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Direitos dos Imigrantes e Orientações para o Atendimento

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Direitos Humanos
Direitos dos Imigrantes 
e Orientações para o 
Atendimento
Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
Conteudista/s 
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania - MDHC (Conteudista, 2020).
Equipe revisora:
Clarissa Teixeira Araujo do Carmo (Coordenadora-Geral, 2023).
Carlos Alberto Ricardo Júnior (Coordenador, 2023).
Organização Internacional para as Migrações (2023).
Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO
3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Sumário
Módulo 1 – Introdução às migrações internacionais 
Unidade 1: Quem são os migrantes internacionais? ........................................... 7
Unidade 2: Qual é a dimensão das migrações internacionais? ........................11
Unidade 3: A situação jurídica das pessoas migrantes .....................................15
Unidade 4: Onde encontrar dados sobre as migrações internacionais? .........17
Glossário .......................................................................................................................... 19
Referências ..................................................................................................................... 21
Módulo 2 – Os migrantes no direito internacional 22
Unidade 1: O que são os instrumentos internacionais de 
direitos humanos? ................................................................................................. 22
Unidade 2: Os direitos humanos dos migrantes ................................................ 24
Unidade 3: Desafios na proteção dos direitos humanos dos migrantes .........26
Unidade 4: O princípio da não devolução ........................................................... 27
Unidade 5: O direito de solicitar refúgio ............................................................. 31
Unidade 6: A proibição da expulsão coletiva ...................................................... 32
Glossário .......................................................................................................................... 34
Referências ...................................................................................................................... 35
Módulo 3 – Direitos dos imigrantes na legislação brasileira 36
Unidade 1: Os migrantes na Constituição Federal de 1988 ..............................37
Unidade 2: A Lei de Migração ............................................................................... 38
2.1 Princípios orientadores da Lei de Migração ................................................. 38
2.2 Garantias da Lei de Migração ......................................................................... 40
Unidade 3: A Lei de Refúgio .................................................................................. 45
Unidade 4: Os apátridas na legislação brasileira ............................................... 48
Unidade 5: O enfrentamento ao tráfico de pessoas e ao trabalho escravo ...50
Unidade 6: A regularização migratória no Brasil ............................................... 55
Unidade 7: Naturalização ..................................................................................... 64
Glossário .......................................................................................................................... 68
Referências ...................................................................................................................... 69
4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Módulo 4 – Vulnerabilidades em contexto migratório
Unidade 1: O conceito de vulnerabilidade .......................................................... 71
Unidade 2: Fatores individuais ............................................................................. 74
Unidade 3: Fatores familiares .............................................................................. 75
Unidade 4: Fatores comunitários ......................................................................... 76
Unidade 5: Fatores estruturais ............................................................................ 77
Unidade 6: O Modelo de Determinantes da Vulnerabilidade de Migrantes ...78
Unidade 7: Na origem, em trânsito e no destino ............................................... 80
Unidade 8: Vulnerabilidade à violência, exploração e abuso ...........................82
8.1 Violência contra mulheres e meninas em contextos de mobilidade ........ 82
8.2 Exploração laboral ........................................................................................... 83
8.3 Tráfico de pessoas ........................................................................................... 84
Unidade 9: Proteção a migrantes em situação de vulnerabilidade .................86
Unidade 10: Princípios orientadores na assistência a imigrantes 
em situação de vulnerabilidade ........................................................................... 88
Glossário .......................................................................................................................... 90
Referências ..................................................................................................................... 91
Módulo 5 – Atendimento a imigrantes
Unidade 1: Documentação .................................................................................... 92
Unidade 2: Acesso à saúde .................................................................................... 98
Unidade 3: Assistência social e moradia ........................................................... 101
Unidade 4: Acesso à educação ............................................................................ 103
Unidade 5: Trabalho e renda .............................................................................. 107
Unidade 6: Assistência jurídica e acesso à justiça ...........................................109
Unidade 7: Reunião familiar e soluções duradouras .......................................113
Glossário ........................................................................................................................ 115
Referências .................................................................................................................... 116
Módulo 6 – Direitos específicos
Unidade 1: Introdução: Além do trabalhador migrante .................................117
Unidade 2: Migração e direitos da criança ........................................................ 118
Unidade 3: Migração e direitos das pessoas com deficiência .........................122
Unidade 4: Migração e direitos indígenas ......................................................... 123
Unidade 5: Migração e igualdade racial ............................................................ 125
Unidade 6: Migração e direitos das mulheres .................................................. 126
Unidade 7: Migração e direitos LGBTQIA+ ........................................................ 128
Unidade 8: Migrantes idosos .............................................................................. 129
Glossário ........................................................................................................................ 131
Referências .................................................................................................................... 133
5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Olá!
O curso Direitos dos imigrantes e orientações para o atendimento foi 
desenvolvido em 2020 pela Enap, em parceria com Ministério dos Direitos Humanos 
e da Cidadania (MDHC), estando alinhado à competência da Enap de capacitação e 
de desenvolvimento de servidores para a ética e a cidadania, assim como à missão 
do MDHC. O curso poderá contribuir para que os direitos das pessoas migrantes, 
refugiadas eapátridas sejam efetivamente conhecidos e respeitados no Brasil, e 
para que agentes públicos estejam orientados a atender essas pessoas de forma 
humanitária, acolhedora, inclusiva e livre de qualquer discriminação; ampliando, 
desse modo, a equidade social e a cidadania.
O conteúdo foi estruturado em 6 módulos, a saber:
Módulo 1 – Introdução às migrações internacionais
Módulo 2 – Os migrantes no Direito internacional
Módulo 3 – Direitos dos imigrantes na legislação brasileira
Módulo 4 – Vulnerabilidades em contexto migratório
Módulo 5 – Atendimento a imigrantes
Módulo 6 - Direitos Específicos
O objetivo do curso é oferecer conhecimento sobre a questão migratória 
internacional contemporânea, com destaque para o fluxo migratório direcionado 
ao Brasil, conforme os princípios e os instrumentos normativos internacionais e 
nacionais para a promoção, proteção e garantia de direitos humanos de pessoas 
migrantes, refugiadas e apátridas. 
Direitos autorais:
As informações e opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira 
responsabilidade do(s) autor(es), não exprimindo, necessariamente, o ponto de 
vista da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). É permitida a reprodução 
deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para 
fins comerciais são proibidas.
Desejamos a você um ótimo curso!
6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
 Módulo
1 Introdução às migrações internacionais 
A migração abarca uma grande variedade de situações. Os contextos de migração 
e deslocamento forçado podem ser traumáticos, tanto pelas condições no país de 
origem que levam à migração (guerras, conflitos, desastres naturais, perseguição)) 
quanto pelas condições da travessia que podem ser difíceis e inseguras, com riscos 
de violência, exploração e abuso. Situações traumáticas dão-se, também por eventos 
ocorridos na chegada ao país de destino, incluindo o medo de deportação ou de 
impedimento à entrada no país, a falta de meios de subsistência, adiscriminação e 
a xenofobia.
Como aponta Cançado Trindade: 
Os testemunhos dos migrantes falam de sofrimentos 
no abandono das suas casas, por vezes com separação 
ou desagregação das famílias, perda de propriedade 
ou bens pessoais, arbitrariedade e humilhações 
de parte de autoridades de fronteira ou forças de 
segurança, gerando um sentimento permanente de 
injustiça.
É importante também ter em mente que, apesar das dificuldades que podem 
caracterizar os processos migratórios, estes também têm um imenso potencial para 
beneficiar tanto os migrantes quanto às sociedades de acolhida e de origem. Nesse 
sentido, o desenvolvimento de capacidades para a acolhida de migrantes contribui 
para promover esse potencial.
Assim, é preciso fortalecer as capacidades no atendimento a migrantes de maneira 
a promover a migração segura, ordenada e digna, que beneficie a todos (migrantes, 
comunidades de acolhida e comunidades de origem). 
Para você começar a se familiarizar com o assunto, sugerimos que 
escute os episódios do podcast “Rádio Orinoco”, que exploram 
os diálogos interculturais entre pessoas do Brasil e da Venezuela 
que vivem em Roraima. 
https://open.spotify.com/episode/6XEDH0zqiIqZWyRkHacupS
7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 1: Quem são os migrantes 
internacionais?
Identificar quem são os migrantes internacionais.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), migrante é um termo 
guarda-chuva, sem definição específica no âmbito do Direito Internacional, que 
reflete o entendimento comum de uma pessoa que se move do seu local habitual de 
residência, dentro de um país ou por fronteiras internacionais, de forma temporária 
ou permanente, por uma variedade de razões. 
O termo inclui grupos bem definidos de pessoas, como trabalhadores 
migrantes(pessoas cuja situação jurídica é claramente definida), vítimas do tráfico 
de pessoas e migrantes contrabandeados, assim como aqueles cuja situação ou 
tipo de movimento não está especificamente definido no Direito Internacional, tais 
como estudantes internacionais.
Assim, segundo essa definição, um migrante é qualquer pessoa que está se 
movimentando ou já se movimentou por uma fronteira internacional ou dentro de 
um Estado, saindo do seu lugar habitual de residência, independentemente: 
• Da situação jurídica da pessoa;
• Se o deslocamento foi voluntário ou involuntário;
• De quais foram os motivos para esse deslocamento;
• Da duração da sua estadia. 
Isso deixa em evidência a grande diversidade de situações que as migrações 
representam.
Eu sou migrante, mas ninguém espera que eu arrisque 
minha vida num barco avariado ou a cruzar um 
deserto num caminhão para encontrar trabalho fora 
do meu país. A migração segura não pode limitar-se à 
elite global. — António Guterres, secretário-geral da 
ONU.
8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A migração pode ocorrer dentro das fronteiras de um país ou através de fronteiras. 
Nesse último caso, trata-se de migrações internacionais. Essas migrações abarcam 
uma enorme quantidade de situações, desde trabalhadores que mudam de país 
por motivos laborais, estudantes de intercâmbio, pessoas que precisam migrar para 
fugir da fome ou de contextos de violência e conflito, diásporas, etc.
As motivações são diversas e, na maioria das vezes, a migração responde a 
vários motivos interconectados. Esses deslocamentos podem ser voluntários ou 
involuntários, ou ainda uma mistura complexa entre ambas as situações.
Migrantes venezuelanos esperam transporte para embarcar em voo da estratégia de 
interiorização do governo federal, em Boa Vista - RR. Créditos: Cláudia Giovannetti.
O conceito de refugiado possui uma definição estabelecida no Direito Internacional 
para determinado conjunto de pessoas que precisam de proteção internacional. 
Especificamente, o conceito surgiu na Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, 
conhecida como Convenção de 1951.
É considerada refugiada a pessoa que, temendo ser perseguida por motivos de raça, 
religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontre fora do país 
de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se 
da proteção desse país. Na América Latina, pela Convenção de Cartagena de 1984, 
e, no Brasil, pela Lei Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997 (Lei de Refúgio), o termo 
também inclui pessoas que tenham fundado temor de retornar ao seu país devido 
a uma grave e generalizada violação de direitos humanos.
9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos 
Refugiados foi formalmente adotada em 28 de julho de 1951 para 
resolver a situação dos refugiados na Europa após a Segunda 
Guerra Mundial. Esse tratado global define quem vem a ser um 
refugiado e esclarece os direitos e deveres entre os refugiados e 
os países que os acolhem.
https://www.acnur.org/portugues/convencao-de-1951/
Apátridas são pessoas que não são consideradas nacionais por nenhum Estado, 
segundo a sua legislação, ou seja, são pessoas sem nacionalidade específica l. 
Pessoas apátridas não são necessariamente migrantes. Essas pessoas podem 
ter nascido em situação de apatridia e permanecido nessa situação, mesmo sem 
ter se movimentado. No entanto, muitas vezes as situações de apatridia estão 
relacionadas à migração, por exemplo, quando filhos de migrantes não são 
reconhecidos nem pelo país que confere nacionalidade aos seus pais, nem pelo 
país em que nasceram. A apatridia pode resultar em situações de vulnerabilidade 
e em obstáculos significativos ao acesso a direitos. Por esses motivos, vários países 
no mundo, inclusive o Brasil, comprometeram-se a tomar medidas para eliminá-la.
Por vezes, pessoas que se veem obrigadas a abandonar o seu local de origem ou 
de residência, porque temem pelas suas vidas, não chegam a cruzar uma fronteira 
internacional. Os motivos para esse tipo de deslocamento podem ser diversos,como é o caso de conflitos armados, situações de violência generalizada, violações 
de direitos humanos, desastres naturais ou provocados por ação humana, entre 
outros.Migrantes nessas situações são considerados pessoas em situação de 
deslocamento interno – elas não são migrantes internacionais, mas, em muitos 
casos, uma situação de deslocamento interno pode estar relacionada a uma situação 
de deslocamento internacional.
Por fim, o conceito de diáspora refere-se a migrantes ou descendentes de migrantes 
cuja identidade e sentido de pertencimento, de forma real ou simbólica, foram 
marcadas pela sua experiência e histórico de migração. Eles mantêm vínculos com 
seus lugares de origem e entre si, com base em um sentimento de ter uma história 
compartilhada, identidadeou experiências compartilhadas no local de destino.
Assista ao vídeo “Rostos familiares, lugares inesperados: uma diáspora africana 
global” para saber mais sobre a temática. 
https://www.acnur.org/portugues/convencao-de-1951/
https://www.youtube.com/watch?v=g1BceeLjIRo
https://www.youtube.com/watch?v=g1BceeLjIRo
10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Vídeo 1 – “Rostos familiares, lugares inesperados: uma diáspora 
africana global” 
Duração: 31:52 
Fonte: ONU Brasil - Documentário da cineasta e antropóloga cultural Dra. 
Sheila S. Walker que conta como centenas de milhares de africanos foram 
arrancados de sua terra natal durante anos ao longo da escravidão. 
https://www.youtube.com/watch?v=g1BceeLjIRo
https://www.youtube.com/watch?v=g1BceeLjIRo
11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 2: Qual é a dimensão das migrações 
internacionais?
Indicar a dimensão das migrações internacionais.
Antes dos impactos causados pela pandemia da COVID-19 nos fluxos migratórios, 
o número de migrantes internacionais vinha crescendo de forma consistente nas 
duas últimas décadas. Em 2020, segundo os dados do Departamento de Assuntos 
Econômicos e Sociais das Nações Unidas, os migrantes internacionais somavam cerca 
de 281 milhões de pessoas. Esse número equivale a 3,6% da população mundial. Se 
o conjunto de migrantes internacionais fosse a população de um país, este seria o 
quinto mais populoso do mundo. Desses migrantes, estima-se que 264,4 milhões 
são refugiados e 4,1 milhões são solicitantes de refúgio. Calcula-se que cerca de 
89,4 milhões de pessoas estão em situação de deslocamento forçado, interno ou 
internacional. 
De acordo com o Relatório Global sobre Deslocamentos Internos de 2023, no ano de 
2022 verificaram-se cerca de 32,6 milhões de deslocamentos internos relacionados 
a desastres, sendo a maioria relacionados a fenômenos meteorológicos, tais 
como enchentes (19,2 milhões de deslocamentos) e tempestades (9,9 milhões de 
deslocamentos). Os deslocamentos relacionados a desastres, em 2022, foram 41% 
superiores à média anual dos últimos 10 anos. 
O impacto econômico positivo das migrações também é considerável. As remessas – 
o dinheiro enviado pelos migrantes às suas famílias e comunidades no país de origem 
– estão estimadas em cerca de 702 bilhões de dólares apenas no ano de 2020. 
No mesmo ano, segundo o World Migration Report (2022), o Brasil foi o país que 
mais enviou remessas na América Latina e Caribe, com 1,6 bilhões de dólares Para 
alguns países, as remessas recebidas têm um impacto ainda maior no PIB e na vida 
das comunidades.
A América do Sul acolhe mais de 10,9 milhões de migrantes internacionais, que 
compõem cerca de 2,5% da população do continente. O gráfico a seguir representa 
como estão distribuídos esses migrantes pelos diferentes países. Assim, vê-se que a 
Argentina (2,28 milhões é o principal local de residência dos migrantes internacionais 
que vivem na região, seguida pela Colômbia (1, 91 milhões) e Chile (1,65 milhões). O 
Brasil aparece em 6º lugar, depois do Peru (1,22 milhões), com cerca de 1,08 milhões 
de migrantes internacionais.
12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Gráfico sobre migrantes internacionais na América Latina. Fonte: Elaboração 
própria com dados da UN-DESA: Divisão de População das Nações Unidas, 
Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, 2021.
No entanto, de forma geral, quase todos os países do continente tiveram mais 
emigrantes do que imigrantes em 2020, isto é, em quase toda a América do 
Sul, o número de pessoas que foram viver fora de seus países de nacionalidade 
(emigrantes) é maior do que o número de pessoas de outras nacionalidades que 
vieram viver nesses países (imigrantes), como se pode ver no gráfico a seguir. 
No caso do Brasil, os brasileiros que emigraram em 2020 foi maior do que oss 
imigrantes que o país recebeu. Exceções a essa tendência são a Argentina e o Chile, 
que receberam mais imigrantes em 2020 do que os argentinos e chilenos que 
emigraram.
13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
20 principais países de migração na América Latina. Fonte: OIM (2019). "World Migration Report 
2020". https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf. Acesso em: 9 nov. 2020.
As tendências de deslocamentos internos na região provocados por desastres 
e conflitos são também expressivas na região. Enquanto El Salvador e Colômbia 
tiveram, em 2020, centenas de milhares de pessoas forçosamente deslocadas de seus 
locais de residência por conflitos, na maioria dos demais países, os deslocamentos 
forçados deram-se principalmente por consequência de desastres. 
O Brasil foi o 3º país com mais pessoas afetadas por deslocamentos forçados devido 
a desastres naturais em 2020, quando cerca de 358 mil pessoas foram obrigadas a 
abandonar seus locais habituais de residência por essa razão.
https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf
14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Deslocamentos internos por desastres e conflitos na América Latina. OIM (2019). "World Migration 
Report 2020". https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf. Acesso: 9 nov. 2020.
Agora, assista ao vídeo: "Crise do Clima: Panamá", para saber mais:
Vídeo 2 – "Crise do Clima: Panamá". 
Duração: 05:50 
Fonte: TV Folha - “Como as mudanças climáticas estão forçando indígenas a 
abandonarem suas ilhas.” 22 abr. 2018.
https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=NR0yj4iVub4&list=PLEU7Upkdqe7E93XqZVZSMfGjEuuP68pdh&index=1
https://www.youtube.com/watch?v=NR0yj4iVub4&list=PLEU7Upkdqe7E93XqZVZSMfGjEuuP68pdh&index=1
15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 3: A situação jurídica das pessoas 
migrantes
Reconhecer a situação jurídica das pessoas migrantes.
Ao longo do processo migratório, a situação jurídica da pessoa pode ser alterada. 
Ela pode, por exemplo, chegar ao país com um visto de turista e depois pedir uma 
autorização de residência, ou começar um processo de naturalização no seu país de 
destino. Naturalização é o processo pelo qual uma pessoa migrante internacional 
solicita a nacionalidade do país de residência. 
Por vezes, os migrantes permanecem durante algum período (ou mesmo durante 
toda a sua estadia) sem ter uma autorização formal para residir ou trabalhar no 
país. A situação jurídica é um aspecto importantíssimo da experiência das pessoas 
migrantes, uma vez que pode impactar o acesso a direitos, a serviços e à cidadania 
no país de residência.
No entanto, é importante saber que as pessoas migrantes têm direitos inalienáveis, 
que são independentes da sua situação jurídica. O conjunto de instrumentos de 
direitos humanos que abordaremos no Módulo 2 protege a todas as pessoas sem 
discriminação alguma, o que significa que nenhuma pessoa pode ser discriminada 
por causa da sua nacionalidade ou de sua situação migratória.
No Brasil, as pessoas migrantes têm também garantidos os seus direitos pela 
Constituição Federal de 1988, pela Lei de Migração, entre outras referências. O Módulo 
3 apresentará esses direitos, além de abordar as principais formas de regularizaçãomigratória no Brasil. Por fim, alguns migrantes têm também direitos específicos, a 
exemplo das crianças migrantes. Abordaremos esse tema no Módulo 6.
E os migrantes ilegais?
A expressão "migrantes ilegais" disseminou-se ao longo dos últimos 
anos, fazendo uma referência difusa a pessoas que, presumidamente, 
não têm autorização para estar em um determinado país. A expressão 
passou a estar associada a uma forte carga negativa, gerando um 
estigma, e, por vezes, é inclusive entendida como uma situação 
16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
inalterável. Apesar da sua ampla disseminação, a expressão é 
incorreta: nenhuma pessoa pode ter a sua existência declarada 
ilegal. Assim, a forma correta de referir-se à situação da pessoa 
migrante no país onde se encontra é situação administrativa 
regular ou irregular.
Migrantes em situação irregular podem estar em uma ou mais das seguintes 
situações. Em muitos casos, os migrantes internacionais transitam entre situações 
administrativas regulares ou irregulares, por exemplo devido a mudanças na sua 
situação pessoal, na legislação do país de acolhida, na situação do país de origem, 
por força de tratados bilaterais entre ambos os países, entre vários outros motivos.
Assista aos dois vídeos a seguir: “Histórias de Venezuelanos no Brasil - 1” e “Histórias 
de Venezuelanos no Brasil - 2”. 
Vídeo 3 – “Histórias de Venezuelanos no Brasil - 1”.
Duração: 01:50. 
Fonte: OIM, 16 out. 2019.
Vídeo 4 – “Histórias de Venezuelanos no Brasil - 2”.
Duração: 01:55. 
Fonte: OIM, 16 out. 2019.
https://www.youtube.com/watch?v=9ZHhxFOArus&feature=emb_logo
https://www.youtube.com/watch?v=vfKHZ02y_0w&feature=emb_logo
https://www.youtube.com/watch?v=vfKHZ02y_0w&feature=emb_logo
https://www.youtube.com/watch?v=9ZHhxFOArus&feature=emb_logo
https://www.youtube.com/watch?v=vfKHZ02y_0w&feature=emb_logo
17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 4: Onde encontrar dados sobre as 
migrações internacionais?
Identificar dados sobre as migrações internacionais.
Caso você queira pesquisar mais sobre migrações internacionais, há várias fontes 
de dados que podem ser consultadas. A seguir, você encontra alguns lugares por 
onde começar.
No Brasil, os dados sobre migrantes internacionais são compilados pela Polícia 
Federal e trabalhados pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) da 
Universidade de Brasília (UnB). O OBMigra, que é fruto de uma parceria entre a UnB 
e o governo federal, lança, todos os anos, um relatório com os dados atualizados 
sobre migrações internacionais no Brasil.
Como agência líder no tema das migrações, a Organização Internacional para as 
Migrações publica vários dados e resultados de pesquisas sobre migrações. A 
OIM consolida informações de várias fontes diferentes no Portal de Dados sobre 
Migrações. 
Nos países em que essa organização atua, são aplicadas também as Pesquisas de 
Monitoramento de Deslocamentos (DTM). A OIM é a única organização a consolidar 
e monitorar os dados de migrantes desaparecidos durante o trajeto migratório 
por meio do Projeto”Migrantes Desaparecidos” (Missing Migrants Project). Também 
produz, junto a diversos parceiros, dados sobre tráfico de pessoas. A organização 
conta ainda com uma biblioteca virtual de livre acesso.
A nível internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) publica diversos 
dados sobre migrações. A principal referência são os dados da Divisão de População, 
do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (UN-DESA), que consolida as 
informações nacionais fornecidas por todos os Estados-membros da ONU. Os dados 
podem ser acessados livremente.
Outras agências das Nações Unidas produzem dados e estudos sobre temas 
relacionados à migração. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados 
(ACNUR) monitora e consolida os dados sobre refugiados, solicitantes de refúgio, 
pessoas em situação de deslocamento interno e apátridas, incluindo informações 
sobre os seus trajetos. 
https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/publicacoes-obmigra/publicacoes-do-obmigra
https://migrationdataportal.org/
https://migrationdataportal.org/
https://missingmigrants.iom.int/
https://www.iom.int/counter-trafficking
https://publications.iom.int/
https://www.un.org/en/development/desa/population/migration/data/estimates2/estimates19.asp
https://www.un.org/en/development/desa/population/migration/data/estimates2/estimates19.asp
https://www.un.org/en/development/desa/population/migration/data/estimates2/estimates19.asp
https://www.unhcr.org/figures-at-a-glance.html
18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) publica pesquisas e dados 
sobre crianças migrantes, destacando-se o relatório A Child is a Child, de 2017. A 
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) 
dedicou o seu relatório anual de 2018 aos desafios para a educação de crianças e 
adultos migrantes e refugiados.
Para encontrar os dados mencionados acima clique nos links das 
referidas instituições:
1. Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra):
• https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/dados/1715-
obmigra
2. Organização Internacional para as Migrações (OIM):
• https://brazil.iom.int/pt-br/dados-e-informacoes
3. Divisão de População, Departamento de Assuntos 
Econômicos e Sociais da ONU (UN-DESA):
• https://news.un.org/pt/tags/desa
4. Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados 
(ACNUR):
• https://www.acnur.org/portugues/publicacoes/
5. Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF):
• https://www.unicef.org/brazil/painel-de-dados
https://www.unicef.org/publications/index_95956.html
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000265996_por
https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/dados/1715-obmigra
https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/dados/1715-obmigra
https://brazil.iom.int/pt-br/dados-e-informacoes
https://www.un.org/en/development/desa/population/migration/data/estimates2/estimates19.asp
https://www.un.org/en/development/desa/population/migration/data/estimates2/estimates19.asp
https://news.un.org/pt/tags/desa
https://www.unhcr.org/figures-at-a-glance.html
https://www.acnur.org/portugues/publicacoes/
https://www.unicef.org/brazil/painel-de-dados
19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Glossário
Verbete Palavra associada Definição/Significado
Migrante Migração
Um termo guarda-chuva, sem definição 
no âmbito do Direito Internacional, que 
reflete o entendimento comum de uma 
pessoa que se move do seu local habitual 
de residência, seja dentro de um país 
ou através de fronteiras internacionais, 
de forma temporária ou permanente, 
por uma variedade de razões. 
O termo inclui um número de categorias 
bem definidas de pessoas, tais como 
trabalhadores migrantes, pessoas cujos 
tipos particulares de movimento são 
legalmente definidos, tais como migrantes 
que cruzaram fronteiras por intermédio 
do contrabando de migrantes, assim 
como aqueles cuja situação ou tipo de 
movimento não estão especificamente 
definidos no Direito Internacional, tais 
como estudantes internacionais.
Refugiado/a
Uma pessoa que se encontra fora 
do seu país de origem e que:
Temendo ser perseguida por motivos de 
raça, religião, nacionalidade, grupo social 
ou opiniões políticas, se encontra fora 
do país de sua nacionalidade e que não 
pode ou, em virtude desse temor, não 
quer valer-se da proteção desse país.
 Não tem nacionalidade e se encontra 
fora do país no qual tinha a sua residência 
habitual, não pode ou, devido ao 
referido temor, não quer voltar a ele. 
Devido à grave e generalizada violação 
de direitos humanos é obrigada a 
deixar o seu país de nacionalidade, 
para buscar refúgio em outro país.
20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Verbete Palavra associada Definição/Significado
Diáspora
Migrantes ou descendentes de migrantes 
cuja identidade e sentido de pertencimento, 
real ou simbólico, foram marcados pela 
sua experiência migratória ehistória. 
Essas pessoas mantêm vínculos com 
seu lugar de origem e entre membros 
da diáspora, com base em um sentido 
compartilhado da história, identidade ou 
experiências mútuas no país de destino.
Apátrida
Uma pessoa que não é considerada 
sua nacional por nenhum Estado, 
conforme a sua legislação.
Emigrante
Uma pessoa que se move do seu país de 
nacionalidade ou residência habitual para 
outro país, o qual se torna efetivamente 
o seu novo país de residência habitual.
21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Referências 
UNHCR - The UN Refugee Agency. Figures at a Glance 2019.. Disponível em: http://
www.unhcr.org/figures-at-a-glance.html. Acesso em: 9 nov. 2020.
TRINDADE, C. A. A. Uprootedness and the protection of migrants in the International 
Law of Human Rights. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v. 
51, n. 1, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-73292008000100008. 
Acesso em: 9 nov. 2020.
IOM. International Organization for Migration. Glossary on Migration, n. 34. 
Genebra, 2019.
IOM. International Organization for Migration. World Migration Report 2020. 
Genebra, 2019. Disponível em: https://publications.iom.int/system/files/pdf/
wmr_2020.pdf. Acesso em: 9 nov. 2020.
IOM. International Organization for Migration. World Migration Report 2020 
Interactive page. Genebra, 2019. Disponível em: https://worldmigrationreport.iom.
int/wmr-2022-interactive/ Acesso em:5 jun 2023.
UN DESA. United Nations Department of Economic and Social Affairs. International 
Migration 2020. Department of Economic and Social Affairs, 2019. Disponível em: 
https://www.un.org/development/desa/pd/sites/www.un.org.development.desa.
pd/files/undesa_pd_2020_international_migration_highlights.pdf. Acesso em 28 
mai. 2023. 
MCAULIFFE, M. e TRIANDAFYLLIDOU, A. (eds.). World Migration Report 2022. 
International Organization for Migration (IOM), Genebra, 2021. Disponível em: 
https://publications.iom.int/books/world-migration-report-2022 . Acesso em: 05 jun. 
2023. 
DMC. International Displacement Monitoring Centre. 2023 Global Report on 
Internal Displacement. Disponível em: https://www.internal-displacement.org/
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2023. 
UNHCR. United Nations High Commissioner for Refugees. Convention and Protocol 
Relating to the Status of Refugees, 1951. Disponível em: http://www.unhcr.
org/3b66c2aa10. Acesso em: 09 nov. 2020.
VIDAL, E. M.; TJADEN, J. D. Global Migration Indicators. IOM ‘s Global Migration Data 
Analysis Centre: Berlim, 2018. Disponível em: https://publications.iom.int/system/
http://www.unhcr.org/figures-at-a-glance.html
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https://doi.org/10.1590/S0034-73292008000100008
https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf
https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf
https://worldmigrationreport.iom.int/wmr-2022-interactive/
https://worldmigrationreport.iom.int/wmr-2022-interactive/
https://publications.iom.int/books/world-migration-report-2022
https://www.internal-displacement.org/publications/2023-global-report-on-internal-displacement
https://www.internal-displacement.org/publications/2023-global-report-on-internal-displacement
http://www.unhcr.org/3b66c2aa10
http://www.unhcr.org/3b66c2aa10
https://publications.iom.int/system/files/pdf/global_migration_indicators_2018.pdf
22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
files/pdf/global_migration_indicators_2018.pdf. Acesso em: 09 nov. 2020.
Os migrantes no direito 
internacional
Neste módulo, serão apresentados alguns dos principais instrumentos de direitos 
humanos e conceitos importantes para a garantia dos direitos dos migrantes, como 
o princípio da não devolução, o direito a pedir refúgio e a proibição das expulsões 
coletivas. Esses instrumentos e conceitos são fruto de um desenvolvimento do 
Direito Internacional de Direitos Humanos que tem ao menos sete décadas. 
O Brasil foi parte ativa na construção desse marco internacional de direitos 
humanos e, ao longo dos anos, os legisladores no país incorporaram vários 
desses desenvolvimentos no direito doméstico brasileiro. A Lei de Migração (Lei 
nº 13.445/2017), por exemplo, internaliza vários importantes conceitos do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos e do Direito Internacional dos Refugiados. 
Unidade 1: O que são os instrumentos 
internacionais de direitos humanos?
Identificar os instrumentos internacionais de direitos humanos.
Antes de entrarmos no tema dos direitos dos migrantes, é importante entender o 
que são os instrumentos internacionais de direitos humanos e como eles funcionam. 
Os instrumentos internacionais de direitos humanos são o marco normativo que 
orienta a atuação dos países em termos de direitos humanos.
Eles são fruto da cooperação dos Estados para a construção conjunta de normas, 
às quais os países aderem de forma voluntária. Assim, surgem do diálogo, das 
negociações e da cooperação entre os países, que escolhem se comprometer com 
os acordos alcançados.
A participação dos Estados nos diversos instrumentos internacionais de direitos 
humanos resulta em um compromisso assumido frente aos seus próprios cidadãos, 
 Módulo
2
https://publications.iom.int/system/files/pdf/global_migration_indicators_2018.pdf
23Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
às pessoas sob sua jurisdição e à comunidade internacional. Em geral, esses 
instrumentos são acordos formais que geram obrigações para os países que aderem 
a eles (MAZZUOLI, 2015). O direito internacional dos direitos humanos inspirou as 
constituições e a construção democrática em muitos Estados nas últimas décadas, 
inclusive no Brasil e na América Latina (TRINDADE, 1996).
No caso brasileiro, a Emenda Constitucional nº 45, de 30 de 
dezembro de 2004, reforça esse compromisso ao estabelecer que 
tratados e convenções internacionais de direitos humanos aos 
quais o país tenha aderido passam a ser equivalentes às emendas 
constitucionais, quando aprovados por maioria qualificada no 
Congresso Nacional. Outras leis brasileiras incorporam princípios 
do Direito Internacional e mencionam a adesão aos direitos 
previstos nos instrumentos internacionais de direitos humanos.
Além dos instrumentos internacionais, o direito internacional consuetudinário 
(também referido como “costume internacional") cria obrigações para os Estados, 
na medida em que representam normas que são de prática geral e consistente por 
parte dos mesmos. Ou seja, práticas comuns que são aceitas e estabelecidas de tal 
maneira que são consideradas obrigações legais
Para que um costume possa ser considerado como tal é 
preciso que se verifiquem dois elementos: a prática reiterada e 
consistente pelos Estados, e a aceitação da prática pelos Estados. 
Esse conjunto de fatores cria a obrigação do país de obedecer a 
determinado costume, que pode ser regional ou internacional.
Os instrumentos internacionais de direitos humanos estabelecem que os direitos 
humanos são inerentes a todos os seres humanos, independentemente de gênero, 
etnia, idioma, nacionalidade, situação migratória ou qualquer outra condição. A 
seguir, estudaremos alguns instrumentos internacionais de direitos humanos e sua 
relação com a migração.
24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 2: Os direitos humanos dos migrantes
Reconhecer os direitos humanos dos migrantes.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é o mais importante dos instrumentos 
de direitos humanos. Ela estabelece, no artigo 1º, que todos os seres humanos 
nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Conheça um pouco mais 
sobre os direitos garantidos na Declaração no vídeo: 
Vídeo 5 – “Há 70 anos: adotada a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos”. 
Duração: 06:03 
Fonte: ONU Brasil (2018). 
O artigo 2º esclarece que a Declaração protege a todas as pessoas sem distinção 
alguma de origem nacional; incluindo, portanto, a situação migratória.O mesmo 
artigo explicita que nenhuma distinção pode basear-seno status político, jurídico ou 
internacional do país ou território de naturalidade da pessoa em questão.
Art. 1º. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em 
direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros 
em espírito de fraternidade.
Art. 2º. Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades 
proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente 
de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de 
origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra 
situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto 
político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da 
pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito 
a alguma limitação de soberania.
Art. 3º. Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. 
https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Pages/Language.aspx?LangID=por
https://www.youtube.com/watch?v=SJy1M4iYiMo
https://www.youtube.com/watch?v=SJy1M4iYiMo
25Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
As obrigações dos Estados não se limitam a seus cidadãos, abarcando todas as 
pessoas sob a sua jurisdição, ou seja, os países têm obrigações de proteger os direitos 
humanos em relação aos seus nacionais e a qualquer pessoa que esteja em seu 
território. Também não dependem da situação administrativa da pessoa migrante, 
pois mesmo que ela não esteja em posse de uma autorização de residência, um 
visto ou qualquer outra forma de regularização da sua situação no país, seus direitos 
humanos devem ser garantidos.
Nas Américas, essa situação foi reafirmada na Convenção Americana de Direitos 
Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, de 1969. No 
seu preâmbulo, a Convenção explicita que "os direitos essenciais da pessoa humana 
não derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do fato de 
ter como fundamento os atributos da pessoa humana". 
Decreto Nº 678, de 6 de novembro de 1992, que promulga a 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São 
José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm
http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm
http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm
26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 3: Desafios na proteção dos direitos 
humanos dos migrantes
Indicar os desafios na proteção dos direitos humanos dos 
migrantes.
Ainda existem muitos desafios para a plena garantia dos direitos humanos das 
pessoas migrantes ao longo de todo o ciclo migratório. Por exemplo, migrantes em 
situação administrativa irregular podem estar mais vulneráveis à discriminação, à 
exploração e ao abuso. As violações dos direitos humanos dos migrantes por vezes 
incluem situações de detenção arbitrária ou garantias insuficientes de acesso ao 
devido processo legal.
Agora, assista ao vídeo em que homens com diferentes histórias e origens se 
amontoam em pequenos grupos à espera de um sinal, entre matas e plantações no 
norte da Sérvia:
Vídeo 6 – "Especial Um Mundo de Muros – Sérvia e Hungria". 
Duração: 11:45 
Fonte: TV Folha (2017).
Além de os direitos humanos serem garantias inerentes a todas as pessoas, existem 
algumas obrigações dos Estados que são específicas à proteção dos não nacionais. 
Entre elas, destacam-se a obrigação de não devolução (também conhecida como 
non-refoulement), o direito a solicitar refúgio e a proibição da expulsão coletiva de 
migrantes.
https://www.youtube.com/watch?v=lt_nt4UUmbM
27Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 4: O princípio da não devolução
Conceituar o princípio da não devolução
O princípio da não devolução (non-refoulement) foi descrito pela primeira vez na 
Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 e, ao longo do tempo, passou 
a ser incorporado em outros instrumentos internacionais de direitos humanos. Hoje 
em dia, a obrigação de não devolução é considerada uma norma peremptória (jus 
cogens) tanto em nível regional quanto internacional, criando,portanto, obrigações 
a todos os Estados.
Em sua redação original, o princípio da não devolução se referia especificamente a 
refugiados e foi definido da seguinte maneira:
“Nenhum Estado-parte pode expulsar ou devolver (‘refouler') um 
refugiado de qualquer maneira para as fronteiras de territórios 
onde a sua vida ou liberdade possa estar ameaçada devido 
à sua raça, nacionalidade, participação em um grupo social 
específico ou opinião política" (Convenção Relativa ao Estatuto 
dos Refugiados, Artigo 33).
Apesar de o princípio da não devolução surgir originalmente como uma proteção 
aos refugiados, com o desenvolvimento do Direito Internacional, esse princípio 
passa a constituir-se uma obrigação dos Estados com respeito a todos os não 
nacionais. Segundo a OIM (2014), isso ocorre porque o princípio da não devolução é 
considerado essencial para a proteção dos direitos humanos, em especial:
 + Direito à vida
O princípio da não devolução impede um Estado de devolver qualquer 
pessoa a um país onde o seu direito à vida possa estar ameaçado por 
situações como a imposição da pena de morte ou o risco de execuções 
extrajudiciais. 
A proteção do direito à vida também tem uma vinculação especial 
com questões de saúde, em especial quando uma pessoa precisa de 
tratamento de saúde o qual ela não poderá acessar caso seja retornada 
para outro país.
Segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos, "a expulsão ou 
devolução de uma pessoa poderia considerar-se violatória das obrigações 
28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
internacionais, dependendo das circunstâncias concretas da pessoa em 
particular, nos casos em que essa medida leve à afetação ou deterioro 
grave da saúde da mesma, ou inclusive possa resultar na sua morte". 
 + Direito à proteção contra a tortura e o tratamento cruel, desumano e 
degradante
A proibição da tortura e do tratamento cruel, desumano e degradante é 
garantida em muitos instrumentos internacionais e regionais de direitos 
humanos. Essa proibição é absoluta, ou seja, não admite nenhuma 
exceção. Por isso, a devolução de qualquer pessoa a um país onde ela 
possa estar sujeita à tortura ou a qualquer tipo de tratamento desumano 
e degradante também é absolutamente proibida.
Assim como ocorre com o direito à vida, o direito à proteção contra o 
tratamento cruel, desumano e degradante tem uma vinculação especial 
com questões de saúde. Dessa maneira, uma pessoa com condições 
graves de saúde não pode ser retornada a um país onde a falta de acesso 
a um tratamento de saúde do qual necessita implique na sua exposição 
a uma situação cruel, desumana ou degradante.
 + Proteção contra a escravidão e o trabalho forçado
A proteção contra a escravidão e o trabalho forçado também pode ser 
acionada para justificar a aplicação do princípio de não devolução, mas 
é comum que esses casos também possam ser contemplados pela 
proteção contra o tratamento cruel, desumano e degradante. Perceba 
que aqui as proteções se somam. 
 + Direito ao devido processo legal
O risco de obstáculos flagrantes ao direito ao devido processo legal pode 
levar à proibição de devolução de uma pessoa a outro Estado. Esse risco é 
particularmente importante onde existe a possibilidade de que a pessoa 
em questão seja condenada à pena de morte. Assim como ocorre com a 
proteção contra a escravidão e o trabalho forçado, esse aspecto tende a 
ser contemplado pelo direito à vida e à proteção contra a tortura e outras 
formas de tratamento cruel, desumano e degradante.
 + Liberdade de pensamento, consciência e religião
O direito à liberdade de pensamento, consciência e religiãotambém pode 
ser protegido pelo princípio da não devolução, embora a proteção desse 
direito em situações de devolução frequentemente esteja relacionada 
com o direito à vida e à proteção contra a tortura e outros tipos de 
tratamento cruel, desumano e degradante.
 + Proibição dos desaparecimentos forçados
A Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra 
os Desaparecimentos Forçados explicita, de maneira similar a outras 
29Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
obrigações de não devolução, que "nenhum Estado-parte pode devolver 
(‘refouler’), entregar ou extraditar uma pessoa para outro Estado em que 
existam motivos substanciais para acreditar que ela possa estar em risco 
de ser submetida a desaparecimento forçado”.
 + Proteções específicas para crianças e adolescentes
Além de todas as proteções listadas anteriormente, que também se 
aplicam as crianças e adolescentes o princípio da não devolução protege 
direitos específicos das crianças e dos adolescentes migrantes. Assim, um 
Estado não pode devolver uma criança ou um adolescente a um país onde 
haja exposição a um risco de dano irreparável. Crianças e adolescentes só 
podem ser retornados a outro país quando isso obedecer estritamente 
ao seu superior interesse.
Igualmente, os Estados são proibidos de retornar qualquer criança ou 
adolescente às fronteiras de um Estado no qual haja risco de recrutamento 
para participação em conflitos armados. Esse recrutamento inclui 
não apenas a participação como combatentes, mas também em todo 
tipo de prestação de serviços para grupos armados que impliquem 
uma participação indireta nas hostilidades, incluída a prostituição. É 
importante notar que essa proteção não se aplica apenas nos casos em 
que o recrutamento é feito por parte do Estado, mas também quando é 
feito por parte de atores não estatais.
Assim, o princípio proíbe os Estados de devolver qualquer pessoa a um território 
ou país no qual a sua vida, integridade física, dignidade ou liberdade possam estar 
ameaçadas, ou no qual ela corra o risco de ser submetida à tortura ou ao tratamento 
cruel, desumano ou degradante.
O caráter obrigatório do princípio de não devolução significa, ainda, que nenhuma 
exceção pode ser invocada para justificar o descumprimento dessa obrigação ou a 
limitação da sua aplicação.
Também é importante notar que, pelo caráter absoluto do princípio da não 
devolução, preocupações com a segurança nacional, mesmo que legítimas, não 
podem ser invocadas para limitar a sua aplicação, sendo necessário nesses casos 
encontrar soluções alternativas que incluam tanto a segurança nacional quanto a 
plena proteção dos direitos humanos da pessoa em questão.
Essa característica deriva da proibição absoluta das violações de direitos que a não 
devolução visa evitar, como as situações de perseguição, as ameaças à vida e à 
dignidade, a tortura, os desaparecimentos forçados, entre outros.
30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Assim, o princípio da não devolução é uma obrigação dos Estados 
com relação a todos os não nacionais, sejam eles refugiados, 
solicitantes de refúgio, migrantes com situação regular ou 
irregular, pessoas em trânsito pelo país, solicitantes de refúgio 
cujo pedido foi indeferido, entre outros.
Essa obrigação não está vinculada à condição migratória da pessoa no país, 
portanto, não gera uma obrigação de que o migrante faça um pedido de refúgio e 
nem dependa do reconhecimento desse pedido. A proteção independe da situação 
migratória da pessoa no país, da sua capacidade ou intenção de obter o estatuto de 
refugiado, ou da maneira como a pessoa cruzou fronteiras (IOM, 2014).
O princípio da não devolução está presente em vários instrumentos internacionais de 
direitos humanos, dos quais um grande número de Estados é parte, e é reconhecido 
como um dos pilares do Direito Internacional dos Direitos Humanos e do Direito 
Internacional dos Refugiados. Em nível regional, foi incluído explicitamente no artigo 
22.8 do Pacto de San José:
8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro país, seja 
ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco 
de violação em virtude de sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou 
de suas opiniões políticas.
Vale a pena mencionar ainda que a redação do Pacto de San José utiliza a palavra 
estrangeiros, e não refugiados, com o objetivo de ampliar a proteção a todas as 
pessoas que são não nacionais de um Estado; incluindo, portanto, migrantes, 
refugiados, pessoas em trânsito, etc.
Também está proibida a devolução de uma pessoa a um terceiro país que possa vir 
a enviá-la a outro onde ela estaria exposta a essas violações de direitos. A obrigação 
de não devolução inclui a não devolução indireta.
Da mesma maneira, os Estados têm a obrigação de não rejeitar em suas fronteiras 
qualquer pessoa que, como consequência dessa rejeição, possa estar exposta 
a qualquer das violações de direitos que tratamos anteriormente. A rejeição de 
qualquer pessoa não nacional nas fronteiras de um Estado só pode ocorrer após 
uma análise cuidadosa, que indique não haver risco de violações de direitos da 
pessoa em questão no caso de ela ser devolvida ao país de origem. Embora essa 
situação não seja equivalente a uma obrigação de admissão da pessoa no país, em 
alguns casos, a admissão pode ser inevitável.
31Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 5: O direito de solicitar refúgio
Identificar o direito de solicitar refúgio.
O direito de buscar e receber refúgio está previsto na Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, que garante a toda a pessoa sujeita à perseguição o direito a 
buscar e receber refúgio em outros países (artigo 14). Esse direito foi articulado em 
detalhe na Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951, a qual define 
a condição jurídica de refugiados e estabelece a proteção internacional dessas 
pessoas. Enquanto noção de proteção, no entanto, o direito a buscar refúgio é mais 
antigo e remonta a épocas muito anteriores à Segunda Guerra Mundial.
Este direito, além do direito de deixar um país (art. 13) e do direito à nacionalidade 
(art. 15), pode ser traçado diretamente aos eventos do Holocausto. Muitos países 
cujos redatores trabalharam na Declaração Universal dos Direitos Humanos 
estavam cientes de que haviam rejeitado muitos refugiados judeus, possivelmente 
condenando-os à morte. Além disso, muitos judeus, roma (ciganos) e outros 
perseguidos pelos nazistas não conseguiram fugir da Alemanha para salvar suas 
vidas.
O direito a buscar refúgio, tal como definido tanto na Declaração Universal dos 
Direitos Humanos quanto na Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados e em 
outros instrumentos, não é irrestrito, não podendo ser utilizado por pessoas que 
cometeram atividades contrárias aos fins e princípios das Nações Unidas ou que 
pretendem evadir um processo existente por crime de direito comum (artigo 14). 
Cabe ainda lembrar que toda pessoa tem direito a solicitar refúgio e a ter o seu pedido 
analisado de maneira individual e de boa-fé, mas isso não implica automaticamente 
em um reconhecimento da condição de refugiado. O reconhecimento pode acontecer 
ou não, dependendo se a pessoa que o solicita cumpre os critérios da definição de 
refugiado.
32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 6: A proibição da expulsão coletiva
Reconhecer a proibição da expulsão coletiva.
Embora todos os Estados possam decidir sobre a admissão de não nacionais no 
seu território, e essa decisão inclua a possibilidade de definir sobre expulsão de 
não nacionais, tal capacidade encontra alguns limites no Direito Internacional dos 
Direitos Humanos. O Pacto de San José explicitamente proíbe a expulsão coletiva de 
migrantes, no artigo 22.9:
9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.
A expulsão coletiva é a retirada compulsória de um grupo de migrantes, sem 
passar pela devida apreciaçãodos casos individuais de cada um dos migrantes 
do grupo.
Muitos termos podem ser usados pelos Estados para se referirem às expulsões: 
deportação, repatriação, "remoção", entre outros. Diversos instrumentos 
internacionais e regionais proíbem explicitamente a expulsão coletiva, e esta 
também está relacionada com o princípio da não devolução, uma vez que para esse 
princípio ser respeitado é preciso fazer uma avaliação individual dos possíveis riscos 
para cada uma das pessoas de um grupo.
Portanto, não se justifica a expulsão coletiva pelo fato de todas as pessoas de um 
mesmo grupo estarem no país sem autorização de residência, visto ou outra forma 
de regularização migratória: cada uma tem sempre o direito a que o seu caso seja 
considerado individualmente.
Na América Latina, também se entende que a proibição da expulsão coletiva deriva 
do direito ao devido processo legal, garantido por diversos instrumentos de direitos 
humanos. Nesse sentido, ao considerar a expulsão de um grupo de migrantes, é 
obrigatório analisar, com a necessária boa-fé e diligência, todas as circunstâncias 
individuais que podem apontar contra a expulsão de cada um dos indivíduos do 
grupo.
33Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Também vale a pena notar que, no sistema interamericano, a expulsão não pode ser 
feita sem a devida análise individual com a justificativa de que o grupo em questão 
tenha características homogêneas de nacionalidade, raça, grupo étnico ou quaisquer 
outras, dado que o artigo 22.9 não coloca esse requisito. Em vista disso, a proibição 
se refere sempre à expulsão (ou não admissão) sem a necessária consideração de 
todas as características individuais de cada uma das pessoas do grupo.
É importante esclarecer que a proibição da expulsão coletiva não impede a expulsão 
de várias pessoas ao mesmo tempo, sempre que cada um dos membros do grupo 
tenha tido o seu caso considerado e decidido de maneira individual.
PACTO GLOBAL PARA UMA MIGRAÇÃO SEGURA, ORDENADA E 
REGULAR
O Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular é o 
primeiro acordo negociado entre governos, elaborado sob os auspícios 
das Nações Unidas, que abrange as dimensões da migração internacional 
de forma holística e ampla. Apresenta uma oportunidade significativa para 
melhorar a governança da migração, enfrentar os desafios associados à 
migração atual e fortalecer a contribuição dos migrantes e da migração para 
o desenvolvimento sustentável. O Pacto Global é enquadrado de forma 
consistente com a meta 10.7 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento 
Sustentável, por meio da qual os Estados-membros se comprometem a 
cooperar internacionalmente para facilitar a migração segura, ordenada 
e regular.
O Pacto Global, adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 
2018, é um documento não vinculante (também conhecido como soft 
law), que respeita o direito soberano dos Estados de determinar quem 
entra e permanece no seu território e demonstra o compromisso com a 
cooperação internacional em matéria de migração. Esse instrumento está 
ancorado no Direito Internacional e apresenta diversos objetivos que são 
parte do Direito Internacional Consuetudinário (costumes internacionais). 
Em 2023, o Brasil retornou ao Pacto Global, que contém compromissos já 
contemplados pela Lei de Migração brasileira, como a garantia do acesso 
de pessoas migrantes a serviços básicos. 
O Pacto Global define 23 objetivos e 10 princípios que podem ser 
consultados na página da OIM Brasil: Pacto Global para Migração | OIM 
Brasil (iom.int)
https://brazil.iom.int/pt-br/pacto-global-para-uma-migracao-segura-ordenada-e-regular
https://brazil.iom.int/pt-br/pacto-global-para-uma-migracao-segura-ordenada-e-regular
34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Glossário
Verbete Palavra 
associada
Definição/Significado
Não 
devolução
É a proibição de que os Estados extraditem, 
deportem, expulsem ou, de qualquer 
outra maneira, retornem uma pessoa a 
um país onde há motivos fundamentados 
para acreditar que ela corra o risco de ser 
submetida à tortura ou outros tratamentos 
cruéis, desumanos ou degradantes, de ser 
submetida ao desaparecimento forçado, ou 
de sofrer outro tipo de dano irreparável.
Expulsão 
coletiva
Qualquer medida que obrigue pessoas 
não nacionais, enquanto grupo, a sair 
de um país, exceto quando essa medida 
é tomada em base a uma avaliação 
razoável e objetiva do caso particular de 
cada um dos indivíduos em um grupo.
Tortura Um ato por meio do qual a dor ou o 
sofrimento severo, seja físico ou mental, é 
infligido a uma pessoa com o propósito de 
obter dela ou de uma terceira pessoa uma 
informação ou confissão, punindo-a por um 
ato que ela ou uma terceira pessoa possa 
ter cometido ou está sob suspeita de ter 
cometido; ou por qualquer motivo baseado 
na discriminação de qualquer tipo, quanto 
essa dor ou sofrimento é infringida por ou 
promovida por ou com o consentimento de 
uma autoridade pública ou outra pessoa 
agindo em nome do Estado. Não inclui a 
dor e o sofrimento que emergem apenas 
de sanções legais, inerentes ou acidentais.
Tratamento 
cruel, 
desumano 
e 
degradante
Um ato por meio do qual a dor ou 
o sofrimento severo, seja físico ou 
mental, é infligido a uma pessoa.
35Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Referências
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Parecer Consultivo OC 21-14. 
Disponível em: http://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_21_por.pdf. Acesso 
em: 9 nov. 2020.
MAZZUOLI, V. O. Curso de direito internacional público. São Paulo: Editora 
Thomson Reuters Revista dos Tribunais, 2015.
IOM. International Migration Law Unit. IML information note on the principle of 
non-refoulement. Genebra, 2014. Disponível em: https://www.iom.int/files/live/
sites/iom/files/What-We-Do/docs/IML-Information-Note-on-the-Principle-of-non-
refoulement.pdf. Acesso em: 9 nov. 2020.
TRINDADE, C. A. A. Direito internacional e direito interno: sua interação na 
proteção dos direitos humanos. Instrumentos internacionais de proteção dos 
direitos humanos. Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. 
São Paulo, 1996. 
TRINDADE, C. A. A. Uprootedness and the protection of migrants in the International 
Law of Human Rights. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, 
v. 51, n. 1, pp. 137-168, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-
73292008000100008. Acesso em: 9 nov. 2020.
http://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_21_por.pdf
https://www.iom.int/files/live/sites/iom/files/What-We-Do/docs/IML-Information-Note-on-the-Principle-of-non-refoulement.pdf
https://www.iom.int/files/live/sites/iom/files/What-We-Do/docs/IML-Information-Note-on-the-Principle-of-non-refoulement.pdf
https://www.iom.int/files/live/sites/iom/files/What-We-Do/docs/IML-Information-Note-on-the-Principle-of-non-refoulement.pdf
https://doi.org/10.1590/S0034-73292008000100008
https://doi.org/10.1590/S0034-73292008000100008
36Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Direitos dos imigrantes na 
legislação brasileira
Neste módulo, serão apresentados os direitos dos imigrantes na legislação brasileira 
e o processo de construção de um marco legal sobre migrações. A Lei de Migração 
entende os fenômenos migratórios dentro de um paradigma de direitos e adequa o 
marco legal das migrações à Constituição federal de 1988 e aos direitos fundamentais 
que ela garante, assegurando o devido processo legal migratório no Brasil.
Em consonância com os compromissos que o Brasil assumiu em razão de sua 
participação em diversos instrumentos internacionais de direitos humanos, a nova 
lei repudia explicitamente as expulsões coletivas e incorpora o princípio da não 
devolução (non-refoulement) na sua compreensão mais atual no contexto do Direito 
Internacional.
Assim, é absolutamente proibida qualquer devolução de qualquer pessoa a qualquer 
país onde a sua vida e dignidade possam estar em risco. Apenas depois de uma análise 
sobre possíveisriscos à vida e à dignidade, e garantido o seu direito a ampla defesa, 
o imigrante pode eventualmente ser enviado a outro país de maneira compulsória.
A Lei de Migração introduz também algumas proteções para as crianças migrantes 
como a possibilidade de autorização de residência para crianças separadas e 
desacompanhadas e a realização de análise de proteção, além do acionamento do 
sistema de proteção da infância.
Há ainda elementos de reconhecimento e proteção das pessoas apátridas, assim 
como a possibilidade de que elas possam adquirir a nacionalidade brasileira, em linha 
com o objetivo de erradicação da apatridia assumido em Estatuto correspondente.
Muitos desafios, no entanto, permanecem. Por exemplo, os documentos de que as 
pessoas migrantes dispõem, com frequência, são desconhecidos pelos brasileiros, 
o que pode constituir um obstáculo ao acesso a direitos. Esses obstáculos, por sua 
vez, podem contribuir para reforçar uma situação de vulnerabilidade em contexto 
migratório.
Conheça a Lei de Migração: L13445 (planalto.gov.br)
 Módulo
3
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm
37Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 1: Os migrantes na Constituição 
Federal de 1988
Identificar os direitos dos migrantes na Constituição Federal de 
1988.
A promulgação da Constituição Federal em 1988 representou um marco na garantia 
de direitos não apenas para os brasileiros, mas para todos os residentes no país, 
inclusive migrantes, refugiados e apátridas. Em vários pontos, o texto constitucional 
afirma a garantia dos direitos de todos, em particular no artigo 5º:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)." 
A Constituição permite também o acesso à naturalização aos migrantes provenientes 
de países de língua portuguesaapós um ano de residência, e aos migrantes de 
qualquer nacionalidade que a solicitem após quinze anos de residência no país - 
em ambos os casos, desde que não tenham condenação penal. Permite ainda o 
acesso dos migrantes a cargos, empregos e funções públicas (artigo 37, inciso I), e às 
carreiras de ensino nas universidades (artigo 207, parágrafo 1º). Garante o acesso à 
assistência social, à saúde e à educação.
Apesar dos direitos e das garantias trazidos a migrantes, refugiados e apátridas 
pela Constituição Federal, o marco normativo das migrações vigente à época (a Lei 
nº 6.815/1980, conhecida como Estatuto do Estrangeiro) ficou defasado frente a 
esses direitos fundamentais garantidos pela Constituição de 1988 e pelos diversos 
instrumentos internacionais firmados desde então. Em 2017, com a aprovação da 
Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017), o marco normativo das migrações passou a 
acompanhar o texto constitucional na garantia dos direitos dos migrantes.
38Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 2: A Lei de Migração
Identificar as principais diretrizes da Lei de Migração.
A nova Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017) foi sancionada em 24 de maio de 
2017, depois de um longo processo de construção. Essa lei representa, em muitos 
aspectos, uma mudança de paradigma em comparação à legislação anterior 
(Estatuto do Estrangeiro), ao tratar a migração a partir de um enfoque de direitos. 
Também introduz uma nova terminologia, que utiliza os termos “migrante”, 
“imigrante” e "visitante" em substituição a termos antes usados no ordenamento 
jurídico brasileiro, como "estrangeiro" ou "alienígena".
Por isso, os termos "estrangeiro" e "alienígena", que enfatizam uma percepção 
de não pertencimento da pessoa ao Brasil, estão caindo em desuso e devem ser 
evitados.
Define-se como imigrante o nacional de outro país, ou apátrida, 
que se estabelece no Brasil de forma temporária ou definitiva. É 
importante ressaltar que a definição do imigrante, segundo a lei, 
é independente da situação migratória.
2.1 Princípios orientadores da Lei de Migração
A Lei de Migração é pautada nos direitos humanos das pessoas que migram - uma 
perspectiva marcadamente diferente do anterior Estatuto do Estrangeiro. Assim, 
o artigo 3º estabelece, como primeiro princípio orientador da política migratória 
brasileira, a universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos 
humanos.
Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes:
I - universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos;
II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de 
discriminação;
III - não criminalização da migração;
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13445.htm
39Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais 
a pessoa foi admitida em território nacional;
V - promoção de entrada regular e de regularização documental;
VI - acolhida humanitária;
VII - desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e 
tecnológico do Brasil;
VIII - garantia do direito à reunião familiar;
IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares;
X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas;
XI - acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios 
sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, 
moradia, serviço bancário e seguridade social;
XII - promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do 
migrante;
XIII - diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de políticas 
migratórias e promoção da participação cidadã do migrante;
XIV - fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos 
da América Latina, mediante constituição de espaços de cidadania e de livre 
circulação de pessoas;
XV - cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de 
movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos 
do migrante;
XVI - integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de 
políticas públicas regionais capazes de garantir efetividade aos direitos do 
residente fronteiriço;
XVII - proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente 
migrante;
XVIII - observância ao disposto em tratado;
XIX - proteção ao brasileiro no exterior;
XX - migração e desenvolvimento humano no local de origem, como direitos 
inalienáveis de todas as pessoas;
40Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
XXI - promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no 
Brasil, nos termos da lei; e
XXII - repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas.
A migração é abordada a partir de uma perspectiva de direitos humanos, 
incorporando importantes desenvolvimentos do Direito Internacional como a 
universalidade, indivisibilidade e interdependência dos Direitos Humanos, a não 
discriminação, a garantia do direito à reunião familiar, a proteção integral e atenção 
ao superior interesse da criança migrante, a observância do disposto em tratado e 
o repúdio às práticas de expulsão e deportação coletivas. 
Os princípios e as diretrizes também respondem à realidade da migração enquanto 
fenômeno social complexo. Assim, afirmam a não criminalização da migração, a não 
discriminação em razão dos critérios ou procedimentos de entrada no território 
nacional e a promoção da entrada regular e da regularização documental.
Promovem ainda uma perspectiva da migração enquanto vetor de desenvolvimento, 
ao vincular a migração ao desenvolvimento do Brasil, mas também ao promover a 
cooperação internacional com Estados de origem, trânsito e destino, a integração 
e desenvolvimento das regiões de fronteira e ao entender a migração e o 
desenvolvimento humanono local de origem como direitos inalienáveis de todas 
as pessoas. A lei ainda promove o fortalecimento da integração dos povos da 
América Latina. 
Além do mais, a nova Lei de Migração abarca o fenômeno migratório a partir de 
diferentes perspectivas, incluindo não apenas os migrantes internacionais que 
vêm ao Brasil, inclusive os apátridas, mas também as comunidades de emigrantes 
brasileiros em outros países e as pessoas que vivem nas fronteiras do Brasil 
(residentes fronteiriços). No entanto, neste curso focaremos apenas nas pessoas 
que a lei define como "imigrantes", ou seja, os migrantes internacionais que se 
estabelecem no Brasil.
2.2 Garantias da Lei de Migração
A nova Lei de Migração trouxe diversos avanços em relação à legislação anterior. 
Entre eles, a desvinculação dos vistos e das autorizações de residência do modo de 
entrada do migrante no território nacional. Ou seja, é possível buscar a regularização 
migratória mesmo após uma entrada não autorizada no Brasil.
Por meio da figura da acolhida humanitária, a Lei de Migração brasileira permite o 
estabelecimento de residência no Brasil de imigrantes que deixaram os seus países 
de origem por motivos de grave ou iminente instabilidade institucional, conflitos 
41Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
armados, calamidades de grandes proporções, desastres ambientais, grave violação 
de direitos humanos ou de direito internacional humanitário (artigo 14 e artigo 30).
O imigrante que que ingressa no país com o visto por acolhida humanitária ou aquele 
que deseja solicitar a autorização de residência com fins de acolhida humanitária 
pode ser registrado com a apresentação dos documentos de que dispuser, assim 
como ocorre com os solicitantes de refúgio, apátridas e solicitantes de asilo (artigo 
20). Até junho de 2023, a autorização de residência por acolhida humanitária estava 
regulamentada para pessoas afetadas pelo conflito na Síria; para nacionais haitianos 
e apátridas afetados por calamidade de grande proporção, por desastre ambiental ou 
pela situação de instabilidade institucional no Haiti; para nacionais afegãos, apátridas 
e pessoas afetadas pela situação de grave ou iminente instabilidade institucional, 
de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário no 
Afeganistão; e para nacionais ucranianos e apátridas que tenham sido afetados ou 
deslocados pela situação de conflito armado na Ucrânia, nos termos de Portarias 
Interministeriais.
O campo de M'Béra, localizado na Mauritânia, na fronteira com o Mali, onde 
a população da região de Hodh El Chargui recebeu assistência humanitária 
por causa de uma grande seca em 2017. (C) OIM/Sibylle Desjardins
42Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A migração motivada por desastres ambientais tem ganhado 
importância no debate internacional sobre migrações. Um dos 
grandes desafios é a falta de um respaldo legal que proteja os 
migrantes ambientais, já que estes não se encaixam na definição 
de refugiado, embora muitas vezes estejam em situação de 
migração forçada internacional. Através da acolhida humanitária, 
a Lei de Migração prevê uma hipótese para a regularização 
migratória dessas pessoas no Brasil.
A Lei de Migração garante o direito à convivência familiar através da concessão 
de visto e autorização de residência por reunião familiar (artigo 14 e artigo 30) e 
de garantias como a impossibilidade de expulsão de um migrante que tenha filho 
brasileiro ou outra pessoa brasileira sob sua tutela (artigo 55, inciso II, alínea a), ou 
cujo cônjuge ou companheiro resida no Brasil (artigo 55, inciso II, alínea b).
Com a nova lei, as hipóteses previstas para a concessão de visto e autorização de 
residência vinculadas a critérios objetivos ampliam-se. 
A garantia do direito à convivência familiar para as pessoas migrantes e membros das 
suas famílias consolidou-se no Direito Internacional ao longo das últimas décadas, 
assim como na legislação interna de vários países, que passam a introduzir em seus 
marcos normativos a possibilidade de regularização migratória por reunião familiar.
No caso da legislação brasileira, também foram ampliadas, de forma importante, as 
garantias em casos de retirada compulsória. Isso inclui, por exemplo, a previsão de 
ampla defesa em casos de repatriação, deportação, expulsão ou extradição, sendo 
parte da construção de um devido processo legal migratório. Outro aspecto positivo 
é a reafirmação da garantia de assistência jurídica integral gratuita para os migrantes 
que necessitarem, por meio da Defensoria Pública da União (DPU).
Deportação, Repatriação, Expulsão e Extradição são quatro palavras para a mesma 
coisa? Veja a diferença entre cada um dos termos utilizados pela nova Lei de Migração 
para os casos de retirada compulsória de um migrante do território nacional:
43Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Conceito A que se refere
Deportação Medida administrativa para casos de situação migratória irregular (artigo 50).
Repatriação Medida administrativa para casos de impedimento de ingresso no território nacional (artigo 49).
Expulsão
Medida administrativa para casos de sentença 
transitada em julgado, referente a: crimes de 
genocídio, crime contra a humanidade, crime de 
guerra ou agressão; ou crime comum passível de 
pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade 
e possibilidade de ressocialização (artigo 54).
Extradição
Medida de cooperação internacional com outro 
Estado para cumprimento de pena em outro país 
ou para responder a processo penal (artigo 81).
É importante ressaltar que a Lei de Migração oferece garantias de ampla defesa em 
todos esses casos, além de destacar o princípio da não devolução (non-refoulement) 
e a proibição da deportação ou expulsão coletivas, dois temas cuja importância é 
amplamente reconhecida no Direito Internacional.
Cabe ainda notar que a lei não permite a prisão por razões migratórias, também 
conhecida como detenção administrativa de migrantes, ou seja, um imigrante não 
pode ser detido pelo fato de ter entrado de forma irregular no Brasil.
Assim, o artigo 49, parágrafo 4º da Lei de Migração incorpora o princípio da não 
devolução na forma como este é entendido atualmente no Direito Internacional, 
incluindo as proteções a refugiados e apátridas, crianças, adolescentes, pessoas 
em deslocamento forçado por crise humanitária e qualquer pessoa que possa vir a 
estar exposta a riscos à sua vida e dignidade, tais como tortura e outros tratamentos 
desumanos e degradantes.
Art. 49, § 4º. Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação 
de refúgio ou de apatridia, de fato ou de direito, ao menor de 18 (dezoito) anos 
desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que se 
demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a 
44Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
sua família de origem, ou a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em 
qualquer caso, medida de devolução para país ou região que possa apresentar 
risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa.
Mais adiante, o artigo 62 volta a reforçar essa proteção ao estabelecer o impedimento 
da repatriação, deportação ou expulsão quando tais medidas possam vir a colocar em 
risco a vida ou integridade da pessoa, incluindo tanto imigrantes quanto visitantes.
Acompanhando o entendimento do princípio da não devolução no Direito 
Internacional, a Lei de Migração estende essa proteção que já estava garantida aos 
refugiados (pela Lei nº 9.474/1997) a todos os imigrantes e visitantes. Portanto, 
isso é uma obrigação do Estado brasileiro com relação aos não nacionais, 
independentemente da sua situação migratória, do tempo da sua estadia, ou de 
onde se encontrem no território nacional.
De maneira similar, estão proibidas as práticas de repatriação, deportação ou 
expulsão coletivas (artigo 61), que ficam definidas como todas aquelas que não 
consideram, com

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