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Migrações no Brasil e a Lei Nº 13 - ARTIGO finalizado (1)

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CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO STRICTO SENSU 
PROGRAMA DE MESTRADO EM DIREITO 
ECONÔMICO E DESENVOLVIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Handout do Artigo sobre: 
Migrações no Brasil e a Lei Nº 13.445/2017 
 
 
Disciplina: Direito Internacional 
 
Professor: Sidney Guerra 
 
Mestranda: Elaine Alves Barbosa 
 
Rio de Janeiro 
 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO, 2. BREVE HISTÓRICO DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL, 3. OS 
PRINCIPAIS ÓRGÃOS VINCULADOS À APLICAÇÃO DA LEI DE MIGRAÇÃO, 4. 
PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E GARANTIAS DA POLÍTICA MIGRATÓRIA, 5. DO 
INGRESSO DO IMIGRANTE NO BRASIL E OS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS, 
APÓS A LEI DE MIGRAÇÃO, 5.1. Residência, 5.2 Asilo, 5.3 Refúgio, 6. O BRASIL 
DE “BRAÇOS ABERTOS” PARA OS REFUGIADOS SÍRIOS, 7. A APLICAÇÃO DA 
DIGNIDADE HUMANA NO ENFRENTAMENTO DA CRISE IMIGRATÓRIA E A 
CONDIÇÃO DOS REFUGIADOS VENEZUELANOS NO BRASIL, 8. A SITUAÇÃO 
JURÍDICA DOS REFUGIADOS HAITIANOS NO BRASIL E A QUESTÃO DOS 
REFUGIADOS AMBIENTAIS. 9. CONCLUSÃO. 10. REFERÊNCIAS 
BIBLIOGRÁFICAS. 
 
RESUMO 
O presente artigo tem como objetivo analisar o fenômeno dos fluxos migratórios mistos, 
considerando seus impactos na sociedade brasileira, inclusive no que tange ao 
desenvolvimento econômico, tendo em vista o crescente número de imigrantes em várias 
regiões do Brasil e de emigrantes brasileiros procurando novas oportunidades em terras 
estrangeiras, como Portugal. Além disso, tratará da delicada e cada vez mais atual, 
necessidade de atenção à problemática situação sobre o reconhecimento das solicitações 
de refúgio, seu enquadramento jurídico no Brasil após a Lei nº 13.445/17 e outras 
questões trazidas pela adaptação da nova lei de migração em nosso país, tendo também, 
como pano de fundo, as normas internacionais sobre o tema. 
 
Palavras-chave: direito internacional, desenvolvimento econômico, lei de migração. 
 
 
 
 
 
 
1 
 
 
1. Introdução 
 
O presente artigo teve sua confecção motivada no estudo da legislação que ampara 
a migração em nosso país. A Lei nº 13.445 de 24 de maio de 2017, Lei de Migração 
(LDM), trouxe um novo conceito ao cidadão não brasileiro que ingressa no Brasil. A 
concepção do estrangeiro foi substituída por um novo tratamento, seguido de novas 
abordagens e direitos, aplicadas assim ao Imigrante. 
A forma como o migrante é tratado, mundialmente, sempre envolveu questões 
políticas, econômicas e sociais que afetam sua condição jurídica a cada época e lugar. Os 
fluxos migratórios em cada região condizem com a política migratória aplicada às 
necessidades de cada local. 
A Lei nº 6.815 de 19 de agosto de 1980, antigo Estatuto do Estrangeiro, revogada 
pela Lei de Migração, foi criada durante o regime militar. Naquela época a migração não 
era tratada de forma específica, era apenas uma questão de segurança nacional e, portanto, 
não havia o olhar humanitário e a preocupação com a ordem política e social que se 
convém ter hoje. Esse pensamento, na época, no cenário internacional, ainda estava 
engatinhando. 
O entendimento em se preocupar com a questão humanitária é claramente 
evidenciado nas situações de conflitos armados, perseguições contra grupos minoritários 
e tráfico de pessoas, quando através da legislação aplicável ao tema é visada a proteção 
do imigrante, deixando de enxerga-lo como uma ameaça, visão essa, que lhe era atribuída 
no Estatuto do Estrangeiro. 
Nessa toada, o emigrante que antes também era visto de forma preconceituosa, 
como consequência da precariedade do bem-estar social atual, hoje também é encarado 
como contribuinte do desenvolvimento econômico, tendo em vista a sua especialização 
profissional. 
Ocorre que em alguns momentos históricos, a imigração foi bem recebida pelo 
mundo, como no caso da reconstrução dos países europeus após a Segunda Guerra 
Mundial, no entanto, posteriormente, devido ao cenário do mercado financeiro global, ao 
2 
 
terrorismo e outras questões regionais e culturais, foi reforçada em escala global o 
discurso já existente de securitização das políticas migratórias e, consequentemente, a 
aplicação, com maior rigor no controle das fronteiras com o objetivo de solucionar (de 
forma precária) a imigração irregular. 
Apesar do engajamento dos Organismos Internacionais em criar normas legais 
sobre o tema, que possuam como base o respeito aos direitos humanos e, 
consequentemente, priorize a vida, a mídia mundial vem mostrando cada vez mais a 
intolerância aos imigrantes, com destaque maior em relação aos países europeus e ao 
Estados Unidos. 
Em contrapartida o Brasil se mostra receptivo aos imigrantes, se preocupando em 
acolhe-los. Um exemplo disso é o art. 123 da Lei de Migração que prevê: “Ninguém será 
privado de sua liberdade por razões migratórias, exceto nos casos previstos nesta Lei.” 
A LDM trouxe mudanças significativas para a questão dos não nacionais, 
estabelecendo conceitos que diferenciam a condição jurídica desses, como: imigrante, 
emigrante, residente fronteiriço, visitante e apátrida (art. 1º). Permitindo também, em 
algumas situações, a transformação do visto e, consequentemente, um tratamento 
contrário ao atribuído no ingresso do estrangeiro (inc. XV, art. 3º). 
Por todas essas e outras prerrogativas atribuídas aos não nacionais, o Brasil, 
através da criação da atual Lei de Migração, vem mostrando respeito e coerência com os 
rumos do ordenamento jurídico internacional sobre a matéria, que caminha em prol da 
vida e dignidade humana. 
 
2. Breve Histórico da Imigração no Brasil: 
 
 
• 1530 – Inicia-se a imigração dos colonos Portugueses. 
 
• 1534 – Início da formação das Capitanias Hereditárias. 
 
• 1539 – Chegada dos africanos para ocupar a Capitania Hereditária de 
Pernambuco. 
 
3 
 
• 1580 a 1640 – Início da política de imigração de núcleos coloniais, trazendo 
incialmente franceses, espanhóis, holandeses, sendo muitos judeus. 
 
• 1850 a 1888 – É marcado por medidas contra a escravatura e o tráfico de escravos. 
 
• 1872 a 1929 – Momento importante da imigração italiana. Chegada de 4,1 milhões 
de imigrantes. Ressaltando a chegada de japoneses, ingleses, russos, poloneses, 
franceses, gregos e austríacos. 
 
• 1934 a 1937 – Políticas de Cotas. Os imigrantes são proibidos de quaisquer 
atividades políticas, associativas, manifestação cultural, inclusive o uso da própria 
língua pátria do imigrante. 
 
• 1945 – Política de flexibilização para acolher refugiados e deslocados da Segunda 
Guerra Mundial. 
 
• 1969 a 1980 – Estatuto do Estrangeiro adota a política da ideologia da segurança 
nacional. 
 
• 1988 – A Carta Magna prevê a criação de lei ordinária, para tratar do tema e 
estabelece que todos os residentes no país terão seus direitos fundamentais 
resguardados e serão beneficiados por políticas sociais. 
 
• 2000 a 2010 – A maior parte dos imigrantes deste período são originários do EUA, 
Japão, Paraguai, Bolívia e Europa. 
 
• 2010 – Inicia-se a imigração de haitianos para o nosso país. 
 
 Nesse seguimento, no que tange ao ordenamento jurídico internacional e 
brasileiro, cabe destacar também um resumo histórico das seguintes normas: 
 
• Declaração Universal do Direitos Humanos em 1948; 
 
• Convenção da ONU relativa ao Estatuto dos Refugiados em 1951; 
4 
 
 
• Convenção Americana De Direitos Humanos – 1969; 
 
• Decreto nº 50.215, de 28 de janeiro de 1961 - Promulga a Convenção relativa ao 
Estatuto dos Refugiados, concluída em Genebra, em 28 de julho de 1951; 
 
• Decreto nº 70.946, de 07 de agosto de 1972 - Promulga o Protocolo sobre o 
Estatuto dos Refugiados; 
 
• LEI Nº 6.815/80 – Estatuto do Estrangeiro (EE); 
 
• LEI Nº 9.474/97 – Mecanismos para implementação do EE; 
 
 
• Decreto Nº 5.016, de 12 de março de 2004 - Que promulgou o Protocolo Adicional 
à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacionalrelativo ao Combate ao tráfico de migrantes por via terrestre, marítima e aérea; 
 
• Decreto nº 5.017 de 12 de março de 2004 – Que Promulgou o Protocolo Adicional 
à Convenção das Nações Unidas contra o crime, organizado transnacional relativo 
à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial mulheres e 
crianças; 
 
• Decreto nº 7953, de 12 de março de 2013 - Que Promulgou o acordo sobre o 
tráfico ilícito de migrantes entre os Estados partes do MERCOSUL; 
 
• LEI Nº 13.344/2016 – Prevenção e Repressão ao Tráfico Interno e Internacional 
de Pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas; 
 
• LEI Nº 13.445/2017 – Lei de Migração (LDM). 
 
3. Os Principais Órgãos Vinculados à Aplicação da Lei de 
Migração: 
 
5 
 
O Ministério da Justiça e Segurança Pública exerce várias funções 
atreladas a Lei de Migração, tendo em vista os assuntos de sua competência afetos ao 
tema, como prevê a Lei nº 13.844 de 18 de junho de 2019, que revogou a Lei nº 13.502 
de 01 de novembro de 2017: nacionalidade, imigração e estrangeiro (curioso uma lei atual 
manter a nomenclatura “estrangeiro”, após a criação da LDM) e prevenção e combate à 
corrupção, à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo e cooperação jurídica 
internacional, respectivamente citados nos incs. V e VII d art. 37. 
Ainda assim, cabe apenas destacar a previsão contida no Código de 
Processo Civil: “O Ministério da Justiça exerce as funções de autoridade central na 
ausência de designação especifica”. (§4º, art. 26, da Lei nº 13.105/15). 
Nesse sentido, conforme o art. 2º do Decreto nº 9.662 de 1º de janeiro de 
2019, o Ministério da Justiça e Segurança Pública possui em sua estrutura, órgãos que 
atuam na questão da migração, através da Secretaria Nacional de Justiça, ao qual estão 
vinculados o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica 
Internacional e o Departamento de Migrações (DEMIG); da Polícia Federal e; do Comitê 
Nacional para Refugiados (o CONARE). O policiamento marítimo, aeroportuário e 
fronteiriço é atribuído à Polícia Federal. 
O controle migratório, primeiramente, realizado pela Polícia Federal, deve 
ser exercido como medida de proteção do território nacional, primando sempre pela 
soberania. No entanto, as medidas de controle migratório, com o advento da atual Lei de 
Migração, se tornaram mais equilibradas, por terem como base os Direitos Humanos e 
nossa Carta Magna, haja vista que o art. 5º de nossa atual Constituição Federal, consagra 
o princípio da igualdade entre os brasileiros e os não brasileiros, combatendo, claramente, 
a discriminação, a xenofobia e outras práticas que sejam contrárias aos direitos humanos. 
O CONARE é constituído por representantes governamentais e não-
governamentais. Pelo governo, fazem parte do Conare o Ministério da Justiça e Segurança 
Pública (MJ - presidência), o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Ministério da 
Saúde (MS), o Ministério da Educação (MEC), o Ministério da Economia (ME), e a 
Polícia Federal (PF). Os atuais representantes da sociedade civil (titular e suplente, 
respectivamente) são da Cáritas Arquidiocesanas do Rio de Janeiro e de São Paulo. 
6 
 
Diferentemente dos demais membros, o Alto Comissariado das Nações Unidas para 
Refugiados (Acnur) possui voz, mas não voto.)1 
De todos os órgãos vinculados à aplicação da LDM, o que exerce o principal 
papel de interligação com os demais é o CONARE. A Polícia Federal controla a 
permanência dos não brasileiros; o MJ, através do DEMIG, concede a condição de 
permanência; os representantes da Sociedade Civil atuam no acolhimento dos imigrantes; 
a Acnur verifica a condição de refugiado; o MRE, concede os vistos, atribuindo a 
expedição dos mesmos aos Consulados, mas todas essas atividades estão interligadas ao 
CONARE. 
Todavia, há de se considerar também as atribuições do Conselho Nacional 
de Imigração (CNig), que é o responsável pela Política Migratória Laboral brasileira. 
Apesar do CNig ter sido criado ainda na vigência do Estatuto do Estrangeiro, o órgão 
vem implementando, através de Resoluções Normativas e Resoluções Conjuntas, 
medidas significativas que contribuem com os almejados acolhimento e integração aos 
imigrantes. 
 Ainda assim, outro ponto importante que deve ser destacado a respeito dos 
órgãos vinculados à LDM é a criação do SISCONARE, o sistema por meio do qual, desde 
15 de setembro de 2019, é o único meio para solicitação de reconhecimento da condição 
de refugiado no Brasil e através do qual essas solicitações são processadas. O sistema foi 
criado para atribuir celeridade ao processo de pedido de refúgio, almejando a 
desburocratização para se obter a documentação, um dos objetivos da LDM. Dessa forma, 
o SISCONARE será utilizado por todos os atores que participam de alguma etapa do 
processo de solicitação: solicitantes de reconhecimento da condição de refugiado, Polícia 
Federal, Comitê Nacional para os Refugiados, e os próprios refugiados. 
 Outrossim, além dos órgãos nacionais, faz-se imprescindível citar os 
organismos internacionais relacionados às questões migratórias. “No Sistema das Nações 
Unidas, destacam-se: Organização Internacional para as Migrações – OIM (O Brasil, 
membro da OIM desde 30 de novembro de 2004, firmou acordo de sede com a entidade 
em 2010, promulgado por meio do Decreto nº 8.503/2015). Organização Internacional do 
Trabalho - OIT, Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados – ACNUR; 
Fundo das Nações para as Populações, Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e 
 
1 https://www.justica.gov.r/seus-direitos/refugio/conare 
7 
 
Crime – UNODC, Comissão Global sobre as Migrações Internacionais, Grupo Global 
sobre Migração. No contexto Pan-Americano, mencionam-se o Comitê sobre Assuntos 
Migratórios (Commitee on Migration Issues), o Programa para Migração e 
Desenvolvimento e o Programa Interamericano para a Proteção dos Direitos Humanos 
dos Migrantes. Na Europa, além das abrangências da União Europeia, merece ser 
lembrado o Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas de Migração.”2 
 
4. Princípios, Diretrizes e Garantias da Política Migratória 
Brasileira: 
A seção II, do capítulo I, da A Lei nº 13.445/2017 traz explícito em seu 
bojo alguns princípios e garantias específicos, em consonância com a Constituição de 
1988, que norteiam a política migratória brasileira, dentre eles destacam-se: o princípio 
da universalidade, da indivisibilidade e da interdependência dos direitos humanos; da 
igualdade de tratamento e oportunidade; a garantia ao migrante, em condição de igualdade 
com os nacionais da inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade; os direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos. 
A Lei de Migração enfatiza a norma constitucional quanto ao tratamento 
dispensado em condição de igualdade entre os nacionais e os migrantes, em relação a 
proteção e gozo dos direitos fundamentais, dentro do território nacional. As garantias do 
migrante foram elencadas no art. 4º da LDM, baseadas no art. 5º da C.F./88, ou seja, 
priorizando a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade, assim como é 
garantido ao cidadão nacional. Essas garantias também foram baseadas em Tratados 
Internacionais, como por exemplo, a Convenção nº 97 de 1949 da OIT, sobre os 
trabalhadores migrantes e a Convenção nº 111 de 1958 da OIT, sobre Discriminação em 
Matéria de Emprego e Profissão, entre outras. 
No que tange aos princípios e diretrizes da Política Migratória, o art. 3º da 
Lei de Migração, elenca da seguinte forma: 
 
Princípios: 
 
 
2 NUNES, Paulo Henrique Faria. Lei de Migração – Novo Marco Jurídico Relativo ao Fluxo 
Transnacional de Pessoas. Goiânia: Edição do Autor. 2018. 2ª edição 
8 
 
“ I - universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitoshumanos; 
II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de 
discriminação; 
III - não criminalização da migração; 
IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos 
quais a pessoa foi admitida em território nacional; 
VI - acolhida humanitária; 
VIII - garantia do direito à reunião familiar; 
IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus 
familiares; 
XII - promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações 
do migrante; 
XIII - diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de 
políticas migratórias e promoção da participação cidadã do migrante; 
XIII - diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de 
políticas migratórias e promoção da participação cidadã do migrante; 
XV - cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de 
destino de movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção 
aos direitos humanos do migrante; 
XVI - integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação 
de políticas públicas regionais capazes de garantir efetividade aos 
direitos do residente fronteiriço; 
XVIII - observância ao disposto em tratado; 
XX - migração e desenvolvimento humano no local de origem, como 
direitos inalienáveis de todas as pessoas;e 
XXII - repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas.” 
 
Diretrizes da Política Migratória: 
 
“V - promoção de entrada regular e de regularização documental; 
VII - desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, 
científico e tecnológico do Brasil; 
X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas 
públicas; 
XI - acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e 
benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral 
pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social; XIV - 
fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos 
povos da América Latina, mediante constituição de espaços de cidadania 
e de livre circulação de pessoas; 
XIV - fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural 
dos povos da América Latina, mediante constituição de espaços de 
cidadania e de livre circulação de pessoas; 
9 
 
XVII - proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do 
adolescente migrante; 
XIX - proteção ao brasileiro no exterior; 
XXI - promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício 
profissional no Brasil, nos termos da lei.” 
 
O princípio da acolhida humanitária foi aplicado, por exemplo, em relação 
aos haitianos, quando o CNIg, aprovou a Resolução Normativa 97/2012, que permitiu a 
concessão de visto permanente. 
Já em relação à garantia à reunião familiar, a questão já havia sido tratada 
na Resolução 108/2014 do MRE, que concedia o visto, à título de reunião familiar, aos 
dependentes de cidadão brasileiro, ou de estrangeiro residindo no Brasil. 
No que tange à integração e ao desenvolvimento das regiões fronteiriças, 
as iniciativas mais recentes, mencionam-se o Programa Grande Fronteira do Mercosul 
(Lei 10.466/02), o Programa de Promoção do Desenvolvimento da Faixa de Fronteira 
(PDFF) no âmbito da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (Decreto 6.047/07) 
e a Comissão Permanente para o Desenvolvimento e a Integração da faixa de fronteira 
(CDIF), instituída em 2010. 
Quanto ao reconhecimento acadêmico e ao exercício profissional do não 
brasileiro, ressaltam-se o Acordo de Admissão de Títulos e Graus Universitários para o 
Exercício de Atividades Acadêmicas nos Estados Parte do Mercosul, através do Decreto 
nº 5.518 de 23/08/2005 e o Protocolo de Integração Educativa e Reconhecimento de 
Certificados e Estudos de Nível Fundamental e Médio Não-Técnico entre Estados Partes 
do Mercosul, Bolívia e Chile, promulgado pelo Decreto nº 6.729, de 12/01/2009. 
 
5. Do ingresso do imigrante no Brasil e os documentos 
necessários, após a LDM: 
 
O Estatuto do Estrangeiro, em seu art. 54, previa como documentos do 
estrangeiro, apenas o Passaporte e o Laissez- Passer. 
No entanto, a Lei de Migração em seu art. 5º, se adequou a nova realidade 
mundial e, consequentemente, ampliou a possibilidade de documentos para ingresso do 
migrante no país, admitindo assim, os seguintes documentos: o passaporte; o laissez-
passer; Autorização de Retorno; Salvo-Conduto; Carteira de Identidade de marítimo; 
10 
 
Carteira de Matrícula Consular; Documento de Identidade civil ou documento de 
estrangeiro equivalente; Certificado de Membro de Tripulação de Transporte Aéreo; 
Outros que vierem a ser reconhecidos pelo Estado brasileiro em regulamento. 
A LDM trata a situação do imigrante em nosso país de forma consciente 
com a realidade mundial, respeitando direitos antes ignorados pelo Estatuto do 
Estrangeiro, todavia, também mantem a preocupação em respeitar a soberania e a ordem 
social. Sendo assim, o visto dá a seu portador apenas a expectativa de ingresso em 
território nacional, conforme cita o art. 6º da Lei de Migração. O parágrafo único do art. 
6º foi vetado, pois continha o seguinte texto: “emitido nos padrões estabelecidos pela 
Organização de Aviação Civil Internacional – OACI ou pelo Comitê Internacional da 
Cruz Vermelha”, dessa forma foi vetado pois não possuía informações sobre o padrão 
referente ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, não prejudicando em nada no que 
tange a determinação referente a OACI, pois os documentos nacionais já são 
padronizados nesse sentido. Sendo assim, os locais para a expedição do visto, foram 
elencados no art. 7º, citando assim as Embaixadas; Consulados-Gerais; Consulados; Vice-
Consulados e, quando habilitados, pelo órgão competente do Poder Executivo; por 
escritórios comerciais e de representação do Brasil no exterior. No que tange ao tipo de 
visto, o art. 12 da LDM, “enxugou” a nova relação adequando a realidade atual, retirando 
do rol o visto permanente, de turista e de trânsito, previstos no art. 4º do Estatuto do 
Estrangeiro, trazendo os seguintes tipos de vistos: visita; temporário; diplomático; oficial; 
e de cortesia, sendo que o tipo de visto para visita, poderá ser para turismo ou trânsito, 
conforme o art. 13 da LDM. Ainda assim, o art. 8º prevê que poderão ser cobrados taxas 
e emolumentos consulares pelo processamento de visto. 
Ainda assim, o art. 45 da LDM estabeleceu as situações em que o indivíduo 
não será aceito no Brasil. O capítulo VI da Lei de Migração trata das medidas para a 
retirada compulsória, como a repatriação, a deportação e a expulsão. 
 Nesse contexto, cabe como ilustração destacar a recente Portaria criada pelo 
Ministro Sérgio Moro que trouxe grande polêmica sobre o tema, pois demonstrava 
direção contrária ao avanço alcançado pela LDM, importando postura americana sobre 
imigração. "Ministro da Justiça quer deportação sumária de "perigosos". Para analistas, 
além de romper com a tradição sul-americana de hospitalidade, medida é inconstitucional, 
injustificada e priva estrangeiros de tratamento justo. Toda "pessoa perigosa para a 
segurança do Brasil" poderá agora ser deportada sumariamente ou até ter impedido seu 
11 
 
ingresso no país – é o que prevê a Portaria nº 666, expedida pelo ministro da Justiça, 
Sergio Moro, na última quinta-feira (25/07). 
 No dia 14/10/2019 foi publicada a Portaria nº 770, que revogou a Portaria 
nº 666, em alguns aspectos. A nova portaria suprimiu a possibilidade de deportação 
“sumária”, retirou da lista de suspeitos, pessoas envolvidas com torcidas organizadas com 
histórico de violência, ampliou o prazo para defesa de 48 horas para 5 (cinco) dias e prevê 
que as situações que permitem o reconhecimento de suspeitos (como alertas 
internacionais, investigação criminal e curso ou sentença condenatória) devem estar 
incluídas nos sistemas de controle migratório após análise e avaliaçãopor uma unidade 
central da Polícia Federal. 
 
 
5.1 Residência: 
 
A autorização de residência é concedida ao imigrante, residente 
fronteiriço ou visitante que pretenda residir temporária ou definitivamente no 
Brasil, desde que cumpra os requisitos da modalidade requerida, nos termos da Lei 
de Migração (Lei 13.445, de 24 de maio de 2017) e seu regulamento (Decreto 9.199, 
de 20 de novembro de 2017). 
 
O visto permanente, concedido ao imigrante que pretendia se estabelecer 
definitivamente no país, foi substituído pela residência (art. 30-36 da LDM; arts. 123-163 
do Decreto nº 9.199/17). No entanto, a autorização de residência pode ser concedida tanto 
ao imigrante temporário quanto ao permanente. 
A LDM, através do inc. XII do art. 4º, assegura ao migrante a isenção do 
pagamento da autorização de residência, mediante comprovação de hipossuficiência 
econômica. 
No caso dos asilados e refugiados, a Portaria nº 1.956/15 do MJ, instituiu 
a gratuidade da emissão de documentos. 
Todavia, em relação aos demais imigrantes as decisões judiciais sobre a 
questão são conflitantes: 
 
“ O Egrégio Tribunal Regional Federal desta Terceira Região tem se 
manifestado no sentido da impossibilidade de se conceder a isenção da 
taxa para expedição do Registro Nacional de Estrangeiro, sob o 
fundamento de que as normas que outorgam isenções devem ser 
interpretadas literalmente consoante princípio geral de direito, de modo 
que não há meios de estender o benefício por similitude de situação à 
12 
 
expedição da cédula de identidade dos nacionais (...) Desta forma, 
inexiste dúvida de que os procedimentos de expedição dos documentos 
de identidade de nacional e estrangeiro não se confundem, exigindo-se 
neste último caso, uma atuação pormenorizada da Administração 
Pública a justificar a exigência de taxa pela Polícia Federal, tanto que o 
legislador ordinário não estendeu tal benefício.” (Mandado de 
Segurança nº 0024700-29.2015.403.6100, 24ª Vara Federal de São 
Paulo). 
 
 
A 25ª Vara Federal da Seção Judiciária de São Paulo, nos autos do 
Mandado de Segurança nº 001695-42.2015.403.6100, por outro lado, proferiu decisão 
diametralmente oposta em caso semelhante no mesmo ano: “Comprovada a insuficiência 
econômica do impetrante para arcar com as despesas na obtenção da segunda via da 
Carteira de Identidade de Estrangeiro, por meio de mera declaração de pobreza, resta 
evidente a ilegalidade do ato que indeferiu o pedido de isenção da taxa. Ora, tal 
indeferimento impede o pleno exercício dos direitos fundamentais do impetrante, pois 
sem a obtenção da segunda via da sua Carteira de Identidade de Estrangeiro, o 
requerente não poderá comprovar a sua regularidade no país. 
 Ademais, de nada adianta deferir o pedido de permanência no Brasil se a 
parte impetrante não puder efetuar o registro e obter o documento de identidade de 
estrangeiro, documentos essenciais ao exercício de muitos dos direitos fundamentais 
previstos na Constituição Federal. A ausência de recursos financeiros não pode 
constituir empecilho ao exercício pleno desses direitos.” 
 
As decisões dos Tribunais Regionais Federais também são divergentes, os 
Tribunais Federais da 1ª e 5ª Regiões são favoráveis à concessão de isenção para o registro 
aos imigrantes em situação economicamente hipossuficiente, já os Tribunais Federais da 
3ª e da 4ª Regiões são desfavoráveis. Decisões unânimes da 6ª Turma do TRF da 1ª Região 
(Processo nº 0008018-67.2009.4.01.3900 – e-DJF1, 28 nov.2011, p.528) e da 3ª Turma 
do TRF da 5ª Região (Processo nº 0011727-07.2014.4.05.8100 – e-DJF5, 16 de jun.2014, 
p. 151). Decisões da 6ª Turma do TRF 3ª Região (Processo nº 0002715-
09.2012.4.03.6100, e-DJF3, 16 mai. 2014, p. 953). 
Ainda assim, cabe destacar também os casos de pedido de residência de 
indivíduos para trabalhar no Brasil. 
“A lei 13.445/2017 e o Decreto 9.199/2017 passaram a reger a condição 
do imigrante no país e estabeleceram a competência legal da Coordenação-Geral de 
Imigração Laboral para emitir AUTORIZAÇÕES DE RESIDÊNCIAS PARA FINS 
13 
 
LABORAIS, nos termos das Resoluções Normativas editadas pelo Conselho Nacional 
de Imigração. 
Nesse contexto, o imigrante para trabalhar no Brasil, com vínculo 
empregatício ou não, salvo exceções, necessita de autorização de Residência para fins 
laborais. 
 A autorização de Residência prévia para fins de trabalho é concedida pela 
Coordenação-Geral de Imigração Laboral ao interessado/imigrante que esteja no exterior 
e é exigida, salvo exceções, pelas autoridades consulares brasileiras para efeito de 
concessão de visto temporário ao estrangeiro que deseje ingressar no Brasil a trabalho.”3 
 
Nesse sentido, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, criou o Portal 
de Imigração Laboral para propiciar mais celeridade e transparência às solicitações de 
autorização de residência para imigração laboral no nosso país. 
 
 
5.1 Asilo: 
 
A concessão do asilo se instituiu através dos costumes, se tornando uma 
prática adotada desde a antiguidade, com fundamento no princípio da solidariedade. 
O asilo se diferencia do refúgio e do visto humanitário, por se originar, 
exclusivamente, de justificativas políticas, como dissidência, crimes políticos e/ou de 
opinião. 
O Tratado de Direito Penal Internacional de Montividéu de 1889 – 
desenvolveu pela primeira vez, o conceito de Asilo, na América Latina. O instituto do 
Asilo Democrático é característico na América Latina: “El asilo es inviolable para los 
perseguidos por delitos políticos, pero la Nación de refugio tiene el deber de impedir que 
los asilados realicen en su territorio actos que pongan en peligro la paz pública de la 
Nación contra la cual han delinquido.” 
Vários Tratados e Convenções foram firmados ao longo dos anos, para 
disciplinar o instituto, estando entre eles: A Convenção sobre Asilo assinada na VI 
Conferência Pan-Americana de Havana em 1928; A Convenção sobre Asilo Político da 
VII Conferencia Internacional Americana de Montividèu em 1933; O Tratado sobre 
 
3 https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/informacoes-gerais 
https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/informacoes-gerais
14 
 
Asilo e Refúgio Político de Montividèu em 1939; e A Convenção Sobre Asilo 
Diplomático da X Conferência Interamericana de Caracas em 1954. 
 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, reconhece que todo ser 
humano, vítima de perseguição política, tem o direito de procurar e de gozar asilo 
em outros países. (§ 1º do art. XIV). O conteúdo desse dispositivo ganhou maior 
vigor nas Nações Unidas quando a Assembleia Geral adotou a Declaração sobre 
Asilo Territorial aos 14 de dezembro de 1967. 
Além dos documentos discutidos e aprovados no seio da ONU, são muitos 
os atos regionais referentes a concessão de asilo. Nas relações interamericanas, a matéria 
se encontra em instrumentos específicos e no Pacto de São José da Costa Rica (art. 22.7). 
A despeito dos acordos celebrados, o país tem a discricionariedade para se 
pronunciar sobre o caráter político da infração. Assim, é comum que o pedido de asilo 
seja analisado juntamente com o pedido de extradição. 
A LDM reconhece as duas espécies de asilo: territorial e diplomático, em 
seu art. 27, mas não disciplina os procedimentos relativos à sua concessão, apenas dispõe 
que deverão ser definidas em regulamento. 
Outrossim, a LDM veda a concessão do benefício ao autor de crime de 
guerra, genocídio, crime contra a humanidade e agressão nos termos do Tribunal Penal 
Internacional. 
O E.E. determinava que para o asilado sair do Brasil, deveria pedir 
permissão ao governo brasileiro, já a LDM apenas prevê que caso o asilado saia do país 
sem prévia comunicação, implicará na renúncia do benefício. 
 
 
5.2 Refúgio: 
 
 O migrante é o indivíduo que cruza uma fronteira em busca de trabalho, 
estudo ou melhores oportunidades econômicas,em contrapartida, o refugiado deixa seu 
país de origem por medo de perseguições advindas da raça, religião, nacionalidade, 
grupo social ou opiniões. 
15 
 
 Nesse contexto, o refugiado é um migrante diferenciado, pois ele está 
inserido nas situações de migrações forçadas, assim como o asilado, diferenciando apenas 
pelo motivo da migração, haja vista que o asilado é forçado a deixar seu país por questões 
políticas. 
Segundo alguns especialistas, a questão dos refugiados se originou com o 
fim da Primeira Guerra Mundial, com a queda do Império Russo, austro-húngaro e 
otomano e a nova ordem criada pelos Tratados de Paz. 
O Brasil possui um histórico de recebimento de imigrantes, que por muito 
tempo se manteve praticamente fora das principais rotas dos refugiados. No entanto, 
devido ao aumento de conflitos e fechamento de fronteiras em vários países, esse cenário 
vem mudando. Apesar do Brasil ainda não estar entre os países mais procurados pelas 
pessoas deslocadas forçadamente de seus países. 
Durante o Regime Militar (!964 a !985) o Brasil em relação às migrações, 
se preocupava apenas com a segurança pública e com questões políticas que fossem 
contrárias ao governo brasileiro à época. Sendo assim, o Brasil durante muito tempo, se 
negou a receber os refugiados que fugiam de regimes ditatoriais dos países latino-
americanos, alegando reserva geográfica. Dessa forma, os refugiados chegavam ao Brasil 
e recebiam o visto de turista, para posteriormente serem reassentados em outros países. 
Em 1989 houve o fim da reserva geográfica. 
A LDM surgiu trazendo avanços ao tema, como a definição ampliada ao 
refugiado, conferindo proteção, às pessoas vítimas de guerras civis, a extensão da 
proteção aos cônjuges, aos ascendentes e descendentes dos refugiados, com base no 
direito de reunião familiar. Outra inovação é a proibição de extradição para os refugiados, 
quando o pedido de extradição for baseado nos fatos que fundamentaram a concessão do 
refúgio. 
 Há de se destacar a situação das Migrações Forçadas e o Novo Panorama 
da Situação dos Refugiados no Brasil. 
O CONARE, consolidou a chamada estrutura tripartite, reunindo os 
principais atores envolvidos com os refugiados no Brasil: 
1) Instituições Não Governamentais - Cáritas e IMDH – Instituto 
Migrações e Direitos Humanos; 
2) Organização Internacional – ACNUR; 
3) Governo Brasileiro – Representado por seus órgãos no colegiado, com 
destaque para o MJ, que o preside. 
16 
 
O Repatriamento, o reassentamento e a integração local, são soluções 
duráveis para a situação do refugiado que foram tratadas na LDM: 
 
“. Art. 49. A repatriação consiste em medida administrativa de 
devolução de pessoa em situação de impedimento ao país de 
procedência ou de nacionalidade. (...) § 4º Não será aplicada medida de 
repatriação à pessoa em situação de refúgio ou de apatridia, de fato ou 
de direito, ao menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou separado 
de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar favorável para a 
garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, 
ou a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer 
caso, medida de devolução para país ou região que possa apresentar 
risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa.” 
“Art. 120. A Política Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia terá 
a finalidade de coordenar e articular ações setoriais implementadas pelo 
Poder Executivo federal em regime de cooperação com os Estados, o 
Distrito Federal e os Municípios, com participação de organizações da 
sociedade civil, organismos internacionais e entidades privadas, 
conforme regulamento.” 
“Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes 
princípios e diretrizes: (...) “XIV - fortalecimento da integração 
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, 
mediante constituição de espaços de cidadania e de livre circulação de 
pessoas”. 
 
 
O Processo de migração no Brasil passa por diversas fases, porém, a 
grande parte delas está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e que, 
ao longo do tempo, busca qualidade e capacitação nos trabalhadores estrangeiros que aqui 
chegam. 
Conforme dados fornecidos pelo Observatório das migrações 
internacionais - OBMigra, os dados do terceiro trimestre de 2017 no que diz respeito à 
movimentação do trabalhador imigrante no mercado de trabalho brasileiro são as 
seguintes: 
Com relação à emissão de carteira de trabalho e previdência social - CTPS, 
segundo os principais países, o Haiti segue em primeiro lugar com 10.300 unidades, 
seguido por Venezuela, Argentina, Cuba, Paraguai, Colômbia, Bolívia, China, Angola, 
Uruguai. 
Atentando para esses dados quanto aos trabalhadores estrangeiros no 
mercado de trabalho formal no Brasil, torna-se imperioso citar o art. 14, § 5º da LDM: 
“§ 5º Observadas as hipóteses previstas em regulamento, o visto 
temporário para trabalho poderá ser concedido ao imigrante que venha 
exercer atividade laboral, com ou sem vínculo empregatício no Brasil, 
desde que comprove oferta de trabalho formalizada por pessoa jurídica 
17 
 
em atividade no País, dispensada esta exigência se o imigrante comprovar 
titulação em curso de ensino superior ou equivalente.” 
 
6 O Brasil de “Braços Abertos” para os Refugiados Sírios: 
 
Nos últimos anos a Síria, Afeganistão, Iraque e Líbia passaram por 
situações de conflitos armados que forçaram milhares de pessoas a decidirem morrer em 
seus países ou em busca dos Direitos Humanos, arriscar trajetórias incertas. Com isso, o 
fluxo migratório aumentou muito no mundo nos últimos anos, e no que tange ao oriente 
médio a imigração acontece em decorrência de situações de guerras, terrorismo, 
intolerância religiosa, perseguição, entre outros. 
A LDM facilita ao imigrante a expedição de seus documentos, garantindo-
lhe, em tese, acesso ao sistema de saúde, educação e trabalho. 
Todavia, na prática a realidade é outra, pois apesar da Lei de Migração ter 
sido criada visando, entre outras prerrogativas, a desburocratização do processo de 
regularização migratória, os imigrantes ainda não recebem capacitação em relação ao 
idioma português e tampouco informações sobre seus direitos e deveres. Apesar de 
existirem leis que favorecem a entrada do imigrante no país, ao analisarmos as notícias e 
dados informativos, verificamos que não há adequação das normativas à realidade. A falta 
da prática de políticas de integração, faz com que esses indivíduos dependam de ONGs. 
A Resolução Normativa nº 17 do CONARE, de 20 de setembro de 2013, 
foi criada, especialmente, para os refugiados sírios, no intuito de facilitar a entrada 
desses imigrantes no Brasil: 
 
“Artigo 1º Poderá ser concedido, por razões humanitárias, o visto 
apropriado, em conformidade com a Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 
1980, e do Decreto 86.715, de 10 de dezembro de 1981, a indivíduos 
 afetados pelo conflito armado na República Árabe Síria que 
manifestem vontade de buscar refúgio no Brasil. Parágrafo único: 
Consideram-se razões humanitárias, para efeito desta Resolução 
Normativa, aquelas resultantes do agravamento das condições de vida 
da população em território sírio, ou nas regiões de fronteira com 
este, como decorrência do conflito armado na República Árabe Síria.“ 
 
Ao abrir a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas - ONU, 
no dia 28 de setembro de 2015, a então presidente Dilma Rousseff proferiu seu discurso 
sobre o tema e expressou a solidariedade do Brasil aos refugiados – em especial à 
população do Oriente Médio e do Norte da África, vítimas da guerra civil síria, que por 
razões humanitárias deixaram seus países de origem. “É um absurdo impedir o livre 
18 
 
trânsito de pessoas”, disse, acrescentando que o Brasil “está de braços abertos” para 
receber os refugiados. “O Brasil é um país de refugiados. Somos um país multiétnico queconvive com as diferenças e sabe da importância dela para nos tornar mais ricos e 
diversos”.4 
 
Por conseguinte, nessa mesma toada seguiu o discurso do então Presidente 
Michel Temer na Reunião de Alto Nível sobre Grandes Movimentos de Refugiados e 
Migrantes, em Nova York em 19 de setembro de 2016: “Fluxos de refugiados são o 
resultado de guerras, de repressão, do extremismo violento – não são a sua origem. As 
preocupações legítimas dos governos com a segurança de seus cidadãos devem estar em 
consonância com os direitos inerentes a cada ser humano. Se abrirmos mão da defesa 
intransigente desses direitos, estaremos abrindo mão de nossa própria humanidade. Em 
nossa relação com o estrangeiro, com o outro, testamos a nossa fidelidade a esses valores, 
o nosso compromisso com a civilização”.5 
 
No entanto, conforme dados colhidos dos próprios refugiados Sírios e de 
representantes da ACNUR,6 a realidade dos imigrantes sírios no Brasil é outra, conforme 
o seguinte: 
1) Descontentamento em relação à burocracia na emissão de 
documentos; 
2) A dificuldade de reconhecimento de seus diplomas; e 
3) A inexistência de políticas de integração social, econômica e 
cultural. 
 
O Coordenador no Rio de Janeiro do Relatório O Perfil Socioeconômico 
dos Refugiados no Brasil, Charles Gomes, também chefe do Setor de Direito Político e 
coordenador do Centro de Proteção a Refugiados e Imigrantes (Cepri) da Fundação Casa 
de Rui Barbosa, emitiu o seguinte parecer sobre a questão em entrevista à Agência Brasil: 
 
4 http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-09/brasil-e-um-pais-de-
refugiados-diz-dilma-na-assembleia-geral-da-onu 
5 http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/discursos-artigos-e-entrevistas-categoria/presidente-
darepublica-federativa-do-brasil-discursos/14755-discurso-do-senhor-presidente-da-
republicamichel-temer-durante-reuniao-alto-nivel-sobre-grandes-movimentos-de-refugiados-
emigrantes-nova-york-19-de-setembro-de-2016 
6 http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-09/relatorio-aponta-que-refugiados-
necessitam-de-mais-politicas 
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-09/brasil-e-um-pais-de-refugiados-diz-dilma-na-assembleia-geral-da-onu
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-09/brasil-e-um-pais-de-refugiados-diz-dilma-na-assembleia-geral-da-onu
http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/discursos-artigos-e-entrevistas-categoria/presidente-darepublica-federativa-do-brasil-discursos/14755-discurso-do-senhor-presidente-da-republicamichel-temer-durante-reuniao-alto-nivel-sobre-grandes-movimentos-de-refugiados-emigrantes-nova-york-19-de-setembro-de-2016
http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/discursos-artigos-e-entrevistas-categoria/presidente-darepublica-federativa-do-brasil-discursos/14755-discurso-do-senhor-presidente-da-republicamichel-temer-durante-reuniao-alto-nivel-sobre-grandes-movimentos-de-refugiados-emigrantes-nova-york-19-de-setembro-de-2016
http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/discursos-artigos-e-entrevistas-categoria/presidente-darepublica-federativa-do-brasil-discursos/14755-discurso-do-senhor-presidente-da-republicamichel-temer-durante-reuniao-alto-nivel-sobre-grandes-movimentos-de-refugiados-emigrantes-nova-york-19-de-setembro-de-2016
http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/discursos-artigos-e-entrevistas-categoria/presidente-darepublica-federativa-do-brasil-discursos/14755-discurso-do-senhor-presidente-da-republicamichel-temer-durante-reuniao-alto-nivel-sobre-grandes-movimentos-de-refugiados-emigrantes-nova-york-19-de-setembro-de-2016
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-09/relatorio-aponta-que-refugiados-necessitam-de-mais-politicas
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-09/relatorio-aponta-que-refugiados-necessitam-de-mais-politicas
19 
 
“Dificuldades que eles [refugiados] têm em termos de revalidação do diploma, de cursar 
escola pública quando estão em situação de refúgio no país, dificuldade de acessar, na 
verdade, os seus direitos, desinformação em relação à possibilidade de naturalização”. O 
Cátedra Sergio Vieira de Mello, da Acnur, apresentou relatório em seu 10º Seminário 
Nacional, em que aponta para a necessidade de implementação de políticas públicas 
específicas que amparem os cerca de 11,2 mil refugiados atualmente no Brasil e atendam 
às suas demandas e dificuldades. 
Outra questão levantada é a abordagem de funcionários da Polícia Federal, 
que são os primeiros a receberem os imigrantes no Brasil. Foi relatado o despreparo 
desses agentes em receberem os imigrantes sírios. Denotando resquícios do EE, que 
visava apenas a segurança pública, sem atentar para a dignidade humana e desrespeitando 
também um dos princípios elencados no Inc. IV, do art 3º da LDM: ”não discriminação 
em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em 
território nacional”; 
Tendo em vista a urgência no acolhimento e a lacuna social, algumas ONGs, 
entidades da Sociedade Civil organizada pela igreja católica, como Cáritas e os centros 
de cultura árabe, como a Mesquita Brasil, se dispõem a fornecer apoio jurídico e 
psicológico a esses imigrantes. 
Segundo dados divulgados pelo CONARE, na 4ª edição do relatório “Refúgio em 
números”, o Brasil reconheceu, apenas em 2018, um total de 1.086 refugiados de diversas 
nacionalidades. Com isso, o país atinge a marca de 11.231 pessoas reconhecidas como 
refugiadas pela Estado brasileiro. Desse total, os sírios representam 36% da população 
refugiada com registro ativo no Brasil, seguidos dos congoleses, com 15% e angolanos, 
com 9%. 
 
7. Aplicação da Dignidade Humana no Enfrentamento da Crise 
Imigratória e a Condição dos Refugiados Venezuelanos no Brasil. 
O motivo que enseja a migração venezuelana, é o econômico, surgido em 
decorrência do sistema político baseado no totalitarismo presente na Venezuela. No 
Brasil, a migração venezuelana, tem acontecido, especialmente, em Roraima, devido à 
proximidade de suas fronteiras. 
20 
 
Devido a condição de penúria dos imigrantes venezuelanos, são a eles 
atribuídos subempregos, com recebimento de valores abaixo do salário mínimo previsto 
por nossa atual Constituição Federal. Existem vários casos de imigrantes venezuelanos 
em situação de mendicância em Boa Vista, por ausência de aplicação de políticas públicas 
governamentais. 
O Brasil como signatário da OIT, ratificou a Convenção nº 97, de 1º de 
julho de 1949, que entrou em vigor em em 22 de janeiro de 1952, sobre o trabalho do 
imigrante em solo brasileiro, objetivando alcançar melhores resultados na 
internacionalização dos direitos humanos, em relação ao trabalho digno para a mão de 
obra oriunda dos imigrantes. 
Nesse sentido amparado no princípio da dignidade da pessoa humana, a 
LDM traz em seu texto a aplicação de políticas públicas voltadas ao imigrante, em 
especial ao direito ao trabalho de forma digna e igual ao nacional, conforme prevê o art. 
77, inc. II. 
Porém, infelizmente, a realidade dos imigrantes venezuelanos em Roraima 
é outra, sendo noticiados casos de trabalho análogo a escravo: 
Um empresário do ramo de montagem de tendas para eventos foi preso em 
Boa Vista (RR) por manter em condição análoga a escravo dois venezuelanos e dois 
cubanos. A prisão foi na última semana, mas só foi divulgada na sexta-feira (7), pela 
Polícia Federal. No local onde os estrangeiros foram resgatados, a polícia constatou as 
mais diversas irregularidades como condições mínimas de trabalho, higiene e 
segurança. Os trabalhadores relataram aos agentes que tinham uma jornada 
exaustiva de trabalho de 12 horas diárias, sem descanso semanal. 
Os estrangeiros resgatados também relataram que recebiam remuneração abaixo do 
salário mínimo. O empregador ainda cobrava pelo fornecimento de alojamento e pela 
alimentação. Eles relataram, ainda, que por vezes recebiam comida estragada, 
dormiam em colchões no chão ebebiam água da torneira. 
Os trabalhadores resgatados foram levados para a Superintendência da Polícia Federal 
em Boa Vista e o preso foi encaminhado para audiência de custódia e ficará a disposição 
da Justiça. Notícia divulgada em 14 de abril de 2017, no site da Radio Agência 
Nacional. 
21 
 
Uma das representantes do governo brasileiro na 70ª sessão do Comitê 
Executivo da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), a secretária Nacional de 
Justiça, Maria Hilda Marsiaj Pinto, ressaltou que o Brasil abre fronteiras para receber, 
assistir e interiorizar os venezuelanos que deixam o país vizinho em função da grave crise 
política, econômica e humanitária. Ela também elencou medidas do governo brasileiro 
para acolher e dar oportunidades sociais e econômicas de recomeço a estrangeiros de 
outros países com sérias dificuldades internas. “Mais recentemente, o Brasil concedeu 
residência para fins humanitários a haitianos e venezuelanos, além de conceder 
residência para fins de política migratória a cubanos e dominicanos. Em portaria 
publicada nesta quarta-feira, o governo brasileiro implementou uma política de vistos 
humanitários para as pessoas afetadas pelo conflito na Síria, o que facilitará ainda mais o 
acesso à residência humanitária no Brasil”, destacou Marsiaj Pinto. Além disso, em 
junho, o Comitê Nacional de Refugiados (Conare) do Brasil decidiu aplicar aos 
solicitantes de asilo venezuelanos um processo mais rápido de determinação do 
status de refugiado. Brasília, 09/10/20197. (grifo nosso) 
Ainda assim, na contramão das dificuldades econômicas e sociais 
enfrentadas pelos refugiados, pesquisas oferecidas por sites como o do G1, vêm 
mostrando o crescimento de empreendedores venezuelanos em Roraima de 2016 à 2019. 
 Notícia publicada no site G1, em 25 de junho de 2019: 
 
“A imigração venezuelana transformou Roraima em diversos 
aspectos e também tem provocado mudanças na economia. Driblando 
o desemprego, venezuelanos que chegam ao estado estão 
empreendendo para recomeçar a vida no Brasil. 
Nesta terça-feira (25), quando é comemorado o Dia do Imigrante, 
o G1 mostra histórias de dois venezuelanos que, fugindo da crise 
política e econômica no país natal, conseguiram abrir empreendimentos 
em Boa Vista. 
Segundo a Junta Comercial, Roraima tem 181 venezuelanos donos do 
próprio negócio. Mais de 30% deles se registrou como 
Microempreendedor Individual (MEI) entre janeiro e maio deste ano. 
O número quase supera o registrado no ano passado quando 64 
microempresas foram abertas por venezuelanos”. (grifo nosso). 
 
7 https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1570656348.14 
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/fuga-da-fome-como-a-chegada-de-40-mil-venezuelanos-transformou-boa-vista.ghtml
https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1570656348.14
22 
 
Essa oportunidade para empreender disponibilizada ao refugiado, principalmente 
ao venezuelano, que deixou seu país de origem por motivos econômicos, faz renascer a 
expectativa de melhor qualidade de vida ao imigrante e coloca em prática duas das medidas 
basilares para a criação da LDM, quais sejam: o combate à xenofobia, através da integração entre 
os brasileiros e os imigrantes e a não criminalização por razões migratórias, também almejados 
com a devida aplicação da Política Migratória. Se o imigrante tiver chance de crescimento 
profissional em nosso país ele estará também favorecendo ao desenvolvimento econômico 
nacional, pois como empregado ou empregador ele estará contribuindo com a circulação 
monetária. 
8. A Situação Jurídica dos Refugiados Haitianos no Brasil e a 
Questão dos Refugiados Ambientais. 
A Convenção da ONU de 1951 estabeleceu um rol com as hipóteses e 
situações consideradas como ensejadoras de refúgio, no entanto, as situações decorrentes 
de desastres ambientais, não foram incluídas nesse rol, apesar desse tipo de deslocamento 
ser muito antigo. 
Dessa forma, a situação dos refugiados ambientais fica ainda mais crítica 
que as do demais, pela necessidade de normatização internacional que os ampare. Uma 
das consequências da ausência de normatização quanto aos refugiados ambientais é que 
esse tipo de refugiado não pode contar com a proteção que este instituto pode lhes 
oferecer, como por exemplo, a garantia de não devolução por parte do Estado que o 
recebeu, com base no princípio do non-refoulement. 
 O princípio da não-devolução, conhecido como princípio do non-refoulement, é 
uma garantia dos refugiados prevista no artigo 33, da Convenção de Refugiados de 
1951, que dispõe: “Nenhum dos Estados Contratantes expulsará ou rechaçará, de 
maneira alguma, um refugiado para as fronteiras dos territórios em que a sua vida ou 
a sua liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, da sua religião, da sua 
nacionalidade, do grupo social a que pertence ou das suas opiniões políticas. 
(CONVENÇÃO RELATIVA AOS REFUGIADOS, 1951)” 
Ainda assim, como a situação dos deslocados ambientais não é enquadrada como 
situação de refúgio no rol da Convenção da ONU de 1951, os países não possuem 
obrigação de recebê-los como refugiados, já que serão considerados estrangeiros 
comuns. 
23 
 
 No Brasil, devido ao grande fluxo migratório de haitianos, após o terremoto de 
2010, foram concedidos vistos a esses imigrantes, conforme a Resolução nº 97/12 do 
Conselho Nacional de Imigração – CNIg: 
 
“Art. 1º Ao nacional do Haiti poderá ser concedido o visto 
permanente previsto no art. 16 da Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 
1980, por razões humanitárias, condicionado ao prazo de 5 (cinco) 
anos, nos termos do art. 18 da mesma Lei, circunstância que constará 
da Cédula de Identidade do Estrangeiro. 
 “Parágrafo único. Consideram-se razões humanitárias, para efeito 
desta Resolução Normativa, aquelas resultantes do agravamento das 
condições de vida da população haitiana em decorrência do terremoto 
ocorrido naquele país em 12 de janeiro de 2010.” (grifo nosso). 
 
Nesse contexto, foi determinado o prazo de 05 anos para os haitianos e 
limitou-se a concessão da cota de 1.200 vistos ao ano pela Embaixada de Porto Príncipe. 
No entanto, essa limitação no número de vistos a serem concedidos e a situação precária 
em que se encontrava o povo haitiano, ensejou a grande exploração dos imigrantes 
haitianos, por coiotes, atravessadores que proporcionam o tráfico de imigrantes. 
Em 2016 houve o furacão que devastou ainda mais a população haitiana, 
aumentando assim o seu deslocamento para outros países. 
No entanto, a LDM passou a prever em seu art. 14, § 3º, a concessão do 
visto humanitário aos migrantes que se deslocassem por motivos ambientais, conforme o 
seguinte: 
“O visto temporário para acolhida humanitária poderá ser concedido 
ao apátrida ou ao nacional de qualquer país em situação de grave ou 
iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de calamidade 
de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de 
direitos humanos ou de direito internacional humanitário, ou em outras 
hipóteses, na forma de regulamento.” (grifo nosso). 
 
Nessa toada, a LDM através de seu art. 115, alterou o Código Penal, 
incluindo a este o art. 232-A, para criminalizar a conduta dos coiotes. 
 
 
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9. Conclusão 
 
Por se tratar, o Brasil, de antiga colônia, a população brasileira carrega em 
sua formação, a história de vários grupos migratórios, oriundos de diversos países, como 
imigrantes portugueses, africanos, holandeses, franceses, espanhóis, japoneses, libaneses, 
italianos e alemães. Faz parte dos genes da maioria do povo brasileiro, a miscigenação, 
advinda de imigrantes de várias regiões do mundo. Todavia, apesar da imagem de país 
acolhedor, até a vigência do antigo Estatuto do Estrangeiro, tinha predominado, nos 
discursos políticos e na convivência na sociedade, uma apatia e descaso em relação a 
questão migratóriaem nosso país. Contudo, a despeito do crescente aumento do número 
de denúncias e demonstrações de discriminação e xenofobia no país, a criação da atual 
Lei de Migração, cria uma expectativa de uma boa mudança sobre o tema. Faz-se 
necessário se basear cada vez mais nos princípios norteados pelos Direitos Humanos para 
que o pensamento retrógrado que se instaura, ultimamente, nos países economicamente 
mais favorecidos, no que tange às suas fronteiras, não atinja nosso ordenamento jurídico, 
para que assim consigamos notar a rica e diversa contribuição das pessoas migrantes em 
todos os aspectos, não somente ao longo da história brasileira, mas também hoje em dia. 
É imprescindível o discurso coerente internacional do Brasil “dos braços abertos” em 
equilíbrio com uma eficaz Política Migratória, visando assim, um discurso progressista 
nas discussões globais sobre migrações para que faça parte realmente das soluções globais 
compartilhadas para os desafios contemporâneos. 
 O paradigma central da LDM é a proteção de Direitos Humanos na temática 
das migrações, como decorrência da proteção constitucional da dignidade humana. 
 Dessa forma, diante desse contexto difícil da atual ordem mundial, onde as 
grandes potências econômicas mundiais parecem andar na contramão ou até mesmo, em 
alguns casos, regredindo na questão do bem-estar coletivo, o Brasil cria a LDM para 
regulamentar questões migratórias que amparem o indivíduo não nacional com as 
mesmas prerrogativas que ampara o cidadão brasileiro. 
 Os deslocamentos ambientais mundiais só tendem a aumentar, em decorrência 
de catástrofes, causadas em muitas situações pela negligencia do ser humano; os grupos 
terroristas só tendem também a se solidificarem, tendo em vista a onda de intolerância 
pregada em países como EUA, que apesar de todos os acontecimentos históricos, ainda 
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baseiam sua economia na guerra, entre outras questões que justificam o crescente fluxo 
migratório mundial. 
 Portanto, acredito que para desenvolvermos economicamente, temos que 
inovar, desconstituir amarras e procurar unir esforços. A mistura de raças, costumes, 
experiências, know-how, acrescentam à economia e propiciam por meio da integração de 
imigrantes e brasileiros, maior crescimento e inserção do país no cenário internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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10. Referências Bibliográficas: 
 
1) GUERRA, Sidney; VAL, Eduardo Manuel; GUERRA, Caio Grande. Fluxos 
Migratórios Mistos Para as Américas – Uma abordagem jurídica. Curitiba. 
Instituto Memória. 2018. 
 
2) NUNES, Paulo Henrique Faria. Lei de Migração – Novo Marco Jurídico 
Relativo ao Fluxo Transnacional de Pessoas. Goiânia. Edição do Autor. 2018. 
 
3) GUERRA, Sidney. Curso de Direito Internacional Público. Editora Saraiva. 
2019. 
 
4) MELLO, Carla Antunes de. Análise da Política Migratória Brasileira à Luz da 
Inteligência Estratégica, a partir da Operação Acolhida. Trabalho de 
Conclusão de Curso Superior de Inteligência Estratégica. Rio de Janeiro. 2019. 
 
5) SILVA, João Carlos Jarochinski; BOGUS, Lucia Maria Machado; SILVA, 
Stéfanie Angélica Gimenez Jarochinski. Os Fluxos Migratórios Mistos e os 
Entraves à Proteção aos Refugiados. Artigo. Belo Horizonte. 2017. 
 
6) https://www.justica.gov.r/seus-direitos/refugio/conare 
 
7) https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/informacoes-gerais 
 
8) http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-09/brasil-e-um-
pais-de-refugiados-diz-dilma-na-assembleia-geral-da-onu 
 
 
9) 1http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/discursos-artigos-e-entrevistas- 
categoria/presidente-darepublica-federativa-do-brasil-discursos/14755-discurso-
do-senhor-presidente-da-republicamichel-temer-durante-reuniao-alto-nivel-
sobre-grandes-movimentos-de-refugiados-emigrantes-nova-york-19-de-
setembro-de-2016 
 
10) 1http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-09/relatorio-
aponta-que-refugiados-necessitam-de-mais-politicas 
 
 
11) https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1570656348.14 
 
 
https://www.justica.gov.r/seus-direitos/refugio/conare
https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/informacoes-gerais
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-09/brasil-e-um-pais-de-refugiados-diz-dilma-na-assembleia-geral-da-onu
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http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/discursos-artigos-e-entrevistas-%20categoria/presidente-darepublica-federativa-do-brasil-discursos/14755-discurso-do-senhor-presidente-da-republicamichel-temer-durante-reuniao-alto-nivel-sobre-grandes-movimentos-de-refugiados-emigrantes-nova-york-19-de-setembro-de-2016
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http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-09/relatorio-aponta-que-refugiados-necessitam-de-mais-politicas
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-09/relatorio-aponta-que-refugiados-necessitam-de-mais-politicas
https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1570656348.14
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