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ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING Fabiana Tramontin Bonho Canais de distribuição Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os principais canais de distribuição do mercado. Diferenciar os canais de distribuição pelo tipo de uso. Identificar conflitos e tendências desses canais. Introdução No canal de distribuição, ocorre o processo de tornar os produtos ou serviços disponíveis aos clientes. Esse processo envolve pessoas, empre- sas e, na maioria das vezes, os intermediários, que são os agentes que possibilitam que esse processo ocorra de maneira eficaz. Com a internet, as vendas estão ocorrendo cada vez mais pelo ca- nal de venda direto, mas nem por isso deixou-se de lado a utilização dos canais de distribuição, pois esses produtos comprados via internet precisam chegar até o consumidor final. Por isso, é necessário que os gestores estejam preparados com estratégias para oferecer diferentes tipos de canais, e, assim, há uma tendência de que as empresas utilizem mais o sistema de multicanais. Neste capítulo, você vai estudar os principais canais de distribuição do mercado, vai conhecer os diferentes tipos de canais identificados pelo uso e, além disso, vai aprender sobre os conflitos e tendências desses canais. Os principais canais de distribuição do mercado Os canais de distribuição ou canais de marketing podem ser entendidos como o meio utilizado para entregar os produtos ou serviços ao cliente, sendo o elo de ligação entre o negócio e o público-alvo, segundo Ashoka Empreendedores Sociais e Mckinsey & Company, Inc (2001), que cita os dois tipos de canais de distribuição que você confere a seguir. Canais de venda direta: a venda é realizada diretamente ao cliente, como, por exemplo, por meio da visita de vendedores, lojas próprias nas ruas e também nos shoppings, pela internet, dentre outros. No caso da prestação de serviço, o cliente vai até loja e contrata um determinado serviço. Outro exemplo é o serviços pelo número 0800, em que o con- sumidor telefona e contrata o serviço. Canais de venda indireta: as vendas são realizadas primeiramente a um intermediário e, após, ao cliente. Por exemplo, os revendedores autorizados, distribuidores, cadeias de varejos, dentre outros. Nesse canal, quando forem serviços, temos os exemplos das franquias de ser- viços, como os correios, os revendedores autorizados, como corretores de seguros, imóveis, dentre outros. Xavier (2009) conceitua canal de distribuição como um sistema organizado de instituições e órgãos que, juntos, executam todas as funções necessárias para ligar os produtos aos consumidores. Em alguns casos, o canal pode estar composto apenas pelo fabricante que comercializa diretamente com os consumidores e, em outros os canais, pode ser constituído pelo fabricante e um ou mais revendedores. Corroborando, Strehlau e Telles (2006) trazem que a gestão da distribuição (Figura 1) corresponde ao processo, à estrutura e administração dos bens e dos serviços com a finalidade de torná-los disponíveis para as trocas, envolvendo estrutura, atividades dos agentes presentes nos canais, operações de atacado e varejo, distribuição física, e incluindo, também, os aspectos logísticos de planejamento, transporte e armazenagem, entre outras variáveis relacionadas ao fluxo de conexão entre produção e consumo. Figura 1. Distribuição. Fonte: Adaptada de Strehlau e Telles (2006). Canais de distribuição2 Strehlau e Telles (2006) destacam, ainda, que a gestão de canais de marke- ting tem grande relevância na organização devido ao fato de representar uma grande parte dos custos variáveis dos produtos. Por esse motivo, é necessário compreendê-la como aspecto essencial na potencialização das venda, o que ocorre devido a três fatores que ocorrem: por tornar possível a compra; por aumentar o valor percebido pelo consumidor; pelo custo, isto é, pela dificuldade de localização ou espera na entrega. Os autores também relatam que os canais de marketing podem ser citados como sistemas de fluxo e transporte, assim, demandando estrutura física, lógica e transacional. A estrutura física é formada por área de armazenagem, pelos meios de transportes, instalações de acondicionamento, isto é, elementos que garantem ligação entre produção e consumo. A estrutura lógica pode ser entendida como o mapa de deslocamento e de pontos de estocagem, en- volvendo os meios de transportes e intermediários. A estrutura transacional pode ser compreendida como o conjunto de relacionamentos comerciais, fontes de financiamento, parcerias, acordos potenciais entre os agentes da cadeia distributiva. Eles ainda comentam que os canais de distribuição têm uma função muito importante, não apenas por favorecer o escoamento dos produtos e estabelecer conexão entre as esferas de produção e consumo, mas por realizarem outras atividades que viabilizam o processo produtivo e de comercialização, como exercer o papel de financiamento da produção e do consumo, fonte de informações sobre o mercado produtos e cliente. Nessa visão operacional e estratégica, a distribuição tem três funções básicas: funções transacionais: atividades que envolvem a compra e venda, envolvendo risco na operação, por propriedade, transporte, armaze- nagem e administração; funções logísticas: atividades de concentração do produto, armazena- mento, distribuição física; funções de facilitação: atividades de estímulo e favorecimento dos processos de compra e venda, da produção ao consumo. Assim, as funções dos canais de marketing (Figura 2) têm o objetivo principal centrado na eficiência da distribuição dos produtos e serviços ao consumidor. 3Canais de distribuição Figura 2. Funções pontenciais dos canais de distribuição. Fonte: Adaptada de Strehlau e Telles (2006). Farias, Duschitz e Carvalho (2015) descrevem os seguintes níveis de canal (Figura 3). Um canal de nível zero, conhecido também como marketing direto, é identificado assim quando um fabricante vende diretamente ao consu- midor final. São exemplos desse canal as vendas porta em porta, mala direta, pela internet, entre outras. Um canal de nível um conta com um único intermediário, como, por exemplo, um varejista. Um canal de nível dois conta com dois intermediários, que podem ser um varejista e outro atacadista. Um canal de nível três contém três intermediários — além do varejista e do atacadista, pode contar com um varejista/atacadista especializado, como nas indústrias de alimentos processados e de bebidas. Figura 3. Níveis de canal. Fonte: Farias, Duschitz e Carvalho (2015, p. 151). Canais de distribuição4 Outro fato importante dentro dos tipos de canais de distribuição apresentado por Farias, Duschitz e Carvalho (2015) é a sua estrutura. Já que uma estra- tégia bem planejada é essencial para o sucesso do negócio, as decisões que envolvem as estruturas de canais afetam diretamente o resultado de todas as empresas que compõem a cadeia de suprimentos. Assim, pode-se optar pode três estratégias de distribuição. Exclusiva: limita o número de intermediários para obter deles maior dedicação e aperfeiçoamento nos estágios de pré-venda, venda e pós- -venda. Para isso, depende de uma parceria mais estreita entre a empresa e o revendedor. Quem escolhe esta estratégia está preocupado em atender segmentos de mercado bem definidos. Seletiva: utiliza determinados intermediários para comercializar um produto especifico em uma determinada região. É mais utilizada em mercados em que os consumidores buscam realizar comparações entre produtos e marcas antes da decisão de compra e também em mercados que se preocupam com os serviços de pós-vendas. Intensiva: utiliza a disponibilização de um produto ou serviço no maior número de revendedores ou canais de vendas possível. É utilizada princi- palmente em produtos de conveniência, como bens de consumo em geral. O gerenciamento e aestratégia de canal de marketing tem sofrido alterações, passando a ganhar maior relevância com a implantação do comércio eletrônico, o que ocorre devido à disponibilização dos produtos e serviços para os clientes. A internet, assim, tem desafiado os profissionais de marketing a utilizar a tec- nologia de forma inovadora na gestão das estratégias do canal, de modo a gerar valor para os consumidores de forma lucrativa (KERIN; PETERSON, 2009). Canais de distribuição e tipo de uso Segundo Strehlau e Telles (2006), existem algumas diferenças de confi guração e também na forma de organizações, o que causa uma modifi cação nos processos e na estrutura. Veja, a seguir, como essas confi gurações podem ser reconhecidas. Canais de marketing para bens de consumo: os bens de consumo são aqueles destinados ao cliente final. A distribuição desses bens envolve um grau de complexidade maior em relação aos demais por demandar maior abrangência geográfica, maior capilaridade e, assim, uma ne- 5Canais de distribuição cessidade maior de controle dos fluxos no canal. Também conta com maior número de intermediários, o que torna esses canais mais longos. Veja, no Quadro 1, a distribuição de bens de consumo e atividades de marketing segundo Strehlau e Telles (2006). Fonte: Adaptado de Strehlau e Telles (2006). Tipo de bem de consumo Comportamento do consumidor Preço Distribuição Comunicação Bens de conveniência Compra frequente e que exige pouca busca de in- formação e comparação. Baixo envolvimento Geralmente baixo Distribuição intensiva em muitos pontos de venda Muita propa- ganda e divul- gação em mídia de massa Bens de compra comparada Compra menos fre- quente e que exige maior esforço na comparação entre marcas e outros atributos. Geralmente apresenta um envolvi- mento maior Médio Distribuição mais seletiva em menor número de pontos de venda Muita pro- paganda e venda pessoal por parte de fabricantes e revendedores Bens de especialidade Compra de alto envolvi- mento, em geral exibe fortes preferências de marca Geralmente alto Distribuição exclusiva em poucos pon- tos de venda Divulgação cuidadosa e em mídias selecionadas Bens não procurados Pouco conhecimento sobre o produto e em muitos casos há pouco interesse ou mesmo um interesse negativo Variável Variável Propaganda agressiva e forte venda pessoal Quadro 1. Distribuição de bens de consumo e atividades de marketing Canais de marketing para bens empresariais: bens comprados para uso em uma organização, podendo ser para a fabricação de um produto ou para a gestão do negócio. Em média, o número de produtores e compradores desse tipo de bens é pequeno, e as compras são de maior valor se comparadas às dos bens de consumo. Podem apresentar interesse na especificação técnica ou no acompanhamento da produção de seus insumos, o que exige um número limitado de intermediários. As vendas diretas são as que mais ocorrem nesse canal e, dessa forma, são considerados curtos. Veja, na Figura 4, uma representação da distribuição dos bens empresariais. Canais de distribuição6 Figura 4. Distribuição de bens empresariais. Fonte: Adaptada de Strehlau e Telles (2006). Canais de marketing para serviços: os serviços constituem um tipo de produto com atributos com especificidades distintas. Neste canal, na maioria das vezes, o consumo ocorre junto ao ato de produção. Por isso, a venda direta é a mais com dos canais de marketing, porém, a distribuição poderá ser realizada indiretamente, como, por exemplo, nas agências de viagem, que intermedeiam a compra de passagens e hospedagem, atuando como varejistas de serviços, na medida em que estocam e revendem em lotes menores e orientados para as necessidades dos clientes produtos adequados à demanda deles. Na Figura 5, estão exemplificados canais de distribuição para serviços. Figura 5. Canais de distribuição para serviços. Fonte: Adaptada de Strehlau e Telles (2006). 7Canais de distribuição Sistema multicanal e canais reversos: produtores escolhem diferentes canais para atingir mercados diferentes. Neste tipo de canal, destacam-se as organizações que vendem seus produtos diretamente a consumidores finais, mas também disponibilizam a varejistas ou distribuidores, que podem vender a varejistas em outras praças. Como exemplo, temos as montadoras, que vendem ao cliente por meio de varejistas, isto é, das concessionárias. O canal reverso ocorre quando o fluxo é contrário, e o deslocamento do produto ocorre do consumidor final para o produtor, como com produtos que são recolhidos para reciclagem, como latas de alumínio e garrafas. Veja, na Figura 6, o esquema dos canais de marketing e canais reversos. Figura 6. Canais de markering e canais reversos. Fonte: Adaptada de Strehlau e Telles (2006). Dessa forma, os canais de distribuição têm configurações distintas e tam- bém poderão apresentar, devido a algumas funções, diferentes variáveis e condições, como a natureza do produto, a fase no ciclo de venda e também nas estratégias da organização. Por isso, os gestores deverão decidir na hora da escolha do canal aquele que melhor atende à sua necessidade. Conflitos e tendências dos canais Nos canais de distribuição, podem ocorrer alguns confl itos. Segundo Xavier (2009), no processo de distribuição do fabricante ao cliente, os confl itos são obstáculos à efi ciência do sistema, pois provocam ruídos no processo e, se não forem corrigidos, poderão prejudicar as metas e os objetivos que foram defi nidos pelos fabricantes e operadores da distribuição. O autor ainda dife- rencia dois tipos de confl itos que poderão ocorrer, os horizontais e os verticais. Os chamados conflitos horizontais ocorrem integrantes do mesmo nível do canal divergem sobre as estratégias, ações e também sobre os procedimentos da operação (Figura 7). Canais de distribuição8 Figura 7. Conflitos verticais. Fonte: Adaptada de Xavier (2009). Os conflitos verticais (Figura 8) ocorrem quando o fabricante diverge dos intermediários. Quando se trata de canal de venda indireto, que envolve os intermediários, os conflitos são quase inevitáveis, podendo prejudicar todo o negócio; por isso, um alinhamento de parcerias, de compartilhamento de informações estratégicas e de integração de sistemas deve ser dividido para que esse tipo de conflito seja minimizado, devendo haver, assim, uma simetria geral dos componentes que integram o sistema de distribuição. Figura 8. Conflitos verticais. Fonte: Adaptada de Xavier (2009). Nesse caso de conflito vertical, Xavier (2009) destaca a importância da liderança do canal como um fator decisivo. Segundo o autor, o líder é conhecido como capitão do canal e seu poder pode derivar de seis fontes. Poder como recompensa: capacidade do integrante do canal em ofe- recer algo que é desejado ao outro integrante. Poder de coerção: receio que um integrante do canal possa exercer sobre os demais. Poder de legítimo: direitos assegurados aos integrantes do canal. Pode de referência: reputação da empresa ou do integrante do canal. 9Canais de distribuição Poder pela experiência: conhecimento ou habilidade de uma empresa ou integrante do canal. Poder de informação: posse pela informação ou integrante do canal de informações estratégicas para o êxito da operação. Dessa forma, o canal contará com integrantes alinhados e confiantes que farão com que os objetivos e metas traçados sejam alcançados da melhor forma possível e atentos às tendências do mercado. Conforme Farias, Duschitz e Carvalho (2015), existem várias tendências que afetam os canais de marketing, destacadas a seguir. O avanço tecnológico: um dos principais fatores dessa tendência é o crescimento da internet e do comércio eletrônico, o que torna o rela- cionamento mais direto entre as empresas e os clientes, diminuindo a participação dos intermediários. Outro fator é o uso das redes sociais, que passou a ser uma fonte de acessode informações dos clientes por parte dos membros da cadeia, e essas informações têm contribuído para alterações nos produtos, que estão sendo mais ofertados na forma customizada. Alterações no poder do canal: o poder sempre foi centrado nas mãos dos fabricantes de produtos, mas, a partir dos meados de 1990, a con- centração passou para os varejistas e atacadistas. Essa mudança ocorreu em virtude de adoção de sistemas mais eficientes de gerenciamento de estoques, diminuindo, assim, a dependência em relação aos fabricantes. Crescimento da distribuição direta: os clientes procuram por produtos com menor custo e, assim, a venda direta tem crescido, pois cada canal adicionado representa um custo acrescido no produto, o que faz com que a tendência de eliminação dos intermediários aumente. Como exemplos, temos as vendas sendo realizadas pelas revendedoras da Avon, Natura, etc., e também o comércio eletrônico, como a Decolar e a Amazon. Crescimento do ommi-channel: ommi-channel quer dizer que todo cliente é tratado como se fosse único, independentemente do canal. O cliente, hoje, tem-se tornado multicanal, já que compra pela internet e pelas lojas físicas (as vias tradicionais). O mercado é ativo, dinâmico e, com o avanço das tecnologias, vem trazendo constantemente novas mudanças. Por isso, os profissionais do marketing e os gestores devem estar preparados para compreender tais mudanças e criar ações e estratégias de forma a permanecer no mercado. Canais de distribuição10 ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS; MCKINSEY & COMPANY, INC. Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócio para organizações sociais. São Paulo: Peirópolis, 2001. FARIAS, C.; DUSCHITZ, C.; CARVALHO, G. M. Marketing aplicado. Porto Alegre: Bookman, 2015. KERIN, R. A.; PETERSON, R. A. Problemas de marketing estratégico: comentários e casos selecionados. 11. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. STREHLAU, V. I.; TELLES, R. Canais de marketing e distribuição: conceitos, estratégias, gestão, modelos de decisão. São Paulo: Saraiva, 2006. XAVIER, J. T. P. Marketing: fundamentos e processos. Curitiba: IESDE, 2009. Leitura recomendada BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre; Bookman, 2006. 11Canais de distribuição GESTÃO DA DISTRIBUIÇÃO FÍSICA Tatiana Dornelas de Oliveira Sistemas de distribuição Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar diferentes configurações dos sistemas de distribuição. Descrever o fluxo dos sistemas de distribuição. Analisar os fatores que afetam nas decisões sobre sistemas de distribuição. Introdução Neste capítulo, você estudará sobre os sistemas de distribuição existentes na logística. Além disso, conhecerá as principais configurações desses sistemas, bem como verá como funciona o seu fluxo. Por fim, verá quais são os fatores que afetam nas decisões sobre os sistemas de distribuição. 1 As configurações dos sistemas de distribuição Na logística, a distribuição é o processo responsável pela saída do produto da empresa até as mãos do consumidor (COBRA; URDAN, 2017). Cada empresa possui um processo de distribuição, de acordo com os sistemas que utiliza. O fato de a organização possuir um produto admirado pelo mercado não é uma garantia de sucesso no mercado consumidor. Para que a empresa consiga conquistar, de fato, o seu cliente, ela precisa pensar em como esse produto chegará até o final da cadeia para o consumidor certo, com a qualidade certa, na quantidade adequada e no tempo estimado. Mas como o produto chega até as mãos do cliente? A competição entre as empresas está cada vez mais acirrada, de modo que elas precisam se destacar para que consigam conquistar seus consu- midores. Para chegar até o consumidor final, as organizações utilizam os sistemas de distribuição, visando a realizar a melhor entrega possível. As- sim, “O desafio hoje é aliar os aspectos físicos do processo de atendimento ao gerenciamento das informações por meio de plataformas de tecnologias de informação especialmente projetadas para esse fim” (GONÇALVES, 2013, p. 206). A distribuição de bens e serviços envolve entregar ao consumidor o produto requerido da forma mais eficiente e eficaz possível, na hora desejada e onde ele quer, a fim de criar valor para o cliente (CHURCHILL; PETER, 2012). Níveis de canal Para aprimorar o canal da empresa, é essencial que os gestores conheçam os tipos de canal existentes, a fi m de que possam escolher aquele que minimiza os custos da organização. Para tanto, existem os níveis de canal voltados para bens de consumo, sendo cada um deles adequado a um tipo de instituição (Figura 1). Figura 1. Canais de marketing para bens de consumo. Fonte: Kotler e Keller (2018, p. 380). Sistemas de distribuição2 Conforme observado, o produtor e os consumidores são peças constantes em todos os níveis de canal. O canal direto (também chamado de nível 0) consiste em um fabricante que comercializa seus produtos diretamente para o consumidor final. O telemarketing, a mala direta e as vendas de porta em porta são exemplos desse nível. Já os canais indiretos podem contar com um intermediário (nível 1), dois intermediários (nível 2) ou até três intermediários (nível 3). Um canal de nível um possui a figura do varejista. Já o canal de nível dois é o mais comum para a comercialização dos bens de consumo, no qual o produtor passa os produtos para o atacadista, depois para o varejista, para, então, chegar nas mãos do consumidor final. Segundo Kotler e Keller (2018), o canal de nível três é o mais indireto, visto que o produtor negocia com agentes independentes para que seja feita a comercialização com os atacadistas, que vendem para varejistas e, por fim, para o cliente. Esses agentes não possuem propriedade sobre o bem, mas podem negociar compras e vendas. Na literatura, existem, ainda, os níveis de canais voltados para os bens organizacionais. Ao tratar da comercialização entre empresas, os canais podem ser visualizados conforme a Figura 2. Figura 2. Sistemas de distribuição para bens organizacionais. Fonte: Kotler e Keller (2018, p. 381). Observe que os produtores se mantêm, ao passo que os compradores vira- ram organizacionais. Como estamos falando de compras entre organizações, as negociações podem ser extensas, e os valores, bem altos, demandando 3Sistemas de distribuição novas ações. A lógica é a mesma que para os bens de consumo, no entanto, surge a figura dos distribuidores, responsáveis por fluir os produtos até o comprador. Por fim, há os canais típicos para o oferecimento de serviços (Figura 3), que são, por definição, aqueles produzidos e consumidos ao mesmo tempo, tais como o serviço de um contador ou um corte de cabelo. Figura 3. Canais de marketing para serviços. Fonte: Kotler e Keller (2018, p. 382). Nesse caso, existem apenas dois tipos de canal: o direto, em que o serviço é prestado diretamente ao consumidor final; e o indireto, quando há a presença de um agente ou corretor, como é o caso da venda de um seguro de vida, por exemplo. 2 Fluxo dos sistemas de distribuição Como visto, os intermediários são responsáveis por fazer os produtos fl uírem do produtor até o consumidor fi nal ou organizacional. A cadeia de interme- diários é descrita por duas vertentes: tipos de intermediários e número de intermediários. Essas duas características devem ser escolhidas de acordo com o tipo de bens ou serviços que serão prestados pela empresa. A Figura 4, a seguir, apresenta a confi guração dos canais de distribuição. Sistemas de distribuição4 Figura 4. Configuração dos canais de distribuição. Fonte: Gonçalves (2013, p. 209). Os intermediários podem ser os seguintes: Atacadistas: unidade de negócio que compra e revende mercadorias para os varejistas (AMA, 2018). Varejistas: unidade de negócio responsável pela compra de mercadoriasque e as revende direto para o consumidor (AMA, 2018). Distribuidores: são responsáveis por servir os mercados industriais, oferecer serviços diversos e promover o produto (KOTLER; KELLER, 2018, p. 382). Agentes e corretores: são responsáveis por facilitar a venda, represen- tando a empresa no mercado. Segundo Kotler e Keller (2018), ao relacionar os intermediários em relação ao seu número, pode-se classificá-los da seguinte forma: Distribuição exclusiva: o número de intermediários é limitado, estrei- tando os laços entre a empresa e o fornecedor. 5Sistemas de distribuição Distribuição seletiva: utiliza determinados intermediários que queiram comercializar algum produto específico. Distribuição intensiva: o fabricante coloca seus produtos ou serviços na maior quantidade de pontos de venda possível. Sistemas verticais Nos últimos anos, um dos modelos mais adotados pelas organizações é o de sistemas verticais de distribuição. Segundo Kotler e Keller (2018, p. 384), esses sistemas “São canais de distribuição administrados centralmente a fi m de obter maior efi ciência e impacto de marketing”. O sistema vertical (Figura 5) é um conjunto formado pelo fabricante e um ou mais atacadistas e varejistas, todos atuando como um sistema unificado, havendo integração entre os componentes. Figura 5. Sistemas verticais. Fonte: Adaptada de Churchill e Peter (2012). Existem diversos tipos de sistemas verticais de marketing (SVM) (Figura 6), os quais são apresentados a seguir (KOTLER; KELLER, 2018). Sistemas de distribuição6 Figura 6. Tipos de sistemas verticais de marketing. Fonte: Kotler e Keller (2018, p. 385). SVM administrado: o fabricante de uma marca dominante pode contar com a garantia de cooperação comercial e com o apoio dos revendedores. Por exemplo, a Gillete, a Procter & Gamble e a Kraft conseguem alcançar um alto nível de cooperação com seus revende- dores em termos de exposições, espaço nas prateleiras, promoções, entre outros. SVM empresarial: é utilizado por empresas que desejam um elevado controle sobre seus canais. Por exemplo, a Sherwin-Williams produz tinta e opera 2 mil lojas de varejo de sua propriedade. SVM contratual: empresas independentes, atuantes em diferentes níveis de produção e distribuição, que integram seus programas por meio de contratos, para, assim, obter mais economia ou impacto nas vendas do que conseguiriam por si só. Sistemas horizontais Os sistemas horizontais correspondem a duas ou mais instituições não relacio- nadas que unem recursos para explorar uma nova oportunidade de marketing. 7Sistemas de distribuição O sistema horizontal de marketing (SHM) é formado por alianças estratégicas (provisórias ou permanentes) entre diversas empresas que trabalham em um mesmo setor e no mesmo nível (KOTLER; KELLER, 2018). Um exemplo de SHM refere-se a acordos entre cadeias de supermercados e bancos, ou operadoras de telefonia móvel, para oferecer serviços bancários (em caixas eletrônicos) ou de telefonia móvel em suas lojas. 3 Fatores que afetam nas decisões sobre os sistemas de distribuição Um canal de distribuição é o elo entre a empresa e o consumidor fi nal. Sendo assim, o sistema de distribuição deve estar integrado e bem coordenado, para que não existam confl itos. A maior parte dos fabricantes não comercializa os produtos de forma direta para seus consumidores, utilizando os chamados intermediários para que essa transferência seja realizada. Sendo assim, é possível defi nir os canais como “[...] uma rede (sistema) organizada de órgãos e instituições que executam todas as funções necessárias para ligar os produtores aos usuários fi nais, a fi m de realizar a tarefa de marketing” (CHURCHILL; PETER, 2012, p. 377). De acordo com Cobra e Urdan (2017), os canais possuem quatro fun- ções básicas: o transporte de bens, a estocagem, a comunicação com o mercado e a venda e transferência de posse. Como, na maior parte das vezes, várias empresas fazem parte desse processo, a tarefa fica cada vez mais complexa, de modo que se faz necessária uma excelente gestão por parte dos responsáveis. Os canais possuem relação com diversos outros sistemas, como ambiente político, social, cultural, bem como com a estratégia e até mesmo a hierar- quia adotada na organização. A Figura 7, a seguir, apresenta uma pirâmide demonstrativa das relações entre os canais. Sistemas de distribuição8 Figura 7. Relações entre os canais. Fonte: Cobra e Urdan (2017, p. 196). Diante das relações apresentadas neste capítulo, é possível identificar os fatores que influenciarão nas decisões sobre os sistemas de distribuição. Dentre elas, destaca-se a estratégia da empresa, sua estrutura e os ambientes externos. AMA. Chicago: AMA, [2018].Disponível em: https://www.ama.org. Acesso em: 21 abr. 2020. CHURCHILL JR., G.; PETER, J. P. Marketing: criando valor para os clientes. Sã o Paulo: Saraiva, 2012. COBRA, M.; URDAN, A. T. Marketing básico. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2017. GONÇALVES, P. S. Logística e cadeia de suprimentos: o essencial. Barueri: Manole, 2013. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. São Paulo: Pearson, 2018. 9Sistemas de distribuição Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Sistemas de distribuição10 GESTÃO DA DISTRIBUIÇÃO FÍSICA Tatiana Dornelas de Oliveira O conceito de distribuição física Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar distribuição física. Identificar os fatores centrais da distribuição física. Distinguir desafios e oportunidades corporativos na distribuição física. Introdução O aumento da concorrência e da competitividade torna ainda mais acir- rada a busca por ferramentas de distribuição dos produtos produzidos pelas organizações. O ambiente externo atual está repleto de desafios, de modo que os gestores devem estar preparados, conhecendo sua empresa e seus clientes a fundo. O estudo relacionado com a logística e a distribuição física é antigo, porém a preocupação em realizar um trabalho bem-feito é relativamente recente. Nos últimos anos, com o advento da tecnologia da informação, as atividades relacionadas com a distribuição física ganharam ainda mais espaço. Neste capítulo, você estudará sobre a distribuição física, bem como conhecerá os seus fatores centrais. Além disso, verá quais são os desafios e oportunidades corporativos no âmbito da distribuição física. 1 Distribuição física Atualmente, a globalização impõe diversos desafi os para as organizações. Ao pensar na logística e em sua distribuição física, a atenção dos gestores deve ser redobrada, para que busquem sempre a vantagem competitiva. Em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo, o sucesso e o insucesso das organizações dependem da qualidade de sua administração. Para que seja possível entender a estrutura dos canais de distribuição, é importante saber como funciona a estrutura organizacional de uma empresa (Figura 1). Figura 1. Estrutura organizacional. Fonte: Adaptada de Sobral e Peci (2013). É possível observar, na Figura 1, que existem três níveis hierárquicos nas organizações: operacional, tático e estratégico. Esses níveis definem “[...] a forma como a organização está estruturada em suas áreas e departamentos, de modo a funcionar e atingir seus objetivos [...]” (SHIGUNOV NETO; GOMES, 2016, p. 11). Essa estrutura é considerada dinâmica, alterando-se com o passar do tempo e sendo influenciada pelo que ocorre no ambiente externo. O setor de logística é estratégico para qualquer organização, sendo res- ponsável pelo transportee a entrega dos produtos comprados para os clientes. A Figura 2, a seguir, retrata a logística sob a ótica do consumidor. O conceito de distribuição física2 Figura 2. A logística do cliente. Fonte: Adaptada de Gonçalves (2013). Como observado na Figura 2, o consumidor possui três entendimentos acerca do processo logístico, de modo que a empresa deve buscar entender o que o cliente deseja comprar, quando ele quer receber sua compra e quanto ele deseja, isto é, a quantidade desejada. O estudo da logística de distribuição é de suma importância para que os gestores consigam conquistar vantagem competitiva no mercado atual. Para saber mais sobre esse tema, assista ao vídeo Supply Chain – o que é Logística de Distribuição, do canal Idel Instituto de Desenvolvimento Logístico, disponível no YouTube. 3O conceito de distribuição física 2 Fatores centrais da distribuição física Em relação aos estudos sobre a logística e a distribuição física, pode-se destacar que o transporte é muito importante para que a estratégia da empresa seja corretamente seguida. A Figura 3, a seguir, apresenta o fl uxo de uma cadeia de distribuição física. Figura 3. Cadeia de distribuição física. Fonte: Gonçalves (2013, p. 203). Para que a distribuição física seja realizada da melhor forma possível, faz-se necessário utilizar diversos atores, que atuarão das mais variadas formas, buscando o sucesso da organização em questão. Conforme Gonçalves (2013, p. 203): Examinando a distribuição física no contexto geral, pode-se considerar que ela tem dois significados básicos: um conjunto de atores que fazem parte da sua estrutura operacional e mercadológica; e um conjunto de operações destinadas a concretamente disponibilizar um produto ou um serviço no local desejado pelo cliente ou consumidor final. O conceito de distribuição física4 Para tanto, é importante entender alguns conceitos importantes que fazem a distribuição ser realizada da melhor forma possível. O primeiro conceito diz respeito ao transporte, que corresponde a “[...] velocidade, redução de custos e respostas rápidas. O transporte é um fator crítico para o sucesso de qualquer projeto da rede logística [...]” (GONÇALVES, 2013, p. 13). O segundo conceito diz respeito ao estoque, que deve ser gerenciado de forma adequada, garantindo o atendimento aos clientes de forma excelente e com baixo nível de investimento em estoque, visto que, quanto maior a quan- tidade estocada, maior os custos da empresa. Outro conceito importante está relacionado com o tratamento de informações, sobretudo as relacionadas a manutenção, controle dos materiais, processamento de pedidos e programa- ção da produção. Por fim, destaca-se, ainda, o processo de armazenagem, representado “[...] pela gestão dos espaços físicos destinados ao controle e à guarda dos produtos [...]” (GONÇALVES, 2013, p. 11). A competição entre as empresas está cada vez mais acirrada, de modo que elas precisam se destacar para que conquistem seus consumidores. Para chegar até o consumidor final, as organizações utilizam os canais de marketing, a fim de realizar a melhor entrega possível. 3 Oportunidades e desafios corporativos Diante do exposto, pode-se destacar novas oportunidades e desafi os que as organizações enfrentam para que a distribuição física seja realizada da melhor forma possível. Mas como o produto chega até as mãos do cliente? Provavelmente, o consumidor adoraria receber no conforto da sua casa algum produto desejado há tempos. Nesse sentido, a principal oportunidade encon- trada pelas empresas atualmente é o comércio eletrônico, ou seja, a compra e venda realizada pela internet. 5O conceito de distribuição física A questão do transporte é muito importante nos dias de hoje e deve ser avaliada pelas organizações. Ao utilizar um meio de transporte que se locomove mais rapidamente, a empresa terá custos elevados. No entanto, esse alto nível de custos é compensado com a redução dos estoques e, consequentemente, a melhoria do nível de serviço que será prestado ao consumidor. Diante da oportunidade de atender milhares de pessoas, muitos empre- endedores têm depositado seus esforços nesse negócio. Com a evolução da internet, o ambiente digital se tornou um local fértil para a criação de novos negócios. No início da década de 1980, as grandes empresas realizavam tran- sações comerciais por meio da via eletrônica, com a utilização de tecnologias específicas (TURCHI, 2019). No entanto, o e-commerce teve seu verdadeiro início em 1995, nos Estados Unidos, com o surgimento da Amazon.com, bem como de outras empresas pioneiras. Após o sucesso da Amazon, as mais diversas empresas se iniciaram no varejo virtual. Entretanto, muitas delas enfrentaram dificuldades (TURCHI, 2019). Por exemplo, imagine que você está na sua casa estudando e quer tomar um café. Então, levanta-se da cadeira, vai à cozinha de sua casa, pega o café em pó e um pouco de água e faz o café na sua cafeteira. De onde veio esse pó? E a embalagem que o abriga? Para que as compras e vendas sejam bem-sucedidas, é essencial que a organização se preocupe com os canais de marketing. Essa distribuição dos bens e serviços envolve entregar aos clientes o produto re- querido, da forma mais eficiente e eficaz possível, na hora desejada e onde ele quer, a fim de criar valor para o cliente (CHURCHILL JR.; PETER, 2012). Sendo assim, pode-se definir os canais como “[...] uma rede (sistema) orga- nizada de órgãos e instituições que executam todas as funções necessárias para ligar os produtores aos usuários finais, a fim de realizar a tarefa de marketing [...]” (CHURCHILL JR.; PETER, 2012, p. 377). De acordo com Cobra e Urdan (2017), os canais possuem quatro funções básicas: o transporte dos bens; a estocagem; a comunicação com o mercado; e a venda e transferência de posse. Desse modo, os canais de marketing são um desafio para as organizações. É importante destacar que, quando falamos em canal de marketing, estamos falando de todas as etapas que compreendem a venda (Figura 4). O conceito de distribuição física6 Figura 4. Processo de venda. Os canais de marketing são a única maneira pela qual os clientes podem chegar até determinada marca. Ou seja, não adianta uma empresa ter um produto muito bom se seus consumidores não conseguem recebê-lo bem. Para conhecer um exemplo de aplicação da distribuição física em uma organização real, leia o artigo “A distribuição física como recurso competitivo numa empresa de laticínios” (LEÃO; PEREIRA; SALAZAR, 2018). COBRA, M.; URDAN, A. T. Marketing básico. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2017. CHURCHILL JR., G.; PETER, J. P. Marketing: criando valor para os clientes. Sã o Paulo: Saraiva, 2012. GONÇALVES, P. S. Logística e cadeia de suprimentos: o essencial. Barueri: Manole, 2013. LEÃO, B. L. F.; PEREIRA, Y. V.; SALAZAR, V. S. A DISTRIBUIÇÃO FÍSICA COMO RECURSO COMPETITIVO NUMA EMPRESA DE LATICÍNIOS. Revista Eletrônica de Estratégia & Negócios, Florianópolis, v. 11, n. 2, p. 56–87, 2018. SOBRAL, F.; PECI, A. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2013. TURCHI, S. R. Estratégias de marketing digital e e-commerce. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019. SHIGUNOV NETO, A.; GOMES, R. M. Introdução ao estudo da distribuição física. Curitiba: InterSaberes, 2016. 7O conceito de distribuição física TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO Jorgiane Suelen de Sousa Logística de suprimento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir logística de suprimento. Descrever o processo de suprimentos. Apresentar a inter-relação da logística de suprimentos com os demais subsistemas logísticos. Introdução Suprir, adquirir e comprar são sinônimos e têm como objetivo não deixar faltar nem sobrar itens diversos necessários a uma organização, já que isso poderia prejudicar o nível de serviço ao cliente. Quando faltam pro- dutos, ocorre a incidência decustos invisíveis, chamados de custos de oportunidade. Quando sobram produtos, o custo com armazenagem fica mais alto, os produtos podem ficar obsoletos e o custo financeiro pode aumentar. Para o bom desenvolvimento do setor de suprimentos, devem ser desenvolvidos processos com o objetivo de realizar compras eficazes. Os principais são o planejamento e a execução. Além disso, o setor de supri- mentos precisa ter uma relação integrada aos outros setores da empresa e aos elos da cadeia de suprimentos, buscando troca de informações e estratégias constantes com grande eficiência e eficácia. Neste capítulo, você vai estudar a logística de suprimentos lendo, primeiramente, sobre sua definição e origem. Em seguida, vai conhecer as diferentes estratégias que podem ser adotadas pela empresa para que o processo de suprimentos funcione com sucesso. Por fim, você vai conferir qual é a importância e como funciona a inter-relação da logística de suprimentos com os outros subsistemas logísticos da organização. 1 Definição O conceito de compras teve suas primeiras aplicações com a necessidade de adquirir produtos distintos do que se produzia. Observe este exemplo: João produz milho, e José produz leite; por necessidade de sustento de sua família, os dois resolvem negociar e trocar seus excedentes de produção, para atender suas demandas específi cas. Dessa forma, iniciou-se o conhecido escambo, ou trocas de mercadorias e serviços sem recompensas financeiras. Com o escambo, portanto, o objetivo era suprir as necessidades, dando início às primeiras transações comerciais do setor de compras. Observe a Figura 1. Figura 1. Escambo. Fonte: Bier (2016, documento on-line). Outro fator importante do início dos processos de compra e venda é a figura dos primeiros vendedores, que tentavam suprir as demandas existentes de produtos. É o caso dos caixeiros-viajantes. Esses profissionais viajavam de vilarejo em vilarejo vendendo itens de necessidade e desejo que só eram encontrados em grandes cidades, o que demandaria dias de viagem para adquiri-los. O caixeiro, então, vendia o que levava junto dele e já pegava novos pedidos para quando retornasse. Observe a Figura 2. Logística de suprimento2 Figura 2. Caixeiro-viajante. Fonte: Marketing da Meia Noite (2013, documento on-line). Nas empresas, o setor de suprimentos surgiu com um caráter mais buro- crático, focado em comprar os itens solicitados de outros setores. A função principal do comprador foi relacionada inicialmente ao conceito de tirador de pedidos, pois a autonomia desse setor era mínima, pautando-se em cumprir ordens de solicitação de compras e acompanhar pedidos e entregas. Na visão burocrática desse setor, o fornecedor era considerado um mal necessário. As negociações se baseavam em “ganha-perde”: a empresa com- pradora deveria sempre ganhar, e a empresa vendedora, perder. Além disso, a área de compras era vista como um centro de custos para a organização, em que o profissional de compras estava sempre focado em atender os pedidos dos clientes internos da empresa, os funcionários. O setor de compras nas empresas iniciou antes da Primeira Guerra Mun- dial, quando possuía um papel tradicional e burocrático. Sua importância foi ampliada a partir da década de 1970, pois, em virtude da crise do petróleo, a oferta de materiais começou a diminuir e, com isso, o preço aumentou muito. Isso fez com que a organização passasse a se preocupar com quanto, como, quando, onde e o que comprar. Desse modo, o setor ganhou mais visibilidade dentro da empresa (MARTINS; ALT, 2009). 3Logística de suprimento Segundo Baily et al. (2000), o setor de compras realiza uma atividade essencial para todas as empresas, já que todas elas precisam adquirir recursos básicos, equipamentos e componentes para seu funcionamento. Por isso, o setor tem importância estratégica considerável e precisa ser avaliado de forma constante. Dias (2011) define a função de compras como um seguimento de grande relevância pertencente ao departamento de materiais ou suprimentos. Tem por finalidade suprir as necessidades de materiais ou serviços, planejá-las quantitativamente e satisfazê-las no momento certo, com as quantidades certas, além de cuidar do recebimento e do armazenamento do que foi comprado. Com o passar dos anos, as organizações perceberam o quanto o setor de compras era importante para o resultado organizacional e começaram a investir, buscando torná-lo cada vez mais estratégico. As empresas perceberam que, se comprassem bem, poderiam alcançar melhores resultados no momento da venda. Dessa forma, o setor passou a ser visto como um componente logístico de agregação de valor, com grande potencial de redução de custos na aquisição de insumos e itens para revenda. O fornecedor passou a ser considerado um parceiro na cadeia de suprimen- tos. Entrou em vigor, então, a relação “ganha-ganha” e, com isso, as empresas procuravam profissionais cada vez mais proativos e focados na busca de novos fornecedores e materiais. De acordo com Pozo (2015), a negociação “ganha- ganha” deve ser vantajosa tanto a organização quanto para o vendedor. Deve também ser realizada a longo prazo, pois assim os fornecedores podem se desenvolver e fortalecer a organização por meio de parcerias. Quando ambas as partes são beneficiadas, podemos dizer que houve satisfação e segurança, gerando uma boa negociação e fortalecendo o relacionamento entre cliente e fornecedor. Isso propicia ganhos para todas as partes, porque, por mais que negociação seja complicada, não haverá conflitos de interesses. O setor de compras realiza tarefas estratégicas com seus fornecedores, fortalecendo a vantagem competitiva e a qualidade total da empresa na aqui- sição de suprimentos (BAILY et al., 2000). Alto, Pinheiro e Alves (2009, p. 28), destacam: O comprador deixa, então, de ocupar uma posição de caráter operacional para participar de uma função mais estratégica. A percepção da totalidade da empresa, das vantagens competitivas, das tendências mercadológicas, das prioridades das áreas de marketing e vendas e o acompanhamento do pla- nejamento estratégico da empresa fazem com que o profissional de compras tenha melhor visibilidade e desempenhe um papel cada vez mais importante dentro das organizações. Logística de suprimento4 Pozo (2015) afirma que o sistema de compras possui muitas funções fun- damentais para garantir a relação ampla com as suas obrigações, escolher as melhores fontes de suprimento, obter dados sobre os melhores preços, propor pedidos (ordens de compras), acompanhar pedidos, analisar notas fiscais, manter os registros e arquivos e preservar uma boa relação com os vendedores. Por isso, o setor tem uma posição importante, já que lida com a aquisição de materiais e suprimentos para o conjunto da organização, incluindo a seleção de melhores fornecedores, negociações, maior competitividade, programação de quando comprar, comparação de preços e serviços, dentre outros (BALLOU, 2006). Em algumas áreas empresariais, o setor de compras tem maior relevância quando comparados seus custos de variáveis; em outras, essa relevância é menor, mas em ambas o setor é significativo no alcance de resultados e di- minuição de custos. A título de ilustração, observe o exemplo dos setores de compras em três tipos de empresa: varejo, prestação de serviços e estádio de futebol. Uma empresa do segmento de varejo depende de uma compra elevada de pro- dutos para realizar suas transações comerciais, pois sua base de funcionamento está pautada na aquisição de todos os produtos a serem revendidos. A área de compras tem, portanto, uma importância ampliada nesse segmento, o que demanda uma maior preocupação por parte de seus funcionários. Já na prestação de serviços, a área de compras não deixa de ser importante, porém os custos com a mão de obra são maiores do que os custos com a compra de itens. Por exemplo, em um hospital, na maioria dos casos, o custocom médicos é maior que o custo com materiais. Isso não justifica a falta de atenção com o setor de suprimentos, pois, de qualquer forma, há impacto no resultado da empresa. No entanto, esse impacto ocorre em proporção menor quando comparado com o setor de varejo. Em um estádio de futebol, os gastos com compras se limitam à compra de materiais de limpeza e manutenção da estrutura. Os gastos mais elevados ocorrem apenas em momento de reforma ou mudança na estrutura do estádio. Além disso, a empresa adquire produtos para serem consumidos durante os jogos pelos torcedores. De qualquer forma, a expressividade do setor nesse segmento é bem menor quando comparado com a área de comercialização de um varejo, mas também é importante. Uma boa gestão do setor de suprimentos exige que a empresa conheça e gerencie bem o seu ciclo de compras, de forma que não ocorram falhas, como 5Logística de suprimento falta de materiais ou sobra excessiva de itens. Isso porque essas situações geram impactos negativos nos resultados organizacionais. Se faltar mercadoria, o cliente pode comprar em outra empresa e encontrar um produto igual ou superior ao fornecedor antigo. Além disso, as condições de compras com o novo fornecedor podem ser mais vantajosas para fidelizar e buscar a permanência na nova fonte de fornecimento. Para Chiavenato (2014), o ciclo de compras é composto de cinco etapas principais: análise das ordens de compras (OCs) recebidas; pesquisa e seleção de fornecedores; negociação com o fornecedor selecionado; acompanhamento do pedido ( follow-up); controle de recebimento do material comprado (que garante a eficiência e a eficácia do setor de compras). Já na visão de Viana (2000), existem duas modalidades de fluxo de compras. Observe a seguir. Fluxo de compra normal: o prazo é suficiente para obter as melhores condições comerciais e técnicas na aquisição. Fluxo de compras em emergência: geralmente, acontece quando a empresa falha na elaboração do planejamento ou no atendimento de necessidade oriunda de problemas operacionais. As empresas devem evitar os fluxos de compras de emergência, porque, em sua maioria, os custos de compras serão mais elevados do que nas compras programadas. Outro fator decisivo para não deixar faltar nem sobrar mercadorias é o custo de oportunidade de venda, também chamado de custo de falta, muito difícil de ser mensurado. Isso porque, quando um cliente deixa de comprar um produto, sabemos o valor do produto que não foi adquirido, mas não sabemos se o cliente compraria outros produtos além do que estava em falta. Além disso, não sabemos se esse não atendimento de demanda poderá diminuir as compras futuras desse cliente. Isso também vale para que a organização busque cada vez mais aperfeiçoar seus resultados, o que leva à necessidade de definir bem os objetivos e fatores importantes de análise para o setor. A sobra de mercadorias em uma organização, além dos limites necessários para uma boa gestão da empresa, gera custos financeiros relacionados à arma- zenagem e ao custo de capital parado no estoque. Por exemplo, uma empresa Logística de suprimento6 que tem R$ 1.000.000,00 no seu setor de estoque precisa lembrar que haverá um custo de armazenagem anual em torno de 18% a 22% desse valor. Caso o giro do estoque não seja elevado de forma que justifique o estoque, o volume de capital investido no estoque será alto. Esse custo poderia ser diminuído e reinvestido em outras áreas da empresa. É importante que o estoque da orga- nização seja menor que o lucro, sendo este um indicador logístico chamado retorno de capital do estoque. Pozo (2015) informa que a empresa deve buscar o equilíbrio entre os custos de armazenagem, pedidos e faltas. Precisa buscar um atendimento correto da demanda do mercado dos interesses dos acionistas, sem deixar de atender às necessidades dos clientes e priorizando o máximo nível de serviço. Para Dias (2011), toda organização, a fim de manter um volume de vendas considerável e manter-se competitiva no mercado, deve minimizar os custos dos insumos utilizados, visto que eles são responsáveis por uma parte considerável do custo total da empresa. Dessa maneira, para gerar lucros satisfatórios, a redução de custo deve ser objetivo constante. 2 Processos de suprimento O processo de suprimentos é essencial às organizações e vem, a cada ano, tornando-se mais estratégico e aplicado nas decisões. As empresas devem avaliar as possibilidades de verticalizar ou horizontalizar seus processos (fabricar ou terceirizar um produto ou serviço), e essa decisão está associada ao setor de compras. Ao longo dos anos, as empresas adotaram estratégias diferentes de acordo com a conjuntura mercadológica e com os ganhos esperados. Para Martins e Alt (2009), a verticalização e a horizontalização possuem tanto vantagens e quanto desvantagens. Na verticalização, muito utilizada no século XX, a empresa produz tudo o que puder, sendo independente de fornecedores, mas aumentando muito os custos. Já a horizontalização consiste na estratégia de comprar de terceiros o máximo possível, reduzindo custos e formando parcerias, o que deixa a empresa dependente dos fornecedores. Se a organização espera ter um processo de produção de todos os seus insumos, ela deverá verticalizar seus processos. Henry Ford, com o fordismo, representa um exemplo claro de verticalização, já que buscava fabricar o carro do início ao fim, produzindo todas as peças dos veículos. Atualmente, o número de empresas que adotam um processo totalmente verticalizado é menor, porém ainda existem segmentos de negócios que optam em seguir essa 7Logística de suprimento estratégia ou então verticalizar parte dos seus processos. Um exemplo disso é a Faber Castell, responsável pela produção de materiais escolares diversos, que tem o plantio de suas árvores e a produção de diversos insumos necessários ao processo produtivo. Outro exemplo são empresas que realizam a produção de embalagens secundárias, as quais também procuram realizar a produção de grande parte dos insumos necessários em seu processo produtivo. Já no caso das indústrias automobilísticas, observa-se uma mudança radical quando comparadas à indústria de Henry Ford. Atualmente, elas buscam transferir ao máximo a responsabilidade de produção de seus processos con- siderados meios ou menos estratégicos para outras organizações. Desse modo, concentram seus esforços na produção específica, o que é considerado sua competência essencial, relacionada diretamente ao negócio principal. Prahalad e Hamel (1990) explicam que a competência essencial de uma empresa é criada com base em seu negócio principal — aquilo que vai gerar valor ao negócio e ser considerado vantagem competitiva no segmento de mercado, difícil de ser copiado por outra organização. Um exemplo claro de competência essencial é a fórmula da Coca-Cola, um segredo de produção que nenhum outro refrigerante conseguiu fazer igual. É difícil pensar hoje em produtos que não podem ser copiados, o que chamamos de benchmarking — uma análise estratégica das práticas diferenciadas de seus concorrentes e demais empresas do seu setor, usada como base para criar suas próprias estratégias. Por isso, os processos de horizontalização se justificam cada vez mais. Algumas empresas inclusive optam por terceirizar todos os seus pro- cessos e possuir como diferencial apenas sua marca, como é o caso da Nike. A empresa possui indústrias de produção terceirizadas espalhadas no mundo inteiro, e escolhe a localização das indústrias dos seus terceiros, o que reduz custos de produção, associados principalmente à mão de obra. Para compreender um pouco sobre os conceitos de horizontalização e verticalização leia o artigo “O processo de desenvolvimento de fornecedores: um diferencial estratégico na cadeia de suprimentos”, de Kuehne Júnior (2001). Outro item relevante nas necessidades de terceirização são as parcerias, queocorrem com o enfoque de otimizar os processos da empresa e justificam Logística de suprimento8 uma forma diferente de verticalização. Um exemplo é quando uma indústria necessita de insumos específicos para sua linha de produção e compra esses insumos de uma empresa que está localizada geograficamente distante da indústria. Isso amplia o lead time, tempo da entrega do pedido desde a solici- tação. Além disso, amplia-se o risco de um atraso no processo de distribuição da empresa fornecedora. Isso pode comprometer os prazos de produção e o atendimento do cliente, tornando necessário uma ampliação dos volumes de estoque para sustentar a relação. Desse modo, surge a oportunidade de criar uma parceria no formato de joint venture. Isso significa que a indústria se reúne com a empresa compradora, para juntas criarem uma nova empresa direcionada ao atendimento da demanda de insumos de produção para o processo. A parceria no setor de compras tem como função constituir o desenvolvi- mento de relacionamentos com fornecedores a longo prazo, a fim de atingir objetivos, reduzir custos, aumentar a qualidade de produtos e das entregas, reduzir estoques e obter negociações produtivas. Para se firmar com uma parceria definitiva, é necessário avaliação e pesquisa sobre o fornecedor, suas condições e quais benefícios poderá trazer para a empresa (ALTO; PINHEIRO; ALVES, 2009). Isso porque a parceria ocorre, geralmente, por um longo prazo e, por isso, deve envolver confiança e relacionamentos colaborativos, abertos e transparentes. Dessa maneira, obtêm-se melhores resultados, baixos custos, aumento da capacidade de resposta a ameaças e a maior competitividade da empresa (MELLO, 2003). Segundo Alto, Pinheiro e Alves (2009, p. 132-133) os resultados e benefícios da parceria em compras podem ser: prazos de entregas mais curtos; promessas de entrega confiáveis; menores possibilidades de quebras de programação de produção; níveis de estoque mais baixos; rapidez nas modificações de projetos; menores problemas de qualidade; preços competitivos e estáveis; maior possibilidade de redução de custos; maior prioridade dada aos pedidos; maior cooperação em todos os sentidos; compartilhamento de recursos em todos os sentidos. Para decidir entre comprar ou terceirizar um item, uma etapa do processo produtivo ou um insumo de produção, é importante uma análise criteriosa de 9Logística de suprimento diversos fatores, principalmente se este é ou não o foco da estratégia empre- sarial. Depois disso, é importante avaliar todos os custos incorridos em cada tomada de decisão, sendo fixos ou variáveis, ocultos ou de oportunidade. O processo de negociação também é essencial para se ter vantagem no setor de suprimentos de uma organização. Quanto mais informações o ne- gociador possui, maior é a vantagem alcançada no processo de negociação. Isso não se restringe ao preço mais baixo da compra, mas envolve também negociar todas as moedas disponíveis. Lembrando que é preciso sempre buscar uma relação “ganha-ganha”, principalmente se essa negociação é constante. Portanto, conhecimento e informação são extremamente importantes e, por isso, o planejamento é essencial em um processo de negociação. Dias (2011) complementa explicando que a negociação deve ser como um processo de tomada de decisões, com análises, planejamentos, revisão e acordos, em que dois grupos procuram negócios aceitáveis e benéficos. 3 Logística de suprimentos e sua relação com os demais subsistemas logísticos O processo logístico exige que as organizações estejam cada vez mais inte- gradas e unifi cadas, de forma a alcançar resultados conjuntos. Essa busca constante está diretamente associada à ampliação e ao fortalecimento das relações existentes tanto internamente quanto externamente. Nas organizações, a integração dos departamentos é muito importante. Todos precisam estar voltados aos mesmos objetivos, e todas as decisões estratégicas deve ser realizadas de forma conjunta. Por exemplo, se o setor de marketing propor uma promoção de vendas, ofertando um produto com preço mais baixo e parcelamento, os outros setores precisam cumprir as promessas realizadas na venda. O setor de estoques precisa ter a matéria-prima em estoque, ou o setor de suprimentos precisa comprar o produto no tempo necessário; o setor de produção deve ser capaz de produzir no tempo previsto; e o setor de distribuição deve entregar no tempo definido. Isso exige uma constante sincronização dos processos, além de ser necessário que o planejamento do tempo de entrega seja realizado com base nas restrições de cada setor citado. É essencial que todos os departamentos da empresa estejam integrados e interessados nesse trabalho conjunto para o alcance de resultados positivos para a empresa. Isso se aplica, não apenas para o planejamento da venda, mas também para qualquer mudança ou adaptação dos processos da empresa. Por exemplo, se a empresa implantar uma política de redução de estoques, Logística de suprimento10 automaticamente o número de pedidos de compras serão elevados e haverá a necessidade de uma estratégia de negociação diferenciada pelo comprador. Os setores precisarão de uma programação mais precisa e constante das solicitações de compras, além de compreender que a falta desse planejamento poderá gerar a falta do produto. Segundo Dias (2011), estoque e compras são ferramentas que ajudam a empresa a maximizar suas vendas e ajustar os planejamentos de produção. O objetivo é aprimorar investimentos e diminuir conflitos entre os departamentos de produção, financeiro e vendas, integrando-os para suprir suas necessidades e obter maior interação nas trocas de informações entres eles. Quando a empresa alcança uma logística interna adequada a seus padrões de planejamento, deve avaliar a sua integração externa, ou seja, a preocupação com as outras empresas envolvidas nos processos logísticos. Isso porque os processos bem-desenvolvidos apenas internamente não são suficientes para alcançar resultados; é importante que a organização busque unificar e trabalhar estratégias conjuntas também com os elos da cadeia de suprimentos. Observe na Figura 3 como ocorre a integração interna de uma empresa. Figura 3. Integração interna de departamentos. Martins e Alt (2009) afirmam que a função de compras é parte integrante da cadeia de suprimentos (supply chain) de uma empresa. Ao estudar o conceito de compras, é importante destacar o gerenciamento da cadeia de suprimentos ou suplly chain management. O supply chain management envolve a administração do sistema de lo- gística integrada da empresa, ou seja, o uso de tecnologias avançadas entre elas, o gerenciamento de informações e a pesquisa operacional. O objetivo é planejar e controlar uma complexa rede de fatores para produzir e distribuir produtos e serviços satisfatórios aos clientes (MARTINS; ALT, 2009). 11Logística de suprimento A gestão da cadeia de suprimentos busca a máxima satisfação do consumi- dor final, focando em formação de parcerias entre fornecedores. Visa agregar o máximo valor para o consumidor final e eliminar os desperdícios, reduzindo custos e aumentando a eficiência. Uma cadeia de suprimentos significa a unificação de todos os envolvidos da empresa, desde a matéria-prima até a entrega do produto final para o consumidor (BAILY et al., 2000). Todo produto ou serviço possui uma cadeia de suprimentos envolvida para que este fique disponível para consumo e/ou revenda. Considere o suco de laranja industrializado e posto à venda em caixas. Para que ele esteja dispo- nível em sua mesa, passou por diversas empresas. Pense no caminho reverso para compreender essa cadeia. Você comprou esse suco em um varejo, como um supermercado, o supermercado comprou o suco de um distribuidor, que comprou de uma indústria, que precisou comprar diversos insumos de diversos fornecedores para produzir o produto. O fornecedor, produtor rural,para produ- zir a fruta para o suco, teve que comprar diversos insumos (controle de pragas, cuidados com plantio e colheita), o que envolveu vários outros fornecedores. O mesmo ocorre para todos os itens necessários na produção deste produto, como embalagem primária, embalagem secundária, conservantes, açúcar, etc. Todas as empresas envolvidas na cadeia são essenciais para que você tenha o suco disponível na sua mesa para consumo. A Figura 4 ilustra esse processo. Figura 4. Integração externa. Logística de suprimento12 No caso de um produto estar faltando na gôndola do supermercado, seria possível afirmar que o erro ocorreu no setor de compras da empresa, por não ter feito o planejamento de demanda corretamente? Ou existem outras variáveis que devem ser avaliadas? Pensando na questão externa, é possível que o fornecedor não tenha realizado o pedido correto, lançando quantida- des ou produtos diferentes do que foi solicitado pelo comprador. É possível também que o estoque físico do fornecedor não estivesse correto no momento da venda, informando que havia um volume de estoque que na verdade não existia. Talvez a indústria não tenha conseguido entregar o produto para o fornecedor, por diversos motivos, e ele não pôde entregar a mercadoria para o comprador. Talvez a transportadora contratada pelo fornecedor não tenha conseguido entregar em consequência de problemas durante o transporte, além de várias outras situações que podem ter resultado na falta do produto para o consumidor final. Portanto, a falta do produto nem sempre ocorrerá por falha do setor de suprimentos. Com base nessa importância do relacionamento contínuo e voltado para objetivos únicos tanto internamente quanto externamente, surge nas empresas a necessidade do uso de tecnologias que promovam a troca de informações mais eficiente e também das relações de parcerias entre os elos da cadeia, como o desenvolvimento dos fornecedores. Por exemplo, para implantar um supply chain management na organização, é preciso fazer uma análise completa da empresa, verificando sua integração interna e integração com seus fornecedores. Desse modo, busca-se criar um relacionamento digital entre as empresas com base nesta análise. Nessa implantação, também é necessário considerar questões como: compatibilidade entre os sistemas das empresas fornecedoras e os da empresa cliente, acessibilidade, segurança e possibilidade de atualização e evolução do sistema (GOMES; RIBEIRO, 2004). Para promover a interação, tecnologias tornam-se necessárias. São di- versas as tecnologias disponíveis para otimizar relacionamentos e trocas de informação na cadeia logística entre o comprador e o vendedor. Uma das mais utilizadas é o electronic data interchange (EDI), ou intercâmbio eletrônico de dados, em português. Essa ferramenta possibilita transações e trocas de informações on-line para otimizar os processos. Pode ocorrer por e-mail, por software próprios de gerenciamento de armazéns e suprimentos ou podem sustentar o uso da ferramenta vendor managed inventory (VMI), ou estoque gerenciado pelo fornecedor, em português. 13Logística de suprimento O VMI é um sistema de parceria, em que o fornecedor é o responsável por abastecer o estoque de seu cliente sempre que existir a necessidade de reposição de um de- terminado produto. Portanto, cabe ao fornecedor abastecer seu cliente no momento certo (NOGUEIRA, 2012). Na busca da integração externa, é importante classificar e priorizar os fornecedores principais, de forma que estes possam se tornar parceiros das empresas ou se desenvolvam para ser mais ativos nos relacionamentos organi- zacionais. Além disso, para escolher esses fornecedores parceiros, é importante verificar se ambos possuem interesse pela relação e se buscam estabelecer uma relação de “ganha-ganha” de longo prazo. Baily et al. (2000) citam cinco métodos para avaliar a capacidade do fornecedor: desempenho anterior; reputação; visita e avaliação; certificação de terceiros; avaliação de amostra de produtos. É importante que a empresa tenha um número pequeno de fornecedores de confiança. Eles precisam participar ativamente dos processos da empresa. Muitas vezes, eles vão manter os estoques para a produção, reduzindo suas áreas de estocagem. Para isso, é importante que a empresa conheça bem o seu fornecedor e qualifique-o de acordo com os padrões definidos pela empresa. Esse desenvolvimento tem como objetivo definir e qualificar os melhores fornecedores a participarem da empresa, de forma que estes tenham total condição de atender a todas as exigências e especificações. Os principais atributos de um fornecedor passam por entregar os pedidos pontualmente, prestar fornecimento de qualidade, oferecer um bom preço, ter antecedentes estáveis, ser responsivo às necessidades dos clientes, cumprir com o prometido, dar apoio técnico e manter o comprador informado sobre o andamento do pedido (BAILY et al., 2000). Logística de suprimento14 Confira no estudo “Alianças estratégicas e o fortalecimento das inovações: o caso em uma indústria de laticínios”, de Sousa et al. (2013), uma relação importante entre fornecedores e clientes. Empresas como Fiat e Volks são exemplos de desenvolvimento de forne- cedores e positivas parcerias estratégicas. A Fiat automobilística, que possui seu parque industrial em Betim, Minas Gerais, desenvolveu parceria com seus fornecedores, trazendo-os para suas proximidades. Isso é considerado um con- domínio industrial. Com isso, a Fiat conseguiu reduzir custos de transporte, agilizar tempos de entrega e melhorar seus níveis de estoque, ofertando aos fornecedores contratos de longo prazo com continuidade de fornecimento e exclusividade na produção das peças (CHING, 2010). A Volks, situada na cidade de Resende, Rio de Janeiro, tem uma forma revolucionária de gerenciar e se relacionar com seus fornecedores. Dentro de seu parque fabril de caminhões, estão os seus fornecedores, desenvolvendo o consórcio modular. Um caminhão é produzido com base em cinco módulos diferentes e de forma sequencial, formados por grupos de fornecedores dis- postos em formato de consórcios. Cada um desses consórcios possui líderes que gerenciam subfornecedores pelo cumprimento de cada etapa do módulo e continuação da produção. Dessa forma, a Volks promove o crescimento conjunto de seus fornecedores, já que a participação nos lucros das vendas dos caminhões é de ambos. Reduz seus problemas com estocagem das matérias- -primas e produtos em elaboração, além de diminuir custos com funcionários, transferindo isso para o fornecedor (CHING, 2010). A ampliação de parcerias entre empresas compradoras e fornecedores cria barreiras para novos entrantes, amplia os processos e tecnologias, além de fortalecer o mercado de atuação da cadeia. Reduz também custos e promove um desenvolvimento constante de inovação e crescimento de ambas as empresas. 15Logística de suprimento ALTO, C. F. M.; PINHEIRO, A. M.; ALVES, P. C. Técnicas de compras. Rio de Janeiro: FGV, 2009. BAILY, P. et al. Compras: princípios e administração. São Paulo: Atlas, 2000. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BIER, A. Natal: parcelamento de Sartori joga o RS na era do escambo. Porto Alegre: SindBancários, 2016. 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Administração de materiais: um enfoque prático. São Paulo: Atlas, 2000. Logística de suprimento16 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 17Logística de suprimento G393 Ges tão logística da cadeia de suprimentos [recurso eletrônico] / Donald J. Bowersox ... [et al.] ; revisão técnica: Alexandre Pignanelli ; tradução: Luiz Claudio de Queiroz Faria. – 4. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8055-318-5 1. Logística Empresarial. 2. Administração – Material – Logística. I. Bowersox, Donald J. CDU 658.7 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB-10/2052 Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 2 1/10/14 4:33 PM CAPÍTULO 8 Transportes R E S U M O D O C A P Í T U L O FUNCIONALIDADE E PARTICIPANTES FUNCIONALIDADE PARTICIPANTES ESTRUTURA DE TRANSPORTES FERROVIÁRIO RODOVIÁRIO HIDROVIÁRIO DUTOVIÁRIO AÉREO CLASSIFICAÇÃO DOS MODAIS SERVIÇOS ESPECIALIZADOS DE TRANSPORTES SERVIÇOS DE ENCOMENDAS TRANSPORTE INTERMODAL INTERMEDIÁRIOS NÃO OPERACIONAIS ECONOMIA NO SETOR DE TRANSPORTES ECONOMIA DA DISTÂNCIA ECONOMIA DO PESO ECONOMIA DA DENSIDADE OUTROS FATORES CUSTOS DE TRANSPORTE ADMINISTRAÇÃO DE TRANSPORTES GERÊNCIA OPERACIONAL CONSOLIDAÇÃO NEGOCIAÇÃO CONTROLE AUDITORIA E GESTÃO DE RECLAMAÇÕES PREÇOS PREÇO FOB PREÇO CIF DESCONTOS PARA COLETA O transporte normalmente representa a maior despesa logística. Os gesto- res de transportes comprometem ou gerenciam mais de 60% das despesas logísticas totais de uma empresa típica. São também responsáveis pela movimentação do estoque através da ca- deia de suprimentos de uma empresa e para os clientes. Hoje, existe uma ampla gama de opções de transporte para apoiar a logística da cadeia de suprimentos. A escolha mais importante é entre utilizar transportadoras contratadas ou uma frota própria operada pela empresa. Muitos gestores de transportes optam por utilizar uma combinação de serviços de transportes próprios e contratados. Quando a decisão é de contratar serviços de transportes, os gestores de uma empresa têm uma ampla gama de opções. Além do transporte, muitos prestadores de serviço também ofere- cem uma grande variedade de serviços com valor agregado, como separação de produtos, se- Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 200 1/10/14 4:34 PM Transportes CAPÍTULO 8 201 quenciamento, modificação e entrega just‑in‑time ou garantida. A precisão na entrega do produto ajuda uma empresa a reduzir o estoque, armazenamento e manuseio de materiais. Desse modo, o valor do serviço de transporte pode ser maior que aquele referente à simples movimentação do produto de um local para o outro. À medida que as expectativas operacio- nais se tornam mais precisas, os ciclos de atividade do pedido até a entrega se tornam mais curtos e as margens de erro operacional se aproximam de zero, os gestores bem-sucedidos acabam descobrindo que não existe transporte barato. A menos que ele seja gerenciado de maneira eficaz e eficiente, as compras, a produção e a gestão do relacionamento com os clientes não vão satisfazer as expectativas. Este capítulo fornece um panorama global sobre transportes e sobre como ele é gerenciado durante o processo logístico. FUNCIONALIDADE E PARTICIPANTES o tranSPorte É UM eleMento muito visível da logística. Os consumidores estão acostumados a ver caminhões e trens transportando produtos ou estacionados nas instalações de uma empresa. Poucos consumidores entendem completamente o quanto nosso sistema econômico depende de um transporte econômico e confiável. Esta seção apresenta os fundamentos dos transportes ao analisar sua funcionalidade e seus agentes participantes. FUNCIONALIDADE As empresas de transporte prestam dois serviços principais: movimentação e armazenamento de produtos. Movimentação de produtos Seja na forma de matérias-primas, componentes, produtos em processo ou acabados, a função básica dos transportes é movimentar o estoque para destinos específicos pela cadeia de supri- mentos. O desempenho dos transportes é vital para as compras, a fabricação e o atendimento ao cliente. O transporte também tem um papel fundamental no desempenho da logística rever- sa. Sem um transporte confiável, a maioria das atividades comerciais não funcionaria. O trans- porte consome recursos de tempo, financeiros e ambientais. O transporte tem um elemento restritivo porque o estoque geralmente fica inacessível durante seu processo. O estoque preso no sistema de transporte é denominado estoque em trânsito. Naturalmente, ao projetar sistemas logísticos, os gerentes se esforçam para reduzi- -lo a um nível mínimo. Avanços na tecnologia da informação melhoraram significativamen- te o acesso ao estoque em trânsito e à situação das entregas, ao fornecer o local e o momento exatos dos eventos. O transporte também usa recursos financeiros. Os custos de transportes resultam de fatores como mão de obra do motorista, operação do veículo, capital investido em equipamentos e administração. Além disso, a perda de produtos e os danos representam custos expressivos. O transporte exerce um impacto tanto direto quanto indireto sobre os recursos ambientais. Direto porque os transportes representam um dos maiores consumidores de combustível e óleo na economia mundial. Embora o nível de consumo de combustível e óleo tenha melhorado depois do lançamento de veículos mais eficientes, o consumo total ainda permanece alto. E indireto porque os transportes exercem impacto sobre o meio ambiente por causa de congestio- namentos, poluição do ar e poluição sonora. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 201 1/10/14 4:34 PM PARTE 2 Operações logísticas da cadeia de suprimentos202 Público Governo Embarcador Transportadora e agentes Destinatário (Recebedor) Internet FIGURA 8.1 Relacionamento entre os participantes do setor de transportes. Armazenamento de produtos Um aspecto menos visível do transporte é o desempenho do armazenamento de produtos. Enquanto um produto está em um veículo de transporte, ele está armazenado. Veículos de transporte também podem ser usados para armazenar produtos na origem ou no destino do carregamento. Se o estoque envolvido estiver programado para ser embarcado dentro de poucos dias para um local diferente,o custo para descarregar, armazenar e recarregar o produto pode ser mais alto do que o custo temporário de uso de um veículo de transporte para armazenamento.1 Outro serviço dos transportes com implicações relacionadas ao armazenamento é a altera‑ ção de rota, que ocorre quando o destino de um carregamento é alterado depois que o produ- to está em trânsito. Por exemplo, o destino de um produto inicialmente enviado de Chicago a Los Angeles pode ser alterado para Seattle enquanto está em trânsito. Portanto, embora dis- pendioso, armazenar produtos em veículos de transporte pode justificar uma perspectiva de custo total ou de desempenho quando se consideram os custos de carga e descarga, as restrições de capacidade e a habilidade de ampliar os prazos de entrega. PARTICIPANTES As decisões de transporte são influenciadas por seis participantes: (1) embarcador, às vezes de- nominado consignador; (2) destinatário, tradicionalmente denominado consignatário; (3) transportadoras e agentes; (4) governo; (5) Internet; e (6) o público. A Figura 8.1 ilustra a rela- ção entre os participantes envolvidos. Para entender a complexidade do ambiente de transpor- te, é importante analisarmos o papel e a perspectiva de cada participante. Embarcador e destinatário O embarcador e o destinatário têm um interesse comum na movimentação de produtos da origem até o destino dentro de determinado tempo e pelo menor custo. Os serviços relaciona- dos ao transporte incluem horários de coleta e entrega, previsão do tempo em trânsito e zero de perdas e danos, bem como faturamento e troca de informações precisas e pontuais. Transportadora e agentes A transportadora, uma empresa que realiza o serviço de transporte, deseja maximizar sua ren- da pela movimentação ao mesmo tempo que reduz os custos associados. Como empresas de 1 Os termos técnicos de encargos relacionados com a utilização de veículos de transporte para armazenamento são demurrage para vagões ferroviários e detenção para caminhões. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 202 1/10/14 4:34 PM Transportes CAPÍTULO 8 203 serviços, as transportadoras desejam cobrar de seus clientes a tarifa mais alta possível ao mesmo tempo que minimizam os custos de mão de obra, combustível e veículos necessários para reali- zar a movimentação. Para atingir esse objetivo, ela procura coordenar os horários de coleta e entrega para agrupar ou consolidar o carregamento de muitos embarcadores diferentes em movimentações que proporcionem economia de escala e de distância. Agentes de transporte e agentes de cargas facilitam a coordenação entre transportadoras e clientes. Governo O governo tem um interesse efetivo nos transportes por causa da importância crítica de serviços confiáveis para o bem -estar econômico e social. O governo deseja um ambiente de transporte estável e eficiente para apoiar o crescimento econômico. Um ambiente de transporte estável e eficiente requer que as transportadoras prestem servi- ços essenciais por um custo razoável. Devido ao impacto direto dos transportes sobre o sucesso econômico, os governos tradicionalmente têm estado envolvidos na supervisão das práticas de transporte. O governo historicamente regulamentou as transportadoras ao restringir os merca- dos a que elas podiam atender e ao aprovar os preços que poderiam cobrar. Os governos tam- bém incentivam o desenvolvimento das transportadoras ao apoiar pesquisas e fornecer direitos preferenciais, como em rodovias e aeroportos. Internet Um avanço recente no setor de transportes é uma ampla variedade de serviços baseados na Internet. A principal vantagem da comunicação via Internet é a capacidade de as transporta- doras compartilharem informação em tempo real com clientes e fornecedores. Além da comu- nicação direta pela Internet entre empresas envolvidas nas operações logísticas, uma ampla variedade de empresas baseadas na web foram lançadas nos últimos anos. Essas empresas normalmente fornecem dois tipos de ambientes. O primeiro é o mercado de troca de informa- ções para coordenar a capacidade de carga da transportadora com carregamentos disponíveis. Além da coordenação de cargas, a segunda forma de troca de informações baseada na Internet está relacionada à compra de combustível, equipamentos, peças e suprimentos. As trocas de informações via Internet proporcionam às transportadoras a oportunidade de agregar suas compras e identificar oportunidades com uma ampla gama de revendedores potenciais. Público O último participante do sistema de transportes, o público, se preocupa com a acessibilidade, as despesas e a eficácia dos transportes, além das preocupações com padrões ambientais e de segurança. O público cria indiretamente a demanda de transportes ao comprar produtos, em- bora saiba que para minimizar o custo de transportes é preciso considerar o impacto ambiental e a segurança. Os efeitos da poluição do ar e do vazamento de combustíveis são uma questão social significativa relacionada aos transportes. O custo do impacto ambiental e da segurança é pago, em última instância, pelos consumidores. ESTRUTURA DE TRANSPORTES A estrutura de transporte de cargas consiste em infraestrutura física, veículos e transportadoras que operam dentro de cinco modais básicos de transportes. Um modal identifica um método ou forma de transporte básico. Os cinco modais básicos de transportes são ferroviário, rodoviá- rio, hidroviário, dutoviário e aéreo. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 203 1/10/14 4:34 PM PARTE 2 Operações logísticas da cadeia de suprimentos204 1960 1970 1980 1990 2000 2009 Rodoviário 32,3 62,5 155,3 270,1 481,0 542,0 Ferroviário 9,0 11,9 27,9 30,0 36,0 50,0 Hidroviário 3,4 5,3 15,3 20,1 26,0 29,0 Dutoviário 0,9 1,4 7,6 8,3 9,0 10,0 Aéreo 0,4 1,2 4,0 13,7 27,0 29,0 Outros transportadores 0,4 0,4 1,1 4,0 10,0 28,0 Outros custos 1,3 1,4 2,4 3,7 5,0 9,0 Total Geral 47,8 83,9 213,7 350,8 594,0 697,0 PIB (US$ trilhões) 0,5 1.046 2.831 5.832 9.960 14.256 Percentual do PIB 9,00% 8,03% 7,55% 6,02% 5,92% 4,89% TABELA 8.1 Gastos com frete nos Estados Unidos (US$ bilhões). Fonte: U.S. Freight Transportation Forecast to 2021, American Trucking Associations, Inc., 2010, p. 25. Modal Volume(milhões de toneladas) Participação do modal (%) Variação percentual 2009 2015 2021 2009 2015 2021 2009-2015 Rodoviário 8.949 10.515 11.498 68,0% 69,8% 70,7% 29,9% Ferroviário 1.773 1.957 2.033 13,6% 13,0% 12,5% 14,6% Intermodal ferroviário 139 193 253 1,1% 1,3% 1,6% 82,6% Aéreo 12 15 18 0,1% 0,1% 0,1% 57,3% Hidroviário 829 929 964 6,4% 6,2% 5,9% 16,4% Dutoviário 1.417 1.453 1.502 10,9% 9,6% 9,2% 6,0% Total 13.018 15.061 16.269 TABELA 8.2 Cargas domésticas por modal e volume. Fonte: U.S. Freight Transportation Forecast to 2021, American Trucking Associations, Inc., 2010, p. 25. TABELA 8.3 Cargas domésticas por modal e receita. Modal Volume(milhões de toneladas) Participação do modal (%) Variação percentual 2009 2015 2021 2009 2015 2021 2009-2015 Rodoviário 544 748 933 81,9% 82,8% 83,0% 71,4% Ferroviário 40 51 61 6,0% 5,7% 5,4% 51,6% Intermodal ferroviário 9 16 24 1,4% 1,7% 2,1% 151,1% Aéreo 20 29 40 3,0% 3,2% 3,6% 99,5% Hidroviário 10 13 15 1,5% 1,5% 1,3% 51,5% Dutoviário 41 46 51 6,2% 5,1% 4,5% 24,6% Total 665 903 1.123 Fonte: U.S. Freight Transportation Forecast to 2021, American Trucking Associations, Inc., 2010, p. 25. A importância relativa de cada modal de transporte nos Estados Unidos é medida em qui- lometragem, volume de tráfego, receita e natureza da carga transportada. A Tabela 8.1 fornece um resumo dos gastos com transportes por modal de 1960 a 2009. As Tabelas 8.2 e 8.3 forne- cem a participação em tonelagem e receita por modal em 2009 e a projeção para 2015 e 2021. Esses dados confirmam que a participação rodoviária no transporte de cargas doméstico ultra- passa em muito a dos outros modais combinados. Embora todos eles sejam vitais para uma estrutura nacional de transportessólida, fica claro que a economia dos Estados Unidos, tanto atual quanto projetada, depende dos caminhões. A discussão a seguir fornece uma breve visão geral das características essenciais de cada modal. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 204 1/10/14 4:34 PM Transportes CAPÍTULO 8 205 FERROVIÁRIO Em termos históricos, as ferrovias sempre transportaram a maior quantidade de toneladas por quilômetro dentro dos Estados Unidos. Uma “tonelada-quilômetro” é uma medida padrão da atividade de frete que combina peso e distância. Como resultado do desenvolvimento primor- dial de uma ampla rede ferroviária que conectava quase todas as cidades e vilas, as ferrovias dominaram a tonelagem de cargas intermunicipais até depois da Segunda Guerra Mundial. Essa superioridade resultou desde o início da capacidade de transportar grandes cargas com economia e de oferecer frequência nos serviços. No entanto, com os avanços tecnológicos, uma grande concorrência das transportadoras rodoviárias começou a se desenvolver depois da Segunda Guerra Mundial. As ferrovias já estiveram em 1o lugar entre todos os modais em termos de quantidade de quilômetros de serviço. O amplo desenvolvimento de estradas e rodovias para apoiar o cresci- mento dos automóveis e caminhões depois da Segunda Guerra Mundial logo mudou essa classificação. Em 1970, havia 206.265 milhas de trilhos ferroviários nos Estados Unidos. Em 2005, a milhagem de trilhos havia diminuído para 95.830, como resultado de um abandono significativo.2 Desde 2005 a milhagem ferroviária se estabilizou. A capacidade de transportar de modo eficiente grandes quantidades de cargas por longas distâncias é a principal razão de as ferrovias continuarem a lidar com percentuais significativos de cargas intermunicipais. As operações ferroviárias têm custos fixos altos devido ao valor de equipamentos, faixas de domínio e trilhos, pátios de manobra e terminais. No entanto, as fer- rovias apresentam custos operacionais variáveis relativamente baixos. O desenvolvimento de motores a diesel reduziu o custo variável da tonelada-quilômetro, e a eletrificação reduziu ainda mais os custos. Modificações nos acordos trabalhistas reduziram as necessidades de re- cursos humanos, resultando em reduções no custo variável. Como consequência da desregulamentação e do desenvolvimento empresarial, o tráfego ferro- viário mudou do transporte de uma ampla gama de produtos para o transporte de cargas específi- cas. A essência da tonelagem ferroviária vem de setores extrativistas localizados a uma distância considerável de hidrovias e itens pesados como automóveis, equipamentos agrícolas e máquinas. A estrutura de custos fixos e variáveis das ferrovias oferece vantagens competitivas para movimenta- ções de longa distância. Em meados da década de 1970, as ferrovias começaram a segmentar o mercado de transportes concentrando-se no tráfego de vagões de carga, contêineres e intermodal. As ferrovias aumentaram sua capacidade de resposta a necessidades específicas dos clientes enfati- zando os setores graneleiros e de indústrias pesadas em contraste com o serviço de vagão de carga tradicional. As operações intermodais foram expandidas pela formação de alianças com as trans- portadoras rodoviárias. Por exemplo, a United Parcel Service, primariamente uma transportadora rodoviária, é a maior usuária do serviço ferroviário de transporte de carretas nos Estados Unidos. Para oferecer um serviço melhor aos principais clientes, as ferrovias contemporâneas se concentraram no desenvolvimento de equipamentos especializados, como vagões fechados com três andares para automóveis, vagões especiais para eletrodomésticos, trens dedicados, vagões articulados e vagões plataforma com empilhamento duplo de contêineres. Uma inova- ção recente foi a introdução da tecnologia de contêiner sobre vagão plataforma (COFC – container‑an‑flatcar) de 16 metros com controle de temperatura.3 Essas tecnologias estão sendo aplicadas pelas ferrovias para reduzir o peso, aumentar a capacidade de carga e facilitar os in- tercâmbios. As três últimas inovações serão explicadas em mais detalhes. 2 U.S. Department of Transportation, Bureau of Transportation Statistics, Pocket Guide to Transportation (Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 2006). 3 “Trucking Firm Introduces Temp-Controlled Containers for Rail,” Cargo Business News, October 3, 2010. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 205 1/10/14 4:34 PM PARTE 2 Operações logísticas da cadeia de suprimentos206 Em um trem dedicado, toda a capacidade é comprometida no transporte de um único produto. Normalmente, são produtos a granel, como carvão ou grãos. Trens dedicados tam- bém têm sido usados para apoiar operações de montagem na indústria automobilística. O trem unitário é mais rápido e menos dispendioso de operar que os trens tradicionais, visto que pode ter uma rota direta e sem paradas da origem até o destino. Vagões articulados possuem um chassi estendido que pode carregar até dez contêineres em uma única unidade flexível. O conceito é reduzir o tempo necessário para montar os trens nos pátios. Os vagões plataforma com empilhamento duplo de contêineres, como diz o nome, são proje- tados para transportar dois níveis de contêineres em uma única plataforma, duplicando, assim, a capacidade de cada vagão. Para permitir o crescimento do empilhamento duplo de contêineres, foi preciso ampliar a altura dos túneis ferroviários das principais ferrovias dos Estados Unidos para 6,5 metros. Essa ampliação foi cara para as ferrovias e não estava concluída na maioria das vias férreas até o outono de 2006. Essa ampliação permite hoje que dois contêineres de 2,9 metros, um tamanho padronizado mundialmente, sejam empilhados para o transporte intermunicipal.4 Os exemplos citados não são, de forma alguma, uma ampla análise das recentes inovações ferroviárias. São representantes de tentativas de manter e aumentar a participação das ferrovias no mercado. É claro que mudanças significativas continuam a ocorrer nas ferrovias tradicionais. Os desafios dos anos 1970, de sobrevivência e potencial nacionalização, foram substituídos por uma malha ferroviária revitalizada. As ferrovias atualmente exercem uma influência importante e altamente concentrada sobre a estrutura de transportes como líderes intermodais do século XXI. Muitos observadores acreditam que os congestionamentos crescentes e os aumentos nos custos dos combustíveis servirão para vitalizar ainda mais o setor ferroviário em geral. Em grande medida, o futuro das ferrovias está na adoção da tecnologia de trens de alta velo- cidade. O desenvolvimento de trens que se desloquem rapidamente nos transportes ferroviários interestaduais tem sido um problema persistente para as ferrovias americanas, que foram deixadas para trás pela inovação estrangeira. O famoso trem-bala japonês, que mantém velocidade de até 320 km/h, tem se mantido em operação permanente desde 1964. Os novos trens japoneses por levitação magnética estão sendo testados em velocidades superiores a 580 km/h. Já os trens de alta velocidade na França (575 km/h) e na China (486 km/h) estão sendo utilizados comercialmente. Atualmente, a China possui a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, projetada para ultrapassar a marca de 16 mil km de trilhos em 2020. Por isso, está claro que as ferrovias ameri- canas estão sendo ultrapassadas pelos desenvolvimentos nesses outros países.5 RODOVIÁRIO O transporte rodoviário se expandiu rapidamente desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O crescimento acelerado do setor de transportes rodoviários é resultado da velocidade conjugada com a capacidade de operar porta a porta. Os caminhões têm flexibilidade porque são capazes de operar em diversas rodovias. Mais de 1,5 milhão de km de estradas estão disponíveis para os caminhões nos Estados Unidos, o que representa mais quilometragem que todos os outros modais de superfície em conjunto. A frotanorte-americana de caminhões de estrada excede o 1,7 milhão de tratores rodoviários (cavalos mecânicos) e os 4,9 milhões de carretas.6 4 USA Today, October 10, 2006, p. 3A. 5 Anita Chang, Associated Press Release, December 6, 2010. 6 U.S. Department of Transportation, Bureau of Transportation Statistics, “Highway Statistics, 2006,” Washington, DC, 2006. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 206 1/10/14 4:34 PM Transportes CAPÍTULO 8 207 Em comparação com as ferrovias, os caminhões têm um investimento fixo relativamente baixo em instalações de terminais e operam em estradas financiadas e mantidas com dinheiro público. Embora os custos de taxas de licenciamento, pedágios e impostos sejam consideráveis, essas despesas estão diretamente relacionadas ao número de caminhões e de quilômetros em que se opera. O custo variável por quilômetro para transportadoras rodoviárias é alto porque elas requerem uma unidade de força e um motorista para cada carreta ou combinação de car- retas enfileiradas. As necessidades de mão de obra também são altas devido às restrições de segurança do motorista e a necessidade substancial de mão de obra nos terminais de carga e descarga. As operações de caminhões são caracterizadas por custos fixos baixos e custos variá- veis altos. Em comparação com as ferrovias, as transportadoras rodoviárias lidam de modo mais eficiente com pequenos carregamentos movimentados em curtas distâncias. As características do transporte rodoviário favorecem os negócios relacionados à indústria e à distribuição, em distâncias de até 800 km para produtos de valor alto. Os caminhões tomaram uma parte significativa dos transportes por trem na indústria de produtos médios e leves. Como consequência da flexibilidade na entrega, as transportadoras rodoviárias dominam a movimenta- ção de carga dos atacadistas e depósitos para as lojas. A perspectiva de futuro para o transporte rodoviário continua brilhante. Hoje, com exceção de produtos em pequenos pacotes que se mo- vimentam por meio de serviço aéreo especial, quase todos os carregamentos intermunicipais de menos de 15 mil libras (cerca de 7 mil kg) são transportados por caminhões. O setor de transportes rodoviários não está livre de problemas. As principais dificuldades são o aumento do custo de reposição de equipamentos, a manutenção, a segurança, a falta de moto- ristas, a regulamentação de horário de trabalho dos caminhoneiros, os salários dos trabalhadores dos terminais e o custo do combustível. Embora o aumento da folha de pagamento influencie todos os meios de transporte, o setor rodoviário usa muita mão de obra, o que faz que os salários altos sejam uma grande preocupação. Para evitar essa tendência, as transportadoras têm se con- centrado na melhoria da programação das rotas de transporte, em sistemas de faturamento com- putadorizado, em terminais mecanizados, em arranjos que carregam duas ou três carretas com uma única unidade de força, e na participação em sistemas de transporte intermodal coordenado. Os tamanhos dos caminhões e os pesos permitidos nas rodovias federais estão congelados desde 1993. No outono de 2010, foi introduzida uma legislação conjunta no Senado e na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, permitindo que os estados acabassem com a restrição federal do peso de 36 toneladas em caminhões de cinco eixos. Na proposta, que não se transformou em lei, o limite de peso nas rodovias interestaduais aumentaria para 44 toneladas, juntamente ao acrés- cimo de um sexto eixo na traseira das carretas de 16 metros de comprimento.7 Outro problema enfrentado pelo setor rodoviário é o cumprimento do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). Enquanto os caminhões se movimentam de manei- ra irrestrita entre o Canadá e os Estados Unidos, esse não é o caso do México, o segundo maior comprador de produtos exportados pelos Estados Unidos. Muitos acham que seguir as diretri- zes originais do NAFTA é uma das maiores barreiras enfrentadas pelos Estados Unidos no in- centivo do crescimento econômico.8 Uma alternativa para o serviço de caminhões contratados individualmente são os cami- nhões de propriedade do embarcador ou operados por prestadores de serviços logísticos inte- grados (ISPs – Integrated Service Providers), que são contratados para realizar serviços de transporte para embarcadores específicos. 7 Safe and Efficient Transportation Act (SETA). 8 Ken Burns, “It’s Time to Implement Cross-Border Trucking,” Inbound Logistics, August 2010, p. 30. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 207 1/10/14 4:34 PM PARTE 2 Operações logísticas da cadeia de suprimentos208 Cerca de 55% de toda a tonelagem intermunicipal é carregada por caminhões de proprie- dade do embarcador ou controlada por ele. Depois da desregulamentação nos Estados Unidos, essa proporção alcançou a taxa máxima de 66% em 1987. O declínio para 55% foi resultado de os embarcadores perceberem as inúmeras complexidades e problemas de operação de uma frota própria. O crescimento da quantidade de caminhões operados por prestadores de serviços integrados oferece um serviço que combina a flexibilidade da frota própria com o potencial de consolidação dos operadores contratados. Um prestador de serviços integrados pode prestar serviços a diversos embarcadores e, assim, obter tanto economias de escala quanto de distância. Desde 1980, a desregulamentação alterou drasticamente a natureza do transporte rodoviá- rio terceirizado nos Estados Unidos. Os segmentos do setor, que ficaram mais bem definidos após a desregulamentação, incluem carga completa (TL – Truckload), carga fracionada (LTL – Less ‑than ‑truckload) e especialidades. A mudança drástica se relaciona ao tipo de transporta- dora que opera em cada categoria. O segmento TL inclui cargas de mais de 15 mil libras que geralmente não exigem paradas intermediárias entre a origem e o destino. Embora grandes empresas como a Schneider National e a J. B. Hunt prestem serviço de TL em âmbito nacional, o segmento é caracterizado por uma grande quantidade de transportadoras relativamente pequenas e que geralmente são muito competitivas tratando-se de preços. O segmento LTL envolve carregamentos de menos de 15 mil libras que comumente devem ser consolidados para alcançar a capacidade da carreta. Como resultado dos custos dos termi- nais de origem e de destino e das despesas de marketing relativamente maiores, o segmento LTL tem um percentual de custos fixos maior do que o segmento TL. As características opera- cionais do segmento de frete LTL causaram extensa consolidação no setor, resultando em poucas transportadoras nacionais relativamente grandes e uma sólida rede regional de peque- nas transportadoras. As cinco maiores transportadoras LTL em receita no ano de 2009 foram a FedEx Freight, YRC National, Com-Way Freight, UPS Freight e ABF Freight System.9 As empresas de especialidades incluem transportadoras de grandes volumes (granel) até pequenas encomendas, como a Waste Management e a United Parcel Service (UPS). Elas se concentram nas necessidades de transporte específicas de um mercado ou produto. As transpor- tadoras de especialidades geralmente não são concorrentes diretas dos outros dois segmentos. Com base apenas no tamanho do setor de transportes rodoviários e nos serviços prestados, fica bastante claro que o transporte em estradas continuará a funcionar como eixo principal das operações logísticas. HIDROVIÁRIO O transporte hidroviário é o mais antigo meio de transporte. Os navios a vela foram substituí- dos por barcos a vapor no início do século XIX e a diesel na década de 1920. Geralmente se faz a distinção entre o transporte em águas profundas (marítimo) e o transporte em vias nave- gáveis internas (fluvial ou lacustre). O transporte em águas domésticas, que nos Estados Unidos envolve os Grandes Lagos, canais e rios navegáveis, tem mantido uma participação anual de tonelagem-quilômetro rela- tivamente constante, na faixa de19% a 30% ao longo das últimas quatro décadas. Embora a participação tenha se mantido relativamente constante, a composição tem mudado drasti- camente. A quantidade de toneladas-quilômetros em rios e canais aumentou em mais de 113 milhões entre 1965 e 2006, enquanto as toneladas-quilômetros nos Grandes Lagos diminu- 9 John D. Schulz, “Trucking Game Changing Movement,” Supply Chain Management Review, May-June, 2010, pp. 56s-66s. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 208 1/10/14 4:34 PM Transportes CAPÍTULO 8 209 íram em mais de 13 milhões durante o mesmo período. Esses números refletem tanto uma mudança do transporte de produtos a granel em ferrovias e rodovias para movimentações hi- droviárias em rios e canais na costa, de menor custo, bem como uma mudança das movimen- tações em lagos para o transporte rodoviário. Sem incluir os Grandes Lagos ou a navegação costeira, existem nos Estados Unidos 42 mil km de hidrovias interiores. O tamanho dessa rede se manteve estável ao longo da década pas- sada e espera -se que continue assim em um futuro próximo. Existem menos quilômetros no sistema de vias navegáveis internas do que em qualquer outro meio de transporte. A principal vantagem do transporte hidroviário é a capacidade de transportar carregamen- tos extremamente grandes. Esse transporte utiliza dois tipos de navios para movimentação: navios de águas profundas geralmente projetados para o transporte costeiro, oceânico e nos Grandes Lagos e barcas que operam em rios e canais e têm mais flexibilidade. O transporte hidroviário fica entre o transporte ferroviário e o rodoviário em relação aos custos fixos. Embora as transportadoras hidroviárias tenham de desenvolver e operar seus pró- prios terminais, as hidrovias são desenvolvidas e mantidas pelo governo, resultando em custos fixos moderados, em comparação com o transporte ferroviário. As principais desvantagens do transporte hidroviário são o alcance limitado de operações e a baixa velocidade. A menos que a origem e o destino da movimentação sejam adjacentes a uma via navegável, há necessidade de transporte complementar por ferrovia ou caminhão. A capacidade do modal hidroviário de trans- portar uma alta tonelagem por um baixo custo variável aumenta a demanda por esse modal quando são desejadas baixas tarifas e a velocidade é uma consideração secundária. O transporte hidroviário continuará a ser uma opção viável de transporte no futuro da logística da cadeia de suprimentos. A baixa velocidade de trânsito do transporte em rios ofe- rece uma forma de armazenamento de produtos em trânsito que pode beneficiar o projeto do sistema logístico. Além disso, o Acordo de Livre Comércio da América do Norte continua a oferecer o potencial de aumento da utilização do Canal de São Lourenço para unir novos mercados produtores e consumidores nas cidades portuárias do México, Meio Oeste e Canadá. Por fim, o transporte hidroviário continua a ser o principal meio de transporte para a logística global. DUTOVIÁRIO Os dutos são uma parte significativa do sistema de transportes dos Estados Unidos. Eles respon- dem por cerca de 67,8% de toda a movimentação de petróleo bruto e refinado em toneladas- -quilômetros. Em 2005, 256.710 km de dutos estavam em operação nos Estados Unidos.10 Além dos produtos de petróleo, outro produto importante transportado por dutos é o gás natural. Assim como os dutos de petróleo, eles são propriedade do governo e operados por empresas privadas, e muitas empresas de gás funcionam como distribuidoras e fornecedores de serviço de transporte. A natureza básica de um duto é singular em comparação com qualquer outro modal de transporte. Os dutos funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, e são paralizados ape- nas por operações de troca de produtos e manutenção. Diferentemente dos outros modais, não há contêiner ou veículo vazio que deve retornar. Os dutos têm o mais alto custo fixo e o mais baixo custo variável entre os modais de transporte. Os altos custos fixos resultam de sua estru- tura física, das faixas de domínio, da construção e das necessidades das estações de controle, e da capacidade de bombeamento. Uma vez que os dutos não necessitam de muita mão de obra, 10 Association of Oil Pipelines, “Safety and Efficiency,” Washington, DC, 2010. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 209 1/10/14 4:34 PM PARTE 2 Operações logísticas da cadeia de suprimentos210 o custo operacional variável é extremamente baixo depois que ele é construído. Uma des- vantagem evidente é que os dutos não são flexíveis e são limitados em relação aos produtos que podem transportar, visto que apenas produtos na forma de gás, líquido ou massa semiflui- da podem ser movimentados. Experimentos sobre a movimentação potencial de produtos sólidos na forma de pasta fluí- da ou suspensão líquida continuam em desenvolvimento. Os dutos de pasta de carvão prova- ram ser um modo eficiente e econômico de transportá-lo por grandes distâncias, porém exigem enormes quantidades de água, o que os torna uma séria preocupação entre os ambientalistas. AÉREO O mais novo e menos utilizado modo de transportes de cargas é o aéreo. Sua vantagem signi- ficativa se encontra na velocidade na qual um carregamento pode ser transportado. Um carregamento costa a costa dos Estados Unidos por via aérea requer apenas horas, em con- traste com outros modais de transporte. Embora seja mais caro, a velocidade do transporte aéreo permite que outros aspectos da logística, como armazenamento e estoque, sejam redu- zidos ou eliminados. O transporte aéreo, apesar de ter ótimo desempenho, ainda permanece mais um potencial do que uma realidade. Ele é responsável por 1% das toneladas-quilômetros intermunicipais transportadoras nos Estados Unidos. A capacidade do transporte aéreo é limitada pelo tama- nho e pela capacidade de carga e pela disponibilidade de aeronaves. Tradicionalmente, o frete aéreo era transportado em voos regulares de passageiros. Embora a prática fosse econômica, ela resultava em uma capacidade e flexibilidade limitadas nas operações de frete. O alto custo dos aviões, combinado com a natureza errática da demanda por fretes aéreos, serviu para limi- tar a viabilidade econômica das aeronaves dedicadas apenas a operações de carga. No entanto, o advento das transportadoras aéreas premium, como Federal Express e United Parcel Air, lançou o serviço de frete aéreo global programado. Embora esse serviço es- pecializado fosse originalmente destinado a documentos de alta prioridade, ele se expandiu para incluir o frete de encomendas em geral. Por exemplo, essas transportadoras integraram seus serviços para incluir entregas de peças durante a noite, saindo de centros de distribuição centralizados localizados perto de suas centrais de operação de tráfego aéreo. A entrega aérea à noite a partir de um depósito centralizado é atraente para empresas com uma grande quan- tidade de produtos de alto valor e necessidades de serviço que dependem de tempo. O custo fixo do transporte aéreo é baixo, se comparado a ferrovias, hidrovias e dutos. Na verdade, o transporte aéreo fica em segundo lugar, perdendo apenas para o transporte rodoviário em relação ao baixo custo fixo. Aerovias e aeroportos geralmente são desenvolvidos e mantidos pelo governo. Os custos fixos do frete aéreo estão associados à compra de aeronaves e à necessi- dade de sistemas de manuseio especializados e contêineres de carga. Por outro lado, o custo variá- vel do frete aéreo é extremamente alto, como consequência do custo de combustível, tarifas acroportuárias, manutenção e intensidade de mão de obra nas tripulações em voo e em terra. Visto que os aeroportos necessitam de terrenos significativamente grandes, eles geralmente são limitados em relação à integração com outros modais de transporte. No entanto, existe um interesse substancial na integração do transporte aéreo com outros modais e no desenvolvimen- to de aeroportos apenas de carga paraeliminar o conflito com o serviço de passageiros. Por exemplo, o Alliance Airport, localizado perto de Fort Worth, Texas, foi projetado para integrar a distribuição por vias aéreas, ferroviárias e rodoviárias a partir de um único local. Nenhuma produto específico domina o tráfego de operações de cargas aéreas. Talvez a me- lhor definição seja que a maioria da carga tem alto valor e alta prioridade. Quando o período de Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 210 1/10/14 4:34 PM Transportes CAPÍTULO 8 211 TABELA 8.4 Estrutura de custos de cada modal. Ferroviário. Alto custo fixo de equipamentos, terminais, trilhos etc. Baixo custo variável. Rodoviário. Baixo custo fixo (estradas prontas e fornecidas pelo dinheiro público). Custo variável médio (combustível, manutenção etc.). Hidroviário. Custo fixo médio (navios e equipamentos). Baixo custo variável (capacidade de transportar grande quantidade de carga). Dutoviário. Custo fixo mais alto de todos (dutos, faixas de domínio, construção, necessidade de estações de controle e capacidade de bombeamento). Custo variável mais baixo de todos (não há custo de mão de obra significativo). Aéreo. Baixo custo fixo (aeronaves e sistemas de manuseio e carga). Alto custo variável (combustível, mão de obra, manutenção etc.). TABELA 8.5 Características operacionais relativas por modal de transporte.* Características operacionais Ferroviário Rodoviário Hidroviário Dutoviário Aéreo Velocidade 3 2 4 5 1 Disponibilidade 2 1 4 5 3 Confiabilidade 3 2 4 1 5 Capacidade 2 3 1 5 4 Frequência 4 2 5 1 3 Total 14 10 18 17 16 *A classificação mais baixa é a melhor. comercialização de um produto é extremamente limitado, como presentes de Natal, roupas de alta -costura, peixes frescos ou flores naturais, o transporte aéreo pode ser o único método de transporte prático para apoiar as operações globais. A logística rotineira de produtos como com- putadores, peças de reposição e suprimentos médicos também utiliza o frete aéreo. CLASSIFICAÇÃO DOS MODAIS A Tabela 8.4 compara a estrutura de custos fixos e variáveis de cada modal. A Tabela 8.5 clas- sifica as características operacionais dos modais em relação à velocidade, à disponibilidade, à confiabilidade, à capacidade e à frequência. Velocidade se refere ao tempo decorrido na movimentação. O frete aéreo é o mais rápido de todos os modais. Disponibilidade se refere à capacidade de um modal atender qualquer par de locais. As transportadoras rodoviárias apresentam a maior disponibilidade, visto que podem se dirigir diretamente a pontos de origem e destino. Confiabilidade se refere à varia- ção potencial da programação de entrega esperada ou especificada. Devido à continuidade do serviço e à pouca interferência por conta do tempo e de congestionamentos, os dutos têm a melhor classificação quanto à confiabilidade. Capacidade é a habilidade de um modal manu- sear qualquer requisito de transporte, como o tamanho da carga. O transporte hidroviário é o que apresenta maior capacidade. A classificação final é a frequência, que se refere à quantida- de de movimentações programadas. Os dutos, novamente por conta da continuidade do servi- ço entre dois pontos, lideram todos os modais em termos de frequência. Como ilustra a Tabela 8.5, o apelo do transporte rodoviário é explicado, em parte, pela alta classificação nas cinco características operacionais. As transportadoras rodoviárias ficam em primeiro ou segundo lugar em todas as categorias, exceto capacidade. Embora melhorias subs- tanciais na capacidade rodoviária tenham resultado do relaxamento das restrições de tamanho e peso em estradas interestaduais e da aprovação do uso de carretas múltiplas para uma unida- de de força, não é realista supor que o transporte rodoviário superará a capacidade do trans- porte ferroviário ou hidroviário. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 211 1/10/14 4:34 PM Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Catalogação na publicação: Júlia Angst Coelho – CRB 10/1712 B193g Ballou, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial / Ronald H. Ballou ; tradução Raul Rubenich. – 5. ed. – Porto Alegre : Bookman, 2006. 616 p. ; 28 cm. ISBN 978-85-363-0591-2 1. Logística Empresarial. 2. Administração – Material – Logística. I. Título. CDU 658.7 _Ballou-Ronald_00_Iniciais 4/14/08 12:44 PM Page ii CAPÍTULO 7 • DECISÕES SOBRE TRANSPORTES 191 bela 7-2 mostra os lucros a partir da perspectiva do for- necedor A para uma escolha de modal de transporte. Se o fabricante dos utensílios domésticos manti- ver a promessa de aumentar as quantidades de peças compradas do supridor com o melhor serviço de en- trega, o fornecedor A deve optar pela entrega via ro- doviária. E, é claro, ficar atento para quaisquer con- tra-medidas do fornecedor B destinadas a neutralizar sua vantagem. Avaliação dos Métodos de Seleção Os métodos debatidos para o problema da escolha dos serviços de transporte reconhecem a necessidade de in- cluir os efeitos indiretos que a opção por determinado meio de transporte exerce sobre os custos de estocagem e sobre a opção pelo integrante do canal logístico que oferece o melhor desempenho em modal de transporte. Isso em acréscimo ao custo direto do serviço proporcio- nado. Contudo, existem seguidamente outros fatores a serem levados em conta, alguns dos quais não ficam sob o controle do encarregado das decisões. Em primeiro lugar, é incentivada a cooperação direta e efetiva entre o fornecedor e o comprador quando há um razoável co- nhecimento dos custos de cada uma das partes. Sendo fornecedor e comprador entidades legalmente separa- das, torna-se duvidosa a viabilidade de uma informação perfeita sobre os custos, a menos que se elabore alguma maneira específica de intercâmbio de informações. De qualquer maneira, a sensibilidade às reações da outra parte a uma alternativa de serviço de transporte ou ao grau de preferência deveriam ser indicadores do rumo dessa cooperação. Em segundo lugar, sempre que houver um concor- rente no canal de distribuição, comprador e o fornece- dor deverão agir racionalmente a fim de conseguir com- pensações ótimas entre custos e serviço de transporte. Claro que o bom relacionamento entre as partes não po- de ser garantida. Em terceiro lugar, os efeitos dos preços ainda não foram contabilizados. Se um fornecedor precisar ofere- cer um serviço de transporte mais qualificado que o da concorrência, ele pode inclinar-se a aumentar o preço dos produtos como forma de compensação, ainda que mínima, do custo adicional. Já o comprador deveria le- var sempre em conta tanto preço quando desempenho do transporte na determinação de sua preferência. Em quarto lugar, as mudanças nas tarifas de trans- porte, no mix de produtos e nos custos de estocagem, bem como possíveis retaliações em matéria de serviço de transportes contra um fornecedor concorrente, acres- centam ao problema um elemento dinâmico que não foi ainda examinado com a devida atenção. Em quinto lugar, os efeitos indiretos da escolha do transporte sobre os estoques do fornecedor não foram avaliados. Os fornecedores, tanto quanto os comprado- res, podem passar por situações de excesso ou escassez de estoques, resultantes do tamanho do embarque em combinação com o transporte escolhido. Os fornecedo- res têm a opção de reajustar os preços para que reflitam fielmente essa situação, o que, em compensação, pode- rá vir a afetar a escolha do transporte. ROTEIRIZAÇÃO DOS VEÍCULOS O transporte representa normalmente entre um e dois terços dos custos logísticos totais; por isso mesmo, au- mentar a eficiência por meio da máxima utilização dos equipamentos e pessoal de transporte é uma das maio- res preocupações do setor. O tempo que as mercadorias passam em trânsito tem reflexos no número de fretes que podem ser feitos por veículo num determinado pe- ríodo de tempoe nos custos integrais do transporte para todos os embarques. Reduzir os custos do transporte e melhorar os serviços ao cliente, descobrir os melhores roteiros para os veículos ao longo de uma rede de rodo- vias, ferrovias, hidrovias ou rotas de navegação aérea a fim de minimizar os tempos e as distâncias constituem problemas muito freqüentes de tomada de decisão. Embora sejam muitas as variações dos problemas de roteirização, é possível reduzi-los a alguns modelos básicos. Existe o problema de encontrar uma rota ao longo de uma rede em que o ponto de origem seja dife- rente do ponto de destino. Há um problema similar sem- pre que se apresentam múltiplos pontos de origem e de destino. Mais complexo ainda é o problema de fazer iti- TABELA 7-2 Uma comparação de lucros das alternativas de modal de transporte do fornecedor A Modal de transporte Caixas vendidas Lucro bruto – Custo do transporte = Lucro líquido Ferrovia 1.500 $30.000,00 – $3.750,00 = 26.250,00 Rodovia 1.950 39.000,00 – 11.700,00 = 27.300,00 Aerovia 2.250 45.000,00 – 23.287,50 = 21.712,50 _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 191 192 PARTE III • ESTRATÉGIA DO TRANSPORTE nerários quando os pontos de origem e destino são o mesmo. Estudemos a melhor maneira de resolver cada um deles. Um Ponto de Origem e um Ponto de Destino O problema de roteirização de um veículo ao longo de uma rede de caminhos tem sido resolvido por métodos específicos. O método do caminho mais curto talvez se- ja a técnica mais simples e direta. Essa abordagem pode ser exemplificada da seguinte forma: uma rede represen- tada por ligações e nós, sendo os nós os pontos de cone- xão entre as ligações. Há os custos (distâncias, tempos, ou uma combinação desses dois formada como uma mé- dia ponderada entre tempo e distância) a serem percorri- dos entre os nós. Inicialmente, todos os nós são conside- rados não-resolvidos, ou seja, não estão ainda numa rota definida. Um nó resolvido é aquele que está na rota. En- tão, partindo da origem como um nó resolvido, temos: • Objetivo da enésima iteração. Encontre o ené- simo nó mais próximo da origem. Repita a ope- ração por n = 1, 2, ... até que o nó mais próximo seja o destino. • Entrada para a enésima iteração. Os (n – 1) nós mais próximos da origem, resolvidos em ite- rações anteriores, incluem sua rota e distância mais curta a partir da origem. Esses nós, mais a origem, serão chamados de nós resolvidos; os demais são nós sem solução. • Candidatos para o enésimo nó mais próximo. Cada um dos nós resolvidos que seja diretamen- te ligado por um ramo a um ou mais dos nós sem solução fornece um candidato – o nó sem solu- ção com o ramo de conexão mais curto. Os em- pates proporcionam candidatos adicionais. • Cálculo do enésimo nó mais próximo. Para ca- da um de tais nós resolvidos e seus candidatos, acrescente a distância entre eles e a distância da rota mais curta a este nó resolvido a partir da ori- gem. O candidato com a menor dessas distância totais é o enésimo nó mais próximo (os empates proporcionam nós resolvidos adicionais), e sua rota mais curta é a que gera essa distância. Embora o procedimento pareça um tanto complica- do, temos um exemplo capaz de ilustrar sua simplicida- de. Relacione o problema ao programa de distâncias de mapa rodoviário encontrados na Internet, como o Map- quest.5 O módulo ROUTE do LOGWARE pode resol- ver tais problemas rapidamente à medida que o tama- nho do problema aumenta e quando a computação ma- nual deixa de ser prática. Exemplo Suponha que tenhamos pela frente o problema mos- trado na Figura 7-2. Buscamos a rota mais rápida en- tre Amarillo e Fort Worth, duas cidades do estado nor- te-americano do Texas. Cada ligação tem um determi- nado tempo de viagem entre os nós, e os nós são in- tersecções rodoviárias. Começamos com a rotulagem de uma tabela, co- mo na Tabela 7-3. O primeiro ponto a ser identificado como um nó resolvido é a origem, ou A. Os nós ligan- FIGURA 7-2 Uma representação esquemática da rede de auto- estradas entre Amarillo e Fort Worth, no Estado do Texas, com os respectivos tempos de ligação rodoviária. ORIGEM Amarillo A B 84 E 66 C 90 138 348 156 D 48 G 132 F 120 60 84 H 48 150 DESTINO Fort Worth J 126 126 Oklahoma City Nota: Todos os tempos de ligação estão em minutos 90 minutos I 132 5 www.mapquest.com. _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 192 http://www.mapquest.com/ CAPÍTULO 7 • DECISÕES SOBRE TRANSPORTES 193 do diretamente a A que não têm solução são B, C e D. Na etapa 1, notamos que B é o próximo nó em relação a A e registramos a ligação. Note-se que B então assu- me o status de um nó resolvido, uma vez que se trata, esta, da única alternativa disponível. Em seguida, anotamos os mais próximos nós sem solução em relação aos nós resolvidos A e B. Re- lacionando apenas os mais próximos nós de ligação a partir de cada nó resolvido, temos A → C e B → C, que listamos como a etapa 2. Observe-se que para al- cançar um nó através de um nó já conectado é indis- pensável acrescentar um tempo mínimo ao tempo de ligação para alcançar o nó resolvido. Isto é, chegar a C por meio de B requer um tempo total de AB + BC, ou 90 + 66 = 156 minutos. A comparação dos tempos totais para atingir os nós sem solução na etapa 2 mos- tra que o tempo mínimo de 138 minutos é atingido mediante a ligação de A e C. C passa a ser então um nó resolvido. A terceira iteração encontra os nós sem solução mais próximos conectados aos nós resolvidos. Como mostra a Tabela 7-3, existem três desses. Somando-se todos os tempos desde a origem aos nós sem solução em questão, chega-se aos tempos totais de 348, 174 e 228 minutos. O tempo mínimo de 174 é associado à ligação BE. “E” fica registrado desde então como o resultado da etapa 3. O processo tem continuidade desta forma até al- cançar o nó de destino J, como está na etapa 8. O tem- po mínimo de rota de 384 minutos é registrado. A ro- ta é encontrada ligando os pontos da rota, iniciando desde o destino até o retorno à origem. Essas ligações são identificadas com um asterisco (*). A rota ótima é A → B → E → I → J. Os vários métodos de rota mais curta adaptam-se facilmente à solução computadorizada, em que a rede de ligação e nós pode ser mantida num banco de dados. TABELA 7-3 Tabulação das etapas computacionais para o método da rota mais curta Nós resolvidos diretamente Seu nó Custo Enésimo ligados a nós sem solução total nó mais Seu custo Sua última Etapa sem solução mais próximo incorrido próximo mínimo conexãoa 1 A B 90 B 90 AB* 2 A C 138 C 138 AC B C 90 + 66 = 156 3 A D 348 B E 90 + 84 = 174 E 174 BE* C F 138 + 90 = 228 4 A D 348 C F 138 + 90 = 228 F 228 CF E I 174 + 84 = 258 5 A D 348 C D 138 + 156 = 294 E I 174 + 84 = 258 I 258 EI* F H 228 + 60 = 288 6 A D 348 C D 138 + 156 = 294 F H 228 + 60 = 288 H 288 FH I J 258 + 126 = 384 7 A D 348 C D 138 + 156 = 294 D 294 CD F G 288 + 132 = 360 H G 288 + 48 = 336 I J 258 + 126 = 384 8 H J 288 + 126 = 414 I J 258 + 126 = 384 J 384 IJ* a O asterisco (*) representa rota de custo mínimo. _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 193 194 PARTE III • ESTRATÉGIA DO TRANSPORTE Pela seleção de determinados pares especiais de origem e destino, as rotas mais curtas podem ser desenvolvidas. Rotas de distância absoluta mais curta não levam em conta o tempo de travessia da rede, pois não consideram a qualidade das ligações. Por isso é gerada uma rota prática quando são dados pesos tanto ao tempo de via- gem quanto à distância. Aplicação PC*Miler e IntelliRoute são exemplos de softwares comerciais disponíveis para a elaboração das rotas mais favoráveis através de uma rede.6 Imagine a ela- boração de um roteiro de caminhão de Ashton, Iowa, até Des Moines, Iowa. Elaborar a rota mais prática (um misto de distância e tempo) é o objetivo do proje- to de roteiro. PC*Miler produz o relatório de viagem mostrado na Figura 7-3, e um mapa como o da Figura 7-4. Observe que é possível passar ao motorista ins- truções específicas sobre as estradas a serem usadas, as trocasde vias e a distância e tempo estimado dos percursos em cada etapa da viagem. Neste caso, a ro- ta prática tem 233 milhas e deve ser completada em 5 horas e 13 minutos de viagem. Além de descobrir os menores percursos, esse software normalmente inclui informações sobre as ta- rifas de pedágio, detalhes atualizados da construção das estradas, consumo provável de combustível, posi- cionamento via satélite (GPS) e distâncias percorridas em cada estado. Todas essas informações têm se tra- duzido em redução de disputas sobre tarifas, redução das multas e na melhoria nas auditagens, o que, por sua vez, resulta na melhoria dos serviços ao cliente, das entregas, dos relatórios, da utilização dos ativos e tempo de permanência dos motoristas nas empresas. Uma nova modalidade de verificar as rotas mais cur- tas é a que se inspira no comportamento coletivo das for- migas. Batizada de “inteligência agregada”, é a observa- ção da auto-organização, ambiente de trabalho sem su- pervisão específica e interação entre as formigas num formigueiro que leva a soluções eficazes para complica- dos problemas de roteirização. Observe o modo de tra- balho das formigas tentando encontrar o rumo mais cur- to até uma fonte de alimentos deixando e seguindo tri- lhas químicas. Duas formigas deixam o ninho ao mesmo tempo e seguem trilhas diferentes até a fonte de alimen- tos deixando feromônios – uma substância química que atrai outras formigas – pelo caminho à medida que avan- çam. A formiga que achar o caminho mais curto retorna- rá mais cedo ao ninho, e essa trilha do ninho até o ali- FIGURA 7-3 Planejamento de roteiro de viagem de caminhão entre Ashton, Iowa, e Des Moines, Iowa, gerado pelo PC*Miler. Milhas: 233 Tempo: 6h13min Custo: US$ 256,30 Rota prática, limites abertos Trecho Trecho Total Tempo em em de total (em Estado, País Estrada Milhas Horas Troca de vias milhas horas milhas horas) Origem: 51232 Ashton, IA, Osceola (em serviço) IA S IA-60 10,0 15min Sheldon, IA 10,0 15min 10,0 15min IA L US-18 12,0 18min +US 18 US 59, IA 22,0 33min 22,0 33min IA S US-59 32,0 48min +US 59 IA 3, IA 54,0 1h21min 54,0 1h21min IA L IA-3 6,O 09min +IA 3 IA 7, IA 60,0 1h30min 60,0 1h30min IA L IA-7 7,5 1h50min +US 169 IA 7, IA 133,5 3h20min 133,5 3h20min IA S US-169 6,3 08min +US 20 US 169S, IA 139,8 3h28min 139,8 3h28min IA L US-20 32,3 37min 135 X142, IA 172,1 4h05min 172,1 4h05min IA S 1-35 56,0 1h01min +135 1 80N, IA 228,1 5h06min 228,1 5h06min IA O 1-235 4,3 06min +1235 US 69, IA 232,4 5h11min 232,4 5h11min IA Local 0,6 01min Des Moines, IA 233,0 5h13min 233,0 5h13min Chegada da carga Destino: 50301 Des Moines, IA, Polk 0:00 (em serviço) 233,00 5:13 233,0 5:13 6 Produtos da ALK Associates, Inc. (www//.alk.com e www//.pcmiler.com) e Rand McNally (www//.milemaker.com), respectivamente. _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 194 http://alk.com/ http://pcmiler.com/ http://milemaker.com/ CAPÍTULO 7 • DECISÕES SOBRE TRANSPORTES 195 mento e de volta terá o dobro do aroma em relação à tri- lha deixada pela segunda formiga. As formigas que fica- ram no ninho serão então atraídas pela trilha contendo o aroma mais pronunciado. Quando maior o número de formigas seguindo por essa trilha, mais feromônios se- rão depositados, reforçando assim a trilha mais curta. Os roteiros são determinados pelo seguimento de duas re- gras básicas: espalhe feromônios e siga a trilha dos ou- tros. As idéias de roteirização da inteligência agregada vêm sendo eficazmente aplicadas aos problemas de ro- teirização nas telecomunicações, transporte de cargas aéreas e encaminhamento de cargas rodoviárias.7 Pontos de Origem e Destino Múltiplos Sempre que existirem pontos múltiplos de fontes em condições de servir a pontos múltiplos de destinos, ha- verá também o problema de combinar os destinos com as fontes e de encontrar as melhores rotas entre eles. Es- te problema normalmente ocorre quando há mais de um vendedor, fábrica ou armazém para servir a mais de um cliente com o mesmo produto. A situação se complica ainda mais quando os pontos de origem são limitados ao montante da demanda total do cliente que pode ser suprida a partir de cada localização. Um tipo especial do algoritmo de programação linear do método do transporte é freqüentemente aplicado a este tipo de pro- blema. Exemplo Um fabricante de vidros contrata três fornecedores de barrilha (usada na fabricação) em vários locais para o abastecimento de três de suas fábricas. As quantida- des contratadas não podem ser ultrapassadas, mas as exigências da produção precisam ser satisfeitas. A Fi- gura 7-5 mostra a esquematização do problema com tarifas de transporte por tonelada mais apropriadas. Chega-se a essas tarifas pelo cálculo da rota mais cur- ta entre cada fornecedor e cada fábrica. O suprimento e as necessidades são expressos em toneladas. Resolvendo esse problema com o uso do módulo de software em LOGWARE chamado TRANLP* ob- temos os seguintes resultados no seu arquivo de saída: FIGURA 7-4 Mapa do roteiro projetado. 7 Mais informações sobre a inteligência agregada em Eric Bonabeau e Chris- topher Meyer, “Swarm Intelligence: A Whole New Way to Thing About Bu- siness”, Harvard Business Review, Vol. 79, nº 5 (May/2001), págs. 106-114. * N. de R.T.: Este é um módulo de software LOGWARE; entretanto qualquer software do método de transporte fará o mesmo. _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 195 196 PARTE III • ESTRATÉGIA DO TRANSPORTE Programação Ótima de Suprimento PARA: 1 2 3 DE: 1 400 0 0 2 200 200 300 3 0 300 0 Total de unidades transferidas = 1400 Custo mínimo total = 6600 A interpretação desta saída é: Remessa 400 ton. do fornecedor A para a fábrica 1 200 ton. do fornecedor B para a fábrica 1 200 ton. do fornecedor B para a fábrica 2 300 ton. do fornecedor B para a fábrica 3 300 ton. do fornecedor C para a fábrica 2 O custo mínimo deste plano de roteirização é de US$ 6.600,00. Pontos de Origem e Destino Coincidentes O operador logístico freqüentemente depara-se com si- tuações de roteirização em que o ponto de origem e o de destino são os mesmos. Isso normalmente ocorre com veículos de propriedade das empresas. Alguns exem- plos muito comuns desses problemas: • Entrega de bebidas em bares e restaurantes • Suprimento de moeda e programação de máqui- nas automáticas • Suprimento e transporte dinâmico de combustí- veis • Recolhimento de sobras em restaurantes • Conserto, assistência técnica e entrega de eletro- domésticos • Entrega doméstica de compras pedidas pela In- ternet • Milk pickup* e gerenciamento do estoque • Recolhimento em domicílio de doações para ca- ridade • Entrega, recolhimento e serviços de toiletes do- miciliares • Transporte de prisioneiros entre penitenciárias e tribunais FIGURA 7-5 Exemplo de problema de origem e destino múltiplos. Fornecedor A Abastecimento ≤ 400 Fornecedor B Abastecimento ≤ 700 Fornecedor C Abastecimento ≤ 500 Fábrica 1 Necessidades = 600 Fábrica 2 Necessidades = 500 Fábrica 3 Necessidades = 300 4a 7 6 5 5 5 5 9 8 a A tarifa de transporte em U$ por tonelada para um roteiro ótimo entre o fornecedor A e a fábrica 1. * N. de R.: Milk run ou Milk pickup é a programação de roteiros de coleta de vários produtos localizados próximos entre si e do ponto de destino. O Milk run aumenta a freqüência de entrega e aproveita a capacidade de carga do veículo. _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 196 CAPÍTULO 7 • DECISÕES SOBRE TRANSPORTES 197 • Recolhimento de animais mortos e/ou doentes de vias rodoviárias • Roteirização de máquinas limpadoras e remove- doras de neve • Transporte de amostras de testes de consultórios médicos para laboratórios de análises • Transporte de indivíduos inválidos em vans e táxis • Recolhimento e transbordo de lixo • Distribuição por atacado de armazéns para vare- jistas • Entrega postal por via rodoviária • Roteiro de transporte escolar • Entrega de jornais • Entrega de refeições para presos8 Este tipo de problema de roteirização é uma exten- são da questão dos pontosdistintos de origem e destino, com a dimensão complicadora representada pelo fato de que a viagem não é considerada completa até o retorno do veículo ao ponto de partida. O objetivo é achar a se- qüência na qual os pontos visitados minimizam a dis- tância ou o tempo total de viagem. O problema da roteirização com origem e destino coincidentes é conhecido como “o problema de caixei- ro viajante”. Numerosos métodos já foram propostos para resolver essa questão. Não é fácil encontrar o me- lhor roteiro para um determinado problema quando há muitos pontos ou quando uma solução rápida é necessá- ria. O tempo de processamento nos computadores mais rápidos para os métodos de otimização têm sido até agora insuficiente para resolver muitos desses proble- mas práticos. Procedimentos de solução cognitivos, heurísticos, ou combinações de heurísticos-otimizado- res, têm representado boas alternativas. Aplicação O Distrito Escolar de Central Valley, perto de Spokane, estado de Washington, vem se destacando na aplicação da tecnologia à gestão da informação e ao desenvolvi- mento das tarefas diárias de roteirização do seu serviço de ônibus escolares, tudo isso com uma fração de tem- po e dinheiro gastos com métodos antigos. Durante dé- cadas, Central Valley elaborou os roteiros de ônibus es- colares utilizando mapas de cartolina, marcadores co- muns, transparências plásticas e canetas de cores. O en- dereço de cada um dos estudantes precisava ser locali- zado em um mapa de papel e marcado a mão. Baseados em suas próprias opiniões, os organizadores dos rotei- ros agrupavam os estudantes mais próximos entre si, determinavam pontos de embarque e criavam os mais de 250 roteiros dos ônibus que percorriam o distrito es- colar. Depois de passar a usar software customizado de roteirização, o distrito escolar conseguiu uma semana inteira de economia no tempo necessário para a elabo- ração dos relatórios da situação do serviço, além da eli- minação de cinco a seis das rotas anteriores, com uma economia adicional de cerca de US$ 125 mil.9 Pontos Relacionados Espacialmente Boas soluções para os problemas do caixeiro viajante de tamanhos realísticos podem ser encontradas pela utiliza- ção das capacidades de padrões de reconhecimento da mente humana. Sabemos que boas seqüências de escalas são formadas quando os rumos desse itinerário não se cruzam. Além disso, a forma do roteiro normalmente te- rá uma protuberância, em forma de lágrima, sempre que possível. Desenhos bons e ruins de roteirização são ilus- trados na Figura 7-6. Com base neste princípio, o analis- ta tem condições de rapidamente esboçar um plano de viagem que um computador levaria horas para elaborar. Como alternativa, um modelo de computador pode ser usado para descobrir as melhores seqüências de para- das em um roteiro. Esta pode ser uma opção melhor do que a intuição quando o relacionamento espacial entre as paradas não representa seu verdadeiro tempo de percurso ou distância. Isso costuma ocorrer, por exemplo, quando da existência de barreiras de trânsito, vias de mão única 8 Janice G. Partyka and Randolph W. Hall, “On the Road to Service”, OR/MS Today (August 2000), págs. 26-35. 9 “School Bus Routing Goes High-Tech”, ESRI ArcNews (Winter 2000/2001), págs. 1 e seguintes. FIGURA 7-6 Exemplos de bons e maus seqüenciamentos de escalas. (a) Mau roteiro – caminho cruzado Depósito D (b) Bom roteiro – sem cruzamento D Depósito _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 197 198 PARTE III • ESTRATÉGIA DO TRANSPORTE ou congestionamentos de trânsito, situações todas com condições de distorcer a representação gráfica deste pro- blema. Entretanto, representar as paradas como coorde- nadas cartesianas pode simplificar o problema ao reduzir a quantidade de dados que necessitam ser coletados. Mesmo um problema relativamente simples pode neces- sitar às vezes de milhares de dados em termos de distân- cias ou tempos. O computador tem a tarefa de calcular as distâncias ou tempos. Procedimentos informatizados es- peciais têm sido desenvolvidos no sentido de resolver com rapidez o problema espacialmente representado e de produzir resultados que chegam perto do ótimo. Exemplo A Anheuser-Busch Company costuma roteirizar os ca- minhões do distribuidor local para vender cervejas e ou- tras bebidas. Os vendedores são comissionados sobre as vendas e, assim como o distribuidor, não têm interesse em perder tempo nem percorrer distância maior do que a necessária para atender a todos os clientes do dia. São usados alfinetes num mapa para localizar as contas aten- didas por um determinado vendedor. Um exemplo desse tipo de informação sobre 20 clientes rurais foi transferi- do para o mapa gradeado da Figura 7-7(a). As coordena- das relacionam-se a distâncias. O caminhão deve partir do depósito e a ele retornar, visitando todos os clientes cadastrados e percorrendo a menor distância possível. Tente a abordagem cognitiva. Compare então a solução assim encontrada com aquela gerada pelo software ROUTESEQ (um módulo do LOGWARE), que aparece na Figura 7-7(b). A distância total da via- gem (custo) é de 37,59 unidades de distância. Uma boa solução, na verdade, mas não necessariamente uma solução ótima. Pontos Não-Relacionados Espacialmente Quando não é fácil estabelecer o relacionamento espa- cial entre as paradas do roteiro, seja plotando-as num mapa ou identificando-as mediante as coordenadas, ou quando os relacionamentos espaciais são distorcidos em função das razões práticas anteriormente expostas, as distâncias ou tempos devem ser especificados entre as paradas. Procedimentos cognitivos são de aplicação mais difícil, e é preciso recorrer a um dos muitos proce- dimentos matemáticos sugeridos ao longo dos anos pa- ra encarar este problema. Embora as distâncias ou tem- pos entre paradas possam ser tão exatos quanto deseja- ríamos, os procedimentos de solução tendem a fornecer respostas aproximadas. Exemplo Um pequeno problema de entrega em que há um de- pósito e quatro paradas é mostrado na Figura 7-8. Os tempos de viagem entre paradas são encontrados pri- meiro pela escolha da rota mais apropriada e depois dividindo as distâncias pelas respectivas velocidades a fim de encontrar o tempo necessário para completar FIGURA 7-7 Escalas no roteiro de um vendedor de cerveja com padrão de roteiro sugerido segundo o software ROUTESEQ. D 12 8 5 3 2 6 10 9 13 16 19 2015 18 17 14117 1 4 8 8 7 7 6 6 5 5 4 4 3 3 2 2 1 1 0 0 Coordenadas X Coordenadas Y 1 3 5 8 6 4 9 10 13 19 20 18 16 15 12 17 14117 D 2 8 8 7 7 6 6 5 5 4 4 3 3 2 2 1 1 0 0 Coordenadas Y Coordenadas X (a) Localização dos clientes e do centro de distribuição (D) com a cobertura da grade (b) Padrão de roteiro sugerido _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 198 CAPÍTULO 7 • DECISÕES SOBRE TRANSPORTES 199 a distância. Supõe-se que o tempo de viagem entre os pares de paradas seja o mesmo em ambas as direções. Fazendo uso do módulo “caixeiro viajante” do STORM,10 encontra-se uma seqüência de escalas de W → D → C → B → A → W. O tempo total para completar o roteiro chega a 156 minutos. ROTEIRIZAÇÃO E PROGRAMAÇÃO DE VEÍCULOS A roteirização e programação de veículos (RPV) é uma extensão do problema básico de roteirização (“proble- ma do caixeiro viajante”). Restrições realistas são ago- ra incluídas. Entre elas: 1) cada escala pode ter tanto co- leta quanto entrega de volumes; 2) múltiplos veículos com capacidade limitada tanto de peso quanto de volu- me podem ser usados; 3) há um tempo máximo de trá- fego em cada rota antes de um período mínimo de re- pouso de dez horas (restrição de segurança do Departa- mento dos Transportes dos EUA); as escalas permitem coleta e entrega apenas em determinados períodos do dia (as chamadas janelas de tempo); 5) as coletas são permitidas num roteiro apenas depois da efetivação das entregas; 6) os motoristas têm direito a breves intervalos de descanso ou refeição em determinados períodos do dia. Essas restrições representamum acréscimo de com- plexidades ao problema e acabam frustrando nossas tentativas no sentido de encontrar soluções ótimas. Co- mo destacam Gendreau et al., “... ainda hoje apenas ins- tâncias relativamente insignificantes da RPV são passí- veis de soluções ótimas”.11 Boas soluções para tais pro- blemas, no entanto, existem a partir da aplicação dos princípios de correta roteirização e programação, ou de alguns procedimentos heurísticos lógicos. Examine o problema de roteirização e programação em que os ca- minhões devem partir de um depósito central, visitar múltiplas escalas para efetuar entregas e retornar ao de- pósito no mesmo dia. Princípios para uma Boa Roteirização e Programação Encarregados de decisões, entre eles expedidores de caminhões, conseguem avanços significativos no de- senvolvimento de boas rotas e cronogramas aplicando oito princípios como diretriz, assim resumidos: 1. Carregar caminhões com volumes destinados a paradas que estejam mais próximas entre si. Os roteiros dos caminhões deveriam ser or- ganizados em torno de agrupamento de paradas próximas uma das outras a fim de minimizar o tráfego entre elas. Isso também minimiza o tem- po total em trânsito nesse roteiro. A Figura 7- 9(a) mostra o tipo de agrupamento a ser evitado em se tratando de carregamento de caminhões. Já a Figura 7-9(b) mostra o melhor agrupamento para a mesma finalidade. 2. Paradas em dias diferentes devem ser combi- nadas para produzir agrupamentos concen- trados. Havendo a necessidade de servir as paradas em dias diferentes da semana, elas de- vem ser segmentadas em problemas de roteiri- zação e programação diferentes para cada dia da semana. Os segmentos diários programados devem evitar a superposição dos agrupamentos de paradas. Isso ajuda a minimizar o número de caminhões necessários para servir todas as pa- radas e também a minimizar o tempo de viagem e a distância que percorrerão durante a semana. A Figura 7-10 mostra bons e maus exemplos disso. 3. Comece os roteiros a partir da parada mais distante do depósito. Desenvolvem-se rotei- ros eficientes pela elaboração de agrupamentos de paradas em torno das paradas mais distantes do depósito. Uma vez identificada a parada mais distante, é preciso selecionar as paradas FIGURA 7-8 Exemplo do problema de entrega com o tem- po de viagem em minutos. C 31 D 26 34 34 B 17 23 48 67 34 A 47 W 10 Um conjunto de ferramentas de suporte a decisões de computador de Hamil- ton Emmons, A. Dale Flowers, Chandrashekar M. Kott and Kamlesh Ma- thur, STORM 4.0 for WINDOWS: Quantitative Modeling for Decision Sup- port (Lakeshore Publishing, Cleveland, OH: 2001). 11 Michel Gendreau, Alain Hertz and Gilbert Laporte, “A Tabu Search Heuris- tic for the Vehicle Routing Problem”, Management Science, Vol. 40, nº 10 (October 1994), pág. 1276. _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 199 200 PARTE III • ESTRATÉGIA DO TRANSPORTE em torno dessa parada-chave que completam a capacidade do caminhão a ser utilizado. Depois disto, seleciona-se outro veículo e identifica-se a parada mais distante do depósito que ainda não tenha caminhão para servi-la, procedendo- se da mesma forma até que todas as cargas te- nham os respectivos veículos e paradas roteiri- zados. 4. O seqüenciamento das paradas num roteiro de caminhões deve ter forma de lágrima. As paradas deveriam ser seqüenciadas de maneira a não ocorrer nenhuma superposição entre elas, com o roteiro assumindo a forma de uma lágri- ma. Lembre-se da Figura 7-6. As restrições da janela de tempo e a imposição de fazer paradas para coletas depois das entregas podem sobrepor os caminhos do roteiro. 5. Os roteiros mais eficientes são aqueles que fa- zem uso dos maiores veículos disponíveis. No roteiro ideal, a utilização de um veículo com capacidade suficiente para abastecer todas as pa- radas de um roteiro minimizaria sempre a distân- cia ou tempo total percorrido para servir a todas paradas. Por isso mesmo, os maiores veículos FIGURA 7-9 Agrupamentos para a destinação de volumes de paradas a veículos. D Depósito Paradas D Depósito (b) Agrupamento recomendado(a) Agrupamento inadequado FIGURA 7-10 Agrupamentos de paradas por dia da semana. D Depósito Paradas F F F F F F F T T T T T T T D Depósito F F F F F T T T T F F T T T (a) Agrupamento inadequado – rotas se superpõem (b) Agrupamento recomendado _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 200 CAPÍTULO 7 • DECISÕES SOBRE TRANSPORTES 201 dentre os múltiplos tamanhos de uma frota de- vem ser alocados preferencialmente, desde que a melhor utilização de suas capacidades possa ser garantida. 6. A coleta deve ser combinada nas rotas de en- trega em vez de reservada para o final dos roteiros. As coletas deveriam ser feitas, tanto quanto possível, ao longo do andamento das entregas a fim de minimizar o número de super- posições de roteiros que tende a ocorrer quando tais paradas são servidas depois da realização de todas as entregas. A extensão em que isso pode ser feito vai depender da configuração do veículo, do tamanho dos veículos, e do grau de obstrução às mercadorias para entrega que cada veículo transportar. 7. Uma parada removível de um agrupamento de rota é uma boa candidata a um meio alter- nativo de entrega. Paradas isoladas dos agru- pamentos de pontos de entrega, especialmente aquelas de baixo volume, são servidas ao custo de mais tempo do motorista e despesas do veícu- lo. A utilização de veículos menores para cuidar dessas paradas pode revelar-se mais econômica, dependendo da distância e dos volumes envolvi- dos. A utilização de transporte terceirizado seria uma boa alternativa nesses casos. 8. As pequenas janelas de tempo de paradas devem ser evitadas. As restrições das janelas de tempo de paradas muito pequenas podem forçar uma seqüência de paradas longe do pa- drão ideal. Uma vez que as restrições das jane- las de tempo nem sempre são absolutas, qual- quer parada não adequada deve ter seus limites de janela de tempo renegociados e, sempre que possível, ampliados. Princípios como esses podem ser facilmente ensina- dos ao pessoal de operações, dando-lhes condições de encontrar soluções satisfatórias, ainda que não necessa- riamente ótimas, para problemas realistas de roteiriza- ção e programação. Eles proporcionam diretrizes para um bom projeto de roteiro, e ao mesmo tempo deixam o pessoal encarregado das operações com margem sufi- ciente para negociar as restrições não diretamente men- cionadas na metodologia, ou as exceções (pedidos de emergência, desvios de roteiro) que sempre acontecem nas operações rodoviárias. Os projetos assim desenvol- vidos representam substanciais melhorias em relação a métodos de roteirização e programação elaborados sem esses princípios. Exemplo A Case Casket Company produz e distribui uma com- pleta linha de féretros para casas funerárias. Estas, de maneira geral, têm sempre um pequeno estoque dos féretros mais comuns, mas sempre há os clientes que fazem sua seleção a partir de catálogos. Um assessor de funerais faz pedidos sempre que precisa repor o es- toque ou atender as necessidades especiais de uma fa- mília. Os pedidos normalmente são de pequenas quantidades, freqüentemente não mais de um féretro por vez. Para servir com eficiência a esse mercado, a Case Casket dispõe de mais de 50 armazéns de distri- buição espalhados por todo o país. Um desses arma- zéns e a região à qual presta serviços são os do mapa da Figura 7-11. A figura mostra igualmente uma se- mana típica de pedidos e as respectivas localizações. O armazém trabalha com dois caminhões especiais com capacidade de transporte máximo de 18 féretros cada. As entregas são feitas cinco dias por semana. Queremos desenvolver um plano de roteirização e programação para esse território. Seguindo as diretrizes para a melhor roteirização e programação, começamos segmentando a região em cinco agrupamentos diários de clientes baseados em cinco dias de entregas por semana. Usando o princípio número 3, admitimos que os clientes sejamagrupados a partir do mais distante, e então vamos agregando os demais progressivamente em direção ao armazém. Desta forma, organizamos quatro grupos de clientes para escalas remotas nos primeiros quatro dias da se- mana, e um grupo para o quinto dia, servindo a paradas mais próximas do armazém. É recomendável equilibrar a carga de trabalho para cada um dos cinco grupos a fim de possibilitar que seu trabalho seja completado sem a necessidade da utilização de mais de dois cami- nhões. Um terceiro caminhão seria subutilizado na maior parte do tempo. Começamos com um quadrado em expansão a partir do armazém a fim de captar volu- me suficiente para lotar dois caminhões. A seguir, uma vez sendo Detroit, Chicago, um ponto dominante de mercado, dividimos essa cidade em dois dias dias de entregas. Avançando em ambas as direções, coletamos cargas aproximadamente iguais em cada um dos quatro agrupamentos, que são mostrados na Figura 7-12. A seguir, carregamos os caminhões e projetamos o padrão do roteiro. Cada dia é considerado separada- mente. Começando pela parada distante, reunimos as paradas próximas entre si até que seus pedidos preen- cham a capacidade de um caminhão. A seguir escolhe- mos a parada mais distante entre as restantes e repeti- _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 201 202 PARTE III • ESTRATÉGIA DO TRANSPORTE FIGURA 7-11 Localização das funerárias e os pedidos semanais da região central de Michigan pa- ra a Case Casket Company. Armazém Casa funerária 1 1 11 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 34 34 5 Detroit Ann Arbor Jackson 2 Kalamazoo Three Rivers Lake Michigan Muskegon Grand Rapids Holland Lansing Alma Flint Saginaw Bay City Lake Erie FIGURA 7-12 Divisão da região de vendas da central de Michigan da Case Casket Company em grupos de clientes para cada dia da semana. 1 1 11 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 34 34 5 2 Muskegon Alma Bay City Saginaw Flint Detroit Lake Erie Jackson Ann Arbor Lansing Grand Rapids Three Rivers Kalamazoo Holland Lake Michigan Armazém Casa funerária _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 202 CAPÍTULO 7 • DECISÕES SOBRE TRANSPORTES 203 mos o processo para o carregamento do próximo cami- nhão. As paradas atribuídas a cada caminhão são se- qüenciadas de maneira que os trajetos de cada roteiro não se cruzem e que o roteiro “infle” a partir do arma- zém. O resultado desse projeto são os roteiros para ca- da dia da semana, conforme ilustrados na Figura 7-13. Métodos de Roteirização e Programação Elaborar boas soluções para o problema da roteirização e programação de veículos torna-se cada vez mais difícil à medida que novas restrições são impostas. Janelas de tempo, caminhões múltiplos com diferentes capacidades de peso e cubagem, tempo máximo de permanência ao volante em cada roteiro, velocidades máximas diferentes em diferentes zonas, barreiras ao tráfego (lagos, desvios, montanhas) e os intervalos para o motorista são algumas das inúmeras considerações práticas que acabam pesan- do sobre o projeto do roteiro. Dentre as inúmeras aborda- gens já sugeridas para enfrentar problemas dessa comple- xidade, examinaremos aqui dois métodos. Um deles é simples (o método da “varredura”), e o outro, mais com- plexo, enfrentando elementos mais práticos e produzindo soluções de maior qualidade sob uma gama mais ampla de circunstâncias (o método das “economias”). Uma dis- cussão de outros processos de soluções, classificados co- mo 1) algoritmos construtivos, 2) algoritmos de duas fa- ses, 3) algoritmos de otimização incompleta e 4) métodos de melhoria, pode ser encontrada em Gendreau et al.12 O Método da “Varredura” O método da “varredura” para a roteirização de veículos é simples a ponto de prestar-se a ser calculado a mão, mes- mo ao tratar de grandes problemas. Quando programado em programa de computador, este método resolve proble- mas com grande rapidez, sem precisar de grandes quanti- dades de memória. Para uma variedade de problemas, seu índice médio de erro projetado é de cerca de 10%.13 Esse índice de erro computacional pode ser aceitável quando é necessário obter resultados a curto prazo e prefere-se boas soluções, em lugar de ótimas. Os expedidores muitas ve- zes enfrentam a necessidade de elaborar padrões de rotei- ro no prazo máximo de uma hora após o recebimento dos dados definitivos sobre as paradas a serem feitas e seus respectivos volumes. 12 Michel Gendreau, Alain Hertz, and Gilbert Laporte, op. cit., págs. 1276-1290. 13 Ronald H. Ballou and Yogesh K. Agarwal, “A Performance Comparison of Several Popular Algorithms for Vehicle Routing and Scheduling”, Journal of Business Logistics, Vol. 9, nº 1 (1988), págs. 51-65. FIGURA 7-13 Projeto de roteiro de entrega diária de caminhão para a Case Casket Company. 1 1 2 1 1 1 1 3 1 2 Muskegon 1 1 1 1 1 11 1 1 Segunda-feira 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Sexta-feira 2 2 2 2 5 Terça-feira 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 34 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 Quarta-feira 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 34 Quinta-feira Grand Rapids Alma Bay City Saginaw Flint Lansing Jackson Ann Arbor Detroit Lake Erie Three Rivers Kalamazoo Holland Lake Michigan Armazém Casa funerária _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 203 204 PARTE III • ESTRATÉGIA DO TRANSPORTE A desvantagem do método diz respeito à maneira como os roteiros são formados. É um processo de dois estágios, em que em primeiro lugar se atribuem as para- das a cada veículo, para só depois estabelecer a seqüên- cia das paradas nas estradas. Em função desse processo de dois estágios, questões de tempo, como a duração to- tal da viagem e a atribuição de janelas de tempo, não são adequadamente tratadas. O método da “varredura” pode ser assim resumido: 1. Localize todas as paradas, inclusive o depósito, num mapa ou grade. 2. Trace uma linha reta a partir do depósito em qualquer direção. Gire essa linha, no sentido ho- rário, ou anti-horário, até ela fazer a intersecção com uma parada. Responda à pergunta: Se a pa- rada for incluída no roteiro, a capacidade do veí- culo poderá ser ultrapassada? Se a resposta for negativa, continue com a rotação da linha até a interesecção da próxima parada. Responda en- tão: O volume cumulativo ultrapassará a capaci- dade do veículo? Use em primeiro lugar os maiores veículos. Se a resposta for positiva, ex- clua o último ponto e defina o roteiro. Conti- nuando com a varredura da linha, comece um novo roteiro com o último ponto excluído da ro- ta anterior. Continue com a varredura até atribuir todos os pontos a roteiros. 3. Dentro de cada roteiro, faça a seqüência das pa- radas a fim de minimizar as distâncias. O se- qüenciamento pode ser conseguido mediante a aplicação do método da forma de lágrima ou pela utilização de qualquer algoritmo que resol- va o problema do “caixeiro viajante”. Exemplo A P.K. Smith Trucking Company usa camionetas pa- ra coletar mercadorias de clientes distantes. A merca- doria é levada ao depósito, e ali consolidada em carre- gamentos de grande volume para ser transportada a longas distâncias. As coletas de um dia típico estão mostrados na Figura 7-14(a). As quantidades coleta- das são apresentadas em unidades. A empresa usa ca- mionetas com capacidade para transportar até 10 mil unidades. Completar um roteiro leva normalmente o dia inteiro. A empresa pretende determinar quantos roteiros (caminhões) são necessários, quais paradas efetuar, e emque seqüência o caminhão do roteiro de- ve servir aos pontos de parada. Comece a varredura com uma linha traçada em di- reção ao norte e uma varredura no sentido anti-horário. Ambas são arbitrárias. Gire a linha no sentido anti-ho- rário coletando mercadorias até completar a carga de um veículo de 10 mil unidades, mas sem exceder essa capacidade. Uma vez completadas as cargas destinadas a cada caminhão, seqüencie as paradas em cada roteiro usando o método da “lágrima”. O desenho final desse roteiro é o que aparece na Figura 7-14(b). O método da “varredura” tem potencial para pro- porcionar decisões muito boas quando: 1) cada carga de parada é uma pequena fração da capacidade do veí- FIGURA 7-14 Roteirização da P.K. Trucking Company pelo método da “varredura”. (a) Dados das paradas para coleta Região geográfica Pontos de coleta Depósito (b) Solução do método da “varredura” Depósito Roteiro 1 Roteiro 3 Roteiro 2 1.000 3.000 2.000 2.000 2.000 1.000 2.000 2.000 3.0003.000 2.000 4.000 1.000 3.000 2.000 2.000 2.000 2.000 2.000 1.000 3.000 3.000 10.000 unidades 2.000 4.000 8.000 9.000 unidades _Ballou/Ronald_07 18.09.06 13:20 Page 204 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. G393 Ges tão logística da cadeia de suprimentos [recurso eletrônico] / Donald J. Bowersox ... [et al.] ; revisão técnica: Alexandre Pignanelli ; tradução: Luiz Claudio de Queiroz Faria. – 4. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8055-318-5 1. Logística Empresarial. 2. Administração – Material – Logística. I. Bowersox, Donald J. CDU 658.7 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB-10/2052 Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 2 1/10/14 4:33 PM Gestão do relacionamento com os clientes CAPÍTULO 3 63 Variedade de produtos A variedade de produtos são o quarto resultado do serviço. Diferentes cadeias de suprimentos oferecem diversos níveis de variedade a consumidores e usuários finais. Supermercados típicos estão envolvidos em cadeias de suprimentos que fornecem uma ampla variedade de diferentes produtos e marcas, tamanhos etc. de cada tipo. Na verdade, supermercados podem ter mais de 35 mil itens diferentes nas prateleiras. Por outro lado, lojas menores oferecem menos variedade de produtos, geralmente estocando cerca de 8 a 10 mil itens, e normalmente oferecem apenas uma marca ou tamanho de determinado item. Lojas de conveniência podem estocar apenas algumas centenas de itens, oferecendo pouca variedade em comparação a supermercados. As cadeias de suprimentos fornecem outros resultados a seus clientes. Além dos quatro re- sultados genéricos discutidos anteriormente, outros pesquisadores identificaram os serviços re- lacionados à informação, à customização de produtos e ao apoio pós -venda como críticos para alguns clientes. É importante manter em mente que não existe um mercado homogêneo no qual todos os consumidores desejam os mesmos serviços apresentados da mesma maneira. Eles podem divergir na percepção de quais serviços são mais importantes e qual o nível desejado dos serviços para atender suas necessidades. Por exemplo, alguns consumidores podem exigir a disponibilidade imediata de um computador pessoal, enquanto outros preferem esperar três dias por um computador configurado exatamente de acordo com suas necessidades. Além dis- so, os clientes diferem em termos do valor que estão dispostos a pagar pelos serviços. Uma vez que níveis mais altos de serviço geralmente envolvem custos mais elevados de distribuição ao mercado, as organizações devem avaliar minuciosamente a sensibilidade dos clientes aos preços em relação a seus desejos de tempo de espera reduzido, conveniência e outros resultados do serviço. Atender os requisitos dos clientes em relação aos resultados do serviço tem implicações importantes quanto à configuração das cadeias de suprimentos, a que tipos de empresas parti- cipantes elas podem abranger para satisfazer as necessidades de serviços e aos custos do proces- so. Nossa atenção agora se voltará para considerações mais específicas sobre os requisitos dos clientes em um contexto logístico. Três níveis de comprometimento com o cliente serão discu- tidos: serviço ao cliente, satisfação do cliente e sucesso do cliente. SERVIÇO AO CLIENTE o fUnDaMento Do coMProMetiMento logíStico com o cliente consiste no fornecimento de serviços a um custo adequado. Embora a maioria dos gestores seniores concorde que o serviço ao cliente é importante, muitas vezes eles têm dificuldade para explicar o que ele é e o que faz. Apesar de expressões comuns do serviço ao cliente incluírem “facilidade de negociar” e “sensí- vel aos clientes”, para desenvolver um entendimento completo do serviço ao cliente é necessária uma estrutura mais minuciosa. Filosoficamente, o serviço ao cliente representa o papel da logística no desempenho do conceito de marketing. Um programa de serviço ao cliente deve identificar e priorizar todas as atividades necessárias para atender aos requisitos logísticos dos clientes, tão bem ou melhor que os concorrentes. Ao estabelecer um programa de serviço ao cliente, é imperativo identificar padrões nítidos de desempenho para cada uma das atividades e medições relativas a esses Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 63 1/10/14 4:34 PM 64 PARTE 1 Gestão logística da cadeia de suprimentos padrões. Em programas básicos de serviço ao cliente, o foco normalmente se encontra nos as- pectos operacionais da logística e em garantir que a organização consiga fornecer os sete “cer- tos” a seus clientes: a quantidade certa do produto certo no momento certo no local certo nas condições certas pelo preço certo com a informação certa. É evidente que um extraordinário serviço ao cliente agrega valor por toda a cadeia de suprimentos. A preocupação fundamental no desenvolvimento de uma estratégia de serviço é: o custo para alcançar determinado desempenho em serviços representa um investi‑ mento sensato? Uma análise cuidadosa do desempenho dos concorrentes e da sensibilidade dos clientes aos atributos de serviço é necessária para planejar uma estratégia básica de servi- ço. No Capítulo 2, os atributos fundamentais de serviço ao cliente, que serão discutidos em detalhes a seguir, foram identificados como disponibilidade, desempenho operacional e con- fiabilidade do serviço. DISPONIBILIDADE Disponibilidade é a capacidade de ter estoque quando um cliente o deseja. Embora isso pare- ça simples, não é tão incomum uma organização investir tempo, dinheiro e esforços conside- ráveis para gerar demanda do cliente e depois não ter produtos disponíveis para atender às suas necessidades. A prática tradicional em muitas organizações é estocar produtos em ante- cipação aos pedidos. Normalmente, um plano de estoque baseia -se na demanda prevista por produtos e pode incluir políticas de estoque diferenciadas para itens específicos, como resulta- do dos níveis das vendas, rentabilidade, importância de um item para a linha de produtos e valor dos produtos. Embora os detalhes do estabelecimento de políticas de estoque sejam abordados no Capítulo 7, deve ficar claro que conseguir níveis elevados de disponibilidade de estoque exige muito plane- jamento. Na verdade, a chave é conseguir tais níveis ao mesmo tempo que se minimiza o in- vestimento geral em estoques e instalações. Programas rigorosos de disponibilidade de estoque não são concebidos ou administrados com base na média; a disponibilidade baseia -se em três medidas de desempenho: frequência da falta de estoque, taxa de atendimento e pedidos com- pletos enviados. Frequência da falta de estoque Falta de estoque, como o termo sugere, ocorre quando uma empresa não tem produtos disponíveis para atender à demanda dos clientes. A frequência da falta de estoque refere-se à probabilidadede uma empresa não ter estoque disponível para atender a um pedido. Por exemplo, estudos de lojas de muitos setores revelam que a média das faltas de estoque é de 8%. No caso de itens que estão em promoção, a média das faltas de estoque fica em torno de 16%!3 Entretanto, é importan- te observar que a ausência de estoque não ocorre de fato até que um cliente deseje um produto. A soma de todas as faltas de estoque de todos os produtos indica se uma empresa está bem posicio- nada para oferecer comprometimento básico de serviço em termos de disponibilidade de produ- tos. Embora não considere que alguns produtos podem ser mais críticos que outros em termos de disponibilidade, este é o ponto de partida quando se pensa sobre a disponibilidade de estoques. Taxa de atendimento A taxa de atendimento mede a magnitude ou o impacto das faltas de estoque ao longo do tem- po. A falta de estoque não afeta o desempenho do serviço até que um cliente demande um 3 Tom Gruen, and Daniel Corsten, “Improve Out -of -Stock Methods at the Shelf,” Chain Store Age (July 2006), p. 35. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 64 1/10/14 4:34 PM Gestão do relacionamento com os clientes CAPÍTULO 3 65 produto. Dessa forma, é importante indicar que o produto não está disponível e determinar quantas unidades o cliente gostaria de pedir. Embora existam diversas abordagens para a me- dição das taxas de atendimento, que serão discutidas nos Capítulos 7 e 15, uma abordagem comum é a taxa de atendimento por item. Por exemplo, se um cliente quer 100 unidades de um item e apenas 97 estão disponíveis, a taxa de atendimento é de 97%. Para estimar a taxa de atendimento com eficácia, o procedimento típico é avaliar o desempenho ao longo do tempo compreendendo diversos pedidos do cliente. Portanto, o desempenho da taxa de atendimento pode ser avaliado em relação a um cliente ou produto específico ou a qualquer combinação de segmentos de clientes, produtos ou unidades de negócios. A taxa de atendimento pode ser usada para diferenciar o nível de serviço a ser oferecido em produtos específicos. No exemplo anterior, se todos os 100 produtos do pedido fossem essen- ciais para um cliente, então uma taxa de atendimento de 97% poderia resultar em falta de es- toque na fábrica ou depósito do cliente e interromper gravemente suas operações. Imagine uma linha de montagem programada para produzir 100 automóveis que recebem apenas 97 das peças de freio necessárias. Em situações em que alguns dos itens não são essenciais ao desem- penho, uma taxa de atendimento de 97% pode ser aceitável. O cliente pode aceitar um atraso no pedido ou estar disposto a fazer um novo pedido dos itens em falta posteriormente. Estratégias de taxa de atendimento precisam considerar os requisitos dos clientes em relação aos produtos. Pedidos completos enviados A medida mais exata do desempenho na disponibilidade de produtos é a quantidade de pedidos completos enviados. Ou seja, o padrão de desempenho aceitável é ter todos os itens que um cliente pede. A falta de apenas um item do pedido significa que o fornecimento não será regis- trado como completo. Essas três medidas de disponibilidade se combinam para estabelecer até que ponto a estra- tégia de estoques de uma empresa está atendendo a demanda dos clientes. Elas também for- mam a base para a avaliação do nível adequado de disponibilidade a ser incorporado ao programa de serviço logístico básico de uma empresa. Níveis elevados de estoque normalmen- te são vistos como um modo de aumentar a disponibilidade; no entanto, novas estratégias que usam tecnologia da informação para identificar a demanda em antecipação aos pedidos reais dos clientes têm permitido que algumas organizações atinjam níveis muito altos de desempe- nho do serviço básico sem aumentos correspondentes no estoque. DESEMPENHO OPERACIONAL O desempenho operacional lida com o tempo necessário para entregar o pedido de um cliente. Quer o ciclo de atividades em questão seja o atendimento ao cliente, a manufatura ou o supri- mento, o desempenho operacional é definido em termos de velocidade, consistência, flexibili- dade e recuperação de falhas. Velocidade A velocidade do ciclo de atividades é o tempo decorrido desde a necessidade do cliente de fazer um pedido até a entrega do produto pronto para o uso. O tempo necessário para completar o ciclo de atividades total depende do projeto do sistema logístico. Devido ao nível elevado de tecnologias de comunicação e transportes atuais, os ciclos de pedidos podem ser curtos (algu- mas horas), mas também podem levar várias semanas ou meses. Naturalmente, a maioria dos clientes deseja o rápido desempenho do ciclo de pedidos. A ve- locidade é um ingrediente essencial em muitas estratégias de just ‑in ‑time e de resposta rápida, Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 65 1/10/14 4:34 PM 66 PARTE 1 Gestão logística da cadeia de suprimentos uma vez que ciclos de atividades rápidos reduzem as necessidades de estoque dos clientes. A contrapartida é que a velocidade do serviço normalmente é dispendiosa: nem todos os clientes precisam ou desejam a velocidade máxima se isso significar aumento no custo total. A justifica- tiva para a velocidade deve ser encontrada nos trade‑offs positivos; isto é, a única estrutura re- levante para estimar o valor da velocidade do serviço são os benefícios percebidos pelo cliente. Consistência A consistência do ciclo de pedidos é medida pela quantidade de vezes que os ciclos reais obede- cem ao tempo planejado para sua execução. Embora a velocidade do serviço seja importante, a maioria dos gerentes de logística dá mais valor à consistência porque ela tem impacto direto na possibilidade de o cliente planejar e realizar suas próprias atividades. Por exemplo, se os ci- clos de pedidos variam, um cliente deve manter um estoque de segurança para se proteger contra o potencial de entregas em atraso; o grau de variabilidade se traduz diretamente na necessidade de estoques de segurança. Devido às inúmeras atividades envolvidas na execução do ciclo de pedidos, existem muitas fontes potenciais de inconsistência no desempenho (veja a Figura 2.8).4 A questão da consistência é fundamental para operações logísticas eficazes, já que está se tornando cada vez mais comum os clientes determinarem a data de entrega e até mesmo agen- darem entregas quando fazem pedidos. Essa especificação precisa pode ser feita, considerando o ciclo de atividades de um fornecedor, mas nem sempre esse é o caso. Na verdade, os clientes com frequência fazem pedidos muito antes de sua necessidade de reabastecimento do produto. Em tais situações, é muito difícil os clientes entenderem por que ocorrem falhas em uma entre- ga que foi planejada. Seu ponto de vista da consistência do fornecedor no desempenho ope- racional é saber se ele entregou na data e na hora agendadas. Em tais situações, a definição de consistência deve ser modificada. Já não é suficiente avaliar em termos de tempo planejado, como quatro dias para completar o ciclo. É essencial determinar se o ciclo de atividades foi realizado de acordo com as especificações do cliente. Assim, no ambiente logístico de hoje, a consistência é frequentemente vista como o desempenho de uma empresa no que diz respeito à pontualidade na entrega. Flexibil idade A flexibilidade envolve a capacidade de uma empresa responder a situações especiais e solicita- ções incomuns ou inesperadas dos clientes. Por exemplo, o padrão normal de atendimento a um cliente pode ser enviar quantidades que ocupem um caminhão completo para entregas no depósito desse cliente. No entanto, de tempos em tempos, o cliente pode desejar carregamentos menores diretamente para locais individuais de varejo. A competência logística de uma empre- sa é diretamente relacionada à sua capacidade de atender a essas circunstâncias inesperadas. Eventos típicos que exigem operações flexíveis são: (1) modificação de acordos básicos de servi- ço, comouma alteração no endereço para envio; (2) apoio a programas exclusivos de vendas ou marketing; (3) lançamento de novo produto; (4) recall de produtos; (5) interrupção no forneci- mento; (6) customização do serviço básico para clientes ou segmentos específicos; e (7) modifi- cações ou customizações no produto realizadas enquanto ele está no sistema logístico, como marcação de preços, formação de kits ou embalagem. De várias maneiras, a essência da exce- lência logística reside na capacidade de ser flexível. 4 Veja a Figura 2.8, p. 55. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 66 1/10/14 4:34 PM Gestão do relacionamento com os clientes CAPÍTULO 3 67 Recuperação de falhas Qualquer que seja o nível de integração das operações logísticas de uma empresa, sempre ocorrerão falhas. O desempenho contínuo dos serviços em uma base rotineira, diária, é uma tarefa difícil. O ideal é implementar ajustes para evitar ou atender a situações especiais, im- pedindo, assim, as falhas. Por exemplo, se ocorre a falta de estoque de um item essencial em um depósito que normalmente atende determinado cliente, o item pode ser obtido em uma instalação alternativa pela utilização de alguma forma de transporte rápido. Em tais situa- ções, a falha, na verdade, pode ser informada ao cliente. Embora nem sempre sejam possíveis recuperações transparentes, programas eficazes de serviço ao cliente antecipam as falhas e interrupções que podem ocorrer e traçam planos de contingência para executar a recupera- ção e medir a conformidade. CONFIABILIDADE DO SERVIÇO A confiabilidade do serviço envolve os atributos combinados da logística e diz respeito à capa- cidade de uma empresa executar todas as atividades relacionadas ao pedido, bem como forne- cer aos clientes informações críticas acerca das operações logísticas e seu status. Além da disponibilidade e do desempenho operacional, os atributos da confiabilidade também signifi- cam produtos embarcados que chegam sem danos; faturas corretas; pedidos enviados aos locais corretos; e quantidade exata de produtos pedidos incluídos no carregamento. Embora esses e outros inúmeros aspectos da confiabilidade geral sejam difíceis de enumerar, a questão é que os clientes exigem que uma ampla variedade de detalhes comerciais seja rotineiramente adminis- trada pelos fornecedores. Além disso, a confiabilidade do serviço envolve a capacidade e a disposição de fornecer informações acuradas aos clientes acerca das operações e do status do pedido. Pesquisas indicam que a capacidade de uma empresa em fornecer informações acura- das é um dos atributos mais importantes de um bom programa de serviços.5 Cada vez mais, os clientes indicam que o aviso antecipado relacionado a problemas, como pedidos incompletos, é mais importante que o pedido completo em si. Clientes odeiam surpresas! Com mais frequência do que se imagina, eles podem concordar com uma entrega incompleta ou atrasada se forem avisados com antecedência. O PEDIDO PERFEITO O máximo em serviços logísticos é fazer tudo certo desde a primeira vez. Entregar um pedido completo não é o suficiente se a entrega atrasar. Também não basta entregar um pedido com- pleto pontualmente, mas com fatura incorreta ou produto danificado durante o processo de manuseio e transporte. No passado, a maioria dos gerentes de logística avaliava o desempenho de serviço ao cliente considerando diversas medidas independentes: as taxas de atendimento eram avaliadas de acordo com um padrão de atendimento; a entrega pontual era avaliada com base em um percentual das entregas feitas a tempo em relação a um padrão; as taxas de danos eram avaliadas quanto a um padrão de danos etc. Quando cada uma dessas medidas era acei- tável em relação ao padrão, o desempenho geral do serviço era considerado satisfatório. Recentemente, no entanto, os executivos de logística e cadeia de suprimentos come‑ çaram a concentrar sua atenção no zero defeito ou no desempenho seis sigma. Como extensão dos esforços de Gestão da Qualidade Total (GQT) dentro das organizações, os processos logísticos foram submetidos às mesmas avaliações cuidadosas que a produção e outros processos da empresa. Percebeu ‑se que, se os padrões são estabelecidos de modo 5 Donald J. Bowersox, David J. Closs, and Theodore P. Stank, 21st Century Logistics: Making Supply Chain Integration a Reality (Oak Brook, IL: Council of Logistics Management, 1999). Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 67 1/10/14 4:34 PM 68 PARTE 1 Gestão logística da cadeia de suprimentos independente para cada componente do serviço ao cliente, mesmo que o desempenho seja equivalente ao padrão em cada medida, uma quantidade substancial de clientes pode‑ ria ter falhas relacionadas ao pedido. Por exemplo, se os pedidos completos enviados, a média de entregas pontuais, a média de entregas sem danos e a média de documentação correta equivalem, cada um, a 97%, a probabilidade de que um pedido qualquer seja en‑ tregue sem defeitos é de aproximadamente 88,5%. Isso porque o potencial de ocorrência de uma falha combinada com qualquer outra falha é de 0,97 × 0,97 × 0,97 × 0,97. O oposto disso, como está claro, é que algum tipo de problema existirá em 11,5% de todos os pedidos. A ideia de pedido perfeito é que ele seja entregue completo e pontualmente, no local certo, em perfeitas condições, com documentação completa e acurada. A Tabela 3.1 lista as falhas mais comuns que surgem na tentativa de cumprir um pedido perfeito. Cada um desses elementos deve ser compatível com as especificações do cliente. Portanto, entrega completa significa enviar todos os produtos que o cliente solicitou originalmente; entrega pontual sig‑ nifica na data e hora especificadas pelo cliente etc. Em outras palavras, o desempenho do ciclo total de pedidos deve ser executado sem defeitos, a disponibilidade e o desempenho operacional devem ser executados com perfeição e todas as atividades de apoio devem ser realizadas exatamente como prometido ao cliente. Embora talvez não seja possível ofere‑ cer zero defeito como estratégia básica de serviço em todos os sentidos e a todos os clientes, tal nível elevado de desempenho às vezes pode ser uma opção. É lógico que os recursos necessários à implementação da plataforma de pedidos perfeitos são pontos essenciais. Taxas de atendimento extremamente altas exigem níveis elevados de estoque para atender todas as solicitações e variações potenciais de pedidos. No entanto, um serviço tão completo não pode ser totalmente alcançado com base no estoque. Por isso, um modo de elevar o desempenho logístico para pelo menos perto do zero defeito é utilizar uma combinação de alianças com clientes, tecnologia da informação, estratégias de postponement e de estoques de produtos e transporte de alta qualidade para ajustar os recursos logísticos às solicitações essen- ciais dos clientes. Cada um desses tópicos é assunto de uma discussão acurada nos próximos capítulos. Por agora, é suficiente dizer que as empresas que alcançam um excelente serviço logís- tico ao cliente estão bem conscientes do desafio relacionado a atingir o zero defeito. Por terem pouca tolerância a erros, em conjunto com o compromisso de resolver quaisquer discrepâncias que ocorram, tais empresas podem obter vantagem estratégica sobre seus concorrentes. PLATAFORMAS DE SERVIÇOS BÁSICOS Para implementar uma plataforma de serviços básicos, é necessário especificar para todos os clientes o nível de comprometimento em termos de disponibilidade, desempenho operacional e confiabilidade. Não é fácil responder à pergunta fundamental: “Que nível de serviços básicos TABELA 3.1 Falhas comuns nos pedidos. Quantidades erradas (para mais ou para menos) Itens errados Atraso ou adiantamento na entrega Informações insuficientes ou incorretas (por exemplo, preços ou códigos promocionais) Modal de transporte errado Destino errado Documentação incorreta (por exemplo, conhecimento de carregamento, fatura) Itens danificadosCarregamento/sequenciamento de carregamento incorretos Processamento incorreto de pagamento Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 68 1/10/14 4:34 PM Gestão do relacionamento com os clientes CAPÍTULO 3 69 o sistema deve fornecer?”. O fato é que muitas empresas estabelecem suas plataformas de ser- viços básicos fundamentadas em dois fatores. O primeiro é a prática dos concorrentes ou a prática aceitável pela indústria. Na maioria delas, existem níveis mínimos e médios de desem- penho de serviço. Esses níveis aceitáveis geralmente são bem conhecidos tanto pelos fornecedo- res quanto pelos clientes de toda a indústria. É comum ouvir executivos de logística e cadeia de suprimentos falarem sobre os compromissos de serviço ao cliente usando termos como “esta- mos tão bem quanto os concorrentes” ou “superamos o desempenho dos principais concorren- tes”. O segundo fator advém da estratégia de marketing geral da empresa. Se uma empresa deseja se diferenciar dos concorrentes com base na competência logística, é necessário ter níveis elevados de serviços básicos. Se a empresa se diferencia com base no preço, ela provavelmente se comprometerá com níveis mais baixos de serviço logístico por causa dos recursos exigidos e dos custos relacionados ao alto nível de comprometimento. O fato é que mesmo empresas com um alto nível de comprometimento com o serviço ao clien- te, elas geralmente não assumem uma abordagem total de defeito zero para todos os clientes. O compromisso de serviço comum é o estabelecimento de padrões internos de desempenho para cada componente do serviço. Esses padrões normalmente refletem a prática predominante na indústria em combinação com uma consideração minuciosa do comprometimento de custos e recursos.6 Padrões típicos de serviço como taxa de atendimento de 97% ou entrega em três dias po- dem ser estabelecidos e, depois, o desempenho será monitorado de acordo com esses padrões internos. Embora geralmente se suponha que essa abordagem estratégica resulte em um aten- dimento aos clientes igual ou melhor que o dos concorrentes, ela não garante que os clientes estejam, de fato, satisfeitos com o desempenho total da indústria ou com o desempenho de uma organização que funciona acima dos padrões da indústria. Na verdade, só há uma maneira de assegurar que os clientes estão satisfeitos: perguntar a eles. Gestao Logistica_4ed_completo_eletrônico.indd 69 1/10/14 4:34 PM Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. LOGÍSTICA REVERSA Gisele Lozada Canais de distribuição reversos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir canais de distribuição reversos. � Diferenciar canais de bens pós-venda e pós-consumo. � Desenvolver exemplos de canais reversos. Introdução A logística reversa tem o objetivo central de permitir o retorno dos pro- dutos ao ciclo produtivo ou de negócios para recuperação do valor neles ainda contido. Essa atribuição é realizada mediante fluxos de retorno de bens, que ocorrem por meio dos chamados canais reversos, que são os caminhos através dos quais os produtos fluem do cliente para a empresa. Por esses canais, transitam dois tipos básicos de produtos, os bens de pós-venda e os bens de pós-consumo, os quais apresentam características peculiares, levando a demandas específicas e originando dois tipos distintos de canais de distribuição reversa: os canais de bens pós-venda e os canais de bens pós-consumo. Como os canais reversos correspondem ao conjunto de etapas de movimentação, tratamento e comercialização pelas quais os produtos passam até serem reintegrados aos processos produtivo e/ou comercial, ao tratar de tipos distintos de produtos, naturalmente cada um desses dois tipos de canais apresenta particularidades em relação a quais operações são realizadas e como elas são desempenhadas. Neste capítulo, você vai ler sobre os canais de distribuição reversos, com vistas a detalhar sua definição e suas características, de modo a permitir a compreensão de seu funcionamento e, até mesmo, a diferen- ciação entre os canais reversos de pós-venda e pós-consumo, o que é reforçado com a apresentação de exemplos práticos. 1 Definição A logística empresarial trata do planejamento, da implementação e do controle do fluxo eficiente de matérias-primas, produtos em processo, produtos acabados e informações relacionadas, sendo composta por duas principais fases, que são a logística direta, com seu fluxo na direção do cliente, e a logística reversa, com fluxo na direção do fabricante e demais agentes da cadeia de suprimentos. A logística direta está voltada para o atendimento das necessidades do cliente, e a logística reversa, além dessa preocupação, carrega ainda a intenção de promover o retorno de produtos, materiais e peças ao ciclo produtivo ou de negócios, para que possam servir a um novo uso ou um novo processo produtivo, permitindo a recuperação do valor neles ainda contidos (LEITE, 2017; PEREIRA et al., 2012; VALLE; SOUZA, 2014). Tal capacidade é muito importante no cenário de negócios atual, uma vez que ele é marcado pela redução do ciclo de vida dos produtos, gerando reflexos, como rápida obsolescência e tendência à descartabilidade da maioria dos produtos. Esses aspectos impactam tanto a logística direta quanto (e talvez sobretudo) a reversa, levando ao aumento do volume e da variedade dos produtos transacionados, afetando o giro de estoques das empresas e exi- gindo ações empresariais para o equacionamento dos fluxos direto e reverso, em que o tempo de retorno se transforma em fator logístico merecedor de atenção. Afinal, trazer de volta produtos já vendidos ou consumidos, de forma segura, ágil e economicamente viável não apenas permite recuperar valor, mas também colabora para o atendimento das expectativas dos clientes e para a preservação da boa imagem da empresa. E, nesse contexto, a logística reversa se mostra como peça fundamental que, no desempenho de suas atribuições, se responsabiliza por atividades que apoiam demandas como gerenciamento de devoluções, remanufatura e reparo, revenda, reciclagem e disposição final (BOWERSOX et al., 2014; LEITE, 2017; VALLE; SOUZA, 2014). Todas essas atribuições são realizadas mediante fluxos de retorno de bens (produtos ou partes deles) que ocorrem por meio dos chamados canais reversos, que são os caminhos através dos quais os produtos fluem do cliente para a empresa, retornando ao ciclo produtivo ou de negócio. Ou seja, os canais reversos correspondem ao conjunto de etapas de movimentação, tratamento e comercialização pelas quais os produtos (bens, materiais, resíduos) passam até serem reintegrados aos processos produtivo e/ou comercial para recuperação de valor (LEITE, 2017; VALLE; SOUZA, 2014). Canais de distribuição reversos2 Como a logística reversa lida com dois tipos básicos de produtos — que são bens de pós-venda (com pouco ou nenhum uso) e bens de pós-consumo (já usados/consumidos, tendo atingido o fim de sua serventia ao proprietário ou o final de sua vida útil) —, surgem diferentes necessidades ao longo do fluxo de retorno, levando ao estabelecimento de dois tipos distintos de canais: canais reversos de bens pós-venda e canais reversos de bens pós-consumo. Neles, a quantidade de produtos varia de acordo com o tipo de bem, envolvendo características como ciclo de vida (comercial e do produto), sazonalidade, giro de estoque, sistema de comercialização estabelecido, obsolescência, impacto do retorno no resultado operacional, condições tecnológicas de remanufatura ou reforma, entre outros motivos. A questão do ciclo de vida do produto, em especial, faz que os bens sejam segmentados em três categorias — os bens descartáveis, os bens semiduráveis e os bens duráveis —, que apresentam a seguinte duração média de vida útil (LEITE, 2017): � Bens descartáveis:algumas semanas, raramente superior a seis meses. � Bens semiduráveis: alguns meses, raramente superior a dois anos. � Bens duráveis: variando entre alguns anos e algumas décadas. � Bens descartáveis: embalagens, artigos cirúrgicos, fraldas, materiais de escritório, suprimentos para computadores, pilhas, jornais, revistas, entre outros. � Bens semiduráveis: baterias de veículos, óleos lubrificantes, baterias de celulares, computadores e seus periféricos, revistas especializadas, entre outros. � Bens duráveis: automóveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, máquinas e equi- pamentos industriais, aviões, navios, imóveis, entre outros. Todas essas características, além de permitirem a classificação dos bens, são também relevantes para a logística reversa, pois estão diretamente rela- cionadas ao tempo de retorno dos bens, tendo implicações sobre a potencial recuperação de valor. E tudo isso tem influência sobre quais operações são realizadas ao longo dos canais reversos e como elas são desempenhadas, que é o assunto sobre o qual você vai ler a seguir, visando ao detalhamento e à diferenciação dos canais reversos de pós-venda e pós-consumo. 3Canais de distribuição reversos 2 Canais reversos de pós-venda e pós-consumo Canais reversos de pós-venda A logística reversa de pós-venda se ocupa do planejamento, da operação e do controle do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes aos bens de pós-venda que retornam ao fluxo comercial/produtivo por diferentes motivos. Sua utilização serve a diferentes objetivos estratégicos, como recu- peração de valor econômico dos produtos, aumento de competitividade no mercado pela diferenciação, obediência à legislação, preservação ou reforço da imagem corporativa, entre outros, todos focados em agregar valor ao cliente. O produto logístico de pós-venda, cuja natureza pode ser durável, semidurável ou descartável, corresponde a bens que são comercializados por meio dos diversos canais de distribuição mercadológicos e que são devolvidos (com pouco ou nenhum uso) pelos agentes da própria cadeia de distribuição direta ou pelo consumidor final (LEITE, 2017). Mesmo dependendo do objetivo estratégico ou do motivo do retorno, a movimentação reversa de pós-venda costuma ocorrer entre os diversos elos da cadeia de distribuição direta, conforme fluxo representado na Figura 1. Nela, podem-se verificar, ao lado direito, as fases da distribuição direta, que contribuem como fontes de origem do retorno, e as diversas possibilidades dos fluxos de retorno dos produtos entre os elos da cadeia direta. Já ao lado esquerdo, estão as correspondentes fases reversas após a disponibilização dos produtos pós-venda, que incluem as atividades de coleta dos produtos, consolidação, seleção e destino dos produtos retornados (LEITE, 2017; PE- REIRA et al., 2012). Canais de distribuição reversos4 Figura 1. Fluxos reversos de pós-venda. Fonte: Adaptada de Leite (2017). Reciclagem industrial Mercado secundário de produtos Desmanche Fa se s r es er va s Reparos ou consertos Retorno ao consumidor �nal Remanufatura Mercado secundário de componentes Fornecedor Fabricante Distribuidor Fl ux o de re to rn o Varejo Consumidor Seleção e destino Consolidação Coletas Produtos de pós-venda O retorno dos produtos nos canais reversos de pós-venda utiliza, em grande parte, os próprios agentes da cadeia de distribuição direta, sendo que a quan- tidade de intermediários envolvidos e o papel desempenhado por cada um, até que o produto retorne ao ciclo de negócios, dependem de cada cadeia de suprimentos e das negociações envolvidas. Assim, o produto costuma percorrer a rede conforme as conexões do canal de distribuição original: se, quando foi vendido, seguiu o fluxo fabricante-distribuidor-varejista-consumidor, seu fluxo reverso normalmente envolverá os mesmos agentes, porém em ordem contrária. Alguns desses agentes podem atuar apenas como intermediários do retorno, o que é de ocorrência bastante comum, por exemplo, na área de varejo, em que muitas vezes o varejista funciona como depositário de retornos ou devoluções realizadas pelos clientes finais, até que os produtos sejam organizados em remessas maiores e destinadas ao fabricante, que pode ter uma política de troca que determina que todo produto devolvido no varejo retorne para a sua fábrica para análise do controle de qualidade. Algumas empresas até mesmo se responsabilizam pela coleta e pelo retorno dos produtos de pós-venda, sem repassar os custos da operação, isto é, sem aumentar os preços praticados ao cliente, como forma de garantir ou reforçar sua imagem corporativa. 5Canais de distribuição reversos Uma vez devolvidos os produtos, é função da logística reversa de pós-venda realizar a seleção dos materiais e encaminhá-los de volta ao ciclo de negócios, que pode ser tanto o mercado primário (como ocorre nos casos de devoluções por adequação de estoques) quanto o mercado secundário (como ocorre após processos de remanufatura, reforma ou reciclagem), ou, ainda, para a reci- clagem industrial (o que envolve desmanche). Nos dois últimos casos, cabe destacar a potencial conexão entre os dois tipos de canais, já que envolvem atividades mais “naturais” aos produtos pós-consumo (usados). Nesses casos, é necessária uma análise detalhada dos produtos, a fim de verificar quais podem ser trazidos de volta ao ciclo de negócios e quais precisam passar por atividades intermediárias antes de sua reintegração ao ciclo. Além disso, existe uma considerável diversidade de origens de retorno de bens, cada uma carregando seus respectivos motivos para devolução dos produtos, tais como as apresentadas a seguir (LEITE, 2017; PEREIRA et al., 2012). � Retorno diretamente do consumidor: defeito de funcionamento, pro- blema de qualidade, desacordo estético, não entendimento do manual por parte do consumidor (muito comum em eletroeletrônicos), conteúdo trocado ou rótulos errados (principalmente em produtos alimentícios, cosméticos ou de conveniência), todos requerendo logística reversa organizada para a recuperação das falhas. � Retorno de lojas de varejo físico: mudança de coleção e entrada de novos modelos, excesso de estoque, retorno de embalagens retornáveis (iniciativa crescente e que exige administração cuidadosa das empresas). � Retorno do fabricante: pedido errado de diversas naturezas (quanti- dade, qualidade, natureza do produto) e pedidos modificados que não chegaram ao conhecimento da logística. Cabe destacar que o retorno por qualidade do produto é bastante usual em todas as origens e tem grande relevância como feedback para as empresas que sabem utilizá-lo para reparar as falhas de processos e produtos. Outra ocor- rência muito comum e crescente é o retorno oriundo do comércio eletrônico, motivado por situações como produtos com não conformidade estética ou mudança de interesse do consumidor. Nesses casos, o amparo legal da recusa, com prazo de sete dias após a venda sob qualquer condição e argumento, contribui para altas e crescentes taxas de retorno nessa área. Canais de distribuição reversos6 Tais comentários sobre motivações para devolução abrem caminho para a análise da logística reversa de pós-venda sob o prisma de que ela deve planejar, operar e controlar o fluxo dos produtos de pós-venda devolvidos por diversos motivos, que podem ser agrupados nas categorias de retorno descritas a seguir e representadas na Figura 2 (LEITE, 2017; PEREIRA et al., 2012). � Retornos comerciais no varejo e na internet: incluem retornos não contratuais (sem acordo prévio entre as partes, como reclamação do consumidor final sobre qualidade ou defeito, erro de expedição, entre outros) e retornos contratuais (com acordo prévio entre as partes, como produtos em consignação, ajuste de níveis de estoque, embalagens retornáveis, entre outros). � Retornos por garantia/qualidade: incluem situações em que o cliente final detecta problemas dealguma natureza no produto ou na em- balagem, decorrentes de produtos com defeitos de fabricação ou de funcionamento, danificados (produto ou embalagem) ou com prazo de validade expirado, entre outros. � Retornos por substituição de componentes: incluem situações em que, quando tecnicamente possível, os produtos (bens duráveis e semidu- ráveis) passam por manutenções e consertos, sendo remanufaturados para retorno ao mercado (primário ou secundário); na impossibilidade de reaproveitamento, os produtos são enviados à reciclagem ou à des- tinação final. Perceba que, nesse último caso (substituição de componentes), ocorre a entrada nos canais reversos de remanufatura, demonstrando uma conexão entre fluxos reversos de pós-venda e pós-consumo. Você pode saber mais sobre as categorias de retorno pós-venda lendo o capítulo 13 da obra Logística reversa (LEITE, 2017). 7Canais de distribuição reversos Figura 2. Categorias dos fluxos reversos de pós-venda. Fonte: Leite (2017, p. 283). Verifica-se, ainda, que existem diversos destinos dados aos produtos que retornam pela cadeia reversa, entre os quais estão o envio para mercados primários e secundários dos próprios produtos, com pouca ou nenhuma al- teração em sua natureza, e o envio para desmanche ou remanufatura, na impossibilidade de seu reaproveitamento integral. E tudo isso leva à enorme variedade de possibilidades existentes de retorno. Em função disso, é importante destacar a relevância da etapa de seleção e destino dos produtos devolvidos, uma vez que existem inúmeras formas e diferentes caminhos possíveis na logística reversa dos bens de pós-venda, que devem ser examinados e destinados a um canal reverso que seja capaz de promover o melhor acréscimo de valor ao produto (seja monetário ou de outra natureza), conforme pretendido pelas organizações agentes desses fluxos. Essa é uma incumbência desempenhada durante a operação denominada “seleção e destino dos bens devolvidos”, que pode ser realizada no varejo, por intermediários especializados em logística reversa, ou pelo fabricante do bem, devendo ser efetivada com competência, para a otimização do valor agregado na negociação dos bens (LEITE, 2017). Canais de distribuição reversos8 A devolução por defeito ou problema de qualidade em geral costuma demandar uma decisão de natureza técnica a ser tomada em um dos elos da cadeia de distribuição direta, a fim de definir o destino dos bens devolvidos, que podem ser encaminhados a destinos como retorno ao mercado, processos de remanufatura ou de reforma, reciclagem de materiais constituintes ou sis- temas de disposição final. Essa avaliação pode não ser facilmente realizada, pois os custos de retorno dos bens oneram o processo de revalorização, o que por vezes pode não compensar o retorno ao longo da cadeia; ou, também, o produto pode não oferecer condições de reutilização, mesmo com reparo ou remanufatura. Entre os diversos destinos possíveis, cabe destacar como mais comuns os apresentados a seguir (LEITE, 2017; PEREIRA et al., 2012). � Venda no mercado primário: habitual no caso de retorno para ajustes de estoques nos canais de distribuição diretos, em que os produtos costumam possuir condições de reenvio ao mercado original, com a marca do fabricante e por meio de redistribuição. � Reparações e consertos: os produtos de retorno são destinados às repa- rações necessárias e podem ser comercializados no mercado primário ou, mais frequentemente, no secundário. � Doação: normalmente é o destino de produtos retornados que estejam próximos da obsolescência (comum no setor de computadores, que têm vida média útil muito curta), quando existe interesse de fixação da imagem do fabricante. � Manufatura reversa/desmanche: muito praticada quando o bem retor- nado se apresenta sem condições de funcionamento, consiste em retirar componentes de um produto para conserto de outro; os componentes podem ser revendidos no mercado secundário de peças, passar por processo de remanufatura, ou ser encaminhados para reciclagem. � Remanufatura: ocorre quando os componentes do desmanche apresentam defeitos que precisam ser solucionados para encaminhamento ao mer- cado secundário; é muito praticada por empresas de grande porte para abastecimento de peças de reposição, recuperando importantes valores. � Reciclagem industrial: neste caso, os bens são comercializados com empresas especializadas na reciclagem dos materiais constituintes dos produtos (como plásticos, metais e outros). � Disposição final: quando não é possível agregar valor ao produto re- tornado (ou a suas partes ou seus materiais), ele é destinado a aterros sanitários ou ao processo de incineração, dependendo das peculiaridades e da legislação de cada país ou região. 9Canais de distribuição reversos Perceba que, embora costumem entrar nos canais reversos pelos canais diretos, os produtos de pós-venda podem também ser dirigidos para canais de pós-consumo após selecionado seu destino — como ocorre nos casos em que há necessidade de desmanche, remanufatura, reciclagem e disposição final, que são fases reversas mais naturais a produtos pós-consumo, já que atendem a demandas decorrentes do uso do bem. Canais reversos de pós-consumo Os canais reversos de pós-consumo correspondem ao conjunto de etapas de comercialização e tratamento pelas quais passam os bens pós-consumo até sua reintegração ao processo produtivo, o que inclui atividades como reuso, desmanche/remanufatura, reciclagem e destinação final. Essas etapas apre- sentam características peculiares em função de fatores como os tipos de bens pós-consumo (que serão detalhados a seguir), bem como a disponibilidade de fontes de bens pós-consumo, legislações e regulamentos, sensibilidade ecoló- gica e hábitos de consumo da sociedade (LEITE, 2017; PEREIRA et al., 2012). Também é relevante mencionar que, enquanto o retorno dos produtos nos canais reversos de pós-venda geralmente utiliza os próprios agentes da cadeia de distribuição direta, o retorno dos produtos de pós-consumo costuma ser realizado por meio de agentes e estruturas específicas em seus canais reversos, constituindo a cadeia de suprimentos reversa de pós-consumo (LEITE, 2017). Por exemplo, o canal utilizado para retornar um cartucho de impressora defeituoso não necessariamente será o mesmo utilizado para retornar um que foi totalmente utilizado. Canais de distribuição reversos10 Assim, no caso dos pós-consumo, devido ao tratamento que é dado aos bens (reuso, remanufatura, reciclagem, destinação final), na grande maioria das vezes as operações realizadas ao longo do canal logístico reverso são desempenhadas por empresas terceirizadas, que costumam ser especializadas em determinada atividade. Essas empresas muitas vezes se transformam em parceiros aos quais o fabricante delega a função da logística reversa de sua operação. E essa tendência à especialização ainda ganha reforço conforme o fluxo reverso avança pelos canais de pós-consumo, uma vez que as atividades desenvolvidas demandam capacidades cada vez mais específicas por parte das empresas. Sobre os tipos de bens pós-consumo, cabe destacar que eles são segmentados em duas categorias básicas: produtos que esgotaram sua serventia (isto é, que não servem mais ao proprietário, mas ainda têm condições de utilização, sendo encaminhados para reuso) e produtos que atingiram o fim de sua vida útil (isto é, produtos sem condições de serem reutilizados, sendo encaminhados ao desmanche/remanufatura, reciclagem ou destinação final). Encerrada sua serventia (ou uso) original, os produtos são disponibilizados ou descartados pelos proprietários e transformam-se nos bens de pós-consumo; e, então, passam a ser movimentados por meio de canais de distribuição reversos especí- ficos. Nesses canais, os bens pós-consumo podem ser reintegrados ao ciclo de negócios ou produtivo de diferentes maneiras, como bens de segunda mão ou convertidos em partes, subconjuntose materiais constituintes, dando origem a uma série de atividades comerciais, industriais e de serviços reversos, que fluem de acordo com o esquema apresentado na Figura 3. Nela, é possível verificar a existência de diferentes categorias de bens pós-consumo, que são os bens duráveis e os bens descartáveis, ambos podendo abrigar também partes dos bens semiduráveis, e, ainda, os resíduos industriais, cujos fluxos reversos de pós-consumo são formados por etapas específicas (LEITE, 2017; PEREIRA et al., 2012). 11Canais de distribuição reversos Figura 3. Canais de distribuição de pós-consumo. Fonte: Adaptada de Leite (2017). Fabricante de matérias-primas novas Fabricante de produtos (duráveis/descartáveis) Materiais reciclados Mercados secundários Bens de pós-consumo Duráveis/semiduráveisDescartáveis/semiduráveis Coleta informal Coleta seletiva Indústria de reciclagem Incineração Remanufatura Componentes Desmanche Reúso Sobras Coleta do lixo Intermediários (sucateiros) Consumidor �nal (empresa/pessoa física) Resíduos industriais Os bens duráveis (assim como muitos semiduráveis) são formados de uma série de componentes com diferentes limites de duração que podem ser substituídos ao longo da vida útil do bem, dando origem a fluxos em canais reversos próprios, que tratam tanto dos produtos descartados após sua vida útil quanto de seus componentes, conforme ilustrado na Figura 4. Canais de distribuição reversos12 Um bem durável ou semidurável geralmente deixa de servir ao seu pri- meiro utilizador ou atinge o fim de sua vida útil em função de fatores como obsolescência de natureza tecnológica ou de desempenho, ou pela aquisição de um novo bem, entre tantos outros motivos. Com isso, surge a demanda pelo descarte ou disponibilização do bem, que ingressa na cadeia logística reversa por meio dos canais de distribuição específicos, como os canais reversos de reuso, remanufatura ou reciclagem. Figura 4. Canais reversos dos bens duráveis. Fonte: Adaptada de Leite (2017). Fabricante de matérias-primas Fabricação dos bens duráveis Mercado primário Bens de pós-consumo Sem condições de reutilização Bens duráveis descartados Em condições de reutilização Processadores de sucata (sucata de obsolescência) Desmanche (linha de montagem reversa) Remanufatura do bem RemanufaturaComponentes íntegrosResíduos Materiais residuais comerciais Indústria de reciclagem Disposição �nal Mercado de reciclados Mercado de componentes de segunda mão Mercado secundário Componentes substituídos Mercado de bens de segunda mão 13Canais de distribuição reversos Já os bens descartáveis (assim como alguns semiduráveis) possuem um fluxo reverso iniciado por três tipos de coleta utilizados para sua captação após a disponibilização, que são a coleta do lixo urbano, a coleta seletiva e a coleta informal, conforme demonstrado na Figura 5. Esse fluxo envolve a disponibilização e o descarte de produtos como embalagens feitas de diversos materiais (papel, plástico, vidro etc.), papéis de diferentes naturezas, objetos inservíveis de pequeno volume e, em indústrias, alguns componentes de embalagens e outros de uso industrial. Após os diversos tipos de coleta, esses materiais são selecionados, separados e comercializados por intermediários, normalmente especializados de acordo com a natureza dos materiais constituintes, cuja principal função é consolidar e realizar a prensagem a fim de melhorar a densidade para transporte e comercialização. Esses materiais podem ser negociados com fabricantes de matérias-primas originais, como no caso do ferro e do aço, que podem ser comercializados diretamente com as siderúrgicas, ou podem ser negociados com indústrias de reciclagem, como as de reciclagem de plástico, que comercializam com a indústria de transformação do material plástico a resina plástica extraída do produto de pós-consumo descartado. Os produtos reciclados geram materiais secundários, que são comercializados com as indústrias de fabricação de bens diversos ou de matérias-primas, substituindo, total ou parcialmente, as matérias-primas novas. Os materiais restantes, que não forem passíveis de aproveitamento, são considerados resíduos e, como tal, conduzidos à disposi- ção final, sendo encaminhados para aterros ou à incineração, para que sejam descartados em definitivo e de forma apropriada. Você pode saber mais sobre os diversos tipos de coleta pós-consumo, que correspon- dem a uma parte relevante dos canais reversos pós-consumo, lendo o capítulo 5 da obra Logística reversa (LEITE, 2017). Canais de distribuição reversos14 Figura 5. Canais de distribuição dos bens descartáveis. Fonte: Adaptada de Leite (2017). Fabricante de matérias-primas novas Fabricantes de produtos (semiduráveis/descartáveis) Materiais reciclados Consumidor �nal (empresa/pessoa física) Bens de pós-consumo Semiduráveis/descartáveis Coleta informal Coleta seletiva Coleta do lixo Seleção Aterros Catadores Seleção Incineração Indústria de reciclagem Intermediários (sucateiros) 15Canais de distribuição reversos Os resíduos industriais, por sua vez, consistem em materiais residuais de processos industriais, ou seja, são sobras não utilizáveis em reciclagens internas eventualmente existentes nas indústrias, correspondendo a materiais inservíveis considerados como sucatas e bens duráveis de seus ativos, além de produtos secundários de fabricação. Por conta dessas características, os resíduos industriais têm seu fluxo reverso realizado por um canal de distri- buição diferenciado, conforme representado na Figura 6. Nela, observa-se que os resíduos industriais podem ser comercializados diretamente com as indústrias de reciclagem ou com os intermediários sucateiros que realizam a consolidação e a preparação para a comercialização com a indústria de reciclagem ou com um outro agente do canal reverso. Figura 6. Canais de distribuição reversos dos resíduos industriais. Fonte: Leite (2017, p. 115). Cabe destacar que os resíduos industriais correspondem a uma categoria especial de bens de pós-consumo, pois costumam apresentar uma forma organizada de comercialização (geralmente melhor que as demais fontes de pós-consumo), sendo disponibilizados em quantidades relativamente constan- tes, habitualmente separados e selecionados (tanto pela natureza dos materiais quanto por sua categoria), e normalmente embalados de forma adequada para transporte. Essas características permitem previsões de sua utilização como fonte de matéria-prima secundária de maior confiabilidade, aspectos difíceis de serem observados nas cadeias reversas em geral e relevantes para rentabilizar os negócios na economia reversa. Canais de distribuição reversos16 Devido a isso, os resíduos industriais consistem em uma fonte de produtos de pós-consumo prioritariamente coletada pelos agentes dos canais reversos e que tende a se reduzir em função de progressos tecnológicos e esforços de qualidade total empreendidos pelos principais fabricantes (como ocorre quando esses fazem que o projeto do produto contemple o planejamento dos desperdícios e das etapas de revalorização após seu descarte). Os canais de distribuição reversos dos resíduos industriais, assim como os demais bens pós-consumo, seguem um fluxo composto por etapas com objetivos semelhantes, ainda que lidando com peculiaridades e tecnologias diferentes, de acordo com a natureza de cada categoria de bem. Desse modo, após a coleta dos resíduos industriais, o fluxo reverso segue para as etapas de seleção, separação, adensamento e consolidação; depois, passa por processos industriais de reciclagem, até chegar ao ponto em que os produtos são rein- tegrados ao ciclo produtivo. Na etapa de seleção, separação, adensamento e consolidação, os materiais de pós-consumo (oriundos de diferentes fontes primárias e de diversas formas de coleta) são separados por natureza, adensados para melhorar sua transporta- bilidade e consolidados em quantidades convenientespara a comercialização. A partir desse ponto, observa-se uma especialização por natureza do material constituinte (ferro, papel, plástico, vidro etc.), e o último processador que comercializa o material com a indústria costuma ser especialista em um tipo específico de material. Já na etapa de processos industriais de reciclagem, é realizada a separação ou extração dos materiais de interesse do produto de pós-consumo, bem como a eliminação de eventual contaminação e a prepa- ração dos reciclados (na forma física e segundo as especificações técnicas) para sua reintegração ao ciclo produtivo. Por fim, a etapa de reintegração ao ciclo produtivo consiste na última fase dos canais de distribuição reversos de pós-consumo, na qual os materiais reciclados são utilizados em substituição às matérias-primas virgens ou novas, por apresentarem algum tipo de vantagem para a empresa utilizadora. Logicamente, haverá uma parcela dos materiais que não será passível de aproveitamento e que, por isso, deverá ser conduzida à disposição final para que seja descartada em definitivo e de forma apropriada. O exposto até aqui permitiu apresentar os canais reversos de pós-consumo com base nas características dos diferentes tipos de bens pós-consumo mo- vimentados por meio deles. Mas é possível ainda proceder com o estudo dos canais reversos de pós-consumo tendo como base as etapas pelas quais passam os bens pós-consumo até sua reintegração ao processo produtivo, o que inclui atividades como reuso, desmanche/remanufatura, reciclagem e destinação final. 17Canais de distribuição reversos O canal reverso de reúso é utilizado nos casos em que existem condições e interesse de uso integral do bem, que é coletado e encaminhado ao mercado de segunda mão como forma de revalorização. A fase de aquisição do bem de pós-consumo durável é geralmente realizada por empresas especializadas, que trabalham com tipos específicos de bens (como automóveis, por exemplo), representam relevantes fontes de produtos para reuso e alimentam importantes áreas do comércio. O canal reverso de remanufatura, por sua vez, costuma ser constituído por empresas industriais, comerciais e de serviços que operacionalizam ações no processo de retorno dos produtos ou componentes duráveis de pós-consumo, buscando recapturar o valor deles. Para isso, os agentes da cadeia de suprimento reversa coletam os produtos duráveis de pós-consumo, os classificam, segregam e transportam aos diferentes locais de processamento da remanufatura, onde são limpos, desmanchados e têm seus componentes submetidos a testes para eventual reaproveitamento, sendo um novo produto montado e distribuído para venda. O mercado secundário de bens remanufaturados representa uma parcela importante no valor total da economia reversa nas sociedades atuais, podendo, em muitos países, ser comparado a grandes áreas de atividade, como alguns ramos da indústria. A remanufatura corresponde a uma atividade de reaproveitamento que ocorre imediatamente após a recuperação do produto durável, conservando tanto os materiais constituintes quanto parte do valor adicionado durante a fabricação do produto original. Ou seja, os principais constituintes dos produtos são reaproveitados tanto quanto possível, podendo resultar em enormes possi- bilidades de economia de recursos e aumento de produtividade. A atividade de remanufatura pode ser desenvolvida pelas empresas fabricantes dos produtos duráveis, por empresas especializadas contratadas por elas (terceirizadas) e, ainda, por empresas de remanufatura independentes, que podem concorrer ou trabalhar em cooperação nos diferentes segmentos do mercado, desde a fase de captação dos produtos de pós-consumo até sua redistribuição ao mercado de produtos remanufaturados, o que justifica a preocupação com o papel da logística reversa em estratégias empresariais. Já o canal reverso de reciclagem consiste em uma etapa quase final no reaproveitamento dos bens duráveis, sendo utilizado quando os processos an- teriores de reuso e remanufatura não são mais viáveis. Em função das enormes quantidades e diversidade de produtos, o interesse por essa atividade é cada vez mais crescente na atualidade, em especial no mercado de eletroeletrôni- cos, no qual os produtos se apresentam em grande quantidade e com ciclos de vida muito curtos, provocando excesso de pós-consumo — o que gera o Canais de distribuição reversos18 chamado “lixo eletrônico”, que causa preocupações ambientais equivalentes às dos produtos descartáveis e das embalagens. Após um produto ter sido reutilizado algumas vezes, encerra-se o seu ciclo de revalorização de reuso e ele deixa de apresentar condições de utilidade por diversas razões. Ele então é disponibilizado e coletado como um bem em “fim de vida”, sendo destinado ao processamento de sucata ou ao desmanche, em que é desmontado para extração de seus materiais constituintes e outros resíduos. Os canais reversos de desmanche, remanufatura e reciclagem dos bens du- ráveis em fim de vida se iniciam pela etapa de coleta de produtos pós-consumo, seguindo-se a ela o processamento industrial de desmanche, a remanufatura eventual de componentes, o reaproveitamento deles e o envio das sobras aos aterros sanitários. Caso o reaproveitamento dos componentes não seja possível, busca-se a revalorização dos materiais constituintes que apresentem condições de reaproveitamento, sendo eles comercializados com empresas de reciclagem industrial. Os materiais restantes são considerados resíduos e conduzidos à disposição final para que sejam descartados em definitivo, mas de forma apropriada, sendo encaminhados para aterros ou à incineração; nesse último caso, com a vantagem de aproveitamento da energia gerada. A coleta de produtos pós-consumo tem sido cada vez mais exigida por legislações em diversos países, fazendo os próprios fabricantes do bem terem de se responsabilizar por sua organização. Isso dá origem a associações entre empresas, que passam a constituir a cadeia de suprimentos reversa (reverse supply chain). Comparação entre canais reversos de pós-venda e pós-consumo Os canais reversos de pós-venda e pós-consumo possuem algumas semelhan- ças, como a questão de que ambos podem envolver bens duráveis, semiduráveis e descartáveis, além do fato de que a quantidade de produtos movimentados através deles é cada vez maior, já que o ciclo de vida (comercial e do produto) são cada vez mais curtos. Mas, semelhanças à parte, esses dois tipos de canais reversos possuem também muitas e significativas diferenças, sendo que a mais essencial delas está nas condições de uso do produto movimentado pelo canal. 19Canais de distribuição reversos Desse modo, os dois canais logísticos estão voltados para fases específicas do ciclo de vida (comercial e do produto), atuando em momentos diferentes desse ciclo. E, a partir dessa diferença básica, derivam muitas outras, que passam a delinear as características particulares dos canais reversos, impactando sobre o que pode ou precisa ser feito (como reuso, remanufatura, reciclagem ou disposição final) com os diferentes tipos de bens que fluem pelos canais reversos (como duráveis, semiduráveis, descartáveis e resíduos). A fim de facilitar a compreensão da diferença entre os canais de bens pós- -venda e de bens pós-consumo, o Quadro 1 apresenta uma síntese comparativa entre ambos, baseada em alguns dos principais aspectos mencionados ao longo do texto. Aspecto Logística reversa de pós-venda Logística reversa de pós-consumo Situação do produto Pouco ou nenhum uso Usado até não ter mais serventia ou até o término de sua vida útil Etapa do ciclo vida (comercial/do pro- duto) em que atua Início do ciclo Final do ciclo Características que afetam a quantidade de produtos que fluem no canal Ciclo de vida comercial, giro de estoque e sistema de comercialização estabelecido Ciclo de vida do produto e condições tecnológicas de remanufatura ou reformaFoco mais vol- tado para O cliente e sua satisfação (conquista e retenção de clientes, relacionamento, reforço de imagem) A recuperação de valor e a sustentabilidade (redução de resíduos e de descartes) Agentes envolvidos no fluxo de distri- buição reverso Geralmente utiliza o mesmo canal de empresas do fluxo direto Usa uma cadeia especí- fica, em função das ativi- dades peculiares realiza- das no fluxo de retorno Origens do retorno Consumidor, varejista e fabricante Consumidor Quadro 1. Características dos canais de distribuição reversos de pós-venda e pós-con- sumo (Continua) Canais de distribuição reversos20 Fonte: Adaptado de Leite (2017). Aspecto Logística reversa de pós-venda Logística reversa de pós-consumo Motivos do retorno Consumidor: defeito, qualidade, desacordo es- tético, não entendimento do manual, entre outros. Varejista: lançamento de novos modelos, excesso de estoque, retorno de embalagens, entre outros. Fabricante: pedidos erra- dos ou modificados Bem esgota sua serventia ao proprietário (como no caso de troca por modelo mais novo, em que o produto usado ainda tem condições de uso) ou chega ao final de sua vida útil (quando o produto não tem mais condição de uso) Categorias de retorno Pautadas em função da origem do retorno e dos motivos da devolução: ga- rantia e qualidade, condi- ções comerciais e substi- tuição de componentes Pautadas em função do tipo de bem que retorna: duráveis, descartáveis e resíduos industriais Fases do fluxo reverso São basicamente co- leta, consolidação, seleção e destino. Depois, seguem-se fases relativas ao retorno do produto ao ciclo de ne- gócios: mercado primário (como no caso do ajuste de estoque), mercado se- cundário de produtos ou componentes (podendo envolver remanufatura, reparos e consertos) ou reciclagem industrial (que envolve desmanche). Per- ceba que o fluxo reverso de pós-venda pode acabar encaminhando o produto para fases do fluxo re- verso de pós-consumo. São basicamente reuso, desmanche/remanufa- tura e reciclagem (sendo que esses ainda podem gerar a necessidade de disposição final). Podem ocorrer variações de acordo com tipos de produtos: bens duráveis — seleção, reuso (o que pode envolver substitui- ção de componentes), desmanche, remanu- fatura (do bem ou suas partes), reciclagem e dis- posição final; bens des- cartáveis — coleta (que pode ocorrer de várias formas), seleção, recicla- gem e disposição final. Quadro 1. Características dos canais de distribuição reversos de pós-venda e pós-con- sumo (Continuação) 21Canais de distribuição reversos O exposto até aqui corresponde aos aspectos conceituais que definem os dois tipos de canais reversos (pós-venda e pós-consumo), revelando suas principais características de modo a permitir sua comparação e, até mesmo, sua diferenciação. A seguir, para que você possa assimilar melhor tal conteúdo teórico, serão apresentados alguns exemplos práticos que envolvem a utilização de canais reversos de pós-venda e pós-consumo. 3 Exemplos de canais reversos Pós-venda Um caso interessante para ilustrar o conceito dos canais reversos de pós-venda consiste na distribuição e venda de publicações com frequência regular, como no caso de revistas com edições mensais — aliás, o setor editorial de revistas é apontado pela literatura especializada como um dos mais expressivos em termos de retorno de produtos, devido à alta perecibilidade das revistas em geral. Para ilustrar, vamos considerar um caso de distribuição reversa de revistas de circulação nacional, comercializadas no varejo formado por bancas de jornal de rua e lojas de departamento (LEITE, 2017). O sistema de venda das publicações é de consignação em cascata ao longo da cadeia direta, ou seja, da empresa distribuidora para os centros de distri- buição regional (CDR) e desses para as bancas e revistarias — que é a mesma cadeia utilizada no caso da logística reversa, porém em sentido contrário. A distribuição reversa das publicações se inicia ao expirar o prazo de exposição e venda do produto, quando é emitido um documento denominado “chamada de encalhe” (que é a solicitação de retorno das revistas não vendidas, as quais passam a ser denominadas de “encalhe”) para avisar ao varejista sobre o tér- mino do prazo para a venda da publicação. E então se inicia o fluxo reverso de pós-consumo, conforme ilustrado na Figura 7. Canais de distribuição reversos22 Figura 7. Fluxo reverso de pós-venda — distribuição e venda de revistas. Fonte: Leite (2017, p. 295). O varejista então devolve o encalhe ao CDR, que o encaminha à empresa distribuidora, a qual, por sua vez, realiza a conferência das devoluções e as organiza em lotes-padrão, fazendo a consolidação final, que facilita os pos- teriores controle e manuseio das publicações devolvidas. Depois, é realizada a seleção de destino, a partir da qual as publicações podem ser devolvidas à editora cliente, ser destinadas à armazenagem na própria empresa, encaminha- das para possível utilização em mercados secundários ou para a reciclagem. Com relação à recuperação de valor, que é o objetivo central da logística reversa, algumas das alternativas mais utilizadas são a reciclagem do encalhe (transformando-o em aparas de papel), a devolução aos clientes (mediante ser- viços como o atendimento às solicitações de revistas de edições passadas) e o armazenamento para reuso em futuro relançamento (usual para publicações que exploram assuntos de interesse atemporal, como decoração, viagens e turismo, artesanato, entre outros). Além disso, as publicações retornadas podem ser encaminhadas para mercados secundários, nos quais podem ser aproveitadas as próprias publicações (que podem ser exportadas para outros países que usam a língua portuguesa), bem como os brindes que eventualmente acompanham as publicações (como livros, brinquedos e outros itens). As publicações retornadas podem, ainda, ser reutilizadas em ações de marketing, como na utilização do encalhe como “degustação”, em que exemplares de determinada revista são oferecidos aos clientes para sua experimentação, ou na realização de doações, em que o encalhe pode servir como fonte para projetos que visem à educação e 23Canais de distribuição reversos ao bem-estar social. Atividades como essas permitem estreitar as relações entre a empresa e o cliente, promovendo sua fidelização, além de contribuir para a construção da imagem corporativa da empresa. Assim, embora o tratamento do encalhe demande alocação de recursos, como mão de obra, e gere custos com movimentação interna (empilhadeiras e paleteiras), armazenamento e transporte rodoviário, o investimento realizado nessas atividades gera reflexos que justificam sua aplicação. Pós-consumo Um caso bastante interessante e usual de prática da logística reversa de bens pós-consumo ocorre no caso dos automóveis. É muito comum que o proprie- tário, após usar o bem por algum tempo, entenda que esse deixou de ser útil para ele, o que pode ser motivado, por exemplo, pelo interesse em um modelo mais novo. Nesses casos, é bem frequente que o veículo usado seja dado como parte do pagamento de um novo modelo e, depois, encaminhado ao mercado de segunda mão, podendo o bem ser vendido nas mesmas condições em que se encontra ou passar por reparos antes de retornar ao ciclo de negócios. Essa operação é geralmente realizada por empresas especializadas, que trabalham com tipos específicos de bens, como é o caso dos automóveis. Mas, além dessa primeira alternativa de reuso do bem pós-consumo, a logística reversa no mer- cado de automóveis pode envolver, ainda, operações bem mais complexas, como ocorre no caso em que os bens atingem o fim de seu ciclo de vida (por exemplo, veículos acidentados, que não podem ser reutilizados e são encaminhados para a atividade de desmanche). Essa representa uma atividade econômica cada vez mais expressiva, dado o fato de que a indústria automotiva veminvestindo no projeto do automóvel com a finalidade de fazer dele um produto com alto índice de reciclagem — já que essa vem sendo uma preocupação cada vez mais relevante para os fabricantes, que são responsabilizados por legislações específicas pela reciclagem do produto e seus componentes (LEITE, 2017). O investimento no desenvolvimento e na aplicação de técnicas de projeto focadas na desmontagem e reciclagem de automóveis vem promovendo resultados muito significativos para a indústria automotiva, permitindo que cerca de 85% dos materiais constituintes de um automóvel moderno possam ser integralmente reciclados. Canais de distribuição reversos24 Contudo, um sistema organizado de desmanche de automóveis requer a participação de empresas ainda mais especializadas no fluxo de logística reversa envolvido nessa atividade, uma vez que ela é composta por diversas etapas, conforme demonstrado na Figura 8. O exemplo se inicia com algu- mas alternativas de origem ou fontes primárias de automóveis descartados em fim de vida, como os leilões de automóveis sucateados em empresas, os veículos acidentados provenientes de órgãos de trânsito e a venda direta pelo proprietário. Figura 8. Fluxo reverso de pós-consumo — cadeia reversa organizada de veículos automotivos. Fonte: Leite (2017, p. 100). Estando o veículo disponível para o desmanche, inicia-se sua desmontagem em partes (também conhecido como linha de montagem reversa), com todos os componentes desmontados e separados. Em uma primeira etapa, são separados os componentes líquidos do automóvel, seguindo-se a ela a desmontagem de todos os componentes até a liberação da chamada “carcaça de ferro”, que 25Canais de distribuição reversos é transformada em retalhos e compactada. Os materiais ferrosos (cerca de 70% do peso do veículo) são destinados ao processamento mecânico (que inclui prensagem, retalhamento em tesouras ou trituração em equipamentos denominados shredders) para posterior comercialização com aciarias (esta- belecimentos industriais especializados na fabricação de aço), que reintegram esses materiais secundários ao ciclo produtivo. Os demais componentes do veículo (cerca de 30% do seu peso) correspondem a plásticos e outros materiais, que são separados por natureza e destinados à indústria de reciclagem, sendo outra parcela, a de resíduos não recicláveis gerados durante o processamento mecânico, encaminhada a aterros sanitários. Você ainda pode verificar mais detalhes e outros exemplos de fluxos reversos das demais categorias de produtos pós-consumo, como os bens descartáveis (cujo fluxo reverso possui particularidades, como iniciar com diferentes modalidades de coleta) e os resíduos industriais, lendo o capítulo 5 da obra Logística reversa (LEITE, 2017). BOWERSOX, D. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4 ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. LEITE, P. R. Logística reversa: sustentabilidade e competitividade. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. PEREIRA, A. L. et al. Logística reversa e sustentabilidade. São Paulo: Cengage Learning, 2012. VALLE, R.; SOUZA, R. G. (Orgs.). Logística reversa: processo a processo. São Paulo: Atlas, 2014. Canais de distribuição reversos26 OMNICHANNEL E MARKETPLACE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir conceitos, histórico e características do omnichannel. > Descrever a jornada omnicanal (omnichannel). > Identificar o papel do omnichannel no relacionamento das empresas com os seus clientes. Introdução Os modelos de negócios vêm se modificando ao longo dos últimos anos, devido ao advento dos canais on-line. Seja por meio de canais móveis ou mídias sociais, o comportamento de compra do consumidor vem se moldando a essa nova realidade do mercado. Em face das mudanças no meio de consumo, os varejistas optam por implementar uma perspectiva mais ampla, sobretudo a utilização de múltiplos canais integrados, aptos a induzir o processo de compras dos consumidores. Desse modo, a estratégia multichannel (multicanal) tem foco na gestão de diversos canais (loja física, redes sociais, entre outros). Contudo, há uma cres- cente priorização de maior interação e integração entre os canais. Nesse âmbito, integração, do ponto de vista dos varejistas em relação aos consumidores, diz respeito à união de informações sobre preços, estoques e mercadorias controlados e integrados pela marca. Quanto à interação, no ponto de vista dos consumidores ela corresponde ao relacionamento com os varejistas nos seus pontos de contato, seja concretizando uma compra, efetuando uma troca, resgatando pontos, etc. Definição de omnichannel Elisângela de Farias A diversidade de canais e sua integração, replicando os pontos de vendas em um contexto mais amplo, é denominada estratégia omnichannel. Essa estratégia promove uma integração entre o consumidor, a marca e o canal, proporcionando uma experiência onipresente ao consumidor. Essa experiência se dá por inúmeros pontos de contato e etapas no processo de decisão de compras. Neste capítulo, você estudará o conceito, o histórico e as principais caracte- rísticas do omnichannel, além de conhecer a jornada do consumidor e como as marcas se relacionam com ele por meio da estratégia omnichannel. Omnichannel e suas características Cada vez mais conectados, os consumidores adotam perfis distintos para cada canal de compras. Assim, é importante abordar estratégias que integrem canais de compras, inovações, tecnologias digitais, processos operacionais inovadores, entre outros que contribuam para mudança do comportamento de compras do consumidor (JOÃO; PASTORE, 2019; KOTLER; KARTAJAYA; SE- TIAWAN, 2017). Diante desse contexto, os profissionais de marketing, varejistas e empresas em geral precisam se adaptar a essa nova realidade, numa abordagem com ênfase maior em diversos canais de vendas integrados. Para Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017), a estratégia omnichannel, corresponde a essa expectativa de integrar diversos canais distintos para criar uma experiência de consumo ininterrupta e estável. Desse modo, os consumidores têm conhecimento dos preços e informações sobre as mercadorias, diminuindo incertezas sobre os produtos ou serviços ofertados de forma transparente (MUNDIM; PETROLL, 2018). Atualmente, as estratégias de atuação dos varejistas podem ser divididas em varejistas que trabalham através de um único canal de vendas e outros que atuam com a estratégia omnichannel. Em um meio termo, porém, existem ainda a estratégia de multichannel, que corresponde a diferentes canais de acesso, mas sem interação entre eles, e a estratégia de crosschannel, em cujo formato o consumidor pode comprar em uma loja on-line e retirar na loja off-line, apresentando uma integração parcial entre os canais (PEREIRA; PETROLL; FIATES, 2020). Desse modo, o omnichannel surge com uma estratégia ampla que não se restringe a um único canal, abrangendo diversos canais com integração e interação entre eles, buscando entregar uma experiência de compras ao consumidor. A seguir, são listadas as principais características das estratégias citadas (PEREIRA; PETROLL; FIATES, 2020). Definição de omnichannel 2 � Single channel: um único canal de vendas, on-line ou off-line. � Multichannel: oferta de diferentes canais de compras ao consumidor, mas os canais não são integrados entre si. � Cross-channel: formato de compras no qual o consumidor pode optar por comprar on-line e retirar o produto na loja. Não é necessária uma integração de todos os canais de vendas, e os canais são integrados parcialmente. � Omnichannel: integração dos multicanais com a intenção de interati- vidade e oferta de uma experiência de compras ao consumidor. A perspectiva do varejo omnichannel corresponde a uma experiência de compra sem comparações, pois consiste em oferecer uma integração das lojas on-line e off-line, ofertando ao consumidor um atendimento de excelência em todos os canais concedidos pela marca (FARIAS; DUSCHITZ; CARVALHO, 2015;PIOTROWICZ, CUTHBERTSON, 2014). Com a constante evolução tecnológica e uma maior facilidade de acesso a informações pelos consumidores, o omni- channel se enquadra nas estratégias necessárias para atender as demandas do mercado no que se refere à satisfação dos consumidores. Nesse sentido, percebe-se uma atuação de novos modelos de negócios que estão se formando ao longo dos anos. Nesse cenário, a tecnologia cumpre um importante papel, pois está em constante evolução para melhor satisfa- ção dos consumidores. Segundo João e Pastore (2019), essa transformação digital tem fundamento na necessidade de ressignificação do papel das lojas tradicionais, do e-commerce e do m-commerce (comércio eletrônico por meio de dispositivos móveis), permitindo que as marcas se adaptem a esse novo cenário e venham a competir em formato inovador. Ademais, o omnichannel pode ser entendido como uma abordagem que vai além da tecnologia e é mais que um mero recurso de vendas e logística; na verdade, trata-se de uma estratégia de negócios que desencadeia experiências entre os consumidores e a marca (JOÃO; PASTORE, 2019; MARQUESI, 2015). Nesse âmbito, são listadas a seguir algumas características do omnichannel, em especial para as marcas varejistas: � jornada de compras aplicada às necessidades do consumidor; � inserção de canais para integrar e envolver o consumidor do início ao fim do processo; � oferta de canais digitais nas lojas físicas, a fim de estender natural- mente os serviços on-line; Definição de omnichannel 3 � segmentação dos consumidores individualmente, não mais em grupos, para que cada indivíduo se envolva em um único canal de preferência; � desenvolvimento e oferta de uma imagem universal, que deve estar disponível em portfólios de produtos e serviços que interajam com o consumidor nos mais diversos canais da marca; � ênfase nos parâmetros dos serviços, para que os consumidores possam interagir em cada canal sem que haja um bloqueio individual; � inserção de serviços complementares aptos a ajudar no fornecimento de bens físicos. Grandes empresas vêm adotando o marketing omnichannel em suas operações. No que diz respeito ao marketing, o omnichannel corresponde à estratégia que a empresa utiliza para se tornar onipresente, ou seja, com uma mesma mensagem unificada presente em diversos canais que se complemen- tam, sem que o consumidor perceba diferenças entre os canais (BRANDÃO, 2020). A princípio, a utilização dessa estratégia deu-se em reação ao crescente avanço do comércio eletrônico. Contudo, na atualidade, com a necessidade de integração entre os canais on-line e off-line, apresenta-se como oportunidade de crescimento do varejo (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2017). O Magazine Luiza, gigante do varejo nacional, teve grande destaque nos últimos anos com adoção do omnichannel. De 2015 e 2019, obteve um crescimento de 241% em suas vendas on-line e de 51% nas suas lojas físicas, além de um aumento considerável em seu valor no mercado de ações. Dentre os mais diversos canais utilizados pela varejista, pode-se destacar o uso de seu aplicativo móvel (com aproximadamente 6 milhões de usuários ativos). O software utilizado pela empresa auxilia os vendedores nas lojas físicas, contribuindo para o conceito adotado pela marca chamado Buy Online, Pickup in Store (compre on-line e retire na loja), ação que diminui o tempo de entrega e exclui o valor do frete, respondendo por 30% das vendas on-line da empresa (ESTRATÉGIA..., 2020). Diante das mudanças tecnológicas, para tornar realidade a experiência de compras do consumidor, deve existir um maior estímulo para utilização da estratégia omnichannel (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2017). Essa estratégia se fortalece gradualmente à medida que os consumidores não percebem as diferenças de interação e integração entre os canais on-line e off-line, ofertando, desse modo, uma experiência excepcional aos consumidores da marca (PEREIRA; PETROLL; FIATES, 2020). Definição de omnichannel 4 Canais onipresentes na jornada do cliente O omnichannel corresponde ao resultado de uma transformação digital que visa impelir uma experiência de compras memorável. Ao utilizar essa estratégia, as empresas permitem aos seus consumidores uma jornada de compras sem impedimentos operacionais, como fila de espera, desencontro de informações, previstos nos sistemas de compras tradicionais (JOÃO; PASTORE, 2019). Essa jornada envolve o consumidor com um acesso facilitado aos produtos de in- teresse, estimulando-o a passar mais tempo envolvido na pesquisa e possível compra, a ser direcionado ao que precisa (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2017). Ao interagir nos multicanais da marca, o consumidor se detém em atributos como design, avaliação dos canais e implantação da multicanalidade com o objetivo de obter uma maior interação com a marca. Desse modo, o processo de gestão da empresa se torna mais integrado, pois o uso da estratégia de multicanais utiliza não apenas o marketing, mas a empresa na sua totalidade. Contudo, para que ocorra uma maior interação com a marca, é preciso que a jornada do cliente seja dinamizada, criando, a partir da percepção evolutiva, um processo de distribuição, interação e integração dos canais, conceituando a estratégia omnichannel (PEREIRA; PETROLL; FIATES, 2020). Por conseguinte, a estratégia omnichannel oferece uma experiência unís- sona para o consumidor, seja on-line ou off-line, em que os produtos ou serviços apresentam preços, descrições e formas de pagamentos que não divergem. Assim, o consumidor obtém a mesma experiência em sua jornada nos diversos canais ofertados pela empresa. Percebe-se, porém, que, à medida que os consumidores se tornam mais conectados, as empresas precisam ofertar meios pelos quais esses clientes possam interagir com a marca sem interrupções (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2017). Ademais, percebe-se que o mercado vive uma realidade em que mídias sociais e dispositivos móveis ganham maior notoriedade e usabilidade na jornada de compras, pois os consumidores podem fazer pesquisas em pla- taformas diversas e comprar onde lhes for mais conveniente. Desde modo, é possível concluir que o varejista omnichannel deve apresentar um geren- ciamento integral de todos os canais e pontos de contato disponibilizados para os consumidores, ofertando interação e integração entre eles de forma contínua (MUNDIM; PETROLL, 2018). A jornada do cliente refere-se ao caminho que o consumidor percorre em busca de um produto ou serviço. A jornada inicia-se na primeira interação com a marca e vai até a compra do produto por diferentes pontos de conta- tos on-line e off-line. Na Figura 1, é destacada essa jornada de compra dos clientes, com os principais pontos de contato. Definição de omnichannel 5 Figura 1. Jornada do cliente. Fonte: Ortega (2020, documento on-line). A cada ponto de contado com o consumidor, pode resultar uma maior interação com a empresa, garantindo mais experiência para o consumidor. A seguir, são listadas e examinadas cada uma dessas etapas. � Consciência e atenção: imagine um cenário em que você precisa trocar seu celular por um aparelho que tenha uma câmera melhor, e na TV aparece um modelo com especificações de acordo com o desejado. Nesse instante, você cogita a possibilidade da trocar o aparelho pela alternativa apresentada. Esse é um exemplo de como o consumidor pode ingressar no processo da jornada de compras. � Investigar, considerar: tomando por base o interesse do consumidor nessa fase, ele pode se perguntar sobre quais alternativas de aparelhos estão disponíveis, para então encontrar soluções para seu problema. Nessa etapa, o consumidor analisa se há ou não a necessidade da compra. Essa busca por informações começa pelas mídias, blogs, etc. � Escolha de compra: essa fase é considerada um ponto crítico, já que o consumidor omnichannel é conectado e tem acesso a diversos canais da marca e dos concorrentes. Uma maior descriçãodo produto, do seu preço e avaliações de outros consumidores auxiliam nessa tomada de decisão do consumidor. � Serviço de retenção: nesse estágio, o consumidor já possui um leque de informações sobre a descrição e o preço do produto escolhido. Agora resta escolher o melhor forma de compra do produto, seja on-line (website, redes sociais, etc.) ou off-line (loja física). Definição de omnichannel6 � Lealdade e retenção: nessa etapa, a empresa não se preocupa em apenas efetivar a venda, mas também em manter o consumidor. Nesse sentido, pode fidelizá-lo estreitando a relação por meio de e-mails promocionais e redes sociais, ofertando melhores opções de entregas e uma boa política de troca, mantendo o cadastro atualizado, etc. Para que a estratégia omnichannel seja executada com eficiência, é ne- cessário alinhar os processos internos e investir em tecnologias de gestão do fluxo de mercadorias, desde o pedido até a entrega ao cliente. Isso inclui fluxo de informações sobre disponibilidade ou não de produtos, se um produto pode ser retirado na loja física ou se haverá necessidade de aguardar chegar em casa (MUNDIM; PETROLL, 2018). A Figura 2 resume os processos internos unificados para melhor atender ao cliente nessa jornada. Figura 2. Estratégia omnichannel. Fonte: Corazza (2020, documento on-line). Contudo, segundo Corazza (2020), dentro da estrutura omnichannel da empresa, é preciso levar em consideração a estrutura de custos. Em tal estru- tura, são enfatizados os pedidos e o estoque. No âmbito dos pedidos, existe uma combinação de canais e recursos ofertados ao consumidor. A loja física oferece a comodidade para ele descobrir a marca, pagar e levar o produto na hora. Nesse contexto, pode obter uma consultoria do vendedor, negociar um pedido, prazo e forma de pagamento. Nesse cenário, precisa ser observada a estrutura de custos agregados a cada modelo de conversão da venda. Por sua vez, o estoque dependerá dos fatores preço e disponibilidade, enquanto o custo dependerá da localização para entrega no ponto de consumo. Definição de omnichannel 7 Projeção do relacionamento entre a empresa e seus consumidores com uso da estratégia omnichannel Num passado recente, era possível perceber a exclusividade de interação dos consumidores com os produtos das marcas apenas em lojas físicas. Nesse contexto, os consumidores manuseavam, experimentavam e obtinham uma satisfação de imediato com tal experiência. Contudo, nos últimos anos houve a proliferação em massa de lojas on-line, que buscam incessantemente conquistar os consumidores ofertando uma grande variedade de produtos, com preços acessíveis e conteúdo que fortalecem suas marcas. Dessa forma, a oferta dos principais pontos de contato da marca, seja em processo de compras, devolução de produtos, uso de cupons, entre ou- tras possibilidades, estimula os consumidores a interagir com as empresas. Para que seja possível tal interação dos varejistas com os consumidores, é necessário o uso das tecnologias. Além disso, na gestão da sua cadeia de suprimentos o estoque deve estar integrado como os serviços e serem con- sumidos em todos os canais de contato da marca (MUNDIM; PETROLL, 2018). Desse modo, a inserção de mais de um canal de atendimento por parte dos varejistas faz-se necessário, visto que, na atualidade, a ênfase recai na integração entre os canais, proporcionando aos consumidores uma jornada com experiência fluída e sem discrepância de informações. Assim, o consu- midor acessará a marca por canais que lhe forem mais convenientes sem que haja perdas. Nesse sentido, é importante enfatizar que habitualmente os consumidores utilizam canais on-line e off-line simultaneamente. Sendo assim, há uma necessidade premente das empresas se adaptarem a essa nova demanda do mercado a fim de compreender o comportamento de compras dos consumidores. Nesse cenário, torna-se importante entender e diversificar os pontos de contato e personalizar a comunicação de tal modo que o consumidor seja influenciado para a decisão de compra (COURT et al., 2009). Assim, mesmo as empresas off-line, que atuam apenas em lojas físicas, consideram a necessidade de ter uma presença on-line. Entretanto, para que as lojas puramente off-line estabeleça a estratégia omnichannel, é preciso ter disciplina para gerir e acompanhar os consumidores nessa nova jornada, buscando compreender suas necessidades e desejos em cada etapa do pro- cesso de compras. Percebe-se que as barreiras no varejo foram superadas com a inserção do omnichannel, a exemplo do gerenciamento dos consumidores entre os canais oferecidos pela marca e o mix de produtos. Ademais, os consumidores têm um Definição de omnichannel 8 maior acesso às marcas, não apenas on-line, mas também em lojas físicas, bem como mais acesso às opiniões formadas sobre a marca por meio de busca na web, o que facilita a tomada de decisão para aquisição de um produto. A estratégia de marketing omnichannel ocorre em um processo con- tínuo e tem recebido notoriedade entre as grandes redes varejistas. Em junho de 2021, a rede de moda feminina Marisa criou a plataforma Sacola de Vantagens, que oferta benefícios exclusivos para usabilidade do aplicativo móvel da marca. O app proporciona aos clientes a inclusão dos produtos da loja por meio do processo de escanear as etiquetas, fazendo os produtos serem automaticamente direcionados ao carrinho de compras. Ao final, o processo é finalizado em um ponto de contato da Marisa. Tal iniciativa representou 3% da receita dos pontos físicos. A previsão é de 5% até o fim do ano de 2021, com uma projeção de crescimento no ticket médio de 34% (VIA..., 2021). O omnichannel envolve estratégias cujo foco principal é o cliente e a oferta de uma experiência incomparável na jornada de compras. Diante do exposto neste capítulo, percebe-se a importância de acompanhar as mudanças no comportamento de compra dos consumidores, em especial com o uso das tecnologias. Nesse sentido, as empresas devem direcionar suas ações para satisfazer as necessidades e desejos dos clientes. Contudo, é importante lembrar que o público-alvo de cada empresa tem suas peculiaridades e, com isso, precisa ser estudada a melhor maneira de interagir com ele. Referências BRANDÃO, B. Você sabe o que é omnichannel no marketing? In: MAPLINK. [S. l.], 2020. Disponível em: https://maplink.global/blog/o-que-e-omnichannel-marketing/. Acesso em: 3 nov. 2021. CORAZZA, P. O que é ser omnichannel? In: PAINEL logístico. Atibaia, 2020. Disponível em: https://www.painellogistico.com.br/o-que-e-ser-omnichannel. Acesso em: 3 nov. 2021. COURT, D. et al. The consumer decision journey. McKinsey Quarterly, 2009. Disponível em: https://www.mckinsey.com/business-functions/marketing-and-sales/our-insights/ the-consumer-decision-journey. Acesso em: 3 nov. 2021. ESTRATÉGIA omnichannel. In: BLOG MYSE SISTEMAS. Toledo, 2020. 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Foco no cliente: por que isso é tão importante para seu negócio. In: STARTSE. São Paulo, 2020. Disponível em: https://www.startse.com/noticia/nova-economia/foco--no-cliente-por-que-isso-e-tao-importante-para-seu-negocio. Acesso em: 3 nov. 2021. PEREIRA, M. L.; PETROLL, M. M.; FIATES, G. G. S. Omnichannel, da ênfase no comporta- mento do consumidor ao impacto organizacional: um levantamento bibliométrico sob a ótica do marketing. Navus: Revista de Gestão e Tecnologia, v. 10, n. 1, p. 11-17, 2020. PIOTROWICZ, W.; CUTHBERTSON, R. Introduction to the special issue information te- chnology in retail: Toward omnichannel retailing. International Journal of Electronic Commerce, v. 18, n. 4, p. 5-16, 2014. VIA amplia opções de troca para compras feitas pelos canais digitais. In: MERCADO & consumo. [S. l.], 2021. Disponível em: https://mercadoeconsumo.com.br/2021/07/08/ via-amplia-opcoes-de-troca-para-compras-feitas-pelos-canais-digitais. Acesso em: 3 nov. 2021. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Definição de omnichannel 10 TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO Cícero Fernandes Marques Transportes internacionais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir transportes internacionais. Identificar o papel das instalações nos transportes internacionais. Descrever o papel das agências e serviços nos transportes internacionais. Introdução Transportar é conduzir algo de um lugar para outro. É a parte da logística responsável pelo deslocamento de cargas e pessoas por diferentes meios. O transporte de cargas é a movimentação de materiais. Isso significa transferir bens, fisicamente e intencionalmente, de um ponto a outro com interesse comercial, desde o local de produção ou armazenamento até o local estabelecido com o comprador. O transporte de materiais está intimamente associado ao comér- cio. Grupos humanos nômades trocavam produtos entre si conforme a necessidade. Desse modo, surgiu o comércio, o escambo, ou troca, de produtos entre pessoas e/ou grupos (LUDOVICO, 2017). A evolução das sociedades humanas, buscando cada vez mais satis- fazer as necessidades por meio de mais e diversos produtos ampliou o processo de troca. Novos recursos que facilitassem as trocas se torna- ram importantes, principalmente pela percepção de que determinados produtos eram mais raros que outros, intuitivamente estabelecendo o conceito de valor (BARAT, 2008). O transporte internacional veio, então, para suprir essa necessidade. O transporte internacional compreende a movimentação de mer- cadorias em que comprador e vendedor se encontram em diferentes países. É regido por um contrato internacionalmente aceito entre as partes, segundo Barat (2008). Neste capítulo, você vai estudar o transporte internacional. Primeira- mente, você vai ler sobre o que é transporte internacional e conhecer sua história. Depois, vai ver a função das instalações nesse tipo de transporte e, por fim, vai conferir como se comportam as agências e os serviços nesse processo. 1 Características dos transportes internacionais As transações de mercadorias por exportações e importações proporcionam desenvolvimento e crescimento econômico. O transporte internacional, neste caso, é o agente de movimentação de mercadorias entre compradores e ven- dedores (SEYOUM, 2014). Passou a ser regulado pela rodada do Uruguai em 1947, quando foram defi nidas regras de tarifas e um acordo geral do comér- cio, o General Agreement on Tariff s and Trade (GATT) — Acordo Geral de Tarifas e Comércio. Em 1994, foi criada a World Trade Organization (WTO) — Organização Mundial do Comércio (OMC) —, com regras de conduta e arbitragem (CÁNOVAS, 2011). Os tipos de transporte, em relação ao espaço de movimentação de cargas entre os pontos de origem e destino, segundo Rojas (2014), dividem-se em local, que ocorre em curta distância, em uma região geográfica pequena ou microrregião; nacional, que ocorre em média e longa distância dentro do território de um país; internacional, que ocorre entre diferentes países. O transporte internacional de cargas depende de acordos entre países para permitir e facilitar o tráfego de veículos e seus ocupantes através de suas fronteiras, conforme Ludovico (2017). Para compreender as características do transporte internacional, vamos estudar a seguir o conceito de transporte aplicado às operações logísticas e seus aspectos mais importantes. Essa base será necessária para compreendermos como funciona a movimentação de mercadorias entre países diferentes. O transporte depende de três elementos para a sua realização: o sujeito do transporte, o meio de transporte e o objeto do transporte. Observe a Figura 1. Transportes internacionais2 Figura 1. Elementos determinantes no transporte. Fonte: Magalhães, Aragão e Yamashita (2014, p. 7). Magalhães, Aragão e Yamashita (2014) reforçam que o sujeito do transporte é aquele que possui alguma necessidade ou desejo, cuja satisfação requer o deslocamento de um objeto qualquer de um lugar para outro. O objeto do transporte tem seu deslocamento necessário para a satisfazer as expectativas do sujeito de transporte, o que será movimentado de um ponto a outro. Por exemplo, uma indústria necessita que insumos sejam levados até sua unidade produtiva para concluir a montagem. Assim, a indústria é o sujeito de transporte, e os insumos e componentes, os objetos. A relação comercial entre o sujeito e o objeto é mediada por outro ente, o meio de transporte. O meio de transporte é o recurso físico que efetivamente desloca o objeto, seja por meio terrestre, aquaviário ou aéreo. A indústria pode ou não ser a responsável pelo transporte, utilizando recursos próprios ou contratando um serviço que colete o produto na fonte e entregue ao cliente. O meio de transporte realiza a efetiva movimentação dos materiais de um lugar para o outro (MAGALHÃES; ARAGÃO; YAMASHITA, 2014). Veja a seguir os meios e contratos para a execução do transporte segundo Goulart e Campos (2018). a) Modal ou unimodal: utilização de um meio de transporte e um único contrato. b) Segmentado: utilização de veículos diferentes de uma ou mais moda- lidades de transporte, com contratos distintos. c) Sucessivo: em um único contrato, com transbordo de mercadoria de um veículo a outro da mesma modalidade. Por exemplo, uma embarcação fluvial transfere a carga para navio. 3Transportes internacionais d) Combinado: elementos de diferentes meios de transporte associados em uma única operação. Por exemplo, reboque de caminhão embarcado em navios com as cargas. e) Intermodal: utilização de vários meios de transporte, com emissão de documentos independentes para cada transportador. Um contrato para cada transportador. f) Multimodal: utilização de vários modais de transporte, com a emissão de um único documento, emitido pelo operador de transporte multi- modal (OTM), responsável pela carga do ponto de partida até o ponto de entrega. Os meios de transporte são também chamados de modais de transporte, por onde um veículo realiza a movimentação de uma carga, Ballou (2006). Pode ser terrestre, aquaviário, aéreo ou dutoviário, cada qual com suas ca- racterísticas, capacidade de carga, velocidade, disponibilidade e custo, como você pode conferir a seguir. Terrestres São os meios de transporte que se deslocam sobre a superfície da terra. Segundo a ANTT, o Brasil possui acordos para transportes terrestres com países do Mercosul e do Cone Sul. Os tipos de transportes terrestres estão dispostos a seguir. Transporte rodoviário Trafega em ruas, estradas e rodovias. Custos fi xos de médio porte (equipamen- tos, rodovias), grande disponibilidade de veículos (caminhões) e fl exibilidade pela disponibilidade de vias para todosos locais. Oferece veículos de diversas dimensões e capacidades, com aplicações para várias atividades específi cas. O volume de carga movimentada é de pequeno a médio porte, velocidade média e custo operacional médio (combustível e manutenção) (DIAS, 2012). Existem diferentes características que determinam os diversos tipos de caminhões a serem escolhidos, como o tipo e o volume da carga, a distância a ser percorrida e os tipos de vias, asfaltadas ou não, planas, montanhosas, áreas urbanas com limitações para o porte dos veículos. A capacidade de carga por tipo de caminhão, segundo a Regulamentação do Contran em vigor, pode ser identificada no Quadro 1. Transportes internacionais4 Fonte: Adaptado de Brasil (2020c). Eixo Rodagem Pneu em cada ponta de eixo Capacidade máxima Simples Simples Um Até 6 toneladas Simples Dupla Dois Até 10 toneladas Duplo tandem (trucado) Dois Dois Até 10 toneladas Duplo não tandem Dois Dois De 9 a 13,5 toneladas Triplo Três Dois De 25,5 a 30 toneladas Quadro 1. Tipos de caminhão Transporte ferroviário O transporte ferroviário é um modal que trafega sobre trilhos. Possui custos fi xos elevados e é indicado para a movimentação de cargas em média e longa distância, com preços baixos, velocidade baixa no Brasil, pouca fl exibilidade, dependendo da possibilidade da via. É um modal que necessita de grandes investimentos para implantação. Recomendado para movimentar cargas completas, composições ou vagões, também no transporte de passageiros, como o metrô (KEEDI, 2020). Os principais produtos que utilizam as ferrovias para exportação no Brasil são minérios, grãos, principalmente soja, cimento, entre outros. A estrutura ferroviária brasileira, em 2017, possuía 30.576 km de ferrovias, 3.688 locomotivas e 102.576 vagões, conforme a anuário estatístico do atual Ministério da Infraestrutura (BRASIL, 2018). Confira os tipos de vagões mais utilizados, conforme Ludovico (2017). Gôndola: vagões com contendores laterais e abertos na parte superior adequados ao transporte de produtos que podem ser expostos ao tempo, como minérios, 47,8% da frota. Hooper: vagões fechados, abastecidos pela parte superior com sistema de descarga por gravidade, utilizado para grãos em geral, 30,6% da frota. 5Transportes internacionais Plataforma ou prancha: vagões abertos, flexíveis, carregados tanto pela parte quanto pelas laterais, usadas para cargas de diversos formatos, containers, bobinas de aço, aços longos e outras, 8,3% da frota. Fechado: vagões fechados com portas laterais, utilizados para cargas fracionadas. Frigorificado se o vagão possuir equipamento de refrige- ração, 7,2% da frota. Tanque: vagões destinados ao transporte de granéis líquidos e gasosos, formato cilíndrico, para combustíveis, produtos químicos, entre outros, 6,1% da frota nacional de vagões. Na Figura 2 são apresentados alguns tipos de vagões utilizados no trans- porte de carga. Figura 2. Tipos de vagões. Fonte: Mascha Tace/Shutterstock.com. Transportes internacionais6 Aquaviários É o meio de transporte que se desloca sobre oceanos, rios e lagos. Depende de infraestrutura portuária, movimenta grandes volumes, tem velocidade baixa e custo operacional baixo. O transporte marítimo pode ser realizado de três formas: cabotagem, por portos da costa brasileira; navegação interior, por hidrovias; navegação de longo curso, marítima entre portos brasileiros e estrangeiros. Os serviços ofertados pelas companhias marítimas podem ser, segundo Ludovico (2017), regular, com rota comercial pré-estabelecida e constante; irregular, caracterizado pela não existência de rotas marítimas regulares; afretamento, no transporte de mercadorias que ocupam todo ou parte de um veículo. Conforme Goulart e Campos (2018), o custo de transporte pelo modal aquaviário é composto por um conjunto de variáveis que influenciam em função das distâncias, volumes, pesos e facilidade de transbordo. Para Ballou (2006), fragilidade da carga, tipo de embalagem, valor da mercadoria e especificidades de manuseio também podem compor o custo do frete. As despesas de frete mais comuns são baseadas no peso (tonelada) ou no volume (cubagem). O armador (proprietário do navio) cobra o que for mais conveniente para ele. Os custos portuários possuem tarifas definidas para cada porto ou país. Os principais tipos de navios para transporte de cargas são os seguintes, segundo Dias (2012). General cargo (navio de carga geral): navios convencionais com porões e pisos destinados à carga seca em geral. Reefer (frigorífico): navio que possui porões frigorificados para trans- porte de cargas perecíveis resfriadas ou congeladas. Opera em diversas temperaturas. Bulk carrier (graneleiros): navios especializados no transporte de carga sólida a granel, como soja, milho, minérios. Ore-bulk-oil: navios mistos para movimentar granéis sólidos e líquidos, em diferentes porões. Self-loading ou unloading: possuem equipamentos para movimentação das cargas, normalmente os navios de carga geral, para não depender dos equipamentos de movimentação de cargas dos portos. Full container: navio especializado no transporte de containers, os porões, ou bays. São divididos em colunas, camadas para localizar cada container embarcado no navio. Há slots destinados a cargas fri- gorificadas, que se localizam próximos a áreas energizadas, onde os containers são instalados. 7Transportes internacionais Roll-on roll-off (Ro-Ro): navio com rampa que permite que veículos ingressem nos porões do navio e sejam transportados ou depositem suas cargas (carrocerias). Este tipo de navio tem duas versões: na Amazô- nia, há balsas carreteiras fluviais tipo Ro-Ro que transportam até 35 semirreboques simultaneamente. No transporte fluvial e lacustre são utilizadas balsas e chatas, principal- mente para movimentação da produção agrícola, conhecidos por flutuantes de baldeação de granel. Movimentam grãos de um porto fluvial para portos marítimos de exportação (RODRIGUES, 2014). Na Figura 3 são apresentados alguns tipos de navios para o transporte de carga. Figura 3. Tipos de navios. Fonte: Studioworkstock/Shutterstock.com. Aéreos É o modal de transporte que movimenta cargas por meio de aeronaves de diferentes portes. Necessita de grandes investimentos, equipamentos, pistas de pouso e decolagem adequadas ao porte das aeronaves. Tem custos operacio- nais elevados, combustíveis especiais, manutenção sofi sticada e profi ssionais qualifi cados para a operação dos aviões (KEEDI, 2020). O transporte aéreo é prestado por serviços regulares de empresas associa- das ou não à International Air Transport Association (IATA) e por serviços fretados independentes. O transporte aéreo internacional é realizado por Transportes internacionais8 serviços regulares ou contratados. Os contratados podem ser exclusivos ou compartilhados. Podem ser utilizadas aeronaves de grande capacidade de carga que operam em pistas curtas, para transporte de equipamentos industriais, ou cargas específicas, frequentes ou eventuais (MAGALHÃES; ARAGÃO; YAMASHITA, 2014). De acordo com Ludovico (2017), o transporte de cargas aéreas é realizado por aeronaves de carga e por aeronaves compartilhadas com pisos exclusivos para passageiros e outros para cargas. Na Figura 4 é possível identificar como os contendores de cargas são fixados nas aeronaves. Figura 4. Compartimento interno de avião de carga. Fonte: Tratong/Shutterstock.com. Dutoviário É o meio de transporte que desloca materiais, líquidos, gases e granéis sólidos por tubulações ou dutos. O uso mais comum é para distribuição de água e coleta de esgoto nos domicílios. Utilizado também por oleodutos e gasodutos. É um modal com pequena fl exibilidade, custo de instalação elevado, custo operacional baixo, conforme Bowersox et al. (2014). A Figura 5 apresenta a construção de um gasoduto. 9Transportes internacionais Figura 5. Construção de gasoduto.Fonte: Celil Kirnapci/Shutterstock.com. Os diferentes meios de transporte estão em permanente evolução integrando novas tecnologias e recursos, visando obter maior eficiência e movimentar mais cargas em menor tempo e custo. As principais características que devem ser identificadas, medidas e ava- liadas na seleção dos meios de transporte, segundo Novack et al. (2019), estão descritas a seguir. Velocidade: tempo de deslocamento do ponto de origem ao ponto de destino. Disponibilidade: facilidade e acessibilidade do uso do meio de transporte. Confiabilidade: grau de certeza que a carga chegará íntegra e nos prazos determinados. Capacidade: dimensões dos volumes e pesos das cargas que um veículo de um meio de transporte tem condições de movimentar. Frequência: programação dos veículos do meio de transporte estabe- lecida para os diversos locais em determinada rota. O Quadro 2 apresenta uma comparação das principais características entre os diversos meios de transporte (BOWERSOX et al., 2014). Transportes internacionais10 Fo nt e: A da pt ad o de B al lo u (2 00 6) . C ar ac te rí st ic as in te rn ac io n ai s R o d o vi ár io Fe rr o vi ár io A q u av iá ri o A ér eo D u to vi ár io Ve lo ci da de 2 3 4 1 5 D is p on ib ili da de 1 2 4 3 5 Co nf ia bi lid ad e 2 2 4 5 1 C ap ac id ad e 3 2 1 4 5 Fr eq uê nc ia 2 4 5 3 1 R es u lt ad o 10 14 18 16 17 Pe rd as e d an os 4 5 2 1 3 R es u lt ad o g er al 14 19 20 17 20 Pr eç o em U S$ 26 ,19 2, 28 0, 74 61 ,2 0 1, 46 Q u ad ro 2 . C om pa ra çã o do s m od ai s de tr an sp or te 11Transportes internacionais A somatória apresentada no quadro é uma comparação geral entre os modais. O mais eficiente para aquela característica tem 1 ponto, e o menos eficiente tem 5 pontos. Para decidir o modal de transporte a ser adotado é necessário identificar o tipo e o volume da carga a ser transportada, o valor da carga, se é ou não perecível e a disponibilidade dos recursos para uso dos modais. A decisão deve considerar o meio de transporte e os indicadores de avaliação, ponderar o perfil da carga, os fluxos de informação e a documentação necessária para a remessa, além da economia de escala ofertada pelo modal: volume, varia- bilidade, velocidade e tempo em trânsito. As cargas também passam por uma classificação. O conceito de cargas, segundo Rojas (2014), refere-se às características físicas dos materiais e merca- dorias, que influenciam nas embalagens de acondicionamento e armazenagem e na escolha dos meios de transporte e equipamentos a serem utilizados. A seguir estão os principais tipos de cargas internacionais, segundo Goulart e Campos (2018). Carga geral: carga identificada, com contagem de unidades. Pode estar solta, como caixas, pacotes, fardos e outros, ou unitizada, como containers ou outras formas de contendores. Carga a granel: podem ser líquidas ou sólidas (secas), sem acondicio- namento e identificação e sem contagem de unidades, como petróleo e derivados, grãos (trio, soja), farelo e minérios. Carga frigorificada: pode ser refrigerada ou congelada, garantindo a conservação das características e propriedades dos produtos (frutas, carnes, pescados, medicamentos e outros). Carga perigosa: podem ser perigosas para a tripulação e outras cargas, podendo provocar acidentes e explosões, no caso de combustíveis, produtos inflamáveis, explosivos entre outros. Neo-granel: são grupos homogêneos de mercadorias de carga geral, sem acondicionamento específico, com volume ou quantidade para transporte em lotes ou envio único, como veículos. Unitização, ou carga unitária, segundo Dias (2012), é uma carga consti- tuída de embalagens de transporte, arranjadas ou acondicionadas para possi- bilitar seu manuseio, transporte e armazenagem por meios mecânicos, como uma unidade. Os primeiros contendores de produtos conhecidos são as pipas ou barricas de madeira, usadas para armazenar líquidos e granéis sólidos, semelhantes às Transportes internacionais12 utilizadas para o envelhecimento de vinhos. Incluem tambores metálicos ou plásticos de 100 e 200 litros, utilizados no armazenamento e no transporte de combustíveis, tintas e outros materiais. Produtos e cargas em geral devem ser embalados com o objetivo de manter a integridade e facilitar as movimentações, segundo Bowersox et al. (2014). Caixas menores são agrupadas em uma carga única, formando um só volume para manuseio e transporte. Os principais benefícios são aumento da eficiência geral da movimentação, redução de avarias no manuseio e no trânsito, redução de furtos e maior proteção contra fatores climáticos, além de serem reutilizáveis, reduzindo desperdícios e descartes. A base dos processos de unitização são as caixas padronizadas, os paletes e os containers. As caixas são agrupadas em paletes para facilitar o armaze- namento, a movimentação interna e a estufagem (enchimento) dos containers. Veja a seguir os principais equipamentos unitizadores. Palete É uma plataforma ou estrado em madeira (mas também em outros materiais, como o plástico), facilita o transporte e o manuseio de mercadorias por em- pilhadeiras e outros sistemas de movimentação, conforme Moura (2006). Podem ser de uma ou duas faces ou lados, superiores e inferiores, e podem ter duas ou quatro entradas. Podem, portanto, ser movimentados por dois ou quatro lados (ROJAS, 2014). Há diversos padrões de paletes, como o GMA, de Associação da Indústria de alimentos dos Estados Unidos, nas dimensões de 101,6 cm × 121,9 cm e o europeu, com 80 cm × 120 cm, entre outros. Veja alguns exemplos na Figura 6. 13Transportes internacionais Figura 6. Tipos de paletes. Fonte: Colorcocktail/Shutterstock.com. No Brasil, o padrão mais utilizados é o PBR, definido com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), com a dimensão de 120 cm × 100 cm. Na realização de operações de comércio internacional, cuja movimentação necessite do uso de paletes, é importante identificar junto ao comprador o tipo de palete que ele deseja. Os paletes que movimentam alimentos devem ter tratamento especial de pintura e desinfecção antes de os produtos serem acondicionados para armazenagem e movimentação. Transportes internacionais14 Container Segundo Ballou (2006) são grandes caixas de aço para estocagem e transporte de produtos à prova d’água e arrombamentos, de forma unitizada. Estocados em ambientes abertos, os tamanhos mais usuais são de 20 e 40 pés de comprimento (pouco mais de 6 e 12 metros respectivamente). Agilizam a movimentação do mesmo modal ou com outros meios de transporte como um caminhão ou vagão plataforma. Favorece o compartilhamento de cargas para os mesmos destinos ou pró- ximos, quando do envio de cargas fracionadas, otimizando espaços e custos, segundo Novack et al. (2019). Os containers foram regulamentados em 1963 pela International Maritime Organization (IMO), Convenção Internacional para Segurança de Contêineres (CSC). A agência da ONU regulamentou as normas das operações com con- tainers, objetivando maior nível de segurança no transporte de containers. O Brasil é membro e signatário da IMO. Todo container utilizado em rotas internacionais deve ter uma placa CSC de aprovação de segurança, válida conforme acordo da CSC de 1972. A padro- nização é definida pela International Organization for Standardization (ISO) e pela American Standard Association (ASA) (GOULART; CAMPOS, 2018). No Brasil, as normas da ISO são implementadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) pela NBR ISSO 6346, de 2002. Os tipos mais usuais de containers, dentro das normas CSC IMO para 20 e 40 pés são apresentados no Quadro 3. 15Transportes internacionais Fo nt e: A da pt ad o de C on ta in er O w ne rs A ss oc ia tio n (2 01 5) . D im en sõ es 20 p és 4 0 p és 4 0 p és H C Ex tern a (e m m ) C o m p ri m en to 6. 05 8 12 .19 2 12 .19 2 La rg u ra 2. 43 8 2. 43 8 2. 43 8 A lt u ra 2. 59 1 2. 59 1 2. 89 6 In te rn a (e m m ) C o m p ri m en to 5. 90 0 12 .0 33 12 .0 33 La rg u ra 2. 35 2 2. 35 2 2. 35 2 A lt u ra 2. 38 6 2. 38 6 2. 69 4 Po rt as (e m m ) La rg u ra 2. 34 0 2. 34 0 2. 34 0 A lt u ra 2. 28 0 2. 27 5 2. 27 5 C ap ac id ad e cú b ic a (e m m ³) 33 67 .6 0 76 .3 0 Pe so m áx im o Ta ra 2. 23 0 3. 72 0 3. 90 0 C ar g a m áx im a 28 .2 50 28 .7 50 28 .6 00 To ta l ( em k g) 30 .4 80 32 .5 00 32 .5 00 Q u ad ro 3 . D im en sõ es d os c on ta in er s Transportes internacionais16 Confira a seguir os principais tipos de containers utilizados que atendem às normas internacionais, segundo Ludovico (2017) (Figura 7). Dry ou standard (cargas secas): o mais utilizado em todo o mundo, é totalmente fechado e possui em uma das extremidades portas que se abrem para o lado exterior. Utilizado para cargas secas em geral, como roupas, calçados, móveis, eletroeletrônicos, entre outros. High cube (maior cubagem): semelhante ao container dry, um pouco mais alto, destinado a cargas maiores e mais leves. Reefer (refrigerado): estrutura semelhante ao dry, com equipamento de refrigeração para acondicionar produtos perecíveis, resfriados e congelados que necessitem ser mantidos em temperatura estável ao longo do transporte. Esses containers possuem tomadas elétricas para serem acopladas nos navios e outros meios de transporte. Open top (abertura superior): estrutura semelhante ao dry, com aber- tura superior em tecido e teto metálico destacável ou painel hatch removível. Utilizado para inserir equipamentos pesados ou de grandes volumes pela parte superior com o auxílio de guindastes. Tank (tanque): destinado para acondicionar líquidos em geral, gases a granel e líquidos perigosos, dentro das normas estabelecidas no co- mércio internacional. Flat rack: pranchas com paredes frontais e traseiras para carregamento de cargas pelas laterais ou por cima. Destinado ao transporte de equi- pamentos, tratores e outros produtos com grandes dimensões. Containers aéreos: possui o formato das laterais da fuselagem dos aviões para ocupar todos os espaços possíveis, normalmente dimensionados de acordo com o porte da aeronave que será utilizado. 17Transportes internacionais Figura 7. Tipos de containers. Fonte: ledokolua/Shutterstock.com. Termos Internacionais de Comércio Os Termos Internacionais de Comércio (Incoterms, do inglês International Commercial Terms) são regras que têm como objetivo defi nir a responsabilidade dos compradores e vendedores na movimentação e na entrega do produto, conforme o contrato de venda. São termos que determinam os custos e riscos das partes (KEEDI, 2020). As regras do Incoterms foram publicadas pela primeira vez em 1936, para regulamentar os transportes por vias marítimas e terrestres. Em 1976 foram aplicados ao transporte aéreo. Os Incoterms definem os direitos e as obrigações do exportador e do importador, em contrato de compra e venda internacional, estabelecendo um Transportes internacionais18 conjunto padrão de definições e determinando regras e práticas neutras. O exportador deve entregar a mercadoria, é quem paga o frete e o responsável pela contratação do seguro (CÁNOVAS, 2011). Os Incoterms auxiliam importadores, exportadores, transportadores e seguradoras com o padrão global para a interpretação dos termos mais comuns em comércio internacional, aprovados pela Comissão das Nações Unidas para o Direito Internacional do Comércio (UNCITRAL), órgão jurídico do sistema das Nações Unidas no direito internacional do comércio. Os Incoterms não impõem, mas propõem o entendimento entre as responsabilidades e deveres do vendedor e do comprador quanto às tarefas necessárias para deslocamento da mercadoria do local onde é elaborada até o local de destino final (LUDO- VICO, 2017). Segundo a Câmara Internacional de Comércio (ICC), a estrutura do Inco- terms 2020 é composta por grupos, onde cada grupo tem uma estrutura central das responsabilidades (INTERNATIONAL CHAMBER OF COMMERCE, 2020), descritas a seguir por Keedi (2020). Grupo C: o vendedor se obriga a contratar o transporte dos produtos sem assumir riscos de perda, extravio ou dano, nem despesas adicionais decorrentes de fatos ocorridos após o embarque. Grupo D: o vendedor se obriga a arcar com todos os custos e riscos inerentes ao transporte e à entrega dos produtos ao local de destino Grupo E: os produtos são disponibilizados ao comprador na fábrica ou nas instalações do vendedor. Grupo F: o vendedor se obriga a entregar os produtos ao transportador contratado ou indicado pelo comprador. Para garantir riscos, danos e perdas, pode contratar e custear seguros locais e internacionais. Conhecer os Incoterms é importante para a definição dos custos finais de uma venda ou compra. As empresas que possuem maior relacionamento e capacidade de negociação com prestadores de serviço de transporte, despacho aduaneiro e carga e descarga poderão ofertar custos finais mais competitivos que seus concorrentes e disputar novos mercados, quando o comprador tem menor experiência em transações internacionais. O mesmo pode ocorrer ao contrário, quando o vendedor tem menos conhecimento e experiência em comércio exterior que o comprador. Veja a seguir os termos e regras do Incoterms para serem utilizados nos contratos de compra e venda. 19Transportes internacionais EXW (livre na origem) Dispor no local de entrega. Responsabilidades, riscos e custos são por parte do importador. A mercadoria fi ca à disposição em local combinado. Transporte, seguros internos nos países de origem e destino, trâmites alfandegários, frete e seguro internacional são por conta do comprador. Aplicável a todos os modais de transporte. FCA (livre no transportador) Inserir no local de entrega. O exportador disponibiliza a carga ao transpor- tador ou a quem o importador indicar, à disposição para ser descarregada no local designado (armazém ou outro). O vendedor assume os riscos e custos de extravio e avaria até a entrega da mercadoria. Cabe ao exportador contratar e custear o seguro. É de responsabilidade e risco do importador contratar e custear transporte. Os trâmites alfandegários e custos são de responsabilidade do vendedor, além de prestar assistência ao comprador, que providencia e custeia o processo de importação. Aplicável a todos os modais de transporte (multimodal). FAS (livre ao lado do navio) Dispor no porto de embarque nomeado. A responsabilidade do vendedor se encerra quando a carga for colocada ao lado da embarcação designada pelo comprador, assim como os custos aduaneiros de exportação. A responsabilidade e o risco do importador se iniciam a partir da entrega da mercadoria no local determinado. A contratação e o custeio do transporte são de responsabilidade do comprador, assim como a contratação e o custeio do seguro. Os trâmites aduaneiros de exportação são de responsabilidade do vendedor. Aplicável exclusivamente ao modal aquaviário. FOB (livre a bordo) Ponto de embarque nomeado. O vendedor entrega a mercadoria a bordo do navio e no porto de embarque indicado pelo comprador. O custeio de carregamento é do vendedor. O comprador assume os riscos, custeio do transporte e seguro a partir do ingresso no navio. Cabe, ao exportador, providenciar e custear a exportação e, ao comprador, os custos de desembaraço da importação e portos intermediários. Apenas para o modal aquaviário. Transportes internacionais20 CPT (transporte pago até — local de destino nomeado) São de responsabilidade do vendedor os custos de transporte até a entrega da carga no local determinado no país de destino, custo do frete e do carre- gamento da carga até o local de destino nomeado pelo comprador. Orisco é transferido do exportador ao importador quando da entrega da carga ao transportador, cabendo ao comprador arcar com o seguro internacional. Os trâmites alfandegários de exportação são por conta do vendedor, e os trâmites e direitos alfandegários na importação e passagem por países terceiros são por conta do comprador. É aplicável a todos os modais de transporte (multimodal). CIP (transporte e seguros pagos até — local do destino) São de responsabilidade do vendedor os custos de transporte internacional até a entrega no local combinado de destino no exterior. O seguro é de responsa- bilidade do vendedor até a entrega ao transportador. A partir deste ponto, os custos são de responsabilidade e risco do comprador, assim como os custos alfandegários referentes e trâmites da importação e na passagem por países terceiros. Os custos alfandegários da exportação são por conta do vendedor. Aplicável a todos os modais de transporte (multimodal). CFR (custo e frete) Porto de destino determinado. O vendedor é responsável pela entrega da mer- cadoria a bordo da embarcação do transportador indicado pelo comprador, no porto de embarque, pelos custos de frete até o porto de destino. O risco será de responsabilidade do comprador a partir do embarque da carga. Os custos aduaneiros da exportação são de responsabilidade do vendedor. O comprador providencia e custeia a importação. Aplicável apenas ao modal aquaviário. CIF (custo, seguro e frete) No porto de destino determinado. O vendedor é responsável em colocar a carga a bordo do transportador indicado pelo comprador, assumindo os custos de frete até o ponto no porto determinado. O risco de extravio ou avaria da carga até o embarque no porto de origem é de responsabilidade do vendedor. A partir deste momento, a responsabilidade passa a ser do comprador. O seguro e os trâmites aduaneiros são de responsabilidade do vendedor, e o comprador como 21Transportes internacionais benefi ciário. As obrigações na importação e no trânsito em países terceiros serão por conta do comprador. Aplicável apenas ao modal aquaviário. DAP (entrega no local) Local de destino determinado. A responsabilidade dos riscos e custos de en- trega no local determinado pelo comprador, pronta para o desembarque, é do vendedor. O vendedor é responsável pelo risco, mas não é obrigado a contratar seguro da carga. Os trâmites alfandegários na exportação serão por conta do vendedor, e os trâmites de importação e/ou passagem por países terceiros serão do comprador. Aplicável a todos os modais de transporte (multimodal). DPU (entrega no local desembarcado) Entrega desembarcada no local desembarcado (local de destino determinado). São de responsabilidade do vendedor os custos de transporte e risco até a conclusão das operações de descarga no local determinado pelo comprador. Os trâmites alfandegários na exportação são de responsabilidade do vendedor. Os custos de importação e passagem por países terceiros serão de responsabi- lidade do comprador. Aplicável a todos os modais de transporte (multimodal). DPP (entrega com direitos pagos) No local de destino determinado. O vendedor é responsável pelos custos da entrega da carga no local de destino determinado, no meio de transporte, pronta para desembarque. Os trâmites alfandegários na exportação, na importação e no trânsito por outros países são do vendedor. Aplicável a todos os modais de transporte (multimodal). 2 Instalações nos transportes internacionais Para realizar os transportes de carga, são necessárias diversas instalações, muitas delas exclusivas para cada tipo de modal, conforme Ludovico (2017). As instalações incluem pátios de manobras e estacionamentos para cami- nhões, docas ou locais específi cos para a carga e descarga de mercadorias, espaços físicos e instalações específi cas para armazenagem de cargas para a espera dos veículos de transporte, que exigem grandes investimentos, além de equipamentos para movimentação de cargas, pessoal treinado e um conjunto Transportes internacionais22 de prestadores de serviços e órgãos governamentais para a efetivação dos despachos aduaneiros. Para cada tipo de modal e de cargas, há necessidades diferentes em relação à infraestrutura para executar com eficiência essas atividades. A seguir serão apresentadas as principais instalações para a plena operação dos modais de transporte. Instalações do transporte terrestre Veja a seguir o papel das instalações do transporte terrestre. Rodoviário As principais características das unidades de apoio e operação do transporte rodoviário, conforme Ballou (2006) e Bowersox et al. (2014) estão descritas a seguir. Observar as condições das rodovias a serem utilizadas na região: limites de velocidade, velocidade média praticada pela companhia transpor- tadora, o tipo de pavimentação e conservação, restrições, limites de velocidade, disponibilidade de postos de combustível, alimentação, hospedagem e manutenção nos trechos, convênios com os prestadores de serviço. Devem ser observadas as regulamentações, os equipamentos e os re- cursos exigidos em relação aos veículos e às cargas, para assegurar o trânsito nos países em que irá circular. As unidades de apoio e depósitos operacionais devem ter vias de acesso, que permitam livre circulação de veículos de carga, de diversos portes, sem restrições de acesso e de horários, questão que está se tornando crítica nos grandes centros urbanos. Os depósitos e unidades de apoio devem ter docas, espaços com equi- pamentos ajustáveis para a movimentação das cargas a partir dos ca- minhões com as transpaleteiras, os berços, plataformas em formato de “U”, onde o caminhão estaciona e pode ser abastecido pelas laterais, mais ágil à movimentação de carga e descarga. As áreas de embarque e desembarque devem ser interligadas a depósitos para realizar operações de break-bulk (volumes individuais). Os fabri- cantes destinam grandes volumes de diversos produtos e são separados, 23Transportes internacionais embalados e despachados conforme determinado pela indústria. Há fracionamento de cargas. Área para operações de cross-docking consistem no descarregamento das cargas dos veículos que chegam e são separadas para posterior agrupamento e consolidação no redirecionamento para destinos comuns. As movimentações internas nos depósitos devem utilizar equipamen- tos adequados para agilizar e melhor operacionalizar as atividades logísticas. As instalações dos depósitos devem ter estruturas adequadas à movimen- tação das cargas, em função de suas características e especificidades, se serão movimentadas de forma unitizadas, por caixas e paletes, ou com itens com dimensões específicas ou cargas fracionadas de diversos tamanhos. Usar tecnologia e metodologia de posicionamento, movimentação e localização das cargas e os sistemas de movimentação interna e sepa- ração das cargas. Para a movimentação de alimentos, secos e congelados, manter registro e controle dos estoques, na correta armazenagem e manuseio, geren- ciamento da validade dos produtos e controles específicos e outras medidas fitossanitárias necessárias. Definir regras para a movimentação, controle e armazenagem para cargas de elevado valor agregado, cargas perigosas e outras. Especificar rotinas para a gestão de riscos, prevenindo e definindo ações quando ocorrer acidentes, quebras, avarias, furtos e outros com cargas, pessoas, instalações e veículos e acionamento das autoridades no atendimento a emergências, de segurança e companhias de seguros. Identificar se os veículos são adequados para movimentar as cargas, proteção climática, contra furtos, condições de rastreamento, manuten- ção preventiva e veículos para pronta substituição em caso de avaria ou necessidade de manutenção corretiva e um calendário de manutenções preventivas, conforme pode ser observado na Figura 8. Transportes internacionais24 Figura 8. Movimentação de cargas emdepósito. Fonte: Adaptada de Macrovector/Shutterstock.com. Na Figura 8, há um conjunto de atividades logísticas no armazenamento, movimentação e manuseio cross-docking, produtos não unitizados, cargas fracionadas, separação dos pedidos, conferência e consolidação. Ferroviário As características das unidades de apoio e operação do transporte ferroviário, conforme relatório da ANTT (BRASIL, 2020a) estão relacionadas a seguir. A estrutura ferroviária de transporte, as características gerais das vias, dimensão da bitola (distância entre os trilhos), a velocidade média praticada, entre outras. Disponibilidade de vagões compatíveis com os produtos transporta- dos, com adequação para descarregamento preferencial por gravidade diretamente em esteiras. Locomotivas com capacidade de deslocamento e tracionamento, con- forme o trecho a ser percorrido. Oferecer estrutura adequada para trocas intermodais para cada tipo de material, como equipamentos, áreas cobertas e descobertas. Pátio de manobras que permita uma ágil movimentação, descarga e carga de materiais, sincronizados com a montagem de novos comboios. Os principais produtos transportados por ferrovia no Brasil são soja, milho, farelo de soja, óleo vegetal, celulose, minério de ferro, manganês, ferro gusa, bobinas de aço, basicamente produtos a granel e destinados à exportação. 25Transportes internacionais De acordo com Ballou (2006), a ferrovia é um meio de transporte de médio curso e movimentador lento de matérias-primas e manufaturados de baixo valor. Importante ressaltar que com, as novas tecnologias, materiais e processos surgem novas estruturas e modelos de movimentação de cargas que buscam ser cada vez mais eficientes, velozes e reduzir perdas. Transporte aquaviário A legislação referente às estruturas portuárias citam que é de competência da União a exploração dos portos marítimos, lacustres e fl uviais, conforme dispõe o art. 21 da Constituição Federal brasileira de 1988 (BRASIL, 1988). Cabe ao poder público federal a exploração da atividade portuária que permitia apenas locação ou arrendamento das instalações portuárias à iniciativa privada, concedida por meio de licitação pública. Os terminais marítimos e fl uviais são autorizados por meio de processo licitatório, com total responsabilidade do concedido, desde a construção até a operação, observando a legislação vigente, principalmente a ambiental. Transporte marítimo Em geral, é internacional ou para grandes distâncias, com exceção do transporte por cabotagem (ponto em porto ao longo da costa). As principais instalações são compostas por armazéns gerais, pátios para movimentação de veículos, equipamentos específi cos para a movimentação das cargas, sejam granéis líquidos ou sólidos, cargas gerais ou containers, segundo Novack et al. (2019). Transporte fluvial e lacustre Assim como o marítimo, tem como instalações estruturas em função da vocação ou dos principais produtos movimentados e os meios pelos quais chegam ao terminal. Há portos exportadores de minérios, como o de Tubarão, no Espírito Santo, onde quase a totalidade das cargas são granel e chegam pela ferrovia Vitória-Minas, conforme Goulart e Campos (2018). Há portos que possuem terminais especializados, alguns para cargas gerais, movimentando caixas e todo tipo de carga, outros graneleiros para cereais, com pátio para caminhões, tombadores, trens, correias transportadoras, e shiploaders, equipamentos utilizados para carregar continuamente navios com grande capacidade, e outros especializados na movimentação de líquidos, como petróleo e seus derivados, com dutos entre um tanque e os navios. Transportes internacionais26 Os portos fluviais também possuem instalações para cargas específicas, como grãos, cereais e outros, em função da produção local e a capacidade do rio onde está instalado. Um elemento crítico são os berços, estrutura para atracar as embarcações no cais, a profundidade do canal por onde os navios trafegam. Nos rios, a profundidade pode se alterar significativamente entre os períodos de cheia e de baixa. Utilizar cais flutuantes facilitam o acesso às embarcações. Segundo Goulart e Campos (2018), as instalações portuárias possuem uma retroárea, ou terminal retroportuário, espaços onde as operações e locais de armazenagem garantem o abastecimento dos navios, como armazéns, silos, tanques, pátios de containers, pátios de veículos e outros. Transporte aéreo As instalações para transporte aéreo são relativas a pistas de pouso e decola- gem, áreas de estacionamento de aeronaves, equipamentos de monitoramento e controle de voos e climáticos, que determinam o porte das aeronaves que poderão ser utilizadas no terminal. Em geral, as cargas aéreas são fracionadas e há movimentação em con- tainers aéreos, em caixas e outros contendores e isoladas, conforme Novack et al. (2019). Os terminais internacionais devem possuir área alfandegada para agilizar as operações, assim como armazéns gerais ou específicos. Há equipamentos para movimentação das cargas, como esteiras circulantes, plataformas de elevação de carga, tratores e vagões nos pátios e outros para movimentação de cargas específicas. Transporte dutoviário As dutovias necessitam de grande planejamento e investimento, requisição de autorizações para a operação, uso do subsolo dos proprietários das terras por onde irá passar, grandes investimentos para a instalação dos tubos, isolamento e impermeabilização com o meio externo (BALLOU, 2006). No caso de líquidos e nas áreas de grande declive, são necessários pontos de retenção. No caso de líquidos em aclives, são necessárias bombas de elevação ou recalque. É uma modalidade de transporte específica, de elevado custo de instalação e necessita permanente monitoramento e controle, pois pode sofrer avarias com movimentação do solo e outras circunstâncias que possam interferir na plena operação. O transporte é contínuo e de baixo custo. As instalações possuem 27Transportes internacionais grande influência no desempenho dos modais de transporte. São elas que possibilitam ampliar ou limitam a capacidade de movimentação das cargas. O Guia de comércio exterior e investimento disponibiliza informações para auxiliar os processos de exportação e importação, as câmaras de comércio bilateral, entre outros. São informações prestadas por vários ministérios do governo federal. O documento está disponível no site do Invest & Export Brasil. 3 Agências e serviços nos transportes internacionais O transporte internacional é uma operação que movimenta produtos contra- tados entre organizações de diferentes países, com distintas legislações, e devem respeitar acordos e regras de organismos internacionais de mediação, conforme Novack et al. (2019). Assim como qualquer transação de compra e venda, as transações no comércio internacional devem seguir um conjunto de regras e procedimentos, principalmente porque os países têm diferentes regras sobre operações comerciais e tributárias. Nas transações internacionais, o ritual inicia com um contrato de compra e venda. São fixados detalhes, como quem será o responsável pelo transporte, os meios de transporte que serão contratados, se será necessário um único ou diversos fornecedores, se a carga será ou não consolidada, contratação de serviços de armazenagem, movimentação de carga e descarga, entre outros (KEEDI, 2017). Com essas informações, emitem-se informações sobre a transação e todos os detalhes, como também os valores do contrato, a moeda em que será realizada a transação, forma de pagamento ou garantia por meio de cartas de crédito, se haverá ou não a contratação de seguros e pelos desembaraços aduaneiros no país de origem e destino, se há passagem por países terceiros para realizar a operação, emissão de outros documentos para que a operação seja registrada nos órgãos responsáveis e, se necessário, a obtenção de licenças, autorizações ou permissões especiais para acarga a ser transportada. Transportes internacionais28 Para a execução do transporte são necessárias contratações de diversas agências e prestadores de serviços de apoio para garantir que o transporte atenda aos requisitos pactuados entre o vendedor e o comprador. As principais agências têm atividade interagem com serviços e operações referentes ao transporte internacional, segundo a Receita Federal (BRASIL, 2020b). A emissão de LCPO (licenças, permissões, certificados e outros docu- mentos necessários para a tramitação dos processos de despacho aduaneiro) é realizada por órgãos específicos. Cada modal de transporte possui uma agência reguladora específica, como você pode observar a seguir. Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Infraero Aeroportos: operadora portuária pública de terminais aeroviários. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): presente em todo o território nacional por meio das coordenações de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados. Tem por finalidade promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados. Receita Federal: responsável pela administração dos tributos de com- petência da União e os incidentes sobre o comércio exterior. Previne e combate a sonegação fiscal, o contrabando, o descaminho, a pirataria, a fraude comercial, o tráfico de drogas e de animais em extinção e outros atos ilícitos relacionados ao comércio internacional. Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX): gerenciado pela Receita Federal, operacionaliza as atividades de registro, acom- panhamento e controle das operações de comércio exterior, por meio de um fluxo único, computadorizado, de informações. Possui área de treinamento e simulador de operações, como a habilitação de radar, que é um ambiente de registro e rastreamento de atuação dos intervenientes aduaneiros, um cadastro prévio para exportadores e operadores de comércio exterior. Aduana (alfândega): analisa a documentação referente às cargas a serem exportadas e importadas. 29Transportes internacionais A seguir, estão os principais prestadores de serviços no transporte inter- nacional, conforme a ANTAQ (BRASIL, 2017). Entreposto aduaneiro: depósito de mercadorias, importadas ou a ex- portar, com suspensão do pagamento de tributos e sob controle fiscal. O regime tem como base operacional unidade de entreposto de uso público ou uso privado, onde as mercadorias serão armazenadas. Operadores logísticos: empresas que realizam as operações totais ou parciais, desde a coleta no ponto de origem, transbordo entre modais, se houver, à colocação do produto junto a um operador portuário de qualquer modal, principalmente o marítimo e o aéreo. Operadores portuários: oferecem diversos serviços logísticos, como descarga, movimentação, armazenagem e embarque das cargas no modal contratado, dentro do cais dos portos. Transportador: agente emissor do conhecimento da carga. Armador: é o proprietário do navio de transporte de cargas que equipa, mantém e explora comercialmente as embarcações mercantis. Agência de movimentação marítima (shipping agency): representante do armador para estabelecer a relação com o usuário do navio. O agente pode ser único, realiza todos os trabalhos necessários ao atendimento ou agente comercial ou operacional. As atividades são para angariar cargas para espaços disponíveis no navio, controlar as operações de carga e descarga. Emite e assina o Conhecimento Marítimo em nome do armador. Agente de carga: empresa ou pessoa que presta serviços de agenciamento de cargas aéreas, marítimas, rodoviárias e ferroviárias, nacionais e/ou internacionais. Operador de transporte multimodal (OTM): operadoras de transporte com atuação em diversos modais ou que subcontratam prestadores terceiros sob sua responsabilidade, para o transporte com mais de um modal com um único contrato, associando as operações de transbordo e carga e descarga. Conferente de carga: realiza a contagem de volumes, anotação de suas características, procedência e destino, verificação do estado das mer- cadorias, assistência à pesagem, conferência do manifesto e demais serviços correlatos, nas operações de carregamento e descarga de embarcações. Transportes internacionais30 Há outras forma e tipos de operadores que prestam serviços de transporte de cargas de pequeno porte, como o Programa Exporta Fácil. O exportador acessa o site dos Correios, preenche os dados na pré-postagem internacional e se dirige a uma agência dos correios com encomenda, nota fiscal, fatura comercial, dados do destinatário, preenche um formulário de postagem e realiza a postagem e envio. O transporte internacional terá papel cada vez mais relevante no comércio internacional, que, por sua vez, será cada vez mais intensificado pela abertura de novos mercados, desenvolvimento de novos produtos. Os processos de internacionalização tendem a se tornar mais amplos, assim como mais países irão ingressar nas operações de compra e venda, gerando oportunidades e surgimento de novas alternativas de movimentação de cargas que ampliem a capacidade competitiva das organizações. A Kro Kró Alimentos, indústria de biscoitos especiais, situada em Goiás, para a expansão do negócio, decidiu exportar seus produtos para alguns países europeus que se identificam com o biscoito, de tipo amanteigado e embalado em latas. Foi pesquisada, na Espanha, a legislação do mercado comum europeu referente a alimentos, além de ter sido feita uma breve pesquisa de mercado. Conseguiram uma oportunidade para comercializar seu produto em uma grande rede de supermercados, de forma experimental, por 90 dias. Iniciaram o processo para habilitar a Kro Kró como exportadora na Receita Federal, prepararam novas embalagens nas normas da Europa, aprovada pela rede de supermercados. Após diversas análises, optaram pelos modais rodoviário e aéreo. O rodoviário movimentaria a carga até o aeroporto de Viracopos em Campinas. O aéreo movimen- taria de Campinas até Madrid. Do aeroporto até o centro de distribuição da rede de supermercados, seria utilizado novamente o rodoviário. A negociação foi realizada pelos Incoterms 2020 DDP Delivery Duty Place, ou seja, todos os custos de transporte, carregamento, descarregamento e alfandegários seriam por conta da Kro Kró, pois foi entendido como investimento para ingressar com seus produtos na Europa. Em virtude da pouca experiência em exportação e da necessidade de garantir a pontualidade nas entregas, decidiu-se pela contratação de um OTM, que se encarrega das operações do deslocamento das cargas ponto a ponto, assessorando nos trâmites aduaneiros. Para a escolha do OTM, foi realizada uma pesquisa com diversas empresas brasileiras que utilizam esse tipo de serviço, consultados os transportadores que prestam serviços no Brasil para a empresa, além de uma parceira de um dos transportadores habituais da Kro Kró. 31Transportes internacionais BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BARAT, J. Logística, transporte e desenvolvimento econômico. 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No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 33Transportes internacionais