR 5426 e baseado no tamanho do lote e no nível de inspeção 4. Escolher o plano de amostragem Geralmente usa-se o plano de amostragem simples. Podem, entretanto, ser usadas amostragem dupla e múltipla 5. Estabelecer a severidade da inspeção No início do contrato ou produção utiliza-se inspeção em regime normal 6. Determinar o tamanho da amostra e o número de aceitação Baseados nos requisitos para inspeção simples e regime normal são encontrados na Tabela 2 da NBR 5426, o valor do NQA especificado e o código literal do tamanho da amostra e o número de aceitação 7. Retirada da amostra A amostra é retirada do lote, ao acaso, na quantidade de unidades de produto, conforme determinado na Tabela 2 da NBR 5426 8. Inspeção da amostra O número de defeituosos (ou “defeitos por cem unidades”) é contado e comparado com o(s) número(s) de aceitação, adotando o critério próprio para cada tipo de plano de amostragem Fonte: ABNT NBR 5426, 1985. 14 No Quadro 1 foi utilizado o tempo NQA – Nível de qualidade aceitável, que é a máxima fração defeituosa que pode ser considerada satisfatória como média do processo, ou seja, é o maior valor aceitável para a porcentagem média de peças defeituosas nos lotes de um fornecedor. A sequência da inspeção por amostragem é apresentada na Figura 3. Figura 3 – Fluxo de aceitação por amostragem Fonte: Telhada, 2022. Quando o número de peças defeituosas for menor ou igual ao nível de aceitação o lote é reprovado, quando o número de defeituosas for maior que o nível de aceitação o lote é reprovado. 3.1 Exemplo de plano de inspeção Na Figura 4 é apresentado um fluxograma resumido com os passos para escolha, partindo de três informações: tamanho do lote, nível de inspeção e NQA. 15 Figura 4 – Fluxo resumido para aceitação de lote na inspeção Fonte: Telhada, 2022. Inicialmente define-se o tamanho do lote, depois o nível de inspeção que irá determinar o tamanho da amostra. Com o valor do NQA em mãos obtêm-se o número de amostras necessárias para aceitação ou rejeição do lote. Vamos utilizar como exemplo uma empresa que utiliza nível de inspeção II, amostragem simples, um valor de NQA de 1,5%, lote de 1.500 unidades de produto. Na Tabela 1 temos a norma NBR 5426 sobre codificação de amostragem. Tabela 1 – Codificação de amostragem Fonte: ABNT NBR 5426, 1985. 16 Com o tamanho do lote é de 1.500 unidades será enquadrado entre 1.201 e 3.200, nível geral de inspeção II, correspondendo ao código K. Para um plano de amostragem simples – normal, utiliza-se a tabela 2 da norma NBR 5426, conforme Figura 5. Figura 5 – Plano de amostragem simples normal Fonte: ABNT NBR 5426, 1985. Para um código de amostra K e um NQA 1,5% o tamanho da amostra que será inspecionada é de 125 peças, onde para aceitar o lote as condições são as seguintes: • Número de defeituosas ≤ Ac → Aceitar o lote N • Número de defeituosas ≥ Re → Rejeitar o lote N • Ac: número de peças defeituosas que ainda permite aceitar o lote • Re: número de peças defeituosas que implica a rejeição do lote. (Neste caso conforme a codificação K e NQA 1,5% o Ac é de 5 peças e o Re 6 peças, portanto, se encontrar até 5 peças defeituosas o lote é aceito, se encontrar mais que 6 peças defeituosas o lote é reprovado). A norma NBR 5426 estabelece três níveis gerais de inspeção e quatro níveis especiais de inspeção. Com estes sete níveis o usuário tem condições de equilibrar o custo de inspeção e a proteção da qualidade requerida. Nos níveis de inspeção I, II, III são normalmente utilizados em inspeções do tipo não- destrutiva. Os níveis especiais S1, S2, S3, S4 são normalmente utilizados em 17 inspeções tipicamente destrutivas ou que possuem custo elevado onde pequenos tamanhos de amostra são adequados. Também são previstos três tipos de amostragem: simples, dupla e múltipla. É possível consultar a norma NBR 5426 na internet para ter acesso as outras tabelas de amostragem. TEMA 5 – RNC – RELATÓRIO DE NÃO CONFORMIDADES De acordo com Marrafa (2006) uma não conformidade é a carência em uma especificação de produto, característica, requisito, parâmetro de processo, registro ou procedimento, que torna a qualidade de um produto inaceitável, indeterminada ou fora de requerimentos estabelecidos. É um componente, material de fabricação ou produto acabado fora de especificações, antes ou após a sua distribuição. Crédito: Juice /Shutterstock. Segundo Ribeiro (2016) pode-se dizer que uma não conformidade é uma situação indesejada e, portanto, deve ser registrada e analisada para que a empresa possa, devidamente, tratá-la. O adequado gerenciamento das não conformidades é um ponto crucial para a melhoria contínua do Sistema de Gestão da Qualidade. Para a ABNT NBR ISO 9001:2015, quando a não conformidade do produto for detectada após a entrega ou início de seu uso, a empresa deverá 18 tomar as ações adequadas em relação aos seus efeitos, ou potenciais efeitos, da não conformidade. Convém que a Alta Direção da empresa dê autoridade para as pessoas que nela trabalham, de modo a reportar não conformidades, a qualquer etapa de um processo, para assegurar, em tempo hábil, a detecção e correção de não conformidades. 5.1 Tratamento de não conformidades Quanto mais rápido uma não conformidade for identificada e tratada, maior será a qualidade agregada e menos prejuízos serão causados, por isso, o tempo é um fator de extrema importância no tratamento delas. A definição dos responsáveis e a forma de tratar não conformidades devem estar claramente definidas. Quando alguma delas ocorrer, poderão ser feitas as ações de correções necessárias para eliminar a não conformidade ou o produto pode ser liberado sob concessão do cliente ou autoridade pertinente. Ou seja, quanto mais pontos de controle tiver, a chance e encontrar mais não conformidades será maior. Segundo Ribeiro (2016), uma eventual ocorrência de não conformidade é um fator intrínseco a qualquer sistema de gestão, entretanto, é fundamental que sejam investigadas e corrigidas com a máxima prioridade, considerando-se inaceitável a reincidência do ocorrido. O acontecimento de uma não conformidade não traz benefícios, mas, por meio do Sistema de Gestão da Qualidade, a forma como é tratado leva a empresa a melhorar continuamente. Toda situação não conforme é uma oportunidade de aprimorar os processos da empresa. Crédito: Pavlo S/Shutterstock. 19 5.2 RNC - Relatório de Não Conformidade De acordo com a ABNT NBR ISO 9001:2015, em seu requisito 10.2.2, destaca-se:“A organização deve reter informações documentada como evidência: a) Da natureza das não conformidades e quais ações subsequentes tomadas; b) Dos resultados de qualquer ação corretiva.” Essa informação documentada, é o relatório de não conformidades, que é um documento que aponta questões referentes aos requisitos que não atendam os padrões de qualidade da empresa. É utilizado com parte dos processos de controle da qualidade, mostrando detalhes do problema e incluindo basicamente informações relacionadas a descrição do fato ocorrido, processo atingido, quando ocorreu, ação imediata e prazo para execução (Sestrem, 2021). Um relatório de não conformidades pode ser estruturado da seguinte maneira: • Identificação; • Descrição; • Análise da causa-raiz; • Ações corretivas; • Avaliação da eficácia das ações. A identificação é o início do processo, é o momento de verificar o que pode ser feito e melhorar os resultados. Ela pode ocorrer durante uma inspeção de recebimento, verificação de um processo produtivo ou de reclamação de clientes, todas estas situações podem ser registradas na RNC. Para Sestrem (2021), a descrição é o momento de detalhar a não conformidade, algumas informações podem ser levadas em consideração no preenchimento do relatório: • Qual a origem do problema? • Qual o requisito afetado? • Que processos foram impactados pelo problema ocorrido? • Qual a principal ação corretiva que foi tomada ou será tomada? Durante a análise da causa-raiz, busca-se o real motivo que um determinado problema aconteceu. Isso porque pressupõe-se que é muito mais eficaz prevenir e resolver a raiz do problema ao invés de tratar apenas os 20 sintomas e apagar incêndios. Algumas ferramentas da qualidade podem ser utilizadas nesta etapa: Diagrama de Ishikawa; 5 porquês e Brainstorming. Com a identificação da causa raiz, são iniciadas as ações corretivas, é preciso registrar todas as informações relacionadas as ações corretivas que serão realizadas. Para isso, é criado um plano de ação em que serão inseridas informações sobre o que será feito, responsáveis, como e quando será feito para posterior acompanhamento. Nesta etapa, pode ser utilizada a ferramenta do plano de ação 5W2H. Crédito: The/Shutterstock. Na última etapa é realizada a verificação da eficácia das ações, para saber se o que foi planejado foi executado e o problema resolvido. Neste caso, alguns pontos devem ser levados em conta, para ajudar a análise: • A ação foi adequada? O recurso utilizado é apropriado? • A ação foi suficiente? Eliminou o efeito do problema? • A ação foi eficaz? Eliminou a causa do problema? É importante ter documentado se as ações propostas eliminaram o problema após um teste ou ação mais detalhada. Se houver reincidência é um sinal de que a determinação da causa raiz não realizada corretamente, e será necessário voltar algumas etapas e investigar mais a fundo se existem outros problemas que estejam impactando o resultado final (Sestrem, 2021). 5.3 Benefícios do RNC - Relatório de Não Conformidade Para Sestrem (2021), o uso deste tipo de documentação pela empresa pode trazer diversos benefícios: 21 • É um valioso indicador para avaliar o desempenho dos sistemas e operações de gestão da qualidade já implementados; • Mantém um registro do histórico de não conformidades, ajudando na tomada de decisões caso ocorram eventos futuros; • Aprimora e promove ações corretivas e preventivas; • Ajuda aumentar a qualidade dos produtos e serviços, trazendo maior satisfação do cliente, na reputação dos produtos e consequentemente no aumento da lucratividade da empresa. É importante frisar que empresas que abrem não conformidades com o intuito de preencher formulários e gerar burocracia, sem efetivamente tratá-las em sua causa-raiz, não conseguem girar o PDCA que permite evoluir a favor da melhoria contínua. O ponto mais importante, que realmente interessa em uma ação corretiva, é tomar ações capazes de efetivamente evitar recorrências, pois se uma não conformidade se repete, o tratamento destinado a ela não foi eficaz. FINALIZANDO Nessa etapa estudamos o processo de recebimento de materiais, que é a execução de um conjunto de operações que envolvem a identificação do material recebido, a conferência da nota fiscal com o pedido, a inspeção quantitativa, qualitativa e aceitação ou rejeição. Vimos que a inspeção da qualidade é um processo que busca identificar se uma peça, amostra ou lote atende a certas especificações da qualidade. É sempre centrada em uma característica da qualidade, e de acordo com a importância desta característica para o funcionamento da peça avaliada, o resultado da inspeção pode levá-la a aprovação ou rejeição, essa inspeção pode ser por variáveis e atributos. Também estudamos que quando todos os itens recebidos ou fabricados são inspecionados, denomina-se inspeção 100%, normalmente, adotada para itens ou produtos cuja falha não é tolerada por diversas razões. Na inspeção por amostragem utiliza-se a inferência estatística para verificação dos produtos, essa área da estatística possibilita fazer ilações sobre alguns parâmetros de uma população a partir de uma amostra. Entendemos que é possível elaborar planos de amostragem conforme a norma ABNT NBR 5426, em que é possível determinar os níveis de qualidade 22 aceitáveis, níveis de inspeção, tamanho de amostra e quantidades para aprovar ou reprovar um lote. Por fim estudamos sobre um documento utilizado quando problemas são detectados, que é o RNC – relatório de não conformidades, que é um documento que aponta questões referentes aos requisitos que não atendam os padrões de qualidade da empresa. 23 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 5426:1985. Planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos. Rio de Janeiro: ABNT, 1985. _____. NBR ISO 9001:2015. Sistemas de Gestão da Qualidade – Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. DA ROSA, C. Introdução ao controle estatístico de processos. Fundação de Apoio a Tecnologia e Ciencia-Editora UFSM, 2016. FRANCISCHINI, G.; GURGEL, A. Administração de Materiais e do Patrimônio. São Paulo: Thomson Pioneira, 2002. cap. 2, p.29-32 GOUDARD, A. 2012. Proposta de melhoria para o processo de recebimento de materiais da empresa Flexiv Escritórios de Sucesso. Monografia de Especialização. UFPR. MARRAFA, M. 2006. O gerenciamento das suas não conformidades. São Paulo. Disponível em: <http://www.banasmetrologia.com.br/textos.asp?codigo=2087&secao=revista>. Acesso em: 31 jan. 2023. MARTINS, A. 2002. Inspeção por amostragem. Disponível em: <https://www.dcce.ibilce.unesp.br/~adriana/ceq/Material%20de%20aula/Ap_ins p*.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2023. MORAES, A. Administração industrial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1994. PAOLESCHI, B. Logística industrial integrada: do planejamento, produção, custo e qualidade à satisfação do cliente. Saraiva Educação SA, 2009. RIBEIRO, A. Sistema de Gestão de Não Conformidades. 2016. Monografia de Bacharelado em Ciência da Computação. CUEZO. SANTOS, D. Gestão de almoxarifados. 1. ed. CIP, SC, 2001. SESTREM, T. 2021. Não conformidades. Disponível em: <https://qualyteam.com/pb/blog/relatorio-nao-conformidades/>. Acesso em: 31 jan. 2023. TELHADA, M. 2022. Cuidados importantes na inspeção de aceitação por amostragem. Disponível em: <https://www.midomenech.com.br/cuidados- 24 importantes-na-inspecao-de-aceitacao-por-amostragem/>. Acesso em: 31 jan. 2023. VIANA, J. Administração de materiais: um enfoque prático. São Paulo: Atlas, 2000. Cap 3, p.281-306. _____. Administração de materiais: um enfoque prático. São Paulo: Atlas, 2009.
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