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TransporTe Prof. Henryck Cesar Prof. Hungaro Yoshi Prof. Ramon Gomes de Castro Lourenço Prof. Rodrigo Orgeda Fenômenos de Indaial – 2023 2a Edição Impresso por: Elaboração: Prof. Henryck Cesar Prof. Hungaro Yoshi Prof. Ramon Gomes de Castro Lourenço Prof. Rodrigo Orgeda Copyright © UNIASSELVI 2023 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. CESAR, Henryck. Fenômenos de Transporte. Henryck Cesar; Hungaro Yoshi; Ramon Gomes de Castro Lourenço; Rodrigo Orgeda. Indaial - SC: Arqué, 2023. 304p. ISBN 978-65-5646-586-9 ISBN Digital 978-65-5646-587-6 “Graduação - EaD”. 1. Fenômenos 2. Transporte 3. Engenharia CDD 620.106 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Fenômenos de Transporte, que iniciará os seus estudos acerca de uma disciplina fundamental para a maioria dos cursos de Engenharia, uma vez que busca explicar como as transferências de momento (mecânica dos fluidos), de calor e de massa acontecem na natureza. Esse entendimento permite desenvolver processos e equipamentos para diversas aplicações, mas, mais do que isso, desenvolverá a habilidade de observar e analisar os fenômenos da natureza. Para tomar uma xícara de chá, precisa-se de água, a qual é fornecida por longos sistemas de abastecimento, os quais contam com tubulações, bombas, válvulas e caixas d’água. Entender quais são as energias associadas ao escoamento de um fluido (nesse caso, o fluido é a água) é um clássico problema de mecânica dos fluidos, um conteúdo que será abordado nas Unidades 1 e 2. Após colocar a água em um recipiente, será necessário aquecê-la. Isso pode ser feito de diferentes maneiras, mas consiste, essencialmente, em adicionar energia à água até alcançar a temperatura desejada – um problema de transferência de calor, assunto que estudaremos na Unidade 2. Por fim, resta apenas colocar o saquinho de chá nessa água, iniciando um processo de infusão – moléculas que dão aroma e sabor saem das ervas do chá e são transportadas para a água, processo que está relacionado à transferência de massa, que será discutida na Unidade 3. Nesse momento, podem surgir algumas dúvidas, como: qual potência seria necessária para que a bomba seja capaz de escoar a água da estação de tratamento até as torneiras de casa? Haverá diferença em fazer o chá em um dia mais frio ou em um dia mais quente? Quanto tempo levará até que a infusão esteja completa? Quanto o chá terá esfriado por estar exposto ao ambiente? O estudo dos fenômenos de transporte procura responder a perguntas como essas, presentes desde situações mais simples do cotidiano até aplicações complexas, por estarem inseparavelmente ligadas à natureza. O objetivo deste livro é dar um enfoque prático à disciplina de Fenômenos de Transporte, apontando os caminhos que você, como futuro engenheiro, deverá seguir, caso necessite se aprofundar em qualquer um dos assuntos abordados. Assim, aproveite o processo de aprendizagem e entenda que só não gostamos daquilo que sabemos pouco, então, siga o fluxo de leitura mesmo que, naquele momento, você não tenha entendido algum termo – lá na frente, ele poderá fazer sentido ou você pode buscá- lo em outras fontes. Saber pesquisar é uma das competências que esperamos de um profissional de Engenharia. Quando tudo se conectar em sua mente, você comprovará que o conhecimento é realmente libertador! Bons estudos! Prof. Henryck Cesar Prof. Hungaro Yoshi Prof. Ramon Gomes de Castro Lourenço Prof. Rodrigo Orgeda APRESENTAÇÃO GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! QR CODE SUMÁRIO UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AOS FENÔMENOS DE TRANSPORTE E À MECÂNICA DOS FLUIDOS .................................................................................................. 1 TÓPICO 1 — CONCEITOS DOS FENÔMENOS DE TRANSPORTE E DA MECÂNICA DOS FLUIDOS .............................................................................................................5 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................5 2 LEIS DE CONSERVAÇÃO, DIMENSÕES E UNIDADES DE MEDIDA ....................................5 2.1 LEIS DE CONSERVAÇÃO ..................................................................................................................... 6 2.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS ............................................................................................................8 2.2.1 Dimensões e unidades de medida ..........................................................................................9 2.2.2 Frações mássicas e molares .................................................................................................. 11 3 BALANÇO MATERIAL ........................................................................................................ 16 3.1 SISTEMAS ............................................................................................................................................. 16 3.2 SISTEMAS COM MÚLTIPLOS COMPONENTES...............................................................................21 3.3 ESTRATÉGIAS PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ..................................................................25 4 RECICLO, BYPASS E PURGA ........................................................................................... 30 4.1 RECICLO .................................................................................................................................................30 4.2 BYPASS E PURGA ...............................................................................................................................35 5 FLUIDO E A LEI DE NEWTON DA VISCOSIDADE .............................................................. 40 5.1 O CONCEITO DE FLUIDO ................................................................................................................... 40 5.2 TENSÃO DE CISALHAMENTO E A LEI DE NEWTON DA VISCOSIDADE ...................................43 5.3 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS .......................................................................................................45 6 ANÁLISE DIMENSIONAL .................................................................................................. 53 6.1 EQUAÇÕES DIMENSIONAIS ...............................................................................................................53 6.2 NÚMEROS ADIMENSIONAIS .............................................................................................................56 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 63 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 65 TÓPICO 2 — ESTÁTICA DE FLUIDOS ................................................................................... 69 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 69 2 PRESSÃO E SUAS RELAÇÕES MATEMÁTICAS ............................................................... 69 2.1 O CONCEITO DE PRESSÃO ................................................................................................................69 2.2 LEI DE PASCAL .....................................................................................................................................71 2.3 TEOREMA DE STEVIN E CARGA DE PRESSÃO............................................................................. 74 3 ESCALAS E UNIDADES DE PRESSÃO ..............................................................................76 4 MEDIDORES DE PRESSÃO ............................................................................................... 80 4.1 BARÔMETRO ......................................................................................................................................... 81 4.2 MANÔMETRO DE BOURDON ............................................................................................................82 4.3 PIEZÔMETRO (COLUNA PIEZOMÉTRICA) ......................................................................................83 4.4 TUBO EM U .......................................................................................................................................... 84 5 EQUAÇÃO MANOMÉTRICA .............................................................................................. 86 6 EMPUXO ............................................................................................................................ 92 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................97 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 98 TÓPICO 3 — CINEMÁTICA DE FLUIDOS ............................................................................. 101 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 101 2 CARACTERIZAÇÃO DO ESCOAMENTO .......................................................................... 101 2.1 VISCOSO OU NÃO VISCOSO .............................................................................................................101 2.2 INTERNO OU EXTERNO ...................................................................................................................102 2.3 COMPRESSÍVEL OU INCOMPRESSÍVEL ......................................................................................103 2.4 NATURAL OU FORÇADO..................................................................................................................105 2.5 PERMANENTE OU TRANSIENTE ...................................................................................................105 2.6 LAMINAR OU TURBULENTO ...........................................................................................................106 2.7 UNIDIMENSIONAL, BIDIMENSIONAL OU TRIDIMENSIONAL ....................................................109 3 TRAJETÓRIA E LINHA DE CORRENTE ........................................................................... 110 4 VAZÃO E VELOCIDADE MÉDIA ....................................................................................... 112 5 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE EM REGIME PERMANENTE ...........................................117 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 121 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................123 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................125 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................128 UNIDADE 2 — BALANÇO DE ENERGIA MACROSCÓPICO E TRANSFERÊNCIA DE CALOR ....................................................................................................129 TÓPICO 1 — EQUAÇÃO DA ENERGIA E SUAS IMPLICAÇÕES ...........................................133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................133 2 DEFINIÇÕES E TIPOS DE ENERGIAS MECÂNICAS ........................................................133 2.1 ENERGIA POTENCIAL (E p) ................................................................................................................ 135 2.2 ENERGIA CINÉTICA (Ec) .................................................................................................................. 135 2.3 ENERGIA DE PRESSÃO (Epr) .......................................................................................................... 136 2.4 ENERGIA MECÂNICA TOTAL DO FLUIDO (EM) ............................................................................ 137 3 EQUAÇÃO DE BERNOULLI E SUA APLICAÇÃO EM MEDIDORES DE VELOCIDADE ..... 137 3.1 EQUAÇÃO DE BERNOULLI ...............................................................................................................138 3.2 TUBO DE PITOT ................................................................................................................................. 143 4 EXTENSÕES DA EQUAÇÃO DE BERNOULLI: TRABALHO E FLUIDOS REAIS ...............148 4.1 BOMBAS E TURBINAS NA EQUAÇÃO DA ENERGIA ...................................................................1484.2 EQUAÇÃO DA ENERGIA PARA FLUIDOS REAIS ......................................................................... 153 5 ESCOAMENTOS EM CONDUTOS ....................................................................................158 5.1 CONDUTOS E SUAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS ..................................................................... 159 5.2 CAMADA LIMITE HIDRODINÂMICA ............................................................................................... 162 5.2.1 Camada limite em uma placa plana ................................................................................... 162 5.2.2 Camada limite em condutos................................................................................................ 165 6 PERDAS DE CARGA .........................................................................................................166 6.1 PERDA DE CARGA DISTRIBUÍDA ....................................................................................................167 6.2 PERDA DE CARGA LOCALIZADA (SINGULAR) ........................................................................... 174 6.3 INSTALAÇÕES DE RECALQUE .......................................................................................................180 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................190 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................192 TÓPICO 2 — INTRODUÇÃO À TRANSFERÊNCIA DE CALOR .............................................195 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................195 2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS ........................................................................................195 3 CONDUÇÃO UNIDIMENSIONAL ......................................................................................199 3.1 CONDUÇÃO UNIDIMENSIONAL EM REGIME PERMANENTE .................................................... 199 3.2 RESISTÊNCIA TÉRMICA .................................................................................................................. 203 4 FUNDAMENTOS DA CONVECÇÃO ..................................................................................210 4.1 LEI DE NEWTON DO RESFRIAMENTO ...........................................................................................210 4.2 CAMADA LIMITE TÉRMICA .............................................................................................................. 212 4.3 CONVECÇÃO EM CIRCUITOS TÉRMICOS ....................................................................................214 5 FUNDAMENTOS DA RADIAÇÃO ......................................................................................218 RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................... 222 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 224 TÓPICO 3 — TROCADORES DE CALOR ............................................................................. 227 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 227 2 TIPOS DE TROCADORES DE CALOR ............................................................................. 227 3 TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM TROCADORES .......................................................... 234 3.1 MÉDIA LOGARÍTMICA DAS TEMPERATURAS ............................................................................. 234 3.2 COEFICIENTE GLOBAL DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR ....................................................... 235 4 ANÁLISE DE TROCADORES DE CALOR ........................................................................ 243 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................251 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 254 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 256 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 259 UNIDADE 3 — INTRODUÇÃO À TRANSFERÊNCIA DE MASSA ..........................................261 TÓPICO 1 — MECANISMO DE DIFUSÃO DE MASSA ......................................................... 263 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 263 2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS ....................................................................................... 263 3 DIFUSÃO MÁSSICA .........................................................................................................267 RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................... 282 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 283 TÓPICO 2 — MECANISMO DE CONVECÇÃO DE MASSA ................................................... 285 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 285 2 NÚMEROS ADIMENSIONAIS DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA ................................... 285 3 CONVECÇÃO MÁSSICA .................................................................................................. 288 RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................... 289 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 290 TÓPICO 3 — ANALOGIA ENTRE OS FENÔMENOS DE TRANSPORTE ...............................291 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................291 2 ANALOGIA DE REYNOLDS E SUAS EXTENSÕES ...........................................................291 3 APLICAÇÃO DE CORRELAÇÕES EXPERIMENTAIS ...................................................... 293 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 297 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 302 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 303 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 304 1 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AOS FENÔMENOS DE TRANSPORTE E À MECÂNICA DOS FLUIDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • definir o que são os fenômenos de transporte: transferência de momento (mecânica dos fluidos), calor e massa, e estruturar os conceitos básicos necessários para lidar com problemas relacionados, como conversão de unidades e fração mássica; • estudar o conceito de balanço material, abordando estratégias de resolução e aplica- ções, como reciclo, bypass e purga; • introduzir o estudo da mecânica dos fluidos, por meio da conceitualização dos flui- dos, da definição da tensão de cisalhamento e dos conceitos de viscosidade absoluta (dinâmica), massa específica, peso específico e viscosidade cinemática; • estudar a teoria matemática da análise dimensional, apresentando a sua aplicação na mecânica dos fluidos e os números adimensionais; • resgatar o estudo da pressão, por meio da sua definição, do Teorema de Stevin, da Lei de Pascal e do conceito de carga de pressão; • determinar os diferentes referenciais físicos existentes para a medição da pressãoe as principais unidades de medida empregadas, assim como conhecer os principais instrumentos utilizados para a medição de pressão em diferentes situações e revisar a definição de empuxo; • revisitar os conceitos de regime permanente e transiente, apresentando as defini- ções de escoamento laminar, turbulento e unidimensional; • trabalhar com a lei de conservação da massa, para definir a equação da continuidade para o escoamento de fluidos em regime permanente. 2 PLANO DE ESTUDOS A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEITOS DOS FENÔMENOS DE TRANSPORTE E DA MECÂNICA DOS FLUIDOS TÓPICO 2 – ESTÁTICA DE FLUIDOS TÓPICO 3 – CINEMÁTICA DE FLUIDOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 4 5 CONCEITOS DOS FENÔMENOS DE TRANSPORTE E DA MECÂNICA DOS FLUIDOS TÓPICO 1 — UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Inicialmente, sabemos os três fenômenos de transporte podem ser estudados de forma conjunta, pois sua natureza é muito parecida, sendo, às vezes, até matemati- camente similares (modelos matemáticos semelhantes para problemas análogos). Isso significa que, entendendo o conceito de um dos fenômenos, não será difícil entender o conceito dos outros. Nesse momento, você pode se perguntar: o que são fenômenos de transporte? Essa e outras perguntas iniciais sobre o assunto serão respondidas neste primeiro tema de aprendizagem. Alguns termos importantes serão definidos, como lei de conservação. Aborda- remos as grandezas e as unidades relevantes na Engenharia e como realizar conversões de unidade usando fatores de conversão, algo que será extremamente importante para resolução de vários problemas. Em seguida, tendo como base o princípio de conserva- ção de massa, discutiremos os balanços materiais para sistemas não reativos. Também identificaremos algumas correntes que possuem características particulares e são mui- to relevantes na indústria, como o reciclo e o bypass. Ainda, veremos o conceito de fluido e suas propriedades, e um dos modelos matemáticos mais famosos para sua descrição – a lei de Newton da viscosidade. Por fim, entenderemos a importância da análise dimensional na resolução de problemas de Engenharia. 2 LEIS DE CONSERVAÇÃO, DIMENSÕES E UNIDADES DE MEDIDA Nesse primeiro momento, discutiremos com mais rigor os chamados balanços materiais, pois se trata de um conhecimento fundamental para nos familiarizarmos com o uso das leis de conservação. Além disso, esclareceremos como lidar com conversões de uma unidade para outra utilizando fatores de conversão. 6 2.1 LEIS DE CONSERVAÇÃO Para embasar os fenômenos de transporte, precisamos, primeiramente, definir as chamadas leis de conservação, com destaque para três dessas leis: Lei da Conser- vação da Massa, Segunda Lei de Newton e Primeira Lei da Termodinâmica (Quadro 1). Quadro 1 – Leis de conservação e suas equações correspondentes Fonte: adaptado de Welty; Rorrer; Foster (2017) Lei Equação Lei da Conservação da Massa Equação da Continuidade Segunda Lei de Newton Teorema do Momento Primeira Lei da Termodinâmica Equação da Energia Leis de conservação definem que uma propriedade de um sistema isolado não varia ao longo do tempo. Em outras pala- vras: a propriedade não se cria nem é destruída. Dessa forma, para cada relação de conservação, há uma equação de balanço, que é obedecida pelo sistema (WELTY; RORRER; FOSTER, 2017). NOTA As leis de conservação são mais facilmente entendidas observando-se a forma genérica das equações de balanço: Podemos citar, como exemplo de lei de conservação da massa: o sistema de uma pia de cozinha, em que, ao abrirmos a torneira, permitimos uma entrada de água no sistema. A água desce pelo ralo, que, por sua vez, é a saída de água do sistema. Se tamparmos o ralo, fechamos a saída do sistema, de modo que a pia começa a encher – este é o acúmulo do sistema. Evidentemente, desconsideramos outras possíveis saídas ou entradas de água (como a evaporação da água para a atmosfera), mas o intuito é observarmos a natureza das leis de conservação: tudo que entra no sistema, ou sai ou fica. Apesar de soar como um conceito bastante simples ou, até mesmo, óbvio, as leis de conservação são instru- mentos essenciais para o entendimento dos fenômenos de transporte. 7 Acadêmico, uma segunda observação fundamental, acerca dos fenômenos de transporte, é a noção de força motriz. Se há um desequilíbrio de uma propriedade em um meio, a natureza tende a redistribuí-la até que um equilíbrio seja estabelecido – a esta tendência é dado o nome de força mo- triz, frequentemente, descrita no contexto dos fenômenos de transporte como os “gradientes”: • Mecânica dos fluidos: gradiente de momento. • Transferência de calor: gradiente de temperatura. • Transferência de massa: gradiente de concentração. IMPORTANTE A Figura 1 apresenta o conceito de “gradiente” de temperatura. O objeto apre- sentado, semelhante a um cilindro metálico, tem duas extremidades, e a sua cor está representada de acordo com a temperatura em cada ponto do objeto. A parte azul está a uma temperatura menor, enquanto a parte avermelhada está a uma temperatura maior. A variação de temperatura, ao longo da superfície, é gradativa, aumentando da extremi- dade azul até a vermelha. Essa variação gradativa é o chamado gradiente de tempera- tura. Os gradientes de momento e concentração funcionam de maneira análoga. Figura 1 – Gradiente de temperatura Fonte: os autores 8 Nesse exemplo, a tendência da natureza é fazer com que a temperatura da su- perfície fique uniforme, transferindo energia da parte mais quente para a parte mais fria (considerando apenas a superfície, sem nenhuma interferência externa, promovendo seu aquecimento ou seu resfriamento). Isso acontece molécula a molécula, por meio de movimentos aleatórios e colisões entre elas – um processo de difusão molecular, que pode ser descrito por equações. A Tabela 1 compara as equações para as três proprie- dades em estudo. Tabela 1 – Equações unidimensionais para os fenômenos de difusão Fonte: adaptada de Hauke (2008) Propriedade Lei Equação Momento Lei de Newton da Viscosidade Calor Lei de Fourier da Condução Térmica Massa Lei de Fick da Difusão Nesse momento, é importante notarmos a semelhança entre as equações apresentadas na Tabela 1, que são exemplos do que foi dito no início quanto aos modelos matemáticos serem semelhantes para problemas análogos. Essas equações serão apresentadas apenas para ilustrar essa relação, sendo detalha- das gradativamente ao longo deste livro. ESTUDOS FUTUROS 2.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS Até aqui, conhecemos o que são os chamados fenômenos de transporte e de que maneira os observamos na natureza. A partir de agora, iniciaremos um estudo mais direcionado à definição de alguns conceitos básicos, para entendermos e interpretar- mos os problemas que podem ser encontrados durante todo o curso, mesmo que alguns desses conceitos já tenham sido estudados em disciplinas básicas de química e física. O intuito é fazer isso da forma mais objetiva e direta possível, para que possamos progredir no estudo dos fenômenos de transporte com tranquilidade. Além disso, é importante nos acostumarmos com alguns dos muitos termos e notações que serão utilizados até o fim deste material – literaturas e idiomas diferentes, frequentemente, utilizam símbolos distintos para os mesmos parâmetros (por exemplo, “m” ou “w” para massa). 9 2.2.1 Dimensões e unidades de medida Quando se trata de problemas de Engenharia, a resposta dificilmente será apenas um número – geralmente, ela será um número acompanhado de uma unidade de medida. Por exemplo: “a altura é de 9 metros” é uma resposta apropriada, mas, por outro lado, dizer apenas “a alturaé de 9” não define a sua unidade de medida, portanto, é uma resposta incompleta. Poderiam ser 9 centímetros, 9 metros ou, até mesmo, 9 quilômetros. Uma habilidade fundamental para um engenheiro é ter noção das grandezas com que ele trabalha. Isso permite identificar quando algum valor parece errado e ajuda a fazer comparações entre situações distintas. Mais ainda, saber trabalhar com as di- mensões ajuda a interpretar o problema e muitas das grandezas físicas fundamentais para a Engenharia. O primeiro passo para uma clara compreensão é definirmos a diferença entre dimensão e unidade de medida: • Dimensão: refere-se à grandeza física em questão, como distância ou altura, velocidade, temperatura e tempo. • Unidade de medida: refere-se à forma de expressar as dimensões, como metros (para a distância ou altura), quilô- metros por hora (velocidade), graus Celsius (temperatura) e segundos (tempo) (HIMMELBLAU; RIGGS, 2003). NOTA Ao longo deste material, usaremos, preferencialmente, as unidades do Sistema Internacional de Unidades (SI): metro (m) para distância, quilograma (kg) para massa, segundo (s) para tempo, Kelvin (K) para temperatura e mol (mol) para a quantidade de matéria. Possíveis exceções estarão presentes apenas quando forem importantes. Observaremos que os cálculos apresentados, frequentemente, terão os núme- ros acompanhados de suas unidades, sendo altamente recomendado o seu uso, para uma melhor compreensão das operações e variáveis trabalhadas, conforme mostrare- mos no exemplo a seguir. Com os seguintes fatores de conversão: uma milha corresponde a 5.280 pés; um pé, a 12 polegadas; e uma polegada, a 2,54 centímetros, e sabendo que a altura do monte Everest é de, aproximadamente, 5,49 milhas, como convertemos este valor para metros? Um método organizado e eficiente de converter unidades é multiplicar o nú- mero de unidade conhecida (no caso, 5,498 milhas) pelos fatores de conversão neces- sários (milha-pés, pé-polegadas, polegada-centímetros e, é claro, centímetros-metro). Para melhor visualização, separaremos cada fator de conversão por uma barra vertical, entendida como um operador de multiplicação ou parênteses. 10 Nota-se que cada uma dessas “frações” é igual a um: se uma milha equivale a 5.280 pés, a divisão de 5.280 pés por uma milha é igual a um. Isso comprova que não alteramos a altura (dimensão) do monte Everest, apenas convertendo-a entre diferen- tes unidades de medida. Uma maneira prática de acompanhar se as conversões estão adequadas é es- crever todas elas em uma única expressão e “cortar” as unidades que se “cancelam”, da mesma forma que, provavelmente, fazemos no estudo de matemática e física básicas: Acadêmico, você pode se perguntar: todos esses cálculos não poderiam ter sido resolvidos por uma série de regra de três? A pergunta é fantástica e significa que seu raciocínio está no caminho certo. Apesar de podermos utilizar uma série de regra de três para chegarmos ao mesmo resultado, a maneira prática, apresentada anteriormente, nos ajuda a visualizar como as unidades irão se cancelar e qual será nossa unidade final. Acredite, isso será muito útil em cálculos mais complexos, pois será um indicador para saber se o resultado está correto. Dessa forma, os demais exemplos e problemas serão, preferencialmente, resolvidos dessa maneira. O exemplo anterior tem, por objetivo, demonstrar o trabalho com dimensões e unidades de medida por meio de um problema de conversão de unidades. Contudo, nota-se que o método descrito pode parecer problemático ao trabalhar com temperaturas, pois suas diferentes unidades não estão relacionadas a fatores de conversão, mas, sim, a equações. Assim, o correto é avaliar a variação de temperatura: uma variação de 1 °C equivale a uma variação de 1,8 °F, por exemplo. ATENÇÃO 11 2.2.2 Frações mássicas e molares Na prática, ao tratar de processos, é fundamentalmente importante conhecer- mos os componentes presentes em cada uma de suas etapas. Mais do que isso, com frequência, encontraremos mais de um componente no processo, na forma de misturas e soluções. Conhecermos as proporções em que cada componente se apresenta per- mite uma melhor compreensão do sistema, levando a melhores soluções para possíveis problemas. Para descrevermos essas proporções, utilizamos as chamadas frações mo- lares e as frações mássicas. É importante definirmos o que é fração mássica: Fração mássica: a massa de uma substância dividida pela massa total de todos os componentes da mistura (ou solução) em que ela está presente (HIMMELBLAU; RIGGS, 2003). NOTA Iniciaremos com um exemplo simples sobre fração mássica de uma solução com dois componentes: uma dada solução contém os componentes A e B, sendo 360 g de A e 700 g de B. Qual é a composição mássica desta solução? Conhecendo a fração mássica do componente A, podemos utilizar outra manei- ra para determinar a fração mássica do componente B: 12 É fundamental notarmos que a somatória das frações mássicas ou molares deve sempre ser igual a 1, ou seja, a somatória das porcentagens deve ser igual a 100%. Matematicamente, para n componentes: Uma vez compreendido o conceito de fração mássica, fica fácil entendermos o conceito de fração molar, pois são bastante semelhantes. Fração molar: o número de mols de uma substância dividido pelo número total de mols da mistura (ou solução) em que ela está presente (HIMMELBLAU; RIGGS, 2003). NOTA Propomos, então, mais um exemplo: qual é a composição molar de uma solução que contém os componentes A, B e C com 1 mol, 5 mols e 3 mols, respectivamente? Um tipo de cálculo importante consiste na conversão da fração mássica de uma solução para fração molar ou o contrário. Para realizarmos tal conversão, faz-se neces- sária uma informação adicional sobre a massa molar dos componentes presentes na solução. Além disso, precisamos saber que o número de mols (n) pode ser determinado pela razão entre a massa do composto (m) e sua massa molar (MM): 13 Para exemplificar, a Tabela 2 mostra os dados de fração mássica e massa molar de cada composto presente em uma solução. Dessa forma, calcule a composição molar, sabendo que a solução possui uma massa total de 100 g. Tabela 2 – Dados de composição para resolução do exemplo proposto Fonte: os autores Composto Massa molar (g/gmol) Fração mássica A 50 0,20 B 40 0,30 C 20 0,45 D 25 0,05 Total – 1 Solução: para o composto A, temos que: Em posse dos valores de massa e massa molar do composto A, podemos facil- mente determinar o número de mols desse composto: Utilizando o mesmo raciocínio para os outros compostos, chegamos ao resulta- do apresentado na Tabela 3. 14 Tabela 3 – Massa e quantidade de mols obtidas para o exemplo proposto após os cálculos Fonte: os autores Composto Massa molar (g/gmol) Fração mássica Massa (g) Número de mols (mols) A 50 0,20 20 0,40 B 40 0,30 30 0,75 C 20 0,45 45 2,25 D 25 0,05 5 0,20 Total – 1 100 3,60 Finalmente, podemos calcular a fração molar do composto A na solução: Fazendo o mesmo cálculo para os outros compostos, obtemos a composição molar da solução expressa na Tabela 4. Tabela 4 – Composição molar obtida para o exemplo proposto após os cálculos Fonte: os autores Composto Massa molar (g/gmol) Fração mássica Massa (g) Número de mols (mols) Fração molar A 50 0,20 20 0,40 0,111 B 40 0,30 30 0,75 0,208 C 20 0,45 45 2,25 0,625 D 25 0,05 5 0,20 0,056 Total – 1 100 3,60 1 Acadêmico, ressaltamos que o seu objetivo é entender o ra- ciocínio para realizar a conversão, e não memorizar os passos. Portanto, faça a seguinte pergunta para si mesmo: “eu consigo converter de fração molar para fração mássica?”. Se a respos- ta for positiva, você está no caminho certo! Caso seja negativa, aconselhamos que analise o exercício proposto novamente. NOTA 15 Quando forem trabalhadas soluções e misturas, há também a ideia de “massa molar média da mistura”, que nada mais é que uma média ponderada das massasmo- lares dos componentes, como na equação a seguir: Sabendo que: Temos que: Se conhecermos a composição da mistura, podemos lançar mão de uma base de cálculo arbitrária para calcular a massa molar média da mistura. Tente calcular esse valor para a mistura do exemplo anterior. O resultado procurado é de 27,78 g/mol, que também poderia ser calculado simplesmente dividindo a massa da mistura pelo número de mols (afinal, esta é a definição da qual partimos para o desenvolvimento da última equação). DICA Ao longo deste material, a composição de gases sempre será assumi- da como dada em base molar, a menos que seja especificado o con- trário. Da mesma maneira, a composição de líquidos e sólidos será assumida como dada em base mássica, como é geralmente usada na indústria, a menos que seja especificado o contrário. ATENÇÃO 16 3 BALANÇO MATERIAL A partir desse momento, começaremos a aplicar as leis de conservação discu- tidas anteriormente, partindo do princípio de conservação da massa: a matéria não é criada nem destruída. O assunto será tratado com certa profundidade, porém, por ser um tópico de caráter introdutório, aspectos mais complexos não serão abordados (por exemplo, sistemas envolvendo reações químicas e outros que demandem o uso de mé- todos de cálculo numérico). A descoberta do princípio de conservação da massa é atribuída ao cientista francês Antoine Laurent Lavoisier, nascido em 1743, em Paris. Vindo de uma família rica, desde jovem, estudou em instituições reconhecidas pelo ensino da ciência. Em 1771, ca- sou-se com Marie Anne Pierrette Paulze, na época com 14 anos. Mesmo jovem, Madame Lavoisier auxiliou em publicações com suas notáveis habilidades linguísticas e artísticas. Lavoisier pu- blicou seu livro Tratado Elementar de Química, em 1789, ano que deu início à revolução francesa. Devido aos seus envolvimentos com o Estado, o cientista foi guilhotinado em 8 de maio de 1794 (PARTINGTON, 1943). Fonte: PARTINGTON, J. R. Antoine Laurent Lavoisier, 1743-1794. Nature, [s. l.], v. 152, p. 207-208, ago. 1943. INTERESSANTE Balanços materiais permitem uma melhor compreensão acerca de um proces- so, como uma indústria, por exemplo. Na essência, é semelhante à contabilidade, mas, no lugar de dinheiro, usa-se matéria. Cálculos de balanço material são indispensáveis para se compreender problemas de fenômenos de transporte, tanto simples quanto complexos, e são sempre baseados na forma geral das equações de balanço. Assim, para a matéria: 3.1 SISTEMAS Começaremos com um exemplo: considere um tanque contendo 100 kg de água, como o da Figura 2. 17 Figura 2 – Sistema fechado Fonte: os autores No contexto da Engenharia, é comum o uso da palavra “sistema” para se referir a uma parte arbitrária do processo que se deseja analisar. Dessa forma, nosso sistema coincide com o próprio tanque. É também usual se referir às “fronteiras do sistema”, isto é, as linhas imaginárias (que podem coincidir com partes dos equipamentos e dos processos) que dão forma ao seu sistema. Ainda, um sistema pode ser dito aberto ou fechado: aberto, se existe matéria entrando ou saindo do sistema; fechado, se a matéria não entra nem sai do sistema. Nosso tanque é, portanto, um sistema fechado. Nesse caso, se aplicarmos a equação de balanço material para nosso sistema, teremos: 0 – 0 = 0 Este resultado é, evidentemente, uma conclusão lógica simples. Se não entra nem sai água do tanque, não haverá variação na quantidade de água dentro dele. Em outras palavras, a taxa de acúmulo de matéria do sistema é nula. Agora, supondo que esse tanque faça parte de um processo industrial, que des- peja dentro dele 50 kg de água por hora. Desse mesmo tanque, são também retirados 50 kg de água por hora (Figura 3). 18 Figura 3 – Sistema aberto Fonte: os autores Pela definição dada anteriormente, nosso tanque agora é um sistema aberto, pois existe matéria cruzando a fronteira do sistema. Ao aplicarmos, novamente, a equa- ção de balanço material, temos: Como a vazão de entrada é igual à de saída, o acúmulo de água no sistema ainda é nulo. Sistemas nessas condições podem ser chamados de sistemas em estado estacionário. Em processos no estado estacionário, parâmetros como temperatura, pres- são, massa e vazão (entrada ou saída) permanecem constantes. Além disso, o processo pode também ser dito contínuo. Sistema em estado estacionário (regime permanente): • As condições do sistema permanecem inalteradas ao longo do tempo. • As correntes de entrada e saída permanecem inalteradas com o tempo. Processo contínuo: aquele em que a matéria entra ou sai do sistema sem interrupções (HIMMELBLAU; RIGGS, 2003). NOTA 19 Na sua maioria, os problemas abordados, ao longo desta disciplina, serão pro- cessos contínuos em estado estacionário, por serem naturalmente mais simples e obje- tivos no sentido de aprendizagem. Contudo, é importante observar que, no mundo real, não existe processo perfeitamente contínuo ou estacionário – as condições mudam ao longo do tempo, às vezes, até mesmo, por ação de forças que não somos capazes de controlar (clima, por exemplo). A natureza é essencialmente dinâmica, e o máximo que se pode fazer é se aproximar de uma condição estacionária. Entretanto, podemos propor a seguinte situação: se a taxa de entrada de água no tanque fosse reduzida para 20 kg/h, supondo a condição inicial exposta na Figura 4? Figura 4 – Sistema aberto com acúmulo Fonte: os autores É fácil concluirmos que, se sai mais água do que entra, a quantidade de água no tanque diminuirá com o tempo. Na equação de balanço: Assim, a taxa de acúmulo de água no sistema é de -30 kg H2O por hora. Po- demos observar que, no contexto de balanços materiais, é comum o uso da palavra “acúmulo”, tanto para valores positivos (que elevariam o nível de água do tanque) quan- to negativos (que diminuem o nível de água no tanque). Com essa informação, quanto tempo levará até que a quantidade de água no interior do tanque seja de 40 kg? Precisamos identificar a variação de água no interior do tanque: 20 Para atingir uma quantidade de 40 kg de água dentro do tanque, deve-se retirar 60 kg. Por definição, temos que: Observamos que a taxa de acúmulo de água do sistema é, evidentemente, uma vazão, pois tem dimensões de massa por tempo (estudaremos, mais detalhadamente, o conceito de vazão no Tema de Aprendizagem 3 da Unidade 1). Podemos, portanto, aplicar a equação da seguinte forma: Evidentemente, não é absurdo chegar a essa conclusão sem fazer quaisquer contas no papel. Se existem 100 kg de água dentro de um tanque, do qual são remo- vidos 30 kg de água por hora (taxa de acúmulo negativa), o tempo necessário para que haja apenas 40 kg de água no tanque (remover 60 kg) é de 2 horas. Problemas de balanço material são resolvidos de maneira puramente lógica: não se trata de decorar equações, mas, sim, de ter habilidade em analisar o problema e saber como abordá-lo. Sistemas como esse, em que a quantidade de água no sistema varia ao longo do tempo, podem ser chamados de sistemas em estado não estacionário. Sistema em estado não estacionário (regime transiente ou variado): • Nem todas as condições do sistema permanecem inalteradas ao longo do tempo. • As correntes de entrada e saída podem variar com o tempo (HIMMELBLAU; RIGGS, 2003). NOTA 21 Agora que compreendemos os princípios dos balanços materiais, aprimorare- mos as suas capacidades analíticas com o estudo de processos mais complexos, com múltiplos componentes, etapas e correntes de processo. 3.2 SISTEMAS COM MÚLTIPLOS COMPONENTES Ao trabalharmos com uma solução com concentração de 50% em massa de soda cáustica (NaOH em H2O), isso significa que em 1.000 kg de solução há 500 kg de soda e 500 kg de água. Uma corrente de processo entra em um tanque, enquanto outra sai desse mesmo tanque, como na Figura 5. Figura 5 – Sistema aberto de balanço multicomponente Fonte: os autores Observamosque se trata de um sistema aberto em regime estacionário. Pode- ríamos analisar o sistema da seguinte forma: • Dentro do tanque: 1.000 kg de solução: ◦ 500 kg de água + 500 kg de soda. • Entra no tanque: 100 kg de solução por hora: ◦ 50 kg de água por hora + 50 kg de soda por hora. • Sai do tanque: 100 kg de solução por hora: ◦ 50 kg de água por hora + 50 kg de soda por hora. É importante evidenciarmos essas informações, pois, quando trabalharmos com múltiplos componentes, abordaremos os balanços materiais por duas perspecti- vas: o balanço global e os balanços por componente. 22 Evidentemente, em estado estacionário, a taxa de acúmulo é nula (a massa de solução dentro do tanque permanece a mesma ao longo do tempo). O balanço por componente, por outro lado, considera apenas o componente em análise para todas as correntes. Por exemplo, no balanço material para a água, teremos: Da mesma forma, para a soda, teremos: Esse é um raciocínio bastante valioso para solucionar problemas de balanço material. Outro exemplo, em que passamos a trabalhar com mais de um componente e mais de duas correntes: em certa etapa de um processo industrial de balas e biscoitos, duas correntes contendo uma solução de açúcar (sacarose) em água devem ser misturadas. Para isso, elas são despejadas em um tanque de mistura que apresenta uma única saída (Figura 6). Conhecendo as correntes de entrada, admitindo que a mistura seja homogênea e que o processo opera em regime estacionário, qual é a fração mássica de sacarose na corrente de saída? O balanço global considera inteiramente todas as correntes que entram e saem do sistema. Dessa forma, na equação: 23 Figura 6 – Sistema multicomponente para produção de balas e biscoitos Fonte: os autores Solução: como conhecemos as correntes de entrada, podemos descrevê-las da seguinte maneira: • Corrente A: 30 kg solução/min: ◦ 12 kg sacarose/min + 18 kg água/min. • Corrente B: 50 kg solução/min; ◦ 7,5 kg sacarose/min + 42,5 kg água/min. Podemos, então, fazer o balanço global: As entradas são as correntes A e B, enquanto a única saída é a corrente C, e não há acúmulo no sistema (regime estacionário). Dessa forma: 24 Agora, fazendo o balanço material para a sacarose: 𝑆𝑎𝑐𝑎𝑟𝑜𝑠𝑒 𝑒 𝑚 𝐴+𝑆𝑎𝑐𝑎𝑟𝑜𝑠𝑒 𝑒 𝑚 𝐵−𝑆𝑎𝑐𝑎𝑟𝑜𝑠𝑒 𝑒 𝑚 𝐶=0 Sendo xsac,i a fração mássica de sacarose na corrente “i”, podemos escrever esta equação da seguinte forma: Como já calculamos o valor da vazão mássica da corrente C, temos que: Logo, a concentração de sacarose na corrente de saída é de 24,37% em massa. Sem fazer o balanço material para a água, podemos concluir que a fração mássica de água na corrente de saída é de 75,63% – afinal, trabalhamos apenas com açúcar e água. Essa ideia tem fundamento no conceito de “graus de liberdade”, que faz parte das disci- plinas de álgebra linear, explorados melhor a seguir, durante a estratégia para solucionar problemas de balanço material. Como já mencionado, não trataremos situações envolvendo rea- ções químicas no escopo deste material. Contudo, é importante observar que, nesses casos, os balanços por componente ficam mais complexos, uma vez que o componente que entra não ne- cessariamente sai com a mesma forma – eles podem ser “consu- midos”, enquanto novas espécies químicas podem ser “geradas”. ATENÇÃO 25 3.3 ESTRATÉGIAS PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Himmelblau e Riggs (2003) sugerem uma estratégia de dez passos para a reso- lução de problemas de balanço material: • Ler e entender o problema em questão. • Fazer um esboço do processo e especificar a fronteira do sistema. • Anotar todas as informações conhecidas no seu diagrama do processo, como vazões, composições e outras relações úteis. Atribuir símbolos para os valores não conhecidos. • Obter quaisquer informações necessárias, que estejam faltando, para solucionar o problema. • Adotar uma base de cálculo (arbitrária), se necessário. • Determinar o número de variáveis desconhecidas. • Determinar o número de equações independentes e analisar os graus de liberdade do problema. • Escrever as equações a serem resolvidas em termos das variáveis conhecidas e desconhecidas. • Resolver as equações e responder o que foi solicitado pelo problema. • Conferir suas respostas. Na prática, não é obrigatório seguir nem decorar esses passos à risca, mas abordar os problemas de maneira ordenada e analítica ajuda a identificar possíveis pontos fracos, aprimorando as habilidades de interpretação e resolução. Nesse momento, veremos um exemplo com uma complexidade maior, aplicando essa estratégia. Duas correntes de processo, F1 e F2, são misturadas. A corrente resultante (W) é, então, direcionada para uma segunda etapa, que visa à purificação de um dos componentes, obtendo, assim, duas correntes de produto, P1 e P2. Conhecendo as informações a seguir, qual a vazão e a composição da corrente F1? As composições estão dadas em quantidades mássicas. • Corrente F2: ◦ Vazão: metade de F1. ◦ Composição: 80% A, 20% B. • Corrente P1: ◦ Vazão: 1200 kg/h. ◦ Composição: 60% A, 40% B. • Corrente P2: ◦ Vazão: 300 kg/h. ◦ Composição: 5% B, 95% C. 26 Solução: Passo 1: o problema é simples – conhecemos as saídas, queremos conhecer as entradas. Há três componentes (A, B e C), cinco correntes (F1, F2, W, P1 e P2) e duas etapas (E1 e E2) para trabalharmos. A etapa E1 une as correntes F1 e F2, formando a corrente W. Em seguida, a etapa E2 separa a corrente W nas correntes P1 e P2. Passo 2: esboços (como o da Figura 7) podem, geralmente, ser feitos de forma bastante simples, por meio de diagramas de blocos, em que as setas são as correntes de processo e os blocos são as etapas. Figura 7 – Esboço inicial do problema proposto Fonte: os autores Quanto à fronteira do sistema, notamos que esta pode ser estabelecida de três diferentes formas: apenas o sistema 1, ou apenas o sistema 2, ou, então, analisar o pro- cesso de forma global (Figura 8). Figura 8 – Esboço do problema proposto delimitando as três diferentes fronteiras possíveis Fonte: os autores 27 • Fronteira do Sistema 1: ◦ Correntes de entrada: F1 e F2. ◦ Correntes de saída: W. • Fronteira do Sistema 2: ◦ Correntes de entrada: W. ◦ Correntes de saída: P1 e P2. • Fronteira do Sistema Global: ◦ Correntes de entrada: F1 e F2. ◦ Correntes de saída: P1 e P2. Notamos que a escolha de um sistema não invalida o outro – muito pelo contrário, talvez seja necessário estabelecer diferentes fronteiras até obtermos os resultados procurados, os quais devem validar todos os sistemas possíveis de serem estabelecidos. Do contrário, o princípio da conservação da massa não seria obedecido, indicando alguma falha ou ineficiência do processo. Passo 3: adicionamos os valores conhecidos ao esboço, formando, então, a Figura 9. Figura 9 – Esboço do problema proposto após o passo 3 Fonte: os autores Passo 4: a princípio, nenhuma informação parece faltar, pois não estamos preocupados com quem são os componentes A, B ou C nem com o que são, na prática, as etapas E1 e E2. A ideia é se preocupar apenas com valores de vazão e composição, então, estas informações deverão ser suficientes. 28 Passo 5: como o problema já nos forneceu valores de vazão, não precisamos adotar uma base de cálculo. Caso o enunciado fosse “a vazão de P1 é quatro vezes a de P2”, poderíamos adotar um valor arbitrário para a vazão P2 e, com ela, chegaríamos às mes- mas composições em todas as correntes. Contudo, a vazão de F1 mudaria para cada base de cálculo adotada. Passo 6: nossas variáveis desconhecidas são as vazões e as composições das corren- tes F1 e W, totalizando oito variáveis desconhecidas. Passo 7: para determinar o número de equações independentes, faremos os balanços nos sistemas e usaremos as relações fornecidas. Uma informação que facilita aanálise é que, ao escrever as equações dos balanços para cada componente, uma delas sempre será dependente das demais. • Na etapa E1: ◦ Nestas equações, temos as oito variáveis desconhecidas, junto a cinco equa- ções independentes. Elas não são, portanto, suficientes para determinar todas as variáveis desconhecidas. • Na etapa E2: 29 ◦ Aqui, temos quatro das variáveis desconhecidas (referentes à corrente W), junto a quatro equações independentes. Como nosso número de equações é igual ao número de incógnitas, o sistema é possível e determinado (graus de liberdade iguais a zero). • Global: ◦ Observamos que, para o balanço global, todas as variáveis referentes à cor- rente intermediária W não estão presentes. Temos apenas as quatro variáveis desconhecidas para a corrente F1, junto a quatro equações independentes, isto é, como o problema solicita apenas a caracterização da corrente F1, podemos utilizar esse sistema para não precisar trabalhar com a corrente intermediária W. Passo 8: usando as equações para o sistema global (exceto uma das equações de balanço por componentes, por ser dependente das demais) e substituindo as variáveis conhecidas, teremos: Passo 9: simplificando e resolvendo as equações, chegamos aos valores solicitados pelo problema – vazão e composições da corrente F1: 30 Passo 10: podemos conferir o resultado com a equação de balanço para o componente C, que não utilizamos: Notamos que o fato de o componente C estar presente somente em uma corrente de entrada e uma corrente de saída (no sistema global) facilita consideravelmente o proble- ma, pois tudo o que saía de C na corrente P2 entrava no sistema, por meio da corrente F1. Para praticar, podemos retornar aos balanços por etapas e caracterizar a cor- rente W. Conseguiu chegar aos seguintes resultados: vazão de 1.500 kg/h, sendo 48% A, 33% B e 19% C? 4 RECICLO, BYPASS E PURGA Três aspectos são importantes quando tratamos dos balanços materiais em termos de aplicação industrial. Essencialmente, são manobras realizadas nas correntes de processo que permitem seu funcionamento de maneira eficiente, contínua e controlável. Os balanços materiais entram com o papel de mensurar essas manobras e passam a ter um nível de complexidade maior. 4.1 RECICLO Reciclo: corrente do processo que é alimentada em uma etapa anterior àquela que a originou (HIMMELBLAU; RIGGS, 2003). A Figura 10 apresenta um diagrama, para uma maior compreensão. 31 Figura 10 – Diagrama de blocos representativo para processos envolvendo reciclo Fonte: os autores Em processos envolvendo reação química, o uso de reciclo pode aumentar a conversão alcançada pelos reatores, retornando os reagentes não consumidos ao pro- cesso e garantindo que eles sejam transformados no produto desejado. Em operações de separação, como destilação ou filtração, o reciclo pode ser utilizado com uma ideia semelhante: aumentar a eficiência do processo e servir para manter alguma corrente dentro das suas especificações. Um exemplo de operação com uso de reciclos é concentrar uma corrente (F) contendo uma solução de 10% hidróxido de sódio (NaOH) em água, por meio de um processo integrado de evaporação, cristalização e filtragem. Para atingir maior eficiência no processo, a corrente líquida, que passa pelo filtro, é retornada na forma de reciclo (R). O diagrama representado na Figura 11 ilustra o processo e apresenta as concentrações em cada corrente. Qual a razão entre as vazões R e P? Figura 11 – Diagrama de blocos representativo para o processo de concentração de NaOH Fonte: os autores Passos 1 a 4: o diagrama fornecido na Figura 11 já é o resultado dos primeiros passos. 32 • Global: ◦ Em ambos os casos, temos duas variáveis desconhecidas e duas equações independentes. Portanto, temos graus de liberdade zero em ambas. Passo 9: resolvendo as equações, chegamos nas respostas desejadas. • No ponto A: Passo 5: por praticidade, ao trabalhar com porcentagens, adotaremos a base de cálculo de F = 100 kg/h. Passo 6: nossas variáveis desconhecidas são as vazões P, R, E e W. Passo 7: mais de um sistema pode ser avaliado. Aqui, faremos em dois deles: no ponto em que o reciclo é adicionado à alimentação (ponto A) e o global. Passo 8: assim, teremos as seguintes equações: • No ponto A: 33 ◦ Utilizando só o balanço por componente do hidróxido de sódio no ponto A foi su- ficiente para encontrar uma das variáveis desejadas (R). Caso tivéssemos usado o balanço por componente da água, chegaríamos ao mesmo resultado. Aliás, esse é um assunto que demanda curiosidade e exercita o raciocínio lógico. • Global: Assim: Passo 10: podemos conferir os resultados obtidos verificando as duas equações de- pendentes não utilizadas. Um exercício interessante é repetir esse balanço, mas sem a utilização de um reciclo: se quiséssemos obter exatamente o mesmo produto P (em vazão e composi- ção), considerando que a razão R/P é mantida (R/P ≈ 9,60), qual seria a alimentação necessária? Sugerimos usar a Figura 12 como auxílio. 34 Figura 12 – Diagrama de blocos representativo, para o processo de concentração de NaOH, sem reciclo Fonte: os autores Temos o balanço material global e por componente: Ao resolvermos as duas primeiras equações com os valores conhecidos, utili- zando a relação R/P ≈ 9,60: 35 Como podemos observar, para obtermos a mesma quantidade de produto, o pro- cesso sem reciclo exigiria uma alimentação 6 vezes maior, devido às perdas pela corrente R, que não foi reaproveitada. A indústria sempre irá buscar minimizar o desperdício. 4.2 BYPASS E PURGA Bypass: corrente do processo que pula uma ou mais etapas de um processo, unindo-se novamente em um estágio posterior. Pode ser usada, por exemplo, para controlar a composição de saída de uma etapa (HIMMELBLAU; RIGGS, 2003). Purga: corrente retirada do processo com o objetivo de remover inertes (substâncias que não reagem quimicamente) e materiais indesejados, os quais poderiam se acumular no sistema pelo uso de correntes de reciclo (HIMMELBLAU; RIGGS, 2003). NOTA Para termos uma maior compreensão sobre bypass e purga, podemos observar as Figuras 13 e 14. Figura 13 – Diagrama de blocos representativo para processos envolvendo bypass Fonte: os autores Fonte: os autores Figura 14 – Diagrama de blocos representativo para processos envolvendo purga 36 Podemos praticar o conceito de bypass resolvendo o seguinte exemplo: certo processo industrial é alimentado por uma corrente composta de 30% do componente X e 70% do componente Y. O processo é responsável por remover apenas o componente Y, e a corrente de saída precisa sair com 80% de X e 20% de Y, para atender às especifica- ções de operação dos equipamentos. Contudo, um cliente solicita um produto contendo 60% de X e 40% de Y. Para atender a esse pedido, o engenheiro de processos sugere o uso de uma corrente de bypass, conforme o diagrama a seguir. Calcule a razão entre as vazões B e F, que deve ser utilizada para atender ao pedido. Solução: Passos 1 a 4: na Figura 15, o diagrama contém as informações necessárias. Observa- mos que, no ponto 1, a corrente de alimentação se divide entre as correntes B e E – esta divisão é puramente física, ou seja, presume-se que as composições são as mesmas em ambas as correntes, diferenciadas apenas em suas vazões. No ponto 2, a corrente de bypass retorna unindo-se à saída do processo (corrente S), formando o produto P na composição desejada. Figura 15 – Diagrama de blocos representativo para processos envolvendo purga Fonte: os autores Passo 5: adotaremos a base de cálculo de F = 100 kg/h. Passo 6: como definimos um valor para F, as variáveis desconhecidas são agora as vazões B, E, W, S e P. Passo 7: os quatro principais sistemas que devemos prestar atenção são os pontos 1 e 2, o processo e o sistema global. 37 Aqui, temos duas variáveis desconhecidas e duas equações independentes.Dessa forma, conseguiremos determinar os valores de vazão para P e W. Conhecido o valor de P, faz sentido analisarmos o ponto 2 como segundo siste- ma. Para ele, temos as equações: Portanto, teremos apenas duas variáveis desconhecidas (B e S) e duas equações independentes. Com isso, podemos determinar B e calcular a resposta pedida pelo problema. Traçar a estratégia correta para a resolução de um balanço é uma questão clássica para o engenheiro na indústria. Passos 8 e 9: como proposto, precisamos resolver as equações do sistema global: Agora, para as equações do ponto 2: Para o sistema global, temos as seguintes equações: 38 Portanto, a razão B/F = 0,20. Passo 10: apesar de não ser de extrema necessidade, poderíamos conferir o resultado ve- rificando que os valores obtidos são válidos para calcular a vazão da corrente E (80 kg/h). Em seguida, ao fazer o balanço no processo, observaremos que as equações são válidas. Com isso, concluímos o exemplo sobre bypass. Nesse momento, resolveremos, também, um exemplo que envolve purga: certo processo para a formação de água, a partir dos gases hidrogênio (H2) e oxigênio (O2), foi implantado. Uma corrente (F), contendo ambos os componentes, é alimentada a um reator. Em seguida, a corrente de saída passa por um condensador, que remove água líquida do processo como produto. Para evitar a perda de material, procurou-se utilizar os gases remanescentes (que não reagiram) como uma corrente de reciclo do processo. Contudo, ao testar a nova configuração, observou-se que os níveis de argônio (Ar) – que é um gás inerte – no processo começaram a subir, porque a corrente contendo hidrogênio e oxigênio apresentava, também, baixos traços do gás. Como forma de solucionar o problema, o engenheiro de processos sugere utilizar uma corrente de purga (P). Considerando o diagrama da Figura 16, qual deve ser a razão entre as vazões P e F se a concentração de argônio na corrente de reciclo não pode ser superior a 7,5%? Figura 16 – Diagrama de blocos representativo para o processo de formação de água Fonte: os autores 39 Solução: Passos 1 a 4: o diagrama apresentado na Figura 16 nos fornece todas as informações necessárias para analisar o problema. Nota-se que, apesar de envolver um reator, o problema não está preocupado com a reação química, de modo que ela não será neces- sária. Além disso, é importante observarmos que o reciclo possui a mesma composição da purga, apesar de não estar especificado. Passo 5: como estamos interessados, principalmente, nas correntes F e P, definiremos, como base de cálculo, o valor de F = 100 kg/h. Passo 6: observamos que os dados fornecidos são, essencialmente, as composições de entrada e saída do sistema global. Portanto, intuitivamente, parece fazer sentido anali- sá-lo. Assim, temos duas variáveis desconhecidas: P e W. Passo 7: nota-se que não conhecemos as composições de H2 e O2 separadamente. Contudo, se fizermos o balanço global e o balanço por componente para o argônio, te- remos duas equações independentes: Logo, se temos duas equações independentes e duas variáveis desconhecidas, a solução do nosso problema é possível e determinada (grau de liberdade = 0). Passos 8, 9 e 10: substituindo os valores conhecidos e resolvendo as duas equações do balanço global, podemos calcular o valor pedido pelo problema. Portanto, para manter a concentração de argônio no reciclo igual a 7,5%, deve- -se purgar uma vazão equivalente a 4% da vazão de alimentação. 40 Com isso, terminamos nossa introdução aos balanços materiais. Como pode- mos notar, apesar de não demandarem cálculos sofisticados, os balanços de massa trabalham fortes habilidades de interpretação do problema, análise crítica e organiza- ção. Aprimorar essas qualidades facilitará o estudo dos fenômenos de transporte, que começaremos, propriamente, a seguir. Para aprender mais sobre balanços materiais, não deixe de con- ferir a oitava edição de Engenharia Química – Princípios e Cálculos, dos autores David M. Himmelblau e James B. Riggs, uma obra consagrada pela excelente fundamentação de habilidades e co- nhecimentos básicos no contexto da Engenharia Química, cujo principal objeto de estudo são os balanços de massa e de ener- gia, tratando, também, da descrição de gases, vapores, líquidos e sólidos e diagramas de fases. As duas primeiras partes do livro abordam grande parte dos assuntos estudados até aqui de maneira bastante extensiva, com vários exemplos aplicados. É uma excelente opção de bibliografia para quem tem a curiosidade e deseja aprender mais sobre processos químicos industriais. Além disso, são trabalhados os balanços materiais envolvendo reações quí- micas, algo que não consideramos aqui. DICA 5 FLUIDO E A LEI DE NEWTON DA VISCOSIDADE Provavelmente, aulas de Física, foram estudados assuntos relacionados aos cha- mados fluidos, como o conceito de pressão e a Lei de Pascal. No contexto dos fenôme- nos de transporte, a mecânica dos fluidos busca levar esse estudo adiante, explicando o comportamento físico dos fluidos e as leis que o regem. Ela é, portanto, uma ciência fundamental em diversas vertentes da Engenharia, pois possui aplicação prática a muitas situações, como escoamentos em tubulações, pressões em barragens, deslocamento de fluidos e, até mesmo, aerodinâmica (afinal, o próprio ar atmosférico é um fluido). 5.1 O CONCEITO DE FLUIDO Podemos afirmar que a mecânica dos fluidos é uma das ciências básicas mais fundamentais para os engenheiros. A palavra “mecânica” remete ao estudo do com- portamento de sistemas submetidos a uma ou mais forças. A palavra “fluido”, por outro lado, pode ser um pouco mais difícil de se definir. Iniciaremos por uma definição mais elementar: fluido é uma substância que, ao ser colocada em um recipiente, assume o formato do recipiente, não possuindo forma própria. Com base nessa definição, pode- mos concluir que líquidos e gases são fluidos, diferentemente dos sólidos, como ilustra a Figura 17. 41 Figura 17 – Comparação entre fluidos e sólidos em um recipiente Fonte: Brunetti (2008, p. 1) É importante observarmos que, enquanto os gases ocupam todo o recipiente, os líquidos podem apresentar uma superfície livre, caso o recipiente não esteja com- pletamente cheio. Apesar de esta ser uma definição suficiente para dizer se uma substância é um fluido ou não, a mecânica dos fluidos faz mais sentido se partirmos de uma definição um pouco mais abstrata: fluido é qualquer substância capaz de fluir. Para desenvolver- mos melhor essa ideia, descreveremos a observação prática chamada de “experiência das duas placas”. Considerando um sólido de material qualquer, preso entre duas placas planas, uma inferior e uma superior. É, então, exercida uma força sobre a placa tangencial ao sólido, na direção do plano da placa (Figura 18A). Mantendo a força constante, o que se observa é que o sólido é deformado de maneira angular até certo limite, no qual as tensões internas equilibram a força externa aplicada, atingindo a condição de equilíbrio estático (Figura 18B). Figura 18 – Experiência das duas placas para um sólido Fonte: Brunetti (2008, p. 2) Dessa forma, podemos dizer que, ao aplicarmos uma força tangencial cons- tante a um sólido, ele se deforma angularmente até atingir uma nova posição de equilíbrio estático. 42 Agora, vejamos o que acontece com um fluido submetido a essa mesma expe- riência, imaginando-se que seja possível acompanhar cada unidade de fluido ao longo do experimento. Para facilitar a visualização, denominaremos o volume de ABCD, cada letra correspondendo a uma extremidade (Figura 19A). Figura 19 – Experiência das duas placas para um fluido Fonte: Brunetti (2008, p. 2) Ao aplicarmos força tangencial à placa superior, ela passa a se deslocar a uma velocidade v. O que se observa é que os pontos do fluido em contato com a placa su- perior (lado AD) adquirem essa mesma velocidade v, enquanto os pontos do fluidoem contato com a placa inferior (lado BC) ficam parados junto a ela (Figura 19B). Surge, portanto, o princípio da aderência. Aderência: quando em contato com uma superfície sólida, os pontos de um fluido aderem-se aos pontos dessa superfície. NOTA Dessa forma, se a força tangencial for mantida sobre a placa superior, moven- do-a à velocidade v, as partículas de fluido em contato também se moverão à veloci- dade v, na mesma direção e sentido. Isso significa que a condição de equilíbrio estático não será atingida, de modo que o volume de fluido poderá se deformar continuamente (Figura 19C). Essa experiência permite, portanto, diferenciar sólidos de fluidos sob a perspec- tiva da mecânica dos fluidos: quando submetidos a forças tangenciais, sólidos se deformam limitadamente, enquanto fluidos podem se deformar continuamente sem alcançar um novo equilíbrio estático. 43 Nossa definição final de fluido será, então: substância que se deforma continuamente quando submetida à ação de uma força tangencial constante qualquer (BRUNETTI, 2008). NOTA Apesar de parecer exagero chegarmos a essa definição, mais adiante, veremos que o princípio da aderência é fundamental para a compreensão de certos conceitos, como o de camada limite, que é essencial no estudo tanto da mecânica dos fluidos quanto dos demais fenômenos de transporte. Outra observação importante pode ser feita com relação à experiência de duas placas. Para tanto, antes, é necessário definir- mos o conceito de tensão de cisalhamento. 5.2 TENSÃO DE CISALHAMENTO E A LEI DE NEWTON DA VISCOSIDADE Considerando uma superfície de área A, sobre a qual é aplicada uma força . Podemos decompor esta força na sua componente tangencial ( ) e na sua componente normal à superfície ( ), como mostra a Figura 20. A seguir, discutiremos sobre a componente tangencial e, posteriormente, analisaremos a componente normal. Figura 20 – Ação de uma força sobre uma superfície e suas componentes normal e tangencial Fonte: Brunetti (2008, p. 3) 44 A tensão de cisalhamento é definida como a razão entre o módulo da componente tangencial da força e a área da superfície em que é aplicada: NOTA Portanto, é a força tangencial por unidade de área, sendo dada, geralmente, em N/m² (SI), kgf/m² ou dina/cm². Voltando à experiência de duas placas, nota-se que, no caso dos fluidos, ao exercer a força tangencial sobre a placa, ela passa a ser acelerada da velocidade nula até uma velocidade finita, v0, que permanece constante ao longo do experimento. As- sim, a partir de um determinado momento, não há mais aceleração. Pela segunda Lei de Newton da dinâmica, isso significa que a resultante das forças deve ser nula (condição de equilíbrio dinâmico). Como não existem outras forças externas atuando no sistema, conclui-se que a força aplicada na placa é equilibrada por forças internas do fluido. Para entendermos essas forças internas, podemos recorrer ao princípio da ade- rência. Na experiência, a camada de fluido, junto à superfície superior, move-se à velo- cidade v0, enquanto a camada de fluido, junto à superfície inferior, terá velocidade nula. As camadas intermediárias, por sua vez, passam a se mover conforme um gradiente de velocidades, indo de zero (na placa inferior) até v0 (na placa superior), como mostra a Figura 21A. Figura 21 – Gradiente de velocidade e tensões de cisalhamento entre as camadas de fluido na experiência de duas placas Fonte: Brunetti (2008, p. 4) 45 Esse deslizamento entre camadas (por estarem em velocidades diferentes) faz com que elas exerçam forças tangenciais umas sobre as outras, criando as tensões de cisalhamento (Figura 21B), equilibrando a força externa e fazendo com que a placa superior fique com a velocidade constante v0. Newton evidenciou que, para a grande maioria dos fluidos, a tensão de cisalhamento é proporcional ao gradiente de velocidade (variação da velocidade v na coordenada y – Figura 21C). Matematicamente, podemos escrever as afirmações apresentadas anteriormente da seguinte forma: ou Essa é a chamada lei de Newton da viscosidade. Fluidos que obedecem a essa relação são chamados de fluidos newtonianos, como água, ar e óleos. Fluidos não newtonianos não serão traba- lhados aqui, uma vez que pode ser bastante difícil descrever o seu comportamento. IMPORTANTE Sir Isaac Newton (4 de janeiro de 1643 – 31 de março de 1727) foi um físico e matemático inglês reconhecido como o ícone da re- volução científica do século XVII. A descoberta da decomposição da luz branca, suas três leis da mecânica clássica, a lei da gravita- ção universal e suas contribuições no desenvolvimento do cálculo diferencial e integral são consideradas alguns de seus principais trabalhos (WESTFALL, 2022). Fonte: WESTFALL, R. S. Isaac Newton. Britannica, [s. l.], 2022. Dis- ponível em: https://www.britannica.com/biography/Isaac-Newton. Acesso em: 5 dez. 2022. INTERESSANTE 5.3 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Agora, discutiremos algumas propriedades bastante importantes para a análise dos fluidos e escoamentos. A primeira delas é a lei de Newton da viscosidade. Afinal, você saberia definir o que é a viscosidade? 46 Quando um objeto sólido desliza em relação a outro, observamos o surgimento de uma força na superfície de contato, na direção oposta ao movimento – a chamada força de atrito. De forma análoga, quando um fluido se movimenta em relação a um sólido ou a outro fluido, observa-se que também existe uma resistência ao movimento. A propriedade que representa essa resistência é a viscosidade. Naturalmente, existem fluidos com maiores ou menores viscosidades, uma vez que é muito mais fácil correr ao ar livre (onde estamos imersos em ar, um fluido) que em uma piscina cheia de água. Como vimos, para fluidos newtonianos, a tensão de cisalhamento é proporcio- nal ao gradiente de velocidade. A constante de proporcionalidade é justamente a vis- cosidade dinâmica ou absoluta (μ) do fluido: ou No SI, três formas comuns de expressar as unidades de viscosidade são: kg/ (m.s), N.s/m2 ou Pa.s (em que Pa é a unidade de pressão, pascal). Outra unidade comum é o poise (P), equivalente a 0,1 Pa.s, sendo, também, frequentemente utilizado como centipoise (cP, um centésimo de poise). A viscosidade da água a 20 °C é de 1 cP, por isso a unidade serve como uma referência conveniente. De forma prática, podemos dizer que a viscosidade é a propriedade que representa a dificuldade de o fluido es- coar. Ela surge em nível microscópico, devido à coesão das moléculas e aos choques entre elas. Por causa disso, ela é também variável com a temperatura. Podemos verificar esse fenômeno com a seguinte comparação: o óleo de cozinha espalha melhor antes ou depois de aquecê-lo? Em líquidos, o aumento da temperatura reduz a viscosidade, enquanto, nos gases, o aumento da temperatura aumenta a viscosidade. IMPORTANTE A seguir, analisaremos um exemplo: é necessário substituirmos o lubrificante do pistão de certo equipamento. O pistão é cilíndrico, com massa de 500 g, diâmetro de 15 cm e altura de 6 cm. Ele trabalha dentro de um cilindro com 15,1 cm de diâmetro e deve cair com a velocidade constante de 1,4 m/s. Qual deve ser a viscosidade do lubrificante para atender a essas condições de operação? Considere uma aceleração da gravidade de 10 m/s². Solução: para facilitar a visualização, podemos fazer um esboço do problema, como o representado na Figura 22. 47 Figura 22 – Esboço do problema sobre substituição do lubrificante no pistão Fonte: os autores Para que o pistão caia à velocidade constante, é necessário que ele esteja em equilíbrio dinâmico: há movimento, mas não há aceleração. Pela segunda lei de Newton, temos: Aqui, duas forças atuam: o próprio peso do pistão (P) e a força da tensão de cisalhamento ( ), que é a resistência do lubrificante ao movimento. Assim, em módulo: Lembre-se de que, pela definição
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