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Introdução à Engenharia Bioquímica Disciplina: Engenharia Bioquímica Professora: Carolina Resmini Melo Marques Princípios Básicos de Bioquímica • A bioquímica estuda as estruturas moleculares, os mecanismos e os processos químicos responsáveis pela vida. Os organismos vivos continuamente efetuam atividades funcionais que permitem a sua sobrevivência, crescimento e reprodução. • Para realizar suas funções, os seres vivos dependem da capacidade de obter, transformar, armazenar e utilizar energia. Células: a unidade básica da vida • As células são as unidades estruturais e funcionais de todos os organismos vivos. • As células são classificadas de acordo com seu tamanho e complexidade em: - Procarióticas; - Eucarióticas. Figura 1: Células Eucarióticas e Procarióticas. Metabolismo celular O metabolismo celular é o conjunto de todas as reações químicas, de catabolismo e de anabolismo, que ocorrem nas células de todos os seres vivos. Tais reações são acompanhadas por transferências de energia. Figura 2: Anabolismo e Catabolismo. Macromoléculas • As macromoléculas são constituídas pela união química de precursores relativamente simples (subunidades monoméricas) para formar polímeros de unidades repetidas. • As quatro principais classes de moléculas biológicas são: - Carboidratos - Proteínas - Lipídios - Ácidos Nucléicos Carboidratos • São polímeros de açúcares simples, como a glicose. • Certos carboidratos (açúcar comum e amido) são a base da dieta na maior parte do mundo e a oxidação dos carboidratos é a principal via metabólica fornecedora de energia para a maioria das células não-fotossintéticas. • A fórmula geral da maioria é: (CH2O)n. • São divididos em grupos de acordo com seu tamanho: - Monossacarídeos (ou açúcares simples). - Oligossacarídeos (compostos de cadeias curtas de unidades monossacarídicas, unidas por ligações características chamadas glicosídicas. Os mais abundantes são os dissacarídeos, formados por duas unidades de monossacarídeos. Um exemplo é a sacarose, a maltose e a lactose). Proteínas • São formadas por longos polímeros de aminoácidos. • Apresentam elevada massa molecular. • São as moléculas mais diversificadas quanto à forma e à função. • São sintetizadas a partir de apenas 20 monômeros diferentes: os aminoácidos. • Os aminoácidos são compostos que apresentam, na sua molécula, um grupo amino (-NH2) e um grupo carboxila (-COOH). Figura 3: Estrutura e classificação dos aminoácidos. Lipídios • Os lipídios, também chamados de gorduras, são biomoléculas orgânicas compostas, principalmente, por moléculas de H, O e C. • Fazem parte ainda da composição dos lipídios outros elementos como, por exemplo, o fósforo. • Fornecem energia para as células. Porém, estas preferem utilizar primeiramente a energia fornecida pelos glicídios. • Alguns tipos de lipídios participam da composição das membranas celulares. Ácido graxo + Glicerol → Lipídio Ácidos Nucléicos • Formados por unidades monoméricas menores conhecidas como nucleotídeos. • Cada nucleotídeo, por sua vez, é formado por três partes: um açúcar do grupo das pentoses (monossacarídeos com cinco átomos de carbono); um radical “fosfato”, derivado da molécula do ácido ortofosfórico (H3PO4) e uma base orgânica nitrogenada. • Constituem o DNA e o RNA que armazenam, transmitem e transcrevem a informação genética. Tabela 1: Comparação das classes de macromoléculas. Respiração X Fermentação • Os seres vivos utilizam a molécula de adenosina trifosfato (ATP) como fonte de energia para diferentes ações. • o ATP é constituído por um nucleotídeo composto pela base nitrogenada (adenina) ligada a um açúcar (ribose) e três fosfatos, cuja energia é armazenada nas ligações químicas entre os fosfatos. O rompimento dessa ligação libera fosfato que é utilizado nos processos celulares. • O ATP é utilizado e gerado durante os processos de respiração celular, tanto na presença de oxigênio (respiração aeróbia) quanto na ausência de oxigênio (respiração anaeróbia e fermentação). Figura 4: Estrutura do ATP, ADP e AMP. • RESPIRAÇÃO: ➢ A respiração divide-se em duas fases: - a anaeróbia, que compreende a etapa da glicólise, que ocorre na ausência do oxigênio no citoplasma das células eucariótica e procariótica; - e aeróbia que ocorre na presença do oxigênio. ➢ A fase aeróbia divide-se em duas etapas: - o ciclo de Krebs que ocorre nas mitocôndrias das células eucarióticas e no citoplasma das células procarióticas; - e a cadeia respiratória que ocorre nas mitocôndrias e próximas à face interna da membrana plasmática. Figura 5: Esquema simplificado dos processos que envolvem a respiração aeróbia. • FERMENTAÇÃO: - A fermentação ocorre na ausência do oxigênio. - A glicose é degradada em substâncias mais simples, como o ácido lático (fermentação lática) e o álcool etílico (fermentação alcoólica). - Tanto na fermentação lática como alcoólica há um saldo de apenas 2 moléculas de ATP e, em ambos os processos, iniciam com o ácido pirúvico obtido da glicólise, como descrito na respiração aeróbia. Engenharia Bioquímica: uma aplicação sui generis da engenharia química O objetivo da Engenharia Bioquímica é a aplicação dos conhecimentos da Engenharia Química na solução de problemas que se apresentam na implantação de processos biotecnológicos em larga escala, e em sua otimização. • A célula microbiana responsável pela transformação que nos interessa em um dado processo realiza, além dessa transformação, um grande número de outras reações com o objetivo, para ela absolutamente primordial, de manter-se viva e multiplicar-se. • O conhecimento das prováveis vias metabólicas que se desenvolvem nas células é, neste particular, de grande auxílio, fornecendo muitas vezes informações que indicam a maneira mais adequada de conduzir o processo que nos interessa. • A manutenção de um razoável grau de “homogeneidade” no reator, para que todos os agentes da transformação se encontrem, pelo menos aproximadamente, nas mesmas condições, é outro problema a ser considerado, principalmente em reatores industriais. Histórico • A biotecnologia pode ser dividida em 6 fases: - A primeira fase durou até 1900. Nessa época apenas dois produtos eram fabricados em grande escala: o vinagre e o álcool. - A segunda fase abrange o período de 1900 a 1940. Fabricava-se um número maior de produtos. Os fermentadores eram equipados com agitadores mecânicos e passou a ser feita a aeração do meio. - A terceira fase começou em 1940 e vai até os dias de hoje. Aos produtos que já eram fabricados acrescentou-se os antibióticos, os aminoácidos, as enzimas, etc. - A quarta fase começou em 1960 com aplicação de técnicas de engenharia genética para produzir cepas mais eficientes. - A quinta fase começou em 1979 com a aplicação da tecnologia do DNA-recombinante. - A sexta fase data do início dos anos 80. Ela baseia-se principalmente em aplicações médicas, notadamente em diagnóstico de doenças de origem virótica. Processo biotecnológico industrial genérico • Para que o resultado que se tem em vista seja alcançado, dois conjuntos de operações devem ser também cuidadosamente considerados, a saber: - Os tratamentos iniciais. - Os tratamentos finais. Figura 7: Representação esquemática de um processo biotecnológico industrial genérico. • Tipos de processos conforme os agentes das transformações: - Processos enzimáticos. - Processos fermentativos (o reator é chamado de dorna). • Cumpre não esquecer que a atividade vital dos microrganismos responsáveis por um processo fermentativo é sempre o resultado de considerável número de reações enzimáticas. A rigor, portanto, quer nos processos chamados enzimáticos, quer nos denominados fermentativos, enzimas são, em última análise, os catalisadores das transformações que ocorrem no reator. Microrganismos e meios de cultura para utilização industrial Figura 8: Esquema geral de um processo fermentativo. Fontes de microrganismos de interesse• Microrganismos que possam ter interesse industrial, podem ser obtidos basicamente das seguintes formas: - isolamento a partir de recursos naturais; - compra em coleções de culturas; - obtenção de mutantes naturais; - obtenção de mutantes induzidos por métodos convencionais; - obtenção de microrganismos recombinantes por técnicas de engenharia genética. Características desejáveis de microrganismos • Apresentar elevada eficiência na conversão do substrato em produto; • permitir o acúmulo do produto no meio, de forma a se ter elevada concentração do produto no caldo fermentado; • não produzir substâncias incompatíveis com o produto; • apresentar constância quanto ao comportamento fisiológico; • não ser patogênico; • não exigir condições de processo muito complexas; • não exigir meios de cultura dispendiosos; • permitir a rápida liberação do produto para o meio. • A operação de biorreatores de grande porte, do ponto de vista técnico e econômico, praticamente exige o emprego de microrganismos não patógenos, os quais possam ser manuseados sem riscos ambientais, particularmente nas etapas seguintes em relação ao término do processo fermentativo. • O cultivo de patogênicos é efetuado, por exemplo, para a produção de vacinas, em reatores de pequeno porte, porém confinados em câmaras assépticas, tomando-se precauções necessárias para a não ocorrência de contaminação do meio ambiente. Existem valores ótimos do pH e da temperatura, por exemplo, em termos do acúmulo do produto. No entanto, também se sabe que o controle preciso do pH e da temperatura apenas é possível em reatores de bancada, sendo que em reatores de grande porte deverá ocorrer uma certa heterogeneidade ao longo da altura do reator, de forma que a célula deverá manter o seu desempenho, apesar de uma certa flutuação nos valores destas grandezas tomadas como exemplo. • Os microrganismos podem ser classificados de acordo com a temperatura em que seu crescimento é pleno em: - Mesófilos: se desenvolvem entre 20°C e 40°C. - Termófilos: se desenvolvem em temperaturas entre 45°C e 100°C. - Psicrófilos: se desenvolvem em temperaturas baixas entre -4°C e 15°C. • Quanto ao pH, existe uma faixa ótima de concentração de íons hidrogênio para o desenvolvimento de microrganismos. • As bactérias preferem os meios neutros (pH 7 – 7,5), sendo a maioria tolerantes a pH entre 6 e 9. • As leveduras e os mofos preferem meios relativamente ácidos (pH 3- 6). • Os microrganismos geralmente crescem melhor no pH do seu habitat natural. - Aeróbios: necessitam de oxigênio para sua sobrevivência. - Anaeróbios: não sobrevivem na presença de oxigênio. - Anaeróbios facultativos: sobrevivem na ausência ou na presença de oxigênio. Tais organismos podem ser subdivididos em dois grupos, dependendo se o oxigênio é ativamente metabolizado ou é meramente tolerado. - Microaerófilos: precisam de oxigênio para sobreviver, mas a concentrações muito baixas. - Aerotolerantes: são bactérias anaeróbias que crescem em pressões de oxigênio inferiores à da atmosfera terrestre. • A necessidade de manutenção de altas concentrações de oxigênio dissolvido traz problemas bastante sérios no tocante a um maior dispêndio de energia, em virtude de uma maior agitação e aeração do meio. • Quanto ao requerimento de oxigênio, os microrganismos podem ser classificados em: Meios de cultura para aplicação industrial • Algumas características gerais que devem ser consideradas são: - ser o mais barato possível; - atender às necessidades nutricionais do microrganismo; - auxiliar no controle do processo, como é o caso de ser ligeiramente tamponado, o que evita variações drásticas de pH, ou evitar uma excessiva formação de espuma; - não provocar problemas na recuperação do produto; - os componentes devem permitir algum tempo de armazenagem, a fim de estarem disponíveis todo o tempo; - ter composição razoavelmente fixa; - não causar dificuldades no tratamento final do efluente. • Os microrganismos retiram do meio ambiente todas as substâncias necessárias para a síntese de material celular e de obtenção de energia. • As necessidades dos microrganismos variam muito. • Microrganismos autotróficos podem sintetizar todos os metabólitos necessários para a célula a partir de compostos inorgânicos; os heterótrofos requerem um ou mais nutrientes orgânicos. • Os microrganismos utilizam como fonte de carbono, e frequentemente de energia, diversos açúcares, tais como: glicose, sacarose, frutose, ou ainda polissacarídeos, como o amido. • O carbono representa de 45 a 50% do peso seco celular. É o componente básico para a biossíntese, fazendo parte de todos os compostos sintetizados pela célula. • Como fonte de nitrogênio são frequentemente utilizados sais, como o (NH4)2SO4 (o qual costuma provocar reduções significativas no pH e, em alguns casos, fenômenos de inibição pelo sulfato), o (NH4)2HPO4, ou aminoácidos, ou a ureia. • O nitrogênio consiste de 10 a 15% do peso seco das células. • Como fonte de fósforo utilizam-se os fosfatos solúveis, os quais passam a ser fontes de nitrogênio e fósforo simultaneamente. O fósforo é importante na regulação do metabolismo celular e no fornecimento de fosfatos para a geração de energia. • Ainda, necessita-se adicionar outros elementos, como: Na, K, Ca, Fe, Cu, Mg, Mn, Co, etc, em concentrações frequentemente muito reduzidas, na forma de seus sais solúveis. Estes compostos, às vezes, estão presentes como impurezas de outros ingredientes do meio de cultura. • Meios de cultura constituídos apenas por essas substâncias costumam ser chamados de meios definidos, ou meios sintéticos, cuja composição química é sempre muito bem conhecida e pode ser reproduzida a qualquer instante. • No entanto, para uma grande variedade de linhagens, há a necessidade da adição de certos “fatores de crescimento”, ou seja, alguns aminoácidos específicos ou vitaminas. Modos de fermentação Os modos de fermentação podem ser classificados como descontínuos ou batelada, semi-contínuo ou contínuo. Operação em batelada: - Todos os nutrientes e substratos são alimentados ao reator antes da inoculação das células. - Durante a operação não há adição de nutrientes e/ou substratos. - A maioria dos processos fermentativos tradicionais são conduzidos em batelada. • Operação em batelada alimentada: - Consiste em adicionar contínua ou intermitentemente, um ou mais nutrientes precursores ou substrato ao reator durante a fermentação. - Eficiente na redução dos efeitos indesejáveis causados pela concentração elevada no meio de cultura de compostos nocivos, mas essenciais, aos microrganismos, através da adição controlada dos mesmos. • Operação contínua: - Na operação contínua substratos e nutrientes são continuamente alimentados ao reator e substratos e nutrientes são consumidos, produtos e células são retirados do reator. - Em operação estacionária a vazão de retirada iguala- se à vazão de entrada. - Combinações dos modos de operação apresentados são possíveis. Dentre estas merece destaque a operação tendo reatores batelada em série, repetidas bateladas e reator contínuo com reciclo.
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