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ESTUDOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS AULA 6 Prof.ª Regina Paulista Fernandes Reinert 2 CONVERSA INICIAL Olá! Neste tema iremos refletir a respeito da economia atual, novas alternativas de renda e formas de produção e distribuição de bens. Esta preocupação é decorrente ao possível esgotamento dos recursos naturais, em consequência da sua utilização desenfreada com a utilização dos modos tradicionais de produção e consumo. A preocupação está baseada na questão: que mundo queremos deixar para as futuras gerações? Portanto, a proposta de um mundo mais sustentável deve ser analisada com maior atenção, o que significa em uma alteração de atitudes e posturas diante da forma que produzimos e consumimos. Os objetivos de aprendizagem desta aula são: • Identificar as influências dos modos de produção e do consumo como geradores da degradação do meio ambiente e da desigualdade social. • Caracterizar novas formas econômicas que ganham espaços no mundo globalizado nas últimas décadas. Pensar o futuro do planeta e uma viabilidade econômica é necessário. A compreensão da lógica do capital e as novas possibilidades econômicas e políticas. Elucidaremos algumas temáticas acerca do consumo e produção e troca de bens. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO A economia mundial passa por transformações, em consequência da introdução de novas tecnologias, das crises enfrentadas pelo capitalismo nas últimas décadas, e principalmente a questão da sustentabilidade. Se por um lado há uma reconfiguração do capitalismo tradicional com a preocupação da produção e da obtenção do lucro. Por outro lado, há a preocupação com o esgotamento dos recursos naturais. Atualmente, a preocupação na forma como a energia fóssil é consumida e a maneira de substitui-la por energias limpas, estão em destaques para a nova produção. Repensar a utilização dos recursos e a manutenção dos seres humanos em condições dignas de vida é o grande desafio do milênio. Importante 3 Consulte as mídias sociais sobre os temas aqui expostos, amplie o seu conhecimento por formas alternativas tão pouco conhecida. Faça a leitura dos textos e assista aos vídeos propostos nas aulas e anote suas dúvidas para que possamos esclarecê-las. TEMA 1 – CONSUMO O avanço da sociedade capitalista, decorrente do desenvolvimento industrial, se intensifica nos últimos séculos e, consequentemente, há um aumento significativo na produção de bens, o que representa um aumento no consumo. O incentivo ao consumo ocorre com criações constantes e a modernização de produtos e serviços, que aumentem o lucro das empresas. A isto, ainda está agregado o advento da globalização que permite que tais bens e serviços sejam comercializados em todos os cantos do planeta. No Século XX, a lógica do capitalismo é uma produção em escala maior, com a racionalidade e controle do modo taylorista e com a produção em massa incentivada pelo modelo fordista, o que permite um consumo ainda mais significativo. A lógica capitalista é alterada no fim do Século XX, com novos modelos de produção, como toyotismo ou acumulação flexível, que teve início nas indústrias automobilísticas japonesas, tem como objetivo a não produção em massa, mas a adequação da produção à demanda. Os produtos seguem regras de fabricação normatizados, o padrão de qualidade controlados antes mesmo de sair da fábrica e com uma vida útil determinada. Para Layrargues (2005, p. 184): A moda e a propaganda provocam um verdadeiro desvio da função primária dos produtos. Ocorre que a obsolescência planejada e a descartabilidade são hoje elementos vitais para o modo de produção capitalista, por isso encontram-se presentes tanto no plano material como simbólico. Este processo é conhecido por obsolescência programada, que segundo Layrarques (2005, p. 183) ocorre quando as pessoas são levadas a consumir determinados produtos que tornam obsoletos antes do tempo, o tempo de validade já é determinado nas fábricas antes mesmo de serem vendidos. 4 A principal crítica realizada é a quantidade de resíduos que são produzidos com o descarte do consumo descontrolado, exaure os recursos naturais e aumento de lixo. O incentivo ao consumo é realizado por propagandas e campanhas publicitárias, que divulgam as novas criações, criando tendências de novas necessidades aos recém-criados produtos. As formas como os produtos são expostos estão cada vez mais criativas e sedutoras, são utilizadas estratégias de marketing extremamente agressivas, créditos facilitados tanto individual como para as empresas ofertados pelo sistema financeiro, permitem um consumo cada vez maior. Segundo Dalmoro e Nique (2013) Associada às ações de marketing, a abertura de mercados nas últimas décadas tem permitido ações internacionais cada vez mais frequentes, especialmente por meio do ingresso de empresas oriundas de países centrais em mercados periféricos, gerando transformações no ambiente de marketing. A alteração no sistema de signos de uma nação, gerada pela globalização, tem resultado numa identidade global, e, por consequência, num processo de aculturação do local em prol de uma cultura cada vez mais global. As inovações tecnológicas que transformam a contemporaneidade em Era Digital e Global criam uma série de produtos que torna muito semelhantes grupos sociais de lugares muito distantes pelo fato de consumirem as mesmas coisas; em muitos lugares altera os hábitos locais por consumo de produtos vendidos globalmente, o que se convencionou a chamar de cultura global do consumo. Por cultura global do consumo pode ser entendida como o que é Produzida por agentes que trabalham diretamente nas economias de mercado como gerentes, marketers, publicitários, e a sua constituição permite considerar o consumo como um campo institucional, um conjunto de interconexões econômicas e instituições culturais atuando na produção global de commodities para demanda individual (Arnould citado por Dalmoro; Nique, 2010). A cultura global de consumo, para Dalmoro e Nique (2010), tende a produzir padrões globais hegemônicos a partir de marcas globais, que interferem diretamente na economia e proliferação das empresas transnacionais, capitalismo globalizado, consumismos e homogeneização do consumo. • Proliferação das empresas transnacionais – é o processo de deslocamento ou expansão do processo produtivo para vários países, em busca de matérias-primas, mão de obra barata, impostos menores, a 5 formação joint ventures com empresas do país onde estão se instalando, ampliando ainda mais o mercado. As empresas transnacionais controlam o mercado por meio das empresas de publicidade. • Capitalismo globalizado – com abrangência planetária, tem a intensão de se perpetuar no mercado global, o fortalecimento das empresas transnacionais incentivado por políticas neoliberais, o fortalecimento de moedas consideradas mundiais: o dólar e o euro. • Consumismo – é a compra, muitas vezes incentivadas por campanhas publicitárias, daquilo que não se precisa de forma exagerada. Este ato tem se tornado um grave problema para o meio ambiente, pois os resíduos são descartados sem nenhum tratamento, um exemplo disso é a quantidade de embalagens plásticas depositadas nos oceanos. • Homogeneização do consumo – os indivíduos estão mais parecidos utilizando as mesmas marcas, consomem as mesmas roupas e comidas, padronizam opiniões, ditam comportamentos seguem o que é ditado pelo marketing das empresas transnacionais em se tratando de hábitos e consumo. A sociedade do consumo apresenta pelo menos duas questões: a econômica, com o agravamento da desigualdade social, que se apresenta desde a produção até o descarte; e a segunda é ambiental, fazendo-se necessário a criação de alternativas para a sobrevivência do planeta. Saiba Mais A históriaSecreta da Obsolescência Planejada: este documentário, dirigido por Cosima Dannoritzer e co-produzido pela TVE espanhola, filmado na Catalunha, França, Alemanha, EUA e Gana, é o resultado de três anos de pesquisa. O documentário faz uma viagem histórica de uma prática empresarial que consiste na redução deliberada da vida útil de um produto para incrementar o seu consumo. Fazendo uso de imagens de arquivo pouco conhecidas, fornece provas documentadas e mostra as desastrosas consequências ambientais provocadas por esta prática. Apresenta ainda vários exemplos do espírito de resistência que está a crescer entre os consumidores e a análise e opinião de economistas, designers e intelectuais que propõem alternativas para salvar a economia e o ambiente. (Disponível em: <https://www.theuniplanet.com/2011/03/obsolescencia-programada- documentario.html>. Acesso em: 19 jul. 2018) 6 OBSOLESCÊNCIA Programada – The Light bulb Conspiracy – Documentário Dublado. Elementar. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=H7EUyuNNaCU>. Acesso em: 19 jul. 2018 TEMA 2 – SUSTENTABILIDADE Em 1987, a expressão desenvolvimento sustentável foi utilizada pela primeira vez, no Relatório de Brundtland, escrito pela Comissão Mundial para Meio Ambiente e Desenvolvimento. Define esta como sendo as ações humanas para suprir as necessidades do presente dos seres humanos, sem comprometer a vida das futuras gerações. Portanto, sustentabilidade é a forma como a humanidade se desenvolve econômica e materialmente sem agredir o meio ambiente. Os aspectos do desenvolvimento industrial e tecnológico têm se acelerado com a globalização, aqui entendida como interligação de várias partes do planeta alterando a sua forma de produção, causando aspectos negativos à sobrevivência do planeta. Entre os aspectos, pode-se destacar: • o consumismo – ato de comprar bens e serviços sem a necessidade, de maneira exagerada; • urbanização concentrada – segundo a Organização das Nações Unidas – ONU – os problemas com a urbanização atingem os aspectos habitacionais, infraestrutura: saúde e educação, transportes, energia, emprego; • concentração da produção industrial – desemprego e poluição ambiental. O processo de produção em massa e o aumento do consumo atingem todas as formas de vida do planeta. Porém, isso tem um preço: o processo de esgotamento dos recursos não renováveis que, uma vez consumidos, demoram muito tempo para se refazerem; entre eles destacamos o ferro, o manganês, o petróleo, o carvão, o urânio, o estanho, a bauxita (minério de alumínio), argila, calcário. As áreas urbanas sofrem com a poluição, com bolsões de calor, excesso de resíduos sólidos que não destinados de forma correta e a falta de saneamento básico. As áreas rurais, também, sofrem os efeitos das técnicas do agronegócio, que foram desenvolvidas para aumentar a produtividade, em consequência o 7 desmatamento para a plantação de pastagens e a plantação de monoculturas, gerando um esgotamento dos recursos naturais. Como o consumo exige que produção altere a natureza de forma significativa, que em muitos casos vem acompanhado de poluição do solo, da água, do ar. Entre o esgotamento dos recursos naturais e o aquecimento global, o efeito estufa está entre os problemas causados pela produção descontrolada e a não destinação correta dos resíduos, o “aumento de bem-estar, proporcionado pelo vigoroso crescimento econômico mundial ocorrido no século XX, é ameaçado por alterações ambientais ocorridas, em grande parte, pelas externalidades das próprias ações humanas” (IPEA, 2010). O grande desafio do Século XXI é o desenvolvimento e a sustentabilidade, é suprir as necessidades dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações, portanto, sustentabilidade é Uma relação entre sistemas econômicos dinâmicos e sistemas ecológicos maiores, também dinâmicos e que, no entanto, modificam- se mais lentamente, de tal forma que a vida humana pode continuar indefinidamente [...], uma relação na qual os efeitos das atividades humanas permanecem dentro de limites que não deterioram a saúde e a integridade de sistemas auto-organizados que fornecem o contexto ambiental para essas atividades (Norton, 1992). Portanto, sustentabilidade está relacionada a um conjunto de ideias que envolvem estratégias que compreendam o desenvolvimento econômico viável, socialmente justo e ecologicamente correto, além de culturalmente diverso. Entre esse conjunto de ideias, está a diminuição da desigualdade social, a substituição de energias não renováveis pelas naturais renováveis (energia solar, energia eólica, hidroelétrica, energia das marés são recursos que podem ser renováveis por um longo período de tempo, e mais a madeira, o papel, o couro entre outros). Existem 4 tipos de sustentabilidades 1- Sustentabilidade Ambiental e Ecológica – é a preservação do meio ambiente, por meio da separação do lixo, preservação das águas e das matas, entre outras, proporcionando qualidade de vida e uma relação de bem-estar entre os ecossistemas e o ser humano. 2- Sustentabilidade Empresarial – preocupação das empresas com o meio ambiente, criando estratégias para manutenção do planeta sem custos para a empresas, criando uma gestão economicamente sustentável. Muitas empresas utilizam a sustentabilidade como marketing. 8 3- Sustentabilidade Social – formas criadas para estabelecer o equilíbrio entre o bem-estar das pessoas, diminuindo as desigualdades sociais, saneamento básico, ampliação da qualidade de vida, preservação da natureza. 4- Sustentabilidade Econômica – garantir o desenvolvimento econômico com os menores impactos ambientais ou que afetem a qualidade de vida das pessoas. Entre as formas econômicas sustentáveis estão as energias renováveis, consumo consciente, fiscalização e punição dos crimes ambientais. Podemos citar a destruição do Rio Doce, antes e depois da onda de lama tóxica em consequência do rompimento da Barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco, no munícipio de Mariana, em Minas Gerais, no dia 05 de novembro de 2015. Figura 1 – Rompimento da Barragem de Fundão, munícipio de Mariana Crédito: Eli Kazuyuki Hayasaka/cc/2.0 Crédito: Gustavo Basso/shutterstock Nas últimas décadas, o debate sobre sustentabilidade tem ganhado maior espaço de discussão, em consequência de uma preocupação de como ficará o planeta em futuro próximo, garantia de que as próximas gerações tenham recursos naturais para a sua sobrevivência. Saiba mais “Roberto Cabrini percorre os 800 km do Rio Doce para documentar cada detalhe do maior desastre ambiental da história do país e revela segredos impressionantes. Os personagens, o passo a passo, o rastro de destruição deixado pela imensa onda de lama da mineração. A onda avermelhada que carrega a morte. Um mundo de vida transformado em lama. O drama da contagem regressiva e negligente para a matança da fauna, da flora, e de humanos. O lixo de uma indústria milionária, a barragem tida como infalível, o lucro tido como sustentável”. https://www.shutterstock.com/pt/g/gustavo%20basso 9 CONEXÃO Repórter 29/11/2015 Tragédia ambiental. Mercenarios. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QJTBe3LwKvY>. Acesso em: 19 jul. 2018. TEMA 3 – ECONOMIA COLABORATIVA Como uma das principais tendências globais do Século XXI, temos a economia colaborativa, compartilhada ou em rede, ou ainda consumo colaborativo, como também é conhecida. É uma nova percepção da realidade mundial, destacando a sua preocupação com problemas sociais e ambientais. Portanto, a economia colaborativa é o desenvolvimento de tecnologias da informação e crescente conscientização dos consumidores, comunidades colaborativas na web sobre o comércio e compartilhamento social, que incentivam o acesso em detrimento da propriedade, troca e consumocompartilhado por meio de plataformas. Está baseada no compartilhamento de bens e serviços, que podem ou não ser uma transação financeira, por diversas pessoas. Segundo Souza (2016, p. 4) economia colaborativa Ou economia compartilhada refere-se a uma mesma ideia: maximização do uso ou exploração de um bem ou recurso, de forma a aumentar os benefícios deles decorrentes, devido à diminuição do período de ociosidade do bem ou recurso, possibilitada pela disseminação do uso de dispositivos eletrônicos que permitem a conexão e interação de pessoas em grandes redes de compartilhamento e pela disponibilização de avaliação de qualidade pelos usuários dos bens ou recursos. A primeira vez que o termo foi usado foi em 2008, pelo professor Lawrence Lessing, porém, a ideia de compartilhar sempre esteve presente nas sociedades, os povos indígenas e comunidades sempre tiveram o hábito de compartilhar, trocar. Isso significa que O relacionamento entre produtos físicos, propriedade individual e identidade própria está passando por uma evolução profunda. Não queremos o CD, mas sim, a música que ele toca. Não queremos o disco, mas sim, sua capacidade de armazenamento. Não queremos a secretária eletrônica, mas sim, as mensagens que ela grava. Não queremos o DVD, mas sim, o filme que está gravado nele. Em outras palavras, não queremos as coisas em si, mas as necessidades ou as experiências que elas satisfazem. (Botsman; Rogers, 2011, p. 81). A tecnologia apenas organizou esse compartilhamento, a novidade está em fazer isso com a mediação da tecnologia, que agiliza e barateia as transações e as permite se geolocalizar. 10 Essa tendência une três pontos fundamentais: • social – o aumento da população mundial e a preocupação com a sustentabilidade, considera-se a noção de comunidade; • econômico – valorização do acesso ao invés da aquisição, monetizar (transformar em dinheiros excessos ou ociosos), flexibilidade financeira. • tecnológico – as redes sociais, as plataformas móveis e as formas de pagamento digital. O acúmulo passa a ser visto de outra maneira, não é mais tão vantajoso possuir algo, principalmente em decorrência das inovações tecnológica, pois há um aumento nas oportunidades de adquirir algo; os produtos ficam obsoletos muito rapidamente. A economia colaborativa permite que pessoas vejam mais benefícios de acesso e do uso dos bens e serviços do que sua posse. Para Silveira (2017, p. 147) “através deste pressuposto, as pessoas economizam espaço, tempo, dinheiro e ainda têm a oportunidade de fazer novos relacionamentos, gerando um consumo mais ativo e consciente”. O importante é ter algo que se deseja durante o tempo que for necessário. Principais características da economia colaborativa: 1- Reputação da empresa, assim como a reputação pessoal que interfere nos negócios. A reputação é tão importante como o capital que a empresa investe. 2- Sistema de redistribuição, produtos usados ou seminovos que não são mais utilizados e são colocados à venda. 3- Financiamento coletivo ou Crowdfunding – arrecadação de dinheiro por um grande número de pessoas com um objetivo comum. 4- União de pessoas com um objetivo comum ou Crowdsourcing – são realizadas por meio de plataformas colaborativas, no intuito de um bem maior. 11 Figura 2 – Dados sobre a economia colaborativa Fonte: Disponível em: <http://aprendainvestimentos.com/economia-colaborativa-nova- tendencia-mundial/>. Acesso em: 19 jul. 2018. Segundo o Jornal El Pais (2017), o Brasil é o país que mais valoriza esse modelo econômico, podemos confirmar essa informação verificando os dados da Figura 2. Saiba mais Assista ao vídeo: CIDADES e Soluções Economia Colaborativa, um meio de conectar pessoas. Laboratório de Design Social DESTERRO. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uIN014Ufxco>. Acesso em: 19 jul. 2018. TEMA 4 – ECONOMIA SOLIDÁRIA Economia solidária foi criada no Brasil, mas tornou-se um movimento mundial que se refere ao consumo e distribuição da riqueza com a valorização do ser humano e empreendimentos coletivos. Como a forma de atuação é coletiva e associativa, há o compartilhamento dos recursos que se produz e o seu funcionamento é baseado no modelo de autogestão. Pode ser definida segundo Paul Singer, economista e sociólogo, como um 12 modo de produção que se caracteriza pela igualdade. Pela igualdade de direitos, os meios de produção são de posse coletiva dos que trabalham com eles – essa é a característica central. E a autogestão, ou seja, os empreendimentos de economia solidária são geridos pelos próprios trabalhadores coletivamente de forma inteiramente democrática, quer dizer, cada sócio, cada membro do empreendimento tem direito a um voto. Se são pequenas cooperativas, não há nenhuma distinção importante de funções, todo o mundo faz o que precisa. Agora, quando são maiores, aí há necessidade de que haja um presidente, um tesoureiro, enfim, algumas funções especializadas, e isso é importante sobretudo quando elas são bem grandes, porque aí uma grande parte das decisões tem que ser tomada pelas pessoas responsáveis pelos diferentes setores. Eles têm que estritamente cumprir aquilo que são as diretrizes do coletivo, e, se não o fizerem a contento, o coletivo os substitui. (Economia solidária, 2008). No início do Século XIX, o pensamento da economia solidária já apresenta seus primeiros indícios, na França, no pensamento de Saint-Simon, Charles Fourier, que elaboraram modelos de sociedades cooperativistas e solidárias. A proposta era minimizar os efeitos causados pelos sistemas liberal capitalista aos trabalhadores valorizando o ser humano e de socorro mútuo. Já no Século XX ocorre o ressurgimento do pensamento solidário, em decorrência da crise de superprodução de 1929, em consequência da deficiência do sistema capitalista liberalista, que teve como consequência o alto índice de desemprego. Após a Segunda Guerra Mundial, o capitalismo introduz o capitalismo baseado na teoria Keynesiana, que defendia o estado intervencionista, que conseguiu sanar a crise por um determinado tempo, possibilitando o crescimento do número de postos de empregos. A década de 1970 é marcada por várias transformações tanto nacionais como internacionais, quando tem início a substituição do modelo econômico keynesiano para o neoliberal, que pode ser contextualizado pelo momento histórico conhecido como a crise do petróleo. Porém, na década 1970, inicia-se uma nova crise, na qual novamente o desemprego vem à tona, empresas são fechadas e há o fortalecimento do neoliberalismo. Segundo Sunderhus (2011), a economia solidária 13 Reaparece em massa na Europa, a partir da segunda metade da década de 70 e início da de 80, o processo cooperativista/associativista por parte das classes trabalhadoras de empresas autogeridas pelos próprios trabalhadores, cujo objetivo é o de lutar contra a exclusão social, assim como o de salvar e até mesmo criar empregos. Na década de 1980 o neoliberalismo começa se expandir por todo o globo, com privatizações, economia de mercado e investimento estrangeiros, alterando profundamente as estruturas econômicas e políticas de países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Para Sunderhus (2011), Constata-se também na década de 80, um forte endividamento dos países em desenvolvimento em decorrências das políticas Keynesianas (1945-75) que faz com que o mercado privado de crédito em longo prazo paralisasse suas operações, o acesso a empréstimos privados se tornasse mais seletivo e debates sobre questões ambientais se tornassem elemento central sobre novos caminhos alternativos de desenvolvimento. Já na década de 1990, há a consolidação da globalização e o avanço das inovações tecnológicas, que permitem a formação de blocos econômicos, proporcionando as integrações monetárias, econômicase financeiras entre si, não existindo mais barreira para o capital. Com essa nova forma de organização do trabalho, a introdução de novas tecnologias, terceirização, as empresas reduziram seus números de postos de trabalho, proporcionando um aumento em trabalhadores desempregados. Como uma prática de sobrevivência dos trabalhadores, a economia solidária ganha força como uma forma de enfrentamento às crises econômicas como o desemprego, destacando as populações excluídas que se organizam coletivamente na forma de autogestão, em empreendimentos que vão desde a produção até o consumo. É uma forma de organização que preconiza o consumo responsável e sustentável, estabelece uma relação entre o campo e a cidade, portanto, entre consumidores e produtores, valorizando a qualidade de vida dos consumidores e difundindo a agricultura familiar, a pesca artesanal, artesanato, agroecologia, e vários outros setores. Segundo o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (2011), a economia solidária são iniciativas de projetos produtivos coletivos, cooperativas populares, cooperativas de coleta e reciclagem de materiais recicláveis, redes de produção, comercialização e consumo, instituições financeiras voltadas para empreendimentos populares solidários, empresas autogestionárias, cooperativas de agricultura familiar e agroecologia, cooperativas de prestação de serviços, entre 14 outras, que dinamizam as economias locais, garantem trabalho digno e renda às famílias envolvidas, além de promover a preservação ambiental Ainda segundo o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (2011), a Economia Solidária pode ser dividida em 3 dimensões: • Econômica: a produção, oferta, comércio, finanças são realizados na forma de autogestão, ou seja, é um jeito de fazer a atividade econômica de produção, oferta de serviços, ou “Economia Solidária não existe patrão nem empregados, pois todos os/as integrantes do empreendimento (associação, cooperativa ou grupo) são ao mesmo tempo trabalhadores e donos”. • Cultural: é a forma de consumir as produções locais, saudáveis, que preservam o meio ambiente, livre dos transgênicos, sem o benefício às grandes empresas. “Neste aspecto, também simbólico e de valores, estamos falando de mudar o paradigma da competição para o da cooperação da inteligência coletiva, livre e partilhada”. • Política: é um movimento social em defesa da sociedade, das pequenas e microempresas, pequeno produtor e no “desenvolvimento para as pessoas e construída pela população a partir dos valores da solidariedade, da democracia, da cooperação, da preservação ambiental e dos direitos humanos”. 4.1 Economia solidária no Brasil No Brasil, a economia solidária, também conhecida como como economia popular ou economia social, surgiu na década de 1980 para fazer frente às consequências do neoliberalismo e ao desemprego. A igreja católica, predominantemente, e os movimentos sociais criam formas de trabalhos, geração de renda solidários. A partir da década de 1990, ganham visibilidade com a exclusão dos trabalhadores do mercado de trabalho; estes inserem-se na prática da economia solidária, criando uma economia paralela e surgimento de novas práticas coletivas. Segundo Sunderhus (2011), os movimentos sociais incentivam projetos alternativos comunitários, várias universidades auxiliam com a criação de 15 Incubadoras de Cooperativa Populares, no intuito de ajudar os grupos a se estruturar economicamente. Pode-se observar, no quadro a seguir, como a economia solidária está organizada no Brasil. Quadro 1 – Economia solidária no Brasil Fonte: Disponível em: <https://cirandas.net/fbes/o-que-e-o-fbes>. Acesso em: 19 jul. 2018. Segundo Guimarães e Quental (2017), o Brasil tem mais de 30 mil empreendimentos solidários, em vários setores da economia, destacando-se a agricultura familiar, gerando renda para mais de 2 milhões de pessoas e movimentando, anualmente, cerca de 12 bilhões de reais. Saiba Mais Para aprofundar o seu conhecimento sobre Economia Solidária “Cidade Solidária: Consumo Solidário "Cadeias Produtivas na Economia Solidária", 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ebze6rI0zuw>. Acesso em: 19 jul. 2018. 16 TROCANDO IDEIAS Nesse tema foi possível identificar formas de economia que ainda estão em forma insipiente para garantir um mundo mais sustentável. O pensamento de uma economia baseada na troca, o que permite a redução dos resíduos causados pelo excesso de consumo. A preocupação sobre qual sociedade deixaremos para as gerações futuras é o que permeia todas essas novas formas de pensar o consumo. Como consumir sem destruir o meio ambiente, tanto na sua produção, como no seu consumo e no descarte dos resíduos. NA PRÁTICA Para uma compreensão prática da economia colaborativa, estabeleça uma relação entre o artigo e o material apresentado em aula. Micro e pequenos empreendedores que vendem produtos autorais não precisam, necessariamente, apenas ter uma lojinha virtual em marketplaces ou participar de feiras e eventos periódicos para expor sua marca. É possível também pagar um aluguel mensal para deixá-la exposta em lojas colaborativas. O conceito já se espalha por diversas cidades do país, como São Paulo, Santo André, Brasília, Porto Alegre e Salvador, e é uma opção para quem não tem dinheiro e nem estoque suficiente de produtos para manter uma loja física. Por ter custos compartilhados entre os empreendedores, que dividem o espaço e a gestora da loja, o aluguel sai mais em conta – a partir de 120 reais. O valor varia conforme o tamanho do espaço e também a visibilidade que proporciona, e pode chegar a 1.500 reais. Além do aluguel, os empreendedores pagam uma taxa de administração, que custa em média entre 15% e 20%, que serve para pagar gastos com marketing, meios de pagamento e vendedores. Geralmente, as lojas têm uma curadoria, que seleciona os produtos mais criativos, inovadores e de qualidade. Algumas têm ainda espaços de convivência, como bares, cafés e jogos para atrair o público, onde realizam eventos. (Almeida, 2017) 17 FINALIZANDO Neste tema, você pôde entender formas diferenciadas da economia contemporânea, que estão preocupadas com a sustentabilidade e com o excesso de consumo e descarte de produtos e resíduos. E como é importante para o profissional de publicidade e propaganda levar em consideração o planeta que queremos deixar para as futuras gerações. Isso porque conhecendo e valorizando as economias alternativas, torna-se possível pensar uma sociedade com melhor qualidade de vida para todos, inclusive porque a sustentabilidade e consumo consciente permitem a diminuição da desigualdade social 18 REFERÊNCIAS ALMEIDA. 7 lojas colaborativas para abrir seu negócio a partir de R$ 120. Exame. 2017. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/pme/7-lojas- colaborativas-para-abrir-seu-negocio-a-partir-de-120/>. Acesso em: 19 jul. 2018. BOTSMAN, R.; ROGERS, R. O que é meu é seu: como o consumo colaborativo vai mudar o nosso mundo. Porto Alegre: Bookman, 2011. DALMORO, M.; NIQUE, W. M. Cultura global do consumo e tradicionalismo local: uma reflexão teórica a partir da diacronia dos conceitos. G&DR, v. 10, n. 4, p. 420-442, set-dez/2014, Taubaté, SP, Brasil. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149157/001004665.pdf?sequ ence=1>. Acesso em: 19 jul. 2018. ECONOMIA solidária. Entrevista. Estud. av. 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E como é importante para o profissional de publicidade e propaganda levar em consideração o planeta que queremos deixar para as futuras gerações. Isso porque conhecendo e valorizando as economias alternativas, torna-se possível pensar uma sociedade c... REFERÊNCIAS