@import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700&display=swap); 11. ALGUMAS CONDIÇÕES CLÍNICAS E A PSICOSSOMÁTICA.11.1 SÍNDROME GERAL DE ADAPTAÇÃO.Seyle (1947) deu o nome de Síndrome Geral de Adaptação ao conjunto de modificações não específicas que ocorrem no organismo, frente a situações estressantes. Esta consiste em três fases:1ª. : reação de alarme\u25bc2ª. : fase de resistência\u25bc3ª. : fase de exaustãoSendo que não é necessário que ela se desenvolva até a última fase para que haja estresse e apenas nas situações mais graves há a exaustão.Podemos compreender a reação de alarme como a reação de emergência descrita pelo fisiologista Cannon, responsável pelo desenvolvimento das noções de homeostase (a qual se refere ao equilíbrio dinâmico do organismo). Para ele, quando um animal era submetido a estímulos ameaçadores que colocam em risco o seu equilíbrio orgânico como medo, fome, dor e raiva, apresentava uma reação de emergência, em que se preparava tanto para a luta quanto para a fuga.Assim como os animais, os seres humanos apresentam uma reação de alarme quando se deparam com situações que colocam em risco o seu equilíbrio físico. O resultado é um aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, permitindo que o sangue circule de forma mais rápida e chegue aos tecidos levando mais oxigênio e nutrientes. Além disso, ocorrem contrações no baço, levando mais glóbulos vermelhos à corrente sanguínea, o que também acarretará em mais oxigênio para o organismo; o fígado libera o açúcar armazenado no sangue para ser utilizado como alimento, fato que por vez proporciona mais energia para os músculos; há uma redistribuição sanguínea, com diminuição do fluxo da pele e vísceras e aumento para músculos e cérebro, aumento da frequência respiratória e dilatação dos brônquios, o que proporciona um aumento na captação de mais oxigênio pelo organismo; dilatação da pupila com exoftalmia (que é uma reação que faz com que os olhos fiquem profusos e salientes como se estivessem arregalados) para aumentar a acuidade visual; aumento de linfócitos, que são as células do sangue responsáveis pela defesa do organismo, prontificadas para reparar possíveis danos aos tecidos e, por último, ansiedade.Resumidamente, temos as seguintes mudanças corpóreas na 1ª fase:\u2191 frequência cardíaca;\u2191 pressão arterial;\u2191 glóbulos vermelhos;\u2191 açúcar no sangue;Redistribuição do sangue;\u2191 frequência respiratória;Dilatação dos brônquios;Alargamento da pupila;\u2191 glóbulos brancos;Ansiedade.Em um momento posterior temos a fase de resistência, que ocorre caso o agente estressor perpetue a sua ação. Nela há um aumento do córtex da suprarrenal, atrofia do timo, baço e demais estruturas linfáticas, aumento do número de glóbulos sanguíneos, diminuição do número de eosinófilos (células sanguíneas relacionadas com a defesa do organismo), aumento da concentração de cloro no sangue; ulcerações no aparelho digestório, surgimento de sintomas como: irritabilidade, insônia, mudanças de humor (por exemplo: depressão) e diminuição da libido sexual. Estudos apontam que a hipófise, que é uma pequena glândula situada bem próxima ao hipotálamo, na base do cérebro, exerce um importante papel na manifestação dessas reações, pois os animais que tiveram esta glândula extirpada não as manifestaram.De forma esquemática, temos as seguintes mudanças corpóreas e psicológicas na 2ª fase:\u2191 do córtex da suprarrenal;Manifestação de ulcerações no aparelho digestório;Atrofia de algumas estruturas relacionadas à produção de células do sangue;Irritabilidade;Insônia;Mudanças no humor;\u2193 libido sexual.A terceira fase, a de exaustão, significa que pode ter havido uma falha no mecanismo de adaptação. De modo parcial, há um retorno à fase de alarme e, posteriormente, caso o estímulo estressor continue potente, poderá levar o indivíduo à morte. Assim, na exaustão temos:Retorno parcial e breve à reação de alarme;Falha dos mecanismos adaptativos;Esgotamento por sobrecarga fisiológica;Morte.Segundo Seyle (1947), a Síndrome Geral de Adaptação representa um conjunto de respostas inespecíficas que se manifestam no organismo diante de uma determinada situação que exija do sujeito um esforço para se adaptar, inclusive psicossocial.França e Rodrigues (2007) concordam que o estresse resulta dos esforços para se adaptar, entretanto, se a reação ao estímulo interpretado como agressor for muito intenso, ou mesmo se o agente do estresse for muito potente e/ou prolongado, consequentemente poderá haver uma doença ou uma maior predisposição para o surgimento de uma doença, já que a Síndrome Geral de Adaptação instiga o organismo a manifestar uma série de reações, deixando-o mais vulnerável às enfermidades.Levy (1971), diretor do Karolinska Institute, instituição altamente conceituada e que é encarregada da distribuição do Prêmio Nobel, acredita que apesar do ser humano ter a capacidade de adaptar-se ao meio ambiente desfavorável, tal adaptação não se dá impunemente. Para o autor, os agentes estressores psicossociais atuam de forma efetiva sobre o organismo. Os estudos de Levy receberam e recebem reconhecimento da Organização Mundial da Saúde até hoje, sendo que a OMS elegeu o Karolinska Institute como instituição de referência no estudo do estresse psicossocial e saúde.Atualmente, a importância dos agentes psicossociais é demasiadamente reconhecida, sendo tão potentes quanto os microrganismos no desencadeamento de doenças. Já em 1986, a OMS afirmava que havia uma multiplicação das manifestações das enfermidades, derivadas de desequilíbrios psicossociais, sendo apontados como a razão mais frequente para as consultas médicas. Estima-se que chegariam a 50% em regiões mais desenvolvidas, afetando todas as classes sociais.Podemos perceber os mecanismos envolvidos na Síndrome Geral de Adaptação mais facilmente em doenças que envolvem componentes de esforço e adaptação como: - Gastrite; - Úlcera digestiva resultante do estresse; - Crises de hemorroida; - Alterações na pressão arterial; - Artrites reumáticas e reumatoides; - Doenças renais; - Afecções dermatológicas de caráter inflamatório; - Dificuldades emocionais; - Alterações metabólicas; - Perturbações e/ou dificuldades sexuais; - Alergias; - Infecções, entre outros.11.2 ESTRESSE E PROCESSO DE AVALIAÇÃO.É importante frisar que reações de estresse são naturais e até mesmo necessárias na vida, contudo frente a algumas circunstâncias elas podem ser nocivas ao funcionamento do indivíduo. Assim, encontramos os seguintes tipos de estresse:Eustress: quando há tensão com equilíbrio entre esforço, tempo, realização e resultados. É o \u201cestresse positivo\u201d de certa forma, pois o esforço para se adaptar produz sensação de realização pessoal, bem-estar e satisfação das necessidades, mesmo que em muitos momentos a pessoa teve de usar esforços inesperados. É um esforço sadio na garantia da sobrevivência. Ao fazermos algo que nos agrade, nos sentimos valorizados por isso e pelo esforço desprendido há o eustress.Distress: quando há tensão com rompimento do equilíbrio biopsicossocial por excesso ou falta de esforço, incompatível com tempo, resultados e realização.A tabela abaixo mostra três momentos diferentes em que se sucedem períodos de distress e eustress.TABELA 2"Mesmo que muitos estímulos estressores sejam suficientemente potentes para desencadear um distress, há diferenças individuais ou grupais de como um evento é percebido, variando tanto da forma quantitativa, quanto qualitativa. É esse processo que irá mostrar se uma situação é estressante ou não para a pessoa, ou seja, se ela implica em ameaça ou desafio."Segundo França e Rodrigues (2007), ao fazer uma avaliação, realizamos uma atividade mental que é em parte racional e, em parte, emocional. Contudo, a parte emocional, não é necessariamente consciente. Fazemos um reconhecimento e uma estimativa da situação presente, baseando-nos em experiências passadas que influenciaram não só na forma como percebemos o estresse, como também na maneira como iremos enfrentá-las, além de apoiados em experiências prévias, determinarmos o tipo e a intensidade da resposta que será produzida. É uma avaliação que nos dá um significado para aquilo que estamos vivendo. Esse processo é muito importante, pois um mesmo acontecimento estressante pode ser encarado com muita alegria ou ser a causa de muito sofrimento.a) CompromissosAquilo que a pessoa julga importante. Quanto maior for o seu comprometimento com o que está acontecendo, maior será o seu grau de compromisso e isto poderá influenciar o seu processo de avaliação. À medida que se está intensamente envolvido com o compromisso, pode-se sentir mais vulnerável, mas também com mais impulso para desenvolver recursos frente aos obstáculos que possam surgir.b) CrençasSão baseadas em convicções sobre as mais diferentes circunstâncias da realidade e acabam influenciando a percepção da pessoa sobre suas vivências.c) Situações novasCaso uma situação seja identificada como potencialmente estressante, principalmente se for associada a uma ocorrência anterior que gerou ameaça ou dano, poderá despertar sentimentos que vão desde a incerteza até o temor.d) Impossibilidade de prever um acontecimentoQuando não se foi preparado para viver uma situação dolorosa ou aversiva, as reações de estresse tendem a ser muito mais intensas.e) Incerteza de uma situaçãoQuando não se sabe se um determinado evento irá ocorrer ou não, maior será a capacidade dele suscitar uma sensação de ameaça, constituindo um dos fatores mais potentes para impedir uma adaptação apropriada e pode levar à imobilidade. Quanto maior a incerteza, maior será o tempo para a avaliação, o que acaba por gerar sentimentos e atitudes conflituosas.f) Proximidade de um acontecimentoQuanto mais perto estiver um evento significativo, maior será o impacto no processo de avaliação e, desta maneira, mais intensa pode ser a reação ao estresse.g) Duração do processo estressanteCaso o evento estressante seja muito longo, as consequências podem ser extremamente danosas ao organismo, levando ao desgaste e ao esgotamento.h) Incerteza sobre quando ocorrerá uma situaçãoPrincipalmente se ele é interpretado como ameaçador.i) AmbiguidadeOcorre quando não se tem informações suficientes para avaliar um evento. Surgem aqui dúvidas sobre como e quando proceder.11.3 SÍNDROME DA FADIGA.Para o Royal College of Psysicians (Real Sociedade Médica) de Londres, aproximadamente 50% da população mundial queixa-se de fadiga e, dentro deste percentual, 2,6% apresenta Síndrome da Fadiga Crônica. Desta forma, a fadiga é, provavelmente, um dos sintomas mais comuns na Medicina e na Psicologia.Segundo França e Rodrigues (2007), a síndrome da fadiga crônica é um dos problemas de saúde mais complexos para ser tratado, visto que há inúmeras condições que podem desencadear esta condição. Sendo uma síndrome, isto é, um conjunto de sinais e sintomas que podem ser produzidos por mais de uma causa, a fadiga deve ser compreendida em toda a sua amplitude.A fadiga pode ser compreendida como um desgaste de energia física e mental, que pode ser recuperada com repouso, nutrição adequada ou via orientação clínica. Entretanto, o esforço prolongado e/ou repetitivo tem, conforme França e Rodrigues (2007), repercussões sobre diversos sistemas do organismo. Os resultados são múltiplas alterações:Na parte orgânica: dores musculares e nas articulações, tonturas, dores de cabeça em virtude da tensão emocional, perturbações no sono, sonolência excessiva, alterações digestivas, gânglios sensíveis e dolorosos.Na parte orgânica relacionada à ansiedade: aceleração da frequência da pulsação, sudorese, aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da frequência respiratória, sensação de falta de ar (com ou sem aumento da pressão arterial), palidez ou vermelhidão e diminuição da libido.Reações depressivas leves: diminuição de prazer nas atividades, afastamento de parentes e amigos, falta de vontade, desatenção, irritação ou desânimo fácil, menor interesse sexual e/ou menor prazer na relação com o parceiro, menor energia nas tarefas.Introversão.Dificuldade em tomar decisões.Diminuição da capacidade de concentração.Comprometimento na memória.Comprometimento na memória.Sabe-se que muitas doenças físicas podem provocar a Síndrome da Fadiga, como por exemplo: distúrbios endócrinos em razão do hiperfuncionamento da tireoide, além de alterações no metabolismo, principalmente aquelas que envolvem potássio e distúrbios do sono. Hipocondria, depressão, psicose e outros distúrbios psiquiátricos também podem suscitar o aparecimento da Síndrome da Fadiga.Sendo assim, o diagnóstico dessa síndrome exige uma investigação minuciosa, todavia percebemos que muitos autores afirmam que a causa mais comum é o estado de tensão prolongada. França e Rodrigues (2007) citam o estudo da Síndrome Geral de Adaptação, o qual demonstra que quando o indivíduo se esforça para se adaptar, ele pode produzir alterações no funcionamento dos seus sistemas orgânicos, desta forma, estados prolongados e/ou intensos de estresse podem colaborar para debilitar o organismo, deixando-o mais vulnerável nos mais diversos ambientes (infecciosos ou não), provocando até mesmo problemas no sistema glandular ou digestivo, entre outros.O gráfico abaixo mostra as diferentes vias de alívio da tensão:\u25ba Endógeno(interno)1 - Estímulos \u2192 2 - Provocam TENSÃO que é disparada sob \u201ccoordenação\u201d do Sistema Nervoso Central \u25ba Exógeno (externo) \u2193 \u2193 \u2193 \u21933 - Aparelho mental Sist. Neuroendócrino Sist. Imunológico Sist. Nervoso Vegetativo \u2193 Aparelho MusculoesqueléticoCaso não haja a adequada descarga da tensão, parte dela será represada, acumulando-se no aparelho mental e causando ainda mais tensão e, consequentemente, desprazer e sofrimento, o que pode conduzir à fadiga. Outra parte da energia será disparada para as vias locomotoras e vegetativas. Com a sobrecarga dessas vias, pode haver o surgimento ou a reagudização de várias enfermidades.A fim de sintetizar esta ideia, apresentamos o esquema abaixo referente à fisiopatologia da fadiga:\u25ba Endógeno (interno) Estímulos \u2192 TENSÃO (Sistema Nervoso Central)\u25ba Exógeno (externo) \u2193 \u2193 Aparelho mental \u2193 \u25bc Tensão,Desprazer Aparelho Musculoesquelético \u2193 \u2193FADIGA Sistema Nervoso Vegetativo Sistema Neuroendócrino Sistema Imunológico Intenso e persistente\u2192 \u2193 \u2193 Sintomas psicossomáticos ou somatizaçãoRessalta-se que a regulação do organismo se dá por meio do sistema nervoso e suas mais variadas funções, algumas são conhecidas como vegetativas, como a respiração, circulação sanguínea, digestão, entre outras. No caso da Síndrome da Fadiga Crônica, o sistema vegetativo atua de duas formas: a primeira sintetizada acima e a segunda ocorre quando parte desse sistema vegetativo é estimulado por uma tarefa em que a pessoa esteja envolvida e esta lhe desperta entusiasmo, prazer ou raiva, preparando o organismo para a ação. Contudo, caso a atividade seja monótona ou desagradável, o indivíduo não é preparado física e emocionalmente para desenvolvê-la, o que acaba criando uma falta de sintonia entre esforço e funções vegetativas. Neste sentido, o indivíduo exige de si mesmo um determinado esforço, mas as funções vegetativas permanecem em repouso. É diante destas condições que a Síndrome da Fadiga se instala.11.4 DISTÚRBIOS DO SONO.Para França e Rodrigues (2007), os estudiosos desses distúrbios calculam que 1/3 da população adulta apresenta dificuldades em relação a dormir, mas apenas 17% dessa população buscam tratamento. Atualmente, esses distúrbios são divididos em:Dificuldade em iniciar ou manter o sono (insônia);Sonolência excessiva;Distúrbios do padrão sono-vigília;Parassonias.Trataremos agora de cada uma delas:a) A insônia pode decorrer de inúmeras enfermidades, sendo que o diagnóstico é fundamental para o estabelecimento de um tratamento adequado. Alterações em nossos cotidianos favorecem o seu aparecimento. Em muitos momentos, ela é transitória e relacionada a um momento estressante e, neste caso, ela desaparece espontaneamente quando o problema que a gerou foi solucionado. Em outros momentos ela é secundária a quadros psicológicos, como: ansiedade, depressão, uso de drogas, abuso de álcool, cafeína, medicamentos, entre outros, que podem ter efeito estimulante ao sistema nervoso central ou ainda quando ocorrem a interrupção do uso de drogas depressoras sobre o sistema. A insônia pode ainda ser secundária a problemas respiratórios que são induzidos pelo sono, como a apneia ou outros problemas orgânicos de saúde, como distúrbios da tireoide e doenças que levam à dor crônica e, ainda por movimentações musculares noturnas involuntárias.b) As causas mais comuns de distúrbio de sonolência excessiva são conhecidas como apneias do sono (50% dos casos em distúrbio de sonolência excessiva) e a narcolepsia (20% dos casos em distúrbio de sonolência excessiva).A apneia do sono caracteriza-se por interrupções na respiração durante o sono, sendo que este distúrbio se dá fundamentalmente pela obstrução das vias aéreas respiratórias em razão de um relaxamento dos músculos da orofaringe (parte situada na faringe, entre o palato mole e a glote). Em virtude dessa obstrução, a pessoa desperta em poucos segundos, liberando a obstrução em seguida e voltando a dormir em poucos segundos. Entretanto, este ciclo obstrução x despertar repete-se inúmeras vezes durante a noite. Geralmente, como são despertares muito breves, o indivíduo não se recorda deles pela manhã e não tem consciência do seu distúrbio. As pessoas que sofrem de apneia do sono costumam ter sonolência diurna, que pode ser constante, chegando até mesmo a dormirem em alguma atividade quando o quadro é muito grave. Tal situação leva muitas pessoas com apneia a serem tachadas de preguiçosas ou sem motivação por aqueles que estão a sua volta. Essa sonolência aparece mesmo quando a pessoa conta que dormiu durante toda a noite e não melhora com cochilos eventuais. Outra característica muito comum é o roncar. O método mais eficaz para diagnóstico é a polissonografia existente nos laboratórios de sono. Via este aparelho, consegue-se detectar a patologia. Destaca-se que também se deve estar atento aos problemas de depressão e uso de drogas depressoras do sistema nervoso central, como álcool, barbitúricos, medicamentos para epilepsia, anti-histamínicos, entre outras.c) Distúrbios do padrão sono-vigília são comuns e crescentes em países industrializados, principalmente, quando os trabalhadores são submetidos a constantes mudanças de turno. Em consequência há um aumento do desgaste individual dos trabalhadores em relação a sua atividade, cai o rendimento, surgem dificuldades para conciliar e manter o sono e há um aumento na sensação de cansaço e sonolência. Paralelamente podem surgir no organismo (que também funciona por ciclos) problemas como a secreção do cortisol plasmático (hormônio que também está envolvido na Síndrome Geral de Adaptação), a secreção do hormônio de crescimento e a temperatura corpórea, que favorecem o aparecimento de problemas de saúde.d) Dentro das parassonias está inclusa uma série de distúrbios, como terror noturno, sonambulismo, alguns tipos de enxaqueca, bruxismo \u2013 também conhecido como \u201cranger de dentes noturno\u201d \u2013 que é muito mais intenso em situações de distress \u2013 provocando um desgaste do esmalte dos dentes e também disfunções nas articulações da mandíbula.11.5 DEPRESSÃO.Situações de desapontamento e momentos de tristeza são reações comuns na vida de qualquer indivíduo que geralmente emergem de fatos cotidianos e são desencadeadas por acontecimentos que envolvem luto e decepções atribuídas de importância pela pessoa. Nessas situações há, contudo, um limite de tempo e intensidade que não deve ser confundido com o transtorno de humor (ou transtorno afetivo) depressivo.A depressão é uma doença que influencia as atitudes das pessoas frente as suas vidas e das que estão ao seu redor. Altera sentimentos, reduz sensações de bem-estar, muda a forma de pensar, interfere nas escolhas, altera o comportamento e as crenças de um ser humano. Requer tratamento médico e psicológico porque interfere diretamente no organismo e na psique do indivíduo, gerando, consequentemente, problemas de trato social para o sujeito. Os sintomas depressivos são variados em intensidade (leve, moderada ou grave), o que pode levar a um comprometimento severo na vida das pessoas que apresentam o problema.Os principais sinais e sintomas são:Tristeza ou irritação a maior parte do dia ou quase todos os dias;Perda de interesse por atividades que antes eram agradáveis durante a maior parte do dia ou quase todos os dias;Mudanças súbitas no apetite ou peso sem explicação;Insônia ou necessidade de sono aumentada;Agitação ou prostração \u2013 observada pelos outros;Sensação de cansaço constante ou perda de energia;Sentimentos frequentes de inferioridade e culpa;Dificuldade de concentração e em tomar decisões;Pensamentos frequentes de morte ou suicídio.Ressalta-se que para receber o diagnóstico de depressão a pessoa deve preencher, pelo tempo mínimo de duas semanas, pelo menos quatro desses itens, sendo que os itens a e b devem estar necessariamente presentes. O item i geralmente aponta para uma depressão de grau mais grave.Por ser uma doença que afeta o humor (em graus que vão da tristeza à melancolia), a disposição, o estado de ânimo, além da qualidade, as perspectivas de vida, as atitudes e até o funcionamento do organismo, a depressão recebe uma considerável atenção da Psicossomática.Gulledge e Calabrese (1988) reuniram pesquisas que apontam que cerca de 20% das mulheres e 8 a 12% dos homens provavelmente apresentarão pelo menos um episódio de transtorno depressivo durante a vida. Apesar do alto índice, segundo Kaplan et al. (1980) apenas 20 a 25% dos pacientes com depressão recebem atenção médica e psicológica adequadas.É um estado que compromete as atividades profissionais e de relacionamento pessoal, visto que, o indivíduo não consegue desenvolver suas funções de maneira afetiva, apresenta dificuldade de concentração, cansaço, diminuição da libido, diminuição da autoestima, crises de angústia e lentificação do pensamento e/ou movimentos.Inúmeras são as causas que propiciam o surgimento da depressão, entre elas:a) Para a Psicanálise, em que temos como os principais expoentes Sigmund Freud e Melaine Klein, o estado depressivo é causado na relação que, ainda bebê, o indivíduo estabelece com os chamados objetos primordiais, que mais tarde serão representados pelos objetos significativos como pessoas próximas, ideais, status, entre outros. Segundo Dalgalarrondo (2000), para Freud ao se perder um objeto significativo o sujeito tende, para não perdê-lo totalmente, a identificar-se com ele de forma narcísica e a introjetá-lo ao seu próprio eu. Caso este objeto fosse ao mesmo tempo amado, mas inconscientemente odiado (fato denominado de investimento libidinal ambivalente) pela pessoa, o rancor e o ódio inconscientes que guardava pelo objeto tenderia a ser revertido sobre o próprio eu expressando-se sob a forma de depressão.Já para Klein, segundo Dalgalarrondo (2000), os afetos estão intimamente associados a fantasias primitivas e às denominadas relações de objetos (por objeto entendam-se representações mentais, que na maior parte das vezes são inconscientes de pessoas ou personagens reais ou fantasiados, completos ou parciais). Nessa concepção, haveria afetos primários primitivos no bebê, como o ódio, a inveja, o medo de ser retaliado, entre outros, assim como afetos que demonstrariam uma maior maturidade psíquica como gratidão, reparação e amor. Dentro desta ótica os afetos resultariam, em grande parte do tipo de qualidade das relações do indivíduo com os seus objetos internos (tanto conscientes quanto inconscientes). Assim, as fantasias de ataque invejoso e destrutivo a objetos internos em função da voracidade e/ou destrutividade, dependendo da fase em que o bebê se encontra, gerariam temores de retaliação que mais tarde se converteria em depressão. Nesse sentido, para a Psicanálise, quando a agressão não é suficientemente dirigida ao meio, esta é introjetada e volta-se para o indivíduo posteriormente por meio de estados depressivos.b) Já para abordagem Comportamental, a depressão decorreria de falhas nos mecanismos de reforço que levariam a respostas mal adaptadas, bem como à diminuição ou até mesmo à extinção de respostas adaptativas. Há também casos em que a pessoa só recebe atenção por parte dos amigos, parentes e cônjuge quando está doente, fato que reforça positivamente a manutenção do comportamento. Dentro desta linha de atuação, pode ter ocorrido muitas vezes um excesso de punição e uma escassa gratificação que auxiliou no surgimento de uma depressão.c) Segundo a abordagem Cognitiva, a depressão decorre de pensamentos negativos e autodestrutivos que a pessoa assimilou. Tais pensamentos não são, portanto, um mero sintoma, mas um importante fator na manutenção do quadro clínico.d) Em termos biológicos, a depressão decorre de um desequilíbrio das aminas biogenéticas, especialmente nos neurotransmissores químicos: norepinefrina, serotonina, noradrenalina. Frente a um estresse, a pessoa pode ter uma mobilização inadequada ou excessiva de neurotransmissores, como a noradrenalina, que pode causar problemas nos receptores noradrenérgicos que exercem um importante papel no humor da pessoa. Na depressão ocorre uma falha no sistema serotoninérgico, o qual modula respostas contra eventos aversivos continuados e proporciona uma melhor vivência destes eventos.Atualmente, entende-se que há uma mescla de todas estas visões (biológica psicológica e social) e o resultado é a apresentação de um quadro depressivo. Provavelmente também há uma vulnerabilidade do sujeito para ter a doença, além de dificuldades ou ausência de suporte social, muitos têm a perda da mãe (ou cuidador principal) na primeira infância e baixa autoestima. Outros fatores igualmente observados são: dificuldade em lidar com experiências de vida (como morte, perda do emprego, fim de relacionamento, entre outras), abuso de drogas e álcool, alguns medicamentos ou doenças que propiciam o surgimento da depressão, mudanças hormonais em mulheres, pós-parto, histórico familiar de depressão, câncer, Parkinson, Alzheimer e esclerose.O tratamento para uma doença como esta envolve tanto antidepressivos quanto psicoterapia. Enquanto o medicamento ajuda a controlar os sintomas, o acompanhamento psicológico atua como suporte emocional e auxilia na reformulação do pensamento e cognição do paciente. Os dois métodos combinados garantem 80% de recuperação dos casos de depressão e, o que é mais importante, voltam a proporcionar qualidade de vida ao indivíduo.11.6 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS \u2013 LERAs lesões por esforços repetitivos, a conhecida LER, é considerada uma importante patologia que envolve estresse e atividade, principalmente se esta for o trabalho. Segundo Codo (1995), a LER pode ser considerada a metáfora das condições de trabalho contemporâneas, visto que demonstra como o exercício da atividade incessante pode prejudicar o organismo.A fim de compreendermos a LER, é importante frisar que no decorrer do seu desenvolvimento, o ser humano constrói e estrutura formas, tanto corpóreas, quanto mentais na sua maneira de ser e reagir aos mais diferentes estímulos aos quais possa ser submetido, sempre com a intenção de manter o seu organismo em equilíbrio constante. Como apontado por França e Rodrigues (2007), a pessoa é o resultado das inúmeras experiências pelas quais foi submetida. Ao reagir a um impacto do seu cotidiano, o seu organismo tende nesse processo a voltar ao equilíbrio. Entretanto, apesar desses impactos fazerem parte da vida, as tensões que eles promovem atuam e modificam o corpo. Dessa maneira, a metáfora a qual se refere Codo está dentro desta perspectiva.A LER é considerada por muitos estudiosos como uma epidemia. No Estado de Massachusetts, quase metade dos custos distribuídos para doenças ocupacionais (cerca de 2,5 milhões de dólares) é destinado ao tratamento de pessoas que são acometidas por esta enfermidade.Conforme Mattar e Azze (1995), a LER apresenta-se de modo mais frequente como: dor mal definida, de intensidade variável, a qual pode levar à impotência funcional, sendo que nem sempre é bem localizada, apesar de que sinais e sintomas inflamatórios em articulações nas mãos e punho podem ser encontrados.A causa do seu surgimento gera muita controvérsia. Alguns autores reconhecem que existem fatores ligados à organização do trabalho, o qual fez com que o trabalhador realizasse um maior número de movimentos repetitivos e/ou movimentos de força usando o membro superior. Contudo, os exames complementares com Raios X, tomografia, entre outros, costumam não revelar muitas alterações que justifiquem a presença dos sintomas citados acima.FIGURA 17 - PONTOS SUSCETÍVEIS AO SURGIMENTO DA LERA LER abrange um grupo de comprometimentos que recai fundamentalmente sobre os membros superiores, como a tenossinovite. Primeiramente, como sugerido pelo desenho acima, ela foi muito diagnosticada entre os digitadores, mas atualmente já é detectada em qualquer trabalhador que exerça funções de caráter repetitivo."Sua natureza etiológica pode ser um exemplo para a abordagem Psicossomática graças a seu caráter multifatorial. Segundo França e Rodrigues (2007), esta parece ser uma das grandes dificuldades da Medicina em tentar entender a patologia em função de seu modelo, muitas vezes, biomédico. Para os autores, a LER é somática em razão de seus aspectos fisiopatológicos; psíquica porque envolve características de personalidade do indivíduo e social porque se dá em relação a uma organização e divisão do trabalho."Caso o fator causal fosse somente os esforços realizados de modo repetitivo, como a terminologia propõe, todos os trabalhadores submetidos a esse tipo de atividade manifestariam este tipo de doença, todavia não é isso que se observa. Os fatos apontam que devemos ter um olhar cuidadoso sobre a LER e observá-la sempre dentro de uma perspectiva mais ampla, como sugere a Psicossomática.Almeida (1995) descreve os portadores de LER como pessoas perfeccionistas que não admitem falhas, apresentam a necessidade de transpor limites, de serem reconhecidas, de ocultar erros do passado, apresentam grande insatisfação pessoal, demasiada preocupação com a produção (tanto no que se refere à qualidade, quanto em quantidade) e dificuldade em admitir sentimentos de impotência. Mas a tentativa de se caracterizar o perfil psicológico dos indivíduos acometidos por LER, conforme França e Rodrigues (2007), não agrega muito ao nosso conhecimento, visto que encontramos as características descritas em muitas outras patologias e em trabalhadores que exercem outros tipos de função. Entretanto, não podemos negar as contribuições de Almeida no que se refere à maneira como o trabalhador se relaciona com o seu trabalho. Para esta autora, o campo dos conflitos e dos processos patológicos não se restringe aos limites que a pele exerce para o ser humano, os processos sociais devem ser compreendidos como inseridos dentro de um contexto interpessoal e socioeconômico-cultural.Dessa maneira, diante de um trabalho repetitivo e burocratizado, que consequentemente, dificulta a expressão da criatividade, a rotina impossibilita a atuação do trabalhador de forma que o mesmo possa também se transformar a partir dele. O resultado é um indivíduo com uma autoestima abalada, que exerce um trabalho desinteressante ou sem importância, além de não ser reconhecido socialmente e o qual não cria uma identidade para com ele. Diante desses aspectos, a dignidade do trabalhador fica extremamente abalada, levando-o muitas vezes à frustração, raiva e sofrimento.França e Rodrigues (2007) colocam que quando uma pessoa sente que não pode lidar de forma adequada com a subjetividade e sua expressão, os mecanismos de defesa (ou enfrentamento) podem ser ineficazes ou inadequados. O resultado é a manifestação de uma enfermidade, já que a energia que foi mobilizada pelo estresse, resultado dessa condição, não foi consumida de forma eficaz.A LER, pode ser exemplo de uma doença que remete a uma metáfora das relações de trabalho da contemporaneidade, em que há uma desvalorização do trabalho humano em detrimento da máquina. Em resposta a esta desvalorização, reações psicossomáticas são \u201ccriadas\u201d, que repetidas e/ou intensas originam doenças como a LER.11.7 DIABETES.O diabetes mellitus é referido como o transtorno endócrino mais frequente pelos pesquisadores. Em 1983, acometia cerca de 11 milhões de pessoas nos EUA, em 1995, chegou à casa dos 16 milhões. É uma enfermidade que surge da alteração da produção de insulina pelo pâncreas. Tal hormônio tem como função transformar o açúcar que está presente no sangue em energia. Os sintomas mais comuns são:Muita sede;Aumento de sudorese e do apetite;Vontade de urinar diversas vezes;Fadiga;Perda de peso (mesmo sentindo mais fome e comendo mais do que o habitual);Náuseas, que podem vir acompanhadas de vômito;Visão embaçada, turva ou borrada;Infecções repetidas na pele ou mucosas; Machucados que demoram a cicatrizar;Dores nas pernas por causa da má circulação;Na mulher, há um aumento das infecções;No homem, impotência.Conhecido há muitos anos, somente na década de 1920, quando a insulina foi descoberta, o seu tratamento foi aprimorado. Em função do seu quadro clínico, os médicos classificam o diabetes em Tipo I e Tipo II.No Tipo I, encontram-se as pessoas que são dependentes completamente do fornecimento de insulina, visto que o pâncreas secreta pouca ou nenhuma insulina. Geralmente os adolescentes estão dentro desta classificação, a doença é conhecida então como diabetes juvenil.Já no Tipo II, os diabéticos produzem insulina mesmo que de forma não eficiente. O problema, neste caso, advém da dificuldade do organismo em produzir de maneira adequada esse hormônio. É mais comum em adultos com idade superior a 40 anos e, muitas vezes, está ligada ao excesso de peso, ao sedentarismo e ao estresse, acometendo cerca de 90% dos portadores de diabetes. Uma forma muito similar ao diabetes Tipo II pode ocorrer com algumas grávidas. Apesar de a doença ser considerada transitória nesta situação, a mulher merece cuidados especiais, principalmente em função da gravidez."Segundo o site da Sociedade Brasileira de Diabetes, em alguns casos não há sintomas. Isto ocorre com maior frequência no diabetes Tipo II. Neste caso, a pessoa pode passar muitos meses, às vezes anos, para descobrir a doença. Os sintomas, muitas vezes, são sutis, como formigamento nas mãos e pés. Portanto, conforme proposto pelo site, é importante pesquisar diabetes em todas as pessoas com mais de 40 anos de idade.'Peso acima do normal (para a sua altura e idade);Antecedentes hereditários da doença na família;Antecedentes hereditários da doença na família; Níveis de pressão arterial acima de 140/90 mmhg;Níveis de colesterol HDL ao redor de 35 mg/dl ou níveis de triglicérides de 250 mg/dl ou acima;Vida sedentária;Momento de vida ou atividade que gere estresse;Nível de glicemia nos limites máximos ou próximos a ele.São vários os cuidados que o paciente com diabetes deve assumir, entre eles: acompanhamento médico frequente de um especialista da área; dietas especiais prescritas sob supervisão médica; eventualmente o uso de medicamentos e exercer uma atividade física, o que aumenta a captação de glicose pelo músculo e nessa ação coloca em funcionamento os mecanismos que transformam a glicose em energia para o organismo.O controle de glicemia (que corresponde à concentração de açúcar no sangue) deve ser realizado periodicamente. A qualidade desses cuidados é de fundamental importância para o tipo de diabetes que será desenvolvido, além de que asseguram maior qualidade de vida e praticamente sem grandes complicações ou consequências em longo prazo. Caso não seguidas as devidas recomendações, os resultados podem ser extremamente graves. Os controles citados têm por finalidade evitar que o paciente apresente hipoglicemia, quando o açúcar sanguíneo apresenta-se em concentração inferior à apropriada para o bom funcionamento do organismo. Para que isso se resolva, basta que o paciente ingira alguma quantidade de açúcar ou glicose, devendo consultar um médico posteriormente para adequar o seu medicamento e a sua alimentação.Um acontecimento mais grave que pode ocorrer com o diabético é a cetoacidose, a qual corresponde a um acúmulo de substâncias ácidas (corpos cetônicos) na corrente sanguínea. Na maioria das vezes, ocorre em diabetes Tipo I e significa que a insulina que o paciente recebe por meio da medicação injetável não está sendo suficiente, então o organismo começa a buscar outras fontes para captar energia, como a gordura e músculos \u2013 o que pode levar o indivíduo ao coma. França e Rodrigues (2007) mencionam que são diversas as causas que podem provocar um desequilíbrio entre a insulina e a glicose, como o estresse psicológico e físico.Em longo prazo, as complicações provocadas pelo diabetes podem ser:Retinopatia diabética, que é uma alteração na retina e surge por alterações nas pequenas arteríolas que a suprem de sangue.Pacientes que apresentam diabetes há mais de 30 anos tendem a manifestar algum grau de retinopatia diabética e também são mais propensos a terem cataratas e glaucomas.Comprometimento do sistema nervoso, tanto periférico como central.Funcionamento renal prejudicado.Sistema cardiovascular comprometido, com tendência ao aumento da pressão arterial e maior vulnerabilidade a infartos do miocárdio.Maior possibilidade de apresentarem problemas periodentais.Menor resistência a infecções.Cortes e ferimentos tendem a cicatrizar com maior dificuldade e mais lentamente.Dificuldades de circulação, o que favorece o desenvolvimento de úlceras de pele, cãibras e gangrenas.Caso haja alteração nas arteríolas, podem surgir complicações renais que influenciam na falência das funções dos rins.Os pesquisadores de portadores de diabetes e os médicos especialistas na área têm considerado necessário um enfoque sobre a depressão. Notam que muitos diabéticos apresentam quadros depressivos acentuados. É praticamente um consenso de que a melhora no quadro depressivo contribui para a melhora no quadro orgânico e que determinados antidepressivos colaboram no tratamento da diabetes, pois auxiliam no controle da concentração de açúcar na corrente sanguínea.De certa forma, a depressão colabora para um controle deficiente sobre a glicose e seu tratamento não só melhora a qualidade de vida do portador de diabetes, como também influencia na evolução do quadro de diabetes. Por outro lado, estudos mostram que o estresse interfere na produção da insulina pelo pâncreas e, deste modo, nas taxas de açúcar no sangue.11.8 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PSICONEUROIMUNOLOGIA.Para compreender como se dá essa interação, não é necessário gastar muito fosfato, nem mesmo fazer longas pesquisas em livros e sites de busca. Basta que você se recorde da última vez que ficou doente. Procure lembrar-se dos fatos que antecederam a sua doença. Frequentemente, as doenças são precedidas de situações que geraram desgaste emocional, preocupações ou conflitos. Então, como aponta Quilici (2001), quando achamos que tudo irá se acomodar vem a doença. Pode ser gripe, alergia, gastrite, herpes, pneumonia, entre tantas outras. Isso ocorre porque, frente a uma tensão, o indivíduo fica abalado emocionalmente em menor ou em maior grau, então o organismo sofre um desgaste que interfere na imunidade a ponto de fazer cessar parcialmente ou totalmente uma de suas principais funções que é a proteção de nosso corpo.Mesmo tendo consciência disso, dificilmente vemos um médico perguntando ao seu paciente sobre as circunstâncias que antecederam o surgimento de uma enfermidade. Por que a maioria dos médicos age assim? Descuido? Falta de interesse? Não, com certeza não se trata disso. O problema é que, a nossa cultura, assim como todo o Ocidente, permaneceu estacionada entre os paradigmas cartesianos e biomédicos, cindindo corpo e mente. Vale lembrar que nem mesmo os gregos antigos consideravam esta visão dualista de que o corpo e a mente fossem coisas separadas. Todavia, foi esta a ideia que se conservou para nós e o que dominou toda cultura ocidental e, ainda hoje, permanece para o prejuízo de milhares de pessoas e dos campos que envolvem a área da Saúde.Por outro lado, muitas pessoas se \u201cbeneficiam" desse caráter dualista, pois assim não precisam pensar muito. Porém, correm o perigo de esgotarem o corpo, até não conseguirem rever mais um quadro.Unir corpo e mente é, infelizmente, uma condição que não interessa a muitas pessoas, ainda que atinja todos, sem exceção. Primeiramente, essa integração não interessa aos laboratórios farmacêuticos, em segundo lugar para os empresários e, por último, a população de um modo geral. Não precisamos discutir as razões dos laboratórios farmacêuticos por serem óbvias pelos lucros que estas podem obter. Já o empresário partilha do ponto de vista do fabricante de remédios na medida em que um medicamento diminui demasiadamente o tempo de recuperação do seu funcionário doente e permite que este volte ao trabalho mais rápido."A maioria das pessoas, por sua vez, não suporta desconfortos de qualquer espécie por muito tempo e assim, diante de um sofrimento ou um mal-estar dirige-se até a farmácia mais próxima, compram um remédio e pronto! Lá estão novamente retomando suas atividades e sua rotina, sem se conscientizarem de sua participação na doença que foi manifestada em seu organismo."Entretanto, esta falta de conscientização tem seu preço, visto que inúmeras pesquisas demonstram que os medicamentos atualmente são os grandes responsáveis por ocasionarem danos ao organismo, alguns até com efeitos colaterais bem pesados e permanentes.Os empresários, ao se depararem com o desgaste, o estresse e, em alguns momentos, com as faltas dos funcionários, não conseguindo contar muito com a eficiência do empregado, começam a perceber que, dependendo do grau do estresse e das características de personalidade do indivíduo, não há um medicamento específico que dê jeito. Por meio dessas constatações, as pessoas começam a fazer um movimento em direção a tratamentos considerados alternativos. Contudo, logo surgem artigos na mídia, falando sobre o perigo desses tipos de tratamento.É claro que devemos tomar cuidado com pessoas que usam de má fé na área da cura e da saúde. Contudo devemos também lembrar que há alguns tratamentos alternativos que podem ser válidos, como os que fazem uso de ervas, que também são fonte primária de muitos remédios e que muitos grupos humanos (como indígenas isolados) conseguiram sobreviver até agora, sem a presença dos laboratórios. Basta relembramos sobre o paradigma primitivo. Além disso, nos ditos tratamentos alternativos também se encontram terapias que partem do pressuposto biopsicossocial e até mesmo o espiritual (levando em conta crenças e valores de cada indivíduo), olhando-o de maneira holística, como um todo, que se adoeceu é porque os demais aspectos (psicológico, social e espiritual) também adoeceram.A grande questão hoje é que a medicina preventiva deu lugar à medicina curativa e nesta, as enfermidades são vistas de forma bélica, ou seja, precisam ser combatidas a todo custo, perdendo-se assim, a visão de que se há uma desarmonia, isto se deu porque o corpo e a mente foram influenciados por eventos, principalmente aqueles que envolvem aspectos emocionais. Os profissionais das áreas da saúde ainda brigam muito por espaço e com isso o cenário permanece quase que estagnado. Contudo, pouco a pouco termos como qualidade de vida, realização pessoal, responsabilidade social, entre outros, vão se inserindo no cotidiano das pessoas (infelizmente após muita negligência com o impacto dos aspectos psicológicos e sociais).Como propõe Quilici (2001), é natural que o ser humano, com o passar do tempo, fosse observando fatos e desenvolvendo remédios que lhe ajudassem a manter a saúde da humanidade. E, ainda hoje, estes medicamentos funcionam. Muita gente se trata com eles e passa bem. No entanto, os modos de vida mudaram radicalmente e com essa mudança, surgiram diferentes níveis de desgaste emocional. E isso veio com tal velocidade que, as pessoas não tiveram capacidade suficiente para se adaptarem, muito menos os medicamentos. Muitas mudanças no cérebro humano levaram milhares de anos para ocorrer, porém somos obrigados a nos adaptar em menos de uma década. Desse modo, muitas vezes, não são os remédios naturais que deixaram de fazer efeito, é a constância quase que diária de nossos desgastes que nos deixam em eterno estado de alerta, levando antes do surgimento das doenças, a manifestação da síndrome de adaptação. Então, talvez seja relevante conhecer uma ciência que vem procurando se colocar e que pode nos ensinar muitas coisas sobre as emoções e as doenças: a Psiconeuroimunologia, conhecida também por PNI.A PNI significa a interação entre esses três sistemas, que podem causar danos ao nosso organismo. É importante ressaltar que não se trata de uma ciência nova. Afinal, como já é do conhecimento de todos que tiveram contato com os módulos anteriores, com o transcorrer dos tempos e das culturas, médicos e sábios, procuraram unificar o bem-estar físico buscando suas origens no psiquismo. Foi um médico da Transilvânia, Papai Pariz, que praticamente reiterou Aristóteles e antecipou o surgimento da Psiconeuroimunologia (PNI), quando declarou, no ano de 1680, que \u201cquando as partes do corpo e seus humores não estão em harmonia, então a mente se desequilibra e a melancolia aparece, mas por outro lado, uma mente calma e feliz faz com que todo corpo fique saudável\u201d. Os mecanismos subjacentes a essa ligação serão compreendidos a seguir.Caso assumamos uma racionalidade adaptativa para o processo evolucionário, faz sentido crer que o sistema nervoso e o sistema imune podem ser compreendidos como um sistema único e integrado de adaptação defensiva. Ambos têm em comum:Senso de identidade, ou seja, sabem o que é o ser e o não ser.Interferem no relacionamento do indivíduo com o ambiente e ignoram os elementos externos, independente de serem eles, amigáveis ou perigosos.Permitem ao organismo sobreviver em um ambiente hostil pelos mecanismos físicos de adaptação e também das defesas psíquicas, sendo que para fazer isso, esses dois sistemas, possuem memória e aprendem por meio da experiência.Monitoram o mundo interno e avaliam o que é egossintônico ou distônico, ou seja, identificam o que está de acordo com o self (si mesmo) e o que não está, e instituem defesas contra os componentes contrários ao mundo interno.Cérebro/psiquismo e sistema imune cometem \u201cenganos\u201d que podem favorecer o surgimento de doenças e até mesmo levar à morte. Neste sentido, fatos ou organismos inócuos podem ser percebidos como perigosos e provocar desde fobias até alergias. O verdadeiro self pode não ser aceito e, então, a depressão se instala, conduzindo em muitos casos para tristes desfechos, como o suicídio. O mesmo acontece com as reações autoimunes que, algumas vezes, podem sobrevir de forma fatal."Sabe-se que as pessoas, de um modo geral, tornam-se mais propensas a apresentarem quadros depressivos e autoimunes com o avanço da idade. Memórias recentes (não as de longo prazo) tendem a falhar mais frequentemente com a idade e a senilidade imune é caracterizada pela pobreza das respostas primárias ao nível dos novos antígenos e uma resposta secundária relativamente forte para antígenos antigos.'Quilici (2001) descreve casos de doenças de pele em pacientes nos quais a deficiência com a autoestima era a regra. Relata que um paciente em especial, tinha sérios e variados problemas de pele e muitos eram autoimunes. O autor notou que, esse paciente tinha um nível de autoestima tão baixo que toda vez em que se pronunciava, reproduzia somente coisas que ele tinha ouvido. Em alguns momentos, ele parecia ter dupla personalidade porque surgia com formas completamente diferentes de ser. Com um nível tão alto de rejeição a si mesmo, o paciente em questão desenvolvia alergias extremamente agressivas. Outros pacientes com alergias de pele, principalmente, aqueles com dermatites resgatarem sua autoestima e começaram a apresentar remissão definitiva dos sintomas.Outros dois cientistas da Psiconeuroimunologia, Roger Booth e Kevin Ashbridge, afirmam:Há necessidade de reavaliar e talvez re-definir (sic) os conceitos, símbolos e a linguagem da imunologia e da psicologia, de forma que permitam estabelecer uma relação entre os processos imunológicos e psicológicos. Esses processos devem ser expressos em termos de uma perspectiva teleológica coerente. Para que as relações entre o psiquismo e a imunidade, façam sentido, seria necessário que nos livrássemos de alguns de nossos preconceitos no que diz respeito à natureza de sistema imune e de nosso psiquismo (BOOTH; ASHBRIDGE).Segundo Quilici (2001), a Psicossomática, que data do final da década de 1930 e começo da década de 1940, foi antecipada por clínicos antigos que, já previam, por meio de suas ideias a Psiconeuroimunologia; enquanto que a área da Imunologia pré-contemporânea não o fez. O campo da imunologia estabeleceu na época que o sistema imune era autônomo e autorregulável, respondendo somente aos desafios antigênicos, ou seja, só reage se um invasor entra no organismo e provoca uma ação.Quilici (2001) cita que em um encontro de um grupo de estudos de Psiconeuroimunologia, David Felten, lembrou-se de uma famosa crítica, que foi batizada como: \u201cFolha Rosa\u201d. Nesse documento, afirmava com humor: \u201cA inervação dos órgãos imunes, obviamente não deve ter nada a ver com as respostas imunes, uma vez que essas reações podem ocorrer em tubos de ensaio, que, por sua vez, não têm nervos\u201d."Todavia, no início da década de 1940, Franz Alexander observou que a patologia psicossomática era o resultante fisiológico de emoções conscientes ou mesmo, daquelas que estariam reprimidas.'Os alemães, Thorwald Dethlefsen e Rudiger Dahlke, que escreveram \u201cA Doença como Caminho\u201d (1983) e \u201cA Doença como Símbolo\u201d (1996) têm vários trabalhos na área de psicossomática, nos quais se referem às doenças como um fenômeno que possui sentido e que o entendimento deste proporciona uma conscientização sobre os conflitos ainda não solucionados pelo indivíduo. Abaixo vamos discutir a questão da ligação entre doenças e emoções.Como vimos no item Síndrome de Adaptação, na década de 1940, Selye começa a conceitualizar o estresse como uma influência perturbadora e não específica, fazendo um paralelo com o conceito de homeostase (equilíbrio interno) de Cannon. Dessa maneira, um evento estressante, mobiliza um comportamento adaptativo do organismo, implicando em inúmeras e rápidas alterações fisiológicas. Sua resolução depende de moderadores externos tal como suporte social e amoroso ou, de moderadores internos tais como habilidade de vigilância, e nos mostram, que podem auxiliar para o crescimento psicossocial, ou para uma mudança extremamente prejudicial à saúde, que muitas vezes pode conduzir à morte em caso de exaustão extrema.Selye apontou o eixo hipotálamo-hipofisário, adrenal cortical como os determinantes dos efeitos do estresse sobre a saúde do organismo. Na década de 1960, o psiquiatra George Angel estabeleceu seu modelo biopsíquico social para todas as doenças. Dependendo da eficácia dos mecanismos psíquicos, que compreendem uma variedade de reações, reflexões e atitudes, a homeostase psíquica (ou equilíbrio) pode se restabelecer, mas, caso isso não suceda, o estresse pode funcionar como um alarme para uma fase mais perigosa. Os mecanismos psíquicos de vigilância tendem a ser relativamente estáveis e característicos de cada indivíduo, mas podem variar de muitas maneiras. Desde modos mais maduros e eficientes de resolver os problemas até mecanismos mais primitivos de negação, repressão e fuga psíquica, ou ainda de desprendimento e retraimento.A Psicossomática tem se preocupado com estes tipos especiais de padrões de vigilância e a indicação de que determinadas características, podem estar associadas com algumas doenças em particular. Como apontam algumas pesquisas que vimos anteriormente, indivíduos que apresentam um padrão mais competitivo e hostil têm sido associados, por causa de muitas evidências, com as doenças coronarianas e é rotulado como padrão tipo A. As pesquisas mostraram que tais indivíduos estão mais propensos a ter doenças cardíacas. Flavio Rotman (1985) faz importantes referências a estudos com esses tipos de pessoas.Em uma série de estudos controlados, de pessoas com doenças autoimunes como artrite reumatoide, Rudolf Moos e seus parceiros concluíram que os artríticos, em comparação com seus irmãos não artríticos, mostravam características como submissão, dificuldade de expressão da raiva, sensibilidade para a raiva alheia, conservadorismo e autossacrifício, além de serem pessoas mais ansiosas e deprimidas. Na ótica de Quilici (2001), pacientes com outras doenças autoimunes tal como Lupus Erimatoso Sistêmico e Tireoidites parecem ter padrões similares.Porém, há alguma causa e qual o efeito da personalidade e estresse x doença? Quilici (2001) aponta que em um dos melhores trabalhos sobre psicossomática, feitos na atualidade, cientistas compararam dois grupos de pacientes e seu status de saúde. Um dos grupos era de pessoas com artrite reumatoide (grupo 1), o outro grupo de pessoas sem artrite reumatoide (grupo 2). Do grupo 1, todos tinham \u201cdisponibilidade genética\u201d. Cerca de 20% eram portadores da doença e os outros 80% apresentam ausência de anticorpos característicos de Artrite Reumatoide, um anti IgG ou anticorpos contra os anticorpos envolvidos no surgimento da doença. Observou-se que, no primeiro grupo, as pessoas com autoanticorpos, estavam em condições emocionais perfeitas, sem ansiedade, depressão ou alienação, relatando estarem satisfeitas com o trabalho e com as relações pessoais. Para o autor, isso pode ser um indício de que o bem-estar psicológico provavelmente funciona como uma proteção diante da determinação genética, a qual os predispunha a uma doença imune. Sabe-se que pessoas com artrite reumatoide, e que são assintomáticas, têm grandes chances de desenvolverem a artrite na medida em que, um padrão fixo de doenças autoimunes, relativamente frequentes se segue a um evento de vida extremamente estressante, tal como a morte de alguém que significava muito do ponto de vista emocional.Quilici (2001) menciona outro estudo realizado com crianças que eram filhos de pais psicóticos. Nele, as crianças que foram adotadas por casais equilibrados e que lhes propiciaram um ambiente saudável, não demonstraram indícios da doença até a idade adulta, mas nos casos em que as crianças foram adotadas por famílias com situações complicadas do ponto de vista emocional, todos acabaram por apresentar um quadro psicótico. Para o autor, os ambientes podem favorecer ou não a manifestação de uma doença. Dessa forma, a seguinte questão é levantada: ambientes saudáveis e amorosos podem funcionar como uma proteção contra a determinação genética?Quidici (2001) cita que David Felten e seu colega Jeffrey Fessel, ambos os pesquisadores de PNI, ficaram impressionados com um trabalho realizado em uma clínica de doenças reumatoides. Lá foi observado o fato de que a condição A. A. A. (Anticorpos Antinucleares Associados) pode produzir sérias doenças psiquiátricas, com frequência, semelhantes à esquizofrenia, algumas vezes, como um sintoma inicial. Em função dessa associação imunopsiquiátrica, alguns cientistas começaram a procurar por níveis anormais de imunoglobulinas e a presença de vários anticorpos naqueles pacientes que sofriam de esquizofrenia e os encontraram em alguns deles.Rudy Moos e David Felten publicaram, em 1964, um trabalho que foi denominado: \u201cTeoria Especulativa de Integração: Emoções, Imunidade e Doenças\u201d, que tratava da regulação neuroendócrina da imunidade e os efeitos experienciais sobre o sistema imunológico.Nota-se que muitos dos experimentos foram iniciados em animais com a finalidade de conhecer as reações da imunidade. Os cientistas tinham por objetivo observar a interação entre Sistema Nervoso Central e Imunidade, bem como os efeitos do estresse sobre a resistência imunológica e sua mediação nas doenças.Muitos experimentos antigos foram retomados e iniciados no Laboratório de Psiconeuroimunologia, em Stanford, que era filiado ao Hospital VA de Palo Alto. A primeira grande pesquisa foi efetuada com fundos privados da fundação, porque houve uma impossibilidade inicial de obter verba com o NIH (Departamento de Saúde dos Estados Unidos) e com o próprio VA, porque, segundo eles, tal pesquisa estava muito distante do que seria considerada uma disciplina médica e comportamental. Na verdade, a Psiconeuroimunologia é sentida como uma quebra dessas disciplinas.Entretanto, o que colocou a Psiconeuroimunologia no campo científico, mesmo com tanto ceticismo a sua volta, foi um relatório de 1975, de Bob Ader e Nick Cohen. Nesse são relatados experimentos sobre paladar e aversão que condicionavam a imunossupressão. Se a sacarina sozinha produz imunossupressão, o cérebro, obviamente, está envolvido.Estudos realizados em seres humanos demonstram que estresse e imunidade baixa têm estreita ligação. Trabalhos mostram continuadamente a comprovação dessas hipóteses, observadas em situações naturais tais como luto, brigas conjugais, exames e naqueles que cuidam de pacientes com doença de Alzheimer e até mesmo com estressores experimentais como é o caso da aritmética mental. Há inúmeras referências desse tipo de experiência no livro já citado de Fábio Rotman.A relação entre o estresse com eventos naturais e a imunidade, foi avaliada especialmente em doenças depressivas, como mostrou inicialmente um relatório de Schleifer, Keller e Stein, sobre a função das células T, e também um relatório de Irwim K, sobre a função das células NK. Mas para compreender bastante bem os efeitos do estresse social, importantes experimentos foram iniciados com primatas, por Laudenslager e por Coe. Eles demonstram que ir a um encontro desagradável (estressante) é mais desgastante do que o encontro em si mesmo. Faysal e seus colegas da UCLA demonstraram também a imunossupressão causada pela derrota, num peixe lutador.Destaca-se aqui que a Psiconeuroimunologia passou a buscar, além de subsídios concretos para as doenças, como no caso da Psicossomática, a interação do psíquico com os demais sistemas, neurológico e imunológico, bem como os efeitos destes sobre o psicológico. A PNI quer saber como um pensamento pode transformar uma célula e isto gerar efeitos no corpo. Segundo o Prof. Dr. Esdras Vasconcelos, um grande pesquisador da área, em uma palestra realizada em 2005 sobre Psiconeuroimunologia, aquilo que pensamos, sentimos e vivemos altera toda a nossa morfologia. Um corpo fatigado, segundo ele, tem o poder de alterar um órgão se permanecer muito tempo neste estado, ou seja, ocorre uma mudança morfológica. Explica que a amígdala, que está localizada dentro do sistema límbico, é a responsável pela elaboração das emoções: tudo o que ocorre no corpo passa por ela, além do tálamo e hipotálamo. Assim, primeiramente há uma elaboração cognitiva, seguida posteriormente pela elaboração das emoções. O professor esclarece que ocorre o seguinte processo no organismo:Emoção \u201cx\u201d \u2193 Hipotálamo \u2193 Estímulo do hormônio CRH 41 \u2013 que o responsável conectar o sistema imunológico com o sistema endócrino. \u2193 Hipófise \u2193 Libera cortisol, ACTH \u2193 Influencia o sistema imunológico, órgãos, corpo, entre outros.O pesquisador lembra que o próprio organismo tem o seu processo de autorregulagem, detectando na maioria, por exemplo, o surgimento de células tumorais. Dessa forma, 70% das doenças se curam espontaneamente. Entretanto, 30% delas não, e são estas que a PNI procura compreender. Nota que pacientes com câncer produzem muito cortisol, e este provoca a imunodepressão que tem um efeito direto sobre o organismo. Segundo Vasconcelos, os indivíduos possuem uma parte do corpo que é considerada mais vulnerável \u2013 que é \u201celeita\u201d dependendo da genética e história de vida de cada um, além de aspectos inconscientes estarem envolvidos neste processo. Ao ocorrer falhas no sistema bioquímico e límbico até que uma doença seja manifestada.Desse modo, pesquisas psiconeuroimunológicas contribuíram para a construção de novas hipóteses sobre o funcionamento psicossomático. A incidência de patologias somáticas em pessoas que se encontram em estados depressivos chamou a atenção para as relações entre as emoções e o sistema imunológico, estimulando a busca por mecanismos de natureza celular e fisiológica que poderiam operar como mediadores entre a percepção de eventos internos e externos, produzindo efeitos no organismo.A descoberta de substâncias químicas altamente especializadas que atuam nas interfaces entre os sistemas nervoso, hormonal e de defesa trouxe à luz a existência de redes neurobiológicas complexas que incluem também os órgãos e o sistema neuroendócrino.Nesse sentido, qualquer estado emocional pode se refletir em um funcionamento particular do sistema imunológico, marcando e modificando a história somática de cada um e dando a este sistema uma dimensão relacional. A PNI é uma área promissora para a investigação dos enigmas da mediação psicossomática, da relação entre a doença e as emoções. Apesar de ainda ser considerada uma área recente, ela já permite compreender como um choque emocional pode produzir alterações orgânicas.Tais descobertas, mesmo que não suficientemente precisas, estão auxiliando na compreensão de como um estado emocional pode gerar um desequilíbrio da rede neuroimunológica e este repercutir em todo o organismo ou em um órgão específico. Dessa maneira, os profissionais que trabalham na área da saúde devem cada vez mais buscar compreender a história somada à experiência de vida de seu paciente para que se produza não apenas o eclipse de seus sintomas, mas uma verdadeira superação do seu sofrimento.11.9 TRATAMENTOS ALTERNATIVOS.Ao longo da realização dos módulos, falamos um pouco sobre os tipos de tratamentos. A Medicina ocidental, ainda muito centrada no modelo alopático, acredita que é necessário fazer de tudo para retirar o sintoma via remédios e tratamentos que \u201ccombatem\u201d a doença. Longe de fazer qualquer crítica a respeito de sua eficiência, apenas abriremos espaço para mostrar que existem outras medicinas e outros tipos de tratamento que buscam integrar corpo e mente.Medicina Tradicional Chinesa: É um sistema de tratamento médico praticado na China desde a Antiguidade. Países como a China e a Coreia possuem escolas próprias para a formação de clínicos especializados nesta área. No Japão, contudo, este genero de medicina conhecido como \u201ckampô\u201d é exercido exclusivamente por profissionais da medicina ocidental, dada a inexistência de cursos da modalidade. Tal situação está no fato de os farmacêuticos estarem habilitados a prescrever receitas destes medicamentos e de as práticas como acupuntura, por exemplo, serem exercidas por terapeutas legalmente habilitados.. Medicina Ayurveda:Conhecida como a Medicina tradicional da Índia, seu nome quer dizer \u201cconhecimento da vida\u201d. Busca integrar o equilíbrio das funções fisiológicas, com o fortalecimento da capacidade curativa natural. No Brasil, é muito aplicada nos salões de estética.. Homeopatia:Este método terapêutico foi criado no início do século XIX pelo médico alemão Christian Hahnemann (1755-1843). A nomenclatura de formação grega significa \u201cconformidade de afecções\u201d. Seus pressupostos estão baseados na ministração em doses infinitesimais de fármacos capazes de produzir em um indivíduo saudável os mesmos sintomas da doença a tratar. A diarreia, por exemplo, é tratada com um laxante. Dentro desta concepção, há um favorecimento das defesas do corpo, agindo no mesmo sentido da doença.. Naturopatias:São métodos terapêuticos ou métodos de saúde que pretendem aproveitar ao máximo as propriedades dos elementos naturais ou o próprio ambiente. Entre elas estão a fitoterapia, a talassoterapia, a balneoterapia.. Terapêuticas da Mente e do Corpo:São formas de tratamento psicoterápico, que procuram estimular o estado psíquico e repercutir favoravelmente nas funções ou sintomas físicos. Descrevem-se a seguir as mais representativas: a) Terapias da Mente São técnicas que têm por objetivo tratar doenças por estímulos mentais, como recursos os métodos psicológicos, tais como hipnose, sugestão, psicanálise, psicologia analítica, entre outras.b) Bio-feedbackConsiste em uma espécie de terapia comportamental que aplica o reflexo condicionado. Caracteriza-se em informar por meios mecânicos a atividade involuntária, sendo que o paciente deve controlá-las conscientemente. É utilizada no tratamento de distúrbios psicossomáticos, mediante a regulação do estado mental e físico, por meio, por exemplo, da estimulação da emissão de ondas \u03b1 (alfa) do cérebro, indicada por sinais luminosos ou sonoros.c) MeditaçãoPrática que consiste no ato de, de olhos cerrados, concentrar a atenção e suspender o fluxo de pensamentos que normalmente ocupam a mente. Neste processo, garatem os praticantes, há um maior contato com os recursos interiores, o que promove o autoconhecimento e, assim, a superação de sua problemática.d) Terapia da OraçãoNão se pode mais negar os benefícios que a oração exerce sobre a saúde, e que recentemente foram demonstrados em investigações conduzidas pela organização protestante Ciência Cristã. Em relatório publicado em 2004 pelo NCCAM, a terapia da oração aparece como o primeiro dos métodos mais utilizados pelos usuários das medicinas complementares e alternativas.e) Aconselhamento PsicológicoÉ o apoio dado por especialistas em Psicologia. O psicólogo e o doente conversam sobre os mais diferentes problemas gerados pelo psíquico deste, na procura de soluções para manifestações de ansiedade, depressão, entre outras.f) Musicoterapia A música, nas suas diversas expressões, é usada para curar ou minorar o sofrimento físico ou psíquico. É muito empregada no tratamento e educação de crianças portadoras de deficiências.g) Terapia do Riso Há resultados de pesquisas realizadas por profissionais da Medicina que comprovam que as defesas imunitárias aumentam por meio do riso. Este é mais um indício de como o sistema emocional e sistema imunológico podem estar intimamente atrelados.Terapias Biológicas:Caracterizam-se pelo emprego de substâncias encontradas na natureza tais como plantas medicinais, produtos alimentares e outras. a) Farmacologia: \u201ckampô\u201dEsta é a denominação geral para o receituário preparado segundo os fundamentos teóricos de uma das escolas da medicina nascida na China e que se difundiu para a península coreana e o arquipélago nipônico, onde seguiu um curso evolutivo próprio. b) Herboterapia: Consiste na utilização de plantas com propriedades medicinais que são empregadas com fins curativos sob a forma de condimentos, banhos, infusões, entre outros. c) Suplementos Dietéticos: São nutrientes ingeridos oralmente em cápsulas ou outros veículos que são complementares eventuais de deficiências da dieta trivial e têm como finalidade contribuir para a manutenção da saúde ou para fins estéticos. d) Aromaterapia: Vale-se de componentes aromáticos de origem vegetal e de outras procedências para tratar a saúde física e mental, à medida que diminui o estresse, acalma os nervos e produz outros resultados benéficos.. Técnicas de Manipulação:Consiste em tratamentos que se caracterizam pelo emprego de estímulos físicos mediante o uso da mão ou de instrumentos específicos de cada área. a) Massagem: Baseada em realizar movimentos de fricção, compressão ou percussão do tecido muscular ou de outras partes do corpo para a obtenção de resultados terapêuticos que gerem alívio. Leva à melhora da circulação sanguínea, revigorando as funções musculares e nervosas, provoca o relaxamento geral e o atenuamento do cansaço. É aplicada com fins higiênicos e estéticos. b) Digitopunctura (também conhecido como Shiatsu): É a massagem feita com a polpa dos dedos, com o objetivo de revigorar as funções musculares e nervosas. c) Quiropraxia: Foi um método criado em fins do século XIX, nos Estados Unidos da América, para o tratamento e prevenção dos problemas do sistema neuromúsculoesquelético. A prática da quiropraxia concentra-se na relação entre a estrutura (primariamente a coluna vertebral) e a função (coordenada pelo sistema nervoso), e como esta relação afeta a preservação e restauração da saúde.d) OsteopatiaTerapia que percebe determinadas doenças como resultantes dos desvios do sistema osteomuscular, tratando-as pela manutenção e restauração da mobilidade deste mesmo sistema. e) Reflexologia: Técnica de relaxamento do estresse que estimula a circulação sanguínea com uma massagem na planta dos pés. f) Acupuntura: Método terapêutico originado na China. Praticada há milênios como método higiênico, que emprega agulhas para provocar estímulos nos chamados meridianos localizados na superfície da pele para o tratamento de várias enfremidades.Terapias Energéticas:Tratamentos que utilizam energia de origem magnética, elécrica, calorífica ou uma que ainda não foi cientificamente esclarecida, chamada de a energia vital ou sutil, e cuja eficácia, por conseguinte, todavia ainda não foi comprovada. a) Terapia Magnética: Caracteriza-se por empregar anéis, colares e outros adereços e objetos magnetizados que teriam efeito no alívio da dor e na ativação do fluxo sanguíneo. Alguns especialistas neste método também se valem do uso de pedras que teriam efeito terapêutico sobre o indivíduo. b) Qi gong: Método higiênico praticado na China desde a antiguidade e do qual existem mais de 2000 correntes. É uma prática de promoção da saúde na medida em que aumenta a imunidade e a força curativa do indivíduo pela manipulação do qi (energia vital). O qi pode ser tanto exercitado em proveito próprio, quanto canalizado para o tratamento de terceiros. c) Toque Terapêutico: Deriva de uma técnica antiga denominada aplicação das mãos, tendo sido desenvolvida pela Dra. Dolores Krieger, professora da Faculdade de Enfermagem de Nova Iorque. Baseia-se na premissa de que o poder curativo do terapeuta repercute na recuperação do paciente. A cura é facilitada quando as energias do corpo estão em harmonia. O terapeuta é capaz de identificar os desequilíbrios energéticos do enfermo passando as mãos sobre ele. Está começando a ser adotado por muitas enfermeiras nos hospitais norte-americanos. d) Cura Espiritual: Tradicionalmente praticado no Reino Unido, este método consiste na canalização de uma energia curativa frequentemente descrita como \u201cluz e amor\u201d, que produz relaxamento físico, estimula as funções imunitárias e a capacidade natural de cura, entre outros benefícios. No Reino Unido, há a National Federation of Spiritual Healers com mais de 6000 membros que exercem a sua atividade sob a proteção da lei. e) Reiki: Já muito conhecido no Brasil, este método terapêutico originalmente iniciado no Japão, por Mikao Usui (1865-1926), e desenvolvido fora deste, consiste na posição de mãos no corpo do doente, com o propósito de lhe suprir de prana (energia vital).Medicina Integrativa:A dita Medicina integrativa é uma expressão surgida muito recentemente, para a qual ainda não existe, no Japão, uma definição precisa. Na grande parte dos casos, indica os cuidados médicos que conjugam eficazmente tanto a Medicina Ocidental Moderna, dita convencional, com as restantes, chamadas complementares e alternativas.Entretanto, ainda assim, falta-lhe explicação para a causa de um número considerável de doenças, para as quais também não existe um tratamento efetivo. Por embasar-se, grande parte das vezes, em informações estatísticas, tem a tendência a não levar em consideração o ambiente e as peculiaridades individuais."Por meio de vários estudos vistos até aqui (e tantos outros que aqui não foram descritos) nota-se que sobre as enfermidades exerce uma influência psíquica, assim como o estilo de vida e as características pessoais - todas influem de sobremaneira para o curso evolutivo tanto da doença como da cura."Hoje, a sociedade necessita de uma medicina centrada no indivíduo, dando atenção às características pessoais e ao estado psicológico. Esta necessidade, segundo alguns expoentes, pode ser preenchida pela combinação da medicina convencional com as complementares e alternativas. Mas ressaltam que é essencial que os profissionais destas vertentes cooperem entre si, no reconhecimento dos pontos positivos mútuos e na construção de um novo sistema terapêutico. Segue abaixo alguns pareceres de elementos que estão na base de uma medicina integrativa, para melhor clarificar este conceito.a) Uma medicina que enfatize o indivíduoUm paciente difere dos demais não só pelo sexo, idade, personalidade, ambiente em que se encontra inserido, mas também pela natureza e condição da sua doença. A Medicina que privilegia o indivíduo é a que dá importância, no diagnóstico e tratamento, tanto às variáveis descritas acima quanto às peculariedades da constituição do paciente.b) Uma medicina que se caracteriza pela diversidadeSeres humanos são diferentes e, portanto, possuem necessidades diferentes, por isso não é suficiente que a Medicina Integrativa concilie ou unifique as duas correntes citadas do tratamento médico, em virtude de os resultados das medicinas complementares e alternativas nem sempre poderem ser comprovados tecnicamente pela medicina convencional. É preciso, então oferecer ao paciente, opções para que ele possa escolher o tratamento que mais lhe convém.c) Uma medicina que contemple a essência do ser humanoA Organização Mundial da Saúde, na sua conceituação sobre saúde começa a introduzir a ideia de espiritualidade, como um dos aspectos determinantes do estado de conforto e bem-estar humano, ao lado dos demais componentes físico, mental e social.O Dr. Kazuhiko Atsumi, professor honorário da Universidade de Tóquio e um dos grandes incentivadores da Medicina Integrativa, diz: \u201cConfrontamo-nos com a questão da espiritualidade, da alma do indivíduo. Donde viemos? Para onde vamos? Qual a razão da nossa existência? Quero acreditar que, quando elucidarmos estas dúvidas, o significado da doença será esclarecido.\u201dPouco a pouco, emerge um movimento que pretende rever o exclusivismo da Medicina Ocidental Moderna e alcança dimensões mundiais a nova corrente da diversidade proposta pela Medicina Integrativa, trazendo uma abordagem terapêutica com raízes naquilo que é a essência do homem: a sua espiritualidade.Com o gradual avanço desta nova abordagem, é de se prever que haja um debate profundo com vista à criação de um sistema médico e de profissionais da área da saúde que sejam mais humanos, que contemple as necessidades dos pacientes e não apenas intelectualiza as emoções, adentrando no território da alma e do próprio modo de estarmos no mundo.
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