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77 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Unidade III “Produtividade nunca é acidente, mas resultado de comprometimento com excelência, planejamento e foco.” (Paul Mayer) Já estudamos os custos logísticos e a legislação tributária nacional com destaque para a necessidade de as empresas desenvolverem os planejamentos tributários operacional e financeiro. Nesta unidade, abordaremos os aspectos gerenciais e operacionais que devem nortear os serviços logísticos em busca de diferenciais competitivos de eficiência, produtividade e qualidade. 5 ESTRATÉGIA E EFICIÊNCIA OPERACIONAL Segundo Christopher (1997), o objetivo do gerenciamento logístico é planejar e coordenar as atividades necessárias para alcançar os níveis desejáveis dos serviços com qualidade ao custo mais baixo possível por meio de atividades amplas que vão desde a compra da matéria-prima até a produção e a entrega do produto. Em termos de custos, para Goulart (2018), os custos com logística de distribuição e serviços de transportes constituem a maior fatia, representando ao mesmo tempo a grande fonte de custo e prejuízo dos produtos, bem como a fonte elementar de atenção e retenção dos consumidores. Dois parâmetros de produtividade devem ser considerados por todos os gestores que buscam a excelência nas atividades operacionais: eficiência e eficácia, conforme veremos a seguir: Quadro 4 Eficácia Eficiência Fazer o necessário Fazer corretamente Preocupar-se com os fins Preocupar-se com os meios Ter foco, resultados e metas Ter foco nos métodos Ganhar a guerra Cumprir normas internas Agregar valor Treinar e aprender Saber e conhecer Ser pontual Atingir objetivos Cumprir métodos Adaptado de: Oliveira (2008). 78 Unidade III Conforme Baptista (2016), o trabalho do gestor eficiente, que visa atingir os objetivos, deve começar pelo mapeamento dos processos logísticos para calcular os custos parciais e totais. Na sequência, é preciso estruturar um plano com ações abrangentes e significativas para a empresa, elas necessitam definir a posição da companhia no mercado e estar alinhadas com seus objetivos de longo prazo. O plano de ação de redução de custos e aumento da produtividade deve começar pelo mapeamento dos processos e considerar os seguintes itens: • O modelo de negócio das empresas, independentemente de ser atacado, varejo, indústria, plataforma digital, comércio exterior ou outro. • O sistema de distribuição operacional com uso de parceiros nos processos de compra, armazenagem, estoques e distribuição. • As condições da infraestrutura. • O perfil da demanda e dos clientes. • Os fatores espaciais, como a distância entre os mercados e a localização das instalações de produção e distribuição. Com esse mapeamento, o gestor poderá identificar os itens de custos por atividade, calcular os custos totais e avaliar a melhor relação entre custos e benefícios, além de propor alternativas de gestão ou terceirização de atividades como a utilização de outros modais de transporte, rotas, veículos, contratação de parceiros, como condomínios e operadores logísticos, armazéns, centros de distribuição, galpões comerciais etc. Observação A palavra estratégia vem do grego strategos, que significa a arte do general. Conforme Porter (1990), a estratégia das empresas pode ser ter uma vantagem competitiva através de custos baixos ou uma diferenciação de mercado, por exemplo. 5.1 Terceirização de serviços Eficiência operacional é um objetivo dos gestores e identificar a melhor relação entre custo e benefício na execução de operações através de equipe própria e a utilização de serviços terceirizados é um desafio. Conforme Baptista (2016), um dos desafios atuais dos gestores de empresas é combinar a melhor relação entre maturidade operacional e rentabilidade através de processos que geram valor à experiência dos clientes com apoio de tecnologias denominadas inteligência operacional. 79 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Os motivadores para a terceirização logística são a redução dos custos, o aumento da eficiência operacional e a redução dos investimentos em ativos, como veículos e tudo o que envolve a sua manutenção, fato que exige a capacidade de gerenciar outras empresas através de contratos detalhados com atribuições de responsabilidades definidas e penalidades previstas. Os serviços logísticos com maior aderência ao processo de terceirização são: • transportes e gestão de entregas, coletas, fretes e seguros; • distribuição; • rastreamento de pedidos de vendas, entregas e notas fiscais; • gestão de riscos e segurança patrimonial; • locação de equipamentos operacionais de movimentação e armazenagem; • mão de obra temporária com redução de custos trabalhistas. Um aspecto que precisa ser avaliado antes da decisão da terceirização é se a atividade é estratégica e fundamental para os negócios e exige a capacidade que está ligada aos resultados. As vantagens podem ser: • redução de custos e investimentos; • estrutura organizacional enxuta; • agilidade na tomada de decisão; • foco na gestão dos processos essenciais; • qualidade no atendimento aos clientes. Entre as importantes decisões sobre melhoria na eficiência, está a que prescreve optar entre manter atividades próprias ou terceirizar para parceiros em um contexto de redução de custos com qualidade. A decisão de terceirizar é estratégica e está ligada à competitividade, pois nota-se que empresas com maior agilidade e flexibilidade, e com melhor sincronismo em suas operações na cadeia de suprimentos, podem se tornar mais competitivas e continuar no mercado. Apresentaremos na sequência um comparativo com as duas opções de busca de parcerias estratégicas, de forma a contribuir para o sucesso do modelo de negócio e não apenas como redução de custos: 80 Unidade III Quadro 5 Terceirização sem estratégia Terceirização estratégica Não existe parceria Existe parceria Desconfiança Confiança Levar vantagem em tudo Política ganha-ganha Ganhos de curto prazo Ganhos estratégicos O preço decide Enfoque nos resultados Antagonismo Cooperação Contratada é adversária Contratada é parceira Contrata mão de obra Contrata soluções Segundo Barsano (2014), podemos ver que, como o objetivo é buscar a diferenciação e estabelecer vantagens competitivas em relação aos seus concorrentes, as empresas precisam tornar sua cadeia de suprimentos mais ágil, eficiente e competitiva, e, uma das principais alternativas encontradas para tal foi a terceirização dos serviços logísticos. A terceirização de processos e serviços deve ser realizada em bases de mútuo interesse entre os parceiros, com foco nos resultados desejados em projetos de longo prazo, estando todos cientes de que dificuldades e divergências são inerentes aos mercados. Os principais serviços operacionais avaliados para a terceirização são os transportes, através da análise do uso de frotas próprias, alugadas, terceirizadas, motoristas e a distribuição, por meio do uso de centros de distribuição próprio, alugado ou terceirizado. Vejamos, a seguir, as opções estratégicas à disposição dos gestores de logística para reduzir custos e elevar eficiência sob esses dois aspectos centrais, os quais serão estudados a seguir. 5.2 Estratégias de transportes Como vimos, os maiores custos logísticos das empresas brasileiras são aqueles com distribuição de produtos e gastos com fretes e seguros. Nesse aspecto, uma questão diz respeito à viabilidade econômica de atuar com modelos de entrega por meio de frota de veículos própria, alugada ou terceirizada e é necessário avaliar os prós e contras para manter a competitividade, levando em consideração os custos de administração, depreciação contábil dos equipamentos, motoristas, seguro de veículo e IPVA. Transportes – frota própria, alugada ou terceirizada Conforme Faria (2008), a maior parte das empresas opera com frotas terceirizadas sob contrato de prestação de serviços para atender às necessidadesde entrega, porém essa opção deve ser avaliada e comparada, envolvendo não somente aspectos de custeio, mas financeiros, comerciais e tributários. 81 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Já para Rezende (2022), os embarcadores contratam transportes dando um peso para o valor do frete e deixando em segundo plano as qualificações da transportadora, praticando leilões nos quais as empresas não conseguem mostrar o seu diferencial de qualidade para valorizar seus serviços e evitar a concorrência predatória. Qualidade e custos Conforme Rezende (2022), o gestor que busca eficiência e produtividade precisa incluir na avaliação entre as decisões sobre frotas não apenas os custos com a qualidade dos serviços prestados que impactarão na avaliação dos clientes e nos resultados, mas a análise das qualificações das frotas e das transportadoras em relação ao tipo de serviço, organização, instalações e frota, bem como os serviços de apoio, utilização de normas e padrões e saúde financeira. Adicionando ainda os indicadores de desempenho como o nível de qualidade, pontualidade na coleta e na entrega, danos na carga, índices de ocorrências e satisfação dos clientes. A decisão sobre o modelo de gestão de frotas deverá unir a eficiência operacional com a qualidade dos serviços e focar na redução dos custos fixos, para fazer com que a frota percorra a maior quilometragem possível, e, nos custos variáveis, manter o veículo em boas condições de uso. Frota própria Entre as possibilidades que os gerentes têm para reduzir custos, muitas empresas decidem operar as entregas por meio de frota própria por possuir maior controle operacional e flexibilidade na gestão das entregas e dos veículos, atendimento de entregas urgentes e atuar como reforço da marca da companhia. Entre as desvantagens está o fato de que a frota necessita de locais para estacionamento, gestão e controle dos veículos, custos com pedágios e IPVA, contratação de seguros e profissionais, além da obtenção de licenças e autorizações regulamentares. Consta a seguir um quadro demonstrando prós e contras de cada modelo de gestão de frotas de veículos: Quadro 6 – Comparativo de frotas Frota própria Frota alugada Frota terceirizada Prós Prós Prós Controle total dos processos Custos previsíveis Custos previsíveis Identidade de marca Flexibilidade operacional Custos de manutenção Flexibilidade operacional Controle total dos processos Redução de investimentos Contras Contras Contras Perda de foco Limite de cargas Limite de carga Custos e riscos trabalhistas Custos e riscos trabalhistas Riscos de imagem Ociosidade e manutenção Ociosidade e manutenção Monitoramento 82 Unidade III Conforme Faria (2008, p. 89), terceirizar a frota significa transferir a operação de transporte para um profissional ou empresa e cria a necessidade de encontrar parceiros alinhados com as expectativas de quem contrata a prestação de serviço. Amaral (2012) diz que os principais aspectos técnicos a serem considerados nas análises comparativas são a distância percorrida, os volumes transportados e a densidade dos produtos, que determinam a economia de escala decorrente. Figura 22 Disponível em: https://bit.ly/3H3pqXK. Acesso em: 8 jun. 2022. O uso de frota própria exige das empresas maior fluxo de caixa para aquisição e investimentos, por outro lado, alugar ou terceirizar reduz os custos operacionais e é flexível em relação à sazonalidade de vendas e entregas. Do ponto de vista estratégico, as empresas precisam avaliar a relevância das entregas que podem ser especializadas conforme o perfil dos produtos e dos clientes no contexto do modelo de negócios. Matriz de importância versus desempenho Segundo Baptista (2016), a elaboração de uma matriz com avaliações entre a importância da atividade e o desempenho esperado é uma ferramenta da qualidade que permite avaliar e decidir em relação aos concorrentes. Exemplo de avaliação de prestador de serviço terceirizado Consta na sequência um exemplo extraído de Baptista (2016), que apresenta a situação de um gestor de transportes buscando avaliar o desempenho de uma empresa de entregas rápidas em relação aos 83 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS seus concorrentes, criar a oportunidade de redução de custos, melhorar os serviços e decidiu observar os seguintes quesitos: custos, velocidade de entrega e flexibilidade de atendimento. O autor realizou uma pesquisa com seus clientes e atribuiu as seguintes importâncias ao seu entregador: • Custo: baixa importância. • Velocidade: alta importância. • Flexibilidade: baixa importância. Em relação aos concorrentes e ao mercado em geral, o resultado foi: • Custo: melhor do que o concorrente, mais barato. • Velocidade: pior do que o concorrente, mais demorado. • Flexibilidade: igual aos concorrentes. Avaliação A empresa que ele utiliza é a melhor em termos de custos, porém este não é o aspecto mais importante para os clientes, que consideraram como tal o desempenho em velocidade e a companhia ficou abaixo dos concorrentes. Portanto, ela deve agir a fim de aumentar a velocidade, assumindo custos adicionais com a instituição de entregas rápidas. 5.3 Gerenciamento de riscos e transportes de carga As condições em que se desenvolvem o transporte de cargas no Brasil apresentam elevados custos com seguros e constantes riscos de acidentes, assaltos e roubos de carga que exigem que as transportadoras elaborem um programa de gerenciamento de riscos como forma de minimizar prejuízos, ameaças e danos que possam afetar as entregas. Para isso, é necessário desenvolver ações de segurança preventiva adotando ações de monitoramento e controle dos embarques, identificando o grau dos riscos para deixar o negócio protegido por situações inesperadas. O roubo de cargas é bastante frequente no Brasil e causa muitos prejuízos para os embarcadores e transportadoras, o que eleva os custos das mercadorias transportadas. O planejamento de riscos deve ser elaborado considerando as seguintes informações iniciais: identificar e avaliar os potenciais riscos e encontrar as soluções e recursos necessários em cada situação. 84 Unidade III Conforme Goulart (2018), os principais riscos envolvidos na movimentação de mercadorias no país são: • roubos e assaltos; • extravio, perda e avarias; • danos aos veículos; • multas e apreensões; • atrasos nas entregas. A partir da necessidade de evitar a ocorrência dos fatos, as transportadoras precisam avaliar as possibilidades de ocorrerem tais situações conforme o perfil do modal de transporte utilizado, o roteiro e a segurança disponível, os pontos de referência e apoio no trajeto, o valor das mercadorias e a rede de suporte com outras transportadoras. Vejamos a seguir a evolução dos roubos de cargas no modal rodoviário em 2021: 2021 1.270 2020 1.250 2019 1.400 2018 1.470 2017 1.570 2016 1.3601.360 0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 Figura 23 – Roubo de carga no Brasil: evolução anual – valores subtraídos (em milhões) Adaptada de: NTC&Logística apud NTC&Logística (2021). Saiba mais Para conhecer mais sobre os crimes aduaneiros que ocorrem em fronteiras e portos do Brasil, leia o Balanço Aduaneiro da Receita Federal: BRASIL. Receita Federal. Balanço Aduaneiro de 2021. Brasília, 2022. 85 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Conforme o levantamento da empresa de consultoria em transportes NTC (2021), os produtos mais roubados no transporte rodoviário são: alimentos, combustíveis, produtos farmacêuticos, autopeças, bebidas, têxteis, cigarros e defensivos agrícolas. Tendo isso em mente, embarcadores e transportadoras devem elaborar um plano de ação e gestão de riscos específicos para essas mercadorias com maior monitoramento dos veículos, uso de escoltas e rotas e horários comerciais mais seguros. O transporte de cargas de elevado valor em rodovias ou vias urbanas perigosas tem de considerar o uso de rastreamento, monitoramentopor câmeras e escolta a partir dos seguintes perfis: • Perfil do produto: itens com elevado valor comercial como celulares e joias são atrativos para os criminosos, seguidos por combustíveis, alimentos, metais e materiais de construção, uma vez que possuem valor de revenda certo e rápido. • Perfil profissional: conhecer o perfil e avaliar a identificação das pessoas envolvidas é necessário, visto que é frequente acontecerem roubos associados a informações recebidas de indivíduos da própria organização. As referências profissionais de todos os envolvidos necessitam ser checadas. Além dos profissionais, os prestadores de serviços contratados precisam ser avaliados para verificar se apresentam elevados índices de roubo em seu histórico, o que pode supor deficiências na gestão operacional. • Rastreabilidade da carga: para manter a carga segura, é fundamental ter um sistema de rastreabilidade implementado nos veículos por meio de equipamentos e sistemas de alarmes e rastreamento por satélite que informam quando o caminhão sai de rota ou para subitamente, através de centrais de rastreamento. Com monitoramento e controle, as seguradoras confiam mais na transportadora e o preço do seguro pode ser reduzido. • Roteirização de entregas: antes de planejar a viagem e a rota, as transportadoras devem buscar informações sobre roubo de cargas e escolher rotas mais seguras, mesmo que os custos operacionais sejam equivalentes, desde que isso seja possível nas localidades que precisam ser atendidas. Figura 24 Disponível em: https://bit.ly/3zyfILn. Acesso em: 8 jun. 2022. 86 Unidade III • Alternativas: após o levantamento dos perfis, as transportadoras necessitam elaborar e criar um plano de gerenciamento de riscos e pensar em alternativas para diminuir os riscos, por exemplo, definindo viagens durante o dia, contratando escoltas para a viagem toda ou parcial e usando o rastreamento. Saiba mais Telemetria é uma tecnologia digital para gerenciamento de riscos a ser utilizada nos veículos através da coleta digital de dados e que permite o controle em tempo real do desempenho tanto deles como dos motoristas. Consulte a referência a seguir e conheça melhor essa nova tecnologia logística. VELTEC. Tudo o que você precisa saber sobre telemetria e gestão de frotas. [s.d.]. E-book. Disponível em: https://bit.ly/3ta0VCo. Acesso em: 3 jun. 2022. Após a avaliação e identificação dos riscos, é necessário dispor de indicadores e sistemas com alertas para facilitar sua rápida visualização. Modais de transportes: Qual a melhor opção? A escolha do modal ideal para as empresas é um aspecto de relevante importância em função das características do território nacional e da necessidade de acesso a mercados, geralmente quando as empresas avaliam possibilidades e custos se deparam com grandes diferenças nos valores de fretes. Para as companhias, a escolha da modalidade de transporte não é ampla em função da centralidade do modelo rodoviário e da infraestrutura do Brasil, mas as opções de uso de ferrovias e hidrovias podem ser pensadas nos setores agro e mineral, notadamente, em rotas alternativas, que devem considerar: • Velocidade de circulação: aspecto determinante conforme os prazos de entrega dos clientes. • Disponibilidade: limita-se a determinadas regiões. • Capacidade: ideal para grandes volumes embarcados de carga a granel (natural). Ainda devem ser avaliados aspectos como a velocidade de carga, viagem e descarga; confiabilidade de cumprimento de prazos; disponibilidade de veículos e locais de atendimento, bem como a frequência com a qual o transportador poderá ser utilizado em determinados horários e prazos, inclusive para atendimento a entregas ou coletas urgentes. 87 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Consta a seguir um quadro com as principais características dos modais de transporte no que se refere a custos de operação. Quadro 7 – Modais de transportes: comparativo de custos Modal Custos (características) Ferroviário Custos fixos altos (equipamentos, terminais, vias férreas) Rodoviário Custos fixos baixos e custo variável médio (combustível, manutenção, pedágios) Marítimo Custos altos (navios e equipamentos) e variável baixa Dutos Custos altos (dutos e linhas de transmissão interligadas) Aéreo Custos altos (aeronaves, combustíveis, manutenção) Fonte: Wanke (2002, p. 2). Segundo a CNT (2018), as ações do gestor logístico sobre a possibilidade de utilização de outros modais de transporte para recebimento e envio dos produtos ao mercado são limitadas em função das características dos itens e da reduzida malha alternativa por meio de ferrovias e hidrovias no território nacional. Conforme sabemos, a utilização dos modais de transporte concentra-se nas rodovias e responde por 67% da produção nacional, seguida pelos modais ferroviário, com 21%, e os menos utilizados, duto e aéreo (mais caro). 5.4 Modais integrados Entre as ações de gestão a serem avaliadas como forma de redução de custos e aumento da eficiência nos transportes está a integração das modalidades, por meio da combinação da utilização de caminhões e do uso de rios e ferrovias no mercado interno. Essa opção pode reduzir os custos totais de transportes e deve ser considerada para longas distâncias e materiais de grande volume, dependendo da disponibilidade de infraestrutura e locais para carga e descarga (transbordo), locais de acesso e, com frequência, de rotas periódicas para os destinos desejados. O uso de caminhões em rodovias e centros urbanos é o único meio capaz de entregar de porta a porta, pois eles conseguem coletar cargas em todos os locais dos embarcadores e entregar nos clientes sem precisar realizar a transferência das cargas entre locais, a não ser que a empresa utilize a entrega através de distribuidores. 6 ESTRATÉGIAS DE DISTRIBUIÇÃO: CENTROS DE DISTRIBUIÇÃO (CD) Os custos da distribuição física são maiores para as empresas de atacado e varejo e as plataformas digitais, representando um dos grandes desafios para os profissionais dos serviços logísticos em função da complexidade das atividades desenvolvidas e dos compromissos assumidos de entrega aos clientes nos prazos cada vez menores e com qualidade. 88 Unidade III Para Barsano (2014), entre as alternativas que as empresas podem adotar a partir do modelo de negócios e sistema de distribuição que desenvolvem, está utilizar os serviços dos centros de distribuição e os condomínios logísticos localizados nas regiões metropolitanas, agilizando as entregas com menores custos. Os centros de distribuição, que podem ser próprios, alugados ou terceirizados e operam no sistema puxado (pull), rateiam os custos conforme a utilização e movimentação por clientes e atuam com o propósito de receber produtos, armazenar e redespachar para os mercados, de acordo com os pedidos de vendas recebidos. Entre os pontos positivos do envio através dos centros de distribuição, podemos citar: • rapidez na entrega e melhor avaliação dos clientes com pontualidade; • redução de custos de distribuição, armazenagem e estoques; • diminuição dos custos de administração e controle; • agilidade mais elevada na separação dos pedidos de vendas; • baixa de custos com fretes com mais entregas por veículo em rotas locais. Vejamos na sequência um fluxo básico com as operações em um CD: Processamento de pedidos Separação de pedidos Transmissão de pedidos Transporte do pedido (mercadoria) Pedido de cliente Entrega ao cliente Figura 25 – Fluxograma: centro de distribuição Adaptada de: Bowersox (2001). Os centros de distribuição, em função dos elevados custos de construção de aquisição de terrenos próximos a centros urbanos, começaram com instalações próprias das grandes indústrias e empresas de varejo com elevado volume de vendas, mas a partir da redução dos custos de construção e montagem. A diminuição no tempo de entrega é cada vez mais usada como forma de distribuição integrada por pequenose médios embarcadores e por plataformas digitais que desenvolvem negócios sem as lojas físicas. Eles podem ser próprios, alugados ou terceirizados e precisam ter alguns aspectos avaliados antes de serem construídos ou contratados. 89 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Estudos de localização No momento de decidir a localização, é necessário verificar algumas especificações. Por exemplo: • Estrutura: o custo, bem como a estrutura necessária para que o galpão seja considerado um bom local para a guarda dos produtos da organização. A localização em relação às fontes de embarque entre o fabricante e o seu ponto de armazenagem pode gerar custos e atrasos maiores do que o previsto. • Pessoal: um CD fora dos grandes centros apresentará maiores custos de transportes para os empregados, benefícios diferenciados, e todos esses elementos poderão, ou não, encarecer a folha de pagamentos. • Estacionamento: a disponibilidade e capacidade de um pátio para os veículos e caminhões que circularão pelo local, para não ficar lotado e impedir a circulação. Lembrete Segundo Barsano (2014), centros de distribuição são armazéns que têm como função comportar o estoque máximo e manter o nível de estoque de segurança para determinadas mercadorias, prestando os serviços de abrigo, consolidação, transferência, transbordo e agrupamento ou composição de produtos. 6.1 Centros de distribuição e plataformas digitais A crescente utilização dos canais eletrônicos pode conferir às empresas a conquista de vantagens competitivas ou as potencialidades de mercado, bem como limitar algumas atividades. Destacamos algumas potencialidades a seguir. A gestão de custos, que, em razão da possibilidade de redução dos valores associados a propaganda, equipe de vendas, gestão de pedidos e custos financeiros para manter estoques, diminui os custos em vendas e distribuição nos canais eletrônicos. Figura 26 Disponível em: https://bit.ly/3O2TIvP. Acesso em: 8 jun. 2022. 90 Unidade III As plataformas digitais precisam de centros de distribuição que possibilitem a separação dos itens, conforme a embalagem de produtos e a respectiva expedição. As vendas são extremamente fracionadas e podem abranger desde uma única peça até vários produtos em um mesmo pedido. O desenvolvimento de vendas pela internet foi grande, especialmente com a ampla difusão dos meios de pagamento como cartões de crédito e débito e a utilização em massa da rede de computadores. A estratégia de serviços é uma visão daquilo que a organização quer ser aos olhos dos clientes. Quando feita de forma competitiva, deve incluir uma promessa da empresa em benefício do cliente; a criação de um grande diferencial; a geração de valor para o cliente; e o desenvolvimento de valor para os empregados. As necessidades, atitudes e os desejos do cliente precisam monitorados. Sua satisfação serve como ponto focal para a corporação. Para tanto, a regra básica é o envolvimento da alta administração no monitoramento e processo de descoberta do perfil do cliente. Projetos de tecnologia de produção não são úteis apenas para ganhos em eficiência e lucratividade, eles têm relação direta com a satisfação interna, pois tornam o trabalho mais fácil e recompensador para o pessoal operacional. Portanto, poderão ser utilizados CDs próprios ou terceirizados, visando, assim, aperfeiçoamentos no processo de oferta de bens para os clientes, com tempo reduzido e melhor estratégia de formação de preços. 6.2 Centros de distribuição para consumidores Os consumidores possuem várias opções para adquirir produtos e serviços, por exemplo, lojas virtuais na internet, lojas físicas de atacado e varejo, varejistas sem loja e grandes redes nacionais e internacionais. Podemos dizer que o varejo é o setor que tem contato direto com os consumidores e inclui as atividades relativas à venda de produtos e serviços para uso pessoal e não comercial. Ele pode estar em quatro níveis: autosserviço, autoatendimento, serviço limitado ou serviço completo ou de redes. Os produtos ao consumidor podem ser classificados em dois grupos de acordo com o valor atribuído e variam conforme o local ou região. São eles: produtos de primeira necessidade e produtos de consumo esporádico. 91 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Figura 27 Disponível em: https://bit.ly/3xmmHnX. Acesso em: 8 jun. 2022. Em termos de estrutura empresarial, as organizações que atuam no varejo apresentam as seguintes modalidades físicas: • lojas de especialidades; • lojas de departamentos; • hipermercados e supermercados; • shopping centers; • lojas de conveniência; • lojas de desconto; • lojas de fábrica; • lojas virtuais. As opções listadas anteriormente permitem às empresas criarem estratégias diferenciadas em relação ao canal de distribuição, que precisa considerar a localidade e o perfil do cliente. A estratégia de canal precisa ser elaborada conforme o modelo utilizado para atingir os consumidores. A instalação do ponto de venda ou de produção é fundamental, pois é cara e precisa ser conduzida de forma profissional com amplo planejamento de mercado, priorizando localidades centrais com potencial de venda. Conforme Coronado (2007), os canais de distribuição podem ser classificados de acordo com a área de atuação e a forma de gestão do sistema de distribuição de produtos e serviços ao mercado em atacado e varejo. Suas principais características são: 92 Unidade III • Atacado: — compra e vende mercadorias; — atua com vários fornecedores, inclusive concorrentes entre si; — possui um mix de vendas com foco nas marcas líderes e preços baixos; — não administra os estoques dos varejistas. Nesse grupo de distribuidores, estão as empresas, que são um elo importante do sistema de distribuição física para os consumidores e estabelecem uma parceria entre os fornecedores, os fabricantes industriais e o varejista ao agregar valor à prestação de serviços logísticos. • Varejo: — compra e vende em pequenas quantidades; — tem proximidade com os consumidores finais; — atua com estoques de vários produtos sortidos; — possui a maior parte das empresas de pequeno e médio portes. Esse grupo de empresas está mais próximo dos consumidores e é responsável pelo contato inicial da cadeia de suprimentos da logística empresarial. Vejamos a seguir um esquema diferenciador entre os modelos de distribuição: Nível de canais de distribuição 4321 ProdutorProdutorProdutorProdutor Agente VarejistaVarejistaVarejista AtacadistaAtacadista ConsumidorConsumidorConsumidorConsumidor Figura 28 Torna-se necessário contratar os canais de distribuição que estão localizados em determinados locais como em áreas comerciais centrais, shopping centers, galerias de bairros, stand centers e lojas de rua independentes. 93 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Lembrete Centros de distribuição unem fabricantes e consumidores e desempenham um papel importante para a eficácia operacional das empresas, tanto nos mercados nacionais como internacionais, sendo representados por atacadistas, varejistas, distribuidores, representantes e agentes comerciais. 6.3 Centros de distribuição para empresas Produtos industriais, ou seja, que serão vendidos para empresas, necessitam de uma estratégia diferente em razão do menor número de clientes, de um plano de marketing diferenciado, visto que são destinados a companhias que compram para utilizá-los nos processos de produção para a criação de outros produtos. Por esse motivo, eles possuem uma estrutura de mercado diferenciada no que se refere às escolhas na compra e de fornecedor, sendo mais técnica e profissional e precisam ser bem gerenciadas por meio de uma coordenação maior entre compradores e vendedores em relação a especificações técnicas, novos desenvolvimentos, logística e confiança. O mercado industrial, por sua vez, está condicionado ao ciclo de negócios do mercado ao consumidor e consiste emtodas as organizações que compram produtos utilizados na fabricação de outros itens e são vendidos para terceiros, possuindo características singulares, conforme verificaremos no quadro a seguir: Quadro 8 – Características dos produtos industriais Características Descrição Menos compradores, porém maiores Empresas compram volumes maiores do que consumidores Compra profissional Empresas possuem políticas de aquisição e gestão profissional Compra direta Empresas compram dos fabricantes sem intermediários Concentração geográfica Empresas concentram-se nos grandes centros comerciais de mercado Negociação Empresas exigem experts com qualificação técnica e comercial Adaptado de: Kotler (2006). Podemos classificar os produtos industriais em dois grupos: • Matérias-primas: insumos para a produção manufatureira e produtos naturais que serão processados na indústria alimentícia. • Bens de capital: máquinas e equipamentos para instalações ou escritórios. 94 Unidade III De forma geral, podemos afirmar que os processos industriais representam a maior parte do padrão utilizado nas organizações com negócios no exterior em razão das melhores condições de atendimento aos consumidores e da distribuição com ampla utilização de importadores, atacadistas e representantes. Observação Produtos para os consumidores (B2C) e produtos para empresas (B2B) precisam de abordagens diferenciadas em relação ao canal de distribuição e logística e devem ser considerados antes da seleção do melhor canal. 6.4 Centros de distribuição de serviços Os serviços constituem-se cada vez mais em parte integrante das estratégias de marketing das empresas. Notadamente, o rápido desenvolvimento tecnológico, no qual os produtos industriais mudam suas características funcionais e permitem maior integração através da internet (internet das coisas), assume aspectos de diferenciação e abre a possibilidade para itens personalizados com suporte de tecnologias avançadas. A principal característica dos serviços é ser intangível, isto é, seu consumo ocorre no mesmo momento que a produção, embora a satisfação esteja vinculada ao efeito percebido nos clientes. Considerando-se essas diferenciações, o modelo de venda direta, sem intermediários, costuma ser a forma de marketing mais usada, porém a distribuição pode ser descentralizada, como no caso de agências de viagens, consultorias de contratação e empregos, além dos serviços terceirizados de prestação. Lembrete A internet das coisas (IoT) é uma rede de objetos físicos, veículos e prédios que possui tecnologia embarcada com sensores e conexão em rede capaz de coletar e transmitir dados para objetos do dia a dia com capacidade computacional e de comunicação conectados à internet, fato que permitirá o controle da operação de aparelhos acessados à distância. A distribuição de serviços tem como característica a utilização de organizações intermediárias que atuam como agentes, corretores, varejistas de serviços, já que estocam e revendem em lotes menores e customizados para as necessidades específicas dos consumidores. 95 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS 6.5 Distribuição multicanal (consumidores, empresas e serviços) As estratégias de definição de canais de distribuição descritas anteriormente podem ser combinadas entre si, conforme a localidade ou as características dos consumidores, ou seja, as empresas podem elaborar uma estratégia que combine as opções denominadas multicanal. As companhias frequentemente utilizam estratégias de distribuição com canais múltiplos para atingir vários mercados nos quais podem vender os produtos diretamente aos consumidores, assim como para varejistas e distribuidores que, por sua vez, podem revender a outros comerciantes locais. O segmento de automóveis é outro exemplo de sistema multicanal, visto que as montadoras vendem aos consumidores através dos varejistas e da venda direta, realizada através da internet. A gestão dos canais de distribuição, por sua característica estratégica, em termos de longo prazo, envolve maior alocação de recursos e investimentos e maiores custos de mudanças em função das alterações nas condições dos mercados. Algumas variáveis críticas assumem maior importância na definição da estratégia de entregas. 6.6 Contratação de centros de distribuição A seleção das empresas que irão desenvolver o trabalho de intermediar a distribuição decorre de uma ampla investigação cuja profundidade e detalhamento dependerá da estratégia de distribuição, da relevância para o negócio e da disponibilidade de recursos financeiros. Uma base para a avaliação e escolha dos intermediários deve prever a prospecção e identificação dos intermediários qualificados, a seleção e avaliação comparativa dos intermediários selecionados e a definição dos intermediários que serão membros do canal. Tal avaliação precisa ser precedida de uma análise técnica com atribuição de pesos específicos para cada qualificação ou competência verificada. Consta na sequência um quadro com quesitos que têm de compor o processo de avaliação de empresas para atuação como intermediários do processo de distribuição. Quadro 9 Requisitos para distribuidores O intermediário se interessa por nossa linha de produtos de fato? O intermediário está bem estabelecido de fato? O intermediário possui boa reputação perante os seus clientes? O intermediário trabalha com outras linhas similares? O intermediário apresenta qual situação financeira? O intermediário possui instalações de que porte? Fonte: Telles (2006). 96 Unidade III A efetivação selecionada do intermediário deve ser confirmada através da assinatura de um contrato de prestação de serviços com todas as atribuições mútuas descritas, bem como prever as reavaliações e rescisões nas quais a busca de construção de uma parceria de longo prazo e de interesse sejam as bases. Além disso, precisam antecipar a construção de ações de desenvolvimento de mercados como a cooperação promocional e os suportes técnico e administrativo. A avaliação na gestão dos canais e dos intermediários necessita focar na parte operacional das atividades que cada um deve realizar, porém essa análise está sujeita a variações como nível de controle que um fabricante possui sobre os intermediários, grau de independência na gestão dos trabalhos de rotina, complexidade dos produtos (padrão ou específico) e quantidade de empresas intermediárias envolvidas em toda a gestão até a chegada ao consumidor ou à empresa no final. Consequentemente, quanto maior for o grau de controle sobre os intermediários, maior será a qualidade do processo de acompanhamento e de avaliação; por outro lado, quanto menos complexos os produtos, em geral, menores serão as exigências de conhecimento e a necessidade de controle e monitoramento por parte do fabricante. O processo de avaliação dos intermediários e canais deve ser realizado considerando-se fatores que vão além do desempenho operacional, incluindo aspectos de cunho estratégico como conhecer de forma mais aprofundada as condições estruturais operacionais dos negócios dos canais e dos intermediários, com informações para análise estratégica. Quadro 10 – Indicadores de avaliação de CD Dimensão Métrica variável Desempenho em vendas Vendas (unidade/ano) Faturamento (US$/ano) Participação de mercado (%) Gestão de estoque Volume médio (unidades) Giro (mensal) por dia Capacidade de vendas Número de vendedores Adaptado de: Telles (2006). O processo de avaliação dos intermediários e canais precisa ser conduzido de forma profissional com base no desempenho, observando os seguintes aspectos: • Volume e evolução das vendas (fluxos e variações). • Condições de estocagem (manutenção e gestão). • Capacidade de venda (potencial e efetiva). 97 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS • Comportamento (prioridade e atendimento). • Concorrência (outros intermediários e produtores). • Crescimento futuro (cobertura, estoques e vendas).Os procedimentos regulares de avaliação do desempenho dos intermediários e dos canais necessita ser formal e regular, pelo menos anual, com apuração isenta, profissional e transparente, de forma a gerar ações de mudanças, elaboração de um plano de ação e melhoria da performance. Observação Avaliar o desempenho dos centros de distribuição é um procedimento que deve ser transparente e formal com avaliações realizadas a partir de documentação comprovada e informações registradas em sistemas de fácil acesso aos envolvidos. 6.7 Processos logísticos e tecnologias A expansão dos mercados e a globalização criou um ambiente de competição internacional que se reflete na difusão dos conceitos, nas aplicações de logística integrada e na cadeia de suprimentos, que se somam à disseminação de novos sistemas de gestão empresarial. Notadamente, os ERP permitem que as grandes empresas reduzam custos e aumentem a eficiência dos processos e a gestão das informações, investindo na aquisição de soluções de tecnologia na gestão empresarial. Assim, o controle de informações e dados deixou de ser realizado através de documentos em papel e ganhou controles eletrônicos, aumentando a velocidade das informações dentro e fora das empresas, o que reduziu custos de gestão e erros de operação. Conforme Oliveira (2008), a difusão e implantação de novas soluções em TI permite às grandes empresas desenvolver um sistema de informações gerenciais (SIG) através da transformação de dados isolados em informações integradas nas quais os gestores podem atuar de forma efetiva na reformulação dos processos em operação e na gestão dos negócios. 98 Unidade III Consta a seguir a representação de um ERP: Economia Sistema de informação Problemas sociais Governo Mercado Ambiente externo TecnologiaPessoas Processos Figura 29 A disponibilidade de informação é considerada a matéria-prima da atividade de sistemas gerenciais que, devidamente estruturada, contribui para as empresas se tornarem mais dinâmicas e permite aos gestores a velocidade necessária sobre a evolução dos trabalhos sob sua competência. A redução dos custos de aquisição e implantação de novas soluções possibilita às empresas de médio e pequeno porte implantarem soluções inovadoras nos negócios, incrementando a competitividade e os resultados. Conforme Banzato (2005), as soluções de tecnologias e automação dos processos logísticos podem ser divididas em dois grupos, os quais serão acentuados a seguir. Soluções de automação do fluxo de materiais A difusão dos conceitos de cadeia de suprimentos (SCM) com a integração entre os processos físicos entre fornecedores, fabricantes, distribuidores e transportadoras de matérias-primas, produtos intermediários e produtos finais, com processos de fabricação e manufatura, fez surgir a necessidade de automação através de soluções das operações de processamento, movimentação, controle de estoques e gestão de entregas que passam por diversas etapas, conforme as necessidades dos pedidos dos clientes. Soluções de automação de informações Com a integração dos processos físicos, as empresas precisam ter controle sobre o fluxo de informações das movimentações e entregas em tempo real, de forma a permitir o atendimento dos pedidos dos clientes ao melhor nível de serviço com custos totais mínimos. As companhias começam a implantar as soluções conhecidas como ERP de forma customizada e progressiva, com destaque paras as áreas de operações, finanças e logística. Em um segundo momento, as soluções tecnológicas começam a integrar-se e a formar um conjunto de sistemas integrados com o desenvolvimento de hardwares e softwares de apoio às atividades das empresas, entre as quais, as soluções para a gestão da logística. 99 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS As soluções de tecnologia da informação em logística podem ser classificadas de acordo com a atividade ou tarefa que deve ser automatizada. • Planejamento: soluções para gestão da demanda (forecast), atendimento a clientes (CRM), relacionamento com fornecedores, sistemas ERP, MRP, DRP e APS. • Execução: sistemas de gerenciamento de armazéns (WMS) e gerenciamento de transportes (TMS). • Comunicação: sistemas de intercâmbio eletrônico de dados (EDI) e código de barras, leitores e RFID. 6.8 Sistemas integrados de gestão A introdução dos sistemas integrados de gestão empresarial, conhecidos nas organizações como ERP (Enterprise Resources Planning), surgiu na década de 1990 com a necessidade de integração de controle e gestão de processos. Eles tinham um enfoque tradicional, vertical e fragmentado, que exigiu uma mudança no comportamento dos funcionários e na execução das tarefas, que passariam a se basear nos requisitos das novas tecnologias. Conforme Nunes (2008), os sistemas ERP permitem às organizações uma base de dados única que suporta vários processos, como recursos humanos, logística, finanças, contabilidade e vendas, exigindo uma atitude de integração de todos na execução das tarefas de trabalho. A introdução de sistemas ERP, que são estruturados em módulos de processos nas organizações, forma uma base de dados que otimiza o fluxo de informações, reduz atividades manuais, elimina práticas redundantes e padroniza as rotinas de trabalho e controle a partir de um único sistema de informação que reduz custos e tempos com a melhoria no nível de serviço aos clientes. Atualmente, com custos iniciais elevados de aquisição e implantação possível às grandes e médias empresas, os principais fornecedores de sistemas ERP, como Oracle, SAP, entre outros, focam na difusão dos sistemas para as pequenas empresas em projetos customizados específicos. A introdução de novas tecnologias de comunicação como o correio eletrônico (e-mail), a teleconferência e outras, permitiu a condução de novas modalidades de trabalho individual e em grupo, dentro e fora das organizações. Lembrete Tecnologias de informação e comunicação permitem às empresas executar e monitorar os serviços logísticos em tempo real e interagir com todos os integrantes do canal de distribuição em um processo contínuo, de modo a possibilitar aos responsáveis pela gestão dos serviços aos clientes mantê-los em constante acompanhamento do status das entregas solicitadas nos pedidos de vendas. 100 Unidade III Como a quantidade de dados com que a logística atua é vasta, devemos adotar novos instrumentos para gerir e acompanhar as rotinas e controlar as informações das operações; portanto, podemos dizer que o investimento em tecnologia permite observar e controlar melhor todos os processos de trabalho e reduzir custos, além de aumentar a produtividade. Assim, investimentos em tecnologia de informação são essenciais para que as operações sejam realizadas de forma mais confiável, segura, com menores índices de erros e necessidade de retrabalho. As empresas de todos os portes utilizam modernos sistemas integrados de gestão (ERP) de fabricantes nacionais e internacionais, por exemplo, SAP, BAAN, Oracle, Microsiga, entre outros, que permitem a união dos processos organizacionais de produção, compras, PCP, armazenagem, distribuição, finanças, vendas e atendimento ao cliente. De maneira geral, podemos classificar em quatro grupos as tecnologias. São elas: • Hardwares: são as principais aplicações para a área de logística: microcomputadores, códigos de barras, coletores de dados e radiofrequência (RFID), GPS e computadores de bordo. • Softwares e aplicativos: os mais utilizados são roteirizadores e programas de gestão como WMS, TMS, CRM e EDI. • Armazenagem de dados: banco de dados central ou em nuvens (cloud computing) para suportar os sistemas de negócios. • Certificação e assinatura digital: programas que suportam a segurança das informações e dos dados transacionados (criptografia). Uma vantagem na utilização de tecnologias, tanto em termos de equipamentos (hardware) como programas (software), na cadeia de distribuição, é a integraçãoentre os processos das empresas que permitem a comunicação eficiente e realizada em tempo real, possibilitando aos operadores dos processos (vendas, produção, transportes) a disponibilidade de informações rápidas que agilizam a execução das entregas e o atendimento aos clientes, aprimorando o relacionamento entre fornecedores, canais de distribuição e clientes. As vantagens da utilização de tecnologias da informação na gestão de negócios são: • acesso a informações estratégicas e rapidez na tomada de decisão; • controle e gestão total das operações realizadas e em processamento; • permissão da identificação das falhas e dos desvios nos processos; • apuração rápida dos resultados e desempenho das vendas e entregas. 101 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Rastreamento de cargas e entregas Esta aplicação da tecnologia permite que as empresas acompanhem os status dos transportes, sinalizando ocorrências em tempo real, o que facilita a velocidade da gestão operacional e permite o acompanhamento das entregas pelos clientes. O rastreamento pode ser usado não apenas como ferramenta de segurança, mas para avaliação da possibilidade de mudanças nas rotas a fim de fugir de congestionamentos e reduzir problemas de restrições de horários, comuns nas áreas urbanas, além de evidentemente diminuir os congestionamentos. As vantagens da automação da gestão das entregas são: • acompanhamento em tempo real das entregas em processamento; • redução das devoluções das mercadorias e impedimento de entregas escalonadas; • resolução prévia de problemas antes da chegada nos clientes. Produtor Packing/processador Distribuidor/ exportador Varejo Fluxo do produto na cadeia produtiva Fluxo da informação no rastreamento Consumidor Figura 30 Como vimos na figura anterior, conforme os produtos seguem fisicamente rumo ao consumidor no processo logístico de distribuição física, existe a necessidade de integração entre os vários operadores (produtor, distribuidor, varejistas) responsáveis por uma parte do processo total que precisa de rastreabilidade através de sistemas de monitoramento, visando atender aos pedidos de vendas no prazo. Lembrete Novas tecnologias de informação (TI) em logística surgem com frequência, porém, antes da implantação, as empresas devem calcular a relação custo × benefício e verificar a sua junção com as tecnologias em operação, bem como as ferramentas utilizadas por outras áreas com integração, como vendas e produção, para evitar problemas de incompatibilidade e suporte técnico. 102 Unidade III Gestão de fretes As plataformas de frete são recursos que trazem vantagens para as empresas, tornando-as capazes de controlar o custo dos transportes e documentos, fazer o cálculo de frente, além de auxiliar o gestor da administração dos transportes. As vantagens da automação da gestão de operações de fretes são: • redução do tempo de controle das solicitações de fretes e consultas de cotação com as transportadoras cadastradas; • melhoria na gestão dos pagamentos dos fretes contratados. Observe a seguir alguns tipos de caminhão: • veículo urbano de carga; • toco ou semipesado; • truck ou pesado; • cavalo mecânico ou extrapesado; • cavalo mecânico trucado ou LS; • carreta dois eixos; • carreta três eixos; • carreta ou cavalo trucado. Gestão de estoques As tecnologias permitem a existência de um sistema que automatiza os processos, elimina trabalhos manuais, reduz erros e retrabalhos, bem como aumenta a segurança e a confiabilidade das informações, uma vez que elas possibilitam acompanhar rotinas de recebimento, armazenagem, expedição, emissão de documentos, gestão de inventários, além do acompanhamento do giro dos materiais, trocas e devoluções. Relacionamento com os clientes A tecnologia denominada Gestão do Relacionamento com o Cliente (CRM) ajuda a gestão dos processos de negócios com foco na satisfação dos clientes através de uma base de dados com informações. Trata-se de um sistema voltado à área comercial que pode ser usado para gerar informações sobre a avaliação dos consumidores. 103 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Integração entre e-commerce e transportes A gestão é centralizada pelos correios, que fazem cerca de 90% das entregas, e existem softwares e aplicativos que integram os meios virtuais e oferecem opções de entrega para clientes com algumas transportadoras, por exemplo, Direct, JadLog, UPS e DHL. Automação nos armazéns Em muitas fábricas dos países desenvolvidos existe a participação de pessoas em tarefas rotineiras e repetitivas, quase não há sistemas automatizados como robôs que tomam conta de operações. Entre as atividades que foram automatizadas, estão a separação e a conferência de cargas. Talvez, essa não seja a inovação mais imediata, principalmente porque o investimento é alto e passamos por um momento de crise, mas, logo, será uma mudança necessária para manter a competitividade do país. Esse sistema fica incumbido de colher dados — como o tempo de permanência de mercadorias nas prateleiras, por exemplo — e conferir informações, sendo uma ferramenta interessante para as empresas que atuam com galpões logísticos. Aplicativos A comunicação é essencial nos transportes e, por existirem os sistemas de gerenciamento de transporte (TMS), tal fluxo não envolve diretamente o motorista, e os clientes normalmente recebem a informação repassada pela transportadora, que pode usar aplicativos como o TruckPad a fim de melhorar a eficiência de uso dos veículos. As tecnologias móveis ajudam a gestão de equipes externas, permitindo o acesso ao sistema e aos dados de qualquer lugar. Portanto, elas auxiliam gestores e colaboradores que atuam viajando e mesmo os motoristas, os quais podem reportar seu status de viagens ou comunicar qualquer ocorrência. Figura 31 Disponível em: https://bit.ly/3trl2w4. Acesso em: 8 jun. 2022. 104 Unidade III Veículos autônomos Outra tendência que tem ganhando bastante força em decorrência do desenvolvimento da tecnologia é a possibilidade de que os caminhões estejam o tempo todo conectados – tanto com outros veículos quanto com o próprio empreendimento. Isso faz com que ocorram trocas de informações em tempo real no que se refere à localização, status do transporte e ocorrências, mantendo a comunicação fluida. 6.9 Softwares de gestão Softwares são criados e desenvolvidos por empresas da área de tecnologia e fornecem soluções técnicas de gestão empresarial de vários segmentos de mercado e áreas de aplicação, podendo ser implantados por meio de soluções completas (todas as áreas da empresa) ou customizados (ajustadas as necessidades e demandas específicas). Warehouse Management System (WMS) – gestão de armazenagem Sistema responsável por controlar as movimentações de estoque independentemente do método escolhido, sendo a vantagem da sua utilização a possibilidade de controle e gestão de vários stock keeping unit (SKU), unidade de manutenção de estoque, sem limite e de forma organizada, o que possibilita ao ambiente de estoque obter maior e melhor produtividade. Conforme Nunes (2008), o WMS do mercado geralmente possibilita o controle de multiprodutos por vida útil, lote e tipo de produto (congelado, resfriado, climatizado ou em temperatura ambiente). WMS FábricaExpedição Planejamento de produção Planejamento de vendas Distribuição Consignação de materiais Gestão de armazém Estoque Recebimento de materiais Pedido/contrato de compra Importação Figura 32 105 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS É também através dele que se obtém o endereçamento (rua, altura e profundidade) de cada item, entradas e saídas. Por exemplo, o próprio sistema sugere o local físico de estocagem das novas entradas. Além de tais controles, o WMS recepciona os pedidos (internos ou externo) e cria a lista de reabastecimento para o picking (separação e preparação de pedidos). Ele também tem os dados dopré-inventário e ajusta as quantidades decorrentes do inventário, que, por sua vez, possibilita a medição da assertividade e precisão das informações obtidas pelo WMS. Por fim, existem vários WMS no mercado, eles são de empresas distintas e possuem preços diferentes. Caberá a você avaliar os recursos e encontrar o mais adequado ao seu perfil operacional, aquele que proporcionará a melhor gestão com o menor custo. Transportation Management System (TMS) – gestão de transporte Sistema que poder ser integrado com o WMS, mas não é igual, pois, apesar de ter o mesmo objetivo, sua finalidade é exclusivamente relacionada à gestão do transporte que envolve frota, documentação, combustível, criação e gestão de tabelas de frete, gestão de manutenção preventiva e corretiva, além de demais práticas relacionadas à atividade. Um bom TMS, além dessas funcionalidades básicas, possibilita a emissão do Conhecimento de Transporte Rodoviário de Cargas (CTRC), já consolidando os pedidos e realizando a roteirização das cargas, propondo a melhor consolidação de cargas e ordem de entregas no trajeto mais adequado, sempre levando em consideração os parâmetros estabelecidos e específicos de cada cliente, como restrição de tipo de veículo, horário etc. Pela complexidade da distribuição, é através do TMS que se registram e tratam as ocorrências, controlam-se eventuais devoluções e reentregas, além de diversos relatórios gerenciais. Assim como o WMS, existem vários TMS no mercado, de empresas distintas e preços diferentes. Caberá a você avaliar os recursos e encontrar o mais adequado ao seu perfil operacional, aquele que proporcionará a melhor gestão com o menor custo. O TMS auxilia o trabalho das equipes que gerenciam a documentação impressa e eletrônica em um banco de dados integrado com fornecedores, parceiros e clientes com rapidez, realizando procedimentos em tempo reduzido, que antes consumiam horas de trabalho. Entre as vantagens da adoção do TMS, podemos citar a redução de atividades manuais e de falhas de digitação, o arquivamento de dados e a identificação rápida de erros e inconsistências. Customer Relationship Management (CRM) – gestão de cliente Software responsável pela gestão e avaliação do relacionamento com o cliente (interno e externo), envolve ações de marketing, vendas e serviços. Ele visa auxiliar em atividades de atendimentos complexos e de alto tráfego, triagem, consolidação de informações a fins estatísticos e para subsidiar a tomada de 106 Unidade III decisão. É através das informações obtidas pelo CRM que se pode antecipar as necessidades e identificar potenciais novos clientes. O CRM possibilita às empresas agilizarem o fechamento dos pedidos de venda, facilita o relacionamento dos clientes com as companhias, acelerando o fechamento e a contratação de novos pedidos de compra, monitora e controla o desempenho das entregas, além de gerar uma base de dados histórica que dá suporte a novas ações comerciais e de marketing em ambiente de intensa interatividade entre empresas e consumidores através de vários canais de venda, como os dispositivos móveis (celulares), endereços eletrônicos, aplicativos e linhas telefônicas dedicadas a esse fim. Radio Frequency Identification (RFID) – identificação por radiofrequência Essa tecnologia utiliza a frequência de rádio para obtenção de dados que, em geral, armazenam um número de série (como um RG) responsável por identificar o que quer que seja controlado. Independentemente de ele ser produto, objeto ou pessoa. Figura 33 Disponível em: https://bit.ly/3O2xUk7. Acesso em: 8 jun. 2022. Ela pode ser utilizada para controle de estoque, o qual possibilita rastreamento e controle de SKU com maior eficácia e precisão pela captura automática de dados para identificação do produto. A captação ocorre através de dispositivos eletrônicos conhecidos como etiquetas eletrônicas, tags, RF tags e transponders que emitem sinais de radiofrequência para leitores que captam essas informações, diminuindo as possibilidades de erros humanos, reduzindo desperdício, limitando roubos, aumentando a produtividade e simplificando a logística (supply chain). Independentemente do software ou hardware utilizado, um ponto de atenção deve ser a questão dos custos, os quais se não forem acompanhados de perto podem gerar investimentos desnecessários com infraestrutura pela falta do correto dimensionamento e planejamento de demanda. Nesse caso, escolher o subsistema justo para sua operação é um passo indispensável e de grande importância no processo de melhoria e profissionalização da atividade. 107 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS GPS e mapas digitais Vemos, atualmente, uma grande explosão de bancos de dados nas organizações em razão da ampliação da capacidade de processamento dos computadores. A evolução da informática se deu através do aumento da capacidade de processamento com o uso de microprocessadores que permitem a criação de grandes bancos de dados (big data) com acesso fácil e rápido, em tempo real, que podem se transformar em informação e conhecimento. O mapeamento digital é um processo no qual um conjunto de dados é compilado e formatado em uma imagem virtual, sua função elementar é a representação exata de uma área, detalhando os principais eixos limitadores. Esse processo pode ser usado em várias aplicações, como no marketing, e se apoia em satélites que permitem a atualização por meio de softwares de sincronização com servidores potentes. Os mapas digitais são largamente usados e servem como base para vários tipos de análise e planejamento de novos empreendimentos, por exemplo, podemos utilizá-los para visualizar a localização de consumidores e planejar locais de venda de forma visualmente simples. A utilização de mapas profissionais é necessária para empresas com negócios na área de varejo (B2C) e industrial (B2B). Esses mapas precisam estar conectados com os bancos de dados de mercado das organizações e os códigos postais (CEP) das localidades que dependem de um sistema cartográfico confiável. Senão, podem comprometer a qualidade das análises geradas. Para as organizações que atuam ou pretendem entrar em mercados externos, a ausência de mapas cartográficos atualizados ou sem uma codificação de qualidade pode comprometer o uso de mapas digitais. Portanto, elas precisam dispor de outras ferramentas de fonte de informação, como satélites para a análise de mercados potenciais. As principais funções dos mapas digitais são: • possibilitar a visualização dos dados de mercados locais e internacionais, com localização de consumidores, pontos de venda e local dos concorrentes; • realizar o armazenamento do banco de dados de mercado das organizações, com atualizações constantes que permitem a tomada de decisão ágil e precisa. Além da visualização dos dados, os mapas digitais podem colaborar com arquivos dos bancos de dados das organizações por meio de atualizações constantes, conferindo dinamismo e consistência nas informações que serão suporte para a tomada de decisão dos gestores. 108 Unidade III Figura 34 Disponível em: https://bit.ly/3xDa4Gp. Acesso em: 8 jun. 2022. É possível a visualização dos mercados por meio de softwares específicos com alta capacidade de processamento de dados que fazem a interface entre os dados internos comerciais, disponíveis nos sistemas das organizações, com dados externos de mercado e mapas cartográficos externos, desenvolvidos por consultorias de mercado ou de utilidade pública. Os mapas digitais permitem três aplicações principais. São eles: • visualização da distribuição espacial dos consumidores por CEP ou rua; • análise da dispersão geográfica do mercado; • planejamento territorial das vendas. A integração entre banco de dados com informações de mercados, a grande capacidade de processamento de softwares específicos e a disposição gráfica dos mapas digitais permite às organizações criar um amplo leque de informações sobre potenciaisde vendas e identificar as oportunidades de expansão comercial em locais pouco aproveitados ou subutilizados. Além das aplicações de marketing, as informações geradas podem colaborar com a gestão eficiente de outras áreas das organizações como controladoria e logística. Por fim, cabe destacar que a parte técnica do mapeamento geográfico pode envolver a realização de parceiras com institutos públicos de pesquisa e opinião, como o IBGE, o Ipea, o Inpe e outros, que atuam com bases geográficas e demográficas na condução das pesquisas públicas, podendo ser adaptadas para o setor privado empresarial. 109 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Electronic Data Interchange (EDI) – intercâmbio eletrônico de dados Essa tecnologia permite o envio e recebimento de dados e documentos através de meios eletrônicos de forma padronizada, já que os documentos são gerados em função das operações diárias entre os pedidos de vendas, ordens de compra, avisos de embarque de mercadoria, documentos de pagamentos, e transmitidos de forma codificada entre os sistemas das empresas que o possuem através das redes de comunicação. Algumas de suas vantagens são: • enviar e receber elevados volumes de informações com segurança; • reduzir a quantidade de erros no processamento de pedidos; • disponibilizar informações sem a necessidade de impressão; • utilizar a internet como base de transmissão de dados. Assim, clientes e transportadoras trocam informações sobre o controle e monitoramento completo desde o processamento dos pedidos, faturamento, embarque e programação das entregas a partir da integração com a emissão das notas fiscais de venda das empresas embarcadoras, monitorando as operações de carregamento e entrega em tempo real. Suas principais vantagens são: • reduzir custos administrativos em função da diminuição do volume de documentos; • agilizar os processos através da transmissão de grande volume de dados por computador; • eliminar erros administrativos; • aumentar a produtividade geral. A gestão dos custos é uma questão central nas empresas que atuam no modelo de logística integrada cujo objetivo é otimizar um conjunto de atividades interligadas a partir de três vetores: processos logísticos, nível de serviços e custo total. A decisão de vender ou comprar no comércio externo significa enfrentar riscos e superar muitos desafios legais, operacionais e institucionais e a gestão dos serviços logísticos é um aspecto fundamental. De acordo com pesquisa efetuada com empresas de vários segmentos que atuam no exterior e realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) (2018) em parceria com a FGV/SP, a maior dificuldade para o crescimento da competitividade no exterior está relacionada com a logística. Notadamente, em relação aos custos dos transportes nacionais e internacionais, às tarifas administrativas 110 Unidade III cobradas em portos e aeroportos, às deficiências na infraestrutura operacional, bem com à demora na liberação das cargas. Entre os entraves logísticos, além dos custos de transportes, as empresas apontam a necessidade de modernização da infraestrutura nacional operacional, notadamente pública em sua maioria, na gestão de portos, aeroportos, rodovias e procedimentos aduaneiros e cambiais. Tabela 12 – Principais entraves logísticos Entrave Empresas ( %) Custo com transporte doméstico 41% Custo com transporte internacional 39% Ineficiência nos portos 30% Falta de terminais intermodais 24% Ineficiência nos aeroportos 19% Falta de operadores capacitados 17% Fonte: CNI (2018). O alto custo do transporte doméstico está relacionado ao fato de que a maior parte das cargas para exportação precisam ser transportadas por rodovias até os portos localizados na costa oceânica e são onerosas em função dos custos de combustíveis, pedágios e manutenção. Os exportadores do Centro-Oeste e do Norte do país pagam mais caro do que aqueles localizados no Nordeste, Sul e Sudeste por transporte doméstico em função da distância dos portos e do perfil dos produtos exportados em grandes volumes. 6.10 Logística internacional A logística internacional envolve o planejamento, operação e controle do fluxo de materiais, serviços e informações que visam integrar as operações nacionais com as internacionais. Ela tem início na aquisição de matéria-prima e vai até a entrega do produto ao cliente externo. Considerando as características da logística nacional e internacional em termos de longas distâncias do local de envio dos fabricantes nacionais para os locais de embarque localizados na costa litorânea e aeroportos, bem como as viagens de longo curso no transporte externo, gerenciar riscos e incertezas associadas à distância de gestão da demanda, diversidade na documentação e procedimentos alfandegários são condições típicas da gestão operacional. A localização geográfica dos países é um fator importante em relação aos concorrentes e mercados, assim como a qualidade e disponibilidade da infraestrutura para exportar e importar que permitem aos países com grande território e rede de transportes com base em modais de baixo custo, como EUA, Brasil e China a se destacarem no comércio mundial. 111 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Em relação ao perfil das empresas brasileiras que operam no comércio exterior, existe uma concentração das companhias nas operações de importação e em menor quantidade nas instituições que exportam. Vejamos a seguir as principais características dos procedimentos relativos às operações de exportação e importação, conforme leis e procedimentos determinados por órgãos públicos brasileiros. Ao contrário das operações de compra e venda no mercado interno em que as relações comerciais costumam ser diretas e simples em função de se realizarem no território nacional, as operações comerciais e logísticas internacionais envolvem uma ampla gama de empresas, órgãos públicos nacionais e internacionais e prestadores de serviços. As operações logísticas internacionais envolvem, para a maioria das empresas, dois processos logísticos principais: • Logística interna: inclui o fluxo de envio e recebimento de produtos no território nacional com ampla utilização de caminhões e carretas; aqui são executados os procedimentos de envio dos produtos aos locais de embarque (porto e aeroportos), bem como o recebimento de itens provenientes do exterior e que precisam ser transportados aos locais de consumo ou de revenda, conforme o plano de negócios empresarial e a localização das empresas. • Logística externa: abrange o envio ou recebimento dos produtos no exterior com ampla utilização de navios e aeronaves; aqui são executados os procedimentos de transporte com os prestadores de serviços envolvidos na liberação dos itens nos locais de destino (exportação) ou de procedência (importação). As operações internacionais envolvem, de forma geral e conforme o mercado de atuação, os seguintes intervenientes principais, entre outros: • SRF, Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e órgãos reguladores; • companhias aéreas e marítimas; • despachantes aduaneiros e seguradores; • administração portuária e alfândega; • aeroportos, Infraero e Anac; • operadores logísticos e transportadores; • armazéns e agentes de carga; • Banco Central (BC) e instituições financeiras. 112 Unidade III Além dos intervenientes citados, as atividades internacionais podem incluir outros órgãos públicos nacionais e internacionais, bem como outros prestadores de serviços específicos em função das características dos produtos enviados ou recebidos e da ampla diversidade de possibilidades comerciais que as empresas importadoras e exportadoras precisam conhecer em detalhes de forma a impedir entraves e divergências legais de cada país, evitando prejuízos e atrasos. Em função de envolver um amplo número de órgãos públicos, empresas e prestadores de serviços, as atividades de logística internacional exigem um trabalho em equipee com grande atenção de coordenação e controle a fim de que os resultados sejam alcançados e os prazos cumpridos nos custos estimados. 6.10.1 Exportação: procedimentos operacionais O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais, notadamente de produtos básicos do setor agrícola e mineral que possuem como características logísticas a necessidade de deslocar grandes volumes de produtos do interior do país para o litoral, onde estão os principais portos como o de Santos e o de Paranaguá. Vejamos, a seguir, um fluxograma operacional de exportação elaborado pelo Centro Internacional de Negócios do Mato Grosso (CIN-MT). 1 Planejamento 6 Importador vai ao banco e solicita abertura da carta de crédito (LC) 11 Exportador emite nota fiscal 16 Desembaraço e averbação na RFB 21 Exportador liquida o câmbio e recebe os reais 2 Pesquisa de mercado 7 Exportador analisa a carta de crédito 12 Exportador providencia o pré- transporte até o porto 17 Emissão do comprovante de exportação 22 Exportador envia carta de agradecimento 3 Negociação com o importador 8 Exportador elabora a fatura comercial 13 Exportador solicita o despacho aduaneiro 18 Exportador consolida toda a documentação 23 Fim 4 Elaboração da fatura proforma 9 Exportador prepara mercadoria para embarque 14 Pagamento do frete e seguro pelo exportador 19 Exportador contrata câmbio 5 Envio da fatura proforma ao importador 10 Exportador elabora o packing list 15 Recebimento do conhecimento de embarque (BL) 20 Exportador entrega documentação ao banco Figura 35 Adaptada de: CIN-MT (2020). Conforme o fluxograma anterior, podemos verificar que as atividades necessárias à formalização das exportações envolvem a realização de uma série de ações internas e externas. Ao tomar a decisão de exportar, tendo definido o que e para onde, a empresa deverá providenciar os procedimentos com as exigências administrativas e se credenciar no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex). 113 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS A exportação é constituída pelas seguintes fases: • Comercial: a empresa deve escolher o produto a ser exportado, para qual país estrangeiro e verificar se existem restrições para envio. • Administrativa: a empresa deve providenciar a autorização para exportação dos órgãos gestores e emitir o registro de exportação (RE), que centraliza as informações comercial, financeira, cambial e fiscal e fornecer toda a documentação necessária. • Cambial: a empresa deve providenciar a contratação cambial para a realização do recebimento do importador, em moeda estrangeira, nos bancos autorizados a emitirem o contrato de câmbio (CC). • Fiscal: a empresa deve contratar um despachante aduaneiro para a liberação do produto (desembaraço aduaneiro) para embarque. A gestão integrada desses procedimentos é coordenada com os prestadores de serviços envolvidos, como despachante aduaneiro e transportadores, e deve ser realizada com planejamento e atenção a fim de evitar que atrasos aconteçam nos embarques, poupando reclamações dos clientes no exterior e custos de estadia ou armazenagem desnecessários. 6.10.2 Importação: procedimentos operacionais Importação representa a maior parte dos negócios das empresas brasileiras e consiste na compra de produtos no exterior acompanhada de documentos oficiais e amparada sob as normas cambiais, comerciais e fiscais em vigor entre os países envolvidos, conforme as normas internacionais. 1 Planejamento 6 Negociar a forma de pagamento: remessas sem saque, carta de crédito ou cobrança 11 Contratrar despachante aduaneiro para o desembaraço junto a Secretaria da Receita Federal 2 Contato com potenciais fornecedores 7 Receber a fatura proforma e obter a Licença de Imporatação (LI) se necessário 12 Emissão da Declaração de Importação (DI) e recolhimento dos impostos 3 Identificar o NCM, tratamento administrativo e tributário 8 Fechar o negócio confirmando a fatura por forma para o exportador 13 Solicita o despacho aduaneiro 4 Estimar o custo da importação 9 Autorizar o embarque da mercadoria pelo exportador 14 Contratação de câmbio para pagamento em moeda estrangeira 5 Negociar com o exportador condições de venda (Incoterm), contratação de frente e seguro 10 Acompanhar o embarque e a chegada da carga 15 Fim Fluxograma de importação Figura 36 Fonte: Brasil (s.d.). 114 Unidade III De forma análoga aos procedimentos de exportação, podemos ver que os procedimentos e ações necessários nas importações exigem das empresas uma ação ampla e coordenada com outros prestadores de serviços para que os objetivos sejam alcançados. A importação é feita pelas seguintes etapas: • Comercial: a empresa escolhe o produto a ser importado e a origem do país e avalia se as importações possuem restrições legais, negociando as condições de compra como pagamento, meio de transporte, Incoterm, preço e informa os documentos necessários ao exportador para a entrada no Brasil. • Administrativa: caso necessário, a empresa deve solicitar a autorização para importação dos órgãos gestores do sistema e dos anuentes como Anvisa, Ibama e Decex, e o processo administrativo envolve a emissão da autorização para a importação, que pode variar de acordo com a complexidade da operação que estará completa após a emissão da Licença de Importação (LI). • Cambial: a empresa deve efetuar o pagamento ao exportador em moeda estrangeira no banco autorizado a operar com câmbio. • Fiscal: a empresa deve providenciar a retirada do produto da alfândega (despacho aduaneiro), que compreende a retirada da mercadoria mediante o recolhimento dos impostos devidos. Conforme a regulamentação nacional, as importações podem ser: • Definitivas: quando o produto importado é nacionalizado através da nacionalização, que consiste na transferência do país de origem (exportador) para o país de destino (importador), no Brasil documentada pela Declaração de Importação (DI) • Não definitivas: quando produtos não são nacionalizados e ficam sob o regime aduaneiro especial, eles permanecem por um prazo determinado no país e são retornados ao local de origem. 6.11 Transportes internacionais Conforme vimos nos dados apresentados na pesquisa CNI/FGV (2006), as empresas brasileiras que atuam no comércio exterior destacam a questão dos custos de transportes nacionais e internacionais como fator crítico, trata-se de um dos principais problemas do Brasil e as questões de transportes são centrais, pois a definição da modalidade de transporte tanto para importações quanto para exportações é um elemento crítico de sucesso, devendo levar em consideração vários aspectos, como a localização geográfica, características dos produtos, condições técnicas de manuseio, tempo de viagem (transit-time) e custos envolvidos. 115 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Tabela 13 – Utilização de modais no transporte internacional Modal Utilização (%) Rodoviário 18,7% Aéreo 23,2% Marítimo 57,4% Fluvial 0,6% Fonte: CNI (2018). O transporte internacional, em função da diversidade de empresas, locais, legislação e países envolvidos é uma atividade regida por uma extensa gama de normas e regulamentos aceitos pelos países que buscam adaptações para atender às regras estabelecidas. Os principais modais no comércio internacional são: Modal marítimo O tráfego marítimo evoluiu muito, e a modernização dos portos permitiu o rápido crescimento do comércio mundial, que está dividido por regiões geográficas e países através das rotas e escalas elaboradas por organizações privadas, conhecidas como conferências de fretes que representam as companhias de navegação e determinam a regularidade das viagens e as tarifas cobradas das empresas conforme os fluxos comerciais e as condições operacionais dos portos. Os navios possuem vantagens operacionais decisivas em função da elevada capacidade de carga que podem transportar,competitividade devido aos baixos custos de fretes e flexibilidade de transportar para uma grande quantidade de países. A operação comercial dos navios pode ser contratada com armadores, companhias de navegação e operadores autorizados em três condições principais: • Tramp: contrata-se navios que operam com um tipo de produto, normalmente a granel. Ele é sujeito à sazonalidade na produção e no embarque, como os produtos agrícolas do Centro-Oeste e Norte, sendo contratado por viagens de acordo com a necessidade do embarcador e disponibilidade do proprietário, trata-se dos charters. • Liner: trata-se do modelo mais comum, usado por exportadores e importadores e tem como características a associação de armadores entre si através da associação a uma conferência de fretes ou companhia de navegação, tendo uma base de clientes internacionais que atuam com frequência no comércio mundial. • Outsider: aqui as rotas são específicas, conforme os interesses comerciais, sendo preestabelecidas por meio do uso de portos determinados. Não existe a necessidade de tráfego em outros portos. 116 Unidade III Os navios são propriedades das companhias de navegação, mas os portos e armazéns podem pertencer a entidades públicas locais e a empresas privadas, e, no Brasil, apesar da privatização nos anos 1990 de alguns serviços em portos e aeroportos em localidades específicas, certos processos continuam governamentais conforme as leis nacionais, como a administração portuária, gestão dos serviços de estiva e auxiliares e coordenação da marinha mercante. Tipos de cargas e unitização Conforme Keedi (2007), as cargas transportadas estão divididas em dois grupos principais: carga geral e carga a granel, que podem ser transportadas em três condições básicas. São elas: • Carga a granel: cargas transportadas em navios graneleiros sem embalamento, por exemplo, produtos minerais, agrícolas, combustíveis e gases. • Carga individual: cargas que geralmente podem ser transportadas em navios próprios como veículos (roll-on, roll-off) ou cargueiros. • Carga unitizada: cargas padronizadas que permitem transporte, manuseio e movimentação em equipamentos comuns como paletes e contêineres, que reduzem avarias, perdas materiais e de tempo, bem como custos de fretes e embalagens. Figura 37 Disponível em: https://bit.ly/3tqNRbS. Acesso em: 8 jun. 2022. A padronização de dimensão e volume das cargas a serem transportadas no comércio internacional foi um fator de grande impulso comercial e de redução de custos de fretes em função da capacidade de acondicionar e transportar volumes padronizados que otimizam o espaço e o empilhamento em navios e aviões. 117 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Denomina-se unitizar o trabalho de tornar único ou transformar volumes e cargas de dimensões diferentes em cargas e volumes iguais, o que permite a otimização dos espaços, reduz as movimentações e diminui o frete aos armadores e às companhias de navegação. Lembrete Os contêineres foram desenvolvidos nos Estados Unidos na década de 1930, são caixas de metal com diversas medidas e especificações técnicas com portas e travas de fechamento feitos de madeira ou aço, eles podem ser transportados em navios, aviões, caminhões e ferrovias. Existem em operação diversos tipos de contêineres desenvolvidos conforme as características das cargas e das condições de transporte e manuseio e que variam principalmente em termos de dimensões (altura, largura e comprimento), capacidade de carga, refrigeração e sistema de abertura e fechamento (lateral, fundo, superior). Os dois principais tipos de contêineres em utilização são: dry (seco) de 20’ (vinte pés), que comporta de 20 a 27 toneladas; e o de 40’ (quarenta pés), que comporta aproximadamente entre 31 e 36 toneladas. Para produtos refrigerados, existem os contêineres com controle de temperatura, denominado reefer (frigorífico), que possuem paredes de aço isoladas que permitem o controle de temperatura conforme o valor determinado de acordo com as características dos produtos transportados como o isotank (contêiner tanque), que é utilizado no transporte de gases e produtos químicos e perigosos. Tipos de contêiner marítimo Em relação aos procedimentos de carregar e descarregar, utilizam-se as expressões ova ou estufagem (stuffing), para se referir à colocação de carga no contêiner; e desova (unstuffing), para a retirada da carga do contêiner. No caso da estufagem de produtos diferentes, os embarcadores devem verificar a compatibilidade da consolidação de itens distintos, como produtos químicos e alimentos no mesmo contêiner, e respeitar os limites de empilhamento dos navios. Saiba mais Para conhecer melhor os tipos de contêiner, acesse: LOGAMERICA. Os principais tipos de contêineres. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3HcgLlY. Acesso em: 8 jun. 2022. 118 Unidade III 6.12 Documentação internacional Entre os procedimentos administrativos para a realização dos processos de importação e exportação, existe a necessidade de elaborar a documentação padrão internacional para transporte das cargas entre os diversos portos e aeroportos do mundo e que são padronizados de forma a permitir a correta movimentação e liberação das cargas. Os principais documentos utilizados no comércio internacional são: • Proforma invoice: documento emitido pelo importador que representa a formalização do pedido de importação no exportador e apresenta os dados de produtos, volumes, quantidades, preços, prazos de entrega, Incoterm, moeda e condições de pagamentos. • Commercial invoice: documento oficial emitido pelo exportador que representa a fatura comercial dos produtos, ele será utilizado nos procedimentos aduaneiros de exportação e liberação no local de desembarque ou destino. • Conhecimento de embarque: documento emitido pelo transportador atestando a responsabilidade e gestão da carga entre os locais de embarque e desembarque, que recebe denominação específica conforme o modal. Pode ser B/L (bill of lading) no transporte marítimo e AWB (air waybill) no transporte aéreo. • Packing list: documento emitido pelo exportador, conhecido como romaneio de embarque, ele descreve e relaciona os produtos embarcados no que diz respeito ao volume total, quantidade de caixas, número de lote, validade, peso líquido/bruto de forma a permitir a conferência física dos volumes enviados e recebidos por autoridades alfandegárias e transportadores. • Certificado de origem: documento emitido por entidades credenciadas pelo poder público que atesta que as mercadorias foram produzidas no local de origem e são essenciais para a entrada em países onde existem acordos comerciais preferenciais em termos de impostos e tributos. Além dos documentos descritos, as empresas devem emitir a nota fiscal de remessa ao local de embarque e providenciar o cadastro no registro de exportadores e importadores (REI) do Siscomex e preencher os registros eletrônicos como o Registro de Venda (RV), registro de exportação (RE), registro de operação de crédito (ROC) e apresentar o contrato de câmbio. A legislação internacional dos países exportadores ou importadores e as normas nacionais poderão solicitar às empresas apresentação de documentos específicos conforme as características dos produtos, origem e finalidade, condições especiais de manuseio e movimentação e permissão de entrada. Em relação ao transporte, o documento mais importante é o conhecimento de embarque, que deverá conter a informação do Incoterm negociado entre as empresas e apontar os locais onde as cargas deverão ser acondicionadas ou retiradas dos contêineres e informar quem deverá ser responsável por esta movimentação (transportador ou exportador/importador). 119 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Locais de carregamento e descarregamento A estufagem e a desova dos contêineres devem ser contratadas no momento da reserva do espaço no navio, bem como a definição do responsávelpelos custos e pela execução da operação, que deve ser em local predeterminado entre o armador e o embarcador, conforme as condições descritas nos seguintes termos: • House to House (H/H): a estufagem é realizada nas dependências do exportador e a desova é executada nas dependências do importador. • House to Pier (H/P): a estufagem é realizada nas dependências do exportador e a desova é executada no porto. • Pier to Pier (P/P): a estufagem e a descarga são realizadas nos portos de embarque e desembaque. • Pier to House (P/H): a estufagem é realizada no porto e a desova é executada nas dependências do importador. A designação dos termos citados deverá constar na documentação internacional e no conhecimento de embarque. Lembrete Unitização é o agrupamento de diversos volumes de mercadorias que são acondicionadas de modo a constituírem unidades maiores, de tipo e formato padronizado, com objetivo de efetuar o movimento desde a plataforma de embarque do expedidor até o recebimento do consignatário. Responsabilidade de carga/descarga De forma análoga, o conhecimento de embarque internacional deverá incluir em relação à responsabilidade por estufar ou desovar os contêineres os seguintes termos técnicos utilizados no comércio internacional: • FCL (full container load): responsabilidade do importador e do exportador. • LCL (less than container load): responsabilidade do armador. Tipos de navios Os navios são construídos para atender ao transporte internacional, conforme o tipo de mercadorias, e são construídos por armadores e companhias de navegação. São eles: 120 Unidade III • Cargueiros: navios para o transporte de carga geral com porões divididos, de modo que possam ser estivados nos portos para vários tipos de carga. Figura 38 – Navio de carga geral Disponível em: https://bit.ly/3E5SPgI. Acesso em: 13 jun. 2022. • Granel: navios para o transporte de cargas a granel com porões sem divisões e providos de cantos arredondados para facilitar a estiva, são construídos de forma a ter baixo custo operacional e realizar o transporte de mercadoria de pouco valor. Figura 39 – Navio graneleiro Disponível em: https://bit.ly/31Z5oO9. Acesso em: 13 jun. 2022. • Tanques: navios para o transporte de granéis líquidos com equipamentos para bombear a carga para dentro e para fora de bordo. Figura 40 – Navio tanque Disponível em: https://bit.ly/3qY87l1. Acesso em: 13 jun. 2022. 121 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS • Roll-on, roll-off: navios próprios para o transporte de automóveis que possuem rampas com acesso direto do cais ao navio, eles podem ser embarcados e desembarcados com os próprios movimentos, reduzindo os custos de embarque e desembarque. Alguns navios são especiais para o transporte de carretas ou boogies (contêineres sobre rodas) com uso do transporte rodoviário para dentro do navio apanhando a carga e, depois, para fora, retirando-a. Figura 41 – Navio roll-on, roll-off Disponível em: https://bit.ly/3cf5G4S. Acesso em: 13 jun. 2022. • Porta-contêiner: navios de uso exclusivo para o transporte de contêineres que são alocados nos porões e operados por guindastes portuários. Figura 42 – Porta-contêiner Disponível em: https://bit.ly/3HuI3Uk. Acesso em: 13 jun. 2022. Modal aéreo O transporte de cargas através de aeronaves está em crescimento em função de permitir maior velocidade no atendimento às necessidades das empresas, sendo considerado o modal mais rápido entre todos, visto que permite atender em horas o que outros modais precisam de dias e/ou semanas. Ao contrário do modal marítimo, a utilização de aeronaves restringe-se a alguns aspectos, como a reduzida capacidade de carga e os maiores custos com fretes, sendo ideal para produtos de alto valor agregado e entregas urgentes. Apesar de contar com aviões cada vez maiores, o custo do transporte aéreo restringe sua utilização. 122 Unidade III Tipos de aeronaves As companhias aéreas podem ter aeronaves próprias ou utilizar o sistema de leasing (aluguel) e fretamento no qual são responsáveis pelas mercadorias desde o recebimento nos terminais nos aeroportos até a entrega aos destinatários. Conforme Keedi (2007), o conjunto de aeronaves em operação pode ser dividido em três tipos, conforme as características das aeronaves com relação à autonomia de voo, porte e capacidade de carga, bem como à disponibilidade de espaço interno e de forma análoga ao modal marítimo, as cargas também são unitizadas com o uso de paletes e contêineres específicos. Full pax (passageiros) Trata-se de aeronaves de uso exclusivo para o transporte de passageiros com a parte superior destinada ao transporte de pessoas e a parte inferior para o transporte de bagagens. Figura 43 Disponível em: https://bit.ly/3NILvgM. Acesso em: 13 jun. 2022. Full cargo (cargueiro) Trata-se de aeronaves de uso exclusivo para transporte de cargas que possuem maior capacidade de transporte de mercadorias e utilizam tanto a parte superior quanto a parte inferior. Como exemplo, podemos citar as empresas Fedex e DHL. Figura 44 Disponível em: https://bit.ly/3QhKJZS. Acesso em: 13 jun. 2022. 123 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Combi (passageiros/cargas) Neste grupo está a maior parte das aeronaves que combinam a utilização da parte superior para o transporte de passageiros e a parte inferior para o transporte de cargas. Figura 45 Disponível em: https://bit.ly/3HdfSJM. Acesso em: 13 jun. 2022. 6.13 Termos Internacionais de Comércio (Incoterms) O crescimento do comércio internacional após a II Guerra Mundial e a proliferação dos acordos de livre comércio, bem como o aumento da difusão de novas tecnologias de comunicação, fez surgir a necessidade de maior regulamentação internacional sobre as operações comerciais mundiais. As relações comerciais internacionais são regidas por regras definidas pela Câmara de Comércio Internacional (CCI), que define e estabelece as responsabilidades sobre transportes e custos nos contratos comerciais internacionais, incluindo perdas e danos. A primeira publicação dos Incoterms foi em 1936, já a última atualização ocorreu em 2010 com a definição de 11 termos com regras relativas aos créditos documentários; eles são utilizados por quase todos os participantes do comércio internacional e aplicados por importadores e exportadores no transporte marítimo, terrestre e aéreo. Podemos definir Incoterms como cláusulas contratuais comerciais incluídas nos contratos de compra e venda que determinam a condição de entrega dos produtos e o momento em que se dará a transferência da responsabilidade jurídica entre o comprador e o vendedor. Eles são representados por siglas que utilizam 3 letras, sendo divididos em 4 grupos que distinguem as responsabilidades de cada uma das partes em detrimento da outra. Além das condições específicas de cada Incoterm, podem ser classificados em dois grupos distintos os quais se aplicam a qualquer modal de transporte e a outro grupo que se aplica ao modal aquaviário (marítimo, fluvial e lacustre). São eles: • Qualquer modal: EXW, FCA, CIP, CPT, DAP, DAT, DDP. • Modal aquaviário: FAZ, FOB, CFR, CIF. 124 Unidade III Consta na sequência a referência utilizada para os Incoterms (2010) com as respectivas atribuições divididas entre as responsabilidades reivindicadas para os exportadores (vendedores) e para os importadores (compradores). Vejamos suas atribuições e características: • Grupo E de Ex – Partida (mínima obrigação para o exportador). Mercadoria entregue ao comprador no estabelecimento do vendedor. • EXW (Ex Works), ou em português, “no local de produção”. O exportador acondiciona a mercadoria na embalagem de transporte (caixa, saco) e disponibiliza-a em seu próprio estabelecimento. Cabe ao importador estrangeiro adotar todas as providências para retirada da mercadoria do estabelecimento do exportador, tais como transporte interno, embarque para o exterior, licenciamentos, contratações defrete e de seguro internacionais etc., sem que esteja desembaraçada para exportação e não carregada em qualquer veículo coletor. Não deve ser utilizado quando o importador não está apto para, direta ou indiretamente, obter os documentos necessários à exportação da mercadoria. • Grupo F de Free (transporte internacional não pago). Mercadoria entregue a um transportador indicado pelo comprador. Os Incoterms são FCA, FAS, FOB: • FCA (Free Carrier), ou seja, “transportador livre” (local designado). O exportador entrega a mercadoria, desembaraçada para exportação, aos cuidados do transportador internacional indicado pelo importador, no local designado do país de origem. Se a entrega ocorrer na propriedade do exportador, ele fica responsável pelo embarque. Se a entrega ocorrer em qualquer outro lugar, o exportador não o será. Cabe ao importador contratar frete e seguro internacionais. • FAS (Free Alongside Ship), traduzido como “livre no costado do navio” (no porto de embarque). O exportador coloca a mercadoria ao longo do costado do navio transportador, no porto de embarque. Ele contrata frete e seguro internacionais, além de ser o responsável pelo desembaraço das mercadorias para exportação. • FOB (Free On Board), que significa “livre a bordo” (no porto de embarque designado). A responsabilidade do exportador sobre a mercadoria vai até a transposição da amurada do navio, no porto de embarque, embora a colocação dela a bordo do navio seja também, em princípio, sua tarefa. O exportador é o responsável pelo desembaraço das mercadorias para exportação. O importador contrata o frete internacional. O exportador precisa conhecer qual o termo marítimo acordado entre o importador e o armador, a fim de verificar quem deverá cobrir as despesas de embarque da mercadoria. 125 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS • Grupo C de Cost ou Carriage (transporte principal pago pelo exportador). O vendedor contrata o transporte, sem assumir riscos por perdas ou danos às mercadorias ou custos adicionais decorrentes de eventos ocorridos após o embarque ou despacho. Os Incoterms são CFR, CIF, CPT e CIP: Nos termos CFR, CIF, CPT e CIP, o local nomeado difere do de entrega. O local nomeado é aquele até onde o transporte é pago. O local de entrega, com transferência do risco, é designado entre as partes no país do vendedor. • CFR (Cost and Freight), que significa “custo e frete” até o porto de destino designado. O exportador assume todos os custos anteriores ao embarque internacional, bem como a contratação do frete internacional para transportar a mercadoria até o porto de destino indicado. Os riscos por perdas e danos no produto são transferidos do exportador para o importador ainda no porto de carga (como no FOB). A venda propriamente dita ocorre no país do exportador. Ele desembaraça as mercadorias para exportação. • CIF (Cost, Insurance and Freight), que representa “custo, seguro e frete” até o porto de destino designado. O exportador tem as obrigações do CFR e, adicionalmente, contrata o seguro marítimo contra riscos de perdas e danos durante o transporte. Como a negociação ainda ocorre no país do exportador (a amurada do navio, no porto de embarque, é o ponto de transferência de responsabilidade sobre a mercadoria), o importador deve observar que no termo CIF o exportador somente é obrigado a contratar seguro com cobertura mínima. O exportador desembaraça as mercadorias para exportação. • CPT (Carriage Paid to...), que significa “transporte pago até...” (local de destino designado). O exportador contrata o frete pelo transporte da mercadoria até o local designado. Os riscos de perdas e danos na mercadoria, bem como quaisquer custos adicionais devidos a eventos ocorridos após a entrega da mercadoria ao transportador são transferidos pelo exportador ao importador, quando o item é entregue à custódia do transportador. O exportador desembaraça os produtos para exportação. • CIP (Carriage and Insurance Paid to...), que se traduz em “transporte e seguros pagos até...” (local de destino). O exportador tem as obrigações definidas no CPT e, adicionalmente, arca com o seguro contra riscos de perdas e danos da mercadoria durante o transporte internacional. O importador deve observar que no termo CIP o exportador é obrigado apenas a contratar seguro com cobertura mínima, visto que a venda (transferência de responsabilidade sobre a mercadoria) se processa no país do exportador. O exportador desembaraça as mercadorias para exportação. • Grupo D de Delivery – Chegada – (máxima obrigação para o exportador). O vendedor se responsabiliza por todos os custos e riscos para colocar a mercadoria no local de destino. 126 Unidade III Os Incoterms são DAT, DAP e DDP: • DAT (Delivered at Terminal) foi criado em substituição ao termo DEQ. Com a utilização desse novo termo, a mercadoria poderá ser entregue em um terminal portuário, como já ocorria com o DEQ, ou em outro terminal localizado fora do porto de destino. • DAP (Delivered at Place), por sua vez, surgiu em substituição aos termos DAF, DES e DDU. Utilizando-se esse novo Incoterm, a mercadoria poderá ser entregue no porto de destino, ainda dentro do navio transportador e antes de ser desembarcada para importação, conforme já ocorria com o termo DES, ou em qualquer outro local, como acontece com os termos DAF e DDU, mediante os quais a mercadoria será entregue na fronteira (DAF) ou em algum local no interior do país de destino que for designado pelo comprador (DDU). Em ambos os casos, ela também será entregue antes do seu desembaraço de importação. • DDP (Delivered Duty Paid) – “entregue com direitos pagos” no local de destino designado. O exportador entrega a mercadoria no local designado do país de destino final, desembaraçada para importação. O exportador assume todos os riscos e custos, inclusive impostos, taxas e outros encargos incidentes na importação. Esse Incoterm é o que oferece o maior grau de responsabilidade para o vendedor, permitindo oferecer um nível de serviço muito maior que em qualquer outro termo/grupo, gerando mais valor ao produto exportado. O termo DDP não deve ser utilizado quando o exportador não está apto para, direta ou indiretamente, obter os documentos necessários à importação da mercadoria. Além das condições contratuais entre comprador e vendedor, há aquelas de frete, que são definidas tomando-se por base sempre o armador (transportador), definindo os responsáveis pelo pagamento das demais despesas inerentes ao transporte de mercadorias, que dizem respeito aos gastos com embarque, arrumação da carga no navio (denominada estiva) e desembarque, desconsiderando despesas de capatazias, que são pagas à administração portuária pela utilização do porto, bem como sua colocação no costado do navio. Lembrete Incoterms são termos comerciais utilizados por exportadores e importadores para atribuir responsabilidades referentes à contratação do transporte, pagamento de fretes e seguros e a definição do local de entrega da mercadoria para embarque/desembarque, sendo representados por três letras e suas regras definidas pela Câmara de Comércio Internacional (CCI). As empresas que atuam no comércio internacional precisam dominar e compreender bem a forma de utilização dos Incoterms de modo a permitir a definição das melhores condições de custos logísticos relevantes para o sucesso comercial no exterior. 127 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Constam a seguir algumas características a serem compreendidas sobre os Incoterms: • São cláusulas contratuais que atribuem responsabilidade e custos com respaldo operacional e jurídico internacional. • Não interferem nos contratos de transportes das mercadorias realizados por prestadores de serviços terceirizados. • Não incluem as negociações internacionais de bens intangíveis ou serviços. • Funcionam como um divisor de custos, riscos e tarefas e não produzem efeitos vinculantes para despachantes,seguradoras e transportadores. As empresas que atuam na prestação de serviços logísticos do Brasil, conforme a área de atuação, precisam inovar na gestão e desenvolver diferenciais competitivos caso pretendam sobreviver nos mercados e produzir resultados consistentes. Em razão desses aspectos, os gestores podem dispor de novas formas de atuação operacional e técnica para reduzir os custos dos serviços logísticos, começando com o mapeamento e a avaliação dos processos atuais e a quantificação dos custos envolvidos. A partir desse mapeamento, podem surgir novos padrões de desempenho e o estabelecimento de um plano de ação por meio da terceirização das operações, notadamente, das atividades de distribuição física e transportes. 128 Unidade III Resumo Nesta unidade, aprendemos como os gestores dos serviços logísticos podem trabalhar para reduzir custos e aumentar a produtividade no mercado das empresas. Observamos que entre as ações avaliadas pelos gestores para elevar a produtividade está a questão da terceirização dos serviços de distribuição física por meio da contratação dos centros de distribuição (CD) como forma de dispor de estoques em posições próximas aos mercados de maior consumo, reduzindo os prazos de entrega e elevando a satisfação dos clientes cada vez mais exigentes. Demonstramos que a gestão de frotas pode ser realizada por meio de frotas com veículos próprios, alugados ou contratados, fato capaz de reduzir custos com aquisição de veículos, manutenção e pessoal, além de criar um diferencial em relação à concorrência. Vimos como a adoção de novas tecnologias de informação e comunicação conseguem aumentar o controle e melhorar o desempenho dos serviços logísticos através de roteirizadores de entregas, aplicativos móveis, adoção de sistemas integrados com o TMS, entre outros, assim como integrar as empresas que fazem parte da rede de parceiros. Por fim, entendemos que os custos dos serviços logísticos para as empresas que atuam no comércio internacional são um desafio aos prestadores de serviços em função da complexidade das normas nacionais e das limitações na infraestrutura dos portos e fronteiras, bem como as burocráticas normativas das operações de entrada e saída de mercadorias do Brasil. 129 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Exercícios Questão 1 (Cesgranrio 2010, adaptada). A escolha do melhor modal de transporte está condicionada às características físicas da carga a ser transportada e aos fatores de desempenho oferecidos pelos modais disponíveis. Com relação aos modais de transporte e às suas características, assinale a alternativa correta. A) O transporte ferroviário é recomendado para cargas de quaisquer tamanhos, em situações em que o fator rapidez da entrega é preponderante sobre os demais fatores. B) O transporte aéreo é recomendado para cargas cujo prazo de entrega é o fator preponderante. C) O transporte rodoviário é recomendado para cargas de quaisquer tamanhos, e o risco associado a esse tipo de transporte é considerado o menor dentre todos os modais. D) O transporte marítimo oferece o maior custo para qualquer tipo de carga. E) O transporte dutoviário é usado predominantemente para deslocamento de cargas líquidas e sólidas unitizadas. Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o modal ferroviário é recomendado para cargas de grande volume e geralmente apresenta baixa velocidade relativamente a outros modais, como o aéreo. B) Alternativa correta. Justificativa: o modal aéreo é o mais rápido dentre os modais de transporte, mas é o mais oneroso. Assim, seu alto custo é justificável em casos em que a urgência da entrega é um fator muito relevante. C) Alternativa incorreta. Justificativa: o modal rodoviário é recomendável para cargas de tamanho menor que aquele suportado pelos modais ferroviário e marítimo. Além disso, esse modal é muito sujeito a riscos de acidentes e roubos. 130 Unidade III D) Alternativa incorreta. Justificativa: o transporte marítimo apresenta baixo custo, alta capacidade de carga e longa demora de transporte. E) Alternativa incorreta. Justificativa: o modal dutoviário utiliza pressão mecânica ou força da gravidade para trafegar cargas (líquidas, sólidas ou gasosas) a granel por meio de tubulações. Como a carga trafega em tubos, não é comum utilizar procedimentos de unitização, como a conteinerização ou a paletização. Questão 2. Em relação às ferramentas da Tecnologia de Informação (TI) usadas na gestão logística e de processos, analise a descrição feita nas afirmativas a seguir. I – Trata-se de ferramentas de gestão que englobam desde o controle de portaria até a expedição e o carregamento, passando por todas as etapas da movimentação e da armazenagem de mercadorias. Não são ferramentas de intercâmbio eletrônico de dados que permitem uma troca direta de dados por computadores. II – Trata-se de ferramentas que visam à gestão da empresa como um todo, visto que integram todas as áreas funcionais e criam um fluxo contínuo de processos. Monitoram pedidos e recebimentos de matérias-primas, tempos de produção e níveis internos de estoque. III – Trata-se de ferramentas que foram desenvolvidas para o gerenciamento de frotas e fretes. Logo, são responsáveis por programar embarques, rastrear cargas em movimento e indicar rotas. As descrições I, II e III referem-se, respectivamente, às ferramentas: A) Enterprise Resource Planning (ERP); Warehouse Management System (WMS); Transportation Management System (TMS). B) Transportation Management System (TMS); Warehouse Management System (WMS); Enterprise Resource Planning (ERP). C) Warehouse Management System (WMS); Enterprise Resource Planning (ERP); Transportation Management System (TMS). D) Warehouse Management System (WMS); Transportation Management System (TMS); Enterprise Resource Planning (ERP). E) Transportation Management System (TMS); Enterprise Resource Planning (ERP); Warehouse Management System (WMS). Resposta correta: alternativa C. 131 GESTÃO DE CUSTOS E TRIBUTOS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS Análise das afirmativas I – Ferramentas do tipo Warehouse Management System (WMS) atuam desde o controle de portaria até a expedição e o carregamento, passando por todas as etapas de movimentação e armazenagem de mercadorias. Não são ferramentas de intercâmbio eletrônico de dados que permitem uma troca direta de dados por computadores. II – Ferramentas do tipo Enterprise Resource Planning (ERP) visam à gestão da empresa como um todo, visto que integram todas as áreas funcionais e criam um fluxo contínuo de processos. Monitoram pedidos e recebimentos de matérias-primas, tempos de produção e níveis internos de estoque. III – Ferramentas do tipo Transportation Management System (TMS) foram desenvolvidas para o gerenciamento de frotas e fretes. Logo, são responsáveis por programar embarques, rastrear cargas em movimento e indicar rotas.